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A REFORMA PREVIDENCIÁRIA E A EFETIVIDADE DOS PRINCÍPIOS E REGRAS CONSTITUCIONAIS

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EFETIVIDADE D O S PRINCÍPIOS E R E G R A S CONSTITUCIONAIS

A N A C L Á U D I A P I R E S F E R R E I R A D E L I M A < ‘>

1. I N T R O D U Ç Ã O

E m t e m p o s e m q u e s e encontra tão e m v o g a o estudo d a efetividade d o s direitos, q u er n o plano material, q u er n o processual, voltamo-nos para a Constituição d a República e a s regras d e h e rm e nêutica jurídica constitu­

cional e i n d a g a m o s : a Proposta d e E m e n d a Constitucional ( P E C ) 4 0 /2 0 0 3

— referente à reforma d a Previdência Social — é constitucional? U m a vez aprovada, estar-se-á d a n d o efetividade à s n o r m a s constitucionais vigen­

tes? A proposta respeita o s limites impostos a o P o d e r Constituinte deriva­

do, m o r m e n t e , a cláusula pétrea consubstanciada n o art. 60, § 4®, IV d a Constituição d a República? Estes s ã o o s t e m a s a s e r e m a b o r d a d o s neste breve artigo.

2. D O S R E G I M E S J U R Í D I C O S D E C O N T R A T A Ç Ã O D O S T R A B A L H A D O R E S

O o r d e n a m e n t o jurídico brasileiro elege dentre s e u s princípios f u n d a ­ mentais a dignidade d a p e s s o a h u m a n a e o s valores sociais d o trabalho e d a livre Iniciativa {art. 1®, III e IV d a C F ) e estabelece, a nível constitucional, direitos a o s "trabalhadores u r ba n o s e rurais" {art. 7® d a CF), b e m c o m o a o s agentes públicos, q u er s e j a m o c up a n t e s d e cargo, e m p r e g o o u f u nç ã o p ú ­ blica (art. 3 7 e ss. d a CF).

Assim, a própria Constituição Federal r e c o n h e c e a existência d e re­

g i m e s jurídicos diversificados, tendo a E m e n d a Constitucional n. 19, d e

4.6.98 excluído a exigência d e regime jurídico único, contida n o caput d o

artigo 39, ficando c a d a esfera d e g o ve r n o c o m liberdade para escolher o

regime jurídico s o b o qual contratará s e u servidor (contratual o u estatutá- ( * )

(*) Juíza d o Trabalho Substituta d a 1 5 “ Região.

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E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 45

rio), excetuando-se a s carreiras típicas d e Estado, e m q u e a própria C o n s ­ tituição Federal i m p õ e o regime estatutário, ainda q u e implicitamente — eis q u e obrigatoriamente r e m u n e r a d o s por "subsidios” — , c o m o é o c a s o das carreiras d a Magistratura (art. 39, § 4 a), Ministério Público {art. 128, § 5®, I, c), Tribunal d e C o n f a s (art. 73, § 3 a), Polícia (art. 144, § 9 a), A d v o c a d a Pública e Deiensoria Pública ( art. 135).(,)

A Constituição Federal diferencia o s direitos atribuídos a o s servido­

res privados daqueles atribuídos a o s servidores públicos, impondo, ainda, restrições a estes:

1. Trabalhadores u r ba n o s e rurais (art. 7 a):

a) proteção a s se g u r a da contra despedida arbitrária o u s e m justa c a u s a (inciso I , atualmente consubstanciada n a multa d e 4 0 % sobre o F G T S ) ;

b) fundo d e garantia d o t e m p o d e serviço (inciso III);

c) irredutibilidade salarial (inciso VI);

d) participação n o s lucros, o u resultados, desvinculada d a r e m u n e r a ­ ção, e, excepcionalmente, participação n a gestão d a e m p r e s a (inciso XI);

