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INDUÇÃO DE ANEMIA APLÁSTICA POR CLORANFENICOL EM RATOS WISTAR MACHOS INDUCTION OF APLASTIC ANEMIA OF CHLORAMPHENICOL IN WISTAR MALE RATS.

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Interbio v.1 n.2 2007 - ISSN 1981-3775 21

INDUÇÃO DE ANEMIA APLÁSTICA POR CLORANFENICOL EM RATOS WISTAR MACHOS

INDUCTION OF APLASTIC ANEMIA OF CHLORAMPHENICOL IN WISTAR MALE RATS.

MARTINS, Aline Andrade1; SCHMITZ, Wanderlei Onofre2

Resumo

A Anemia Aplástica (AA), é caracterizada por um processo de falência medular, levando a pancitopenia no sangue periférico. Diversos medicamentos são relacionados como indutores de AA, sendo o cloranfenicol uma das drogas implicadas no seu desenvolvimento. O objetivo desse trabalho foi verificar o efeito depressor do cloranfenicol sobre a medula óssea de ratos Wistar tratados com o medicamento. Os animais apresentaram uma diminuição significativa de todos os índices hematológicos, sendo que a coleta inicial antes do tratamento apresentou uma média de leucócitos de 9.644±171/mL, a contagem de hemácias foi de 5,4±0,1 milhões/mm3, a concentração de hemoglobina 14,9±0,4 g/dL e o hematócrito de 49,2±1,0 %, após o tratamento com cloranfenicol os valores encontrados foram de 2.417±475 leucócitos/mL, hemácias 3,4±0,2milhões/mm³, hemoglobina 10,6±0,8g/dL e hematócrito de 31,0±1,7%. Este trabalho verificou o efeito depressor do cloranfenicol sobre a medula óssea, observando a queda significativa dos valores hematimétricos encontrados nestes animais. Este estudo contribuiu para a verificação do efeito hematotóxico do cloranfenicol.

Palavras-chave: cloranfenicol, anemia aplástica, medula óssea.

Abstract

The Aplastic Anemia (AA), is characterized by a failure of bone marrow, that leads to a pancitophenia in the peripheral blood. Diverse drugs are related as inductive of AA, being chloramphenicol one of these drugs implied in its development. The objective of this work was to verify the depressor effect of chloramphenicol on the bone marrow in Wistar rats inoculated with the medicine. The animals had presented a significant reduction of all the hematologycals indices, the initial collection before the treatment presented an average of leukocytes of 9.644±171/mL, the counting of erythrocytes was of 5,4±0,1 millions/mm3, the concentration of hemoglobin was 14,9±0,4 g/dL and the hematocrit was 49,2± 1.0%, after the treatment with chloramphenicol, these values that had found was 2.417±475 leukocytes/mL, erythrocytes 3,4±0,2millions/mm ³, hemoglobin 10,6±0,8g/dL and hematocrit of 31,0±1,7%. This work verified the depressor effect of chloramphenicol on the bone marrow, observing a significant reduction of the blood values found in these animals. This study contributed for the verification of the toxic blood effect of chloramphenicol.

Key-Words: chloramphenicol , aplastic anemia, bone marrow.

1 Graduada em Biomedicina do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN. 2006.

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Introdução

A Anemia Aplástica (AA) foi definida por Pasquini e Bitencourt (2004) como o resultado da falência medular, caracterizada pela pancitopenia no sangue periférico, associada a uma medula hipocelular, com substituição do tecido hematopoiético por tecido gorduroso, sem evidências de infiltrações neoplásicas, mieloproliferativas ou fibrose. Essa doença pode ser desencadeada pela exposição a fatores etiológicos, como: drogas, radiação, infecções virais, exposição a inseticidas e em alguns casos a anemia surge durante a gravidez. Mas não basta apenas ser exposto ao agente agressor, deve se levar em consideração a intensidade do agente lesivo e o perfil genético do paciente. Por tanto podemos classificar a AA como adquirida quando ocorre a confirmação do agente etiológico ou idiopática quando o agente causal não é identificado (FONSECA; PASQUINI, 2002).

