• Nenhum resultado encontrado

JOÃO MANUEL NUNES HENRIQUES   

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "JOÃO MANUEL NUNES HENRIQUES   "

Copied!
166
0
0

Texto

(1)

 

         

   

 

 

 

O RADICALISMO ISLAMISTA NA PENÍNSULA IBÉRICA 

A RECONQUISTA DO AL ANDALUS 

       

 

 

 

 

JOÃO MANUEL NUNES HENRIQUES 

 

 

 

Setembro, 2011

(2)

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à  obtenção do grau de Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais, 

realizada sob a orientação científica do Professor Doutor José Esteves  Pereira e do Professor Doutor José Manuel Anes 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(3)

À memória de meus pais. 

À minha esposa Ana, 

pelo muito alento transmitido, e em 

reconhecimento pelas longas horas de ausência 

dedicadas à realização deste trabalho. 

 

(4)

AGRADECIMENTOS 

 

Ao Professor Doutor José Esteves Pereira, meu orientador, por, desde o primeiro 

momento, se ter disponibilizado para me acompanhar nesta pequena aventura e pela 

sua douta contribuição na elaboração deste trabalho.   

Ao  Professor  Doutor  José  Manuel  Anes,  meu  co‐orientador,  pelo  seu  pronto 

aconselhamento e permanente disponibilidade, factores que muito contribuíram para 

o resultado final.   

Aos Professores Doutores António de Castro Caeiro e Alan David Stoleroff, meus 

particulares amigos, pelos seus generosos conselhos.   

Ao Mestre António Nunes pela sua pronta ajuda e partilha de textos.   

Ao  Dr.  Manuel  Augusto  Pechirra,  Presidente  do  Instituto  Luso‐Árabe  para  a 

Cooperação,  pelo  seu  permanente  incentivo  e  genuína  preocupação  pela  boa 

condução deste trabalho.   

Ao  Sheik  David  Munir,  da  Mesquita  Central  de  Lisboa,  pela  disponibilidade  e 

informação dispensada.   

Ao Sheik Zabir, da Mesquita de Odivelas, pela sempre pronta ajuda, acompanhamento  e patrocínio nas várias visitas a entidades islâmicas. E, também, pelas suas lições.   

Ao  Sheik  Rachid  Ismael,  do  Colégio  Islâmico  de  Palmela,  pela  sua  simpatia  e 

hospitalidade.    

Ao Sheik Feisal, da Mesquita do Laranjeiro, pelo entusiasmo partilhado.   

Ao Dr. Mário Matos pela partilha de informação.   

E, ainda, a alguns amigos que de modo directo e generoso contribuíram para o 

presente trabalho.   

Bem‐hajam. 

   

         

(5)

O RADICALISMO ISLAMISTA NA PENÍNSULA IBÉRICA 

A RECONQUISTA DO AL ANDALUS 

 

JOÃO MANUEL NUNES HENRIQUES 

 

RESUMO 

 

PALAVRAS‐CHAVE: Terrorismo, islamismo, jihad, Al Andalus, Al Qaeda, Informações.   

Em plena Alta Idade Média, os territórios da Hispânia (Península Ibérica) foram alvo da 

cobiça árabe‐muçulmana, aos quais dariam o nome de Al Andalus. Após décadas de 

profundas  transformações,  a  vida  das  populações  peninsulares  sofreu  enormes 

mudanças, vindo a beneficiar de um assinalável progresso em diferentes domínios. No  entanto, a luta pela reconquista dos territórios ocupados manter‐se‐ia acesa até finais  do século XV, altura em que, definitivamente, estes territórios regressam às mãos dos  cristãos.  

 

Volvidos cinco séculos, eis que surge uma nova ameaça islamista. Desta vez com o 

firme propósito de reconquistar o Al Andalus e devolver‐lhe os gloriosos tempos 

vividos sob a bandeira do Islão. Todavia, os mentores radicais que apontam para tal 

objectivo vão mais longe nos seus desígnios: para eles, a reconquista dos territórios 

outrora islamizados é tão‐somente o caminho para a reimplantação do Califado. Para o 

efeito, recorrem ao que reclamam como legítimo: a Jihad Universal, através da qual 

todos os infiéis serão submetidos. 

 

 

 

 

 

 

(6)

ABSTRACT 

 

KEYWORDS: Terrorism, Islamism, jihad, Al Andalus, Al Qaeda, Intelligence.   

In the Early Middle Ages, the territories of Hispania (Iberian Peninsula) were the quest 

of Arab‐Muslim pursuit, to which they attributed the name of Al Andalus. Following 

decades of dramatic transformation, the life of the Iberian peoples suffered major 

changes and benefited from significant progress in various fields. Nevertheless, the 

struggle to regain these occupied territories would remain alive until the late fifteenth  century, when these territories returned finally to Christians hands. 

 

After five centuries, a new Islamist threat reemerged, this time with the firm intention  of reconquering Al Andalus and bringing back the glorious days experienced under the  banner of Islam. However, the radical advocates of this goal go further in their designs: 

for  them,  the  reconquest  of  the  Muslim  territories  is  merely  a  means  the  re‐

establishment  of  the  Caliphate.  To  this  end,  they  resort  to  what  they  consider 

legitimate methods, namely: Universal Jihad, to wich all infidels will be submitted. 

       

                         

(7)

ÍNDICE   

RESUMO ...v 

ABSTRACT... vi 

Metodologia e definição de objectivo...x 

Pergunta inicial e formulação de hipóteses ...xi 

Introdução...1 

Capítulo 1 – O Al Andalus ...3 

1.1.  O período pré‐islâmico na Península Ibérica: O Reino Visigodo... 3 

1.2.  A invasão muçulmana da Península Ibérica e o nascimento do Al Andalus .. 4 

1.3.  A civilização do Al Andalus ... 6 

Capítulo 2 – A Reconquista Cristã ...10 

2.1. O início da revolta ... 10 

2.2. As acções militares cristãs e o fim do domínio árabe... 11 

Capítulo 3 – A comunidade islâmica na Península Ibérica ...15 

3.1. A situação actual em Portugal ... 15 

3.2. A situação actual em Espanha ... 17 

Capítulo 4 – O terrorismo...20 

4.1. Sobre os conceitos de terrorismo ... 22 

4.1.1. Terrorismo religioso ... 22 

4.1.2. Jihadismo ... 22 

4.2. Possíveis razões sociopolíticas para o jihadismo ... 25 

4.3. Bases conceptuais e princípios ideológicos do jihadismo ... 26 

Capítulo 5 – As organizações jihadistas na Península Ibérica ...30 

5.1. Antecedentes históricos do radicalismo islamista na Península Ibérica ... 30 

5.1.1. Os Almorávidas e os Almóadas... 30 

5.2. As origens contemporâneas do jihadismo na Península Ibérica ... 32 

5.3. A actividade jihadista em Portugal ... 35 

5.4. A actividade jihadista em Espanha ... 40 

5.5. Características estruturais e organização ... 43 

5.6. Recrutamento e liderança... 47 

5.7. Financiamento ... 49 

(8)

