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MUSCULAÇÃO E CONDICIONAMENTO AERÓBIO EM HEMIPLÉGICOS: IMPACTO NO DESEMPENHO MOTOR

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Academic year: 2021

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Rev. bras. fisioter. Vol. 7, No. 3 (2003), 209-215 ©Associação Brasileira de Fisioterapia

MUSCULAÇÃO E CONDICIONAMENTO AERÓBIO EM HEMIPLÉGICOS:

IMPACTO NO DESEMPENHO MOTOR

Teixeira-Salmela,

L.

F.,

Augusto,

A.

C. C., Silva, P. C., Lima,

R.

C. M. e Goulart,

F.

Departamento de Fisioterapia, UFMG

Correspondência para: Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, PhD, Departamento de Fisioterapia, UFMG, Unidade Administrativa 11, 3Q andar, Av. Antônio Carlos, 6627, CEP 31270-901, Belo Horizonte, MO,

e-mail: lfts@dedalus.lcc.ufmg.br Recebido: 5/12/02- Aceito: 7/5/03

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto de um programa de condicionamento aeróbio e fortalecimento muscular, utilizando a musculação como recurso, no desempenho motor de indivíduos hemiplégicos crônicos. Trinta participantes (17 homens e 13

mulheres) com média de idade de 56,36 ± 10,86 anos, com tempo médio de evolução pós-AVC variando de 1 a 14 anos, foram

avaliados antes e após o treinamento. O programa de treinamento, de 30 sessões (3 vezes/semana), Consistiu em sessões supervisionadas de exercícios subdivididas em períodos de aquecimento, exercícios aeróbios, fortalecimento por meio da musculação e resfriamento. Medidas de torque dos principais grupos musculares dos membros inferiores e tronco, de espasticidade do quadríceps, flexores plantares e flexores do cotovelo e punho e medidas de simetria foram utilizadas para avaliar o impacto do programa. Após o treinamento, foram observados valores de torque significativamente maiores que os iniciais em todos os grupos musculares avaliados, sendo os ganhos observados no lado afetado (35,85%) maiores que os do lado não afetado (27,42%), sem aumento concomitante

do grau de espasticidade. Além disso, foi observada melhora significativa (p = 0,019) na simetria na posição ortostática. A musculação

mostrou-se alternativa viável na melhora do desempenho motor em pacientes hemiplégicos crônicos.

Palavras-chave: AVC, fortalecimento muscular, espasticidade, musculação, hemiplegia, condicionamento aeróbio.

ABSTRACT

TThe objective of this study was to evaluate the impact of a combined program of aerobic conditioning and muscle strengthen-ing performed in fitness centers, on the motor performance o f chronic stroke victims. Thirty subjects ( 17 men and 13 women);

mean age of 56.36 ± 10.86 years old; time of onset of CVA (cerebral vascular accident) ranging from 1 to 14 years ago, were

as-sessed before and after training. The 30 session training program (3X week) consisted o f supervi:;ed exerci se sessions subdi vided in to warm-up, aerobic exercises, muscle strengthening using exercise machines and cool-down periods. Measurements of the torque of the main trunk and lower limb muscle groups, of quadriceps spasticity and of plantar elbow and wrist flexors, as well as mea-surements of symmetry were used to evaluate the impact of the program. After training, significantly higher values for torque were found for ali muscle groups, with the gains being larger on the affected side (35.85%) than on the non-affected side (27.42%),

without concomitant increases in spasticity. Moreover, a significant improvement (p = 0.019) was observed in standing

symme-try. Muscle strengthening exercises performed at fitness centers using exercise machines were shown to be a safe and viable al-ternative for training and improving motor performance with chronic stroke victims.

Key words: stroke, muscle strengthening, spasticity, exercise machines, hemiplegia, aerobic conditioning.

