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Academic year: 2021

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Texto

(1)

filosofia contemporânea

carlos joão correia

2016-2017 1ºSemestre

(2)

“O que tem consciência da identidade

numérica de

si próprio

em tempos

diferentes é, a esse título, uma pessoa.”

(3)

Apercepção Transcendental

“O eu penso deve poder acompanhar todas as minhas representações; se assim não fosse, algo se representaria em mim, que não poderia, de modo algum, ser pensado, que o mesmo é dizer, que a representação ou seria impossível ou pelo menos nada seria para mim.”

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1999

2000

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“O leitor está a olhar para esta página, a ler este texto e a elaborar o significado das minhas palavras à medida que vai avançando na leitura. Porém, o que se passa na sua mente não se limita de forma alguma ao que diz respeito ao texto e ao seu significado. Paralelamente à representação das palavras impressas e à evocação de conceitos necessária para compreender aquilo que escrevi, a sua mente revela também uma outra coisa, algo que é suficiente para indicar, a cada instante, que é o leitor e não outra pessoa quem está a ler e a compreender o texto. As imagens que correspondem às suas percepções externas e às percepções daquilo que recorda ocupam quase toda a extensão da sua mente, mas não ocupam a sua totalidade. Para além destas imagens, existe igualmente uma outra presença que o significa a si, enquanto espectador das coisas imaginadas, proprietário das coisas imaginadas e actor potencial sobre as coisas imaginadas. (…) Se esta presença não existisse, como poderia saber que os seus pensamentos lhe pertencem? Quem poderia afirmá-lo? Esta presença é calma e subtil e por vezes é pouco mais do que uma alusão meio aludida e um dom meio compreendido (…). Nesta perspectiva, a presença do si é o sentir daquilo que acontece quando o seu ser é modificado pela acção de apreender alguma coisa. Essa presença tenaz nunca desiste”.

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As imagens que correspondem às suas percepções externas e às percepções

daquilo que recorda ocupam quase toda a extensão da sua mente, mas não ocupam

a sua totalidade. Para além destas imagens, existe igualmente uma outra presença

que o significa a si (…) Se esta presença não existisse, como poderia saber que os

seus pensamentos lhe pertencem? Quem poderia afirmá-lo? Esta presença é calma

e subtil (…). Nesta perspectiva, a presença de si-próprio é o

sentir

aquilo que

acontece

quando

o seu ser é modificado pela acção de apreender alguma coisa.

Essa presença tenaz nunca desiste

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SENTIMENTO DE SI

“Só temos acesso às imagens conscientes na perspectiva da primeira pessoa (as minhas imagens, as suas imagens). Por outro lado, só temos acesso aos padrões neurais na perspectiva da terceira pessoa. Ainda que eu tivesse a possibilidade de observar os meus próprios padrões neurais com a ajuda de uma tecnologia de ponta, estaria sempre a observá-los na perspectiva da terceira pessoa. (362)

“Não devemos cair na armadilha de tentar estudar a consciência exclusivamente do ponto de vista externo, receosos de que o ponto de vista interno esteja irremediavelmente viciado. O estudo da consciência requer tanto a perspectiva interna como a externa.”

António Damásio. O Sentimento de Si. Lisboa: Europa-América. 2000,105.

Cérebro Comportamento

Descrição, através da linguagem, de estados mentais privados

Triângulo de Damásio

Neurologia Etologia

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imagem de si

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“Devo ser eu porque eu estou aqui”. Foi isto que a Emily disse, cautelosa e vagarosamente, ao contemplar o rosto que estava no espelho à sua frente. Tinha que ser ela; tinha-se colocado em frente ao espelho, por sua livre vontade, por isso tinha que ser dela a imagem do espelho, de quem mais poderia ser? Todavia, a Emily não era capaz de reconhecer o seu rosto no espelho, estava certa de que era uma cara de mulher, mas de quem não fazia ideia. Não parecia que fosse a dela, mas também não podia dizer que não fosse, uma vez que não conseguia visualizar a sua face na mente, mesmo que insistisse em recordá-la da memória. (…) A situação mostrava-lhe de forma inequívoca que não podia ser outra pessoa senão ela, e foi isso que aceitou a minha afirmação de que era ela sem qualquer dúvida. (…) Não era capaz de reconhecer o rosto do marido, o dos filhos ou de outros familiares, amigos e conhecidos. (…).

E quantos valores teve a Emily na minha classificação da consciência nuclear? Vinte. Não preciso de vos dizer que a Emily está vígil e atenta sob todos os pontos de vista. A sua atenção concentra-se facilmente e pode ser mantida em toda a espécie de tarefas. As emoções e os sentimentos que refere também são inteiramente normais. O seu comportamento é intencional e adequado em todos os contextos, imediatos ou a longo prazo” 193-196

imagem de si

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reconhecimento de si num espelho

condição necessária

sentimento de si

sim

X

não

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"Nos tempos em que estudava medicina e neurologia, lembro-me de perguntar a algumas das pessoas mais sábias que me rodeavam como é que produzíamos a mente consciente. Curiosamente, a resposta era sempre a mesma: o segredo está na linguagem. Diziam-me que as criaturas sem linguagem estavam limitadas à sua ignorante existência, ao contrário de nós, felizardos humanos, a quem a linguagem permitia conhecer. A consciência era

uma interpretação verbal dos processos mentais em curso. A linguagem

providenciava o afastamento necessário para podermos olhar para as coisas com a distância necessária. Esta resposta pareceu-me sempre muito simples, simples demais para explicar um fenómeno que eu imaginava na altura impossível de explicar dada a sua complexidade. E a resposta não só era simples, mas também improvável, dado o que me era dado ver sempre que visitava o Jardim Zoológico. Nunca acreditei na resposta e agrada-me muito nunca ter acreditado. A linguagem, com as suas palavras e frases, é

tradução de uma outra coisa, é uma conversão de imagens não-linguísticas que representam entidades, eventos, relações e inferências. Se a linguagem funciona em

relação ao si e à consciência do mesmo modo que funciona para todas as outras coisas, ou seja, simbolizando em palavras e frases aquilo que começa por existir de uma forma não verbal, então deverá existir um sentimento de si não-verbal” 133-134

