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AIRES MARQUES DA GAMA

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

COORDENAÇÃO DO CURSO DE BACHARELADO EM HISTÓRIA

AIRES MARQUES DA GAMA

UMA HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIRO DA CIDADE DE RIO BRANCO:

Memórias e seu sentido social

Rio Branco - Acre Maio de 2012

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AIRES MARQUES DA GAMA

UMA HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIRO DA CIDADE DE RIO BRANCO:

Memórias e seu sentido social

Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em História à Universidade Federal do Acre, sob a orientação do prof. Dr. Airton Chaves da Rocha.

Rio Branco - Acre Maio de 2012

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ãGAMA, A. M., 2012.

GAMA, Aires Marques da. Uma história do Corpo de bombeiro da Cidade de Rio Branco: memórias e seu sentido social. Rio Branco, 2012.73f. Monografia (Graduação em História)- Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Universidade Federal do Acre, Rio Branco, 2012.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC

Agostinho Sousa Crb11-547

Rio Branco - Acre 2012

G184h Gama, Aires Marques da, 1971-

Uma história do Corpo de Bombeiro da Cidade de Rio Branco: memórias e seu sentido social / Aires Marques da Gama. -- Rio Branco: UFAC/Centro de Filosofia e Ciências Humanas, 2012.

73f.; il.; 30 cm.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Acre, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Curso de Bacharel em História. Rio Branco, 2012.

Inclui Referências bibliográficas

Orientador: Profº Drº Airton Chaves da Rocha

1. Corpo de Bombeiros - Rio Branco (AC) - História. 2. Corpo de Bombeiros - Rio Branco (AC) - Memórias. 3. Assembleia Legislativa - Incêndio. 4. Inundação do Rio Acre (1997). I. Título.

CDD: 363.37098112

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AIRES MARQUES DA GAMA

UMA HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIRO DA CIDADE DE RIO BRANCO: memórias e seu sentido social

Monografia apresentada ao Curso de Bacharelado em História da Universidade Federal do Acre, como requisito parcial a obtenção do título de bacharel em História e aprovada pela seguinte banca examinadora:

Aprovado em ______/______/_______. Média:_______ (________________).

BANCA EXAMNADORA:

_____________________________________ Prof. Dr. Airton Chaves da Rocha

(orientador)

______________________________________ Profª. Doutoranda Geórgia Pereira Lima

(Membro Titular)

______________________________________ Profº. Msc. Armstrong Silva Santos

(Membro Titular)

Rio Branco - Acre Maio de 2012

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DEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho aos meus familiares, que souberam compreender os meus momentos de ausência, referência de tudo aquilo que sou hoje, sem a qual, todo o esforço que fez ao longo de minha trajetória de vida, jamais teria conseguido chegar aonde cheguei.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, acima de tudo a Deus, ser supremo de tudo aquilo que existe, minha família, e minha Esposa, Dânia de Oliveira Mendes, pelo ensinamento e valores a mim repassados.

Ao meu orientador Professor Dr. Airton Chaves da Rocha pelo apoio e paciência. Agradecimento especial a Ana Keully Gadelha dos Santos e Crístofe Oliveira de Cruz que trouxeram para mim, além do conhecimento técnico, a experiência de grandes amizades de que eu tenho certeza renderão bons frutos e boas sementes e que já fazem parte de uma safra especialíssima de bons profissionais e grandes amigos.

Agradecimento em especial ao Centro de Documentação e Informação Histórica – CDIH na pessoa do Professor Doutorando Valmir Freitas de Araújo pelo entusiasmo, companheirismo e atenção a mim prestado.

A todos os professores do curso de Historia Bacharelado da UFAC, especialmente ao professor Dr. José Dourado de Souza e Professora Doutoranda Geórgia Pereira Lima, pela dedicação e contribuição durante todo o curso.

A todos os entrevistados que, gentilmente, contribuíram com as suas memórias (lembranças e esquecimentos), fontes primordiais desse trabalho.

A todos os colegas da 1º turma de História Bacharelado (2006), pelo companheirismo durante o curso.

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“Impossível é apenas uma grande palavra usada por gente fraca que prefere viver no mundo como está em vez de usar o poder que tem para mudá-lo, impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é hipotético. É temporário. Impossível é nada”.

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LISTA DE ABREVEATURAS

AC - Acre

BG – Boletim Geral BM – Bombeiro Militar CEL – Coronel

CBMAC – Corpo de Bombeiro Militar do Estado do Acre CEDEC – Coordenadoria Estadual de Defesa Civil

CMT – Comandante

CFAP - Curso de Formação de Sargentos CB – Organização das Nações Unidas DF – Defesa Civil EB – Exército Brasileiro GI – Grupamento de Incêndio KG – Kilo M – Metro PM – Polícia Militar

PMAC – Polícia Militar do Estado do Acre PMRB - Prefeitura Municipal de Rio Branco SD - Soldado

SGT – Sargento ST – Subtenente TC – Tenente Coronel TLX - Telex

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LISTA DE TABELAS

Tabela I: Bairros Atingidos pela Enchente de 1997, Zona Urbana...24 Tabela II: Demonstrativo das cotas do Rio Acre de 1974 a 1997...29

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração I – Fotografia das 03 (três) vítimas no terraço do prédio da assembléia Legislativa...18 Ilustração II – Fotografia Aérea da Cidade de Rio Branco (Área central)...28 Quadro 01: Escala Hierárquica do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre...59

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RESUMO

Esta Monografia originou-se do interesse acadêmico em desenvolver, por meio de investigação, um resgate da memória popular e oficial de dois eventos que marcaram a atuação do Corpo de Bombeiro de Rio Branco, quais sejam, o incêndio da Assembleia Legislativa no ano de 1992 e a inundação que atingiu a cidade de Rio Branco no ano de 1997. Foi aplicado aos dados coletados os conceitos teóricos sobre memória desenvolvidos por Loiva Otero Felix, Jacques Le Goff, Verena Alberti e outros, realizando, assim, um diálogo entre as informações captadas e os conceitos apresentados pelos mencionados autores. Diga-se, que a citada postura tem por escopo aplicar um olhar do historiador as memórias resgatadas, uma vez, que não existe um olhar científico sobre estes eventos, fato determinante para a nossa eleição. Soma-se a finalidade inicial, o registro da memória de pessoas que estiveram diretamente envolvidas nos desastres bem como da imprensa local, sem omitir a estrutura administrativa da corporação e os instrumentos legais que sustentam o seu funcionamento.

PALAVRAS - CHAVE: Memória Social e Oficial, Incêndio da Assembleia Legislativa,

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ABSTRACT

This monograph grew out of academic interest to develop, through research, a rescue of a popular and official memory of two events that marked the work of the Fire Department of Rio Branco, namely, the burning of the Legislative Assembly in 1992 and the flood of the Acre River, that hit the city of Rio Branco in 1997. It has been apllied the theoretical concepts about memory developed by Loiva Felix Otero, Jacques Le Goff, Verena Alberti and others to all data collected so, a dialogue between the captured information and concepts presented by the authors is mentioned. So, the aforementioned position aims to apply a historian's eye to the memories rescued, since that there is no a scientific study about these events, justifying our election. Added to the original purpose, the memory register of people who were directly involved in the disaster and the memory register of the local press, without omitting the administrative structure of the corporation and the legal instruments that support its operation.

KEY - WORDS: Social and Official Memory, the Legislative Assembly Burning, The 1997

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 13

CAPÍTULO 1: MEMÓRIAS DA ATUAÇÃO DO CORPO DE BOMBEIRO DA CIDADE DE RIO BRANCO... 16

1.1. Memórias populares e oficiais do incêndio da Assembleia Legislativa no ano de 1992.. 17

1.2. Memórias populares e oficiais da atuação na alagação do rio Acre no ano de 1997... 22

1.3. Memórias jornalísticas sobre acontecimentos de repercussão... 30

CAPÍTULO 2: MEMÓRIAS DE MILITARES SOBRE ATUAÇÕES DA CORPORAÇÃO... 34

2.1. A memória escrita dos registros oficiais do CBMAC... 34

2.2. A memória de militares da corporação aposentados... 40

2.3. A memória de militares da ativa... 48

CAPÍTULO 3: ORGANIZAÇÃO DO CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DO ACRE... 54

3.1. A Constituição do Corpo de Bombeiros no Estado do Acre... 54

3.1.1. Corpo de Bombeiro no Brasil... 55

3.2. A Estruturação do Corpo de Bombeiros do Acre... 57

3.3. A legislação sobre a corporação... 61

3.3.1. Autonomia e desvinculação Constitucional... 63

3.3.2. Desvinculação Total da PMAC... 64

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 66

REFERÊNCIAS... 69

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INTRODUÇÃO

“Vidas Alheias, riquezas a salvar”.