2. Servidores públicos:

a) direito a o a c e s s o através d e concurso público d e provas o u d e provas e títulos (art. 37, inciso II);

b) fixação o u alteração d e v e ncimentos por lei específica (art. 37, inciso X);

c) teto d e vencimentos, os quais n ã o p o d e m e x ce d e r a o s d o s Minis­

tros d o S u p r e m o Tribunal Federal (art. 37, inciso XI);

d) irredutibilidade d e v e ncimentos (art. 37, inciso XV);

e) integralidade n a aposentadoria (art. 40, § 3 a);

f) paridade, o u seja, revisão d o s proventos d e aposentadoria e d a s p e n s õ e s n a m e s m a proporção e n a m e s m a data e m q u e s e modificar a r e m u n e r a ç ã o d o s servidores e m atividade (art. 40, § 8 a);

g) estabilidade a p ó s 3 (três) a n o s d e efetivo exercício para os servi­

dores n o m e a d o s para cargo d e provimento efetivo e m virtude d e concurso público (art. 41, caput);

h) proibição d e a c u m u l a ç ã o r e m u n e r a d a d e cargos, funções o u e m ­ pregos, ressalvadas certas hipóteses e x pr e s s a m e n t e arroladas, d e s d e q u e haja compatibilidade d e horários e respeitado o teto d e r e m u n e r a ç ã o (art.

37, X V I e XVII);

i) Irredutibilidade d o valor d o s benefícios (art. 194, par. único, IV).

N u m a simples análise d o s direitos atribuídos a o s servidores privados

e a o s públicos, c o ns t a t a mo s q u e a paridade e a integralidade conferidas

a o servidor estatutário estão contrabalanceadas c o m o F G T S destinado a o 1

(1)

M a r i a Sylvia Z a n e l l a di Pietro,

“Oireito Administrativo", p. 441.

(3)

trabalhador celetista, cujo ô n u s é arcado pelo e m pregador, q u e eqüivale, praticamente, a u m salário nominal por a n o d e serviço, atingindo u m a quantia considerável a o final d o s 30/35 a n o s d e serviço exigidos para a p o s e n t a d o ­ ria, a cuja verba o estatutário n ã o t e m direito. P o d e r í a m o s dizer, por outro lado, q u e a n ã o previsão d a m e s m a estabilidade a o trabalhador celetista é c o m p e n s a d a c o m a indenização pela dispensa ¡motivada, equivalente, atual­

m e n t e a 4 0 % sobre o F G T S {art. 18, § 1® d a Lei n. 6.039/90).

Ressalta-se, ainda, q u e n o regime geral d e previdência social, a c o n ­ tribuição d o e m p r e g a d o está limitada a o teto imposto pelo Governo, n ã o importa o n ú m e r o d e e m p r e g o s d o trabalhador o u o total d e s e u salário, a o p a s s o q u e o trabalhador estatutário recolhe a alíquota q u e lhe é fixada por lei ( 1 1 % para o servidor federal — art. 1 s d a Lei n. 9.783, d e 28.1.99) sobre o total d e s e u s vencimentos.

Portanto, s e realmente o '‘r o m b o 1’ atribuído a o sistema d a previdência tivesse c o m o c a u s a a integralidade e paridade atribuída a o servidor estatutário, bastaria q u e o G o v e r n o p a s s a s s e a admitir s e u s servidores s o b o regime jurídico d a CLT, e n qu a d r a n d o - o s n a s regras d o regime geral d e previdência social (art. 2 0 1 d a CF), c o m e x c e ç ã o d a s carreiras típicas d e Estado. Entretanto, o G o v e r n o n ã o o faz porque, neste regime, teria q u e arcar c o m o s recolhimentos d o fundo d e garantia d o t e m p o d e serviço, a l é m d o s e n c a r g o s previdenciários impostos a o e m pregador, ô n u s pelos quais o G o v e r n o n ã o quer s e responsabilizar.

