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Rev. Estud. Fem. vol.21 número3

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Academic year: 2018

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Estudos Feministas, Florianópolis, 21(3): 496, setembro-dezembro/2013

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Resenhas

Resenhas

Resenhas

Resenhas

Resenhas

Diferença na igualdade

Diferença na igualdade

Diferença na igualdade

Diferença na igualdade

Diferença na igualdade

Elogio da diferença: o feminino

emergente.

ROSISKA, Darcy de Oliveira.

Rio de Janeiro: Rocco, 2012. 167p.

A reedição de Elogio da diferença é muito bem-vinda, seja porque houve avanços desde 1991, ano da primeira edição, seja porque outros avanços propostos por Rosiska Darcy de Oliveira não foram buscados, quiçá por serem pouco conhecidos.

Se a bandeira clássica do feminismo foi a igualdade, a proposta de Darcy de Oliveira é a diferença. Não a diferença da opressão, não a diferença da inferioridade, mas o direito de ser igual sendo outro.

Se o feminismo sempre lutou pela igualda-de igualda-de oportunidaigualda-de entre homens e mulheres nas carreiras culturalmente masculinas, o que Darcy de Oliveira propõe é a igualdade de valor social entre essas carreiras e os trabalhos cultural-mente femininos, pois seria um erro concordar com a premissa tácita de que as tarefas “femininas” são inferiores e seria um empobreci-mento do horizonte civilizatório de todos a total terceirização dessas tarefas para as creches e outros serviços.

Se as tarefas tradicionalmente femininas são distintas das tarefas tradicionalmente mascu-linas, isso não quer dizer que elas sejam inferiores ou menos importantes. O prestígio social de u-mas deve ser igual ao das outras, sem que as tarefas sejam iguais. Deve haver diferença na igualdade e igualdade na diferença.

A meu ver, o desafio dessa proposta é expli-car como se pode dar o devido valor aos papéis femininos sem abrir espaço para o discurso rea-cionário, o qual naturaliza e essencializa os papéis de mãe e de esposa do lar. Não poderia o

reacio-nário dizer que está de acordo com o pós-femi-nismo de Darcy de Oliveira, dado que defende que as mulheres fiquem em casa, sem estudar ou trabalhar, só cuidando das crianças, dos ve-lhos e do esposo?

Uma parte da resposta a essa questão é simples. Por se tratar de um pós-feminismo, a proposta de Darcy de Oliveira pressupõe as conquistas feministas, isto é, não só Darcy de Oliveira pressupõe, contra o reacionário, que as mulheres devem ter espaço garantido, talvez até mesmo com cotas e discriminação positiva, nos mundos do trabalho e da educação. A ideia não é que as mulheres abandonem o mundo público e sejam encerradas no mundo privado. A ideia é que se reconheçam o valor e a impor-tância fundamental do mundo privado e que se preserve este mundo. Assim, contra a ideologia reacionária, Darcy de Oliveira toma o voltar-se para o mundo privado como uma escolha, não como um destino, muito menos como um fardo. Outra parte da resposta é mais complexa. Afinal, se a valorização do mundo íntimo e privado não viria da remuneração do “trabalho” de cuidar dos próximos, mas sim de uma gigantesca mu-dança civilizatória, na qual se estimularia os homens a buscarem as “carreiras” tradicional-mente femininas, não estar-se-ia esperando o impossível?

Ora, a proposta de Darcy de Oliveira é justa-mente que se espere e se imagine o “impossível”, pois é a partir da invenção do “impossível” que se abrem novas possibilidades. É transformando – e desorganizando – as opções abertas a homens e mulheres que se cria um mundo no qual a a-ção e o conhecimento femininos valem ao me-nos tanto quanto as carreiras e práticas tradicio-nalmente masculinas.

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Estudos Feministas, Florianópolis, 21(3): 1231-1240, setembro-dezembro/2013 é como se o feminino tivesse que ser definido

se-gundo a régua masculina, e o problema todo é justamente que uma igualdade digna deste nome requer réguas diferentes para gêneros diferentes, não porque um gênero é superior ou inferior ao outro, mas porque cada gênero tem uma métrica distinta, sendo a existência de cada escala por si mesmo um elemento rico e inegociável da vida em sociedade.

Darcy de Oliveira aponta para sinais claros de que há algo de desequilibrado na socie-dade, apesar de haver mais oportunidade para as mulheres. Sim, agora as mulheres podem estudar e podem trabalhar, mas o mundo priva-do que serve de sustento e de plano de imanên-cia para o mundo público do trabalho e do ensino ainda se apoia no núcleo familiar com uma mulher que cuida de todos, inclusive e

principalmente do marido, que dá tanto trabalho quanto um filho. Esse desequilíbrio já é reconhe-cido na muito discutida jornada dupla de tra-balho, mas pouco se fala sobre como lidar com essa questão. Por que não se fala disso? Talvez por se considerar natural que as mulheres cuidem de tarefas “menores”, como a limpeza das crianças ou da casa. Mas de onde viria tal inferioridade? Do mero fato de essas tarefas tradi-cionalmente serem feitas por mulheres? Se assim for, o equilíbrio nos valores do cuidado privado e do trabalho público viria da escolha, pelos homens, dessas tarefas e “vocações” femininas. É exatamente o que Rosiska Darcy de Oliveira propõe.

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