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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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Academic year: 2018

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

A CONTÍSTICA DE CARLOS FUENTES E A NARRATIVA MEXICANA MODERNA: A

IMAGINATURA DO TEMPO

BRUNO DA CRUZ FABER

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Faculdade de Letras/ UFRJ

A CONTÍSTICA DE CARLOS FUENTES E A NARRATIVA MEXICANA MODERNA: A

IMAGINATURA DO TEMPO

BRUNO DA CRUZ FABER

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Literaturas Hispânicas.

Orientador: Mariluci da Cunha Guberman

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A contística de Carlos Fuentes e a Narrativa Mexicana Moderna: a imaginatura do tempo

Bruno da Cruz Faber

Orientador: Mariluci da Cunha Guberman

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Literaturas Hispânicas.

Examinada por:

_______________________________________________________________ Presidente, Professora Doutora Mariluci da Cunha Guberman – UFRJ

_______________________________________________________________ Professora Doutora Sônia Cristina Kapps Reis – UFRJ

_______________________________________________________________ Professor Doutor Antonio Ferreira da Silva Júnior – CEFET-Rio

_______________________________________________________________ Professora Doutora Maria Lizete dos Santos – UFRJ

_______________________________________________________________ Professora Doutora Debora Ribeiro Lopes Zoletti – UFRRJ

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FABER, Bruno C.

A constística de Carlos Fuentes e a Narrativa Mexicana Moderna: a imaginatura

do tempo / Bruno da Cruz Faber. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Faculdade de Letras, 2013. XIII, 235f.: il.; 31cm.

Orientador: Mariluci da Cunha Guberman

Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Letras / Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Literaturas Hispânicas), 2013.

Referências bibliográficas: p.141-145.

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RESUMO

A contística de Carlos Fuentes e a Narrativa Mexicana Moderna: a imaginatura do tempo

Esta dissertação investiga a inserção do escritor mexicano Carlos Fuentes na denominada Narrativa Mexicana Moderna e como a imaginação do tempo constitui um elemento essencial em contos do escritor mexicano Carlos Fuentes. À luz dos pressupostos da literatura memorialística, argumentamos que o tempo está intimamente relacionado com a memória e junto com o mito estes três elementos constituem uma tríade inextricável. Em consequência disso, analisamos os procedimentos técnicos que Carlos Fuentes emprega nos seus contos para construir essa cosmologia do tempo. Acrescentamos, também, que a memória a serviço da ficção tenta reconectar as várias partes da realidade e construir o que Carlos Fuentes denomina como real. Assim, averiguamos como a imaginação do tempo, aliada ao mito e à memória, estrutura as narrativas dos livros de contos Los días enmascarados, Cuentos sobrenaturales e Todas las familias felices.

Palavras-chave: Carlos Fuentes; Literatura da Revolução Mexicana; Narrativa Mexicana Moderna; Tempo.

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Resumen

La cuentística de Carlos Fuentes y la Narrativa Mexicana Moderna: la imaginatura del tempo

Esta tesis de maestría investiga la inserción del escritor mexicano Carlos Fuentes en la denominada Narrativa Mexicana Moderna y cómo la imaginación del tiempo constituye un elemento esencial en cuentos del escritor mexicano Carlos Fuentes. A la luz de los presupuestos de la literatura memorialística, argumentamos que el tiempo está íntimamente relacionado con la memoria y junto con o mito estos tres elementos constituyen una tríada inextricable. A consecuencia de tal hecho, analizamos los procedimientos técnicos que Carlos Fuentes emplea en sus cuentos para construir esa cosmología del tiempo. Agregamos, también, que la memoria a servicio de la ficción intenta reconectar las varias partes de la realidad y construir lo que Carlos Fuentes nombra como real. Así, averiguamos cómo la imaginación del tiempo, aliada al mito y la memoria, estructura las narrativas de los libros de cuentos Los días enmascarados, Cuentos sobrenaturales y Todas las familias felices.

Palabras-clave: Carlos Fuentes; Literatura de la Revolución Mexicana; Narrativa Mexicana Moderna; Tiempo.

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SINOPSE

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DEDICATÓRIA

À Vida, pelas oportunidades dadas.

Ao México, por fazer-me descobrir uma nova vida.

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AGRADECIMENTOS

Todo ato genesíaco tem o seu início, o primeiro cair das peças enfileiradas de um dominó. Por isso, gostaria aqui de rememorar alguns eventos marcantes durante minha trajetória. Divido em duas partes: peças-chaves do meu percurso acadêmico na Faculdade de Letras da UFRJ e amigos que sempre estiveram comigo. Começando pelo primeiro, eis o germe-fundador: os cursos de Teoria Literária ministrados pela profa. Maria Lucia Guimarães de Faria, mais conhecida como Maluh. A ela devo o meu amor pela literatura, pois foi ela que me iniciou no estudo avassalador da literatura. Pergunto-me se por acaso eu não tivesse estudado com ela se eu teria seguido os estudos literários. Aqui fica meu muito obrigado mais que especial a ti, Maluh.

Com o avançar dos períodos da graduação tive o privilégio de estudar com professores que me engrandeceram, não só como estudioso, mas como pessoa. Citando alguns: Luis Maffei (Poesia Portuguesa), Eucanaã Ferraz (Poesia Brasileira), Ronaldes de Melo e Souza (Prosa Brasileira) e Manuel Antônio de Castro (Teoria Literária). Não poderia deixar de mencionar a professora com quem realmente posso dizer “aprendi espanhol” e que me devolveu o prazer pela língua espanhola e, portanto, me influenciou de forma indireta aos estudos literários hispano-americanos: Letícia Couto Rebollo. Não tenho nem palavras para agradecer o que fizeram por mim, ainda que não saibam o que exatamente fizeram.

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Por fim, não poderia deixar de lembrar e agradecer a dois professores que conheci no curso de mestrado da UFRJ que me auxiliaram de forma crucial nesta dissertação: a professora Cláudia Luna (Literatura Hispano-americana) e a professora Angélica Soares (Teoria Literária).

Porém, essa minha trajetória não teria sido possível sem a presença de pessoas alheias ao universo acadêmico. Sou eternamente grato a minha mãe, Maria da Conceição, e a meu avô, José de Oliveira, pela paciência e pelo apoio desde a época da graduação. Se cheguei aonde cheguei, foi por causa deles. Agradeço a meus amigos Camila Pinheiro, Carolina Gomes e Úrsula Antunes por terem me aguentado durante esse tempo.

Um agradecimento muito especial para Caio Castro, o melhor amigo, por ter se responsabilizado pelas minhas coisas no Brasil enquanto passei uma instância no México. Foi e é meu braço direito. Aproveitando que mencionei o México, não poderia me esquecer do professor da UNAM, Jorge Muñoz Figueroa, que me auxiliou nos estudos literários mexicanos.

E por último, o meu carinho em especial para Gabriel Franco Willword e Luis Rodrigo Castro Macias. Vocês são dois que valem por muitos. Ninguém sofreu mais a tensão da escrita da dissertação que vocês. Obrigado por sempre me apoiar e reconfortar. Espero que ainda haja paciência para suportar-me no doutorado. Thank you. Gracias.

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En el fondo es América misma que escribe su propia nueva, su novela, a través de la carta, el testimonio, las “historias veraderas”. […] la gran literatura hispanoamericana volverá reinteradamente a nutrirse de su propia tradición de cultura. El reconocimiento de sus tradiciones no es entre nosotros tarea libresca o erudita sino nuevo impulso hacia la experiencia viva, la aventura, la política o la mística. […] La lectura hermenéutica impone una mirada de conjunto que puede revelar las constantes de la novela latinoamericana. Para esa mirada de conjunto la primera constatación es la del mundo mítico-simbólico que si bien es convocado en la literatura por palabras, queda más allá de éstas y pertenece al fondo imaginario de la cultura. […] La analogía de los mitos hizo posible el sincretismo americano, importante para comprender el perfil de la cultura hispanoamericana. […] Hablaremos de una trasmodernidad americana para aludir al tiempo americano, a su cultura entretejida entre la contemplación y la acción. […] Las escrituras postulan a América como recomienzo de la Historia. América mismo es una novela.

