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5. Considerações finais

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Academic year: 2021

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5.

Considerações finais

Este estudo procurou explorar a mudança na postura do Estado brasileiro em relação às dinâmicas migratórias de imigração no final do século XIX e início do século XX e da década de oitenta até presente, principalmente em relação às comunidades brasileiras no exterior, levando em conta as dinâmicas de globalização, em geral, e da desnacionalização, em específico. Neste capítulo conclusivo, reflexões acerca dessa relação foram incorporadas a fim de acrescentar um olhar crítico para a discrepância entre as políticas dirigidas aos emigrantes e o tratamento dado aos imigrantes advindos da atual onda de imigração para o Brasil.

Num primeiro momento, reapresentamos os principais argumentos apresentados durante o trabalho, com intuito de resumir as ideias que serão incorporadas ao comentário final. Na segunda seção há uma reflexão teórica, com uma análise crítica das políticas dirigidas aos imigrantes no Brasil, para fundamentar o argumento final, uma alerta para o ‘telhado de vidro’ do Brasil: se o país busca utilizar a questão da emigração brasileira como plataforma para pleitear pelos direitos humanos e de imigrantes como parte da estratégia de se estabelecer como uma voz de peso no atual sistema internacional, é imprescindível que o país adote uma postura com seus imigrantes que sejam consistentes com a que defende para os ‘seus’ migrantes no exterior.

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5.1

Resumo da obra

O trabalho apresentado foi um estudo de sociologia da globalização baseado em Saskia Sassen, em diálogo com Boaventura de Sousa Santos, David Harvey, Manuel Castells e Stuart Hall. A interação entre os conceitos ‘global’ e ‘nacional’ foi discutida para entender a construção gradual de uma relação formal do Estado brasileiro com os seus emigrantes e a criação de uma diáspora brasileira através de uma aproximação bidirecional possibilitada pela compressão

espaço-temporal e uma infraestrutura informacional. Para isso, foi preciso investigar as

transformações dos significados do ‘nacional’ e ‘global’ no contexto da globalização.

A relação entre o Estado e as comunidades brasileiras no exterior foi analisada a partir do recorte temporal principal, do momento após a década de oitenta até o presente. Através de uma política externa que visava maior inserção em fóruns internacionais e uma crescente mobilização de organizações de brasileiros no exterior ao longo das décadas de oitenta e noventa, capacidades foram criadas para uma futura formalização da relação bidirecional entre os emigrantes e o Estado na década de noventa, através de encontros entre organizações de emigrantes e pesquisadores sobre o assunto. O Estado, que no início tinha uma participação pequena da organização desses encontros, começa a desempenhar um papel mais ativo a partir do início do século XXI. Nesse momento, é possível observar um ponto de inflexão, uma mudança institucional na posição do estado brasileiro, coerente com a tendência global de maior atenção no que diz respeito às necessidades de cidadãos residentes no exterior, de tal modo que em menos de dez anos, após sucessivos encontros e discussões, foi criado um conselho representativo para cada região do mundo onde há maior concentração de brasileiros. É possível afirmar, portanto, que houve uma transição de redes informais para estruturar redes mais formais de aliança e articulação. Através de uma análise sobre a atuação dos atores formais — o Estado brasileiro — e de atores informais — as redes de brasileiros no exterior — rearranjos institucionais graduais no aparato estatal brasileiro em duas lógicas organizadoras diferentes, nacional e global podem ser observadas.