5.8. A interacção entre o terrorismo jihadista e o crime organizado... 49 

5.9. As ligações ao terrorismo global... 54 

Capítulo 6 – Al Qaeda ...56 

6.1. Origens ... 56 

6.2. Estratégia ... 59 

6.3. Financiamento ... 62 

6.4. Estrutura antes do 11 de Setembro... 65 

6.5. Estrutura depois do 11 de Setembro... 67 

6.6. Al Qaeda em Espanha ... 70 

6.7. Objectivos globais da Al Qaeda... 73 

6.7.1. A Reconquista do Al Andalus... 78 

6.7.2. O Restabelecimento do Califado ... 81 

Capítulo 7 – Evolução das organizações jihadistas...56 

7.1. O novo terrorismo jihadista e as novas ameaças ... 82 

7.1.1. O terrorismo suicida... 82 

7.1.2. O terrorismo alimentar... 86 

7.1.3. O terrorismo espontâneo e sem liderança... 88 

7.1.4. A ameaça do ciberterrorismo... 88 

7.1.5. As armas de destruição massiva... 90 

7.2. As redes jihadistas e a Internet... 93 

Capítulo 8 – Os atentados terroristas de 11 de Março de 2004, em Madrid...96 

8.1. Introdução... 96 

8.2. A origem... 98 

8.3. A rede de Abu Dahdah ... 99 

8.4. O Grupo Islâmico Combatente Marroquino ... 101 

Capítulo 9 – Radicalismo islamista na Península Ibérica: As respostas ao jihadismo ...96 

9.1. A evolução do jihadismo em Espanha depois de 11 de Março de 2004 ... 103 

9.2. Tendências e lições aprendidas face à ameaça jihadista na Península Ibérica..107 

9.3. A luta contra o financiamento do terrorismo... 110 

9.4. Antiterrorismo e Contraterrorismo – Medidas adoptadas... 112 

9.5. A cooperação internacional ... 117 

9.6. Os Serviços de Informações e a luta contra o jihadismo em Portugal e 

(9)

Espanha ... 123  Conclusões ...128  Referências Bibliográficas...146 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(10)

O Radicalismo Islamista na Península Ibérica – A Reconquista do Al Andalus 

 

Metodologia e definição de objectivo 

 

Neste trabalho a pesquisa é essencialmente bibliográfica, com a utilização de livros e 

artigos sobre o tema. O método será o de estudo de caso contextualizado, tentando 

compreender o fenómeno do jihadismo na Peninsula Ibérica. Procurar‐se‐á localizar as  suas raízes e identificar os grupos que representam este modo de intervenção junto da  sociedade ibérica. Na expectativa de se obter informações adicionais sobre o modo de 

funcionamento  destes  grupos  recorrer‐se‐á  necessariamente  a  diversas  fontes 

especializadas.  Pretende‐se  que  esta  recolha  abra  espaço  a  uma  adequada 

identificação das características estruturais, organização e modo de funcionamento 

deste tipo de organizações para, finalmente, se passar ao estudo da sua evolução e 

tendências.    

Exposta a revisão de alguma literatura sobre o problema lançado, importa agora referir  os moldes segundo os quais se deverá processar a investigação proposta. Deste modo,  procederemos à análise de títulos de imprensa escrita portuguesa e espanhola.  

                           

(11)

Pergunta inicial e formulação de hipóteses 

Face aos objectivos revelados pelo movimento islamista1 global, é intenção desta 

investigação dar resposta à seguinte questão: 

 

Espanha tem sido ao longo de décadas duramente castigada pelo terrorismo 

separatista, ao qual se juntou, anos mais tarde o de natureza islamista. Para além 

de uma história em comum, Portugal e Espanha partilham, igualmente, desde há 

séculos, o mesmo espaço – a Península Ibérica –. Poderão estas realidades 

desencadear um efeito de contágio que faça alastrar para o território português 

os indesejados efeitos da radicalização existente no país vizinho? O que explica o 

facto de Portugal ter sido, pelo menos até aos nossos dias, poupado ao 

movimento islamista radical? 

Como resposta são apresentadas as seguintes hipóteses: 

A. Portugal  está  exposto  ao  efeito  de  contágio  da  radicalização  islamista 

existente em Espanha 

 

B. Portugal não está exposto ao efeito de contágio da radicalização islamista 

existente em Espanha 

1

Neste trabalho serão referidos os termos “islamita” e “islamista”. O primeiro identifica o crente que professa o islamismo. Esta associado à fé. Trata-se, pois, de um crente no Islão. Já o segundo termo alude a um partidário de uma aplicação integrista do Islão, tanto no domínio político como social, sendo, neste caso, de matriz ideológica.

(12)

Introdução 

Com o passar dos tempos, o esplendor da civilização do Al Andalus2 viria a converter‐

se numa verdadeira referência para o resto do mundo islâmico. A sua cultura atingiria 

um elevado nível. O próprio árabe passaria a ser um idioma de culto. A cidade de 

Córdoba tornar‐se‐ia num dos centros culturais mais importantes do mundo islâmico e 

de toda a Europa. A Filosofia foi largamente difundida. Por seu turno, os diferentes 

domínios da ciência conheceram momentos de grande desenvolvimento. O comércio 

prosperou largamente.  

A reconquista do território e da civilização do Al Andalus é, declaradamente, um dos 

principais  objectivos  da Al Qaeda. Para  os  jihadistas3, a perda  do  Al Andalus é 

considerada como a dramática viragem histórica a partir da qual se inicia a decadência 

do Islão. É por isso que a sua recuperação se torna numa das suas prioridades. A 

própria Umma4 divulga mapas nos quais grande parte da Península Ibérica – Portugal e 

Espanha – continua a ser considerada Dar al‐Islam5. O objectivo final do movimento é 

o de expandir o território islâmico por todo o globo, através da criação de um califado 

mundial baseado na Sharia6. Para concretizar esta ameaça são já muitos os grupos 

jihadistas  ligados  àquele  movimento  instalados  em  território  europeu  e, 

particularmente, em Espanha. Na verdade, para os sectores muçulmanos mais radicais  a reconquista de todos os territórios que alguma vez estiveram sob o domínio do Islão  constitui um dos seus eixos ideológicos centrais. O Al Andalus é mesmo considerado o  mais emblemático de todos os territórios perdidos.  

2 Nome dado à Península Ibérica pelos invasores muçulmanos no século VIII.  

3 Combatente da Jihadtermo Jihad significa, literalmente, luta ou esforçoQuer dizer, igualmente, 

Guerra Legal ou Guerra Santa contra os infiéis, de acordo a Sharia. Esta segunda acepção é a mais 

correntemente empregue pelos islamistas radicais ou jihadistas.   

4 Comunidade constituída por todos os muçulmanos do mundo.   

5 Terra do Islão.   

6 Lei Islâmica; a Lei de Deus. 

(13)

Não se afiguram como viáveis os planos para a tão propalada recuperação do Al  Andalus. Tal, todavia, não evitará profundas incertezas e generalizados sentimentos de  insegurança, o que deverá merecer absoluta preocupação por parte daqueles que têm  a seu cargo a prevenção e o combate ao tipo de ameaça que nos nossos dias constitui  o terrorismo jihadista. 

Neste contexto, e à luz dos acontecimentos, ocorridos em particular ao longo da 

última década, é propósito deste trabalho localizar as raízes do radicalismo islâmico na 

Península Ibérica, identificar os grupos instalados e actuantes neste espaço, as suas 

características estruturais, organização, modo de funcionamento e motivações, a par 

das suas ligações ao terrorismo global para, finalmente, analisar a sua evolução e 

tendências. 

Sendo reconhecido  que  este tipo de terrorismo no  espaço europeu apanhou de 

surpresa as instituições dedicadas à sua luta, tal não significa que as mesmas não 

tenham obtido êxito na neutralização de acções terroristas já muito perto da sua 

execução. Por tal motivo, outro dos objectivos deste trabalho é o de estabelecer uma 

aproximação conceptual que proporcione uma melhor compreensão do terrorismo 

jihadista a ponto de permitir alcançar‐se a sua efectiva erradicação. Torna‐se, assim, 

claro que o conhecimento profundo dos processos internos das organizações que 

difundem o terror passou a ser fundamental para um diagnóstico seguro das suas 

forças e debilidades, o que permitirá adequar os mecanismos que conduzam à sua 

efectiva erradicação do mundo civilizado. 

