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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EDUCAÇÃO FÍSICA

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Academic year: 2022

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EDUCAÇÃO FÍSICA

IDOSOS E O ESPORTE: PERFIL, PERCEPÇÕES E RESSIGNIFICAÇÕES A RESPEITO DA VELHICE E DA PARTICIPAÇÃO EM COMPETIÇÕES

ESPORTIVAS

BRUNO FORNAZARE MANIAS

SÃO PAULO 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EDUCAÇÃO FÍSICA

IDOSOS E O ESPORTE: PERFIL, PERCEPÇÕES E RESSIGNIFICAÇÕES A RESPEITO DA VELHICE E DA PARTICIPAÇÃO EM COMPETIÇÕES

ESPORTIVAS

BRUNO FORNAZARE MANIAS

SÃO PAULO 2021

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade São Judas Tadeu como requisito para obtenção do título de Mestre em Educação Física na linha de pesquisa

“Promoção e Prevenção em Saúde”, sob orientação da Profa. Dra. Bruna Gabriela Marques.

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu

Bibliotecária: Adriana Aparecida Magalhães - CRB 8/10264

Manias, Bruno Fornazare.

M278i Idosos e o esporte: perfil, percepções e ressignificações a respeito da velhice e da participação em competições esportivas / Bruno Fornazare Manias. - São Paulo, 2021.

f. 116: il.; 30 cm.

Orientadora: Bruna Gabriela Marques.

Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2021.

1. Envelhecimento bem sucedido. 2. Atividade física para idosos. 3.

Pesquisa qualitativa. I. Marques, Bruna Gabriela. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física. III. Título.

CDD 22 – 796

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À minha esposa, Carolina Gulmini, pelo amor, carinho e apoio que me deu ao longo desses anos em que abdicamos de inúmeras coisas para que eu me dedicasse aos estudos.

Às minhas filhas Julia Manias e Lara Manias, que, sempre felizes, aceitavam os momentos em que eu estava estudando.

À minha orientadora, Bruna Gabriela Marques, que, ao longo desse processo, me conduziu com destreza nas tarefas de orientação.

A todos os doutores e mestres do programa de mestrado da Universidade São Judas, que contribuíram para minha formação e aprendizado.

A todos os idosos “ATLETAS” do município de Santo André, que, desde o início, demonstraram carinho e total apoio em contribuir com a pesquisa e com nosso aprendizado.

Obrigado!

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Em todo o mundo, o número de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente que a de qualquer outra faixa etária. Com isso, inúmeros programas e eventos esportivos estão seguindo o mesmo ritmo dessa crescente explosão de idosos. Uma população idosa que está situada no extremo oposto, em relação ao que a sociedade pensa em termos de saúde e funcionalidade, dos idosos sedentários e frágeis é a dos idosos que participam de eventos e competições esportivas. Nesse sentido, questionamo-nos sobre quem são esses idosos, qual é seu perfil socioeconômico, qual é seu histórico de vida esportiva e o que faz esses seniores continuarem a praticar e a participar de competições esportivas. Portanto, o objetivo do estudo foi compreender a percepção de idosos participantes dos Jogos da Melhor Idade (JOMI) pelo município de Santo André, considerando-se os determinantes associados à sua permanência e o reconhecimento de seu próprio envelhecer. Trata- se de uma pesquisa qualitativa de enfoque descritivo da qual participaram 70 idosos inscritos em pelo menos duas edições dos JOMI, representando o município de Santo André. A investigação ocorreu em dois momentos distintos: mapeamento do perfil do idoso, no qual que se coletaram as informações por meio do questionário semiestruturado; e o segundo momento – a utilização da técnica de grupo focal que foi conduzida com dois grupos de idosos de ambos os gêneros (grupo 1:

sexagenários, e grupo 2: septuagenários). A análise dos dados foi realizada por meio de frequência absoluta e relativa das variáveis categórica e média, desvio padrão, valores mínimos e máximos para as variáveis contínuas e, para o grupo focal, foi realizada pela técnica de codificação de dados. A análise das bases evidenciou que o perfil apresentado pelos idosos é semelhante ao de indivíduos jovens, com alto nível socioeconômico e de escolaridade, e predomínio de mulheres. Já o acesso a programas esportivos para idosos, saúde e suporte social são fatores que fazem com os que os seniores busquem e continuem praticando e participando de treinos, jogos e eventos e competições esportivas. Outro aspecto descoberto foi a necessidade de mais estímulos por parte dos profissionais que atuam com os idosos, principalmente os do grupo de maior idade. Em ambos os grupos, ficou evidente o sentimento dos pesquisados de sentirem-se atletas perante o grupo e a comunidade em que vivem.

Assim, pessoas acima de 60 anos que participam de eventos e competições esportivas, representam uma população de idosos com a qual podemos aprender

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sociológico e qualitativo devam ser realizados para compreender ainda mais essa população em crescente avanço no Brasil e no mundo.

Palavras-Chave: Envelhecimento bem sucedido; atividade física para idosos;

Pesquisa qualitativa.

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Worldwide, the number of people aged 60 and over is growing faster than any other age group. As a result, countless sports programs and events are following the same rhythm of this growing explosion of elderly people. An elderly population that is located at the opposite end of what society thinks, in terms of health and functionality to sedentary and fragile elderly people, are the elderly who participate in sporting events and competitions. In this sense, we ask ourselves who these elderly people are, what their socioeconomic profile is, what their history of sports life is and what makes these elderly people continue to practice and participate in sports competitions. Therefore, the objective of the study was to understand the perception of elderly people participating in the Best Age Games (JOMI in Portuguese) by the municipality of Santo André regarding the determinants associated with their permanence and how they recognize their own aging. This is a qualitative research with a descriptive focus, in which 70 elderly people enrolled in at least two editions of JOMI representing the municipality of Santo André participated. The investigation took place in two different moments: mapping the profile of the elderly in which the information was collected through the semi-structured questionnaire, and the second moment. Data analysis was performed using absolute and relative frequency of categorical and mean variables, standard deviation, minimum and maximum values for continuous variables and for the focus group was performed using the data coding technique. The analysis of the data showed that the profile presented by the elderly is of young individuals, with high socioeconomic and educational level, and predominance of women. Access to sports programs for the elderly, health and social support are factors that make the elderly seek and continue practicing and participating in training, games and sports events and competitions. Another aspect discovered was the need for more encouragement on the part of professionals who work with the elderly, especially in the older age group.

In both groups it was evident the feeling of feeling athletes before the group and the community in which they live. Thus, the elderly who participate in sports events and competitions, represent a population of elderly people with whom we can learn how to maintain health throughout life. We believe that more sociological and qualitative studies should be carried out to further understand this population, which is growing in Brazil and worldwide.