Uma das drogas mais relacionadas com o aparecimento da AA é o cloranfenicol, sendo que após o seu uso por via oral ou intravenoso, ocorre a diminuição das linhagens sanguíneas, sendo a incidência de AA por cloranfenicol estimada em 1:20.000 e 1:40.000, sendo que a doença aparece dentro de poucos meses (PITA, 2001).

Os principais sintomas da doença descritos por Young (2002), estão diretamente relacionados com a pancitopenia, que é a diminuição de todas as linhagens celulares no sangue periférico do indivíduo. Esta pancitopenia pode levar a episódios de sangramento das mucosas devido a trombocitopenia, um aumento da suscetibilidade do paciente a infecções devido a leucopenia e um quadro de anemia insidiosa causada pela diminuição das hemácias. Segundo Hamerschlak et al. (2005), o diagnóstico da doença é dado após a realização de no mínimo dois hemogramas que apresentem uma diminuição agressiva de todas as células sanguíneas, da dosagem de ácido fólico e vitamina B12 para

descartar a Anemia Megaloblástica que também pode apresentar como característica uma pancitopenia e a dosagem de eritropoetina para descartar problemas renais.

No Brasil a pesquisa do potencial tóxico de medicamentos sobre a medula torna-se muito mais importante, pois a automedicação é um hábito comum na população brasileira, sendo o cloranfenicol um antibiótico de largo espectro e baixo custo, por estas qualidades ele é muito utilizado indiscriminadamente, com isso aumentando o risco de se desenvolver um quadro de Anemia Aplástica. Este trabalho tem como objetivo averiguar as possíveis alterações hematológicas em animais tratados com cloranfenicol.

Classificação da Anemia Aplástica

Podemos classificar a Anemia Aplástica (AA) em adquirida ou constitucional, sendo adquirida quando não há fatores genéticos predisponentes para o seu desenvolvimento e ela ocorre após a exposição do individuo a agentes etiológicos conhecidos. Mas quando o agente causal não é identificado ela é considerada idiopática (TORDECILLA, 2003). Já a constitucional está associada a doenças congênitas, genéticas ou familiares (PASQUINI; NETO, 2004).

Os mecanismos pela qual a AA se desenvolve em determinados indivíduos ainda não estão bem esclarecido. Consideram-se dois possíveis mecanismos: a) lesão intrínseca da célula progenitora hematopoiética; b) participação do sistema imune no desencadeamento e manutenção das citopenias. Dentre estes, o mecanismo mais aceito por pesquisadores é a falência medular como resultado de uma resposta imune anormal especifica ao tecido hematopoiético (PASQUINI, 2004). Este mecanismo tem relação com a produção de citocinas com: Interferon gama (INF-γ), Fator de Necrose Tumoral alfa (TNF-α) que são encontrados em grande quantidade no espaço medular, pois após a exposição do

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paciente ao agente etiológico, ocorre uma infiltração medular de linfócitos T citotóxicos que produzem uma grande quantidade de INF-γ, responsável pela diminuição da produção do fator de crescimento de colônia na medula óssea, diminuindo significativamente a população de Células Pluripotentes responsáveis pelas linhagens sanguíneas (YOUNG, 2002). Além da ação de linfócitos T citotóxicos com produção excessiva de TNF-α e INF-γ, outra citocina parece atuar sobre as células da medula óssea, é a Interleucina 2 (IL-2), que aparentemente atuam diretamente sobre as células hematopoiéticas CD34 (célula pluripotente) as levando a apoptose. A presença dessa citocina no espaço medular ainda não é bem caracterizada, mas sua atuação pode contribuir para depressão medular (HORIKAWA et al.,1997).

Manifestações Clínicas e Diagnóstico Laboratorial

Os principais sintomas presentes nesta doença são reflexos da anemia, leucopenia e plaquetopenia apresentados pelo paciente. Este quadro de pancitopenia geral leva o paciente a apresentar gengivorragias, hematomas pelo corpo, petéquias espontâneas ou hemorragias mais graves resultadas de traumas. Portanto a trombocitopenia é geralmente a responsável pelos primeiros sintomas observados no paciente (PITA et al., 2001; PASQUINI; BITENCOURT, 2004).