A presente monografia dedica-se na análise da história do corpo de bombeiro da cidade de Rio Branco, a fim de compreender a estrutura organizacional atual e desejada para esta instituição e as contribuições prestadas a população acreana ao longo do período de 1974 a 2011.

A escolha desta temática de pesquisa originou-se por deste acadêmico ser Bombeiro Militar, ao interesse de reconhecer a importância da atuação do Corpo de Bombeiro Militar no Estado do Acre, considerando a possibilidade de visualizar a memória social acreana por meio da atuação destes profissionais da segurança pública, procedendo, posteriormente, o seu registro numa perspectiva histórica. Considera-se, ainda, que se reconhece a necessidade de realizar uma pesquisa da história do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre.

A pesquisa descreverá a estrutura funcional da instituição, enfatizando, a posteori, as ocorrências de grande relevância (que ficaram marcadas na memória da população acreana e dos integrantes da corporação), bem como sua evolução histórico-administrativa ao longo do período de 1974/2011. Sistematicamente, as reflexões concernentes ao tema, foram realizadas com o interesse de construir uma visão histórica, por meio do resgate da memória social e oficial, dos eventos narrados no corpo do trabalho.

O Corpo de Bombeiros vem ampliando o leque de suas atividades operacionais e institucionais, de forma a cumprir em sua integralidade a sua missão, “vidas alheias, riquezas salvar”. Sua missão primordial é a Defesa Civil que se materializa pelo conjunto de medidas permanentes que visam a prevenir ou minimizar as conseqüências dos eventos desastrosos, socorrer e assistir seres vivos e populações contribuindo dessa forma, para restabelecer a normalidade, limitar os riscos de perdas materiais e humanas e assegurar, enfim, o bem estar social.

Dentro desse contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar a história da corporação, a qualificação técnico profissional, as ocorrências de grande relevância que se destacaram na memória social, isto é, importando saber os eventos estão nas lembranças dos entrevistados, a partir de uma determinada perspectiva, de maneira que estes possam narrar com detalhes os fatos rememorados.

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Durante o processo de pesquisa percebeu-se a inexistência de estudos sobre a instituição Corpo de Bombeiro do Acre e particularmente sobre o de Rio Branco, o que nos impediu de fazer uma revisão bibliográfica sobre o tema. Como suportes teóricos para a reflexão do material de pesquisa utilizou-se principalmente os conceitos de memória, memória social, representação, entre outros. Memória no sentido utilizado por Loiva Otero Félix, Jacques Le Goff e Verena Alberti. Félix afirma que memória e História são conceitos diferentes com que o presente olha o passado. Memória como lembrança, como representação do passado. Já Le Goff chama atenção para que o historiador veja a memória não como algo neutro ou como já a História, mas como construção social. Ele insiste para que o historiador faça uma desmontagem do documento (fonte histórica), pois o mesmo deve ser compreendido como instrumento de poder. Verena Alberti vai a mesma perspectiva de Le Goff, pensando o documento como construção social. A atuação do Corpo de Bombeiro de Rio Branco em eventos como o incêndio da Assembleia legislativa ocorrido em 1992, de inundações do Rio Acre, devem ser analisados a partir de uma memória social construídas pelos diversos atores sociais, entre os próprios membros da corporação.

Para além da análise da estrutura organizacional do Corpo de Bombeiro e sua atuação na cidade de rio Branco entre 1974/2012, este estudo também pretende realizar um resgate da memória social dos populares e dos integrantes da corporação sobre acontecimentos importantes em que o Corpo de Bombeiro atuou nas últimas 04 (quatro) décadas, elegendo aqueles que fornecem subsídios necessários para a construção histórica, partindo das premissas sobre memória social.

Dentre as questões de estudo destacam-se: Qual a memória social de populares sobre acontecimentos importantes em que o Corpo de Bombeiro participou nas últimas décadas? Quais as memórias jornalísticas da participação do Corpo de Bombeiro em eventos importantes? O que dizem os registros oficiais sobre a atuação da corporação? Qual é a memória de militares sobre a atuação de sua corporação? Como se organizou ao longo do tempo o Corpo de Bombeiro do Acre? Qual a legislação que disciplina o funcionamento da corporação?

A metodologia utilizada na realização deste estudo tem o foco mais qualitativo não desconsiderando os aspectos quantitativos, uma vez que os dados descritivos necessários à produção deste trabalho foram coletados diretamente por este pesquisador na situação objeto de estudo, mediante o dialogo com as memórias sociais captadas (entrevistas). Acrescente-se,

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ainda, um corte temporal-espacial dos fenômenos registrados por parte deste acadêmico. Portanto, esta pesquisa terá direcionamento espaço-temporal dos eventos que se destacaram na memória popular, durante o período de 1974 a 2011, em que a atuação do Corpo de Bombeiro foi determinante para o resgate dessas memórias sociais.

Por fim, apresenta-se a composição dos capítulos deste trabalho, senão, vejamos: No primeiro capítulo, intitulado Memórias da Atuação do Corpo de Bombeiros da cidade de Rio Branco, é trabalhada as memórias da população, da imprensa local e dos militares que atuaram no incêndio ocorrido na Assembleia Legislativa do ano 1992 e a alagação no município de Rio Branco no ano de 1997. Neste é feito um resgate sobre a memória popular e da imprensa local, por meio de entrevistas e pesquisas em jornais locais que registraram os episódios.

No segundo capítulo, foi feito uma análise histórica sobre as memórias oficial de militares sobre a atuação da corporação, por meio de registros oficiais do CBMAC, entrevistas com militares da ativa e da reserva.

Já no terceiro capítulo, sob o título Organização do Corpo de Bombeiro do Estado do Acre, trauxemos à baila a estrutura funcional do Corpo de Bombeiro, realizando uma retrospectiva dos vários diplomas legais que estruturam esta instituição, caminhando entre sua formação inicial e a atual organização administrativa e institucional.

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CAPÍTULO 1: MEMÓRIAS DA ATUAÇÃO DO CORPO DE BOMBEIRO DA CIDADE DE RIO BRANCO.

O reconhecido historiador Francês Jacques Le Goff deixou registrado em suas obras, que foram os gregos que elegeram a Memória como uma deusa, cujo nome era Mnemosine. Narra a mitologia grega que ela era mãe das nove musas procriadas no curso de nove noites passadas com Zeus. À citada deusa era atribuída a função de lembrar aos homens a recordação dos heróis e dos grandes feitos.

O final do século XX ficou marcado como o período de grandes transformações da História, dentre elas, destaca-se a reavaliação das complexas relações que vinculam e que separam a história e a memória.

A visão tradicional século XIX, na qual a memória refletia o que acontecia na verdade, restou ultrapassada. O elo que liga a memória e a História se mostrou, ao longo do tempo, de uma complexidade que não condizia com a simplicidade pregada nos séculos iniciais. Os historiadores perceberam que a história bem como a memória não se apresentava de forma objetiva, pelo contrário, estava eivada de aspectos subjetivos como a consciência e inconsciência do indivíduo, sua interpretação pessoal e a distorção da realidade.

Segundo Maurice Halbwachs as memórias são construções dos grupos sociais. A memória social é responsável por determinar aquilo que será lembrado e, por conseqüência deixada como legado para as futuras gerações.

A partir da consolidação dessa nova concepção entre a ligação da História com a memória, aduz Peter Burke (apud MOREIRA; 2000, p. 72-73) que foi exigido dos historiadores o interesse nessa fonte levando em consideração dois aspectos, quais sejam: a memória como fenômeno histórico e fonte histórica.