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Tabela 1 - Limite máximo de atletas por modalidade, categoria e gênero 38 Tabela 2 - Características sociodemográficas, N=70. 56 Tabela 3 - Características de deslocamento e práticas esportivas, N=70. 58

Tabela 4 – Características de saúde, N=70. 59

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Figura 1 - Delegação de Santo André - JORI - Itapecerica da Serra - 2019 39

Figura 2 - JOMI - Fase Estadual - Jundiaí – 2019 39

Figura 3 - Delegação de Santo André 43

Figura 4 - Grupo Focal 1 (Sexagenários) 70

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IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística JAI Jogos Abertos do Idoso

JEI Jogos Estaduais do Idoso JOMI Jogos da Melhor Idade JORI Jogos Regionais do Idoso

JOTISA Jogos da Terceira Idade de Santo André OMS Organização Mundial da Saúde

OPA/OMS Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde PELC Programa Esporte e Lazer da Cidade

PNI Política Nacional do Idoso

SEPE Secretaria de Esporte e Prática Esportiva TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UniFMU Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas WHO World Health Organization

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1 INTRODUÇÃO 16

2 ENVELHECIMENTO: UM PROCESSO MULTIFATORIAL 19

3 PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS DO DESENVOLVIMENTO AO LONGO

DA VIDA 23

3.1 Teoria da atividade 24

3.2 Teoria ao longo da vida – Life-Span 26

3.3 Envelhecimento bem-sucedido 27

3.4 Desenvolvimento como liberdade – Amartya Sen 28 3.4.1 Condição de agente e os diversos papéis da liberdade no

desenvolvimento 30

4 POLÍTICAS PÚBLICAS CONTEMPORÂNEAS DE INCENTIVO À PRÁTICA

ESPORTIVA PARA IDOSOS 33

4.1 O olhar sobre o envelhecimento ativo na política nacional 34 5 EVENTOS ESPORTIVOS PARA IDOSOS, OS PARTICIPANTES E AS

PESQUISAS ATUAIS 37

5.1 Eventos esportivos para idosos no âmbito internacional e nacional 38

5.2 Jogos da Melhor Idade - JOMI 40

5.3 Os idosos participantes de eventos e competições esportivas 43 5.4 Os estudos sobre idosos participantes de competições esportivas 46 6 HISTÓRICO ESPORTIVO DE SANTO ANDRÉ E A RELAÇÃO COM OS JOMI 48

7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 51

7.1 Delineamento da pesquisa 52

7.2 Cenário dos participantes do estudo 53

7.3 Procedimentos e instrumentos para produção dos dados 54 7.3.1 Etapa 1: Mapeamento do perfil dos participantes dos Jogos da Melhor Idade 55 7.3.2 Etapa 2: Percepções e ressignificações a respeito da velhice e da

participação em competições esportivas 56

7.4 Limitação na produção de dados do grupo focal 58 8 ANÁLISE, DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

PRODUZIDAS 59

8.1 Etapa 1 – Perfil dos participantes dos Jogos da Melhor Idade pelo município

de Santo André 59

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participação em competições esportivas (Grupo Focal) 66

8.3 Acesso a programas esportivos para idosos 72

8.4 “Eu ainda posso fazer isso, não sou café com leite”! 74 8.5 A participação esportiva e a interface com a saúde e o suporte social 78 8.6 Fatores existenciais e a ressignificação da vida relacionados à prática

esportiva na velhice 83

8.7 Eu sou atleta sim! 86

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS 90

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93

APÊNDICES 104

ANEXO 114

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Minha trajetória de vida inicia-se na cidade de Santo André, localizada no estado de São Paulo. Filho de Celio Antonio Manias, um administrador excelente, e Lucinda Fornazare Manias, professora de artes. Desde pequeno, sempre envolvido no esporte, mais precisamente com as modalidades de futsal e futebol de campo. A cada ano que passava, nos dois principais clubes da cidade, o Primeiro de Maio Futebol Clube e o Clube Atlético Aramaçan, meu envolvimento e as conquistas com o esporte expandiram-se rapidamente. Com o passar dos anos, na antiga 4ª série do ensino fundamental, tive a oportunidade de representar a cidade em um torneio de futebol na cidade de Takasaki, Japão, cidade que hoje é considerada cidade-irmã de Santo André. Após essa fase, a vida esportiva parecia não ter outra saída, os esforços e as ambições em busca de estar sempre em alto nível eram constantes. Foi aos 13 anos, que os estudos começaram a dividir espaço com as competições e as viagens em busca da grande vontade de tornar-se jogador profissional. Infelizmente, aos 16 anos, uma séria lesão atrapalhou o trajeto esportivo; foi quando o percurso começou a deixar o esporte em segundo plano, e os estudos começaram a avançar na área da Educação Física.

Aos 18 anos, dei início à graduação em Educação Física na Universidade do Grande ABC. A vontade de jogar ainda era grande, foi quando, na metade do curso e recuperado da lesão, voltei ao esporte com força total. Passando por clubes do interior do estado de Minas Gerais e, depois, voltando ao estado de São Paulo, também em um clube do interior, sofri mais uma séria lesão. Foi aí que decidi encerrar a carreira como atleta e dedicar-me à retomada dos estudos. Foi então que, em 2008, concluí o curso de Educação Física. Em 2009, trabalhando em uma academia no Clube Atlético Aramaçan, vejo a necessidade de ampliar os conhecimentos em nossa área; ingresso na Universidade Federal de São Paulo para especialização em fisiologia do exercício.

A partir desse momento, a busca por pesquisas, novidades e perspectivas na área começa a crescer. No ano de 2013, após prestar concurso para professor de Educação Física, tive a felicidade de ser aprovado e ingressar no quadro de professores das escolas municipais de Santo André, outro desafio que me fez buscar mais conhecimentos. Então, ingressei em outro curso de especialização, agora em Educação Física escolar na UniFMU. Porém a vontade e o destino fizeram com que surgisse a oportunidade de ser transferido para a Secretaria de Esportes e trabalhar

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de crescimento e expansão de conhecimentos. Após me dedicar às competições dentro da quadra, tive a oportunidade em 2017 de gerenciar toda a parte de esporte de rendimento e formação esportiva do município de Santo André. Entre os desafios da função, estava a coordenação das competições esportivas destinadas aos idosos no âmbito estadual. Foi esse momento que me fez querer aprender e estudar mais sobre atletas dessa faixa etária que participam efetivamente das competições e de uma forma muito alegre e responsável. Em 2019, tive a oportunidade de ingressar no curso de mestrado para poder ampliar os conhecimentos e contribuir ainda mais para o esporte da nossa cidade, principalmente para o público idoso.

Na percepção de gestor e como estudante do curso de mestrado, vejo que o campo da Educação Física merece um olhar especial, por trabalharmos e estarmos diretamente envolvidos com pessoas que se utilizam dela e de suas ramificações com a finalidade de melhorar sua qualidade de vida e seus rendimentos físico e esportivo.

Por esses motivos, as pesquisas podem contribuir e colaborar com os profissionais da nossa área que trabalham em seu cotidiano, buscando melhorar a vida das pessoas. Com o intuito de que as contribuições por meio das pesquisas aconteçam, devemos sempre divulgar as ideias de outros autores e, principalmente, pesquisas e referenciais já realizados para ampliar cada vez mais os conhecimentos na área da Educação Física.

Reivindico e almejo sempre inúmeras maneiras de construir um caminho de possibilidades que façam com que as pesquisas e as ideias dentro da nossa área continuem trazendo respostas promissoras e que sempre possam contribuir para nosso crescimento profissional e para a melhoria de vida da população.

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1 INTRODUÇÃO

No decorrer do último século, a mudança do perfil demográfico no cenário mundial apresentou um aumento considerável no número de idosos. Em todo o mundo, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente do que em qualquer faixa etária. Entre 1970 e 2025, espera-se um crescimento de 223%, ou em torno de 694 milhões, no número de pessoas mais velhas. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2025, a maioria dos onze países detentores das maiores populações de idosos em números absolutos (todas com mais de 16 milhões) pertencerá aos países em desenvolvimento (WHO, 2002). Até 2050, haverá dois bilhões de idosos no mundo, sendo 80% nos países em desenvolvimento, o que faz do Brasil, em 2025, o sexto país do mundo em número de idosos (OPA/OMS, 2005).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2018, divulgou uma projeção, apontando que a população idosa (acima de 60 anos) deve dobrar no Brasil até o ano de 2042. De acordo com o levantamento, o país tinha 28 milhões de idosos em 2016, ou 13,5% do total da população; em dez anos, chegará a 38,5 milhões (17,4% do total de habitantes). As projeções indicam que, em 2031, o número de idosos (43,2 milhões) vai superar pela primeira vez o número de crianças e adolescentes, de 0 a 14 anos (42,3 milhões). Antes de 2050, os idosos já serão um grupo maior do que a parcela da população com idade entre 40 e 59 anos.