A diminuição da produção de hemácias leva a um quadro característico de anemia, com o paciente apresentando: fadiga, dispnéia, zumbidos, palidez da pele e mucosas. Em alguns casos o paciente pode apresentar um mecanismo de adaptação ao quadro de anemia com diminuição das suas atividades para suportar ou tolerar os baixos níveis de hemoglobina sem grandes queixas aparentes (YOUNG, 2002). No caso da leucopenia, o paciente vai apresentar uma maior susceptibilidade a infecções, sendo comum os quadros de infecções recorrentes, infecções por fungos ou até quadros mais

graves como a septicemia bacteriana, a AA é considerada moderada quando os leucócitos foram < 3,500/mm3 e severa

quando os leucócitos forem < 500/mm3 (IAAAS, 1987).

A chave para o diagnóstico laboratorial é a gravidade dos sintomas apresentados pelo paciente, segundo Pasquini et al. (2000) e Pita et al. (2001) a avaliação destes pacientes baseia-se na constatação da pancitopenia no sangue periférico e presença de medula hipocelular. A avaliação da medula óssea deve ser realizada através de biopsia ou mielograma, onde pode-se averiguar a baixa população de células na medula óssea e também as características morfologia das células produzidas nesta medula.

Agentes Etiológicos

Vários são os possíveis agentes causais da AA, dentre eles nós temos: os inseticidas, infecções virais (hepatites, mononucleose), metais pesados, derivados de benzeno, medicamentos (cloranfenicol) e em alguns casos alterações fisiológicas como a gravidez. Porém, como a incidência de AA é muito baixa, ainda é difícil definir o verdadeiro agente causal, sendo na maioria dos casos o agente etiológico desconhecido. (FONSECA; PASQUINI, 2002; ISSARAGRISIL et al., 1997)

A associação da AA à hepatite ocorre geralmente em homens jovens previamente saudáveis que apresentam quadros de hepatites agudas de curso auto-limitado, mas com valores aumentados de aminotransferases e bilirrubinas, estes pacientes semanas após a resolução da doença apresentam severa pancitopenia (YOUNG, 2002). Os estudos realizados por Tordecilla et al. (2003) e Chen (2005) demonstraram que dentre 7 pacientes com AA estudados, 3 tiveram hepatite meses antes de desenvolverem AA, essa resposta tardia da medula dificulta a identificação de qual a cepa viral realmente responsável pela indução ao desenvolvimento da AA. Os pacientes que desenvolveram AA após

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hepatites demonstram ativação de linfócitos T CD8 e aumento na produção de IFN-γ e TNF. Esses fatores estão ligados a inibição da hematopoiese, porém a anemia aplástica desencadeada por infecção pelo vírus da hepatite apresenta uma rápida resolução, respondendo bem ao tratamento de imunossupressão (MACIEJEWSKI; RISITANO, 2005).

A Tailândia é o país que mais tem se preocupado com o possível efeito depressor dos agrotóxicos na medula, esse tipo de exposição está relacionado com 2 a 6% de novos casos de anemia aplástica no mundo (ISSARAGRISIL et al., 1995). Kaufman et al. (1997), realizou um estudo baseado em uma população Tailandesa e observou que a exposição a inseticidas derivados de organofosforados e carbamatos, aumentou em até 70% o risco de um individuo desenvolvera AA, isso ocorreu devido à combinação dos componentes do pesticida chamado DDT. A hipótese mais aceita por pesquisadores sobre a toxicidade dos inseticidas é a produção de metabólitos tóxicos que afetam o tecido hematopoiético da medula óssea e interferem na produção de mediadores químicos necessárias para a formação e proliferação das células hematopoiéticas (CHEN, 2005). Essa toxicidade é explicada pelo mecanismo de abertura do anel benzênico, onde o Citocromo P450 2E1 metabolisa o benzeno em fenol, sendo este o elemento tóxico primário (FONSECA; PASQUINI, 2002).

