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Rio de Janeiro, 29 de maio de 2017.

À

OTIMIZA SISTEMAS E GESTÃO DE PROCESSOS LTDA. - EPP ATT.: SR. ANDERSON COSTA

Prezado,

Tendo em vista a solicitação de parecer jurídico realizada pela Otimiza Benefícios a respeito de informações referentes ao acesso e controle pelos empregadores sobre os dados de Vale-Transporte dos seus empregados, apresenta-se este Parecer.

A principal indagação proposta para análise do mérito foi a resumidamente a seguinte:

1) É lícito o acesso e controle pelos empregadores de dados referentes à utilização de créditos de Vale-Transporte por seus empregados?

De fato, a questão não possui uma resposta tranquila, principalmente pela falta e superficialidade de decisões, normas e doutrina específica acerca do tema.

Contudo, o presente estudo tem como objetivo esclarecer as principais controvérsias e opinar, sob o aspecto jurídico, acerca da possibilidade.

I – VALE TRANSPORTE

Para iniciar o estudo desta matéria, devemos analisar a legislação federal sobre a instituição e forma de concessão de Vale-Transporte.

1.1 – Natureza do Vale-Transporte

De acordo com a Lei n°. 7.418/1985 e o Decreto n°. 95.247/1987, o Vale-Transporte é um benefício que deve ser antecipado ao empregado para utilização efetiva em despesas de deslocamento residência-trabalho e vice-versa, sendo certo que este deslocamento é entendido como a soma dos

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segmentos componentes da viagem do beneficiário por um ou mais meios de transporte, entre sua residência e o local de trabalho.

O Vale-Transporte não possui natureza salarial, mas sim indenizatória, e não pode ser concedido em pecúnia, nos termos da lei, devendo ainda ser custeado pelo beneficiário, sendo certo que o empregador fica responsável pela parcela que exceder a 6% (seis por cento) do salário base do empregado.

Vejamos:

Art. 1º Fica instituído o vale-transporte, que o empregador, pessoa física ou

jurídica, antecipará ao empregado para utilização efetiva em despesas de deslocamento residência-trabalho e vice-versa, através do sistema de transporte

coletivo público, urbano ou intermunicipal e/ou interestadual com características semelhantes aos urbanos, geridos diretamente ou mediante concessão ou permissão de linhas regulares e com tarifas fixadas pela autoridade competente, excluídos os serviços seletivos e os especiais.

Art. 2º - O Vale-Transporte, concedido nas condições e limites definidos, nesta Lei, no que se refere à contribuição do empregador:

a) não tem natureza salarial, nem se incorpora à remuneração para quaisquer efeitos;

(G.n.)

Sendo assim, o benefício do Vale-Transporte é concedido ao empregado após este informar os transportes utilizados para seu deslocamento da residência para o trabalho e vice-versa, pelo que o empregador poderá fazer o desconto do valor referente ao Vale-Transporte diretamente do contracheque do empregado, respeitado o limite anteriormente citado.

1.2 – Créditos de Vale-Transporte

Diante disso, cabe ao empregador fornecer o Vale-Transporte ao empregado, o que no Estado do Rio de Janeiro é realizado por meio do sistema de bilhetagem eletrônica – maior parte do Estado -, com a utilização de cartões inteligentes (smart cards), cartões estes que são previamente carregados com créditos para posterior utilização na rede pública de transporte coletivo.

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Vale esclarecer que as empresas empregadoras solicitam estes cartões para as empresas gestoras dessas tecnologias, efetuando o pagamento pelos créditos solicitados. Assim os cartões são carregados com os créditos correspondentes em cartões pessoais, os quais devem ser utilizados pelos empregados exclusivamente para o deslocamento profissional supracitado.

Todo o sistema de compra, disponibilização e controle dos créditos de Vale-Transporte é realizado por uma plataforma digital disponibilizada pela gestora dos cartões, concessionária de serviço público.