O crescimento acelerado da população idosa no Brasil apresenta uma importante questão relacionada à eficácia da sociedade em adaptar-se a essa nova realidade, principalmente em busca da manutenção da saúde física e mental no decorrer de todo o processo. Além disso, fatores como avanços tecnológicos voltados para a prevenção e o tratamento das enfermidades, melhorias das situações sanitárias e uma maior conscientização sobre saúde colaboram veementemente para o aumento dessa população (ORTA, 2014).

Diante disso, a prática regular de exercícios físicos e esportes, incorporados à vida diária e a participação em programas que contenham exercícios físicos, atividades estruturadas e planejadas, oferecem benefícios que são relevantes para evitar, minimizar e, até mesmo, preservar o declínio físico, psicológico e social, comuns ao processo de envelhecimento (SOUSA, 2014).

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Segundo Rigo e Teixeira (2015), às alterações biopsicossociais fazem com que os idosos tenham o desafio de manter uma boa qualidade de vida e bons níveis de bem-estar subjetivo. À medida que a idade de uma pessoa evolui, há alterações psicológicas, biológicas e sociais que requerem cuidados diferenciados (CUNHA, CUNHA e BARBOSA, 2016). Portanto, o esporte pode ser uma excelente alternativa para interligar os fatores físicos, mentais e sociais, ainda mais quando falamos em participação em competições esportivas.

Uma população que desperta interesse e ganha espaço nos meios esportivos e na sociedade e, que de uma forma diferente, costuma ser notada por grande parte das pessoas como sendo frágeis e incapazes são os idosos que participam de competições esportivas. Um tipo de atendimento que vem crescendo não só na cidade de Santo André – SP, mas em outras cidades do estado de São Paulo e no Brasil, são os programas e atividades esportivas voltadas para os idosos com o intuito de participação em competições e eventos esportivos. São programas que visam ao treinamento de idosos para competirem pelos municípios em eventos municipais, estaduais, nacionais e até internacionais.

Um desses programas esportivos no cenário nacional são os Jogos da Melhor Idade – JOMI. A competição é de responsabilidade da Secretaria Estadual de Esporte, em conjunto com o município sede. Os municípios do estado podem-se inscrever para participar dos jogos com as modalidades que possuem um trabalho efetivo na localidade.

O município de Santo André conta com aproximadamente 110 idosos que participam dessa competição. Durante os últimos três anos, a cidade tem marcado presença entre as primeiras colocações, sendo que, em 2016, 2017 e 2018, obteve a 2ª colocação geral na sua região e, no ano de 2019, sagrou-se campeão do JOMI com 148 pontos. Boa parte desses idosos treinam de duas a quatro vezes por semana, em média duas horas por dia, além de participarem de jogos amistosos, competições e eventos pelo estado.

Com o aumento da inserção da população idosa em programas de esporte e eventos competitivos, cresceu o número de pesquisas relacionadas a esse cenário, entretanto, grande parte dessas pesquisas são voltadas para a análise física, relacionadas principalmente à aptidão física dos idosos, com um olhar quantitativo.

Poucos pesquisadores e estudos buscam analisar de forma qualitativa os aspectos físicos, sociológicos e psicológicos desses idosos competidores. Em seus achados,

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Dionigi (2006) já sinalizava a necessidade de serem realizadas mais pesquisas e estudos qualitativos quando o assunto era envelhecimento e competições esportivas.

Desse modo, pensando na necessidade de produção de conhecimentos a respeito do envolvimento de idosos na prática esportiva, principalmente em competições, e na necessidade de ampliarmos nossos conhecimentos em proporção ao aumento dessa população em programas esportivos, buscamos por meio da presente pesquisa evidenciar respostas para alguns questionamentos como, por exemplo: Esses idosos consideram-se atletas? Qual é o perfil desses praticantes, tendo por referência indicadores de suas características de gênero, saúde, situação educacional, condição econômica e histórico de atividades pregressas?; Quais são suas percepções a respeito das redes de suporte social relacionadas à participação nos jogos e eventos esportivos?

Acreditamos que realizar essa pesquisa com o olhar sociológico, utilizando uma abordagem qualitativa, possibilita compreender em profundidade os determinantes e as considerações dos idosos em relação ao seu envolvimento em competições esportivas. A compreensão desses aspectos pode fornecer informações sobre como facilitar a prática esportiva para idosos, o que pode contribuir e proporcionar uma melhor qualidade de vida e um envelhecimento bem-sucedido.

Portanto, a investigação tem por objetivo geral compreender a percepção de idosos participantes dos Jogos da Melhor Idade pelo município de Santo André a respeito dos determinantes associados à sua permanência e como eles reconhecem o seu próprio envelhecer. Como objetivo específico, tenciona analisar o perfil sociodemográfico dos idosos, tendo por referência indicadores de suas características de gênero, saúde, situação educacional, condição econômica e histórico de atividades esportivas precedentes.

Os resultados desta pesquisa também poderão oferecer uma visão teórica valiosa a respeito do envolvimento dos idosos com a prática esportiva e com as competições esportivas ao longo de sua vida e como esse envolvimento pode influenciar o indivíduo a tornar-se ou permanecer ativo no decorrer da vida e, até, na velhice.

Consideramos que a participação em esportes competitivos pode ser uma estratégia importante para promoção de ações relacionadas à promoção do envelhecimento bem-sucedido. Além disso, por meio dos achados da investigação, poderemos repensar o desenvolvimento de novas propostas ou adequações das

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ações em curso, principalmente à prestação de serviço à comunidade, já que o cenário investigado faz parte de uma política pública de incentivo à prática esportiva.

2 ENVELHECIMENTO: UM PROCESSO MULTIFATORIAL

O envelhecimento é um fenômeno natural, universal, inconvertível e não ocorre de forma coincidente e igualitária nos seres humanos. Envelhecer faz parte da vida e, de acordo com os conhecimentos atuais, não há nada que se possa fazer para alterar esse processo. Atualmente, o envelhecimento compõe um dos temas de maior interesse da sociedade em decorrência das modificações epidemiológicas que o mundo está apresentando (WHO, 2015). Diante disso, procurar respostas sobre quais são as mudanças que ocorrem nesse período e quais são as causas e as consequências é o desafio da ciência, que tem o objetivo de retardar esse processo.

De acordo com a World Health Organization – WHO (2002), são consideradas idosas pessoas com idade cronológica acima de 60 anos, quando residentes em países em desenvolvimento, e acima de 65 anos, se vivem em países desenvolvidos.

O processo de envelhecimento começa desde o nascimento e é determinado como um processo dinâmico e progressivo que inclui modificações tanto morfológicas quanto funcionais, bioquímicas e psicossociais, as quais determinam a gradativa perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente (DZIECHCIAZ e FILIP, 2014).

Aplicado a aspectos sociais ou fisiológicos, e muito embora imprecisos, a base cronológica é a mais utilizada para definir se o indivíduo atingiu a velhice. Também baseada na idade, a exemplo do que foi dito anteriormente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera idoso, em países desenvolvidos, o indivíduo com 65 anos ou mais, e em países em desenvolvimento, com 60 anos ou mais, porém não desconsidera existir a influência de fatores sociais e econômicos. A partir disso, pesquisadores criaram subcategorias etárias diferenciadoras da senescência (PIETRO, 1986), que tratam como idade intermediária a faixa dos 45 aos 60 anos, quando aparecem os primeiros sinais da velhice, como o aparecimento de doenças.