Feita a distinção entre os regimes celetista e estatutário, p a s s a m o s a analisar a proposta d e E m e n d a Constitucional ( P E C ) 40/2003, e m trâmite n o C o n g r e s s o Nacional à luz d o s princípios constitucionais d a igualdade, d a proporcionalidade (art. 1® caput, art. 5®, X X V e LIV d a C F ) e d a irreduti- bilidade d o valor d o s benefícios (art. 194, IV d a CF). 1

1. D O S P R I N C Í P I O S C O N S T I T U C I O N A I S 1.1. D o princípio d a igualdade

Utilizando-se d o discurso simplista, c o m o pretexto d e criar u m regi­

m e único d e previdência social para o s servidores públicos e privados, in­

vocando, equiv o c a da m e n te , o princípio d a igualdade e d a moralidade, a Administração atual q u er tirar d o s servidores públicos u m d o s p o u c o s atra­

tivos d a carreira, a saber, a aposentadoria c o m proventos integrais — reajustável d a m e s m a f o rm a q u e os v e ncimentos d o s servidores d a ativa.

A P E C 4 0 / 2 0 0 3 tira benefícios sociais d o s servidores públicos c o m a

pretensão d e Iguaiá-ios a o s d o setor privado, deixando, entretanto d e e s ­

tender a o s servidores públicos a s garantias d o setor privado, m o r m e n t e o

F G T S , cujo levantamento o trabalhador celetista t e m direito a o s e a p o s e n ­

tar (equivalente a u m salário nominal por a n o d e serviço, o q u e s o ma r i a 3 5

salários nominais n o c a s o d a aposentadoria integral d e u m h o m e m c o m tal

t e m p o d e contribuição).

(4)

E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 47

O princípio d e q u e "todos s ã o iguais perante a leí” pressupõe q u e as grandezas a s e r e m "igualadas" s e encontrem n a m e s m a dimensão. Assim, inconcebível dar o m e s m o tratamento a "desiguais", por questões jurídicas e até m e s m o éticas. S o m e n t e haverá legalidade e moralidade n a equiparação d e “desiguais” q u a n d o s e der condições táticas para tanto, e d e maneira geral, n ã o bastando o tratamento igualitário e m a p e n a s u m o u outro aspecto.

A proposta d e reforma e m curso visa a a d o ç ã o d e u m único regime d e previdência social para todos o s trabalhadores, q u er s e j a m celetistas o u estatutários, inclusive o s exercentes d e cargos d a carreira típica d o E s ­ tado, excetuando, unicamente, o s militares. Entretanto, a l é m d e n ã o unifor­

mizar o regime d e previdência social entre servidores públicos e privados, pois i m p õ e u m ô n u s maior a o s primeiros c o m a instituição d e contribuições a o s servidores públicos inativos, a P E C 4 0 /2 0 0 3 s o m e n t e tira direitos soci­

ais d o s servidores públicos, n ã o lhes conferindo n a d a e m troca.

A d e m a i s , a respeito d o s inativos, c o n f o r m e ressalta Wagner Ba!erai2\

o a p o s e n t a d o e o pensionista n ã o estão m a is n a condição d e contribuintes, m a s sim n a d e beneficiários d a previdência, s e n d o incompatível c o m o re­

g i m e constitucional d a seguridade social a instituição d e contribuição inci­

dente sobre proventos p a g o s a a p o s e n t a d o s o u pensionistas d o serviço público, n ã o s e p o d e n d o igualá-los a o s servidores d a ativa.

E m s u m a , a P E C 4 0 / 2 0 0 3 ofende o princípio d a igualdade, eis que: a) pretende igualar os servidores públicos a o s d o setor privado a p e n a s sob u m aspecto (quebra d a integralidade e d a paridade), olvidando-se d a s d e ­ sigualdades fálicas entre o s m e s m o s , criando u m terceiro regime, e b) cria contribuição a p e n a s para o s inativos e pensionistas d o setor público.

3.2. D o princípio d a proporcionalidade

O princípio d a proporcionalidade é d e c o m p o s t o pela doutrina a l e m ã e m três aspectos:

“proporcionalidade e m sentido estrito, a d e q u a ç ã o (Geeinigkeit) e exigibilidade (ErfõrderlichKeit). N o s e u e m p r e g o , s e m p r e s e t e m e m vista o fim colimado n a s disposições constitucionais a s e r e m inter­

pretadas, fim e s s e q u e p o d e ser atingido por diversos meios, entre os quais s e haverá d e optar. O m e i o a ser escolhido deverá, e m primeiro lugar, ser a d e q u a d o para atingir o fim desejado. E m seguida, c o m p r o ­ va-se a exigibilidade d o m e i o q u a n d o e s s e s e mostra c o m o o "mais suave" dentre o s diversos disponíveis (...) Finalmente, haverá respei­

to à proporcionalidade e m sentido estrito q u a n d o o m e i o a ser e m p r e ­ g a d o s e mostra c o m o o m a i s vantajoso, n o sentido d a p r o m o ç ã o d e certos valores, c o m o m í n i m o d e desrespeito d e outros (,...)”.(3> 2 3 (2)