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S

UMÁRIO

Introdução ... 16

Primeira Parte: Antecedentes da Prosa Mexicana Moderna - romantismo, realismo, naturalismo e modernismo ... 20

1. O romantismo mexicano: a supermacia do nacionalismo ... 22

1.1. O romantismo plasmado nas pinturas ... 22

1.2. Primeira fase do romantismo literário ... 25

1.3. Segunda fase do romanstimo literário ... 28

1.4. Terceira fase do romanstimo literário ... 30

1.5. Recapitulando ... 32

2. Realismo e Modernismo nas letras mexicanas: a musa vira-lata ... 33

2.1. Realismo/Naturalismo plástico ... 33

2.2. Realismo/Naturalismo literário... 34

2.3 Modernismo nas letras mexicanas ... 35

2.4. México finessecular: do cosmos ao caos no Porfiriato ... 37

2.5. Recapitulando ... 39

Segunda Parte: Literatura da Revolução e Narrativa Mexicana Moderna: as letras mexicanas nos séculos XX e XXI ... 40

3. Pós-modernismo e Revolução Mexicana ... 42

3.1. Pós-modernismo: continuidade e divergência ... 42

3.2. Inquietude artística: a revolução no campo da arte plástica mexicana ... 43

3.3. O Ateneu da Juventudade ... 45

3.4. José Vasconcelos e sua revolução intelectual... 47

3.5. A mexicanidade como arte nacional: o movimento muralista ... 50

3.6. Recapitulando ... 52

4. Da Narrativa da Revolução Mexicana à Narrativa Mexicana Moderna ... 53

4.1. A neo-escritura da Revolução Mexicana: Los de abajo, de Mariano Azuela ... 55

4.1.1. Realismo crítico ... 56

4.1.2. A prosa como cronista da barbárie ... 57

4.2. Al filo del agua, de Agustín Yáñez: a obra inaugural da Narrativa Mexicana Moderna ... 63

4.2.1. Poética da Prosa Mexicana Moderna ... 63

4.2.2. A topografia espiritual em Al filo del agua ... 68

4.3. Pedro Páramo e a mitografia rulfiana da morte ... 71

4.3.1. Os dois eixos narrativos: a história do Pai e do Filho ... 72

4.3.2. A mitografia da morte ... 74

4.4. Recapitulando ... 80

Terceira Parte: A contística de Carlos Fuentes e a imaginatura do tempo ... 82

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5.1. O conto moderno ... 85

5.2. O fantástico ... 88

5.3. Recapitulando ... 91

6. A gênese do tempo mítico em Los días enmascarados ... 92

6.1. A duplicidade da máscara nos contos: memória e esquecimento ... 93

6.1.1. Sobre o conceito de memória ... 94

6.1.2. O tempo quadridimensional ... 96

6.1.3. Da memória individual ... 97

6.1.4. Da memória coletiva... 98

6.1.5. Das memórias e o tempo ... 99

6.2. “Chac Mool” e a tríade inextricável mito-tempo-memória ... 101

6.3. A relação de interdependência entre Mito e Natureza ... 108

6.4. "Tlactocatzine, del jardín del Flandes": a natureza subermegida no mito... 109

6.5. Recapitulando ... 113

7. Cuentos sobrenaturales: a conjugação entre mito e história ... 115

7.1. Mito, história e ficção ... 115

7.2. O tesouro do passado: "Un fantasma tropical" e a (des)memória coletiva... 118

7.3. Recapitulando ... 120

8. A dissonância poética do tempo em Todas las familias felices... 122

8.1. Cosmologia mesoamericana: a concepção do tempo ... 122

8.2. O estatuto irônico da (in)felicidade: a desconstrução urdida nos contos ... 126

8.3. Fragmentação espaço-temporam em "Una familia de tantas" ... 126

8.4. "Madre dolorosa": a árdua tarefa da desconstrução ... 130

8.5. Memória fragmentadas em "El padre eterno": entre a lembrança e o esquecimento ... 134

8.6. Recapitulando ... 137

Conclusão... 139

(15)

Introdução

De la fusión de imaginación y literatura surge el término ‘imaginatura’, concepto que pretende repensar la relación entre ambas y señalar sus implicaciones socioculturales no ajenas a la memoria. No existe literatura sin imaginación, ni imaginación sin memoria, por lo que consideramos que la recuperación de acontecimientos a través de la ficción escrita, implica, a su vez, la reinterpretación y reinvención de un pasado que suele “actualizarse” con tono y color que reclama erigirse como “verdad”.

Carlos Huamán (2010)

Nesta dissertação nos propomos a estudar a constística do escritor mexicano Carlos Fuentes à luz da teoria memorialística (Bosi, 1994; Bergson, 1999; Candau, 2010). Também a inserção do mesmo no contexto da Narrativa Mexicana Moderna. Carlos Fuentes, por ter escrito muitos livros ao longo de sua vida, possui uma obra muito vasta que não poderemos abarcar aqui em sua totalidade. Por isso, selecionamos para analisar criticamente os contos do referido escritor mexicano (“Chac Mool”, “Tlactocatzine, del jardín de Flandes”, “Un fantasma tropical”, “Una familia de tantas”, “Madre dolorosa” e “El padre eterno”), além do fato de haver pouca pesquisa referente a sua contística, principalmente aos livros escritos neste século.

Ao longo de nossa pesquisa comprovaremos que o tempo é um elemento essencial na poética de Carlos Fuentes. O próprio não o nega, uma vez que agrupou todos os seus livros em um projeto que ele denominou de “La edad del tiempo”.1 Carlos Fuentes dividiu seus contos e romances (o escritor não incluiu os ensaios), à semelhança de Agustín Yáñez, conforme pode ser verificada nas orelhas dos últimos livros publicados pela editora Alfagua. O escritor mexicano agrupou alguns livros sob um título, às vezes com o mesmo nome de algum livro ou com nome diferente. Algumas divisões apenas comportam um livro e é este que dá nome à divisão feita por Fuentes.

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Nome da agrupação Nome dos livros

01 El mal del tiempo

Aura

Cumpleaños Una familia lejana

02 Tiempo de fundaciones

Terra nostra El naranjo

03 El tiempo romántico

La campaña La novia muerta El baile del Centenario

04 El tiempo revolucionário

Gringo viejo

Emiliano en Chinameca

05 La región más transparente La región más transparente 06 La muerte de Artemio Cruz La muerte de Artemio Cruz 07 Los años com Laura Díaz Los años com Laura Díaz 08 La voltundad y la fortuna La voltundad y la fortuna

09 Dos educaciones

Las buenas conciencias Zona sagrada

10 Los días enmascarados

Los días enmascarados Constancia

Instinto de Inez Carolina Grau

11 Fronteras del tiempo

Cantar de ciegos Frontera de cristal Todas las familias felices

12 El tiempo político

La cabeza de la hidra La Silla del Águila El camino de Texas

13 Cambio del piel Cambio del piel 14 Cristóbal Nonato Cristóbal Nonato

15 Crónicas de nuestro tiempo

(17)

Para poder compreender a poética de Carlos Fuentes, isto é, sua cosmovisão literária, dentro da Narrativa Mexicana Moderna, dividimos essa dissertação em três partes. Na primeira parte estudamos os antecedentes literários da Prosa Mexicana Moderna que a influenciaram: o romantismo, o realismo e o modernismo mexicano. Assim, no primeiro capítulo faremos uma revisão da produção romântica e constataremos a literatura sob a ideologia da independência do México. No capítulo dois averiguaremos como se dá o passo do romantismo ao realismo e ao modernismo.