A senescência gradual ocorre dos 60 aos 70 anos, a senilidade, ou velhice, a partir dos 70 anos, e o longevo é considerado o indivíduo com mais de 90 anos. O processo de envelhecimento ocorre de forma gradativa e universal em todos os seres humanos com o decorrer do tempo, além disso, é irreversível, única e heterogênea

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(DZIECHCIAZ e FILIP, 2014). Mesmo com as pesquisas e os avanços da ciência, até o momento, nada foi descoberto para impedir ou reverter esse decurso. Existem interações entre fatores intrínsecos (genética) e extrínsecos (estilo de vida, ambiente e condições sociais) que explicam a heterogeneidade do envelhecimento. Atualmente, distinguem-se três vertentes do envelhecimento: biológico, psicológico e social.

O envelhecimento biológico é determinado pelo maior acometimento de agressões dos meios interno e externo e, portanto, pela maior suscetibilidade nos níveis celular, tecidual e de órgãos, aparelhos e sistemas. Em condições basais, o idoso age tão bem quanto o jovem. A diferença se manifesta nas situações em que se torna necessária a utilização das reservas homeostáticas que, no idoso, são mais frágeis. Além disso, cada órgão ou sistema envelhece de forma diferenciada. A variabilidade é, portanto, cada vez maior à medida que envelhecemos (OLIVEIRA e ASSUMPÇÃO, 2008).

É possível observar, durante o processo de envelhecimento, uma perda contínua de neurônios, especialmente no córtex do giro pré-central – área motora voluntária. A disfunção do sistema nervoso, em especial, do sistema nervoso autônomo, pode estar relacionada a diversos processos patológicos, como doenças neurodegenerativas. No envelhecimento, muitos vasos são alterados. A aorta se dilata e seu diâmetro interno aumenta, ocorrendo depósito de cálcio em toda a extensão da sua parede. Artérias de menor calibre também sofrem com o processo de envelhecimento (VIEIRA e GLASHAN, 1996). Todos os sistemas do nosso organismo possuem reservas fisiológicas que, no sistema nervoso, são caracterizadas pela capacidade de reorganização, conhecida como neuroplasticidade (RIBEIRO, et al, 2008). Com o envelhecimento, as reservas estão diminuídas, porém não depletadas;

portanto, a criação de um ambiente legal de aprendizado motor poderia determinar uma melhora importante da função. Com o passar dos anos, o organismo humano passa por um processo natural de envelhecimento, gerando modificações funcionais e estruturais no organismo, diminuindo a vitalidade e favorecendo o aparecimento de doenças, sendo mais prevalentes as alterações sensoriais, as doenças ósseas e cardiovasculares e o diabetes (RUWER, ROSSI e SIMON, 2005).

O envelhecimento é tido como grande fator de alterações psicológicas em indivíduos de idade avançada, por trazer consigo fatores limitadores que, na maior parte das vezes, servem para contrariar a vontade e causar frustrações.

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Singularmente, o envelhecimento psicológico refere-se aos processos cognitivos e ao desenvolvimento de competências comportamentais e emocionais que permitirão ajustes às modificações as quais ocorrem com a idade. É de se notar que a pessoa idosa se torna mais introspectiva, mais observa do que se manifesta e tende a ficar ociosa; isso está diretamente ligado aos limites que, de repente, o corpo passa a impor, tornando mais difícil, por exemplo, caminhar. Esse corte na relação entre vontade e resposta frustra o idoso e pode fazer nascer o medo de movimentar-se DANTAS e ESTÉLIO, 2017).

Rauchbach (2001) relaciona que, por trás do isolamento social, do pessimismo diante da própria existência e da passividade, muito embora considerados dentro da normalidade, estão escondidas a ansiedade, a depressão e a insônia, por sua vez, causadoras de infarto do miocárdio, conhecidas como doenças psicossomáticas. Em seus estudos Choi, Irwin e Cho, (2015), argumentaram que o isolamento social tem um efeito negativo severo sobre a longevidade e a saúde mental dos mais velhos, com reflexos no físico (aparecimento de doenças psicossomáticas). Os autores apresentam duas classificações para o isolamento social: subjetivo: quando faltam aos idosos recursos sociais, como companheirismo e apoio de maneira geral, embora haja quem os pudesse prover, e objetivo: quando falta ao idoso contingente social e afetivo para relacionar-se ou atividade social propriamente dita. Constata-se que qualquer das formas de isolamento está ligada à perturbação do sono, aos sintomas depressivos e à fadiga, porém, o isolamento classificado como subjetivo contribui significativamente mais com tais transtornos.

As pesquisas científicas voltadas ao envelhecimento (MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2001; ÂNGELO et al., 2021) atestam positivamente as práticas esportivas como grandes aliadas no combate aos efeitos do envelhecimento do ponto de vista psicológico. Para que o processo de envelhecimento ocorra com menores impactos no cotidiano do indivíduo, um acompanhamento profissional aliado a hábitos saudáveis mostra-se essencial.

Vancampfort (2015) analisou as condições gerais de pessoas diagnosticadas com depressão e pôde concluir e apontar como fatores responsáveis por tal condição psicológica alguns comportamentos de risco, como o índice elevado de massa corporal (obesidade) e o baixo nível de autonomia funcional (capacidade para realizar as atividades da vida diária). Esses fatores são tratados como comorbidade prognóstica, por ser uma doença que predispõem o paciente a desenvolver outra

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enfermidade. Para tanto, considera-se urgente uma intervenção por meio da inserção de atividades esportivas para os pacientes com distúrbios psíquicos, por seus evidentes e comprovados benefícios. A utilização da prática esportiva como expressão corporal é importante por proporcionar o funcionamento adequado do organismo e por gerar tonicidade e equilíbrio no tecido muscular, aumentando a vontade do indivíduo de participar das atividades diárias. O exercício passa a funcionar como ferramenta de reinserção do idoso no convívio social e nas atividades da vida diária (RAUCHBACH, 2001).

Nos estudos de Bueno (2009), podem ser encontrados resultados significativos que amparam a tese anterior. Segundo o autor, comparando-se indivíduos sedentários, novos praticantes e idosos fisicamente ativos, todos diagnosticados com transtornos depressivos, sugere-se que as atividades esportivas servem como catalisador das relações entre os indivíduos e como fator estimulador de superação, auxiliando, portanto, na reabilitação dos distúrbios psíquicos. Suas pesquisas apontam uma redução estatisticamente significativa da depressão nos novos praticantes, tendências à redução da ansiedade e aumento de neurotransmissores, noradrenalina e serotonina, concluindo que a atividade esportiva pode estar causando alterações fisiológicas e bioquímicas envolvidas com a liberação de neurotransmissores e a ativação de receptores específicos, auxiliando na redução dos escores indicativos de depressão e ansiedade, uma vez que alguns desses neurotransmissores contribuem tanto para o aparecimento quanto para a redução dessas patologias.

A idade social é um componente do envelhecimento que está relacionado à maneira como o indivíduo se comporta com a mudança de papéis típica da idade. No decorrer da vida, a pessoa passa por alterações físicas e psicológicas que podem afetar diretamente sua convivência na sociedade. Dessa forma, é normal que ocorram mudanças no desempenho de funções cotidianas (MAZZO, LOPES e BENETTI, 2001).

Torna-se bastante comum um indivíduo economicamente ativo que, com o passar dos anos, passa a afastar-se do ambiente de trabalho e começa a pensar na aposentadoria. O processo de envelhecimento social não ocorre de maneira imediata, mas se desenvolve de forma progressiva, podendo ser retardado ou evitado.

Para que isso ocorra, algumas medidas devem ser tomadas no decorrer da vida, seja estimulando o idoso a ter uma convivência em sociedade, seja orientando-

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o a uma alimentação saudável e à prática de exercícios físicos (BRUNNET et al., 2013). Outro ponto a ser analisado é o fato de o indivíduo perder papéis e funções sociais à medida que envelhece, afastando-se do convívio dos seus semelhantes. As modificações ocorrem no interior do indivíduo com o passar dos anos (RAUCHBACH, 2001). Dessa forma, os valores e as atitudes sofrem alterações, contribuindo para atrapalhar sua autonomia e a independência conquistada ao longo da vida. A causa mais citada para justificar os danos do envelhecimento social tem sido a aposentadoria. Apesar de ter sido criada como uma forma de promoção de descanso pelos anos trabalhados, a aposentadoria acabou tornando-se um pesadelo para alguns idosos. Há uma crença de que tal fase afasta-os do convívio diário e do contato com outras pessoas. A ausência desses relacionamentos interpessoais pode contribuir para que o idoso não consiga estabelecer relações com outras pessoas, o que pode provocar um isolamento total (MURTA, et al., 2014).