W a g n e r Balara,

"Contribuição d o inativo", Revista de Previdência Social n. 268. m a r ç o 2003, pp. 221/223.

(3)

C e l s o Ribeiro Basl o s ,

“Herme nê uti ca e Interpretação Constitucional”, p. 233.

(5)

N o Direito Brasileiro, a técnica d a verificação d a proporcionalidade p o d e ser admitida c o m o presente n o texto Constitucional s o b d u a s óticas diversas. Primeiramente, p o de - s e considerar o princípio d a proporcionali­

d a d e c o m o implícito n o sistema, revelando-se a s s i m c o m o u m princípio constitucional n ã o escrito, decorrente d o E s ta d o democrático d e direito (ar­

tigo 1 s, caput, d a CF). P o r outro lado, poder-se-ia extraí-lo d a cláusula d o devido p r oc e s s o legal (art. 5®, X X V e LIV d a CF), m a is específicamente c o m o decorrente d a n o ç ã o substantiva q u e s e v e m imprimindo à dita cláu­

sula.

A n o r m a jurídica q u e n ã o está d e acordo c o m o princípio d a igualda­

d e n ã o é due process oflaw. S e g u n d o Luiz Guilherme Marinoni^, a cláusu­

la d o devido processo legal n ã o s e limita a simples garantia processual, consistindo, a par d o princípio d a igualdade, "no m a i s importante instru­

m e n t o jurídico protetor d a s liberdades públicas, c o m d e st a q u e para a s u a novel função d e controle d o arbítrio legislativo e d a discricionariedade g o ­ vernamental, n o t a d a m e n t e d a ‘razoabílidade’ ( reasonableness ) e d a 'racio­

nalidade' ( rationality ) d a s n o r m a s jurídicas e d o s atos e m geral d o P o de r Público”.

Ainda, s e g u n d o Marinoni:

“o controle d a razoabílidade d a lei, realizada e m virtude d a g a ­ rantia d o devido processo legal, t e m por fim evitar leis q u e s e j a m arbitrárias, o u melhor, leis q u e discriminem e m d e s a t e n ç ã o a o princí­

pio d a igualdade, o u q u e d e i x e m d e diferenciar q u a n d o necessário à observância d e s s e princípio. Isto é, a cláusula inciui ‘a proibição a o P o d e r Legislativo d e editar leis discriminatórias, o u e m q u e s e j a m negócios, coisas o u p e s s o a s tratados c o m desigualdade e m ponto sobre o s quais n ã o haja entre eles diferenças razoáveis, o u q u e exi­

jam, por s u a natureza, m e d i d a s singulares o u diferenciais'.”15’

O g o ve r n o divulga c o m o principal motivo d a reforma d a previdência s e u r o m b o n o s setores público e privado. Entretanto, estudos elaborados a n u a l m e n t e pelo Sindicato d o s Auditores d a Receita Federal (Unafisco) c o m p r o v a m q u e o sistema previdenciário é superavitário, o u seja, “a o lon­

g o d o s últimos anos, a receita d a seguridade t e m sido m a is q u e suficiente para financiar o s gastos d o regime geral, o s d e assistência social, o s p a g a ­ m e n t o s d e inativos d a União, o o r ç a m e n t o d o Ministério d a S a ú d e e ainda gerar a m e t a d e d o superávit primário d o g o ve r n o federar16’, s e n d o q u e e m 2002, “s o m a n d o I N S S e aposentadoria d o s servidores públicos, o s u p e r á ­ vit d o sistema foi d e R $ 15 bilhões”'7’, fato reconhecido pelo Governo, con- 4 5 6 7 (4)

L u i z G u i l h e r m e Marinoni,

" O direito â efetividade da tutela jurisidicional n a perspectiva da teoria d o s direitos fundamentais", Ge ne s i s — Revista de Direito Processual Civil n. 28, Curitiba, abrü/junho d e 2003, p. 312.