Com respeito à segunda parte do nosso trabalho, estudaremos no capítulo três o pós-modernismo e a Revolução Mexicana. Esta mudará drasticamente o panorama político, social, cultural e literário (Gallegos, 2010). Comprovaremos que é da revolução que nasce o México Moderno e, por conseguinte, a Narrativa Mexicana Moderna (Molano Nucamendi, 2011). No quarto capítulo assentaremos as bases que formam a Literatura da Revolução Mexicana e de que forma essa literatura deslocou todas as demais para a periferia da cultura literária vigente. De dita escola analisaremos Los de abajo, de Mariano Azuela. Depois constataremos as profundas mudanças nos romances Al filo del agua, de Agustín Yáñez e Pedro Páramo, de Juan Rulfo. Com Yáñez veremos o início da Prosa Mexicana Moderna.

Na terceira parte da pesquisa, nos centraremos na figura de Carlos Fuentes. No entanto, no capítulo cinco estudaremos o conceito de conto e de literatura fantástica que serão fundamentais para entender a tessitura dos contos do referido escritor mexicano. No sexto capítulo analisaremos a gênese do tempo mítico, isto é, como Carlos Fuentes constrói o mito, associado ao tempo e à memória e aplicados nos contos “Chac Mool” e em “Tlactozatzine, del Jardín de Flandes”. Também estudaremos a relação dialética que há entre mito e natureza. Para tanto, faremos um breve estudo das principais aportações ao conceito de memória e de mito.

(18)

longo da terceira parte da pesquisa, a imaginação do tempo é o eixo central dos referidos contos. Como não há literatura sem imaginação, buscamos compreender a

imaginatura do tempo nos contos do escritor Carlos Fuentes em consonância com seu contexto literário.

Para delimitar bem o objeto de estudo desta dissertação, faz-se necessário lançar mão das negativas, afirmar o que aqui não se pretende realizar e, por fim, dizermos o que nos propomos a estudar. Primeiramente, não realizaremos um estudo sobre toda a obra do escritor mexicano Carlos Fuentes. Escolhemos trabalhar com a contística. Segundo, não estudaremos todos os contos deste escritor. Não se trata de um estudo quantitativo. Aqui realizaremos um estudo sobre três livros de contos de Fuentes: Los dias enmascarados, Cuentos sobrenaturales 2 e Todas las familias felices.

Terceiro, não abordaremos todos os contos dos livros supracitados. Selecionamos aqueles que consideramos mais emblemáticos para o tema do nosso estudo e que permitem um diálogo com outros contos de Fuentes. Ou seja, selecionamos contos que fazem elo entre o tema do tempo e da imaginação na construção doscontos do referido escritor: a imaginatura fuentiana. Quarto, o critério empregado na seleção dos contos se deu na medida em que eles apresentavam elementos míticos do pensamento pré-hispânico. Mas não iremos fazer uma análise histórica ou social da mitologia pré-hispânica e nem tão pouco um estudo contrastivo desses elementos, seja dos contos dentro de um livro ou inter-livros. Esta dissertação realiza um estudo do entrelaçamento da imaginação do tempo do pensamento mítico pré-hispânico com a tessitura poética dos contos fuentianos a partir das próprias estratégias estabelecidas.

2 Este livro não se encontra presente na listagem que o próprio Carlos Fuentes realiza sobre sua

(19)

PRIMEIRA

PARTE

ANTECEDENTES DA PROSA MEXICANA

MODERNA - ROMANTISMO, REALISMO,

NATURALISMO E MODERNISMO

Todo gran escritor, todo gran crítico, todo gran lector, sabe que no hay libros huérfanos: no hay textos que no desciendan de otros textos.

Carlos Fuentes (2011, p.132)

No México do século XIX há um conglomerado de fatos políticos de suma importância que afetarão o discurso e a produção literária da época. De acordo com a pesquisadora Guadalupe Gómez-Aguado (2010), dito século possui como principais características políticas (i) o movimento de Independência que abarca os anos de 1810-1821; (ii) o primeiro império que vai de 1822 a 1823; (iii) a disputa entre o federalismo e o centralismo entre 1824 e 1846; (iv) a invasão dos Estados Unidos iniciada em 1846 e, consequentemente, a perda de parte do território até então mexicano dois anos depois; (v) a ditadura de Antonio López de Santa Anna entre 1852 e 1855; (vi) as Leis de Reforma promulgadas por Benito Juárez entre o período 1856-1867; (vii) a reconstrução da República de 1867 a 1876 e, por fim, mas não menos importante, (viii) o porfiriato que engloba desde a última data referida até 1910, ano em que inicia a revolução mexicana que retira do poder a Porfirio Díaz.

(20)
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O romantismo mexicano: a supremacia do

nacionalismo

Neste capítulo buscamos assentar as bases do movimento romântico mexicano. Procuramos compreender quais as principais transformações que sucederam nesse movimento no campo artístico e quais as principais aportações às futuras gerações de escritores e poetas. Averiguaremos que, igualmente ao movimento insurgente em prol da independência mexicana, os escritores da referida época estavam carregados da ideologia libertária: escritores com a caneta em uma mão e a espada na outra. Antes de entrarmos ao estudo literário, faremos um panorama da arte na época do México Independente para que possamos vislumbrar através da pintura o que os escritores tentavam representar com as palavras.

1.1.O romantismo plasmado nas pinturas

No México e em grande parte da América Hispânica temos durante o século XIX como movimento literário predominante o Romantismo. Como apontam Valenzuela e Rodríguez (2010), um fato importante no século XIX no que se refere às artes, em especial às artes plásticas, é a fundação da Real Academia de San Carlos na Cidade do México, porque “...foi um acontecimento fundamental para regular a formação artística oficial de uma maneira profissional e sistemática” 3 (2010, p.186). A Academia seguia os padrões neoclássicos em detrimento do até então barroco exuberante. No entanto, com o movimento insurgente e a consolidação da Independência do México, a Academia de San Carlos ficou à deriva uma vez que era apegada ao modelo ideológico e econômico do período colonial.

A historiografia da arte mexicana se voltou, principalmente, para o estudo das artes plásticas regionais de Jalisco e Puebla. Vemos neste contexto o florescimento da

3 No original: “fue un acontecimiento fundamental para regular la formación artística oficial de

una manera profesional y sistemática”. (Tradução nossa)

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pintura de retrato em que podemos citar como maiores ícones desse período a José María Estrada, Rafael Aspeitia e Hermenegildo Bustos (1832-1907), este último como maior expoente e cuja obra foi admirada por Diego Rivera. O principal recurso utilizado por Bustos foi a pintura de costume. Esta técnica depois será reaproveitada pelo Romantismo e pelo Realismo mexicano.

Outro fenômeno que sucedeu nessa época foi a impressão de álbuns litográficos e revistas literárias ilustradas. Ainda de acordo com Valenzuela e Rodríguez (2010, p.202), devido à Independência do México em relação à Espanha, “Tanto nos álbuns quanto nas caricaturas se abordaram assuntos relacionados com a identidade mexicana” 4. Por isso, entre as publicações realizadas nesse período podemos destacar: El mosaico mexicano o colección de amenidades curiosas e instructivas

(1837), Monumentos de México, tomados del natural y litografiados por Pedro Gualdi: pintor de perspectiva (1841), Álbum Mexicano. Periódico de Literatura. Artes y Bellas Letras (1849), e Los mexicanos pintados por sí mismos. Tipos y costumbres nacionales

(1854).

Nessas obras “...é óbvia a idealização sobre seus objetos de representação, a imitação da natureza pretende ser fiel, quase científica no caso das paisagens” 5 (VALENZUELA & RODRÍGUEZ, 2010, p.202). O curioso neste caso é que estas pinturas já possuem marcas do romantismo – como se nota na idealização dos objetos – e do realismo – na tentativa de fazer um retrato fiel da natureza. No entanto, academicamente ainda não se pode falar de realismo porque este data da segunda metade do século XIX. Mas podemos mencionar que o realismo começa a ganhar corpo já na primeira metade do referido século.

Em 1843, graças aos decretos emitidos pelo ditador Antonio López de Santa Anna, a Academia de San Carlos pôde ser resgatada. No obstante, ao ser reerguida a Academia, mais uma vez, se mostra um tanto quanto defasada em relação com contexto artístico mexicano. Enquanto, desde 1837, já se começa a produzir uma arte romântica com tons realistas, cinco anos depois a Academia de San Carlos enfoca, principalmente, no romantismo e em particular nos nazarenos.