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A maioria dos estudiosos analisados faz uma leitura ‘paradigmática’ da globalização, conforme a terminologia de Santos. As teorias apresentadas representam formas alternativas de pensar sobre a globalização, que condiz com a abordagem transdisciplinar almejada, por ir além do escopo das teorias tradicionais de Relações Internacionais, que analisam em sua maior parte a interação entre estados e instituições internacionais e corporações. Apesar dos diversos termos utilizados para tratar da globalização, como redes e fluxos e ascensão de uma sociedade informacional (CASTELLS, 1999), ‘compressão

espaço-tempo na pós-modernidade (HARVEY, 1992; HALL, 1990), sistema-mundial em transição (SANTOS, 2002), todas as teorias estudadas têm como o

fio condutor a ideia de que a globalização não se limita somente à transação de atores mais poderosos, como Estados, multinacionais e instituições internacionais, mas englobam práticas de atores informais (SASSEN, 2006) como imigrantes ou redes de ativistas, até mesmo aqueles que são tradicionalmente tidos como ‘locais’ com a capacidade de resistência e mudança, que podem constituir ‘forças

contra-hegemônicas’ como o cosmopolitismo (SOUSA SANTOS, 2002) numa sociedade civil global (CASTELLS, 1999).

No terceiro e quatro capítulos, foi apresentada a pesquisa empírica. O terceiro capítulo abordou um primeiro momento para contextualizar a emigração brasileira em massa na década de oitenta até o início do século XXI e detectar as capacidades iniciais que possibilitaram o reconhecimento formal do Estado, explorando as mudanças nas atitudes e políticas do Brasil em relação à emigração brasileira. Assim, dois recortes temporais foram feitos: do século XIX até a década de 1950, e a década de oitenta, quando ocorre uma brusca mudança para emigração em massa de brasileiros, para que o caráter inédito das mudanças que ocorreram na década de oitenta no mundo e no Brasil no que concerne a globalização pudesse ser ressaltado.

O principal argumento desenvolvido no terceiro capítulo foi que as mudanças na postura do Estado brasileiro em relação aos emigrantes não se devem somente a um processo de mudança gradual em relação ao tratamento da questão migratória em fóruns globais ao longo da década de noventa, mas de uma crescente organização dos grupos de emigrantes em reivindicar direitos ao estado brasileiro, na medida em que as redes migratórias amadureceram e o tratamento aos imigrantes ‘ilegais’ nos países receptores endureceu. O início desses fluxos

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maiores ocorreu na segunda metade da década de oitenta. Naquele momento, os brasileiros começaram a emigrar em massa, formando redes ‘diaspóricas’ informais em uma nova escala global. Os emigrantes representavam o fracasso econômico, político e social do Brasil e eram vistos de forma negativa, quando não eram inteiramente ignorados pela imprensa e o Estado brasileiro, por se localizarem do lado de fora do campo de atuação do Estado. Devido à maior organização das comunidades brasileiras no exterior e a percepção dessa população como cidadãos, além da mobilização política através do poder do voto externo, um diálogo entre os emigrantes e o Estado é iniciado na década de noventa, por meio da participação, mesmo não ativa, do Estado em encontros com organizações de emigrantes e pesquisas sobre o assunto, construindo capacidades para uma futura interação.

O quarto capítulo abordou a segunda fase. Esse capítulo explorou o processo de formalização que culminou na construção do brasileiro residente no exterior como sujeito político. A segunda fase das relações do Brasil com a emigração brasileira, o ‘ponto de inflexão’ iniciado na era FHC e consolidado na era Lula foi analisado, e o processo de formalização que construiu um novo sujeito político, o ‘brasileiro residente no exterior’ foi explorado. As mudanças ocorridas dentro do estado brasileiro em relação aos brasileiros residentes no exterior foram relacionadas à estratégia da política externa brasileira pós Guerra Fria. Na primeira parte do capítulo, as principais correntes de pensamento diplomático brasileiro foram resumidas para que na segunda parte, o material empírico sobre a relação do Estado brasileiro com a imigração brasileira, tal como as dinâmicas desnacionalizantes ocorridas na formalização das redes e comunidades brasileiras no exterior pudessem ser abordados. Ressaltamos que a eleição de Lula se concretizou, em parte, devido à visão global do Brasil, pois contou muito com a articulação entre grupos sindicais de trabalhadores brasileiros em Boston e de núcleos do PT no exterior.