INTRODUÇÃO

As seqüelas deixadas pelo acidente vascular cerebral (AVC) são variáveis e incluem alterações sensitivas, cognitivas e motoras, como fraqueza muscular, espasticidade, padrões

anormais de movimento e falta de condicionamento físico.I.2·3·4

Esses déficits podem reduzir a capacidade de realizar tarefas funcionais, limitando a independência e a qualidade de vida

desses indivíduos e contribuindo para uma pobre auto-estima, depressão, isolamento social e deterioração física_l.2.4 O AVC

. tem alta incidência, principalmente em indivíduos idosos,4

e relaciona-se com uma taxa de sobrevivência significativa

de cerca de 79% entre 75 e 84 anos e 67% acima de 85 anos,2

·4

o que evidencia a necessidade de programas com o objetivo de aumentar o nível funcional e a qualidade de vida desses

(2)

210 Teixeira-Salmela, L. F. et ai. Rev. bra.l' .. fi.l'ioter.

Imediatamente após o AVC, há perda do tônus muscular referida como paralisia flácida, estágio que pode permanecer por horas, dias ou semanas. Após esse período, o tônus muscular tende a aumentar e a espasticidade instala-se gradativamente. A espasticidade está associada à exacerbação dos reflexos tendinosos e caracteriza-se pelo aumento da resistência ao alongamento muscular passivo, que aumenta com a velocidade

desse alongamento. 1.3.4·6 Nesses pacientes, há predileção pela

musculatura flexora dos membros superiores e extensora dos

membros inferiores.1

.4·6•7 Esforços para a quantificação da

espasticidade concentram-se em medidas clínicas subjetivas ou em medidas mais objetivas por meio de métodos eletromiográficos, biomecânicos e neurofisiológicos, mas

nenhuma medida uniforme foi atingida. 1.2.4.6 A relação entre

espasticidade e função é controversal.4

·6 e, apesar de existirem

evidências clínicas de que a espasticidade limita os movimentos voluntários, não foram observados benefícios funcionais em

estudos de tratamentos antiespásticos. 1

•4·6·7

A fraqueza muscular tem sido reconhecida como fator limitante na reabilitação motora de pacientes pós-AVC e é refletida pela incapacidade do músculo em gerar força em

níveis considerados normais. 1

·3.4 Mudanças fisiológicas e

morfológicas no músculo plégico podem contribuir para o

déficit de força observado, 1

·3·4·8 e há evidências de déficit

de força nos músculos do membro não afetado de indivíduos

hemiplégicos. 1

·3•4•9·10

Os déficits de força muscular causam impacto significativo no paciente hemiplégico, dificultando a execução de diversas tarefas funcionais, como deambular, realizar atividades cotidianas, fazer compras, visitar os amigos e usar transporte público, levando-o a um estilo de vida sedentário e cada vez mais dependente, agravando, assim, as limitações

já existentes.4 Apesar das evidências da fraqueza muscular10

e das conseqüentes limitações funcionais em hemiplégicos, o fortalecimento muscular não tem sido amplamente utilizado na reabilitação desses pacientes em razão do receio, não comprovado cientificamente, de exacerbação da restrição imposta pelo músculo espástico e de reforço dos padrões anormais de movimento. Entretanto, trabalhos mais recentes que empregaram programas de fortalecimento muscular e/ ou condicionamento aeróbio em pacientes hemiplégicos demonstraram ser possível obter ganhos no desempenho motor

e funcional sem alterar o grau de espasticidade.1

•2.4·11

Benefícios de programas de fortalecimento muscular associados ao condicionamento aeróbio são relatados na

literatura tanto para indivíduos idosos12

•13 quanto para

hemiplégicos crônicos.1

·2•11•12 Porém, a eficácia de um programa utilizando a musculação, um recurso alternativo e disponível na comunidade para fortalecimento muscular, associada ao condicionamento aeróbio, ainda não foi

*

Nicholas Manual Muscle Tester: Model 01160

investigada. Portanto, o objetivo principal deste estudo foi investigar o impacto de um programa de fortalecimento muscular utilizando a musculação associada ao condicio-namento aeróbio no desempenho motor (força muscular, tônus muscular e simetria) de pacientes portadores de seqüela de AVC na fase crônica.