4 No original: “Tanto los álbumes como en las caricaturas se abordaron asuntos relacionados

con la identidad mexicana”. (Tradução nossa)

5 No original: “...es obvia la idealización sobre sus objetos de representación, la imitación de la

(23)

A partir de 1855 surge o segundo grande momento da pintura paisagística. Confome o estudo de Velenzuela e Rodríguez (2010, p.229): “...os projetos culturais e as pessoas do meio artístico no México logo entenderam a necessidade imperiosa de que na Academia de San Carlos se impulsionasse de maneira moderna a criação de uma cátedra independente de paisagem” 6. Com a criação do curso independente de paisagismo, a Academia conseguiu finalmente exprimir uma arte moderna dentro do contexto sociocultural mexicano.

A princípio as obras tinham uma forte influência do idealismo romântico (que já se produzia particularmente a partir de 1843), mas com o passar do tempo foi ganhando tons mais naturalistas, o que já era de se esperar tendo em vista que esse modelo de naturalidade era próprio “...de uma era mecanicista e da visão sobre o progresso e o conhecimento científico no âmbito filosófico do positivismo” 7 (VALENZUELA & RODRÍGUEZ, 2010, p.221).

Este grupo de escultores paisagistas fundou o que atualmente se conhece como a Escuela Mexicana del Paisaje. Como grande figura dessa Escola temos a José María Velasco (1840-1912). Esse importante pintor conseguiu plasmar nas suas telas duas tendências quase que antagônicas: o romantismo com os elementos teórico-práticos do paisagismo clássico. Velasco é considerado um dos fundadores da Arte Mexicana Moderna que abarcou até o período denominado Escuela Mexicana de Pintura Contemporánea, uma vez que foi professor de alguns dos ícones do nacionalismo pós-revolução como, por exemplo, Diego Rivera.

Até agora fizemos um panorama de como está configurada artisticamente a primeira metade do século XIX no México. A título de recapitulação vimos que no início desse século, ainda no México Colonial, temos a fundação da Academia de San Carlos, responsável por determinar as diretrizes e a educação aos artistas plásticos de até então. No seu início possuía um estilo muito neoclássico que sufocou o até então fortemente presente, o barroco mexicano.

6 No original: “...los proyectos culturales y la gente del medio artístico en México pronto

entendieron de la necesidad imperiosa de que en la Academia San Carlos se impulsara de manera moderna la creación de una cátedra independiente de paisaje”. (Tradução nossa)

7 No original: “...de una era mecanicista y de la visión sobre el progreso y el conocimiento

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Com o início do movimento de independência e durante umas três décadas depois, a Academia perdeu sua importância, uma vez que sempre esteve ligada à aristocracia espanhola e sua ideologia. Com isso floresceu a pintura de retratos e os quadros costumbristas, que ainda seriam utilizados no romantismo e no realismo.

A Academia San Carlos apenas volta à ativa no governo de Santa Anna. A partir desse momento a Academia se volta para o romantismo de estilo mais religioso, denominado pela historiografia plástica de nazareno. A partir de 1855 é que a Academia dá um salto evolutivo e cria a cátedra de Paisagismo e dela surge um dos maiores pintores mexicanos da história, José María Velasco, que reúne em suas obras os estilos clássico e romântico. Velasco é precursor da Escola Mexicana de Pintura Contemporânea. A partir da segunda metade do século XIX o romantismo começa a entrar em declive e surge um novo estilo artístico: o naturalismo pictográfico.

1.2.Primeira fase do romantismo literário: resgate do passado distante e a criação da identidade mexicana

Passemos agora a um panorama da Literatura Mexicana no que concerne ao romantismo. Veremos que o romantismo mexicano se divide em três etapas cronológicas: (i) resgate do passado pré-hispânico e colonial; (ii) críticas e denúncias do antigo regime e (iii) o nacionalismo literário, que na verdade é um período de transição ao realismo.

Ao voltar à primeira metade do século XIX, temos o início do movimento romântico na América Hispânica. Como ressalta o ensaísta Imbert (2010a), justamente pelo espírito nacionalista aflorado pelas guerras de independência, os países rejeitam qualquer forma de influência da Espanha e passam a se espelhar na França, isso porque ”a literatura não podia ser mais uma extensão da espanhola” 8 (CASTRO MEDINA, 2010, p.291).

Ainda de acordo com Imbert (2010a), os hispano-americanos adotaram a França como madrasta. Justamente nas primeiras obras românticas escritas nos países de língua espanhola temos forte influência do romantismo francês. No entanto, por

(25)

mais que os escritores e poetas quisessem, o costume de ter como referência a Espanha não pôde ter sido deixado de lado por muito tempo, e com o passar do tempo também encontramos uma maior influência do romantismo espanhol nos escritores hispano-americanos.

O teórico Imbert (2010a) divide, didaticamente, o romantismo em duas fases: uma antes e outra posterior ao ano de 1850. A primeira fase se caracteriza por um grande vigor ideológico e estético e a segunda fase pelo declínio da ideologia romântica e a transição em direção a uma literatura realista.

Ainda de acordo com o estudo de Imbert (2010a), as principais características que conformam a literatura romântica são: (a) o espírito libertador a respeito das autoridades do passado; (b) o autor romântico se sente o centro do mundo e ao mesmo tempo criatura do mundo; (c) a afirmação da inspiração livre e espontânea; (d) defesa dos direitos a uma língua americana; (e) a busca por uma sintaxe romântica que expressasse a imprecisão do pensamento; (f) a aquisição de novos sentidos a respeito dos gêneros literários; (g) a descrição de paisagens reais ao cenário narrativo para dar um tom de “cor local”; (h) e especialmente nos países com forte presença indígena quando temos a idealização do indígena.

Em relação ao contexto cultural mexicano, Castro Medina (2010, p.293) assinala que um fato de extrema importância para as letras mexicanas foi a fundação da Academia de Letrán em 1836 porque esta foi a responsável por implantar, a partir de uma associação de escritores, uma literatura nacional: “...correspondeu à geração da Academia de Letrán a ‘criação’ de uma literatura mexicana ou, se desejar, nacional ou republicana” 9. Isto é, essa Academia foi responsável por “mexicanizar” a literatura, emancipando-a.

Para conseguir alcançar tal objetivo, a Academia de Letrán se focou, de acordo com Castro Mediana (2010), em elementos próprios da nacionalidade mexicana (linguagem, tema, paisagens, costumes) que incorporaram à poética literária os três componentes históricos do México: o indígena, o colonial e o republicano.

Segundo a historiografia literária mexicana, encontramos como escritores de referência da primeira fase do romantismo mexicano a Ignacio Rodríguez Galván

9 No original: “...a la generación de la Academia de Letrán le correspondió la ‘creación’ de una

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(1816-1842), que representa duas das máximas da narrativa romântica mexicana (Imbert, 2010a): (i) assuntos históricos e (ii) aventuras e lances de amor. De acordo com Castro Medina (2010), o escritor Rodríguez Galván é considerado o primeiro romântico mexicano, se bem que é mais conhecido por seus poemas que por sua prosa.

Outro escritor que merece destaque é o zacatecano Fernando Calderón (1809-1845) que tem sua obra marcada pela ironia que ele realiza sobre os excessos do próprio romantismo. Poderíamos chamá-lo, de acordo com Castro Medina (2010), de escritor romântico ou anti-romântico por sua comédia A ninguna de las tres. Em geral, suas obras apresentam um nacionalismo libertário (Imbert, 2010a, p.262-263).