A memória como fonte histórica se traduz pela análise de documentos históricos, sem deixar de lado a relevância da história oral.

Nessa senda, segundo Verena Alberti, (história dentro da história) a História oral é uma metodologia de pesquisa e de constituição de fontes para o estudo da história contemporânea surge em meados do século XX, após a invenção do gravador a fita. Ela consiste na realização de entrevistas gravadas com indivíduos que participaram de, ou testemunharam, acontecimentos e conjunturas do passado e do presente. Tais entrevistas são

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produzidas no contexto de projetos de pesquisa, que determinam quantas e quais pessoas entrevistar, o que e como perguntar, bem como que destino será dado ao material produzido.

Já como fenômeno histórico, de acordo com o referido autor, reporta-se a “história social do lembrar”. Nesse aspecto, parte-se da premissa de que a memória social seleciona, utilizando-se de princípios próprios, aquilo que considera importante para o registro social. Cabe ao historiador, nesse sentido, investigar quais os critérios de seleção para que assim possa identificar como a história se transformou com a passagem do tempo. Portanto, “As memórias são maleáveis, e é necessário compreender como são concretizadas, e por quem, assim como os limites dessa maleabilidade” (BURKE, 2000, p.73).

Podemos conceituar memória social como a capacidade de uma determinada coletividade de recordar de um evento não vivido, mas que permanece registrado e é lembrado por diversas gerações. Afirma Cainelli (2005, p. 520) que se trata do convertimento do passado e do presente em tempo único.

A possibilidade de resgatar um determinado fato, por meio da memória, gera a oportunidade de reescrever e/ou reler os acontecimentos vividos. Na realidade, lembrar de fatos rotineiros traz as representações do passado tanto individual como coletivo.

Portanto, pelo efetivo exercício da memória “o ato de rememorar encontra um conjunto de intenções conscientes e inconscientes que selecionam e elegem – escolha que é derivada de incontáveis experiências objetivas e subjetivas do sujeito que lembra.” (2005, apud CAINELLI; MALUF, 1995, p. 70).

Não podemos nos iludir de que é possível lembrar-se de tudo, mas devemos possibilitar como pesquisadores de história oral, de história de vida, situações em que o maior número de lembranças possam aflorar.

A memória representa uma importante fonte para formação histórica, suas várias representações são responsáveis pela consolidação do registro dos eventos que aconteceram em certo período e lugar. Esta fonte embasará, assim, o presente capítulo.

1.1. Memórias populares e oficiais do incêndio da Assembleia Legislativa no ano de 1992.

No dia 30 de abril de 1992, a cidade de Rio Branco teve sua história marcada por um incêndio de grande proporção que atingiu as instalações do Assembleia Legislativo do Acre.

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O referido episódio teve seu ápice representado pelo desespero de três servidores da casa legislativa que ficaram presos no teto da construção e pela precariedade dos equipamentos utilizados pelo Corpo de Bombeiro do Estado do Acre.

De acordo com dados coletados no jornal O Rio Branco, o incêndio foi provocado por um curto-circuito em um ar-condicionado localizado no gabinete do então Deputado Estadual César Messias. O incêndio teve seu estopim às 15 horas e 30 minutos.

À medida que o incêndio se alastrava, formava-se uma concentração de populares em frente ao prédio localizado no centro da cidade de Rio Branco. São, portanto, a memória dos entrevistados pessoas, tanto em forma oral como visual, que norteiam o nosso registro.

As nossas buscas iniciaram pela investigação dos membros do Corpo de Bombeiro que promoveram o resgate.

Jornal A GAZETA

ANO VII – Nº. 2004 – Rio Branco-Ac, sexta-feira, 01.05.1992.

Pág. 9, Repórteres: Chico Araújo, Charlene Carvalho, Ana Virgínia e Edson Luiz.Foto:

Gleilson Miranda

Ilustração I – Fotografia das 03 (três) vítimas no terraço do prédio da assembleia Legislativa – (Maria José, Franciberto Castro e Nazaré castro).

Destacam-se, dentre eles, a representação da memória do Subtenente BM Pedro de Almeida da Silva que foi responsável pelo resgate das vítimas. Vale informar que foi realizada entrevista com o citado profissional, de forma a garantir a fidelidade das informações bem como o seu registro.

O Sr. Pedro de Almeida Silva nos informou que ingressou na carreira militar no ano de 1986. Assim se identificou:

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Pedro de Almeida silva, RG 120070-9, nascido em 19 de junho de 1965 servi o EB em 1984 e sai em 1995, em 07 de fevereiro de 1986 estava entrando no CFAP da PM como Aluno Soldado, terminando o curso por eu ser raquítico segundo a minha estatura 1.65m, com pouco mais de 58 kg fui transferido para o CBMAC, já na estrada da usina hoje morada do sol. Ao chegar na corporação fiquei por muito tempo sem poder está nas atividades de operações, pois fiquei como radio operador atendente de emergência (sic).

Relatou em seu depoimento que no dia do incêndio estava ministrando um curso de mergulho no “tanque” da corporação, quando às 15 horas e 15 minutos “bradou o incêndio”. “E era um brando mais contínuo, e entende-se que é exigindo maior rapidez e o oficial de socorro disse Almeida assume ai que eu vou lá”.

Informou que se lembra de ter lançado, quando da notícia do incêndio, o seguinte questionamento:

E eu perguntei onde seria o incêndio e alguém disse é na Assembleia Legislativa, e perguntei em seguida tem expediente à tarde. Alguém disse não, se não tem não tem vítima pensei eu, continuaremos a instrução. Poucos minutos depois veio o grito do atendente e radio operador (sic).

Com a confirmação de vítimas declarou que o oficial de socorro convocou todos a se apresentarem no local do incêndio. Narrou, ainda, como se deu o deslocamento até a sede do legislativo e qual foram o cenário encontrado.

Eu disse pro motorista pega logo o carro, e corri a seção de salvamento que estava aberta mandei pegar os cabos de salvamento em altura e os 2 freio, 2 aparelho 8, que eu vou pegar minha farda, e corri no alojamento enrolei o fardamento e corri pro carro, pra me vestir no deslocamento. Antes de chegar, na Assembleia o carro que deslocávamos quebrou, e chegamos ao local correndo (grifo nosso). Me apresentei paro Comandante da guarnição que me mandou isolar o local. Até então eu não sabia da situação das três vítimas no prédio em chamas, os ar condicionados, estourando, as explosões causa mais pânico as vitimas e aos Jornal A GAZETA, nº.

2004 – Rio Branco-Ac, sexta-feira, 1.05.1992. Pág. 11,

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Bombeiros. Muitos órgãos envolvidos na operação até o Exercito se fazia presente (sic),

Vale, ainda, registrar a narração do Subtenente BM Almeida em relação ao resgate das vítimas:

(...) e eu me aproximei do prédio um sargento me olhou correu até a mim e me puxou a uma posição visível para ver as vítimas por trás do prédio e disse tu vai subir e já foi tirando os meus calçados e dizendo é melhor subir descalço. Fiz uma cadeira de corda, peguei outro cabo da vida, pra servir de mosquetão (mola) coloquei um dos 2 aparelho 8 no bolso pra minha segurança e o outro pra usar no salvamento das vítimas. E começou a escalada, os ar condicionados explodindo, o prédio tremia, as chamas cada vez mais alta e conseqüentemente um maior calor. Mais o desejo de salvar aquelas vidas que clamava desesperada falava mais alto, principalmente depois de ter assistido os incêndios em vídeos dos prédios Joelma e Andraus no Rio de Janeiro e em São Paulo. Onde as vítimas se lançavam e morriam ao choque com o solo cenas de terror que eu pensava que só ia ver pelas filmagens bombeiros chorando por não ter condições de fazer nada. Mas o prepara físico psicológico técnico, e a confiança no material me dava confiança na escalada, tinha três pontos de apoio entre duas venezianas, onde eu conseguia pegar em uns ferros de sustentação das venezianas quando cheguei no último ferro já bem próximo do terraço local das vítimas fiquei sem força pra subir e pedi pra que me puxassem pra cima, e eles me puxaram com tanta facilidade, que eu vi o quanto eu era leve (sic).

