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O MITO DE NYX E A CRIAÇÃO DO MUNDO MÍTICO GREGO

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Fórum Nacional de Crítica Cultural 2

Educação básica e cultura: diagnósticos, proposições e novos agenciamentos

18 a 21 de novembro de 2010 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CRÍTICA CULTURAL

O MITO DE NYX E A CRIAÇÃO DO MUNDO MÍTICO GREGO

Gilmara Cruz de Araújo1

A origem do mundo sempre foi uma incógnita. A curiosidade de saber como tudo surgiu levou aohomem buscar o entendimento das coisas, justificando a origem de si e tudo que o cerca. Surgiram várias teorias, em diversas culturas e povos, para a explicação e descrição do surgimento do universo.

Historicamente, o mito é uma forma de explicação do mundo, tratando-se de um relato que se faz presente como explicação dessas origens, como uma forma de justificar as inquietações, as crenças de uma sociedade e as razões para estar no mundo. Mais do que isso, o mito está no âmbito das representações, que nas considerações de Roger Chartier, não há "prática ou estrutura que não seja produzida pelas representações, contraditórias e em confronto, pelas quais os indivíduos e os grupos dão sentido ao mundo que é o deles” (CHARTIER, 1991 pp. 176-7).

Vive-se uma sociedade diversificada, caracterizada por uma mistura de etnias, permeada por costumes influenciados por várias culturas, dentre destaca-se a civilização grega. Esta foi principal idéia formadora do pensamento ocidental. A Grécia Antiga foi uma civilização de destaque nas análises historiográficas, especialmente por sua ampla cultura e pensamentos, incansável busca pelo saber, na qual houve grande desenvolvimento da filosofia, religião, artes, arquitetura, esportes, dentre outras áreas. No campo da religião, destaca-se a prática politeísta (culto a vários deuses) como explicação para fenômenos físicos e naturais de tudo que acontece ao redor da humanidade. Dentre alguns dos seus mitos, destaca-se o da Cosmogonia (criação do mundo) e o poder criativo de Nyx, nome denominado à noite. Esta desempenhou papel importante, pois fez parte do mito da criação do mundo, como um dos primeiros seres a existir. Nyx foi o nome denominado a noite, e muitos autores a consideram a mãe dos Deuses, pois acreditavam que ela e Érebo2 haviam precedido todas as coisas.

1

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – CAMPUS II. Bolsista do PICIN/UNEB com a pesquisa em fase inicial denominada: As representações das mulheres “demonizadas”: um estudo teórico, sob orientação da Professora Mestra Maria José de Oliveira Santos.

2 Na mitologia grega, Érebo é irmão de Nix, considerado a personificação da escuridão. Ambos são filhos de

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Os mitos gregos explicam as origens do mundo grego e a compreensão do homem através dos mitos de criação e sua abordagem mítica. Trata-se de povos que buscam tornar o universo compreensivo e fortalecer as estruturas mentais humanas. Ao longo do tempo esses mitos foram transmitidos pela tradição oral, arte e poesia e, posteriormente, foram expressos através das literaturas e desenhos gregos.

Como a discussão incide no mito de Nyx e a criação do mundo mítico grego, é essencial abordar sobre o mito no pensamento dos antigos gregos. O conceito de mitologia grega é dada ao conjunto de lendas e relatos, que, segundo Pierre Grimal (1986) é relatado em textos e monumentos e mostram ocorrências nos lugares de língua grega, entre os séculos IX ou VIII antes da era cristã, épocas em que os poemas homéricos foram escritos.

Os mitos correspondiam a uma forma de explicar e entender o mundo, e, segundo Grimal (1986, p. 7): “[...] cada gesto do herói cujas façanhas são narradas é um gesto criador e implica conseqüência que têm efeitos sobre todo o universo”, percebendo-se que os fenômenos físicos são efeitos de consequência sobre atos humanos. Dados históricos revelam que muitos eram castigados pelos deuses e mantinham todo respeito, fazendo louvores, oferendas, e etc.

Nesse contexto o mito se desenvolveu em epopéia e serviu de apoio ou explicação para crenças e ritos da religião. Para fazer uma analogia entre mito, fantasia e imaginação, Grimal afirma que, em grego, a palavra mito é aplicada a qualquer história narrada. Continuando, afirma que o mito se opõe a logos, como fantasia a razão: “O mito tem por finalidade apenas a si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso apareça ‘belo’ ou verossímil, ou simplesmente por que se quer acreditar” (GRIMAL, 1983, p. 09).