O processo do isolamento total é resultado da interferência de uma série de fatores. O primeiro é considerado o mais importante: a redução dos contatos sociais.

Logo após, ocorre o distanciamento social, seguido da perda da autonomia e da independência. Por fim, torna-se importante citar a necessidade de estratégias que possibilitem uma melhora nessa fase da vida. Trabalhar com a reinserção desses indivíduos na sociedade, por meio de diversas técnicas, contribuirá para que ela se torne uma fase mais saudável. Estimular a prática de exercícios físicos em grupos, a participação em grupos comunitários e trabalhos coletivos podem ser a solução para esse tipo de problema (FLATT et al., 2015).

3 PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS DO DESENVOLVIMENTO AO LONGO DA VIDA

Podemos encontrar no meio científico algumas teorias relacionadas ao envelhecimento para servirem de orientação teórica para os cientistas em seus artigos, dissertações e teses. Algumas dessas teorias são orientadas pela psicologia do envelhecimento e por teorias do desenvolvimento humano.

Em sua obra, Anita Neri (2013) referência às teorias do envelhecimento em três categorias: teorias clássicas, de transição e contemporâneas. A denominação

“clássica” faz referência às teses de estágio da vida adulta e da velhice, que se caracterizam pelo modelo de crescimento – ponto alto – contração, e ao paradigma

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de ciclos de vida. No grupo de teorias de transição, estão a teoria do desenvolvimento da personalidade ao longo da vida e a teoria social-interacionista da personalidade na velhice. As teorias contemporâneas recebem influência das teorias associadas ao paradigma de desenvolvimento ao longo de toda a vida, que, nos dias atuais, costumam ter um destaque na psicologia do envelhecimento em âmbito internacional.

A teoria do desenvolvimento humano centra-se na necessidade de aumentar a liberdade individual e as escolhas dos indivíduos, por meio da expansão das capacidades e oportunidades. Nela, compreende-se que certas escolhas que os indivíduos fazem para suas vidas são básicas e extensivas a todos (por exemplo: ter acesso à educação, saúde, alimentação, atividade produtiva), mas, por falta de possibilidades alguns indivíduos acabam-se abstendo de tais escolhas (LOPES, 2019).

Na iminência de apresentar a fundamentação teórica desta investigação, optou- se por realizar um diálogo teórico entre teoria da atividade e teoria do desenvolvimento ao longo da vida (Life-Span e envelhecimento bem-sucedido); teorias e conceitos que vêm sendo postulados ao longo das décadas, relacionados ao processo de envelhecimento. Na sequência, aparecem as possibilidades interpretativas do processo de envelhecer e a proposta do desenvolvimento humano como liberdade.

3.1 Teoria da atividade

A teoria da atividade desenvolveu-se no final da década de 40 e constituiu-se principalmente em dois diferentes momentos. O primeiro iniciou-se com o químico, físico, educador e especialista em desenvolvimento e envelhecimento humano Robert James Havighurst, com a publicação em 1953 do livro Developmental Tasks and Education. Nesse livro, Havighurst sugeria o conceito de resolução dos problemas e tarefas ao longo da vida na perspectiva Life-Span.

Os problemas e tarefas costumam aparecer no cotidiano das pessoas em diferentes períodos. Caso tais problemas sejam solucionados com sucesso, o indivíduo terá felicidade e êxito em tarefas posteriores, contudo, caso a pessoa fracasse, sobrará a infelicidade e a reprovação social. Todas essas tarefas possuem bases biológicas (maturação física), psicológicas (aspirações e valores) e culturais (expectativas da sociedade) (DOLL et al., 2007).

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Na década de 60, o mesmo autor desenvolveu um conceito subentendido à teoria da atividade: o envelhecimento bem-sucedido (successful aging). No trabalho publicado por Havighurst (1961), havia indícios de que o envelhecimento bem- sucedido se apoiava em duas diferentes teorias que se contrapunham: a teoria da atividade e a teoria do desengajamento.

A teoria da atividade postula que, para alcançar o envelhecimento bem- sucedido, os indivíduos devem manter-se ativos pelo maior tempo possível, com atividades iniciadas desde a fase adulta e, quando necessárias, podem ser substituídas ou adaptadas. Além disso, Havighurst já enfatizava na década de 60, o quanto é importante, do ponto de vista da imagem social, os idosos apresentarem suas conquistas e satisfações com o seu desempenho e, exclusivamente, com suas vidas. Já a teoria do desengajamento aponta como sucesso quando as pessoas naturalmente se afastam das atividades sociais, até mesmo por um desejo pessoal (HAVIGHURST, 1961).

O segundo momento da estruturação da teoria da atividade deu-se a partir dos estudos de Lemon, Bengtson e Peterson (1972), quando ocorreu a sistematização da teoria e a defesa de seus conceitos centrais, tais como atividade, suporte de papéis, autoconceito, mudanças de papéis e satisfação de vida; além da discussão sobre a relação entre eles. A definição do conceito de atividade é composta por aspectos que se relacionam e podem incluir a atividade informal – quando há uma relação social entre amigos, parentes e vizinhos; as atividades formais – que abordam a participação organizada das associações e da sociedade; e as atividades solitárias – as que não requerem a participação de outra pessoa como as atividades de leitura, hobbies de natureza individual, assistir televisão, entre outras (LEMON, BENGTSON e PETERSON, 1972).

O aumento da população idosa e o interesse de pesquisadores de diversas áreas sobre os temas relacionados à velhice deu início a uma intensa produção científica nas últimas décadas do século XX. Com esse aumento da produção científica, gerou-se um amadurecimento do campo, concomitantemente a mudanças políticas, sociais e culturais, fatos que contribuíram para alterar a concepção de que o envelhecimento estaria associado somente ao declínio, à doença e à incapacidade.

Nesse contexto, destaca-se a perspectiva da teoria ao longo da vida – Life-Span.

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3.2 Teoria ao longo da vida – Life-Span

Concebida dentro de um campo multidisciplinar de estudos, uma das presunções básicas da perspectiva Life-Span, de acordo com Baltes, Resse e Lipsitt, (1980), é que o desenvolvimento psicológico também necessita ser estudado em um contexto que engloba múltiplas disciplinas, como a Antropologia, a Biologia e a Sociologia. Em 1987, Baltes começa a defender que a multiplicidade de influências sobre as origens e direções do desenvolvimento ao longo do curso da vida está intrinsecamente relacionada ao fato de que qualquer disciplina isolada sobre ele é incompleta. Nesse sentido, utilizar-se da perspectiva Life-Span apenas com o olhar na psicologia poderia oferecer um entendimento e uma compreensão apenas parcial do curso da vida.

A perspectiva Life-Span é uma abordagem que tem por princípio o debate, ou seja, a conversa e a troca de informações entre as pessoas, o que colabora expressivamente para as mudanças de paradigma acerca da velhice (BALTES, 1987;

BALTES e BALTES, 1990).

A partir de inúmeras suposições a respeito do desenvolvimento humano, a teoria Life-Span estabelece o envelhecimento como sendo um processo desigual e multifacetado, podendo ser categorizado em três tipos: normal, referindo-se às alterações naturais e inevitáveis ao envelhecimento; patológico, em que se refere os casos de doenças, disfunções e descontinuidade do desenvolvimento; e ótimo ou saudável, caracterizado por um ideal sociocultural de excelente qualidade de vida, funcionalidade física e mental, baixo risco de doenças e incapacidade, bem como engajamento ativo na vida (BALTES, 1987).