METODOLOGIA Amostra

Participantes com idade acima de 20 anos, portadores de seqüela de AVC isquêmico ou hemorrágico com período de evolução pós-AVC de pelo menos nove meses, apresentando fraqueza muscular e/ou espasticidade no dimídio acometido, foram recrutados na comunidade. Esses indivíduos deveriam: ser capazes de deambular por 15 minutos com intervalos de repouso, podendo utilizar órteses e dispositivos de auxílio à marcha, exceto andadores; apresentar tolerância ao exercício por 45 minutos com intervalos de repouso; obter permissão do cardiologista para pmticipação no treinamento; e apresentar boa compreensão para seguir as orientações durante as avaliações e o treinamento. Os participantes assinaram um termo de consentimento aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UFMG (Parecer 031/99).

Instrumentação e Procedimentos

Dados demográficos relativos à idade, tempo de evolução pós-AVC, lado afetado e utilização de ó11eses e auxílios para a marcha foram obtidos de todos os participantes.

Força Muscular

O dinamômetro manual* foi utilizado para avaliar o torque dos principais grupos musculares dos membros inferiores e tronco, por meio de medidas de torque isomét1ico máximas contra a plataforma do aparelho sustentadas por 4 a 5 segundos, seguindo as orientações do manual do fabricante. Esse equipamento fornece medidas em kilogramas-força (kgf) que foram convertidas em Newton-metro (N.m) com correção da gravidade. Para a correção do torque produzido contra o torque gerado pela gravidade a seguinte fórmula foi utilizada: força (kgf) x 9,81 x distância do eixo

(metros) +massa do segmento (kg) x 9,81 x distância do

centro de massa do segmento (m); e quando a ação foi realiza-da sem influência realiza-da gravirealiza-dade, a fórmula utilizarealiza-da para a conversão foi: força (kgf) x 9,81 x distância do eixo (m). As medidas antropométricas foram baseadas na tabela de

medidas antropométricas proposta por Winter. 14 Bohannon 15

encontrou valores de confiabilidade do dinamômetro manual

de 0,97 a 0,98 (p < 0,01), mostrando ser esse um instrumento

(3)

Yol. 7 No. 3, 2003 Musculação em hemiplégicos 211

Espasticidade

A escala modificada de Ashworth,6 uma escala ordinal

de seis pontos para graduação da resistência encontrada

durante o alongamento passivo, com O correspondendo a um

tônus normal e 4 COITespondendo a um aumento de tônus tão severo que a articulação se encontra rígida, foi utilizada como indicador clínico do grau de espasticidade presente nos flexores de cotovelo e de punho, extensores de joelho e flexores plantares do tornozelo, de acordo com o protocolo

descrito por Bohannon & Smidt, 16 que observaram uma

fidedignidade entre examinadores de 0,847 (p < 0,001) na

avaliação do tônus dos flexores do cotovelo.16

Simetria na Posição Ortostática

O teste Weight Bearing/Squat, do Balance Master

System, * foi utilizado para avaliação da simetria de pé, quantificado pela proporção da porcentagem de distribuição do peso corporal suportada por cada membro inferior em quatro posições diferentes (com os joelhos completamente

estendidos e a 30°, 60° e 90° de flexão).17 Os valores obtidos

a 60° de flexão dos joelhos foram utilizados como parâmetro, uma vez que todos os pacientes conseguiram assumir essa posição. O porcentual do peso corporal foi calculado por meio da divisão da quantidade de peso suportado em um lado do corpo pelo peso total do indivíduo. O valor da razão entre o porcentual do peso corporal do lado afetado e do lado não afetado foi calculado e, quanto mais próximo de 1,0, melhor