O romantismo mexicano, conforme já alertara Imbert (2010), em sua análise das características da literatura romântica, vai em busca do ser indígena, porque “...é com o romantismo que a literatura se abre à velha cultura indígena, se bem que a porta que se abre é essa por onde entram e saem a fantasia, a improvisação e o entusiasmo fácil” 10 (IMBERT, 2010a, p.265). Não obstante, “...o romance romântico idealizou ao índio apresentando-lhe como personagem poético ou exótico ou lendário ou histórico” 11 (IMBERT, 2010a, 265). É o caso do poeta José María Roa Bárcena (1827-1908) que se inspirou nas lendas indígenas, na colorida vida popular, nas paisagens mexicanas. Este fato é muito importante pois também será uma característica da prosa moderna mexicana, no entanto, não mais o indígena como idealizado, mas como símbolo do moderno.

A respeito da prosa romântica mexicana, encontramos como uma das principais características o quadro costumbrista que, à diferença do século XVIII, assim se apresenta: “o escritor está mais interessado na trama do romance do que no ambiente. Além de que o tema e o ambiente lhe interessam mais do que a sátira social” 12 (IMBERT, 2010a, p.279). Não podemos deixar de citar a Vicente Riva Palacio (1832-1896), que reclama atenção dentro do romance histórico mexicano. Além do

10 No original: “...es con el romanticismo que la literatura se abre a la vieja cultura indígena, si

bien la puerta que se abre es ésa por la que entran y salen la fantasía, la improvisación y el entusiasmo fácil”. (Tradução nossa)

11 No original: “...la novela romántica idealizó al indio presentándolo como personaje poético o

exótico o legendario o histórico”. (Tradução nossa)

12 No original: “...el escritor está más interesado en la trama de la novela que en el ambiente.

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fato de que ele foi “[depois de Roa Bárcena] o fundador do conto mexicano” 13 (IMBERT, 2010a, p.281).

Havia uma disputa entre clássicos e românticos pela preferência do público leitor mexicano. De acordo com um artigo publicado na revista El Mosaico Mexicano, “Clássicos e românticos disputam hoje a porfia a preferência na república das letras.

[Clássicos] Suas obras são em comum relimadas e polidas, mas em troca disso estão geralmente desnudas de entusiasmo” 14 (ANÓNIMO, 1837, p.285-286). Ainda segundo o autor desconhecido, os românticos “se entregam exclusivamente a mãos da sua imaginação e de seus sentimentos. [...] embora algumas vezes sejam incorretos, também são comumente mais originais e mais ricos” 15.

1.3. Segunda fase do romantismo literário: crítica do passado recente e a disputa entre liberais e conservadores

A partir de 1850, conforme observa Imbert (2010a), o romantismo começa a entrar em declive porque os escritores passam a se preocupar mais com o romântico que o estético, que foi a causa da ruptura provocada pelo romantismo alemão com a tradição literária até então (ABRAMS, 2010). Segundo palavras do próprio ensaísta Imbert (2010a, p.289), “o romantismo não tem já os brilhos teóricos de antes. [...] Faz-se literatura romântica Faz-sem ostentar deliberadamente suas fórmulas estéticas” 16.

Embora a data de 1850 seja emblemática para Imbert (2010a), no México dois eventos foram importantes para a manutenção da crítica romântica e das formulações do quehacer literário: o Ateneu Mexicano e o Liceu Hidalgo. Devido à disputa entre conversadores e liberais, estes últimos fundaram associações e agrupações para difundir seus ideais. Por isso, em 1840 temos a criação do Ateneu Mexicano, fundado

13 No original: “[después de Roa Bárcena] el fundador del cuento mexicano”. (Tradução nossa) 14 No original: “Clásicos y românticos disputan hoy a porfía la preferencia en la república de las

letras. [Clásicos] Sus obras son por lo común relimadas y pulidas, pero en cambio de eso están generalmente desnudas de entusiasmo”. (Tradução nossa)

15 No original: “...se entregan exclusivamente en manos de su imaginación y de sus

sentimientos. […] aunque algunas veces sean incorrectos, también sean por lo común más originales y más ricos”. (Tradução

16 No original: “el romanticismo no tiene ya los brillos teóricos de antes. (...) Se hace literatura

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por Ángel Calderón de la Barca que tinha como principal objetivo “a discussão sobre o papel, importância e utilidade da literatura” 17 (CASTRO MEDINA, 2010, p.311). Por problemas políticos e econômicos o Ateneu Mexicano só perdurou por quatro anos.

No entanto, em 1850 o escritor e general José María Tornel funda o Liceu Hidalgo, que possuía caráter institucional uma vez que sempre recebeu apoio do governo e sua inauguração foi precedida pelo presidente da República mexicana, José Joaquín Herrera. Com a ascensão de Porfirio Díaz ao poder, há o apaziguamento entre a luta de liberais e conservadores, ou seja, de românticos e clássicos, e consequentemente o Liceu Hidalgo perde seu foco e objetivo, fechando as portas definitivamente em 1893.

Apesar do surgimento do Ateneu Mexicano e do Liceu Hidalgo, de fato se nota uma mudança na produção literária da época e esta se deu devido aos fatores históricos de grande importância que mudaram a história do país cujos “mexicanos que viveram entre 1848 e 1867 foram atores e testemunhas de ações dramáticas” 18 (CASTRO MEDINA, 2010, p.307). Podemos destacar, segundo o estudo de Zoraida (2010), (i) o império de Maximiliano, (ii) a restauração da república e a ditadura de Santa Anna, (iii) a guerra e a perda de parte do território para os Estados Unidos, (iv) a elaboração da Constituição de 1857 que acarretou (v) a Guerra da Reforma.

Estes fatos fizeram com que muitos escritores se dividissem entre a espada e a pena para escrever. No meio deste jogo de reviravoltas políticas temos a dois atores históricos: os conservadores e os liberais, e não é possível negar que esta luta pelo poder influenciou as tendências literárias da época. Como verificamos em Castro Medina (2010, p.310), “O gosto romântico servia como bandeira aos liberais enquanto que a formação clássica era preferida pelos conversadores” 19.

No tocante à segunda fase romântica mexicana, na poesia encontramos a poetas “chapados de tradição. A tradição era clássica de espírito virgiliano” 20 (IMBERT, 2010a, 290), conforme se pode notar em Los Murmullos de la selva, de Joaquín Arcadio

17 No original: “la discusión sobre el papel, importancia y utilidad de la literatura”. (Tradução

nossa)

18 No original: “mexicanos que vivieron entre 1848 y 1867 fueron actores y testigos de sucesos

dramáticos”. (Tradução nossa)

19 No original: “el gusto romántico servía como bandera a los liberales, mientras que la

formación clásica era preferida por los conversadores”. (Tradução nossa)

20 No original: “chapados de tradición. La tradición era clásica de aliento virgiliano”. (Tradução

(29)

Pagaza (1839-1918). No campo da prosa encontramos já a formação de uma literatura mais realista, que ao invés da romântica “foi reduzindo mais e mais o voo da fantasia. À filosofia romántica da história sucedeu o positivismo” 21 (IMBERT, 2010a, p.308), o qual no contexto histórico mexicano se encaixa na ideologia do governo ditatorial de Porfirio Díaz.

A segunda fase romântica mexicana se deve ao apelo político dos escritores envolvidos, não mais para fundar e criar a nacionalidade mexicana, voltando-se ao pré-hispânico, mas agora temos a liberais e conservadores escrevendo obras de críticas mútuas (Castro Medina, 2010). Podemos citar neste contexto a dois grandes escritores: José María Lafragua (1813-1875) e Luis de la Rosa (1804-1856), ambos usaram o quadro costumbrista em suas narrações, cujo fundo crítico era questionar as atrocidades do antigo regime, neste caso, controlado pelos conservadores.

Igualmente concernente à segunda fase, encontramos o romance de folhetim.

La hija del judio, escrita por José Turrisa, anagrama de Justo Sierra O’Reilly (1814-1861) e publicada entre primeiro de novembro de 1848 e 25 de dezembro de 1849, é considerada o primeiro romance de folhetim. Novamente encontramos um tom crítico ao antigo regime, porque toda a obra “É uma argumentação em favor da separação de Yucatán, por isso, para distanciar-se do passado opressor e do anárquico presente que obrigava ao nosso país a aceitar a derrota e a perda do território perante Estados Unidos” 22 (CASTRO MEDINA, 2010, p.317). Chamamos atenção para o quadro costumbrista, que pouco a pouco, passará de estratégia romântica a artifício do movimento realista.

