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CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

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Academic year: 2021

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CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

1. NORMAS CONSTITUCIONAIS

As normas constitucionais podem ser vistas como comandos de ação, parâmetros de atuação ou orientações a serem seguidas. A norma trás a regra que deve ser obedecida, respeitada. As normas constitucionais, porém, podem ser divididas em normas princípios e normas regras.

1.1. REGRAS

As regras possuem um comando disjuntivo do tipo: Se A então B. Ou seja, as normas trazem preceitos fechados, herméticos, concretos.

Quando duas ou mais regras estão em conflito não há como compatibilizá-las, pelo seu grau de concretude e objetividade. Vê-se, então, que: Se A então B, então não C, D ou E...

1.1.1. Solução de conflitos entre regras

Quando duas ou mais regras parecem ou realmente se referem ao mesmo fato da vida há um conflito entre elas porque, conforme ressaltado, as regras não permitem a coexistência de duas ou mais para tratar do mesmo fato.

Existem alguns métodos jurídicos clássicos para se resolver o conflito entre regras. São eles:

A. Hierárquico: Quando duas ou mais regras entram em colisão é possível verificar se uma possui hierarquia superior à outra e assim fixar a regra de maior hierarquia como a solução para o conflito, privilegia-se a organização do sistema jurídico verticalizado.

B. Cronológico: Pelo critério cronológico, quando duas ou mais regras se mostrem incompatíveis entre si diz-se que a lei nova revoga a lei velha, ou seja, a nova disposição prevalece sobre a velha. Privilegia-se a nova regra em detrimento da velha pelo critério cronológico.

C. Especialidade: Outro critério que poderá ser utilizado é o da

especialidade que informa ao intérprete que a lei especial (que trata de

forma mais específica do assunto) prevalece sobre a lei geral (que trata

de forma genérica do assunto). Este critério procura privilegiar a

especificidade em detrimento da generalidade.

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1.2. PRINCÍPIOS

São as normas de abrangência máxima e dotadas de menor concretude, ou seja, possuem alto grau de indeterminabilidade. Os princípios são mais gerais e abstratos que as regras.

Os princípios são pilares do ordenamento jurídico. O princípio é um mandamento nuclear de um sistema e pode estar positivado ou implícito.

São abstratos porque lhes falta densidade normativa e por isso deve ser instrumentalizado pelas regras. Toda regra terá função de concretizar, densificar, instrumentalizar um ou mais princípios. Porém, embora os princípios revelados orientem a formação das regras (função normogenética), os princípios derivam das regras, são extraídos da interpretação lógica que as regras fornecem.

Princípios não são binários (causa-efeito, norma-sanção, ação-reação...) como são as regras e por isso pode-se verificar que a aparente colisão entre princípios não poderá ser resolvida utilizando os mesmos critérios das regras.

Em verdade, quando há um aparente conflito entre princípios não há uma verdadeira oposição entre eles e é fácil verificar tais condições no texto constitucional, posto que, por exemplo, a ordem econômica, no Art. 170 é pautada pelos princípios da propriedade privada e da função social da propriedade, da livre concorrência e da defesa do consumidor, além de ser fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa... Analisando os princípios e os fundamentos assim, par a par, pode-se revelar um quê de contrariedade entre eles, entretanto, o que a Constituição busca é harmonia entre eles.

Pelo grau de abstração que os princípios possuem não há que se falar em revogação de princípios pela sua não incidência ou não prevalência em um caso concreto, ou seja, os princípios permitem maior harmonização, relativização sem que ocorra sua revogação. Exemplo: O fato de o STF e o STJ aceitarem o tabelamento de preços em favor da defesa do consumidor, da soberania nacional, do trabalho humano não revogou e não revogaria pela não completa incidência o princípio da livre iniciativa que rege a atividade privada, não revogou o princípio da propriedade privada e nem o da livre concorrência.

Atuam na Integração do ordenamento jurídico porque servem para suprir lacunas, pois, as regras podem ser lacunosas, já os princípios serão utilizados para completar o ordenamento jurídico. Exemplo: Aplicação do princípio da igualdade em casos práticos em que a lei ainda não cuidou de tratar desigualmente os desiguais, como a gestante que pede para fazer o teste físico de um concurso em outro momento, ou o pai que pede maior prazo de licença paternidade tendo em vista a morte da mãe de seu filho durante o parto.

Atuam então, na criação, na aplicação, controle e na integração do ordenamento jurídico. Além disso, deverão ser observados pelos destinatários imediatos: Promotor, Juiz, Legislador, Executor, Contratantes...

Pode-se dizer que os princípios se aproximam mais da ideia de direito,

de justiça.

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1.2.1. Princípio Jurídico

O professor Márcio Luiz nos traz a seguinte definição: “É norma de dedução lógica inerente à historicidade e à sistematicidade do fenômeno jurídico genérica ou especificamente considerado, podendo ser identificada de forma expressa (está na própria norma) ou implícita (princípio da proporcionalidade ou razoabilidade) numa dada ordem jurídica positiva, composta por diretrizes ou premissas jusfilosóficas, axiológicas (valorativas), científicas e ou técnicas que incide sobre o processo de criação (função normogenética) sobre o processo de aplicação e sobre o processo de controle (funções integrativas e conformadora) de outras normas jurídicas (as regras), e cuja observância, pelos seus destinatários imediatos, beneficia por consequência, os indivíduos e a sociedade.”

Pode-se então concluir que princípios são as primeiras verdades, as orientações e diretivas de caráter geral e fundamental que se possam deduzir da conexão sistemática, da coordenação e da íntima racionalidade das normas, que concorrem para assim, num dado momento histórico, o tecido do ordenamento jurídico. São normas-chave de todo o sistema jurídico (são nucleares ou nocionais – seriam indefiníveis).