o escore encontrado.17

Programa de Treinamento

O programa de treinamento foi realizado no Laboratório de Musculação da UFMG e consistiu em três sessões semanais de exercícios supervisionados, durante 10 semanas. Cada sessão durou de 90 a 150 minutos e todas as sessões foram acompanhadas por música apropriada para a atividade e a idade dos participantes. A freqüência cardíaca foi constantemente monitorada por meio do cardiofreqüen-címetro,** e medidas de freqüência cardíaca e pressão arterial eram registradas antes do início do treinamento, após cada modalidade de exercício aeróbio e no final do treinamento. O treinamento seguiu um protocolo previamente utilizado para indivíduos hemiplégicos crônicos.l.2.4Jl Cada

sessão de treinamento incluiu: (1) um período de 5 a 10

minutos de aquecimento, consistindo em exercícios de alongamento, exercícios de grande amplitude articular e exercícios calistênicos; (2) um período de 30-40 minutos de exercícios aeróbios, incluindo caminhada e bicicleta ergométrica, sendo cada atividade graduada de forma a alcançar no mínimo 70% da freqüência cardíaca máxima

*

NeuroCom's Balance Master®System

**

Polar® Heart R ate Monitor, model # I 901202

baseado na idade;18 (3) exercícios de fortalecimento muscular,

utilizando aparelhos de musculação; e (4) um período de relaxamento, consistindo em alongamento e relaxamento muscular.

O programa de fortalecimento muscular combinou movimentos concêntricos, excêntricos e isométricos da musculatura de membros superiores (rombóides, trapézio, peitorais, tríceps braquial), tronco (paravertebrais e abdominais) e membros inferiores (dorsifJexores e flexores plantares do tornozelo; flexores e extensores de joelho; e adutores, abdutores, flexores e extensores de quadril), utilizando aparelhos de musculação e caneleiras. A carga utilizada respeitou o potencial inicial de cada paciente e foi reajustada adicionando-se banas de resistência graduadas de acordo com o permitido por cada aparelho e a evolução de cada participante. Os exercícios de fortalecimento foram feitos bJiateralmente, com priorização do membro afetado. No membro afetado, foram realizadas

3 séries com 10 repetições cada e, após essas séries, 1 série

de 10 repetições com os 2 membros. O paciente foi orientado a realizar o movimento contra resistência determinada, manter a contração por 10 segundos e retomar. O período de repouso entre as séries e entre os exercícios foi determinado por cada paciente, de acordo com suas necessidades, sendo no mínimo de 30 segundos.

Análise Estatística

O programa SPSS para Windows (versão 10.0) foi utilizado para análise. Estatística descritiva e testes para normalidade (Shapiro-Wilk) foram realizados para todas as variáveis. Distribuições de freqüências foram utilizadas para investigar as medidas relativas ao tônus muscular. Para avaliar a eficácia do treinamento, teste:;-t pareados de Student foram

utilizados. O nível de significància estabelecido foi de a<

0,05. Para avaliar os ganhos obtidos para a força muscular total, os torques gerados pelos MMII foram adicionados e o total foi utilizado na análise.

RESULTADOS Caracterização da Amostra

Trinta participantes (17 homens e 13 mulheres) com

média de idade de 56,36

±

10,86 anos (variação de 34-83

anos), tempo médio de evolução pós-AVC variando de 1 a

14 anos (média de 3,81

±

3,37 anos), 15 com o lado direito

e 15 com o lado esquerdo afetado, média de altura de 1,64 ±

0,09 metro e média de massa corporal de 67,1 O

±

12,26 kg

completaram o programa de treinamento. Desses participantes,

15 utilizavam dispositivos de auxflio à marcha e 10 utilizavam

(4)