Trazemos à baila, também, descrição dos atos de salvamento detalhadas pelo referido profissional:

Primeiro fiz a cadeira na Senhora Maria José, e a colocamos pendurada pra ser controlada a descida por baixo, e enquanto ela descia eu fazia outra cadeira na Senhora Nazaré esposa do Senhor Franciberto. Quando o povo aplaudiu eu percebi que a vítima já tinha chegado ao solo e puxei o cabo pra colocar do outro lado do prédio, pois aquele que a vítima desceu já não dava mais devido ao fogo. Descemos a segunda vítima, ficando só eu e o Senhor Franciberto, que não tínhamos mais cabo pra fazer a cadeira, pois, o cabo que eu fui fazer a cadeira ficou pequeno surgi ali mais um problema. O chão que eu pisava já estava bastante quente, quando alguém começa a chamar pelo meu nome, eu fui até a lateral, e olhei pra baixo, e eles pedia que eu puxasse uma escada de madeira na corda da segunda vítima para ser colocada sobre outra que já estava armada, e puxamos a escada

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onde eu fiz outra amarração na cintura da terceira vítima e quando ela já estava em segurança eu desci pelo cabo, numa descida mais rápida, pois as chamas já estavam mais fortes. Os homens do Exército Brasileiro um deles me falou que parecia filme, foi só tirar a as três vítimas e Iarga o cabo eles caíram queimados (...) Ao chegar em solo comecei a ficar tonto devido a grande inalação de fumaça e fui levado ao pronto socorro onde passei um tempo no balão de oxigênio(sic).

Ultrapassado a memória do mencionado profissional, passaremos registrar os relatos dos entrevistados.

A Senhora Maria José Solon Paz das Neves, declarou as seguintes palavras sobre o episódio:

Esse incêndio ocorreu no dia 30 de abril de 1992, na época o CBMAC não tinha equipamentos necessários para atender à incêndios de grande porte, mas a força de vontade dos bombeiros era maior que as dificuldades e eu não perdi minhas esperanças, nem minha fé e graça a Deus, eles conseguiram nos salvar (...) Mesmo nervosa e angustiada, eu acreditava que os bombeiros iriam conseguir nos salvar (...) Na época, eu estava trabalhando no gabinete do deputado Nilson Mourão (sic).

Cumpre esclarecer que a Senhora Maria José Solon Paz das Neves não se lembrou de detalhes que aconteceram durante o incêndio, não se sabe o porquê, talvez pelo trauma vivido na ocasião.

Continuaremos a consignar o depoimento dos entrevistados. O Sr. Franciberto Castro narrou o episódio nos seguintes termos:

Jornal A GAZETA, nº. 2004, Rio Branco - Ac, sexta-feira, 1.05.1992.Pág. 12, Foto: Gleilson Miranda.

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Estava preparando o trabalhando quando comecei a sentir cheiro de fumaça, mas pensei que fosse pneu queimando e não dei muita importância, pouco depois percebi que era um incêndio. No lugar de buscar uma saída, optei por avisar às pessoas que estavam nos outros gabinetes do quarto andar do fato e em função disso, quando tentou chegar à escada, o fogo já tinha se alastrado demais. Perdi muito tempo avisando as pessoas, mas não me arrependo de jeito nenhum, fiz o que tinha que ser feito. Em seguida, eu e minha esposa Nazaré tentamos alcançar o terraço e para tanto quebrei uma vidraça do gabinete de Armando Salvatierra. Quando cheguei no terraço, encontrei a secretária do Nilson Mourão e outra mulher que estava em um gabinete e como não tinha conseguido descer a escada, com muito esforço consegui abrir uma porta que nos impedia de sair e comecei a gritar em busca de socorro. Durante todo este tempo, tive muita fé e posso dizer com firmeza que não existe nada pior que a expectativa da morte e esta sensação eu não desejo ao meu maior inimigo, ao pior bandido do mundo, é algo do qual eu nunca esquecerei (sic).

Segundo Jacques Le Goff, pela memória temos a propriedade de conservar certas informações que, por nos remeter a um conjunto de funções psíquicas, permite-nos atualizar impressões e informações passadas ou que representamos como passadas (LE GOFF, 2003, p. 419). O ato de rememoração requer um comportamento narrativo, pois trata-se da “[...] comunicação a outrem de uma informação, na ausência do acontecimento ou do objeto que constitui o seu motivo.” (LE GOFF, 2003, p. 421).

1.2. Memórias populares e oficiais da atuação na alagação do rio Acre no ano de 1997.

O Estado do Acre possui características climáticas particularizadas. Durante os meses de outubro a março a cidade de Rio Branco, localizada na região do Baixo Rio Acre recebe quantidades consideradas de precipitações pluviométricas em seu espaço geográfico e, também, os totais pluviométricos oriundos da região do alto Rio Acre, que ocasiona o significativo aumento do nível das águas do Rio Acre, ao longo de seu curso findado por ocasionar grandes enchentes.

A ocorrência das enchentes causadas por intensas precipitações pluviométricas provoca um longo período de quebra da situação de normalidade em uma determinada região vulnerável e, em decorrência de sua magnitude, necessitam de grandes esforços para a minimização dos danos e prejuízos, acabam por tornarem-se inesquecíveis.

Jornal A GAZETA, nº. 2004 – Rio Branco-Ac, sexta-feira, 1.05.1992. Página 9, Foto: Gleilson Miranda.

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Sobre essa quebra de normalidade e sua influência na memória, assim aduz Verena Alberti:

A memória pressupõe registro – ainda que tal registro seja realizado em nosso próprio corpo. Ela é, por excelência, seletiva. Reúnem as experiências, os saberes, as sensações, as emoções, os sentimentos que, por um motivo ou outro, escolhemos para guardar (ALBERTI, 2005, pág. 167).

A história da cidade de Rio Branco foi marcada por uma alagação que aconteceu no ano de 1997, tendo como ponto culminante a data de 14 de março daquele ano (17,66 m).

A maior enchente já ocorrida no Estado do Acre de que se tem registro começou a ocorrer ainda em dezembro de 1996. A cota do Rio Acre elevou-se de forma vertiginosa e os moradores das áreas atingidas foram retirados de suas residências pelas equipes do CBMAC. Alguns dias depois o nível das águas começou a baixar e as pessoas que estavam em abrigos pressionaram a CEDEC para retornarem às suas residências. Logo em seguida, de forma súbita, o nível do Rio Acre começa a elevar-se, em conseqüência do grande volume de precipitação pluviométrica em um curto período de tempo. (SANTOS, 2003, p. 47)

A enchente de 1997, indubitavelmente, ficou marcada na memória da população da cidade de Rio Branco, em especial aquelas mais vulneráveis a sua ocorrência.

Dentre os fatores que contribuíram para a ocorrência da enchente de 1997, destaca-se, a permanência da população em áreas de riscos, juntamente com o aumento vertiginoso da concentração demográfica nessas mesmas áreas.

A enchente ocasionou tantos prejuízos financeiros ao Estado do Acre e ao Município de Rio Branco que os recursos para o enfrentamento do problema e de suas conseqüências se exauriram, sendo necessária a ação de suporte do Governo Federal.

Dados da Prefeitura Municipal de Rio Branco (PMRB) consideram que a enchente atingiu 17% da população de Rio Branco, estando distribuídas nas áreas urbanas e rurais.

A Situação de Emergência foi declarada por meio do Decreto nº. 6.118, de 22 de março de 1997 e, em conseqüência do agravamento da situação, o Estado de Calamidade Pública foi declarado.

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A alagação do ano de 1997 atingiu vários bairros da cidade de Rio Branco, inundando uma quantidade significativa de residências, obrigando, assim, a retirada de famílias de suas casas. Para ilustrar a informação aduzida, segue abaixo tabela I, demonstrativa dos bairros atingidos:

Bairros Atingidos pela Enchente de 1997 - Zona Urbana.