1.2.2. Princípios Constitucionais

Segundo a doutrina os princípios constitucionais podem ser classificados em três grandes categorias:

A. Axiológicos e Jusfilosóficos (ou meta-normativos ou transcendentais):

 Estão no poder constituinte originário (por isso são chamados de meta-normativos), este, ao se reunir, está carregado de valores que deverão integrar o texto constitucional vindouro (ver o Preâmbulo e o Art. 1

o

– são espalhados pela Constituição pelo poder constituinte originário).

 São utilizados na hermenêutica constitucional.

 Estes princípios servem para conciliar princípios que aparentemente seriam inconciliáveis.

B. Fundamentais ou estruturantes (Canotilho) ou Político- constitucionais (José Afonso da Silva):

 A partir do Art. 1

o

ao 4

o

: são princípios estruturantes, porém são genéricos. São estruturantes porque cuidam da forma do Estado, da forma do governo, do regime político, do tipo de Estado, da origem e divisão funcional do poder político.

C. Instrumentais (ou Jurídico-constitucionais – José Afonso da Silva):

 São vistos a partir do Art. 5

o

, e são instrumentais porque procuram

instrumentalizar os princípios fundamentais e os jusfilosóficos dos

artigos anteriores.

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1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

No livro: DIREITO CONSTITUCIONAL – Teoria do Estado e da Constituição – Direito Constitucional Positivo. 11ª Edição – Revista, atualizada e ampliada – Atualizada conforme a Reforma do Judiciário [Emenda Constitucional n. 45/04]. KILDARE GONÇALVES CARVALHO elenca várias classificações dos princípios fundamentais (Título II – Direito Constitucional positivo – Capítulo 15 – Princípios fundamentais – 4. Classificação dos princípios constitucionais – pág. 366 e seguintes), entre elas:

1.3.1. GOMES CANOTILHO

A. Princípios jurídicos fundamentais: São princípios gerais de Direito (publicidade, proporcionalidade, acesso ao direito e aos tribunais, imparcialidade);

B. Princípios políticos constitucionalmente conformadores:

Explicitam valorações políticas, nucleares, do legislador constituinte, e refletem a ideologia inspiradora da Constituição (forma de Estado, coexistência de diversos setores da propriedade, princípios estruturantes do regime político, forma de governo e princípios eleitorais);

C. Princípios constitucionais impositivos: Sobretudo no âmbito da Constituição dirigente, impõem aos órgãos do Estado, especialmente ao legislador, a realização de fins e a execução de tarefas (como a independência nacional, correção das desigualdades);

D. Princípios-garantia: São os de maior densidade normativa e menor abstração e por isso se aproximam das regras para permitir o estabelecimento direto de garantias para os cidadãos (legalidade estrita em matéria criminal, inocência, juiz natural).

1.3.2. JORGE MIRANDA

A. Princípios constitucionais substantivos: São princípios válidos em si mesmos e expressam os valores básicos a que adere a Constituição material, subdividindo-se em:

 Princípios axiológicos fundamentais: Correspondentes aos limites transcendentes do poder constituinte, ponto de passagem do Direito Natural para o Direito Positivo;

 Princípios político-constitucionais: Correspondentes aos limites imanentes do poder constituinte, que refletem as opções e princípios de cada regime, como o princípio democrático, o princípios representativo, o da separação de Poderes, o da constitucionalidade, etc;

B. Princípios constitucionais instrumentais: Que correspondem à

estruturação do sistema constitucional, em termos de racionalidade e

operacionalidade, dando como exemplos, o princípio da publicidade das

normas jurídicas, o da competência, etc.

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1.3.3. JOSÉ AFONSO DA SILVA

A. Princípios políticos constitucionais: Decisões políticas fundamentais conformadoras do sistema constitucional positivo, constituindo todo o Título I da Constituição (arts. 1º a 4º);

B. Princípios jurídicos constitucionais: São informadores da ordem jurídica nacional (constitucionalidade, legalidade, isonomia, autonomia individual, devido processo legal).

1.3.4. EDILSOM PEREIRA DE FREITAS

A. Princípios estruturantes ou fundamentais: Aqueles que expressam as decisões políticas fundamentais do constituinte no que pertine a estrutura básica do Estado e as idéias e os valores fundamentais triunfantes na Assembléia Constituinte, e cuja modificação implica a destruição da Constituição;

B. Princípios constitucionais impositivos ou diretivos: Os que dizem respeito às tarefas que a Constituição incumbe ao Estado geralmente para o atendimento de necessidades coletivas de natureza econômica, social e política;

C. Princípios-garantia: Compostos por aquelas normas constitucionais que propõem diretamente uma garantia individual, sendo diretamente aplicáveis.

1.3.5. LUÍS ROBERTO BARROSO

A. Princípios fundamentais: Contém as decisões políticas estruturais do estado (república, federação, democracia, separação dos poderes, presidencialista, livre iniciativa).

B. Princípios constitucionais gerais: Desdobramentos menos abstratos dos princípios fundamentais (equivale aos princípios-garantia de Canotilho – legalidade, isonomia, autonomia estadual e municipal, acesso ao Judiciário, irretroatividade das leis, juiz natural e devido processo legal);

C. Princípios setoriais ou especiais: Presidem um específico conjunto de normas afetas a um determinado tema, capítulo ou título da Constituição.

1.4. HIERARQUIA ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS

Não há hierarquia entre princípios e regras, há uma primazia em relação

aos princípios. Logicamente que se houver hierarquia entre as normas regras e

normas princípios haverá hierarquia entre eles. Porém, em se tratando de

princípios ou regras constitucionais não pode haver hierarquia.

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