1.3 – Natureza dos dados de Vale-Transporte

No que tange à natureza dos dados referentes aos Vales-Transportes dos empregados de empresas, importante destacar que não possuem caráter de “dado pessoal” e não gozam de privacidade para fins de proteção que proíba o acesso pelos empregadores.

Vale destacar que os dados constantes em sistema informatizado das gestoras e os extratos de utilização do Vale-Transporte apenas apresentam dados já conhecidos pelo empregador ou registro das utilizações que, a priori, foram antes declaradas e apresentadas ao empregador, como determina a legislação em vigor, não havendo que se falar em privacidade.

Além dos dados básicos de cadastro do usuário (empregado), já conhecidos pelas empresas usuárias (empregadoras), os sistemas possuem apenas dados que já devem ser de conhecimento destas empresas, nos termos do Decreto 95.247/1987, o qual determina a apresentação prévia de informações. Vejamos:

Art. 7° Para o exercício do direito de receber o Vale-Transporte o empregado informará ao empregador, por escrito:

I - seu endereço residencial;

II - os serviços e meios de transporte mais adequados ao seu deslocamento residência-trabalho e vice-versa.

§ 1° A informação de que trata este artigo será atualizada anualmente ou sempre que ocorrer alteração das circunstâncias mencionadas nos itens I e II, sob pena de suspensão do benefício até o cumprimento dessa exigência.

§ 2° O benefício firmará compromisso de utilizar o Vale-Transporte exclusivamente para seu efetivo deslocamento residência-trabalho e vice-versa.

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§ 3° A declaração falsa ou o uso indevido do Vale-Transporte constituem falta grave.

II – GESTORA DO VALE-TRANSPORTE

2.1 – Concessionária de serviço público

Em regra, as gestoras dos sistemas de emissão e gestão de Vale-Transporte são empresas privadas que detém a concessão pública para explorar os serviços.

Em grande parte do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a gestão da bilhetagem é feita pela FETRANSPOR, por meio das empresas do grupo RIOCARD da RIOPAR PARTICIPAÇÕES S.A. (“RIOCARD”), em virtude da delegação dos serviços na forma da lei.

III – RELAÇÃO ENTRE EMPRESA E CONCESSIONÁRIA

As empresas que precisam fornecer Vale-Transporte para seus empregados devem adquirir os cartões junto às empresas gestoras da tecnologia, bem como disponibilizar os créditos necessários aos deslocamentos de seus empregados nos trajetos “casa-trabalho-casa”.

Sendo assim, estas empresas tem uma relação direta com as gestoras do Vale-Transporte, pois são usuárias dos serviços prestados pelas concessionárias, consumidoras deste serviço e usuárias do sistema informatizado disponibilizado.

3.1 – Relação de Direito Administrativo

Como já explicado, as empresas gestoras de Vale-Transporte, como a RIOCARD, são empresas privadas que obtém a concessão pública para exploração do serviço, que possui natureza de serviço público.

No Rio de Janeiro, a FETRANSPOR detém a autorização para tais serviços por meio da delegação realizada pelos Consórcios das empresas de transporte do Estado do Rio de Janeiro, que delegaram as atividades de emissão, comercialização e distribuição do Vale-Transporte, por meio do “Acordo Operacional – Bilhetagem Eletrônica”, nos termos do artigo 5º, §3º, da Lei nº. 7418/85:

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Art. 5º - As delegatárias dos serviços públicos de transporte coletivo de passageiros por ônibus serão responsáveis pelo custeio, implantação e gerenciamento do Sistema de Bilhetagem Eletrônica, assegurado ao Poder Público o acesso às informações processadas pela Central de Controle e necessárias ou úteis ao planejamento e fiscalização do Sistema pela Secretaria Estadual de Transportes.

§ 3º - É permitida a subdelegação das atividades de implantação e gerenciamento

do Sistema exclusivamente a entidades sindicais representativas de delegatárias. (G.n.)