O envelhecimento saudável está associado à ideia de que o indivíduo constrói seu potencial de desenvolvimento durante todo o curso da vida (Baltes e Baltes, 1990), havendo um equilíbrio entre suas limitações e potencialidades, as quais podem ser otimizadas por meio de intervenções. Uma delas refere-se à aquisição de novas aprendizagens, o que tem sido destacado por diversos estudos como uma atividade que auxilia no bom funcionamento físico, psicológico e social na velhice (BALTES e BALTES, 1990; WEBBER e CELICH, 2007).

De acordo com a perspectiva Life-Span, o desenvolvimento e a manutenção de padrões efetivos de envelhecimento não somente dependem de determinantes de

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natureza genético-biológicas, mas também são influenciados por fatores socioculturais (BALTES, RESSE e LIPSITT, 1980; BALTES, 1987).

Nessa perspectiva, o desenvolvimento estende-se até idades mais avançadas, quando ocorre a promoção e o acesso a recursos culturais e educacionais. A oferta de programas que forneçam atividades e estímulos para os idosos parece ser, portanto, importante nessa fase da vida, a fim de que possam desfrutar de um envelhecimento equilibrado entre as perdas, decorrentes do próprio processo, e os benefícios, que podem ser proporcionados por meio dessas estratégias.

3.3 Envelhecimento bem-sucedido

O pensamento e as discussões em poder apresentar significados e conceitos em relação ao envelhecimento ativo, aliados às discussões sobre um envelhecimento bem-sucedido têm marcado a preocupação da comunidade científica sobre o que é viver bem e sobre quais são os principais indicadores. A finalidade desse empenho consiste em uma tentativa de operacionalizar e valorizar critérios que sistematizam a avaliação de um envelhecimento bem-sucedido (DEPP e JESTE, 2006;

FERNÁNDEZ‐BALLESTEROS et al, 2008).

Seguindo uma linha cronológica, após os pensamentos da teoria Life-Span, os pesquisadores John Rowe e Robert Kahn começam a ser uma referência a respeito do termo “envelhecimento bem-sucedido”. Este foi proposto por Rowe e Kahn (1998) como definição de uma via por meio da qual os indivíduos mais velhos exercem atividades significativas, mantendo funções físicas e cognitivas.

Rowe e Kahn (1998) definem o envelhecimento bem-sucedido incluindo três componentes principais: baixa probabilidade de doença e deficiência relacionada à doença; alta capacidade física, cognitiva e funcional e envolvimento ativo com a vida.

O sucesso do envelhecimento é mais do que apenas a ausência de doença e a manutenção de capacidades funcionais, por mais importantes que sejam. Ambas são componentes importantes do envelhecimento bem-sucedido, mas é sua combinação com engajamento ativo na vida que representa o conceito de envelhecimento bem-sucedido mais plenamente. Cada um dos três componentes inclui subpartes. A baixa probabilidade de doença refere-se não apenas à ausência ou presença da própria doença, mas também aos fatores de risco para seu desenvolvimento.

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O alto nível funcional inclui componentes físicos e cognitivos. Os componentes físicos e as capacidades cognitivas são potenciais para a atividade, eles nos dizem o que uma pessoa pode fazer, não o que ela faz. O envelhecimento bem-sucedido vai além do potencial, envolve atividade em si.

Quanto ao engajamento ativo na vida, as relações interpessoais e as atividades produtivas chamam mais a atenção. Aquelas envolvem contatos e interações com outras pessoas, troca de informações, suporte emocional e assistência direta; já estas estão relacionadas ao valor social, ou seja, atividades que não trazem remuneração ou bem material.

Em seus estudos Rowe e Kahn (1998) também definiram critérios objetivos para a diferenciação entre envelhecimento “normal” e “bem-sucedido”. Entretanto, de acordo com Deep e Jeste (2006) inúmeras críticas surgiram diante dessa proposta, principalmente a respeito das perspectivas sociais, biomédicas ou psicológicas, e, segundo os mesmos autores, surgiram outras maneiras de mensuração, acarretando inúmeras formas de definição na literatura.

Para Bowling e Iliffe (2006), a tendência é que a classificação dos envelhecimentos normal e bem-sucedido seja mensurada de maneira multidimensional, abrangendo critérios objetivos acerca de questões biomédicas, aspectos psicológicos e sociais e também critérios subjetivos, relacionados à perspectiva dos idosos quanto à qualidade de vida.

Nessa perspectiva, o envelhecimento bem-sucedido e o desenvolvimento humano caminham em paralelo com os processos e teorias do envelhecimento. Com essa interpretação, utilizaremos os pensamentos do indiano Amartya Sen em relação ao desenvolvimento humano baseado na ideia de liberdade como meio e não como fim do desenvolvimento. O papel da liberdade concerne ao modo de diferentes tipos de direitos, oportunidades e intitulamentos, que contribuem para a expansão da liberdade humana em geral e, assim, para a promoção do desenvolvimento ao longo do curso de vida (SEN, 2000).

3.4 Desenvolvimento como liberdade – Amartya Sen

O desenvolvimento pode ser encarado como um processo de alargamento das liberdades reais de que uma pessoa goza. A tônica nas liberdades humanas contrasta com perspectivas mais restritas de desenvolvimento, que o identificam com o

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crescimento do produto nacional bruto, com o aumento das receitas pessoais, com a industrialização, com o progresso tecnológico ou com a modernização social.

Quando se enuncia um direito, afirma-se o valor de certa liberdade para alguém, e isso acarreta um conjunto de deveres atribuíveis a outras pessoas, com o propósito de salvaguardar aquela liberdade. Um exemplo disso é o que propõe o envelhecimento ativo apresentado pela OPA/OMS (2005), que consiste em um processo de intensificação das oportunidades de saúde, participação e segurança com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas, tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais. O conceito de envelhecimento ativo inclui a ênfase no bem-estar do indivíduo, concentrando-se na conexão entre fatores físicos, mentais e sociais.

Mas qual é o critério de objetividade dos direitos, e como isso afeta a sua relação com as liberdades? Para Sen, a objetividade está ligada ao crivo da razão pública. De acordo com esse princípio, o que torna uma liberdade fundamento objetivo para um direito humano é a força dos argumentos públicos em favor da importância dessa liberdade perante a coletividade em que se inserem os indivíduos.

Em nosso estudo, seria a ampliação e o direito de todo cidadão idoso poder-se inserir e usufruir de programas esportivos e de práticas de atividade esportivas. Não só isso, mas também poder opinar e questionar sobre como esses programas ou políticas públicas voltadas para os idosos deveriam ser praticadas com o objetivo de beneficiar a toda a população idosa.

Esses argumentos têm de ser validados em uma discussão pública. Para isso, há certos critérios socialmente aceitos – certas “condições de limiar”, nos termos de Sen – cuja satisfação acarreta o reconhecimento social de uma liberdade como base de um direito humano, e cuja não satisfação praticamente desqualifica o reconhecimento. Por exemplo, para servir de base a um direito humano universal, a liberdade de uma pessoa não ser agredida fisicamente por outra atende a certas condições socialmente reconhecidas, como a objetividade e o alcance das políticas públicas. Porém, a liberdade de uma pessoa não se sentir ofendida por outra não atende àquelas condições. Em particular, não atende a uma condição de objetividade, pois o “sentir-se ofendido” pode ser caracterizado como um estado essencialmente subjetivo (SEN, 2004).