O primeiro relato de AA durante a gravidez foi descrita por Paul Ehrlich em 1888, sendo também o primeiro caso descrito de AA (YOUNG, 2002). Por razões desconhecidas mulheres podem desenvolver AA durante a gravidez, tendo em geral resolução espontânea ao termino desta. A patogênese parece ser multifatorial, mas em geral o defeito básico é uma produção deficiente ou suprimida de células tronco pluripotentes (TELES et al., 2002). Os principais riscos para as gestantes que desenvolveram AA são as hemorragias e infecções responsáveis por mais de 90% das mortes (ANG et al., 1999). Há relatos de

resolução espontânea da AA, após o parto e também mulheres que desenvolveram a doença em gestações consecutivas, com intervalos livres da doença entre elas. (TELES, et al., 2002)

O cloranfenicol é um antibiótico inibidor da síntese de proteínas nas células bacterianas, é efetivo contra bactérias gram-positivas, gram-negativas e fungos (DEL FIOL et al., 2005). O cloranfenicol é produzido pelo Streptomyces venezuelae e foi descoberto em 1947, desde seus primeiros anos de prescrição seu potencial indutor de anemia aplástica já começou a ser investigado (THOMAS; STORB, 1984).

Vários estudos analisaram a indução a depressão medular pelo cloranfenicol. Turton et al. (1999), utilizou varias dosagens de cloranfenicol que variaram de 800 a 4000 mg/Kg em ratos Wistar e verificou que as reduções das células sanguíneas e células da medula óssea são reversíveis, voltando ao normal dias após a suspensão do tratamento. Em outro experimento Turton et al. (2000), empregaram uma dose de 2000mg/Kg, durante 17 dias e verificaram uma contagem reduzida dos elementos sanguíneos e também de células progenitoras na medula, porém essa redução foi reversível, voltando todos os valores ao normal 17 dias após a última dose de cloranfenicol.

A baixa incidência da AA dificulta a identificação dos agentes etiológicos e indivíduos mais susceptíveis ao desenvolvimento de AA, pois todos os trabalhos realizados apresentam a dificuldade de encontrar um grupo relativamente homogêneo, para exposições a agentes causais e tratamentos. Em 2005, um estudo conduzido por Hamerschlack et al., analisou dados de 7 centros hematológicos brasileiros. O estudo estimou a incidência de AA na América Latina em 2,7 casos/milhão de indivíduos/ano.Incidências maiores estão nos países como México e Tailândia, onde a incidência está estimada em 3,9 e 4,1 casos/milhão de indivíduos respectivamente. Apenas um estudo no Paraná relata que incidência de AA no estado é estimada em

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2,4 casos /milhão de habitantes (MALUF et al., 2002).

Material e Métodos

Animais de experimentação

Neste experimento foram utilizados ratos Wistar machos pesando 250 ± 50g, os animais foram mantidos em gaiolas individuais de polietileno com tampa de aço inox, forrada com serragem, trocada três (3) vezes por semana. A ração granulada e água foram oferecidas “ad libitum”. A temperatura ambiente foi mantida entre 20 e 25ºC, a umidade relativa e os níveis de ruído foram mantidos dentro das condições ideais. O fotoperíodo foi controlado para prover luz das 06:00 às 18:00 horas. Os animais durante a coleta permaneceram sedados por éter etílico (ESTEVÃO et al., 2002).

Delineamento experimental

Os animais foram divididos aleatoriamente em 2 grupos, sendo que o Grupo Controle apenas recebeu o dimetil celulose (diluente do cloranfenicol), já no Grupo Teste os animais foram tratados cloranfenicol (1800 mg/Kg) dissolvido em dimetil celulose. Antes do início do tratamento foi realizada uma avaliação hematológica dos animais (Valores de Referência). O Grupo Teste recebeu durante dez (10) dias, por via oral, uma dose diária de cloranfenicol (1800 mg/Kg, Amplobiotech®). O Grupo Controle recebeu durante dez (10) dias, por via oral, uma dose diária de dimetil celulose (2 mL/dia). Duas coletas foram realizadas após o término do tratamento dos ratos, a primeira coleta foi após cinco (5) dias do término do tratamento a segunda coleta foi após 10 dias do término do tratamento (TURTON et al.,1999). Amostra