1.4. Terceira fase do romantismo literário: exaltação do presente e o nacionalismo positivista

21 No original: “fue reduciendo más y más el vuelo de la fantasía. A la filosofía romántica de la

historia sucedió el positivismo”. (Tradução nossa)

22 No original: “Es una argumentación a favor de la separación de Yucatán, por eso, para

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Por fim, para concluir o romantismo mexicano, passemos a sua terceira fase. Esta fase está intrinsecamente relacionada com o lado político mexicano, mais que as anteriores. Explicamo-nos: a primeira fase advém do espírito libertário provocado pela Guerra de Independência. Esse inquietamento literário foi suprimido pela estética romântica, mas ainda assim teve influência alemã, inglesa, francesa e espanhola. A segunda fase veio do confrontamento (armado e literário) entre liberais e conservadores; no entanto, essa fase importou o modelo do romance de folhetim, mantendo o quadro costumbrista como recurso estético. Por sua vez, a terceira fase foi marcada pelo porfiriato, sendo o pensamento positivista e as obras praticamente escritas a mando de Porfirio Díaz, como veremos mais adiante.

De acordo com Elisa Speckman (2010, p.209), o Porfiriato, período que vai de 1876-1911, sob o poder do ditador Porfirio Díaz, marca uma importante etapa da história mexicana, porque “foi tal seu domínio sobre a vida pública nacional que o referido período histórico leva seu nome: o Porfiriato, também conhecido como o Porfirismo. Nenhum outro período de nossa história se identicia com o nome de seu governante” 23, ou seja, Porfirio Díaz.

Sua importância política se deu porque pôs fim aos constantes que o país vivia em constantes conflitos políticos por causa da disputa entre conservadores e liberais pelo poder. Porfirio, representante dos liberais, manipula a máquina política e eleitoral e consegue reeleições sucessivas, tornando-se assim um clássico ditador. Porfirio era adepto do pensamento positivista e isso se vê refletido em suas obras e atitudes políticas.

A política de Porfirio chega até os intelectuais da época, influenciando inclusive a literatura desse período espelhada em seus ideais. Conforme destaca Castro Medina (2010, p.323), entre 1867 e 1889 “O romance ganhou importância como forma de reconhecimento e afirmação de valores nacionais” 24. Podemos caracterizar essa época, conforme Martínez (2010), como “concórdia nacionalista”. O romance passa a ser o veículo de transmissão do espírito nacionalista inflamado pela filosofia

23 No original: “Fue tal su dominio sobre la vida pública nacional que dicho periodo histórico

lleva su nombre: el Porfiriato, también conocido como el Porfirismo. Ningún otro periodo de nuestra historia se identifica con el nombre de su gobernante”. (Tradução nossa)

24 No original: “la novela cobró importancia como forma de reconocimiento y afirmación de

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positivista: “O romance foi o gênero que permitiu imaginar o país de acordo com os seus sentimentos patrióticos e ideais liberais” 25 (CASTRO MEDINA, 2010, p.328). Esta etapa romântica, a terceira, é a que marca a transição do romantismo para o realismo mexicano.

Um escritor que representa esta transição do romântico ao realista é Ignacio Manuel Altamirano (1834-1893) que em seu romance El Zarco apresenta concessões românticas, tais como o jogo de simetria e idealização dos bons e maus personagens, mas que na verdade é uma obra realista, porque não existe a vinculação do estado de ânimo dos personagens com a natureza, não usa a cor local, lança mão da ironia e da moral da época. Os temas desse romance, como as demais obras do período realista no México, são o caciquismo, o militarismo, o clericalismo, a burocracia, a corrupção, a politiqueira, dentre outros (Imbert, 2010a, p.312).

1.5. Recapitulando

De forma sintética, vimos que o romantismo mexicano se divide em três fases, a primeira caracterizada por transformações ideológicas e o resgate do passado indígena como berço da identidade mexicana. A segunda fase já é marcada pela disputa entre políticos e escritores liberais e conservadores, mas que ainda mantém viva a crítica literária do fazer poético (Academia de Letrán e Liceu Hidalgo). Por fim, a terceira fase se caracteriza pelo nacionalismo e pelo positivismo, frutos do regime ditatorial de Porfirio Díaz e que começa a apresentar traços mais realistas que românticos, ou seja, trata-se de uma fase de transição.

O que queremos destacar deste período romântico, no que concerne ao México, é (i) a busca de uma nova estética; (ii) a defesa da língua americana; (iii) a criação de uma sintaxe romântica e (iv) os primeiros sinais da representação do indígena dentro do campo literário. Atentamos para o fato de que esses quatro elementos de alguma forma estarão presentes na gênese da narrativa mexicana moderna.

25 No original: “La novela fue el género que le permitió imaginar al país de acuerdo com sus

(32)

Realismo e Modernismo nas letras

mexicanas: a musa vira-lata

Com o aparente apaziguamento político no México, vimos que a última fase do romantismo mexicano estava em prol da ideologia positivista do regime autoritário de Porfirio Díaz. No entanto, essa “farsa artística” não foi apreciada por todos os intelectuais da época e, de tal fato, surgiram obras que denunciam o que o porfiriato quis ocultar. Em tom de protesto, surgem os movimentos realista e modernista. Ao invés de se atentarem às paisagens exuberantes ou à vida cotidiana dentro do lar, os escritores e poetas pertencentes a estes movimentos literários vão voltar seus olhos para a rua: lugar onde transitam a luxúria e a pobreza. Sai de cena a musa palaciana e entra a musa vira-lata.

2.1. Realismo/Naturalismo plástico

Nesta seção apontaremos resumidamente para a força do realismo nas artes visuais. Como vimos, durante o positivismo houve a exaltação dos elementos pátrios que (con) formavam o imaginário da identidade nacional. Manuel Ocaranza (1841-1882) foi um dos pintores que refletiu esse pensamento positivista. De acordo com Valenzuela e Rodríguez (2010, p.242), este pintor seguiu “a exigência do entorno histórico-artístico pelo desenvolvimento do gênero costumbrista contemporâneo” 26. O quadro Flor de colibrí marca bem esse momento de transição, em que já se nota os motivos relacionados aos códigos morais próprios do fim do século XIX, mas ao mesmo tempo apresenta traços emotivos e sentimentais.

De grande importância para a época foi o pintor mexicano José Obregón (1838-1902) que tentou imprimir uma história e uma memória oficiais com o fim de impulsionar os projetos culturais que o governo liberal queria legitimar. Por isso há em

26

No original: “la exigencia del entorno histórico-artístico por el desarrollo del género costumbrista contemporáneo”. (Tradução nossa)

(33)

suas obras, como El descobrimiento del pulque, temas pré-hispânicos, como forma de forjar uma identidade nacional.

2.2. Realismo/Naturalismo literário

Antes de iniciar este estudo, fazemos uma ressalva: o realismo e o modernismo no México tiveram poucos anos como movimento literário vigente, porque com o advento da Revolução Mexicana, em 1910, as produções artísticas e literárias se transformariam. Quando nos detivemos no estudo do movimento realista, constatamos que é um período de difícil compreensão, pois teve uma vida muito curta, no México, enquanto estilo predominante (1890-1910), no entanto verificamos que esse movimento continua presente até os dias atuais. Conforme o estudo de Imbert (2010a), as duas tendências literárias vigentes por grande parte do século XIX, clássicismo e romantismo, anulam-se mutuamente. Intelectuais cansados dessa carga política, principalmente a da terceira geração romântica no México, caracterizada pelo nacionalismo exacerbado, se voltam contra a idealização, seja ela clássica ou romântica.