REGIÃO BAIRROS

Cidade Nova Cidade Nova

Triângulo Triângulo Novo; Comara; Taquari e Quinze 06 de Agosto 06 de Agosto; Santa Terezinha e Bostal Aeroporto Velho

Aeroporto Velho, João Eduardo Sobral, Palheiral,

Bahia, Pista; Glória e Bahia Nova Floresta Volta Seca; Preventório e Papouco Cadeia Velha

Cadeia Velha; Base; Centro Habitasa ;Terminal da Cadeia Velha

Terminal da Av. Ceará

São Francisco Baixo São Francisco; Baixa da Colina e Tropical

Total 28

Fonte: CEDEC/AC

A atuação do Corpo de Bombeiro no resgate dessas pessoas foi bastante expressiva, dando-se principalmente no transporte dos desabrigados para locais destinados ao recolhimento destes. Insta salientar que a atuação dos BM se deve ao fato de, administrativamente, o Corpo de Bombeiro integrar a Defesa Civil.

Partindo de entrevistas realizadas, que os Bombeiros Militares foram responsáveis pelo resgate dessas pessoas, traremos registros por meio de depoimentos dessas vítimas da alagação.

Primeiramente, traremos a visão do evento pela Senhora Cercina Maria Machado de Oliveira, 51 anos. Narrou que sua residência fica localizada no Segundo Distrito, nas proximidades do Rio Acre.

Relatou que os meses de janeiro a março daquele ano foram marcados por intensas chuvas. Narrou, também, como se estabeleceu na sua casa.

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(...) cheguei ainda criança com meus pais a região conhecida atualmente como segundo distrito, constitui família em plena juventude, tenho três filhas e nunca fui procurada pelo governo para saber se preciso de algo. Quando as casas começaram a ser construídas ninguém veio aqui pegar o nome da gente para prestar qualquer ajuda, fiquei triste. Temos cadastros bem anteriores e parece que eles foram esquecidos (...) Eu tenho um fio de esperança. Se eu ganhasse uma daquelas casas, eu não queria saber daqui (sic).

Iniciou sua fala sobre o evento de 1997 afirmando o seguinte:

Desde criança a casa da gente era alagada quando o rio subia, mas nenhuma me marcou tanto como a daquele ano. Lembro que em poucas horas a casa da gente estava alagada e não tínhamos pra onde ir. Lembro de a minha filha do meio ligar para o Corpo de Bombeiro. Depois minha filha disse que o homem do telefone tinha falado que o barco ia demora, pois muita gente tava sendo ajudada (...) depois de muito tempo chegou um homem do bombeiro para ajuda nós e retirar as nossas coisinhas com muita dificuldade. Ah, me lembro que o bombeiro teve muito gosto em nos ajudar, tratando as nossas coisas com muito zelo. (...) Depois dele retirar a gente ele perguntou se eu tinha algum parente,falei que tinha, mas que não tinha espaço pra gente ficar, ai ele falou que a gente ia ficar no Parque de Exposição, ai eu perguntei que parque, ai minha filha mais velha disse que era aquele onde ficava os bois no meio do ano. Quando cheguei ao parque fui uma das primeiras a me acomodar (sic)

Concluiu sua fala sobre o episódio com as seguintes palavras:

Depois de uns três meses que a gente tava no parque eu e meus filhos voltamos para casa. Quando entramos na nossa casa tudo tava sujo e fedendo e cheio de lama preta. O pessoal do bombeiro falo para gente ter cuidado com as doenças que era pra eu ferver a água que agente ia beber e pra eu lavar as comida da gente. (...) o que mais me emocionou foi saber que o homem do bombeiro tava lá para ajuda eu e minhas filhas, com muita dificuldade e poucas pessoas, mas muita coragem pra entrar naquela água (sic).

Antes de expor o depoimento oficial sobre a referida enchente, é interessante registrar a voz de Verena Alberti sobre memória, nestes termos:

“A memória é essencial a um grupo porque está atrelada à construção de sua identidade. Ela é o resultado de um trabalho de organização e de seleção do que é importante para o sentimento de

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unidade, de continuidade e de experiência, isto é, de identidade.” (Verena Alberti, 2005, pág. 167).

Dando continuidade aos nossos registros, transcrevemos trechos do depoimento do BM Frank André Freire Machado, 40 anos. Deu inicio ao seu relato nos seguintes termos:

(...) moro há pelo menos 20 anos em uma das áreas mais afetadas pela cheia do rio no bairro Airton Sena, nunca vi o rio tão cheio como naquele ano. Onde eu moro, todo mundo tem um pouco de meteorologista e todos diziam que o rio tava muito cheio para ser ainda o mês de janeiro. No mês de fevereiro o rio continuou enchendo. O seu “Chico”, o senhor que mora há muito tempo no bairro, disse pra mim que era pra gente se preparar, pois ia ter uma grande cheia. Ele tava certo, no comecinho do mês de março a minha casa já tava debaixo da água. Da janela da minha casa nós ficamos observando o sobe e desce do nível das águas do rio. Aquela Samaúla ali, apontando para a árvore, é como fosse um sinal de alerta. Se em janeiro o troco dela já esta encoberta, nos devemos nos preparar para cheia (sic).

Ultrapassada a citada fala passou a descrever como seu deu sua saída.

Sou bombeiro há 19 anos e nunca tinha presenciado uma situação de tanta calamidade e pior eu era mais uma das vítimas. Minha ex-mulher tava muito triste, pois a nossa casa tava sendo inundada e os nossos móveis deveriam ser retirados. Contei com a ajuda de meus amigos de farda para a retirada das minhas coisas. Lembro muito bem que a nossa corporação não contava com muitos equipamentos para o regaste de vitimas de inundações, como viaturas de pequeno porte. O CB tinha poucos barcos, necessitando que voluntários emprestassem seus barcos e remos para ajudar no resgate. Hoje vivemos uma situação de privilegio, pois temos muitos materiais de socorro. Contei também com ajuda dos meus vizinhos, retribuindo em outro momento com a retirada de seus pertences. Após a retirada das minhas coisas eu e minha família fomos para casa de parentes, permanecendo até o final da inundação (sic).

Continuou descrevendo como se realizava o resgate das vítimas.

Após levar minha família para um lugar seguro, retornei as atividades de ajudar vidas que estavam sofrendo com problema que fui alvo, não somente no meu bairro como também em outros. No iniciou do dia era repassado à situação de cada bairro pelo centro de comando e como seriam distribuídas as atividades de resgate. Montavam-se as equipes que eram distribuídas pelos pontos críticos da cidade. Lembro que a necessidade era tão grande que não tínhamos hora para sair do plantão (...). Houve momento que pensei que não iria agüentar a jornada que estávamos

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sendo submetidos. (...) o que mais me emocionou foi o resgate de uma idosa que morava sozinha, no bairro 06 de agosto, bastante debilitada pela falta de alimentos e água potável, e que nessa hora de tanto sofrimento e dor, não tinha nenhum parente para prestar auxilio.

Os danos e impactos causados pela enchente de 1997 ocorreram em grande intensidade e diversos níveis. O funcionamento de vários segmentos do setor público viu-se prejudicado, o abastecimento d’água tornou-se irregular, os sistemas de infra-estrutura, estradas, pontes, redes de distribuição de energia, serviços de saúde, escolas tiveram que ter suas aulas suspensas para poderem abrigar as famílias desalojadas. (SANTOS, 2003, p.50).

Afirma Jacques Le Goff que uma história é uma narração, verdadeira ou falsa, com base na “realidade histórica” ou puramente imaginária – pode ser uma narração histórica ou uma fábula. (LE GOFF, 1996, pág. 18). Toda história é sempre uma narrativa organizada por alguém em determinado tempo e implica uma seleção. Essa construção ocorre, invariavelmente, no presente, por um ou mais autores.

Às margens desses cursos d’água habitam um grande contingente populacional vivendo em áreas de riscos de enchentes. São aglomerados populacionais que, de acordo com o IBGE, caracterizam-se como assentamentos subnormais.

Os assentamentos subnormais são assim caracterizados por uma série de fatores que vão desde a falta ou deficiência de infra-estrutura sanitária, de transporte, saúde, educação, dentre outros, além de se traduzirem como sendo ambiente extremamente vulnerável a ocorrência de desastres que, no caso particular de Rio Branco, são as enchentes lentas e graduais.