212 Teixeira-Salmela, L. F. et al. Rev. bras . .fisioter

Força Muscular

Como demonstrado na Tabela 1, diferenças estatísticas

significativas foram observadas para os valores de torque produzidos pelos principais grupos musculares do tronco e MMII obtidos antes e após o treinamento. Após o programa de intervenção, o torque total para os MMII foi signifi-cativamente maior que o obtido na avaliação inicial, sendo maiores os ganhos observados no lado afetado (35,85%) que os do lado não afetado (27 ,42% ). Ao observar ganhos iso-lados, os maiores foram para os flexores plantares (131,95%), dorsiflexores (143,17%) e extensores de joelho (153,40%)

do lado afetado (Gráfico 1). Os menores ganhos observados,

mas ainda significativos, foram na musculatura de tronco (9,62%), sendo que os valores de torque dos abdominais

foram de 71,31 ± 22,36 N.m na avaliação inicial e de 77,78 ±

21,20 N.m na avaliação final. Para os para vertebrais, os

valores de torque foram de 80,03 ± 21,04 N.m antes da

intervenção e 85,72 ± 21,19 N.m após. O Gráfico 1 demonstra

os valores dos torques isomét1icos máximos de tronco e MMII do lado afetado obtidos antes e após o programa de treinamento.

Tônus Muscular

A Tabela 2 apresenta a distribuição de freqüência dos graus de tônus muscular dos flexores de cotovelo e punho, extensores de joelho e flexores plantares obtida antes e após o programa de treinamento. Nenhuma diferença significativa aparente foi observada para as medidas de tônus muscular dos flexores de cotovelo e de punho, extensores de joelho e flexores plantares do tornozelo obtidas antes e após a

intervenção. Pode-se observar que a freqüência de distribuição dos escores 3 e 4 não aumentou em nenhum grupo muscular. Simetria de Pé

Após o programa de treinamento, os indivíduos apresentaram redução significativa da assimetria na

distribuição do peso corporal de pé (p

=

0,019), com a razão

do porcentual do peso corporal entre os lados afetado e não afetado a 60° de flexão dos joelhos aumentando de 0,73 ±

0,24 para 0,81 ± 0,26 após a intervenção.

DISCUSSÃO

A fraqueza muscular em pacientes hemiplégicos é consenso na literatura, e é bem documentado que as medidas de força muscular são indicativas do nível funcional após

o AVC.1

•2•3.4·9•10•12·19 Medidas de força muscular têm sido

estabelecidas como determinantes do desempenho da marcha em hemiplégicos. Não há dúvidas de que o torque produzido pelos extensores de joelho seja determinante do desempenho da marcha desses indivíduos, correlacionando-se com variáveis como velocidade, cadência, independência, distância percorrida e padrão da marcha.uzo A força dos flexores plantares é reconhecida como importante contribuinte para a progressão anterior durante a fase de impulsão do ciclo

da marcha.1 Olney et al. 21 reportaram o pico de potência dos

flexores de quadril do lado afetado de hemiplégicos, responsável pela retirada do membro do solo no final da fase de apoio e início da fase de balanço, como determinante da velocidade da marcha.

Tabela 1. Média e desvio-padrão dos torques isométricos máximos (N.m) obtidos no pré e pós-treinamento (n = 30).

Membro afetado Membro não afetado

Grupo muscular Pré Pós Ganho Pré Pós Ganho (%) p:5 (%) p:5 Flexores 122,85 ±51 ,83 155,72 ± 56,63 35 0,000 163,92 ± 52,93 190,91 ± 58,82 21 0,001 Quadril Extensores 72,95 ± 33,13 94,96 ± 43,18 35 0,000 95,80 ± 32,00 120,13 ± 34,03 33 0,000 Abdutores 104,95 ± 47,34 127,91 ±57,31 25 0,000 128,17±46,35 153,99 ± 45,04 29 0,001 F1exores Joelho 28,08 ± 17,65 39,58 ± 24,42 51 0,000 44,40 ± 19,87 56,33 ± 20,4 7 36 0,000 Extensores 37,45 ± 28,37 60,54 ± 35,08 153 0,000 60,18 ± 22,29 79,61 ± 29,27 35 0,000 Flexores dorsais 9,11 ± 9,48 15,71 ± 12,97 143 0,000 19,55 ±, 7,56 27,23 ± 9,38 56 0,001 Tornozelo Flexores 12,24 ± 11,63 17,80 ± 15,34 132 0,000 29,28 ± 15,50 37,02 ± 15,30 63 0,008 plantares

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Yol. 7 No. 3, 2003 Musculação em hemiplégicos 213

Tabela 2. Distribuição de freqüências da escala modificada de Ashworth obtidas no pré e pós-treinamento para os grupos musculares dos

membros superior e inferior afetados (n = 30).