Sendo assim, o grupo RIOCARD também é considerado como concessionária, mas do serviço de emissão, comercialização e distribuição do Vale-Transporte, sendo a responsável por intermediar a relação entre as empresas compradoras de crédito e as prestadoras de serviço de transporte, nas quais os créditos serão utilizados pelos funcionários das empresas compradoras.

O Contrato de Concessão é precedido de licitação e está disciplinado pela Lei nº. 8.987/1995 e, no caso do Vale-Transporte, tem previsão também no Decreto nº 95.247/ 1987. Vejamos:

Lei nº. 8.987/1995

Art. 2o Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se:

II - concessão de serviço público: a delegação de sua prestação, feita pelo poder

concedente, mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica

ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por

sua conta e risco e por prazo determinado; (G.n.)

Art. 4o A concessão de serviço público, precedida ou não da execução de obra pública, será formalizada mediante contrato, que deverá observar os termos desta

Lei, das normas pertinentes e do edital de licitação. (G.n.)

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Art. 15. Havendo delegação da emissão e comercialização de Vale-Transporte, ou

constituição de consórcio, as

empresas operadoras submeterão os respectivos instrumentos ao poder concedente ou

órgão de gerência para

homologação dos procedimentos instituídos.

Diante disso, sendo as empresas adquirentes dos serviços prestados por tais concessionárias, no caso do Vale-Transporte, estas devem ser entendidas como usuários do serviço público, tendo todos os direitos e deveres desta relação na forma da lei.

3.2 – Relação Consumerista

Da mesma forma, também estão enquadrados no conceito de consumidor as empresas que utilizam os serviços prestados pelas gestoras dos Vale-Transporte, uma vez que estas fornecem um serviço de gestão informatizada dos cartões às empresas e estas utilizam como destinatário final, sendo certo que o serviço de gestão difere do serviço final de transporte, este sim utilizado em última instância pelos empregados das empresas.

Assim dispõe o Código de Defesa do Consumidor, Lei n. 8.078/1990, em seus artigos 2º e 3º:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. (G.n.)

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (G.n.)

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante

remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,

salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (G.n.)

Não restam dúvidas, portanto, da aplicação da legislação consumerista na relação de vunlerabilidade técnica existente entre as empresas que adquirem cartões de Vale-Transporte e as empresas gestoras da tecnologia, ainda que tais cartões sejam utilizados também pelos usuários empregados por tais empresas.

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IV – FUNDAMENTOS JURÍDICOS

4.1 – Ausência de Proibição legal

Inicialmente, importante esclarecer que não há nenhuma previsão legal expressa que impossibilite os empregadores de terem acesso aos extratos de uso dos cartões de vale-transporte, mas ao contrário, existe legislação que estabelece diversas informações que devem ser prestadas pelos empregados usuários do Vale-Transporte, como já exposto anteriormente.

4.2 – Possibilidade de acesso e controle

Analisando inicialmente o site da RIOCARD

(https://www.cartaoriocard.com.br/rcc/paraEmpresa) verificamos que a empresa possui soluções para dois tipos de Usuários, os quais esta separa nos tópicos: “Para Empresas” e “Para você”, deixando claro que tanto as empresas compradoras como os usuários dos cartões são clientes dos serviços que prestam.

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Nesta condição, as empresas adquirem os serviços de gestão do Vale-Transporte, efetuando pagamento por isso e se vinculando, por um contrato de adesão padrão, à empresa gestora da tecnologia, a qual passa a ser prestadora do serviço para as empresas e empregados.

Portanto, estas empresas devem ser consideradas usuárias do serviço público prestado em caráter de concessão, se submetendo ao que a Lei de Concessões estabelece em relação ao direito de prestação de serviço adequado, entre outros. Isso, por si só, já seria motivo para acesso e controle do sistema de Vale-Transporte dos empregados pelas empresas, já que estas adquirem os serviços. Vejamos:

Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao

pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas

pertinentes e no respectivo contrato. (G.n.)