Através desse estudo, podemos afirmar que as reivindicações dos grupos de emigrantes foram parcialmente atendidas na medida em que foram institucionalizadas. Assim, é através dessa interação bidirecional possibilitada pela globalização e sua infraestrutura informacional que foi possível perceber um

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movimento de desnacionalização parcial. Este seria um movimento parcial porque o elemento nacional não foi eliminado, porém ‘flexibilizado’ e reorientado para agendas que abrangem campos de atuação do Estado, que vão além das fronteiras territoriais. Logo, a presente pesquisa mostra que “o Estado brasileiro tem assumido uma posição mais ativa em relação à situação dos imigrantes ilegais brasileiros” utilizando abusos de direitos humanos sofridos por emigrantes brasileiros em países receptores de imigrantes como plataforma para criticar a crescente securitização da questão de imigração nesses países (REIS, 2011, p. 5).

Desse modo, as comunidades brasileiras no exterior podem ser pensadas como forças subalternas, contra-hegemônicas, informais que foram legitimadas e formalizadas. O Estado brasileiro, parcialmente desnacionalizado, busca maior espaço no cenário mundial para seus cidadãos e empresas, e para faz proveito dos fluxos bidirecionais da globalização com a comunidade, na medida em que as redes de imigração criadas e amadurecidas a partir da imigração em massa de brasileiros na década de oitenta, tão agentes de transformação no Estado quanto o Estado fora agente em sua legitimação. No entanto, apesar do papel chave do legislativo na instauração de uma CPI e como canal para grupos organizados de emigrantes, a aproximação do Brasil com os brasileiros no exterior reflete uma dinâmica da globalização que é a tendência para a maior concentração do poder do Estado para o executivo, reforçado pelo poder judiciário, refletindo a erosão gradual nos direitos de cidadania.

Durante o tempo em que este estudo foi realizado, entre 2010 e 2012, pela primeira vez em quase trinta anos o número de imigrantes entrando no Brasil já superou de emigrantes saindo do país (O Estado de São Paulo, 2012)1, e muitos dos brasileiros residentes no exterior estão regressando (Leahy, 2011)2. O Brasil atualmente se encontra na posição de país receptor de imigrantes além dos povos da América do Sul3. Curiosamente, a postura do Estado brasileiro diante desta

1 “Pela primeira vez em 30 anos, fluxo se inverteu” O Estado de São Paulo, 29/02/12:

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,pela-primeira-vez-em--30-anos-fluxo-\ se-inverteu-,841846,0.htm

2 “Brasileiros no exterior voltam para casa em meio a alta do país no

cenário internacional” Artigo de Joe Leahy, publicado no Financial Times, 23/08/11

3 “Estrangeiros miram mercado de trabalho brasileiro” de 11/08/11 disponível em:

http://economia.ig.com.br/carreiras/estrangeiros+miram+mercado+de+trabalho+brasi\

leiro/n1597128575668.html, “Cerca de 700 haitianos procuram empregos em Manaus” em Refugees United Brasil, 24/09/11:

http://refunitebrasil.wordpress.com/2011/09/24/cerca-de-700-PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1012214/CA

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nova onda de imigração parece ser de total desencontro com a imagem de protetor dos direitos humanos que o Brasil busca construir, o que enfraquece qualquer reivindicação contra a restrição da imigração ou violações de direitos humanos praticadas por governos de países do Norte.

haitianos-procuram-e\mpregos-em-manaus/, “Brasil, la tierra prometida para los imigrantes” La Nacion, 13/11/11: http://www.lanacion.com.ar/1422801-brasil-la-nueva-tierra-prometida-de-los-inmig\rantes , “Brasil vira Meca para mão de obra imigrante” O Estado de São Paulo, 20/11/11: http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,brasil-vira-meca-para-mao-de-obra-im\igrante,800776,0.htm, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 1012214/CA

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