Membro superior Membro inferior

Escore Flexores do Flexores do Extensores do Flexores

cotovelo punho Pré Pós Pré

o

10 12 8 1 6 5 4 1+ 4

o

5 2 4 7 3 6 6 8 4

o

o

4

Vários estudos demonstraram que os declínios nas medidas de força muscular e de desempenho funcional associados ao envelhecimento podem ser minimizados por intermédio de programas de fortalecimento.4·13·19·20•22 Fiatarone

et al. 23 encontraram evidências de que o aumento da força

muscular de quadríceps e extensores de quadril resulta em melhora na velocidade da marcha e na habilidade de subir

escadas. Chandler et al. 22 avaliaram diretamente o impacto

do ganho de força no desempenho físico e no grau de incapacidade de idosos fragilizados da comunidade, encontrando associação significativa entre o ganho de força de MMII e a melhora na habilidade de passar de sentado para de pé e em tarefas de mobilidade tais como marcha,

transferências e subida de escadas. Judge et af.24 observaram

aumento na força muscular, na velocidade da marcha e na habilidade para subir escadas após um programa de fortalecimento muscular de MMII e equilíbrio durante 10 semanas em um grupo de idosos fragilizados.

Relatos sobre o treinamento de força e seus ganhos em indivíduos hemiplégicos são escassos, mas todos os estudos encontrados sustentaram a eficácia de exercícios apropriados na melhora da fraqueza muscular, desempenho funcional e qualidade de vida desses indivíduos.L2.4·11·12•25 Teixeira-Salmela

e Teixeira-Salmela et al., 1.2que utilizaram um dinamômetro

isocinético para avaliar os efeitos de 30 sessões de um programa de condicionamento físico e fortalecimento muscular, encontraram ganhos de 53,2% nas medidas de torque dos grupos musculares do membro inferior afetado. Os resultados desse estudo demonstraram ganhos de 35,85% na média de torque total para o membro inferior afetado e de 27,42% para o membro não afetado. As diferenças apresentadas podem ser atribuídas aos diferentes protocolos de treinamento e avaliação

utilizados. Teixeira-Salmela et al. 2 obtiveram medidas de torque

concêntricas por meio do dinamômetro isocinético, enquanto

joelho plantares Pós Pré Pós Pré Pós 9 13 17 5 6 5 11 5 3 4 4 2 3 5 3 3 2 4 8 9 5 5 5 4

o

4 3

no presente estudo as medidas foram obtidas pelo dinamômetro manual, fator que pode justificar as diferenças encontradas. Neste estudo, os ganhos apresentados pela musculatura do joelho afetado foram de 51,06% para os flexores e de 153,40% para os extensores, sendo maiores que os

apresentados na maioria dos outros estudos. Sharp &

Brouwer11 relataram ganhos de 38%-39% nos flexores de

joelho e de 17% nos extensores de joelho após um programa de 6 semanas de treinamento i:;ocinético do joelho. Engardt

et af.25 observaram melhora de cerca de 20% na força dos

extensores de joelho de 10 hemiplégicos crônicos após 6 semanas de treinamento concêntrico e um ganho de 27% após o mesmo intervalo de tempo de treinamento excêntrico da

mesma musculatura. No e~;tudo de Karimi,26 foram

encontrados ganhos de 54%-64% na musculatura flexora de joelho após o treinamento isocinético. Mais uma vez, os diferentes protocolos de treinamento, tempo de treinamento e instrumentos de avaliação podem ser responsáveis pelas diferenças encontradas. Entretanto, deve-se evidenciar que um achado comum a todos os estudos foram os ganhos de força muscular associados a programas de fortalecimento muscular em hemiplégicos.