§ 1o Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade,

eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e

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Art. 7º. Sem prejuízo do disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, são

direitos e obrigações dos usuários:

I - receber serviço adequado;

II - receber do poder concedente e da concessionária informações para a defesa de

interesses individuais ou coletivos; (G.n.)

Art. 31. Incumbe à concessionária:

I - prestar serviço adequado, na forma prevista nesta Lei, nas normas técnicas aplicáveis e no contrato;

III - prestar contas da gestão do serviço ao poder concedente e aos usuários, nos termos definidos no contrato; (G.n.)

IV - cumprir e fazer cumprir as normas do serviço e as cláusulas contratuais da concessão;

Percebe-se que as empresas usuárias possuem direito à um serviço adequado para controle dos Vales-Transporte adquiridos, sendo certo que o acesso ao sistema é fundamental para tanto. Da mesma forma precisam também de prestação de contas da gestão do serviço por parte das empresas concessionárias, já que possuem este direito em lei e é fundamental para gestão profissional e eficiente de toda a operação de Vale-Transporte dentro das empresas.

Ademais, deve-se considerar todos os usuários do serviço RIOCARD e FETRANSPOR como consumidores, portanto, pode-se dizer o previsto no Código de Defesa do Consumidor, nos termos abaixo:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...)

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com

especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e

preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (G.n.)

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a

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fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. (G.n.)

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a

reparar os danos causados, na forma prevista neste código. (G.n.)

Resta evidente que a falta das informações de Vale-Transporte prejudicam as empresas na qualidade de consumidoras dos serviços de gestão eletrônica dos bilhetes de Vale-Transporte, pois não permite uma gestão efetiva, eficiente e profissional da utilização do benefício concedido aos seus empregados, além de poder causar danos diretos e indiretos a empresa, como perdas financeiras pela má utilização dos cartões.

No mais, através da análise do inciso II do artigo 7º do Decreto 95.247/1987, o empregado precisa informar o trajeto residência x trabalho e vice-versa, o que já demonstra a legalidade de obtenção de informações desta natureza.

Some-se a isso, o que preceituam os parágrafos 1°, 2° e 3°, os quais determinam: a obrigação do empregado de informar qualquer mudança no trajeto residência x trabalho e vice-versa; a necessidade do empregado firmar compromisso de somente se utilizar do Vale Transporte para o deslocamento; e a sanção de falta grave para o empregado que declarar informações falsas quando da opção pelo Vale Transporte ou para a hipótese do trabalhador usar o Vale Transporte para qualquer outra coisa que não seja o deslocamento entre a residência declarada e o local de trabalho.

Ora, se a própria lei determina que o empregador tenha ciência da rota de vinda e retorno do trabalhador, assim como dos meios de transporte que este utiliza, vê-se que este saberá o montante a ser utilizado pelo empregado, caso este utilize o Vale Transporte todos os dias para trabalhar. Mesmo porquê, é o empregador quem realizará o desconto da participação de até 6% sobre a remuneração do empregado e complementará o restante.

Por outro lado, também não se trata de violação à privacidade, pois todos os dados disponibilizados no sistema já são ou devem ser de amplo acesso do empregador, não se configurando dados de natureza pessoal ou íntima. Se assim fossem, a lei não teria estabelecido a necessidade de fornecimento de tais informações, pois isto caracterizaria afronta à constituição e poderia ser considerada inconstitucional. Sendo o Vale-Transporte destinado apenas para o trajeto

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trabalho-casa”, o acesso às informações não viola direito de intimidade ou privacidade, pois o uso está restrito na forma da lei.

Logo, não há justificativa para que o empregador perca a gestão sobre estes dados e possa simplesmente continuar garantindo o depósito de valores para a viabilização do deslocamento em questão do trabalhador.