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Ilustração II – Fotografia aérea da Cidade de Rio Branco (Área central)

Fonte: Vectra Engenharia1

1

A figura acima demonstra com clareza o contingente populacional que habita as margens do Rio Acre, em apenas um segmento de seu curso, dentro do território de Rio Branco e que estão susceptíveis a ocorrência de desastres naturais ocasionados pelo incremento das precipitações hídricas. Neste caso, grande parte dos bairros localizados às margens do Rio Acre estão localizados na sua planície de inundação.

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Quando ocorrem chuvas freqüentes e normais, bem distribuídas no período, o leito menor consegue comportar o volume de água, pois não houve o transbordamento de sua calha. As chuvas que se apresentam mais intensas, acima do normal, acabam por extrapolar o leito menor e invadem, de imediato o leito maior. Com efeito, problemas de inundações já começam a ocorrer, embora em pequena intensidade. Com o aumento da intensidade das chuvas, sua persistência em um período considerado, bem como as ações antrópicas ocasionadas pela ocupação desordenada de áreas que fazem parte da planície de inundação, acabam por ocasionar as enchentes. (SANTOS, 2003, p. 34).

Assim sendo, o processo de elevação da cota do Rio Acre, pode ser considerado normal. Entretanto, a partir do momento que essa elevação extrapola o seu leito maior e atinge a sua planície de inundação, essa situação, de acordo com a magnitude do evento e da capacidade de resposta do seu sistema receptor, as enchentes podem ser consideradas históricas.2 Segue abaixo tabela II, demonstrativa das enchentes consideradas históricas.

Demonstrativo das cotas do Rio Acre de 1974 a 1997

ANO COTAS DATA ATINGIDO

S DESABRIGADOS 1974 Máxima – 16,64m Mínima – 3,05m 05 mar 20 set 15.000 2.900 1975 Máxima – 14,00m Mínima – 3,29m 22 mar 31 out 22 08 1976 Máxima – 15,36m Mínima – 3,41m 17 mar 30 set 500 116 1977 Máxima – 15,23m Mínima – 3,00m 27 mar 18 set 500 105 1978 Máxima – 16,90m Mínima – 3,45m 20 dez 05 set 18.000 3.60 1979 Máxima – 16,38m Mínima – 3,47m 29 mar 18 set 500 116 1980 Máxima – 11,38m Mínima – 3,13m 26 mar 17 set 00 00 1981 Máxima – 14,46m Mínima – 3,28m 26 mar 16 set 100 23 2

A tabela acima ilustra as cotas máximas e mínimas do nível do Rio Acre em Rio Branco ocorridos entre os anos de 1974 a 1997. Os quadros destacados na cor cinza revelam grandes enchentes ocorridas, bem como o número de desabrigados. Os dois quadros que se encontram destacados na cor vermelha apresentam as maiores enchentes (históricas) ocorridos no Estado do Acre nos anos de 1988 e 1997.

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1982 Máxima – 15,56m Mínima – 3,32m 01 mar 20 set 2.600 650 1983 Máxima – 13,75m Mínima – 2,90m 23 mar 30 set 17 04 1984 Máxima – 16,22m Mínima – 3,53m 13 abr 03 set 4.000 1.050 1985 Máxima – 14,87m Mínima – 3,00m 28 abr 20 set 300 60 1986 Máxima – 15,76m Mínima – 3,26m 10 fev 05 out 2.600 650 1987 Máxima – 12,34m Mínima – 2,68m 19 jan 03 set 00 00 1988* Máxima – 17,12m Mínima – 3,14m 17 fev 03 set 18.000 3.600 1989 Máxima – 14,18m Mínima – 2,94m 13 fev 06 out 30 12 1990 Máxima – 14,34m Mínima – 2,96m 06 jan 01 set 80 16 1991 Máxima – 15,82m Mínima – 2,78m 27 jan 17 out 3.400 730 1992 Máxima – 13,32m Mínima – 2,89m 17 mar 14 ago 00 00 1993 Máxima – 14,28m Mínima – 2,98m 11 mar 24 set 70 20 1994 Máxima – 14,90m Mínima – 2,80m 13 mar 02 set 500 180 1995 Máxima – 15,14m Mínima – 2,43m 20 fev 14 out 550 170 1996 Máxima – 14,04m Mínima – 2,70m 29 mar 05 out 22 08 1997* Máxima – 17,66m Mínima – 2,96m 14 mar 17 out 22.000 5.800

Fonte: CEDEC/AC - * Maiores enchentes

Nesse contexto, o município de Rio Branco sofreu com a ocorrência de algumas enchentes consideradas de grande magnitude, chegando a ocasionar a quebra da situação de normalidade e ocasionando danos e prejuízos consideráveis. Dentre várias enchentes ocorridas podem ser citadas as de 1974, 1978, 1982, 1984, 1986, 1988, 1991 e, por fim, a do ano de 1997.

1.3. Memórias jornalísticas sobre acontecimentos de repercussão.

Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi determinado como o corpus o discurso midiático dos seguintes veículos: Jornal O RIO BRANCO e A GAZETA – a busca de

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verdades ou consensos históricos para descrever os acontecimentos figura como uma das maiores preocupações dessa escrita pragmática. Como a abordagem jornalística é ampla e essa pesquisa se centra em resgate de memória, a análise textual foi restrita a matérias jornalísticas publicadas referentes ao incêndio da Assembleia no ano de 1992 e alagação na cidade de Rio Branco no ano de 1997.

Foi efetuada a leitura das matérias jornalísticas, feito fichamento e análise. Esse procedimento viabilizou a identificação de práticas jornalísticas relativas à produção de sentido ao narrar os fatos supracitados.

Esses textos jornalísticos permitiram que se pudesse fazer um resgate da memória jornalística sobre o incêndio na Assembleia ocorrido no ano de 1992. A pesquisa é de natureza documental, porque coleta dados de documentos escritos. Desse modo, foram consultados documentos de jornais da capital, tais como: O RIO BRANCO E A GAZETA.

O discurso jornalístico permite a produção da história do homem como agente inserido no contexto social, seja no presente ou no passado e é por isso que os meios de comunicação têm sido utilizados em pesquisas históricas. As mensagens midiáticas são consideradas como fontes pelos historiadores. Elas produzem o real através das significações do processo social. Assim, o importante não é o fato, mas a forma pela quais os sujeitos tomam consciência dele e o relatam.

O historiador francês Jacques Lê Goff propõe que se reconheça em todo documento (testemunho histórico, escolhido pelo cientista) um monumento (um ato de poder, uma intencionalidade de perpetuação de certa visão do passado). Esses documentos são encarados como produto da classe dominante. Alega ainda que como discurso, eles devem ser considerados nas condições concretas em que foram produzidos. É preciso desmontá-los, desestruturar a sua construção e trazer à tona uma pluralidade de leituras possíveis.

Como qualquer instrumento pode ser manipulado pelo detentor de sua posse, com a mídia não seria diferente. Ela será utilizada ou para informar ou para deformar. No processo social, a mídia constrói sentido, de acordo com a ideologia a que está submetida.

Incêndio no coração do Rio de Branco. Estas foram às principais manchetes dos jornais: O Rio Branco e A Gazeta, em 01 de maio de 1992, retratando com exatidão o dia e local do fogo: o cruzamento mais importante do centro da cidade do Rio Branco. Por trás das manchetes estavam os detalhes do incêndio que destruiu, completamente, quatro andares do prédio da Assembleia Legislativa, localizado na esquina da Avenida Rui Barbosa com Rua

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Arlindo Porto Leal. Foi uma Quinta-Feira dia 30 de abril de 1992, conforme batizaram os jornais:

Jornal A GAZETA

ANO VII – Nº. 2004 – Rio Branco-Ac, sexta-feira, 01.05.1992 Pág. 1 - Equipe de cobertura: Repórteres: Chico Araújo, Charlene Carvalho, Ana Virgínia e Edson Luiz. Fotos: Gleilson Miranda, Agenor Mariano, Alberto Nogueira e Nonato de Souza. Edição: Roberto Vaz; Diagramação: Dim e Alfredo Vaz.