(14)

Capítulo 1 – O Al Andalus  

1.1.  O período pré‐islâmico na Península Ibérica: O Reino Visigodo 

Oriundos do norte da Europa, da Germânia, os Visigodos chegaram à Península Ibérica, 

no princípio do século V (ano 416) com o firme propósito de estabelecer uma nova 

ordem na Península, ocupada por Vândalos, Suevos e Alanos, numa altura em que o 

Império Romano lutava, ainda, “para sobreviver à avalanche das invasões e um dos 

meios de defesa que utilizava era o de lançar grupos de bárbaros contra outros grupos 

de bárbaros” (Saraiva, 2007: 29). Somente no ano de 585, e após prolongada luta, o 

reino visigótico conseguiria fazer desaparecer o reino suevo, estabelecendo a sua 

capital em Toledo, cidade a partir da qual administrariam todo o reino.   

O facto de os visigodos não serem católicos iria dificultar por largo tempo a sua fusão 

com os hispano‐romanos. É, no entanto, com a sua presença “que se estabelecem na 

Península os traços fundamentais do que viria a ser a sociedade medieval portuguesa:  uma sociedade tripartida, formada por clero, nobreza e povo” (Saraiva, idem, p. 30).   

“Pouco a pouco, os visigodos foram‐se romanizando, adoptando a língua, cultura e 

costumes locais até que o rei Recaredo se converteu ao cristianismo trinitário no III 

Concílio de Toledo, no ano 589”7 (Aristeguí, 2005: 25). 

 

Os  sucessivos  confrontos  no  seio  da  monarquia  visigoda,  motivados  por  razões 

eleitorais,  resultam  no  seu  profundo  enfraquecimento.  Por  outro  lado,  o 

descontentamento dos camponeses hispano‐romanos relativamente ao tratamento 

considerado  discriminatório  dos  visigodos  junta‐se  ao  seu  brutal  anti‐semitismo. 

Cristãos e judeus são levados a acreditar que com a chegada dos muçulmanos a sua 

situação melhorará. Tal, todavia, não viria a confirmar‐se (idem).   

Com a morte do rei Vitisa, no ano de 710, colocaram‐se sérios problemas relativos à 

7 “Poco a poço los visigodos se fueron romanizando, adoptando la lengua, cultura y costumbres locales  hasta que el rey Recaredo se convirtió al cristianismo trinitário en el III Concilio de Toledo, en el año  589”. 

(15)

sua sucessão, o que deu lugar a uma guerra civil. Uma das partes em confronto,  liderada por Ágila II, filho do monarca falecido, recorreria ao apoio de Tariq ibn Ziyad, 

chefe militar muçulmano, instalado no Norte de África, que, a partir de Ceuta, deu 

início à invasão dos territórios peninsulares, derrotando Rodrigo e pondo termo ao seu  reinado. “A época dos visigodos acabou, pois, como havia começado: entre o sangue e 

o medo”8 (Bonnassie, Gerbet e Guichard, 2008: 47). Nascia o Al Andalus, nome pelo 

qual passaria a ser identificada a quase totalidade do território peninsular. 

  1.2.  A invasão  muçulmana da  Península  Ibérica  e o nascimento do Al 

Andalus 

O estado de crescente debilidade do Império Visigótico relacionado, sobretudo, com a  sucessão dinástica no território peninsular leva os muçulmanos a acreditar no sucesso  duma invasão. Esta iniciativa surge após um apelo de um dos grupos em contenda por  essa sucessão. Assim, no ano de 711, tropas muçulmanas, compostas, essencialmente,  por soldados berberes, vindas do Norte de África, comandadas por Tariq ibn Ziyad, dão 

início a conquista da Hispânia9. Com a derrota e capitulação do rei visigodo Rodrigo, na 

batalha  de  Guadalete,  todos  os  territórios  passam  a  ser  progressivamente 

conquistados, à excepção de um pequeno reduto a norte da Península. “A rapidez com 

que  os  Muçulmanos  conquistaram  o  Império  Visigótico  mostra  a  sua  espantosa 

fragilidade” (Mattoso, 1992: 321).   

No ano de 756, o Al Andalus, nome dado ao novo estado islâmico na Península, tornar‐

se‐ia  num  emirado  independente  do  califado  de  Damasco,  sob a  autoridade  de 

Abderramão I, um príncipe da dinastia omíada, que estabeleceria a sua capital em 

Córdoba, cidade que viria a tornar‐se numa das mais importantes e prósperas da 

Europa ocidental, a par da sua grande riqueza cultural.   

Para além de Córdoba, a aristocracia árabe vai‐se instalando, progressivamente, em 

cidades como Sevilha e Niebla. “Sob os califas omíadas de Damasco este território foi 

8 “La época de los visigodos acabo, pués, tal como había comenzado: entre la sangre y el miedo”   

9 Do latim Hispania, foi o nome dado pelos antigos romanos a toda a Península Ibérica.

(16)

conquistado, e sob os seus descendentes, convertidos em emires desta longínqua 

província  do  seu  antigo  império,  a  sociedade  andaluza  adquiriu o  seu  indelével 

carácter árabe e islâmico” (Moreno, 2006: 10).   

Com o decorrer dos anos os conflitos e as tensões entre a sociedade e o poder central 

vão‐se acentuando, até que, no ano de 929, Abderramão III estabelece o califado 

omíada de Córdoba, tornando‐se no primeiro califa do Al Andalus. Foi considerado 

como um dos líderes muçulmanos com maior prestígio em toda a Europa. Foi com ele 

que a civilização do Al Andalus em diferentes domínios conheceu o seu apogeu. 

Todavia, dadas as inúmeras crises internas e a progressiva pressão cristã, o Califado 

acabaria  por  se  desintegrar,  já  no  século  XI,  dando  lugar  ao  aparecimento  dos 

primeiros reinos de taifas10. 

 

Devido  à  crescente  rivalidade  entre  estes  reinos  a  debilidade  de  alguns  foi‐se 

acentuando, vindo mesmo a perder os seus territórios. Paralelamente, a ameaça cristã 

dava os seus frutos, desde logo com a conquista da taifa de Toledo, por parte de 

Afonso VI, no ano de 1085. Foi nesta altura que os reis das taifas de Sevilha, Badajoz e 

Granada  decidiram  pedir  o  apoio  dos  almorávidas,  instalados  no  Magrebe.  A 

intervenção dos almorávidas, comandados pelo emir Yusuf ibn Tashufin, viria a resultar 

numa pesada derrota para Afonso VI, no ano de 1086, na batalha de Zalaca, pondo, 

assim, termo ao avanço das tropas cristãs.   

Aproveitando  os  conflitos  existentes  entre  os  diferentes  reinos,  os  almorávidas 

acabariam por alargar o seu domínio a todo o Al Andalus. Sob esta nova autoridade, 

diferentes cidades conheceram um significativo desenvolvimento. Sevilha transformar‐ se‐ia na principal metrópole do Al Andalus.  

 

Entretanto, mais a ocidente, levantam‐se focos de oposição ao domínio almorávida, 

conduzidos pelos almóadas, uma potência religiosa berbere instalada em Marrocos, 

que, deste modo, reagiram ao alegado insucesso dos almorávidas no combate às 

10 Pequenos reinos islâmicos do Al Andalus. 

(17)

investidas cristãs. Este seria, pois, “o último esforço muçulmano importante para  expulsar os Cristãos” (Oliveira Marques, 1995: 60). 

 

Agora, sob o domínio almóada, o Al Andalus conheceria um novo impulso no seu 

desenvolvimento  com  destaque  para  uma  importante  melhoria  nas  vias  de 

comunicação. Mais a norte, os reis cristãos mantinham‐se firmes no seu propósito de 

reconquistar os territórios perdidos.   