(5)

I d l b i d e m .

(6) Sulamis Dain, d a U E R J , e m palestra profarida durante o seminário “A R e f o r m a d a Previdência", pr omo vi do pelo P T e F u n d a ç ã o Perseu Ab ra m o , no s dias 2 4 e 2 5 d e m a i o d e 2003, a p u d C a d e r n o s A d u n e s p 3 — junho 2003, p. 9.

(7) R o s a

M a r q u e s ,

d a P U C / S P , e m palestra proferida n o m e s m o seminário.

(6)

E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 49

f o rm e declarações d o Ministro chefe d a C a s a Civil, J o s é Dirceu: “É verdade que, s e o g o ve r n o n ã o p a g a s s e o s juros d a dívida, haveria superávit d a Previdência”*81.

Luís Roberto Barroso invoca o principio d a razoabilidade c o m o ins­

trumento d e invalidação d e atos legislativos e administrativos:

" O principio d a razoabilidade é u m m e c a n i s m o d e controle d a discricionariedade legislativa e administrativa. Ele permite a o Judiciá­

rio invalidar atos legislativos o u atos administrativos q u an d o : a) n ã o haja relação d e a d e q u a ç ã o entre o fim visado e o m e i o e m p r e g a d o ; b) a m e d i d a n ã o seja exigível o u necessária, h a v e n d o m e i o alternati­

vo para c h eg a r a o m e s m o resultado c o m m e n o r ô n u s a u m direito individual; c) h ã o haja proporcionalidade e m sentido estrito, o u seja, o q u e s e p e rd e c o m a m e d i d a é d e maior relevo d o q u e aquilo q u e se ganha.”191

Assim, a proposta d e reforma d a previdência ofende o princípio d a proporcionalidade, u m a v e z q u e o s m e i o s propostos {redução d a s d e s p e ­ s a s c o m p e n s õ e s e proventos d e servidores públicos — c o m a q u e b r a d a integralidade e proporcionalidade d e s e u s proventos — , b e m c o m o a cria­

ç ã o d e n o v a fonte d e renda — c o m a taxação d o s servidores públicos ina­

tivos e d e s e us pensionistas) s ã o i n a d e q u a d o s (bastaria contratar o s servi­

dores fora d a s carreiras típicas d e Estado pelo regime celetista, c a b e n d o a o E s ta d o Administração recolher o F G T S e o s encargos previdenciários) e n ã o o b s e r v a m a m á x i m a d e causar a m e n o r restrição possível a o s indiví­

duos, pois retira direitos sociais d o s servidores públicos e d e s e u s pensio­

nistas s e m c a u s a aparente, visto q u e o sistema previdenciário é c o mp r o v a - d a m e n t e superavitário, s e n d o falsa a premissa e m sentido contrário.

A o invés d e suprimir direitos sociais d o s trabalhadores, q u er d o s ser­

vidores públicos — a c a b a n d o c o m a paridade e integralidade d e s u a s a p o ­ sentadorias — , q u er d o s servidores privados — através d a flexibilização d e s e u s direitos — , cuja proposta será r e t o m a d a n a reforma trabalhista dentro e m breve, deveria o G o v e r n o investir n a contratação d e fiscais n o c o m b a t e às s o n e g a ç õ e s fiscal e previdenciária e aparelhar a s Procuradori­

a s Públicas para a efetiva e x e c u ç ã o e satisfação d e tais débitos, a l é m d e criar m a i s órgãos d a Justiça Federal e d a Justiça d o Trabalho para viabilizar a c o br a n ç a d e tais débitos e m Juízo, o q u e certamente incrementaria a receita pública e m proporção b e m maior d o q u e a “e c o n o m i a ” prevista peio G o v e r n o c o m a s u pr e s s ã o d o s direitos sociais d o s trabalhadores.