De fato, realismo e naturalismo não se diferenciam enquanto propostas estéticas, mas ao contrário, “os termos realismo e naturalismo foram usados como sinônimos no México” 27 (CASTRO MEDINA, 2010, p.352). Segundo Imbert (2010a), o naturalismo criou flores sórdidas de estranha fealdade e que não poucas vezes adentrou na estética modernista. Por isso há de ressaltar que concomitantemente ao realismo temos, no México, a presença do modernismo. Igualmente surgiu por causa do esgotamento literário que houve tanto por parte de românticos quanto de clássicos.

No entanto, uma diferença crucial entre ambas as correntes literárias é que no modernismo “o que conta é o sujeito-contemplador” 28 e no realismo “o queconta é o objeto-contemplado” 29 (IMBERT, 2010a, p.439). Mas não devemos esquecer que as

27 No original: “los términos realismo y naturalismo fueron usados como sinónimo en México”.

(Tradução nossa)

(34)

duas escolas possuem clara influência da cultura literária francesa, porque o Modernismo, como aponta Imbert (2010a), é a fusão do parnasianismo com o simbolismo francês 30. Por outra parte, o realismo/naturalismo vem importado diretamente da poética literária fundada por Émile Zola (1840-1902) na França e por

Leopoldo Alas y Ureña (Clarín) na Espanha. Percebemos que tanto o realismo quanto

o modernismo tem uma forte influência das correntes literárias francesas (o que já percebemos desde o romantismo).

Uma característica da estética modernista na prosa, como destaca Imbert (2010a), é a falta da presença de “cor local”, elemento fundamental do romantismo. Podemos dizer que o realismo substituiu a cor local pela “cor temporal”. Agora o que se busca é descrever e fazer uma análise crítica da sociedade e do mundo moderno (apregoado por Porfirio Díaz se pensarmos no contexto mexicano). Segundo Imbert (2010a), dos escritores realistas podemos destacar a Angel del Campo Micros (1868-1908), com uma obra marcada pela presença de contos e narrações curtas de estilo costumbrista, que já estudamos e é uma herança que veio do romantismo. Não podemos deixar de mencionar o escritor Rafael Delgado (1853-1914), pois para ele “...se bem que o romance é história e cópia exata da vida mexicana, não deixa de ser cópia artística da verdade” 31 (CASTRO MEDINA, 2010, p.352).

2.3. Modernismo nas letras mexicanas

O modernismo, conforme vimos anteriormente, tem ecos do parnasianismo e do simbolismo, daí a confusão do termo Modernismo, conforme assinala o pesquisador Armando Pereira (2004, p.318), que “...surge em certa medida, de pretender incluir numerosos movimentos finisseculares tanto hispânicos quanto

30 Na América Hispânica, o maior expoente do modernismo foi Rubén Darío (Oviedo,

2011; Imbert, 2010a).

31 No original: “...si bien la novela es historia y copia exacta de la vida mexicana, no

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europeus em uma caracterização unívoca e generalista que se denomine Modernismo”. 32

Este estilo literário de certa forma retomou o espírito libertário do romantismo, especificamente da sua origem, porque “...a poesia e outros gêneros como o conto e a crônica retiraram as ataduras formais que lhes estorvavam para se incorporarem às correntes que defendiam a arte pela arte” 33 (CASTRO MEDINA, 2010, p.353). Cabe ressaltar que no que concerne ao contexto mexicano, o Modernismo não se opôs frontalmente ao romantismo como o fez o movimento realista.

Embora, seja verdade, o Modernismo se inicia como um movimento contra os excessos do romantismo. Também acresce o fato de que dentro do movimento modernista cabia tanto o novo quanto o velho (Pereira, 2004). Vemos por exemplo que, segundo Castro Medina (2010), na obra de Manuel Payno (1820-1894) temos a presença de relatos carregados de sentimentalismo, de tom declamatório e de digressões. Além do mais, este mesmo escritor retoma o recurso literário do quadro de costumes.

Os poetas e escritores modernistas verdadeiramente agitaram as letras mexicanas. Ao serem levados pelo tom cosmopolita e eclético, no México tornou-se necessário a criação de associações e de revistas para discutir o papel da literatura modernista. Uma das publicações mais importantes foi a Revista Azul, fundada em maio de 1894, cuja origem esteve vinculada como caderno dominical do jornal El Partido Liberal (Pereira, 2004). Seu impacto nas letras mexicanas foi grande, principalmente, porque um dos seus redatores e fundadores foi o poeta Manuel Gutiérrez Nájera, considerado o precursor do modernismo mexicano e também um dos maiores poetas mexicanos do século XX.

Também de grande relevância foi a Revista Moderna: Arte y Ciencia, cuja primeira publicação data de primeiro de julho de 1898. Ao total, esta revista alcançou 96 números e 16 tomos, sendo seu último ano de edição 1911, nos primeiros meses da Revolução Mexicana. Cabe ressaltar que, segundo Pereira (2004, p.435), a Revista

32 No original: “...surge en cierta medida, de pretender incluir numerosos movimientos

finiseculares tanto hispánicos como europeos en una caracterización unívoca y generalista que se denomine Modernismo”. (Tradução nossa)

33 No original: “...la poesía y otros géneros como el cuento y la crónica se quitaron las ataduras

(36)

Moderna veio a ocupar o espaço deixado havia dois anos pelo findar da Revista Azul, no entanto, “A Revista Moderna rompeu tacitamente com a união de literatura e sociedade que havia adotado sua antecessora, a revista Azul” 34.

Justamente quando Manuel Caballero resolve publicar o que será a segunda época da revista Azul (PEREIRA, 2004, p.397), cria-se um choque de ideologias literárias e assim instaura-se a primeira polêmica literária do século XX no México entre a segunda etapa da Revista Azul e a Revista Moderna, ambas reclamando para si a autenticidade do movimento Modernista.

Sobre os escritores modernistas, de acordo com Imbert (2010a), podemos destacar a Federico Gamboa (1864-1939) que já produzia romances experimentais que estudavam seriamente a sociedade mexicana. Segundo Castro Medina (2010), Gutiérrez Nájera (1859-1895) foi um dos expoentes da literatura modernista. Este escritor criticava completamente o estilo romântico e a sua estética de se fechar sobre si mesmo por causa do espírito nacionalista. Ele considerava que a aversão ao estrangeiro havia sido contraproducente para a literatura não só mexicana, mas como espanhola, dentre outras. De Gutiérrez Nájera cabe destacar a visão transmitida em suas obras que ele tem da Cidade do México como cidade moderna, com o surgimento da nova burguesia e dos novos espaços pelos quais a musa vira-lata passearia.

Chama-nos a atenção a preferência que os artistas têm pela rua, tanto realistas como modernistas “...amam a cidade pecaminosa de cantina e bordéis” 35 (CASTRO MEDINA, 2010, p.386). Por isso intitulamos este capítulo de “musa vira-lata”. Enquanto a musa clássica morava no esplendor da cultura de referência greco-latina, a musa romântica vivia nos grandes salões de festas e saraus. Por outro lado, a musa realista e modernista se encontrava na rua, sem classe e estudos. Por isso havia de investigá-la.

2.4. México finissecular: do cosmos ao caos no Porfiriato

No fim do século XIX o México se encontrava em um regime autoritário sob a governança de Porifirio Díaz. Os problemas enfrentados por Díaz em seus últimos anos

34 No original: “La Revista Moderna rompió tácitamente con la unión de literatura y sociedad que

había adoptado su antecesora, la Revista Azul”. (Tradução nossa)

(37)

de governo, conforme Matute (2010), obscureceram seus sucessos passados, criando uma atmosfera de descontentamento por parte da sociedade civil que já clamava por mudanças. Mas a mudança não chegava, porque Porfirio Díaz sempre era reeleito através das fraudes eleitorais.

Segundo José Roberto Gallegos (2010), ainda que Porfirio Díaz tenha obtido êxitos ao longo dos seus mandatos presidenciais, isso não foi suficiente para acalmar a nação que se encontrava em condições de grande pobreza dentro de um contexto de um país basicamente rural, o que resultou que “um asfixiante sistema político que não se renovava” 36 (GALLEGOS, 2010, p.23), provocada pela sexta reeleição de Porfirio Díaz (1904-1910), “foi o detonador que terminou por dividir a sociedade entre um movimento democrático (anti-reeleicionista) e um conservador (o reeleicionista)” 37 (HERNÁNDEZ, 2000, p.19). A grande ironia é que o movimento democrático pacificou o México no último terço do século XX.