Com a passar do tempo, o império almóada acabaria, igualmente, por não resistir à 

pressão cristã. No ano de 1212, tem lugar a Batalha de Navas de Tolosa que vai pôr 

termo ao domínio almóada. As tropas cristãs prosseguem a sua expansão e, neste 

período, são reconquistadas mais algumas cidades importantes, ficando, ainda, por 

alcançar o reino nazari de Granada.   

Enquanto a sudoeste da Península a guerra com os muçulmanos tinha chegado ao fim, 

com a conquista de Silves pelas tropas de D. Afonso III, em 1253, mais a oriente, os 

castelhanos prosseguiam a sua luta pela reconquista dos territórios ainda na posse do  inimigo. Finalmente, no ano de 1492, terminava o domínio árabe na Península Ibérica,  com a tomada de Granada pelos Reis Católicos. 

1.3.  A civilização do Al Andalus 

Com a chegada dos árabes à Península a vida das populações esteve sujeita a enormes 

mudanças. Estes invasores não se dedicaram unicamente ao comércio e à guerra. A 

religião e o idioma serviriam de base a uma nova civilização. Uma nova cultura foi 

então instalada, que acabaria por se alargar a todo o império. Todavia, este processo 

não significaria um corte com a cultura existente. Ambas acabariam por se interligar, 

dando lugar ao aparecimento de uma cultura com características muito particulares. 

Esta nova civilização tornar‐se‐ia das mais evoluídas em todo o mundo.   

Do ponto de vista religioso, a população do Al Andalus, encontrava‐se dividida entre 

(18)

muçulmanos e dhimmis11. Estes estavam sujeitos ao pagamento de um imposto e a um 

conjunto alargado de proibições e obrigações profundamente humilhantes (Fanjul, 

2005).  Nos  territórios  ocupados  continuavam  a  existir  comunidades  cristãs,  que 

passaram a ser conhecidas como moçárabes. Apesar de, a princípio, merecerem o 

respeito  dos  ocupantes,  os  seus  direitos  eram  limitados,  comparativamente  à 

população muçulmana. Ainda que frequentemente referida, a tolerância religiosa por 

parte dos dirigentes muçulmanos não terá passado de um mito. As comunidades não‐ muçulmanas estavam sujeitas ao pagamento de impostos especiais, ao mesmo tempo 

que se viram impedidas de construir os seus lugares de culto. Cristãos e judeus, para 

além de perseguidos, estiveram sujeitos a uma verdadeira marginalização. Em pleno 

século XI, muitos dos judeus de Granada foram mortos pelos almorávidas. Mais tarde, 

com o afastamento destes, os almóadas mantiveram‐se fiéis a esta linha, forçando os 

judeus a converterem‐se sob pena de morte. Com o passar do tempo, e à medida que  o cerco cristão crescia, a situação agravar‐se‐ia (Fanjul, idem). 

 

Tanto no domínio artístico como no da ciência os árabes e berberes que ocupavam a 

Península  Ibérica  começariam  por  recorrer  aos  conhecimentos  deixados  pela 

civilização  visigoda.  Só  mais  tarde,  e  fruto  da  ambição  de  alguns  soberanos 

muçulmanos, se desenvolveria no Al Andalus uma ciência marcada pela originalidade.   

A arte e as ciências, sobretudo as especulativas, como as matemáticas e a astronomia, 

conheceram uma apreciável expansão. Entre os séculos IX e X, o território conheceria 

uma autêntica revolução intelectual. O pensamento grego, sobretudo o aristotélico, 

marcaria profundamente a sua civilização. A ruptura com a tradição visigoda tornou‐se  inevitável. O Al Andalus inicia, assim, uma época de grande florescimento. Acentua‐se  uma cada vez maior diferença entre a sua civilização e a do resto da Europa, ainda sob  influências culturais e económicas de grande complexidade. 

 

Também no domínio do cultivo de terras, novas técnicas de aproveitamento agrícola 

11 Nome dado na história do mundo islâmico aos judeus e cristãos que viviam em Estados islâmicos. 

(19)

trouxeram à economia do território um enorme progresso. A vida económica baseava‐

se na agricultura. O sul do território empenhava‐se numa abundante produção de 

cereais. Terão sido mesmo os Árabes a introduzir na Península algumas culturas 

cerealíferas. Os olivais proliferavam bem assim como os pomares. Apesar da proibição  islâmica do consumo de álcool, a população do território não a respeitava, daí o largo  cultivo de vinhedos e a produção de vinho. 

 

Nalgumas  zonas  do  litoral  oeste  as  actividades  piscatórias  eram  largamente 

favorecidas. Os lacticínios eram produzidos em larga escala. Minas de ouro, prata, 

cobre e estanho proporcionaram importantes explorações. As redes de comunicação 

deixadas pelos romanos foram largamente melhoradas (Oliveira Marques, op. cit.).  

 

Fruto da presença islâmica no território peninsular, a economia conheceu, igualmente,  uma considerável expansão, passando de uma economia de tipo rural para uma outra 

acentuadamente urbana. A economia do Al Andalus estava baseada num regime de 

produtividade de cultivos, na indústria, no comércio e numa moeda estável (Rivero, 

1982). “Naquela época, o Al Andalus era o mais brilhante e desenvolvido de todos os 

estados  muçulmanos, e  na Europa unicamente  o Império  Bizantino se lhe podia 

comparar”12 (Bonnassie,  Guichard, Gerbet,  op.  cit., p.  85).  O Al  Andalus  foi,  na 

verdade,  uma  civilização  que projectou  para o exterior  uma  forte personalidade 

rópria. 

p

 

Todavia, nem todos os olhares sobre o Al Andalus estão de acordo em relação ao 

legado muçulmano e ao propalado esplendor da sua civilização. Muito menos no 

tocante ao ambiente inter‐religioso. É, assim, que surgem vozes bem dissonantes 

como a de Fanjul (op. cit.), para quem a singularidade do Al Andalus não correspondeu 

ao que muitos autores insistem em defender. Para este autor, temas como a liberdade 

das mulheres, o cuidado tratamento dispensado aos escravos, a não obrigatoriedade 

de conversão ao islamismo e a estreita convivência entre muçulmanos, judeus e 

12 “En aquella época, al‐Andalus era el más brillante desarrollado de los estados musulmanes, en  Europa únicamente el Imperio bizantino se le podía comparar” (tradução nossa). 

(20)

cristãos,  e  respectivas  culturas, não passam de mitos verdadeiramente  absurdos  (Fanjul, idem). Também Vidal (2004) recorda que a população visigoda foi conquistada 

não de forma pacífica mas sim pela ponta da espada. Finalmente, sobre a questão 

cultural existe um amplo sector que defende uma realidade bem diferente da que 

muitas vezes é relatada: nos inícios do século VIII, os povos peninsulares viviam à luz 

das culturas clássica, cristã e germânica, num ambiente que as situava ao mais alto 

nível  do  mundo  ocidental,  e que  terá sido a  invasão  islâmica que  destruiu por 

completo  a  cultura  reinante,  tendo  até  criado  uma  perturbação  social  sem 

precedentes.  

(21)

Capítulo 2 – A Reconquista Cristã 

 

  2.1. O início da revolta 

 

Com a derrota do último rei visigodo – Rodrigo –, em luta contra os invasores da 

Península, os reinos cristãos consideram‐se os herdeiros do reino godo e, como tal, 

com o legitimo direito de reconquistar os territórios ocupados pelas forças árabes‐

muçulmanas.  A  Reconquista  Cristã  foi,  assim,  um  movimento  militar  cristão  de 

oposição a esta invasão e expansão territorial. Este movimento desencadear‐se‐ia logo 

após a ocupação. No ano de 718, e sob o comando de Pelágio, entretanto nomeado 

rei, seria dado início, a partir do seu Reino das Astúrias, a uma sucessão de acções que 

tinham como objectivo próximo os acampamentos militares muçulmanos. Todavia, 

esta  primeira  iniciativa  de  Pelágio  não  resultaria,  tendo  sido  feito  prisioneiro. 