3.3. D o princípio d a irredutibilidade d o valor d o s benefícios O trabalhador, a ò adquirir o direito à aposentadoria, deixa d e ser c o n ­ tribuinte d o sistema para ser beneficiário. Trabalhou e contribuiu durante todo o t e m p o imposto por lei para alcançar direito a s e u “prêmio”. A o alcançá- (8) " A larsa d o r o m b o ”. C a d e r n o s A d u n e s p 3 — J u n h o 2003. p. 9.

(9)

L u i s R o b e r t o B a r roso,

“interpretação e aplicação d a constituição", p. 234.

(7)

lo, t e m o direito d e exigir d o Estado o c u m p r i m e n t o d e s e u dever, qual seja, d e p a g a r o s proventos d a aposentadoria, q u e n o c a s o d o s servidores públi­

c o s ã o integrais (art, 40, § 3®, d a CF).

S e g u n d o a doutrina d e Robert Alex/W>, p o d e m o s dizer q u e o servidor público a p o s e n t a d o t e m direito frente a o E s ta d o d e q u e este n ã o elimine s u a posição jurídica d e beneficiário d o sistema d e previdência c o m p r ov e n ­ tos Integrais e paritários a o s servidores d a ativa d o m e s m o cargo (art. 40,

§ § 3® e 8® d a CF), tendo direito, portanto, a receber s e u s benefícios s e m qualquer d e sc o n t o extra (art. 194, parágrafo único, IV d a CF), o u seja, s e m a contribuição d e inativos e pensionistas, u m a v e z q u e n ã o h á f u n d a m e n t o jurídico a l g u m a legitimá-la (visto q u e a contribuição para o regime d e pre­

vidência social visa a o p a g a m e n t o futuro d o s proventos d a aposentadoria a p ó s o i m p l e m e n t o d a s condições legais).

U m a v e z adquirido o direito à aposentadoria, a contribuição n ã o m a is s e justifica, tendo o a p o s e n t a d o o direito a s e u s proventos n a f o rm a inte­

gral, beirando a contribuição d e inativos a subtração forçada d e bens, o u seja, confisco, v e d a d a constitucionalmente, tratando-se d e u m a n ã o - c o m ­ petência d o E s ta d o (competência negativa), n o s t e rm o s d o artigo 150, IV, d a C F : “s e m prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios : ... IVutilizar tributo com efeito de confisco;".

N ã o bastasse isso, o artigo 194, parágrafo único, IV d a CF, s e g u n d o o qual a organização d a seguridade social será realizada “com base nos se­

guintes objetivos: ... IVirredutibilidade do valor dos benefícios", deixa claro e s t a r m o s diante d e u m a n ã o - c o m p et ê n c ia d o E s ta d o e m reduzir o valor d o s benefícios definidos por lei a o s servidores públicos Inativos e a s e u s pensionistas. E s s a n ã o - c o m p et ê n c ia é equiparada a n ã o c o m p e t ê n ­ cia d o E s ta d o d e cobrar tributos n o m e s m o exercício financeiro d e s u a ins­

tituição o u m a jo r a ç ã o (art. 150, III, b d a CF), o u seja, s e m observar o prin­

cípio d a anterioridade.

A propósito, previsão d e taxação d o s inativos e pensionistas d o ser­

viço público constitui u m a “odiosa discriminação", c o n f o r m e dizeres d e Carmem Lúcia Antunes Rocha i"1, s e g u n d o a qual “o s a p o s e n t a d o s d o s e ­ tor privado (e q u e s e s u b m e t e m a o d e n o m i n a d o ‘regime geral d e previdên­

cia') s ã o r e sg uardados d e qualquer c o br a n ç a d e contribuição (art. 195, II, n a n o r m a introduzida n o sistema pela E m e n d a Constitucional n. 20/98), e n q u a n t o o s a p o s e n t a d o s d o regime d e previdência pública s ã o a p e n a d o s c o m u m a contribuição q u e incide e s e faz a u m e n t a r por m e i o d e m e r a lei ordinária...”, referindo-se à Lei 9.783/99 q u e incluiu o s inativos e pensionis­

tas d o serviço público n o rol d o s contribuintes d a previdência sociai, dispo­

sição ora Inserta n a P E C 40/2003.