A utilização de programas de fortalecimento muscular em hemiplégicos desperta a preocupação com seus possíveis

efeitos deletérios sobre o tônus muscular. É importante

ressaltar que não foram observadas, neste estudo, diferenças significativas para as medidas de tônus da musculatura, tanto dos membros inferiores quanto dos membros superiores, após a intervenção. As medidas de tônus muscular foram avaliadas por meio da escala modificada de Ashworth, um teste com alta fidedignidade, que não requer equipamento, simples de ser utilizado e que pode ser aplicado rapidamente, sem gastos

materiais.1

•6 Contudo, uma das limitações dessa escala é a

(6)

214 Teixeira-Salmela, L. F. et al.

Rev. bras . .fisiota

que torna o escore dependente da interpretação do examinador, além da falta de sensibilidade para detectar

alterações discretas do tônus.1

·6 Essas limitações foram

minimizadas com o treinamento apropriado de examinadores. Apesar disso, os resultados encontrados neste estudo estão em conformidade com aqueles encontrados em estudos

que utilizaram medidas biomecânicas da espasticidade.1

·2.11

No estudo de Teixeira-Salmela, 1

foram utilizados três testes diferentes (a escala modificada de Ashworth, o teste de Twang e o teste do pêndulo) para avaliar os efeitos de um programa de fortalecimento muscular no tônus da musculatura extensora de joelho e flexora plantar de 13 indivíduos hemiplégicos, e os resultados indicaram que, independente do teste utilizado, não houve alterações no tônus muscular. A falta de evidências de aumento da espasticidade associado ao programa de treinamento sugere que é possível utilizar um programa de

fortalecimento e seus benefícios sem alterar o tônus muscular.1

•2

Após o programa de intervenção, os pacientes apresentaram melhora da capacidade de descarregar o peso no membro afetado com a diminuição da assimetria na distribuição do peso corporal de pé. Porém, esses resultados devem ser interpretados com cautela, já que não foram encontrados outros estudos que utilizaram a mesma medida. Estudos que investigaram a simetria durante atividades funcionais não encontraram essa melhora. Teixeira-Salmela et al. 12

não observaram alterações na simetria da marcha de

250 200 150 E: 100 z 50 Flexores de quadril Extensores de quadril Abdutores de quadril

13 hemiplégicos cromcos após um programa de fortalecimento muscular e condicionamento aeróbios de 10

semanas de duração. Wall & Tumbu!F7 também não relataram

mudanças na simetria da marcha após um programa de treinamento de força durante 6 semanas em hemiplégicos

crônicos. É importante ressaltar que ambos os estudos

utilizaram indicadores diferentes para avaliar a simetria. Por

exemplo, Teixeira-Salmela et al. 12 utilizaram como indicador

de simetria a proporção de tempo entre as fases de balanço entre os membros afetado e não afetado durante a marcha. Os resultados desse estudo demonstraram ganhos na força muscular dos principais grupos musculares de membros inferiores (flexores e extensores de quadril, joelho e tornozelo) e tronco (abdominais e paravertebrais) após um programa

de musculação e condicionamento aeróbio de 1 O semanas

de duração, sem diferença significativa para as medidas de tônus muscular dos flexores de cotovelo e de punho, extensores de joelho e flexores plantares do tornozelo. Esses resultados sugerem que é possível obter os benefícios do treinamento de força sem comprometimento aparente e/ou perceptível do tônus muscular, utilizando a musculação como recurso. Além de ser alternativa viável na melhora do desempenho motor de hemiplégicos crônicos, a musculação propicia maior utilização dos recursos disponíveis na comunidade e maior autonomia a essa população, favorecendo a reintegração comunitária. Flexores de joelho Extensores de joelho Flexores dorsais

[;J

s Flexores plantares -SOL---~

(7)

Vol. 7 No. 3. 2003 Musculação em hemiplégicos 215

CONCLUSÃO

A musculação mostrou-se alternativa viável, segura e eficaz na melhora do desempenho motor em pacientes hemiplégicos crônicos.

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