Temos que ter em conta, como observa Hernández (2000), que esse descontentamento não era algo recente, pois houve antecedentes para que os fatos chegassem a tal ponto, como, por exemplo, a viva oposição política por parte dos liberais constitucionalistas, os grupos protestantes, o clero católico renovado, os anarcosindicalistas e o “reyismo”. Todo esse conjunto de fatores fez com que a eleição de 1910 fosse tensa.

Chegada a data da eleição presidencial, junho de 1910, como era esperado, Porfirio Díaz foi reeleito com a ajuda de fraude eleitoral. O outro candidato, Francisco Ignacio Madero, tomado pela vontade de modificar a situação política do país, se levanta em armas contra o Governo Federal com o “Plan de San Luis”. Este fato foi o embrião da Revolução Mexicana: tudo começou com o movimento maderista “antirreleccionista”.

A Revolução Mexicana irá modificar profundamente as estruturas políticas, sociais, culturais e literárias. O modernismo e o realismo/naturalismo terão uma brusca ruptura que resultou em uma escassa produção literária desses movimentos se comparado com as longas décadas do romantismo mexicano. Sai de cena o

36 No original: “un asfixiante sistema político que no se renovaba”. (Tradução nossa)

37 No original: “fue el detonador que terminó por dividir la sociedad entre un movimiento

(38)

modernismo, porque diante de um evento tão importante quanto a Revolução Mexicana não houve espaço para enaltecer a cidade moderna. O que se descobriu foi o México mostrando a sua outra face: a rural.

Tampouco há espaço para uma literatura tipicamente realista. Com o desenrolar da Revolução, vários fatos viraram mentiras e várias inverdades tornaram-se fatos reais. A noção de verdade e de realidade ficou defasada. Com isso, a literatura realista também ficou defasada. A saída não foi mais descrever e criticar a realidade, mas descrever e criticar o próprio conceito de verdade. Entra em cena o realismo crítico e com ele se funda a Narrativa da Revolução Mexicana.

2.5. Recapitulando

(39)

SEGUNDA

PARTE

LITERATURA

DA

REVOLUÇÃO

E

NARRATIVA

MEXICANA

MODERNA:

AS

LETRAS

MEXICANAS

NOS

SÉCULOS

XX

E

XXI

Los héroes se convierten en monstruos, la leyendas en mitos y los mitos en novelas.

Christopher Domínguez (1996, p.12-13)

A narrativa mexicana antes da Revolução mexicana se encontrava sob a ótica dos movimentos literários do realismo/naturalismo e do modernismo 38 e, embora se conservasse partes destes horizontes poéticos após a revolução, a narrativa mexicana começava a apresentar mudanças que resultariam em uma nova poética: a revolução histórica provocaria uma revolução linguístico-cultural (Fuentes, 2011).

A revolução mexicana, afirma Carlos Fuentes no seu ensaio El espejo enterrado

(2009), desvela rostos que haviam sido ocultos no regime de Porfirio Díaz. Mostra a face pobre, humilde e indígena, mas combatente, lutadora e desejosa de que o país saiba de sua existência para não serem mais esquecidos. O encontro de Emiliano Zapata e Pancho Villa não é só um encontro político-revoluciónario, mas também sócio-cultural: o norte do México e o sul se conectam novamente depois de muitas décadas (e até séculos) isolados.

Novos atores entram no cenário político e cada um deles leva consigo uma visão do México e uma visão de verdade. Ou seja, o realismo/naturalismo já não consegue suster-se por muito tempo porque quanto mais passa o tempo mais se descobrem que há outras verdades e realidades. O poeta ou escritor tentará conectar toda essa rede de realidades múltiplas e com isso acabará criando o romance total

38 Na primeira parte desta dissertação, o termo Modernismo, ao menos no México, é ao mesmo

(40)

(SOSNOWSKI, 2010) 39. Desde então, surgem as denominadas Narrativas da Revolução Mexicana (MOLANO, 2010). Porém, não podemos esquecer que o realismo continuou vigente, mas agora elevado à categoria de realismo crítico (ZAVALA, 1991).

39 De acordo com o teórico Saúl Sosnowski (2010), o romance total se caracteriza por

(41)

Pós-modernismo e Revolução Mexicana

…muy pronto, la Revolución se convirtió también en un fenómeno cultural

José Miguel Oviedo (2001, p.158)

3.1. Pós-modernismo: continuidade e divergência

De acordo com o estudo de José Miguel Oviedo (2001), o pós-modernismo é fundamental para poder compreender os novos movimentos literários que surgem na primeira metade do século XX. Entretanto, apesar do pós-modernismo ser um evento importante no contexto das literaturas hispânicas, ele é pouco entendido, primeiramente porque este termo pode ser interpretado de duas formas: (i) a fase de crise e declínio do movimento modernista e (ii) a etapa posterior ao modernismo não importando o estilo que seja. Outro motivo que nos aponta Oviedo (2001) é a imprecisão dos teóricos em definir o ano em que irrompe o pós-modernismo: 1910 com o advento da Revolução Mexicana ou 1914 com o início da Primeira Guerra Mundial.

No que concerne ao contexto mexicano, o pós-modernismo está intrinsecamente conectado com a Revolução Mexicana, pese que a Revista Moderna, máximo expoente do pensamento modernista à sua época, fechou as portas com o estopim da revolução. Na sua última edição, de julho de 1911, acaba “desejando que se reestabeleça a paz no país e que a revista possa renascer” 40 (PEREIRA, 2004, p.437), vontade essa que nunca se concretizou. Com a queda da Revista Moderna e com o surgimento da revolução, a literatura mexicana se abre frente a um novo horizonte. Embora a literatura mexicana avance, ela continua atada ao modernismo.

40 No original: “deseando que se restablezca la paz en el país y que la revista pueda

renacer”. (Tradução nossa)

(42)

É justamente esse caráter complexo do posmodernismo que Oviedo (2001, p.12) destaca: “O posmodernismo é duas coisas ao mesmo tempo: um estilo literário cujas fontes estão no modernismo, mas que se processam de modos diferentes” 41. Por isso o pós-modernismo é continuidade e divergência – contínuo por causa da ainda busca da arte pela arte e divergente porque “Os pós-modernistas querem menos enfeite e mais substância” 42 (OVIEDO, 2001, p.13). O pós-modernismo, enquanto ruptura, condena o uso do parnasianismo e passa a procurar outras formas de expressar a arte pela arte, por isso afirma Oviedo (2001) que o pós-modernismo é o precursor dos movimentos de vanguarda.

O pós-modernismo no México se reflete, como já vimos, principalmente pela Revolução Mexicana que muda completamente os paradigmas da época. Como aponta Gallegos (2010), nem toda revolta é uma revolução. Para que seja uma revolução é preciso que os movimentos conjuntamente modifiquem profundamente a estrutura sócio-político-econômico-cultural da época desde a sua base. Outro fator é que as ações provoquem uma ruptura drástica, ao invés de uma reforma que pressuponha uma transição paulatina. Diz-se revolução também pela ruptura abrupta e violenta com o antigo regime. Por isso se considera a Revolução Mexicana como a primeira revolução em continente americano (no quesito nomenclatura porque não se pode esquecer dos movimentos de independência). Os fatos históricos alteraram o rumo da narrativa mexicana.

3.2 Inquietude artística: a revolução no campo da arte plástica mexicana

El nacionalismo artístico mexicano surge con un interés de los pintores por abordar temáticas de la realidad social, para generar un arte autónomo y original que busca desprenderse de la imitación de modelos clásicos.

Ana M. Torres Arroyo (2010, p.95)

41 No original: “El posmodernismo es dos cosas distintas a la vez: un estilo literario cuyas

fuentes están en el modernismo, pero que se procesan de modo diferente”. (Tradução nossa)

Referências

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