Q u a n t o a o regime d e previdência d e caráter c o mp l e mentar, n o s ter­

m o s d o art. 202, capul, a Constituição Federal dispõe q u e o m e s m o será facultativo. Trata-se, portanto, d e u m a liberdade protegida, o u seja, u m a * 1 1 (10)

R o b e r t Alexy,

"Teoría d e los d e rec ho s fundamentales", p.186 ss.

(11)

C a r m e m L ú c i a A n t u n e s R o c h a ,

“Principios Constitucionais do s Servidores Públicos’’, p. 439.

(8)

E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 51

posição jurídica e m q u e o sujeito d e direitos é livre para u m fazer o u n ã o fazer, o u seja, é permitida a a d e s ã o a plano d e previdência c o m p l e m e n t a r e n ã o é proibido deixar d e aderir a e s s e tipo d e plano.

N o s e n unciados d a Constituição referentes a o regime previdenciário d o s servidores públicos encontramos, pois, a s várias posições jurídicas classificadas por Afexy. a) direito a algo: o servidor público a p o s e n t a d o t e m frente a o E s ta d o o direito q u e este n ã o elimine s u a posição jurídica d e receber proventos integrais e d e forma paritária c o m o s d a ativa (art. 40, I 3 9 e 8 S d a CF); b) liberdade protegida: o servidor público a p o s e n t a d o t e m a faculdade d e aderir o u n ã o a u m plano d e previdência c o m p l e m e n t a r (arf.

202, caput da CF), e c) n ã o competência: é v e d a d o a o E s ta d o reduzir o valor d o s benefícios d o s pensionistas e servidores públicos aposentados, tendo estes direito d e a ç ã o para dar efetividade à s n o r m a s constitucionais q u e lhes d i z e m respeito (art. 194, par. único, IV d a CF).

Ora, s e o s proventos d o s servidores públicos s ã o prevlamente defini­

d o s constitucionalmente d e f o rm a integral e paritária (art. 40, § § 3 8 e 8®

CF), constituindo-se u m direito d o servidor público a q u e o E s ta d o n ã o eli­

m i n e esta posição jurídica, e s e é v e d a d a a o E s ta d o a r e du ç ã o d o valor d o s benefícios (art. 194, IV d a CF), tratando-se, pois d e n ã o competência, tem- s e q u e a integralidade e paridade d o s proventos d o servidor público c o n s ­ tituem direitos fundamentais, protegidos por cláusula pétrea, n o s termos d o artigo 60, § 4® , IV, d a CF.

2. C O N C L U S Ã O

Diante d o exposto, concluímos peia Inconstitucionalidade d a proposta d e E m e n d a Constitucional 40/2003, diante d e s u a ofensa a direitos f u nd a ­ m e nt a i s e a o s princípios constitucionais d a igualdade, d a dignidade d a p e s s o a h u m a n a , d o s valores sociais d o trabalho e d a livre iniciativa (art. 1°

III e IV d a CF), d a irredutibilidade d o valor d o s benefícios (art. 194, IV d a CF), e d a proporcionalidade (art. 1® caput, art. 5®, X X V e LIV d a CF), sendo, portanto, ilegítima, u m a vez q u e o s m e i o s propostos n ã o justificam o s fins almejados, c o m o g r a v a m e d e q u e estes p a rt e m d a falsa premissa d e ser o sistema previdenciário deficitário, restando c o m p r o v a d o o contrário.

E s p e r a m o s , pois, q u e n o regime d o Devido P r o c e s s o Legal e d e E s ­ tado D e mo c r á t ic o d e Direito e m q u e vivemos, o S e n a d o Federal n ã o a p ro ­ v e a P E C 4 0 /2 0 0 3 — q u e s e encontra tramitando e m s u a c a s a — , tudo para q u e s e d ê efetividade à s n o r m a s constitucionais, m o r m e n t e aquelas refe­

rentes à s limitações d o P o de r Constituinte Derivado (art. 60, § 4®, IV d a CF), a o s direitos fundamentais e aos princípios constitucionais supra m e n ­ cionados.

B I B L I O G R A F I A

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Referências

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