Os animais foram sedados durante a coleta utilizando-se éter etílico, foi coletado aproximadamente 2mL de sangue total com

anticoagulante (EDTA). A amostra foi analisada em contador automatizado ABX-Micros®, os exames foram realizados em duplicata, as lâminas de esfregaço hematológico foram examinadas ao microscópio óptico por dois observadores para o relato de possíveis alterações morfológicas das estruturas sanguíneas. Ao final do experimento os animais foram sacrificados com sedação por éter etílico e deslocamento cervical (GARCIA-NAVARRO, 2005).

Análise estatística

Para avaliar os diferentes grupos experimentais foi utilizada a Análise de Variância (ANOVA), Teste T-Student e para comparação entre as médias foi utilizado o Teste de Tukey. Foram considerados como estatisticamente significativos os valores de p < 0,05.

Resultados e Discussão

Apesar de sua baixa incidência a AA é uma patologia de evolução rápida e geralmente letal. As associações da AA com cloranfenicol vêm sendo estudadas desde que o medicamento surgiu no mercado farmacêutico, pois coincidiu com uma epidemia de AA no final dos anos 50. O cloranfenicol é um antibiótico de largo espectro, utilizado principalmente para o tratamento da febre tifóide, salmonelose, de infecções agudas por Haemophilus influenzae e meningites.

Os resultados encontrados nos ratos analisados (tabela 1), referem-se a avaliação hematológica dos animais antes e após a aplicação do cloranfenicol no Grupo Teste e aplicação do veículo dimetil celulose no Grupo Controle, para avaliar o fator estresse e excluir algum tipo de ação da solução de dimetil na depressão medular. A tabela apresenta os valores de referência hematológica dos animais antes do tratamento dos grupos. Podendo se observar que o grupo apresentava uma média de leucócitos de 9.644±171/mL, a contagem de

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hemácias foi de 5,4±0,1 milhões/mm3, a concentração de hemoglobina foi 14,9±0,4 g/dL e o hematócrito 49,2±1,0 %, estes valores servem como parâmetro de comparação após o inicio de tratamento destes animais. Os valores encontrados nos testes são semelhantes aos valores encontrados por Turton et al. (1999) que

realizou um estudo com vários grupos de animais tratando-os com cloranfenicol em doses que variaram de 800 a 2000 mg/Kg durante 7 dias, o estudo também relata que os animais tratados apresentaram uma diminuição nos seus valores hematológicos em relação aos níveis normais, após exposição ao cloranfenicol.

Tabela 1 - Parâmetros hematológicos do Grupo Controle e Grupo Teste.

Grupos Leucócitos (mL) Hemácias (milhão/mm3) Hemoglobina (g/dL) Hematócrito (%) Referência (6) 9.644±171a 5,4±0,1a 14,9±0,4a 49,2±1,0a Controle (6) 1° coleta 6.000±347 b 4,1±0,2b 12,2±0,6b 36,2±1,8c Teste (6) 1° coleta 4.400±347 c 3,6±0,1c 10,7±0,3c 31,8±1,0d Controle (6) 2° coleta 5.763±648 b 4,6±0,2 b 12,9±0,2b 42,0±1,5b Teste (6) 2° coleta 2.417±475 d 3,4±0,2c 10,6±0,8c 31,0±1,7d

Resultados do Grupo Controletratado com dimetil celulose e do Grupo Teste tratados com cloranfenicol (1800 mg/Kg). Os ratos foram avaliados em dois tempos: 5 dias (1° coleta) e 10 dias após o término do tratamento (2° coleta), sendo coletada amostras de sangue total para avaliação hematológica; (6) = número de ratos por grupo analisados; Médias ± erro padrão seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si em nível de p<0,05 (Teste de Tukey).