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3.4.1 Condição de agente e os diversos papéis da liberdade no desenvolvimento

Para Sen, “agente” é todo aquele que ocasiona uma mudança no ambiente com a sua ação livre e racional. O agente não se orienta senão por seus “motivos internos”

(normas, objetivos, razões, valores etc.). Assim, a condição de agente é a capacidade de livre agir das pessoas segundo os seus próprios fins e normas. Por exemplo, quando se planeja a carreira profissional, organizando-se um conjunto de variadas ações, metas, objetivos etc. ao longo de vários anos da vida, exerce-se a condição de agente (PINHEIRO, 2012).

Ampliar as liberdades dos indivíduos é fomentar e respeitar a sua condição de livre agir com base na razão. No arcabouço conceitual do desenvolvimento como liberdade, o desenvolvimento é um processo que envolve fundamentalmente a condição de agente das pessoas. Contudo, tal condição pode ser limitada por vários fatores “externos”, como a pobreza, a tirania política, a falta de oportunidades econômicas, a exclusão social, a intolerância, a negação de direitos civis etc. Por isso, uma parte importante das políticas de desenvolvimento consiste em identificar e combater fatores como esses, chamados por Sen de “fontes de privação das liberdades dos indivíduos” (CROCKER, 2008).

Ainda hoje, os idosos, por exemplo, são vistos de forma estereotipada, como sendo pessoas frágeis, ultrapassadas e que não podem contribuir com a sociedade.

Entretanto, com os avanços da medicina e das oportunidades de envelhecimento ativo, os idosos estão se tornando cada vez mais fontes de inspiração e de experiência para muitas pessoas, principalmente para os mais jovens. Isso faz com que essas privações acabem diminuindo, e os idosos voltem a ter um papel importante na sociedade. Um exemplo que encontramos hoje são os idosos que contribuem com a participação em programas esportivos. Muitos hoje são vistos como exemplo e incentivo para jovens que participam de eventos esportivos.

As liberdades individuais, elementos básicos na abordagem do desenvolvimento como liberdade, desempenham dois papéis distintos no desenvolvimento. Em primeiro lugar, há um papel avaliativo (constitutivo, normativo), segundo o qual as liberdades constituem o fim do último processo de desenvolvimento; e, em segundo lugar, um papel, a grosso modo, efetivo ou

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instrumental, de acordo com o qual as liberdades são os principais meios do desenvolvimento.

O papel avaliativo da liberdade é assim chamado porque o progresso deve ser avaliado segundo o grau de expansão das liberdades das pessoas. Este papel é essencial, constitutivo e “definidor” do desenvolvimento. Ou seja, desenvolvimento é liberdade, sob a óptica avaliativa. Por sua vez, o papel instrumental associa-se às inter-relações causais entre os diversos tipos de liberdade. Ao desempenharem o seu papel instrumental, as liberdades e os direitos dos indivíduos podem contribuir efetivamente, como instrumentos, para o progresso econômico (PINHEIRO, 2012).

Dito de outro modo, a importância das liberdades para o desenvolvimento associa-se, em primeiro lugar, ao seguinte princípio normativo: o desenvolvimento deve visar acima de tudo à expansão da liberdade dos indivíduos. Em segundo lugar, a importância das liberdades se fundamenta naquilo que Sen chama de “razão efetiva”. Ou seja, quanto maior a liberdade dos indivíduos, mais eles podem “melhorar”

a si próprios e influenciar positivamente a comunidade em que vivem. Portanto, a razão efetiva de as liberdades individuais importarem para o desenvolvimento se relaciona com o exercício da condição de agente dos indivíduos. Estas duas razões – normativa e efetiva – conectam-se respectivamente com os já referidos papéis avaliativos (logicamente constitutivos) e instrumentais (causais, empíricos) da liberdade.

A distinção entre os papéis avaliativo e instrumental das liberdades, ao basear- se na distinção mais fundamental entre os meios e os fins do desenvolvimento, aponta para a distinção conceitual entre as liberdades substantivas e as liberdades instrumentais.

De acordo com Sen (2000), as liberdades substantivas são aquelas que enriquecem nossas vidas e a que queremos atingir como fins, ao passo que as instrumentais são os meios para atingir aqueles fins. Por exemplo, para atingir a liberdade substantiva de ter boa saúde, eu busco as liberdades instrumentais de me alimentar bem, repousar, fazer exercícios físicos, viver em um lugar livre de poluição etc.

As liberdades substantivas dos indivíduos – por exemplo, a capacidade de evitar a fome, a desnutrição, as doenças e a morte prematura, bem como a possibilidade real de ser alfabetizado, de participar politicamente das decisões

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públicas, de dizer o que pensa e não ser censurado, entre outras – constituem a essência mesma do desenvolvimento.

Nesse sentido, diz-se que as liberdades substantivas desempenham um papel constitutivo no conceito de desenvolvimento e avaliativo do processo de desenvolvimento. Por sua vez, as liberdades instrumentais são tipos de liberdade que servem de instrumentos para que o indivíduo aumente a sua liberdade total. Citam- se, em Desenvolvimento como Liberdade (Sen, 2000), cinco tipos de liberdades instrumentais:

1) As liberdades políticas referem-se às escolhas das pessoas na arena política: escolher quem vai governar, sob quais regras etc.; isso inclui também a liberdade de crítica às autoridades e a expressão política, e outras;

2) As disponibilidades referem-se ao poder de os indivíduos usarem os recursos econômicos, tais como os bens e serviços, as possibilidades de fazer transações, o acesso à renda e ao crédito etc. Incluem também as oportunidades tidas pelos indivíduos para fins de consumo, produção e troca;

3) As oportunidades sociais referem-se aos arranjos sociais para o provimento de educação, saúde, e outros serviços sociais capacitantes;

4) As garantias de transparência dizem respeito à confiança mútua entre os indivíduos em suas interações sociais, confiança que é fundamental para o sucesso dessas interações. As garantias de transparência incluem o direito à informação em todos os níveis, principalmente nas esferas públicas;

5) A proteção social inclui arranjos sociais destinados a proteger as parcelas mais vulneráveis da população: assistência e previdência social, seguro-desemprego, abertura de frentes de trabalho emergenciais etc.

Todos os tipos de liberdades instrumentais se interconectam causalmente, e isso tanto pode prejudicar o desenvolvimento (quando as pessoas são privadas de suas liberdades) quanto favorecê-lo (quando as liberdades instrumentais contribuem conjuntamente para expandir as liberdades substantivas de todos).

Em termos gerais, as liberdades individuais interconectam-se e complementam-se profundamente, tanto em nível coletivo quanto em individual. Por um lado, a pura violação de uma liberdade individual pode ser julgada ruim para toda a comunidade. Por outro lado, a violação de uma liberdade individual básica acarreta a privação de toda uma cadeia de outras liberdades e direitos individuais.

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4 POLÍTICAS PÚBLICAS CONTEMPORÂNEAS DE INCENTIVO À PRÁTICA ESPORTIVA PARA IDOSOS

O Brasil, assim como o restante do mundo, vive um processo de envelhecimento que está relacionado a uma melhor condição de vida da população, caracterizada pela redução da mortalidade e um declínio nos níveis de fecundidade (IBGE, 2019). A transição epidemiológica, representada pelo envelhecimento, é um processo multidirecional em que o indivíduo passa por diversas modificações fisiológicas, psicológicas e sociais (CIOSAK et al., 2011; BOSI, 1994).

Como consequência das modificações nas percepções acerca do envelhecimento, o século passado trouxe em sua companhia uma série de debates em torno do conceito de envelhecimento ativo. Adotado na década de 90, o termo

“envelhecimento ativo” veio para expressar o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas (OPAS/OMS, 2005).

O termo aplica-se tanto à esfera individual quanto à coletiva, permite que as pessoas reconheçam o seu potencial para um bom estado físico, social e mental ao longo da vida, e que criem interação com a sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo, possibilitando uma maior proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários. O envelhecimento ativo refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados (OPAS/OMS, 2005).