Jornal O RIO BRANCO

ANO XXIII – Nº. 4.039 – Sexta-feira, 01.05.1992 Fotos: Rose Peres e Edson Caetano

Diretor Superintendente – Jorge Tomas Editor Chefe – Suede Chaves

O RIO BRANCO e A GAZETA, em suas primeiras páginas. Nas reportagens do dia seguinte, foram lembrados diversos incêndios ocorridos há alguns anos, como em São Paulo que houve a tragédia dos edifícios Andraus e Joelma. A maioria dos jornais, entretanto, não acrescentou a informação que no ano passado, o jornal A GAZETA mostrou, numa reportagem sobre os perigos de incêndios nos prédios da capital, onde o major BM Getúlio Barbosa alertava sobre os perigos na Assembleia Legislativa. “Não tem escadas de emergência ou equipamentos geralmente usados numa situação de incêndio”, observava Getúlio, que mesmo estando de folga, estava ajudando no socorro.

Outro aspecto abordado nas reportagens do dia seguinte ao incêndio foi à ausência de fiscalização ou vistorias e ainda de uma legislação específica que cuidasse da segurança geral das edificações.

Em função do que foi observado durante o estudo nos jornais, foi possível constatar que, para se abstrair o real sentido das matérias veiculadas na mídia, é preciso verificar o modo como a mensagem foi produzida. Dessa maneira, devem-se procurar as motivações e os interesses, e suas condicionantes.

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Quanto à relação textual nas matérias analisadas, foi possível observar o uso das técnicas de comunicação e linguagem nos discursos midiáticos objetivando a persuasão. Essa mesma produção permite que os textos jornalísticos sejam utilizados como fonte de informação para a história.

Não se pode olvidar, porém, que as classes dominantes fazem notícias e controlam a história, pois, as grandes empresas de comunicação estão nas mãos de poucos privilegiados. Como diz Orlandi (2001), os discursos jornalísticos são instrumentos de circulação ideológica dessas classes. Isso implica dizer que o discurso hegemônico veiculado nos espaços públicos, são os discursos das também classes hegemônicas, mesmo que, em algum momento, sejam incluídas as falas dos excluídos desses processos de construções simbólicas.

Os textos de produção jornalística estão condicionados as relações de poder. Submetida aos vários critérios, tais como: político, econômico, (adequação ao espaço diagramado para sua matéria) e dependente do monopólio das fontes oficiais. Anteriormente apenas às matérias principais ou de interesse da direção eram programadas. Entretanto, aquilo que seria apenas instrumento de orientação terminou acarretando em mais uma limitação do jornalista.

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CAPÍTULO 2: MEMÓRIAS DE MILITARES SOBRE ATUAÇÃO DA CORPORAÇÃO.

2.1. A memória escrita dos registros oficiais do CBMAC.

Como fazer história se perdermos a memória? Sem registros minimamente tratados e organizados não se consegue entender como aconteceu o processo de desenvolvimento de qualquer área ou setor de nosso interesse e de nossas vidas.

Os registros do Corpo de Bombeiros do período de 1974 a 2011, não estão constituídos de um lugar adequado, pois o seu acervo não se encontra consolidado em espaço físico adequado. Organizar um Arquivo Histórico permanente é mais que justificável, partindo-se da premissa de que:

(...) todos os vestígios do passado que os homens e o tempo conservam, voluntariamente ou não – sejam eles originais ou reconstituídos, minerais, escritos, sonoros, fotográficos, audiovisuais, ou até mesmo, daqui para a frente, ‘virtuais’ (contanto, nesse caso, que tenham sido gravados em uma memória), e que o historiador, de maneira consciente, deliberada e justificável, decide erigir em elementos comprobatórios da informação a fim de reconstituir uma seqüência particular do passado, de analisá-la ou de restituí-la a seus contemporâneos sob a forma de uma narrativa.3

Percebeu-se, o elevado nível de sensibilidade encontrado junto ao alto comando da corporação que, alertado sobre a eminente deterioração de parte do acervo documental da Unidade, com elevado risco de perdas irreparáveis, e considerando a vulnerabilidade dos documentos e registros feitos em papel, sem maiores delongas manifestou-se favoravelmente.

(...) Administradores tendem a ver os valores imediatos da documentação, não se preocupando com o seu conteúdo histórico. A conseqüência tem sido a destruição indiscriminada ou o acúmulo caótico de conjuntos documentais básicos para a reconstituição do passado (...). Os resultados têm sido, entre outros, a perda de provas de direito dos cidadãos, a imprecisão no fornecimento de subsídios para o processo decisório e sérias lacunas no acervo documental potencialmente importante para a investigação retrospectiva.4

3

ROUSSO, Henry. O Arquivo ou o Indício de uma Falta. in. Revista estudos.

4

Ferreira, Lúcia de Fátima e Morais, Laudereida Eliana. Preservação de Acervos Arquivísticos e Promoção da Cultura Local. In: Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte. Disponível em: www.ufmg.br/congrext/culturcultura21pdf. acesso em 08 de março de 2009.

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A atenção centrada no imediatismo da informação leva à negligência por parte daqueles que deveriam, por obrigação legal, conservar os registros como forma de preservação da memória, pois afirma Jardim:

Desde a mais alta antiguidade, o homem demonstrou a necessidade de conservar sua própria ‘memória’ inicialmente sob a forma oral, depois sob a forma de graffiti e desenhos e, enfim, graças a um sistema codificado (...) A memória assim registrada e conservada constituiu e constitui ainda a base de toda a atividade humana: a existência de um grupo social seria impossível sem o registro da memória ou seja sem os arquivos.5

Quanto falarmos em preservação da memória e conservação de registros, invocamos a relevância dos arquivos como elementos que:

“constituem a memória de uma organização qualquer que seja a sociedade, uma coletividade, uma empresa ou uma instituição, com vistas a harmonizar seu funcionamento e gerar seu futuro. Eles existem porque há necessidade de uma memória registrada”.6

Partiu-se então para a realização de um levantamento, e entende o que eram aqueles documentos, tomando o cuidado de manter a mesma ordem de separação utilizada pela unidade.

Conforme Bernardes:

A avaliação de documentos de arquivo é uma etapa decisiva no processo de implantação de políticas de gestão de procedimentos tanto nas instituições públicas e privadas. (...) Para o administrador que está com os depósitos abarrotados de documentos, sem dúvida, a avaliação sugere uma eliminação imediata do papel, com vistas à liberação de espaço físico. No entanto, se o processo de avaliação não for efetivamente implantado através de tabelas de temporalidade, não tardará muito para que a produção e acumulação desordenadas preencham novamente todos os espaços disponíveis. 7

5

JARDIM, José Maria. A invenção da Memória nos Arquivos Públicos. In: Ciência da Informação – volume 25, número 2, 1995 – artigos. Disponível em: revista ibict.br/index.php/ciinf/article/viewPDFInterstitial/439/397. Acesso em 03 mar 2009.

6

ROBERT, Jean-Claude. Les rapports entre l’histoire e l’archivistique. In: La place de l’archivistique dans la gestion de l’information: perspectives de recherche. Montreal: Université de Montreal, 1990, p 137.

7

BERNARDES, Ieda Pimenta: Como avaliar Documentos de Arquivos. São Paulo: Arquivos do Estado, 1998, p. 12.

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Além do que, a falta de avaliação certamente poderia levar a incorrer no equivoco de eliminar documentos preciosos. Por outro lado, relatos dos militares mais antigos da unidade corroboram as palavras de Bernardes. A limpeza para abertura de espaço foi, até então, prática usual à medida que o depósito de guarda dos documentos “velhos” fora ficando cheio. Isso faz pensar a respeito do prejuízo histórico deixado como herança ou pela ignorância ou ainda, pelo desinteresse de alguns.