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"A melhor demonstração do que acabo de descrever ocorre em pessoas com aquilo a que chamamos afasia global. Trata-se de uma perturbação de todas as faculdades da linguagem. Os doentes são incapazes de compreender a linguagem, auditiva ou visualmente. Quando se fala com eles não compreendem o que dizemos e não conseguem ler uma única letra ou palavra; não são capazes de falar (…) Não há qualquer prova de que, nas suas mentes atentas, se estejam a formar quaisquer palavras. Pelo contrário, o seu processo de pensamento parece não usar palavras.

Todavia, enquanto manter uma conversa normal com afásicos globais está fora de questão, é possível comunicar com eles, duma forma rica e humana, se tivermos a paciência de nos adaptarmos ao vocabulário limitado e improvisado de sinais não linguísticos que estes doentes inventam e usam. (…) Em termos de consciência nuclear, estas pessoas em nada diferem de mim ou do leitor, apesar da incapacidade de traduzirem o pensamento em linguagem e vice-versa. (…) Posso assegurar-vos que ninguém jamais pôs em causa a integridade da consciência de Earl e que ninguém com bom juízo clínico o faria nos dias de hoje. (…) O Earl não só estava vígil e atento, como também produzia um comportamento apropriado à desgraçada situação que lhe tinha cabido em sorte. Não se limitava a produzir reflexos não pensados e não conscientes. (…) A gratidão dos seres humanos para com a linguagem não requer de todo que a linguagem esteja na origem da consciência.” 135-138

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reconhecimento de si num espelho

condição necessária

sentimento de si

sim

X

não

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A desintegração da memória

1. memória de curto prazo [short-term memory]

amnésia anterógrada: perda da capacidade de memorização a longo prazo, i.e. a incapacidade de aprender algo de novo (i.e. formar novas memórias através da memorização). As pessoas estão constantemente a esquecer-se de informações novas após poucos segundos.

2. memória de longo prazo ou autobiográfica

amnésia retrógrada: as pessoas até podem reter novos eventos, mas são incapazes de recordar total ou parcialmente eventos passados da sua vida

3. “memória” inconsciente, processual ou procedimental (≠declarativa) - hábitos, técnicas, competências linguísticas...

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“O meu amigo David acaba de chegar. Cumprimento-o com um abraço e um sorriso e ele devolve-me o cumprimento. Estou encantado de o ver e ele está encantado de me ver. É tudo tão natural que nem me consigo lembrar de quem sorriu primeiro ou de quem primeiro falou. Não é importante. Tanto o David como eu estamos contentes por estar aqui. Sentamo-nos e começamos a conversar, como é costume entre velhos amigos. Ofereço-lhe café e sirvo-me também. Se o leitor estivesse a observar-nos do outro lado, não teria visto nada que merecesse comentário especial.

Mas esta cena está prestes a mudar quando me viro para o David e lhe pergunto quem sou. Imperturbável, responde-me que sou o seu amigo. Imperturbável, respondo-lhe: “Claro. Mas quem sou eu na realidade, qual é o meu nome?”

“Bem, não sei. Neste momento não consigo lembrar-me. Não consigo mesmo.” “Mas, David, por favor, tenta lembrar-te do meu nome”

Nessa altura o David responde: ‘És o meu primo George.’“ 139-140

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“A perturbação de memória do David é (..) extensa (…) porque não só é incapaz de aprender factos novos como também é incapaz de recordar muito factos antigos. Está-lhe inteiramente vedada a capacidade de recordar o que quer que possua uma natureza singular, quer seja uma pessoa, um objecto ou um acontecimento. A sua perda de memória recua praticamente até ao berço. Existem poucas excepções a este panorama calamitoso. O David sabe o seu nome, o nome da sua mulher e o nome dos filhos e parentes próximos, mas não se lembra da aparência física de nenhum deles, nem do som das suas vozes. Consequentemente, não consegue reconhecê-los em fotografias, antigas ou recentes, ou mesmo em pessoa. (…) Tão profundo é o problema que é difícil imaginar o que poderá ser a mente de uma pessoa de tal modo diminuída. (…) Ou voltando ao tema que nos ocupa: será que o David continua a ter consciência?

No que respeita à consciência nuclear o desempenho do David é exemplar. Para começar, o David está vígil. Como dizem os neurologistas, está «acordado e alerta» (…). Também não há dúvida que o David se comporta atentamente em relação aos estímulos que apresentamos. (…)

O Sentimento de Si (Self) de David está bem presente.”

142-145

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reconhecimento de si num espelho

condição necessária

sentimento de si

sim

X

não

competência linguística [interna ou externa]

X

Referências

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