As epopéias de língua grega que temos conhecimento de serem as pioneiras no mundo das poesias escritas são Ilíada e Odisséia, que também são consideradas mitos. No poema

Ilíada os heróis têm ancestrais que são divindades. A Odisséia também, deste modo, ambos

enaltecem conflitos humanos através do mito, percebendo-se fé religiosa:

Zeus e as divindades do Olímpo intervêm materialmente nas questões humanas (pelo menos se acredita nisso) é preciso honrá-los através de sacrifícios, aplacar

seus ressentimentos, conquistar sua confiança por todos os meios.3

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Estudos de Carl Gustav Jung (2000) permitiram a possibilidade de ver nos mitos os caminhos simbólicos que formam a inconsciência coletiva. Os símbolos são pensados por Jung como crenças, costumes, festas e etc., e, entre eles, os mitos se destacam como colaboradores do processo de formação da consciência em conjunto. Os mitos estabelecem caminhos para a existência através do imaginário, enquanto que imagens e fantasias são símbolos que constituem a inconsciência de um coletivo cultural.

O mito consiste na representação de uma mentalidade coletiva passada de geração a geração, procurando explicar a criação do mundo e como os homens o analisam. O mito tenta explicar o incognoscível de acordo à mentalidade de seu tempo, expressando o mundo e a realidade. Assim compreendido, faz-se necessário enxergá-lo com os olhos daqueles que crêem na existência do mesmo, para que possa captar seu sentido real.

Segundo Karl Kerényi, em Os deuses gregos (1998), relatos apresentam a história da origem do universo. Uma das histórias que faz referências a criação das coisas foi transmitida por escritos sagrados e preservados por sacerdotes e devotos do cantor Orfeu (esposo de Eurídice, que tocava harpa para agradar os deuses). Depois foram encontradas em produções de autores de comédias e citadas por filósofos, sendo que, de início, eram contadas por caçadores e habitantes das florestas.

De acordo com o mito da criação das coisas e o mito de Nyx, descrita no livro Os

deuses gregos, tudo era noite e ela era representada por um pássaro de asas negras: “A antiga

noite concebeu do Vento e botou o seu ovo de prata no colo gigantesco da escuridão. Do ovo saltou impetuoso o filho do vento, um Deus de asas de ouro. Eros, o deus do amor” (KERÉNYI, 2004, p. 26), que trouxe a luz. Antigamente acreditava-se que dentro de um ovo de prata escondia-se o mundo inteiro. Acima do ovo estava o vazio (céu) e abaixo o descanso. Outra história relata que o princípio era o Oceano que, acompanhado por sua irmã e depois sua esposa Tétis encontrava-se embaixo do ovo. Ambos eram filhos da que botou o ovo de prata, dando origem à noite.

Nos relatos de Hesíodo consta que, no princípio, tudo era Caos, vazio primitivo que precede toda existência e era uma divindade capaz de gerar, para posteriormente, surgir Géia (terra). Assim, Caos criou primeiro Nyx (noite) e Érebo (escuridão sem luz das profundezas). Nyx apaixonada por Érebo deu luz a Éter (luz do céu) e Hêmera (o dia).

Outras interpretações trazem Nyx como irmã de Gaia (ou Géia, que é a mãe Terra), de Érebo (escuridão), Tártaro (trevas abismais) e Eros (o amor da criação). Nyx apaixonada por

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Érebo deu origem a deuses como: Hemera (o dia), Éter (a luz celestial), Moiras (Cloto, Lachesis, e Atropos, que são deusas do destino), Nêmeses (a ética), Éris (deusa da discórdia), Queres (morte em batalha), Oizus (a miséria), os Oniros (a legião dos sonhos), Momos (escárnio), Geras (velhice), Apate (engano), Filotes (amizade), Tânatos (deus da morte) e Hipnos (deus do sono), esses dois últimos ambos os irmãos gêmeos.

Nyx é considerada uma das primeiras existências da criação do mundo conforme mitologia grega. Representava a padroeira das bruxas e feiticeiras, deusa dos mistérios da noite, dos segredos ocultos e rainha dos astros da noite. Acreditava-se que a noite era responsável por adubar a terra, de onde saiam as ervas encantadas – essa personificação da noite era conhecida, pelos gregos, como Nyx. A noite, na mitologia grega, desempenhou papel importante, como uma das primeiras existências.

A figura de Nyx, coberta com um manto negro, a tornava invisível, por isto, fazia tudo sem que ninguém percebesse. Acima de sua cabeça encontravam-se estrelas, suas asas eram de morcegos e sempre carregava um fanal na mão. Trazia o símbolo da sensualidade, beleza e mistério e, ao mesmo tempo em que tinha imagem benéfica castigava com o terror da noite e da escuridão. É considerada também Deusa da Morte e Rainha das Trevas e que conhecia os segredos da imortalidade dos Deuses: “A noite é uma referência essencial no decurso do ser, pois é ela que torna possível que tudo apareça e possa ser distinguido através da claridade” (ROBLES, 2006, p.31).