Conseguiria, no entanto, escapar. A sua primeira grande campanha, a Batalha de 

Covadonga,  de  fundamental  importância  simbólica,  teria  lugar  no  ano  de  722 

(Aristeguí,  op.  cit.).  Com  ela  um  longo  processo  pela  retomada  dos  territórios 

ocupados estava em marcha. Terminaria somente no ano de 1492, com o derrube do 

reino de Granada. Refira‐se, no entanto, que o movimento não foi linear, conhecendo 

frequentes  períodos  de  grande  agitação  tanto  do  lado  cristão  como  do  lado 

muçulmano devidos a lutas internas. Por estranho que pareça, os lados em confronto 

chegaram mesmo a aliar‐se no combate ao inimigo comum. Tal foi o caso de El Cid, um 

nobre  guerreiro espanhol,  do século XI,  que veio em  favor dos muçulmanos de 

Saragoça combatendo forças cristãs aragonesas, supostamente com base em acordos 

de vassalagem existentes na época. O que se repete por volta de 1191, com a criação 

de uma aliança entre Portugal e Leão contra a tomada de alguns castelos junto à 

fronteira  leonesa  por  parte  dos  Castelhanos.  Este  conflito  iria,  de  resto,  ser 

aproveitado pelas forças muçulmanas, que conquistam Alcácer do Sal e Silves.   

No início da Reconquista eram ainda muitos os territórios pouco ou mesmo nada 

povoados. O seu repovoamento era decisivo para a boa implementação de uma 

estratégia defensiva coerente e, também, para o bom desenvolvimento da longa e 

difícil campanha que as tropas cristãs tinham pela frente.  

(22)

Os muçulmanos não conseguiram ocupar a totalidade do território peninsular; a região  montanhosa das Astúrias, de difícil acesso, tornou‐se o bastião da resistência cristã. De 

resto,  para  os  invasores  esta  região  não  suscitaria,  logo  de  início,  as  suas 

preocupações. É, justamente a partir deste reduto que, sob o comando de Pelágio, têm 

início as acções armadas com vista à reconquista das terras em poder dos invasores 

muçulmanos.    

  2.2. As acções militares cristãs e o fim do domínio árabe 

 

Pouco tempo depois da ocupação da Península pelas forças muçulmanas, e devido, 

sobretudo, às rivalidades existentes entre os diferentes grupos detentores do poder, 

surgem os primeiros conflitos na organização do novo Estado, o que viria a abrir 

caminho à reacção cristã (Barbosa, 2008).   

A partir do Reino das Astúrias, que havia sido fundado por Pelágio, em 718, tem lugar, 

algum tempo depois, no ano de 722, a Batalha de Covadonga, que ficará para a 

História como tendo sido a primeira grande vitória dos cristãos sobre os invasores 

muçulmanos e o ponto de partida da Reconquista Cristã. Mais tarde, no ano de 750, as 

forças cristãs, comandadas por Afonso I das Astúrias, instalam‐se na Galiza, que havia 

sido abandonada pelos berberes.   

Entretanto, os objectivos de expansão muçulmana continuavam em direcção ao Norte  da Europa. Todavia, foram travados nos seus propósitos logo a partir do sul de França  por acção de Carlos Martel, na Batalha de Poitiers, no ano de 732. 

 

A  partir  do  Reino  das  Astúrias,  os  cristãos  aí  acantonados  deslocar‐se‐iam 

gradualmente para Sul promovendo a formação de novos reinos. Um desses reinos, o 

de Leão, daria lugar, mais tarde, à criação do Condado Portucalense (Mattoso, op. cit.).  

 

Uma das regiões que maior resistência ofereceria seria a da Galiza, o que viria a 

revelar‐se decisivo na modelação de alguns traços sociais da população aí instalada e 

que, mais tarde, estaria na origem da sociedade medieval portuguesa (Saraiva, op. 

(23)

cit.). 

Ainda antes do ano de 750, estalou uma revolta que opôs berberes a árabes, o que 

provocaria o abandono dalgumas das zonas ocupadas (Saraiva, idem).   

Em 760, o condado de Aragão é conquistado aos muçulmanos, a partir de Jaca.   

A partir do ano de 791, Afonso II prossegue a sua marcha vitoriosa para Sul, chegando  a comandar uma expedição até Lisboa. 

 

O século X conheceu um período de abrandamento das campanhas militares cristãs e 

muçulmanas, muito por culpa da crise instalada entre os líderes cristãos, o que viria a 

ser aproveitado por Almançor, Governador do Al Andalus, que submeteria Leão, no 

ano de 995, empurrando o reino cristão para posições anteriores.      

Entretanto,  as fragilidades  denunciadas  pelos  muçulmanos desencadeiam  a forte 

reacção de Afonso III. Foi assim que “a última metade do século IX assistiu à primeira 

grande investida cristã peninsular contra uma região ainda não dominada” (Barbosa, 

op. cit. p. 29). Entre os anos de 886 e 910, Afonso III reconquista terras situadas no  litoral ocidental, para além de Viseu, Lamego e Leão.  

 

Em 912 é fundado o Califado de Córdoba, da dinastia Omíada, que assim se separa do  Califado Abássida de Bagdade. 

 

No ano de 939, tentando travar as investidas dos exércitos cristãos, Abderramão III, 

Califa omíada de Córdoba, é derrotado por Ramiro II de Leão.   

No século XI, devido à fragmentação do Califado de Córdoba, no ano de 1031, surgem 

os primeiros reinos de taifas (Oliveira Marques, op. cit.). Esta circunstância é, de 

imediato, aproveitada por Afonso VI que, assim, prossegue a luta pela reconquista com 

a tomada de Toledo. “É claro que o fraccionamento do Califado e as lutas, por vezes 

violentas, em que se envolveram muitos dos reinos de taifa, favoreceram os Cristãos e  o progresso da Reconquista” (Oliveira Marques, ibidem, p. 30). 

(24)

Em  1085,  Afonso  VI  conquista  Toledo,  convertendo‐se  no  rei  das  três  religiões  existentes. 

 

Alarmados  com  as  sucessivas  vitórias  cristãs,  os  líderes  muçulmanos  pedem  a 

intervenção dos Almorávidas que vêm em seu auxílio. Em 1086, tem lugar a Batalha de 

Zalaca, em Sagrajas. Desta vez, Afonso VI sai derrotado. A intervenção almorávida 

trouxe de novo a unificação do Al Andalus, numa altura em que meia Espanha era 

ainda muçulmana (Oliveira Marques, idem). Todavia, esta circunstância não impede 

que mais a ocidente, no ano de 1093, as tropas cristãs tomem as cidades de Lisboa e 

Santarém.  Ainda assim,  um pouco  mais  tarde, em 1110,  as  tropas  muçulmanas 

retomam Santarém.    

Com a queda de Saraqusta (Saragoça), em 1118, da responsabilidade de Afonso I de 

Aragão, é dado um novo sinal de mudança. Em Marrocos, surge um novo partido – os 

Almóadas –, cujo fanatismo em breve irá agitar as populações. No Al Andalus, a 

repressão cada vez maior dos almorávidas deixa marcas, principalmente junto da 

população moçárabe (Oliveira Marques, idem). Esta situação viria a revelar‐se‐lhes 

desastrosa. “Tanto os Cristãos  como os  Almóhadas  se aproveitaram da  anarquia 

política reinante” (Oliveira Marques, idem, p. 59), permitindo a Afonso Henriques 

tomar, definitivamente, Santarém e Lisboa, no ano de 1147. “A conquista de Santarém 

é importante do ponto de vista estratégico, mas também o é do ponto de vista 

psicológico, já que leva a ameaça às praças que se encontram mais a sul, e ‘desfaziam’ 

o conceito de defesa que representava o fecho da progressão através das colinas da 

zona de Tomar” (Barbosa, op. cit. p. 141).  