Os valores encontrados na primeira coleta realizada 5 dias após o término do tratamento do Grupo Controle e do Grupo Teste foram significativamente inferiores aos valores de referência, sugerindo que o cloranfenicol agiu sobre a medula óssea dos animais, diminuindo a produção de células sanguíneas. O Grupo Controle também apresentou uma diminuição da concentração dos valores hematológicos, sendo que estas alterações podem estar associadas ao estresse que os animais foram submetidos, pois da mesma forma em que o Grupo Teste recebia o medicamento, o Grupo Controle recebia o diluente para o cloranfenicol, o veículo dimetil celulose. Os valores inferiores encontrados no Grupo Teste foram estatisticamente inferiores que os encontrados no controle, confirmando a ação do cloranfenicol sobre os ratos.

Os valores do perfil hematológico do Grupo Teste na primeira coleta foi de

4.400±347 leucócitos/mL, 3,6±0,1 milhões de hemácias/mm3 , a concentração de hemoglobina foi 10,7±0,3 g/dL e o hematócrito 31,8±1,0 %, estes valores são inferiores aos encontrados no grupo de referência e de controle (tabela 1). Os valores hematológicos inferiores encontrados na primeira coleta reforçam a idéia de que o cloranfenicol é capaz de induzir a queda dos índices hematológicos em indivíduos tratados com cloranfenicol, demonstrando uma associação direta entre o uso do medicamento e a alteração do perfil hematológico destes ratos. Segundo Turton et al. (2000), que realizou coletas sucessivas nos dias 1, 4 e 15 após a última dose de cloranfenicol, eles também observaram uma queda nos valores hematológicos dos animais tratados com 2000 mg/Kg via oral por 17 dias do medicamento.

Os valores da segunda coleta do Grupo Controle se mantiveram estáveis não

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havendo alterações entre a primeira e a segunda coleta deste grupo, indicando que estes valores se devem a ação do estresse que os animais estavam sofrendo.

Já os valores de leucócitos, hemácias, hemoglobina e o hematócrito encontrados na segunda coleta do Grupo Teste, inferiores aos encontrados na primeira coleta, confirmaram um quadro mais grave de anemia dos ratos com o passar do tratamento com o cloranfenicol, estes resultados confirmam os resultados encontrados por Turton et al. em 1999 e 2000. A diminuição mais abrupta dos leucócitos (gráfico 1) é devido a sua menor meia vida quando comparada com a meia vida das hemácias que é muito maior, provavelmente os valores hematológicos continuariam a cair mais lentamente que os valores de leucócitos.

Controle 1 Teste 1 Controle 2 Teste 2 0 2000 4000 6000 8000 10000 c* a b* Grupos de Animais Cont age m de Le ucóc itos (mL) a

Gráfico 1 – Contagem de leucócitos do Grupo

Controle tratado com dimetil celulose e do Grupo Teste tratados com cloranfenicol (1800 mg/Kg). Os ratos foram avaliados em dois tempos: 5 dias (1° coleta) e 10 dias após o término do tratamento (2° coleta). Médias ± erro-padrão seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si.* p<0,05.

Podemos observar no gráfico 2 a comparação da contagem de hemácias entre os Grupos Controle e Teste, os valores de hemácias encontrados no Teste 1 (3,6±0,1) é inferior ao valor encontrado no Controle (4,1±0,2) este resultado se repetiu no Grupo Teste 2 (3,4±0,2), que também é inferior ao valor encontrado no Grupo Controle 2 (4,6±0,2), esta diferença é estatisticamente significante, indicando que o cloranfenicol

induziu uma diminuição na produção das hemácias nos ratos tratados com cloranfenicol. Outra característica importante é a presença de policromatofilia nos esfregaços sanguíneos do grupo teste, já que policromatofilia é característico da proliferação de hemácias, indicando um aumento na atividade da medula óssea em produzir hemácias (BAIN, 2004), esse dado leva a sugerirmos que anemia causada pelo cloranfenicol é reversível e os índices hematológicos podem voltar ao normal meses ou semanas após a suspensão do tratamento. Segundo Turton et al. (1999 e 2000) o cloranfenicol em seus experimentos induziu apenas uma anemia reversível nos animais testados, independente da dose utilizada, os valores hematológicos inicialmente reduzidos voltaram ao normal dois meses após a suspensão do medicamento. No Grupo Controle não foi observado a presença de policromatofilia.