Tais medidas minimizam os impactos do envelhecimento na vida diária, além de proporcionar uma maior participação do idoso em grupos de convivência, possibilitando mais saúde e uma maior conscientização de seu papel na sociedade (HERNANDES et al., 2013; CAVALLI et al., 2014; SANTOS et al., 2011).

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4.1 O olhar sobre o envelhecimento ativo na política nacional

Considerando que a sociedade brasileira vive um processo de mudança demográfica, com uma população idosa mais ativa e atenta aos seus direitos, cresceu a necessidade de políticas públicas mais abrangentes e que contemplem as demandas dessa parcela da população (DA SILVEIRA, et al., 2012).

No Brasil, um dos principais marcos da política de proteção ao idoso foi apresentado na Lei 8.842/94, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso (PNI) e cria o Conselho Nacional do Idoso. Todavia, somente em 1999, com a Portaria 1.395, que aprova a Política Nacional de Saúde do Idoso, o envelhecimento saudável passou a ser contemplado em documentos oficiais brasileiros. A partir dessa portaria, vários outros documentos possibilitaram uma discussão mais aprofundada sobre o envelhecimento ativo, além de proporem medidas viáveis para sua efetivação. Logo, as políticas públicas surgem como diretrizes oficiais, capazes de estimular e propor mudanças benéficas para a população idosa (BRASIL, 1994; BRASIL, 1996). A fim de atender às necessidades de um novo Brasil, que se vê diante de da ampliação da expectativa de vida de seus cidadãos, desafiando-nos a refletir e promover políticas públicas voltadas para a qualidade de vida, mais especificamente da pessoa idosa, em nível federal, o antigo Ministério do Esporte decide reconhecer o Vida Saudável, que, até 2013, era um dos núcleos do Esporte e Lazer da Cidade (PELC), como um programa social.

Criado em 2003, o PELC é um programa que objetiva democratizar o acesso ao esporte recreativo e de lazer a todo cidadão brasileiro (crianças, jovens, adultos, idosos). Assim, baseado na proposta política pedagógica do PELC, que visa oportunizar a prática de atividades físicas, culturais e de lazer para o cidadão (todas as idades), estimulando a convivência social, a formação de gestores e lideranças comunitárias, a pesquisa e a socialização do conhecimento, o Vida Saudável é revisitado e qualificado, passando a contar com diretrizes próprias e orientações estruturantes, objetivando “democratizar o acesso ao esporte e ao lazer à pessoa idosa na perspectiva da promoção da saúde” (BRASIL, 2013).

Portanto, o PELC desenvolve-se sob a perspectiva intergeracional, e o Vida Saudável volta-se à pessoa idosa, a partir de 60 anos, sendo que ambos incluem pessoas com deficiência. Desenvolvidos em parceria com governos municipais,

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estaduais e instituições de ensino superior, o acesso aos programas ocorre por meio de chamamento público (edital), de emenda parlamentar ou proponente específico (justificado por necessidade específica). Priorizando o protagonismo da pessoa que envelhece, sob a perspectiva da emancipação humana e do desenvolvimento comunitário, o Vida Saudável, assim como o PELC, visa a contribuir para que as ações de lazer e esporte recreativo avancem do estágio atual de políticas de governo para uma outra dimensão, mais ampla, de política de Estado.

Como efeito, os programas passam a apoiar-se em três importantes iniciativas:

a) a implantação e o desenvolvimento de núcleos; b) a formação continuada; e c) o monitoramento e avaliação das ações.

Nesse contexto, ao definir-se como iniciativa a implantação e desenvolvimento de núcleos nas diversas regiões brasileiras, busca-se garantir o acesso a políticas públicas de qualidade em sua dimensão recreativa (atividades físicas, esportivas, culturais e artísticas; lutas, danças, capoeira e suas adaptações, jogos populares e de salão, jogos cognitivos). Assim, as atividades desenvolvem-se no formato de oficinas (atividades sistemáticas) nos espaços dos núcleos (quadras, parques, salões paroquiais, ginásios esportivos, clubes sociais, centros comunitários), devendo ser diversificadas e possibilitar o resgate da cultura local. Além disso, são fomentados a organização de eventos (atividades assistemáticas), enquanto parte integrante da execução do programa, envolvendo a comunidade como um todo nos diversos momentos do processo, como forma de favorecer o diálogo entre as experiências vividas, fortalecendo os laços de cooperação, solidariedade e a capacidade de construir coletivamente um patrimônio comum.

Embora o Programa Vida Saudável beneficia especialmente a pessoa idosa, é importante garantir o desenvolvimento de atividades assistemáticas que favoreçam e estimulem o convívio entre gerações (família e comunidade). Os programas têm seu eixo fundamental na formação continuada (segunda iniciativa), compreendida como uma importante ferramenta que pode contribuir para o desenvolvimento e qualificação de políticas que tratem o esporte e o lazer enquanto direito social, devendo atender às especificidades da realidade local. Parte-se do pressuposto de que o aperfeiçoamento da prestação do serviço público está diretamente ligado ao investimento na formação dos sujeitos envolvidos na execução deste serviço. Por conseguinte, tal iniciativa beneficia gestores, agentes sociais de esporte e lazer, lideranças comunitárias, legisladores e demais colaboradores, atuantes da esfera

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pública, vinculados ao programa. Como efeito, além dos módulos presenciais, o Ministério do Esporte passou a investir em capacitações gerenciais e na formação a distância, bem como na produção de materiais didáticos (BRASIL, 2013).

No âmbito estadual, São Paulo, por meio da Secretaria de Esportes, busca oferecer programas de esporte e lazer para todo o estado por meio de eventos que envolvam tanto crianças, jovens, quanto idosos. Um deles é o Circuito de Lazer do Estado de São Paulo. Esse evento tem como objetivo proporcionar aos participantes atividades de lazer em locais públicos (ruas, praças, ginásios, centros esportivos e outros), reviver e resgatar práticas de brincadeiras, jogos de salão e outros, como forma de atividade física/recreativa, visando a integração, interação e inclusão social, estimulando aptidões corporais e mentais, valorizando a cultura, o folclore regional e sua história. Podem participar do Circuito de Lazer do Estado de São Paulo a população em geral, sem limite de idade, crianças, jovens, adultos, idosos de ambos os sexos (SÃO PAULO, 2020).

Outra oferta é o Festival de Jogos de Salão do Estado de São Paulo. Esse evento tem como objetivo estimular a prática da modalidade pela população em geral, dando-lhe caráter popular, incentivando a difusão de sua prática no interior do estado;

também ampliar o campo de participação na área de lazer, oportunizando participação, integração e socialização.

Podem participar do Festival de Jogos de Salão Estado de São Paulo jovens a partir de 18 anos, adultos, idosos de ambos os sexos; as modalidades oferecidas são:

truco, buraco, tranca, cacheta, pontinho, vinte e um, mau-mau (SÃO PAULO, 2020).

O Festival de Dança e Ação, mais um programa ofertado pela Secretaria de Esportes do Estado, tem por objetivos oferecer oportunidades para a apresentação de grupos organizados e praticantes das mais diferentes formas de ginástica e dança, contribuindo para o aprimoramento das atividades desenvolvidas, bem como a divulgação dos conhecimentos técnicos da área. Podem participar desse festival crianças de até 12 anos (categoria infantil), adolescentes a partir de 12 anos (categoria aberta) e idosos a partir de 60 anos (categoria sênior) (SÃO PAULO, 2020).

E o evento mais esperado do ano por todos os idosos e que tem um caráter tanto de participação quanto de competição são os Jogos da Melhor Idade, tanto em sua fase regional quanto em sua fase estadual – final.

Os JOMI, organizados e realizados pela Secretaria de Esportes do Estado, têm por objetivo valorizar e estimular a prática esportiva como fator de promoção de saúde

Referências

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