 

Com o alvorecer do século XIII a Reconquista torna‐se mais activa. Apesar desta 

tendência, mais a sul, os Almóadas, em 1203, uniam o território muçulmano, com a 

conquista da taifa de Maiorca, prosseguindo a sua expansão com a submissão de 

Mértola e Silves, no que era entendido como o derradeiro esforço muçulmano para 

expulsar os cristãos.   

Já sob a influência do espírito de Cruzada são travadas as batalhas de Navas de Tolosa, 

(25)

em 1212. Tropas cristãs, vindas dos mais variados pontos da Europa, especialmente de 

França, apoderam‐se de alguns domínios almóadas. Assim, entre os anos de 1220 e 

1230 é já patente o enfraquecimento do Império Almóada, que, de novo, se fragmenta  em diversas taifas, o que vem a permitir um novo e definitivo alento das hostes cristãs. 

A faixa ocidental da Península – Gharb Al Andalus – passa para o domínio das tropas 

cristãs, comandadas por Afonso III, com a conquista de Silves, em 1253. “Durante cinco 

séculos, o espaço do Portugal de hoje esteve dividido entre cristãos e muçulmanos, 

com avanços e recuos de parte a parte, mas com uma fronteira gradualmente situada 

mais a sul” (Oliveira Marques, op. cit., p. 25). Mais tarde, no ano de 1348, com a 

tomada de Algeciras, fica, ainda, por conquistar Granada.    

Entre 1482 e 1492 regista‐se um conjunto de campanhas militares levadas a cabo pelos  Reis Católicos, que terminaria com a rendição do rei Boabdil, da dinastia Nazari. Posto  fim a este último foco de resistência muçulmana, a Reconquista Cristã chegava ao seu  termo, a 2 de Janeiro de 1492. 

(26)

Capítulo 3 – A comunidade islâmica na Península Ibérica 

 

3.1. A situação actual em Portugal 

 

Os primeiros muçulmanos a chegar a Portugal eram estudantes universitários, vindos 

de  Moçambique,  da  comunidade  de  origem  indiana.  Com  o  processo  de 

descolonização em marcha foram chegando ao nosso país importantes parcelas de 

muçulmanos  vindas,  especialmente,  de  Moçambique,  e  pouco  tempo  depois, 

igualmente da Guiné‐Bissau. A familiarização com a língua portuguesa foi um factor 

decisivo  (Tiesler,  2005).  Por  essa  ocasião  é  já  detectada  a  presença  de  alguns 

muçulmanos oriundos de países árabes, do Senegal, da Índia e do Paquistão. A partir 

do início dos anos 90 começam a chegar a Portugal outros grupos de imigrantes, 

nomeadamente do Bangladesh. Para o desenvolvimento do movimento associativo 

islâmico é, no entanto, a população de origem moçambicana a que mais contributos 

oferece.  Muitos  destes  cidadãos,  pertencentes  a  uma  classe  média  instruída, 

desempenham um papel determinante nos assuntos da comunidade (Tiesler, 2000).   

Ao longo dos últimos anos, Portugal tem recebido um número crescente de imigrantes 

das mais diversas nacionalidades. A sua localização geográfica, próxima dos países do 

Norte de África, responsáveis pelos fluxos cada vez maiores de emigração em direcção 

à Europa e a integração europeia, a par das suas tradições de tolerância fazem de 

Portugal um dos destinos mais atractivos. Tal como vem acontecendo com outros 

países europeus, Portugal é ponto de chegada de cidadãos vindos do Mundo Árabe.   

País relativamente novo em temas de imigração de massas, Portugal adoptou um 

quadro legal em matéria de integração composto por políticas favoráveis e de boas 

práticas.  O reagrupamento familiar  e o  combate  à discriminação  colocam‐no na 

segunda posição entre todos os países MIPEX13. Políticas algo favoráveis à concessão 

de residência de longa duração posicionam o país em quinto lugar na lista da UE‐25. 

No tocante às políticas de acesso à nacionalidade, Portugal ocupa o terceiro lugar. 

13 É um guia para avaliação e comparação das políticas nacionais de integração de imigrantes dos países  aderentes.  

(27)

Segundo uma estimativa do Sheik14 David Munir, Imã15 da Mesquita Central de Lisboa, 

a população muçulmana a viver actualmente no nosso país rondará as 40 mil pessoas, 

dos quais uma parte significativa já nascida em Portugal. A grande maioria é sunita, 

havendo, contudo, uma importante percentagem de ismaelitas, um ramo xiita do Islão.  O perfil desta comunidade é marcadamente lusófono. Na sua maioria são muçulmanos 

que têm o português como a sua língua materna. Esta circunstância terá contribuído 

para a sua mais fácil integração. A exemplo do que tem acontecido ao longo das 

últimas décadas com os muçulmanos da Europa, também os residentes em Portugal 

adoptaram alguns dos hábitos e referências culturais das populações de acolhimento, 

sem que tenham, todavia, renunciado aos seus próprios padrões (Tiesler, 2005).   

Em Portugal, e em contraste com a situação vivida noutras sociedades europeias, uma 

das particularidades da comunidade muçulmana na sua relação com crentes doutras 

confissões assenta numa base de plena integração e tolerância religiosa mútua. A sua 

aparente falta de visibilidade ou de qualquer outro tipo de manifestações será fruto de 

em  Portugal  residir  uma  relativamente  pequena  comunidade  muçulmana 

comparativamente a países como Espanha, França, Alemanha, Áustria ou Reino Unido. 

Por  outro,  o  papel  desempenhado  pela  Comunidade  Islâmica  de  Lisboa  tem‐se 

revelado crucial tanto no estudo das necessidades de natureza religiosa, cultural e 

social das populações islâmicas, como na sua plena integração e inserção social na 

sociedade portuguesa.   

Apesar do actual cenário económico internacional se mostrar desfavorável, os sinais 

até hoje revelados pela presença muçulmana em Portugal apontam para motivações 

exclusivamente relacionadas com o mercado de trabalho. Ainda assim, alguns analistas 

desta comunidade não excluem a possibilidade de algo mudar na imagem que a 

sociedade tem de si, caso surjam no nosso país novos integrantes animados por uma 

atitude de tipo radical face aos ocidentais. Na verdade, desde os tempos da chegada 

dos primeiros muçulmanos a Portugal muita coisa mudou. Actualmente, são muitos os 

imigrantes vindos de uma grande diversidade de países não‐lusófonos, aos quais se 

14 Autoridade religiosa do Islão. 

15 O que dirige a oração na comunidade muçulmana.

(28)

colocam problemas de diferente natureza, nomeadamente o idioma e o novo contexto 

sociocultural. Esta nova vaga de imigrantes tende, pois, a criar novos espaços de 

comunicação e socialização. Acontecimentos como o 11 de Setembro de 2001 (11‐S), 

nos Estados Unidos, o 11 de Março de 2004 (11‐M), em Madrid, e o 7 de Julho de 2005  (7‐J), em Londres têm, igualmente, contribuído para uma nova e desfavorável imagem 

acerca das comunidades islâmicas. Dependendo das condições de integração destes 

novos imigrantes, caberá, pois, às novas gerações muçulmanas a responsabilidade 

pelos novos caminhos a percorrer (Tiesler, ibidem).   