A Teogonia (nascimento dos deuses) vai detalhar a origem dos deuses gregos. É o mais antigo tratado da mitologia grega que trata do início dos deuses e do cosmo (Cosmogonia):

Os deuses primordiais (Teogonia de Hesíodo)

Sim bem primeiro nasceu Caos, depois também Terra de amplo seio, de todos sede irresvalável sempre,

dos imortais que têm a cabeça do Olimpo nevado, e Tártaro nevoento no fundo do chão de amplas vias,

e Eros: o mais belo entre Deuses imortais, solta-membros, dos Deuses todos e dos homens todos

ele doma no peito o espírito e a prudente vontade. Do Caos Érebos e Noite negra nasceram.

Da Noite aliás Éter e Dia nasceram, gerou-os fecundada unida a Érebos em amor.

Terra primeiro pariu igual a si mesma Céu constelado, para cercá-la toda ao redor e ser aos Deuses venturosos sede irresvalável sempre.

Pariu altas Montanhas, belos abrigos das Deusas ninfas que moram nas montanhas frondosas. E pariu a infecunda planície impetuosa de ondas

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o Mar, sem o desejoso amor.

Observamos que em lirismo, Hesíodo associa Nyx, como representação da Noite e segue comentando sobre as suas crias:

Os filhos da Noite

Noite pariu hediondo Lote, Sorte negra e Morte, pariu Sono e pariu a grei de Sonhos.

A seguir Escárnio e Miséria cheia de dor. Com nenhum conúbio divina pariu-os Noite trevosa.

As Hespérides que vigiam além do ínclito Oceano belas maçãs de ouro e as árvores frutiferantes pariu e as Partes e as Sortes que punem sem dó: Fiandeira, Distributriz e Inflexível que aos mortais tão logo nascidos dão os haveres de bem e de mal, elas perseguem transgressões de homens e Deuses e jamais repousam as Deusas da terrível cólera até que dêem com o olho maligno naquele que erra.

Pariu ainda Nêmesis ruína dos perecíveis mortais a Noite funérea. Depois pariu Engano e Amor e Velhice funesta e pariu Éris de ânimo cruel.

A patrona das feiticeiras está presente assim, em alguns relatos do mundo antigo, sendo levada para a contemporaneidade, no contexto da magia, no imaginário das mulheres bruxas, que coroaram Nyx, como sua mãe inspiradora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo de um suporte expositivo este artigo apresenta e discute a simbologia da noite, (Nyx) na criação do mundo mítico grego e a revolução sobre o espírito peculiar dos gregos antigos. A teogonia explica o surgimento dos deuses, e, em alguns casos Nyx é considerada deusa da noite. Na cosmogonia, que explica o surgimento do universo (cosmo), Nyx é apresentada como uma das principiantes e que a partir dela surgem os deuses.

Sem Nyx a luz carecia de sentido. Essa explicação nasce nas trevas até alcançar a luz, o que se pode denominar cosmogonia ctônica. Nesse trabalho inicial principia-se o estudo da teogonia ctônica, deixando para ampliá-lo posteriormente, com descrições e reflexões que mostrarão o processo de surgimento dos deuses do Caos até Zeus.

Apesar de a Grécia ter-se destacado em torno de pesquisas desenvolvidas, percebe-se a carência de relatos e estudos sobre a participação de Nyx na criação do mundo mítico grego. Então, esta pesquisa busca dar maior visibilidade, mostrando o papel da supracitada na configuração do mundo mítico grego.

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É importante comentar que, a História Cultural pode trazer uma abordagem mais elucidativa e ampla do mito de Nyx, mostrando as suas representações ao longo do tempo.

A prática de cultuar vários deuses talvez tenha se perdido (reflexo da crença monoteísta vinda através do viés judaico-cristão, mesmo tendo buscado muito da sua espiritualidade e relação com a natureza na Grécia antiga), mas os mitos e seus personagens continuam vivos e se reproduzem através das representações, perpetuando-se em mentalidades coletivas.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia grega. V. I. 9. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. CHARIER, Roger. O Mundo como Representação. São Paulo: Revista Estudos Avançados, 1991.

GRIMAL, Pierre. A mitologia grega. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. KERÉNYI, Karl. Os deuses gregos. São Paulo: Cultrix, 2004.

ROBLES, Martha. Mulheres, mitos e deusas: o feminino através dos tempos. São Paulo: Aleph, 2006.

HESÍODO. Teogonia. A origem dos deuses. Trad. J.A.A. Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1991.

BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: história de deuses e heróis. Rio de Janeiro, 2002.

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