Controle 1 Teste 1 Controle 2 Teste 2 0 1 2 3 4 5 6 a a Grupos de Animais b* b* Co nt ag em de Hem áci as( mi lh ã o /m m 3 )

Gráfico 2 – Contagem de hemácias do Grupo

Controle tratado com dimetil celulose e do Grupo Teste tratados com cloranfenicol (1800 mg/Kg). Os ratos foram avaliados em dois tempos: 5 dias (1° coleta) e 10 dias após o término do tratamento (2° coleta). Médias ± erro-padrão seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si.* p<0,05.

No gráfico 3 temos a comparação da dosagem da hemoglobina entre os Grupos Controle e Teste, os valores de hemoglobina encontrados no Teste 1 (10,7±0,3) foi inferior ao valor encontrado no Controle 1 (12,2±0,6), este resultado se repetiu no

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Teste 2 (10,6±0,8) que também é inferior ao valor encontrado no Controle 2 (12,9±0,2), esta diferença é significante, indicando que os animais tratados com o cloranfenicol estão apresentando uma anemia induzida por este medicamento, essa diminuição da hemoglobina foi evidenciada pela hipocromia leve presente nos esfregaços sanguíneos dos animais do grupo teste.

A diminuição da hemoglobina no Grupo Teste ficou evidenciada pela presença de hipocromia leve na lâmina de esfregaço sanguíneo destes animais, já no Grupo Controle não houve alterações na concentração de hemoglobina no interior das hemácias.

Controle 1 Teste 1 Controle 2 Teste 2 0 3 6 9 12 15 18 a a b* b* Grupos de Animais Dosag em de Hem o gl ob in a ( g /d L)

Gráfico 3 – Dosagem de hemoglobina do Grupo

Controle tratado com dimetil celulose e do Grupo Teste tratados com cloranfenicol (1800 mg/Kg). Os ratos foram avaliados em dois tempos: 5 dias (1° coleta) e 10 dias após o término do tratamento (2° coleta). Médias ± erro-padrão seguidas por letras distintas diferem significativamente entre si.* p<0,05.

Correlacionando os dados do Gráfico 2 e do Gráfico 3 é possível verificar que os ratos apresentaram uma anemia pela diminuição da produção de células sanguíneas, que se reflete no número diminuído de hemácias, e também pela diminuição da concentração de hemoglobina indicado pela presença de hipocromia no esfregaço sanguíneo dos animais tratados com cloranfenicol. Sendo que as maiores alterações no Grupo Teste foram apresentadas na segunda coleta e estes valores foram ainda menores que os

encontrados na primeira coleta, isso ocorre possivelmente pelo efeito do cloranfenicol e a ativação do sistema imune contra as células precursoras da medula óssea que demandam de alguns dias para ocorrerem, causando a diminuição das linhagens celulares no sangue periférico (YOUNG e BARRET, 1995; TURTON et al., 1999 e 2000).

Conclusões

É possível observar, através dos resultados que a aplicação do cloranfenicol induziu a pancitopenia nos animais do Grupo Teste, porém a presença de policromatofilia nos esfregaços sanguíneos dos animais do Grupo Teste, sugerem que essa pancitopenia provavelmente seria reversível, confirmando dados da literatura já citada. A diminuição das linhagens celulares é a principal característica da AA, mas não podemos afirmar se houve indução da mesma, os dados da pesquisa apenas afirmam que o cloranfenicol possui efeito depressor sobre a medula óssea. Mas este efeito depressor se associado a alguma pré-disposição genética pode acarretar o aparecimento da AA que é uma doença grave e que necessita de cuidados extremos. Os estudo realizados indicam que ainda necessitamos de maiores conhecimentos sobre os mecanismos que levam ao aparecimento da AA e portanto novos estudo devem ser realizados nesta área. Agradecimentos

Aos funcionários e professores do Biotério do Hospital Veterinário e do Laboratório de Análises Clinicas do Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN que colaboraram com este experimento.

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Referências

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