  3.2. A situação actual em Espanha 

 

Situação bem diferente da vivida em Portugal é a de Espanha, tanto pela dimensão da 

sua comunidade islâmica, como por um conjunto alargado de factores. Embora só 

recentemente Espanha se tenha tornado um país de imigração de massas, tal não 

impediu o facto de rapidamente ser um dos destinos mais procurados. Num estudo de 

opinião feito pelo Governo à comunidade muçulmana, entre 2008 e 2009, a maioria 

dos  inquiridos  revelou  a  sua  enorme  satisfação  pelo  nível  de  liberdade  e  pela 

qualidade de vida em Espanha. Já da sua parte, a opinião dos espanhóis em relação à 

comunidade muçulmana encontra‐se, actualmente, bastante dividida, sendo mesmo 

de  alguma  rejeição  e  até  de  receio.  Dados  mais  recentes  apontam  para  uma 

esmagadora maioria de espanhóis que associam a religião muçulmana a fanatismo e a  violência. 

 

Nos anos de 2004 e 2005 registaram‐se recordes no registo de fluxo de imigrantes, 

tanto legais como irregulares. Um dos maiores grupos de residentes legais nacionais 

de  países  terceiros  é  proveniente  de  Marrocos.  Nos  últimos  anos  a  população 

imigrante  marroquina  aumentou  significativamente.  Uma  segunda  vaga  chegou 

proveniente de outros países muçulmanos, em particular do Norte de África, fazendo 

parte de estratos sociais mais baixos, e que procuraram trabalho em sectores mais mal 

remunerados. Todavia, à excepção de Ceuta e Melilla, a história da comunidade 

muçulmana em Espanha é muito recente, remontando à década de 1970. Os primeiros 

imigrantes provinham, essencialmente, de países do Médio Oriente, em particular 

(29)

palestinianos, jordanos, egípcios, libaneses e, sobretudo, sírios. Na sua maioria eram  homens de negócios, estudantes e profissionais liberais da classe média, com um nível 

socioeconómico distinto da maioria da imigração muçulmana dos nossos dias. Sob o 

ponto de vista religioso, pertenciam, na sua maioria, ao ramo sunita (López García et 

al., 2007).   

Desde 1990, com a chegada a Espanha de imigrantes provenientes do Magrebe, a 

estrutura da comunidade islâmica foi‐se modificando, dando lugar ao aparecimento de 

famílias  mistas,  sobretudo  hispano‐marroquinas (López  García  et  al., idem). Mais 

tarde, outros chegaram, desta vez com o estatuto de refugiados políticos. A população 

muçulmana está, de facto, em crescimento contínuo. Segundo o Webislam16estima‐

se em mais de milhão e meio o número de muçulmanos a viver, actualmente, em 

Espanha, muito dos quais exercem funções de gestão e ocupam cargos elevados, 

sendo outros técnicos ou profissionais liberais, perfeitamente integrados na sociedade  espanhola. Neste momento, existem em Espanha comunidades relativamente grandes  de muçulmanos nativos com uma forte coesão e organização. 

 

Já sobre o que representa o Islão para uma parte da sociedade espanhola, há um dado  curioso a destacar relativamente à questão da conversão a esta religião: 70 por cento 

dos espanhóis convertidos nos últimos anos têm ligações à esquerda radical ou a 

grupos anti‐sistema. De resto, o fascínio desta corrente política pelo Islão não é novo. 

Em 2007, o antigo Secretário‐Geral do Partido Comunista Espanhol, Santiago Carrillo, 

afirmou num programa televisivo que ”o Islão era um poderosíssimo instrumento 

revolucionário” contra  os valores ocidentais que os  Estados Unidos representam. 

Muitos  militantes  esquerdistas  justificam  essa  simpatia  afirmando  que  sem  o 

islamismo as massas muçulmanas acomodar‐se‐iam e aceitariam a tirania capitalista.   

Antes dos anos 90, Espanha era, basicamente, um país de passagem, nomeadamente 

para França, Bélgica e Holanda, devido a razões económicas e idiomáticas. Todavia, à 

medida que as condições de vida melhoram, esta situação tende a alterar‐se, dando 

16 Portal islâmico, criado em 1997, pela Junta Islâmica de Espanha. 

(30)

lugar  a  uma  cada  vez  maior  fixação  de  imigrantes  em  Espanha,  vindos 

maioritariamente de Marrocos (López García et al., ibidem). 

 

Neste momento, Espanha ocupa a segunda posição, a par de Portugal, entre os 31 

países  MIPEX  nas  condições  de  acesso  ao  mercado  de  trabalho.  As  áreas  do 

reagrupamento familiar, assim como as políticas de concessão de residência de longa 

duração são um pouco menos favoráveis. Nos domínios do combate à discriminação e  de acesso à nacionalidade, Espanha ocupa, respectivamente, o 17º e o 14º lugar. 

(31)

Capítulo 4 – O terrorismo 

 

4.1. Sobre os conceitos de terrorismo 

 

Até hoje, poucos terão sido os termos geradores de tanta controvérsia como o de 

terrorismo.  No  entanto,  é  já  no  decorrer  do  século  XIX  que  o  terrorismo  será 

entendido, como uma “forma ilegal de acção levada a cabo contra um Estado ou um 

regime político” (Benoist, 2009: 80). Na verdade, são vastíssimas as definições de 

terrorismo, acentuando a tónica sob pontos de vista bem diversos, como o jurídico, o 

social, o político ou até o académico. Há quem afirme tratar‐se de um conceito 

profundamente subjectivo, que, no fundo, depende da perspectiva da vítima ou, pelo 

contrário, da óptica dos autores do atentado, para os quais as acções terroristas são 

simplesmente mais um meio que têm ao seu alcance para se “defenderam dos males 

que lhes são causados pelas próprias vítimas”, através de ataques contra as suas 

legítimas expectativas de independência ou contra os seus valores religiosos. Para o 

terrorista, o recurso a este tipo de solução é o único que está definitivamente ao seu 

alcance. Ainda que tenha que se submeter ao martírio (Sanmartín, 2005). De um modo 

geral, “a lógica moral do islamismo descansa sobre dois pilares: os muçulmanos têm 

uma  causa  justa  e,  perante  a  impossibilidade  de  a  defender  mediante  armas 

convencionais,  podem  e  devem  fazê‐lo  com  armas  extraordinárias,  incluindo  o 

martírio”17 (Sanmartín, idem, p. 19). 

 

A imprevisibilidade e a premeditação do acto terrorista são algumas das principais 

particularidades deste tipo de violência. Uma outra assenta no destinatário desse acto.  Contudo, são só duas as características que distinguem o terrorismo de outras formas  de violência. Assim, o terrorismo dirige‐se contra pessoas que não têm a qualidade de 

combatentes. Depois, a violência é empregada com o propósito de infundir medo 

junto daqueles aos quais são dirigidos os seus ataques. Com efeito, sendo a população 

civil  a  que  mais  adequadamente  reage  aos  seus  propósitos,  é,  também,  a  que 

principalmente motiva as suas  orientações de difusão do  terror,  já que para  os 

17 “…la lógica moral del islamismo descansa sobre dos pilares: los musulmanes tienen una causa justa y,  ante la imposibilidad de defenderla mediante armas convencionales, pueden y deben hacerlo com  armas extraordinárias, incluyendo el martírio” (tradução nossa). 

(32)

terroristas é a sociedade civil atingida a que em melhores condições está para forçar a 

mudança. A população suporta, pois, um efeito instrumental. Assim, quanto mais 

aterrorizador for  o atentado  e maior divulgação  o  mesmo tiver,  mais satisfeitos 

estarão os seus objectivos. São, disso, exemplo os atentados de Nova Iorque e de 

Madrid (Sanmartín, ibidem).   