Também no sentido de avaliação dos documentos destacamos Jardim:

A quantidade e a variedade de suportes e formatos documentais, de um lado, e a escassez de recursos arquivísticos, de outro, implicam que os documentos produzidos e acumulados por uma organização devam inevitavelmente passar por um processo de avaliação. Esta avaliação teria objetivos aparentemente muito simples: identificar o valor dos documentos de maneira a estabelecer prazos de retenção nas fases corrente e intermediária, definindo assim as possibilidades de eliminação, microfilmagem e recolhimento aos arquivos permanentes. 8

Contudo, essa avaliação torna-se mais difícil, principalmente quando o arquivo não recebeu nenhum tipo de tratamento, não se obedeceu nenhum critério de prazo de guarda ou destruição, não se utilizou tabelas de temporalidades e, além do que:

“ao ser chamado a um arquivo central de um órgão público, o arquivista tem que explicar, com a segurança que lhe garante sua formação profissional, que não vai ‘selecionar’, a seu bel-prazer e gosto, apenas os documentos que contenham temas ‘palpitantes’ ou assinaturas de jornais”.9

Fiquei bastante preocupado em saber o que selecionar para as próximas gerações de pesquisadores, sem incorrer no risco que declara Belloto:

“A história não se faz com documentos que nasceram para ser “históricos”, nem com autógrafos de grandes figuras, nem com documentos isolados que signifiquem o ponto final de algum ato administrativo e sim, ademais de outras fontes, com a “papelada” gerada pelo cotidiano da vida administrativa” 10.

8

JARDIM, José Maria. A invenção da Memória nos Arquivos Públicos. In: Ciência da Informação – volume 25, número 2, 1995 – artigos. Disponível em: revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/viewPDFInterstitial/439/397. Acesso em 03 mar 2009.

9

Bellotto, Heloisa Liberalli. Arquivos Permanentes. Tratamento Documental 2004.2ª edição. Rio de janeiro.FGV,2004.320p.

10

(38)

Portanto, o processo de avaliação torna-se vital para uma boa organização arquivística, não obstante, a responsabilidade dos avaliadores, buscando não preservar, más criar documentos históricos, e dos administradores da instituição, preservando a perenidade dos documentos necessários para a manutenção/releitura da identidade da instituição.

Mesmo sabedores dessa responsabilidade é irresistível seguir ao processo de organizar sem questionar e assim ao levantarmos dúvidas sobre os documentos surgem questões para resolvermos, como por exemplo: Quais eram daquele universo de papéis considerados “velhos”, os documentos históricos? E, toda aquela produção administrativa deveria ser considerada histórica?

Para buscarmos respostas a esses questionamentos, seguimos a separação metodológica utilizada por Barroso (2002, p. 198),11 separando a documentação encontrada em: documentos testemunhais e documentos informativos.

Entende-se por documentos testemunhais aqueles documentos em que a autoridade competente faz assentar informações garantindo sua veracidade, (atas, termos) ou faz emitir documentos que comprovem assentamentos (certidões, etc.) ou que comprovem fatos (atestados). Por outro lado são documentos informativos aqueles documentos que servem de apoio a decisões e resoluções, contendo opiniões para fins específicos (pareceres, informações administrativas, relatórios, informes). Ainda nesse sentido destacamos Bellotto:

A avaliação é feita levando-se em conta o valor dos documentos, que apresenta duas facetas bem distintas: a) Valor primário/administrativo; b) valor secundário/histórico. A tarefa mais árdua, a responsabilidade maior do arquivista é justamente esta, a avaliação, quando ela tem que ser feita a posteriori e não com deveria ser, desde a produção.12

O acervo documental do Corpo de Bombeiros (Rio Branco) é composto de: Partes diárias: Ao final da jornada de trabalho o comandante do socorro escreve um relatório ao comandante da Unidade. Este relato é escrito em livros encadernados de tamanho 30x40cm, e ali estão apontados o número de bombeiros, suas funções e possíveis alterações durante o turno de trabalho. Também podemos encontrar relato resumido de ocorrências, ou outras alterações dignas de nota pela autoridade. Como por exemplo, o relato abaixo que consta no livro do 1º Grupamento de Incêndio - GI:

11

Barroso, Vera Lucia Maciel. Arquivos e Documentos Textuais: Antigos e Novos Desafios. Ciências & Letras - Revista da Faculdade Porto Alegre, Porto Alegre, v. 31, n. 31, p. 197-206, 2002.

12

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“Por volta das 21:20h, do dia 22 de julho, do ano 2000, entrou mais uma ocorrência no centro comunicação do Cbmac. Mais um dos muitos incêndios registrados em nossa capital, e um dos fatos marcantes neste Incêndio, é que, há poucos dias atrás o Corpo de Bombeiros, em conjunto com os Acadêmicos do Curso de Enfermagem da Ufac, havia feito um simulado como seria os atendimentos, caso houvesse um sinistro envolvendo Incêndio e feridos naquela área”. Solicitante: Sr. Carlos José de Almeida e o Oficial de socorro: Otoni dos Santos Miranda - 2º TEN QOBM13

Trouxemos a baila esse relato para termos uma idéia da quantidade de informações relevantes para desenvolvermos um sem número de pesquisas dentro do campo das Ciências Humanas.

Escalas de serviço: É onde podemos verificar qual a função designada a cada militar durante o turno de trabalho.

Livro de ocorrências: Nesses livros encadernados de tamanho 30x40cm estão os relatos das ocorrências atendidas pela corporação de bombeiros durante o turno de trabalho. Ali está o relatório da ocorrência de forma pormenorizada. É o relato de quem participou da ocorrência, descrevendo quais foram às ações tomadas, as medidas de prevenção a acidentes, material empregado, se houve vítimas, perdas materiais etc. É a partir do livro de ocorrências que se torna possível produzir as certidões de ocorrências, documentos requisitados pelas vítimas dos sinistros/acidentes para sanar os prejuízos junto a seguradoras ou outros fins.

Abaixo citaremos o rol de documentos encontrados no depósito da unidade: atestados médicos; escalas de serviço de vários anos; ordens de serviço; ofício recebidos/enviados; memorandos dos vários setores; plano de férias; solicitações de certidão de ocorrências; atividade executadas pela corporação; relatórios da Operação, (estatísticas de ocorrências...); recortes de jornais com noticias de atividades dos bombeiros; documentos diversos, (grande número de caixas-arquivo com vários documentos misturados); boletins internos e Gerais da corporação (vários anos); formulários de ocorrência de bombeiro; livros de controle de despesas no rancho; livro de controle de combustíveis; livros de manutenção das viaturas da Unidade; caixas-arquivo com material de divulgação das atividades de prevenção a incêndios e de acidentes; fotografias (ocorrências, reconstruções da Unidade, manutenção das viaturas, servidores da Unidade, atividades desportivas, visitas ao quartel, etc...).

Como percebemos o fundo documental dominante são as informações referentes à administração da corporação. Entretanto, dentro desse universo documental sem dúvida

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dispõe-se à reminiscência das atividades dos Bombeiros, dos acontecimentos relevantes, das ocorrências marcantes, que ao longo do tempo vão sendo esquecidas, como bem sabemos o quão é traidora nossa memória. Nossa função aqui é justamente essa, preservar uma parte desse passado, tentando quem sabe reescrevê-lo com novos olhares.

Não somos inocentes ao ponto de acreditarmos que aqueles documentos são “A História da unidade”, temos que levar em conta que todo documento é uma montagem que deve ser desmontada, reconstruída e interpretada, buscando compreender os processos que levaram a sua produção e quais os interesses naquele momento por que Le Goff afirma:

“O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto monumento permite à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa.”14

Foi relatado ao longo da pesquisa como está sendo guardada toda a documentação da História do Corpo de Bombeiros da cidade de Rio Branco. Reitero a importância da criação de um Arquivo histórico à medida que a memória de um grupo perde-se ao longo do tempo, e assim uma parte da identidade de uma instituição também desvanece.

Mostrou-se como está construindo o arranjo documental da unidade e quais passos percorrermos para atingirmos nossas metas. Trouxemos uma mostra resumida de que tipo de documento esta trabalhando e quais as especificidades, genericamente apontadas. Destacam-se ainda, a importância para a organização desDestacam-se arquivo pautando nos objetivos em quatro pontos: A administração, aos servidores da unidade, aos pesquisadores e a comunidade em geral.

Entendo que o arquivo da instituição tem uma finalidade específica que é a utilização pela administração seja o arquivo de gestão seja o Arquivo Permanente onde busca-se a informação de um determinado período. Assim, para o historiador a existência do Arquivo organizado e catalogado facilitará a busca por fontes, testemunhos e suportes necessários à execução de suas atividades, à comunidade o Arquivo poderá revelar informações importantes a busca de direitos junto ao governo, ou a instituições privadas, e para os pesquisadores destacamos as palavras de Bellotto:

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