Enquanto  para  a  especialista  norte‐americana  Stern  (2001:  33),  o  terrorismo  é 

entendido como “o emprego ou ameaça de violência contra não combatentes, como 

uma finalidade de vingança ou intimidação, ou para influir de alguma outra forma 

sobre um determinado sector da população”18, para Laqueur (1996), o terrorismo é 

definido “como o emprego da violência ou ameaça de violência com a finalidade de 

semear o pânico na sociedade e enfraquecer ou mesmo derrubar aqueles que detêm o 

poder e produzir uma mudança política”19. Da sua parte, Napoleoni (2004) entende 

que sendo o terrorismo um fenómeno político, nunca se alcançará uma definição 

amplamente consensual  do  termo  enquanto  o mesmo  prevalecer  no âmbito da 

política. Finalmente, e de acordo com as Nações Unidas20, terrorismo “é qualquer acto 

destinado a causar a morte ou lesões corporais graves a um civil ou a qualquer outra 

pessoa que não participe de forma directa nas hostilidades de uma situação de conflito 

armado, quando o propósito do dito acto, pela sua natureza ou contexto, seja o de 

intimidar uma população ou de obrigar um Governo ou uma organização internacional  a realizar um acto ou a abster‐se de o fazer”. 

 

Apesar das múltiplas definições a que o termo tem sido sujeito, Barbosa et al. (2006: 

119‐120) adianta que todas elas se resumem às seguintes premissas: “1. O terrorismo 

é o uso previsto de uma violência convertida de um crime ou ameaça de violência; 2. 

Terrorismo é uma selecção deliberada de uma táctica para efectuar mudanças; 3. 

18 “El empleo amenaza de violencia contra no combatientes, com una finalidad de venganza  intimidación, o para influir de alguna outra forma sobre un determinado sector da población”  (tradução  nossa). 

 

19 “Application of violence or threatened violence intended to sow panic in a society, to weaken or even  overthrow  the  incumbents,  and  to bring  about  political  change”  (LAQUEUR,  Walter.  Terrorismo 

posmoderno, Foreing Affairs, Vol. 75, Nº 5, 1996) (tradução nossa). 

 

20 Resolução 1269, de 19 de Outubro de 1999, do Conselho de Segurança das Nações Unidas.  

(33)

Terrorismo é atingir pessoas inocentes, incluindo militares; 4. Terrorismo é o uso de 

actos simbólicos para atrair os media e obter larga audiência; 5. Terrorismo é uma 

forma ilegítima de combate, mesmo em guerra; 6. O terrorismo nunca é justificado”.   

  4.1.1. Terrorismo religioso 

 

Como o próprio nome indica, trata‐se, neste caso, de uma forma de violência religiosa. 

Também aqui, não existe consenso quanto à sua definição. Entretanto, já no declinar 

do século XX, assiste‐se ao ressurgimento de um terrorismo com estas características, 

igualmente conhecido como terrorismo islamista ou jihadismo21, impulsionado por 

aqueles cujas motivações se encontram plasmadas nas suas interpretações do Islão. 

Esta nova expressão do terrorismo arrasta consigo novos e justificados motivos de 

profunda preocupação para todo o mundo civilizado, tendo em conta o seu já muito 

elevado registo de atrocidades.   

Tanto a 11 de Setembro de 2001, como a 11 de Março de 2004, os terroristas 

islamistas  não  somente  realizaram  atentados  massivos como  indiscriminados  em 

relação  às  suas  vítimas.  Mais  do  que  vítimas  humanas,  o  que  escolhem, 

criteriosamente, são os lugares onde irão ocorrer os atentados. Igualmente, mais do 

que as vítimas, é o local que simboliza o poder e a cultura que ameaçam a sua forma 

de vida. O World Trade Center, local carregado de simbolismo, representava o mal e a 

submissão económica de muitas nações. Outros locais, igualmente atingidos, como 

algumas  embaixadas  dos  Estados  Unidos,  possuem  uma  forte  carga  simbólica. 

Entretanto, o impacto mediático encarregar‐se‐á do resto (Sanmartín, op. cit.). Na 

verdade, os objectivos do terrorismo passam pela criação de um verdadeiro clima de 

insegurança. “O terrorismo está pensado para aterrorizar” (Juergensmeyer, 2001: 5). 

  4.1.2. Jihadismo  

Os cinco pilares do Islão – a profissão de fé (shahada), a oração (salat), o jejum 

(sawm), a caridade (zakat) e a peregrinação (hajj) – constituem‐se como os deveres 

21 Termo derivado de Jihadque identifica ala mais violenta radical da visão ideológica do Islão  político. 

(34)

básicos de cada muçulmano. Todavia, para os radicais islamistas, a Jihad é aceite como 

sendo a obrigação mais importante logo depois do cumprimento dos cinco pilares do 

Islão. Algumas correntes do pensamento islâmico defendem a Jihad como um conceito 

particularmente abrangente tendo como inimigos todos aqueles que se opõem aos 

mais  sagrados  princípios  do  Islão.  Entretanto,  nos ditos  do  Profeta Maomé  são 

descritas duas formas de Jihad: a Maior, como sendo a luta interior de cada um pelo 

domínio da sua alma; e a Menor, que se refere ao seu esforço pela divulgação da 

mensagem do Islão, que não tem limites espaciais ou temporais e que só terminará 

quando todo o mundo  tenha  aceite  ou  sido  submetido à  autoridade  do  Estado 

Islâmico.   

No mundo islâmico, o termo Jihad, é assumido prioritariamente como um princípio 

ético. Para a larga maioria dos muçulmanos significa o empenhamento por uma boa 

causa. Já no Ocidente, o termo jihadismo, derivado da Jihad, é utilizado para identificar 

a componente mais radical do islamismo, onde se verifica um recurso sistemático ao 

terrorismo. Os próprios grupos terroristas rotulam as suas acções como sendo a jihad 

islâmica e que tem como objectivo o castigo e a submissão dos infiéis. Este conceito é,  no entanto, rejeitado pela corrente moderada do Islão, para quem o Livro Sagrado dos 

muçulmanos  não  contempla  qualquer  tipo  de  alusão  a  iniciativas  violentas.  Na 

verdade, o termo Islão está associado à fé, ao passo que islamismo identifica uma 

ideologia. Será, pois, um equívoco confundir o terrorismo com o Islão ou mesmo com a  comunidade islâmica em geral.  

 

Assim como muitas outras, também a palavra Jihad, à luz de um contexto religioso, é 

vasta em significados. Alguns até de sinal bem contrário. Talvez por isso, amplos 

sectores da vida política, académica e religiosa islâmica contemporâneas sublinhem 

reiteradamente que o termo apenas significa, verdadeiramente, esforço, tanto nas 

suas vertentes espiritual como pessoal. Todavia, foi justamente num contexto religioso 

histórico, à época de Maomé, que tiveram lugar inúmeras perseguições e violência 

física em nome da islamização e da expansão territorial de conformidade com as 

leituras do Alcorão. Desde o nascimento do Islão, no século VII, muitas outras guerras 

receberam o título de Jihad. No entanto, esta jihad global, como, de resto, outras 

Referências

Documentos relacionados

Isto pode ser verificado pelo tempo de meia-vida bastante baixo para todos os resíduos: folhas de soja (8–9 dias, entre as alturas de pastejo), esterco (11–12 dias), caules de

De acordo com estes resultados, e dada a reduzida explicitação, e exploração, das relações que se estabelecem entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente, conclui-se

Com o objetivo de compreender como se efetivou a participação das educadoras - Maria Zuíla e Silva Moraes; Minerva Diaz de Sá Barreto - na criação dos diversos

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS..

Cada parte desse retângulo será repre- sentada pela fração um meio ou um sobre dois, ou seja, vamos dividir a barra pela metade.. No problema anterior, ao retirar da barra de

 Para os agentes físicos: ruído, calor, radiações ionizantes, condições hiperbáricas, não ionizantes, vibração, frio, e umidade, sendo os mesmos avaliados

J- 18 Entrada positiva do sinal CDL de paragem do motor: Para ligar como indicado na folha de instalação PLIP específica.. do veículo ou no guia de instalação de produto para