Uma breve comparação que se pode fazer para confirmar essa possibilidade, é o controle dos empregadores sobre a gestão de outros benefícios, como plano de saúde, e-mails corporativos (com a devida ciência prévia), contas telefônicas corporativas, entre outros serviços e benefícios eventualmente concedidos aos empregados.

Isto se deve, outrossim, por conta do Poder Diretivo do empregador (Artigo 2º, CLT), podendo controlar e fiscalizar as atividades dos empregados, desde que respeitados alguns limites, conforme bem elucida a doutrina:

“Poder fiscalizatório (ou poder de controle) seria o conjunto de prerrogativas dirigidas a propiciar o acompanhamento continuo da prestação de trabalho e a própria vigilância efetivada ao longo do espaço interno. Medidas como o controle de portarias, as revistas, o circuito interno de televisão, o controle de horário e frequência, a prestação de contas (em certas funções e profissões) e outras providências correlatas é que seriam manifestação do poder de controle.” (DELGADO, 2012, p. 662)

Esse poder de controle tem seus limites na Constituição, como no que diz respeito a privacidade e a dignidade da pessoa humana, dentre outros. A Jurisprudência assim entende:

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. PODER DIRETIVO.

FISCALIZAÇÃO. LIMITES LEGAIS. AUSÊNCIA DE DANO MORAL. O exercício do poder diretivo dentro dos limites legais não acarreta danos morais ao obreiro. Recurso conhecido e não provido. (TRT-11 00089620100191100, Relator: Ruth Barbosa Sampaio)

Com isso, o empregador não poderá ferir a privacidade do empregado, o que de fato não ocorre com informações e dados relativos ao benefício do Vale-Transporte, uma vez que a própria lei estabelece a informação e é direito, e também um dever do empregador, fiscalizar seus empregados dentro da razoabilidade e nos limites da lei.

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Ressalte-se que, a falta de acesso as informações em questão promovem grande ameaça a segurança jurídica das operações das empresas, pois podem ser acusadas de descontarem até 6% (art. 9º Decreto nº 95.247/1987) do salário básico/ vencimento do funcionário sem justo motivo, pois este poderia ter quantia suficiente para não precisar ser descontado neste percentual ou em qualquer outro.

Por fim, cabe destacar o que defende o Mestre Carlos Eduardo de Castro Palermo no sentido de que “o que se vê hoje é uma atitude responsável das empresas em relação aos seus empregados, clientes, fornecedores e comunidade”, defendendo a ideia de que uma empresa socialmente irresponsável é economicamente inviável.

Nota-se que a empresa só cumpre sua função se for gerida de forma correta e profissional, sendo a atividade empresarial conduzida da melhor maneira possível, o que demonstra a necessidade do poder diretivo ao organizar, disciplinar e controlar as atividades dos empregados, como ocorre na gestão do Vale-Transporte.

4.3 – Finalidade de acesso e controle

As empresas adquirentes de cartões de Vale-Transporte precisam coletar as informações de saldos e utilizações do cartão de bilhetagem eletrônica, para que possam realizar, respeitando a legislação vigente, atividades de:

(i) Gestão dos saldos remanescentes; (ii) Recuperação de créditos; e (iii) Auditoria.

Com o acesso e controle dos dados e informações de Vale-Transporte de seus empregados, as empresas conseguem executar operações internas para evitar gastos financeiros, evitar fraudes e abusos em relação aos serviços, solucionar problemas operacionais e erros de software, executar análise de dados, testes e pesquisas, bem como monitorar e analisar tendências de uso e atividade de seus empregados.

4.4 – Consequências da indisponibilidade de acesso

A consequência de se inviabilizar o acesso do extrato de uso aos empregadores acarreta em um duplo prejuízo: para os funcionários, pois esses podem ter suas remunerações descontadas de

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forma desnecessária e para as empresas, pois complementam a passagem do funcionário sem que haja necessidade.

Ainda assim, a consequência mais drástica é que os valores constantes nos bilhetes são destinados a empresas concessionárias do serviço público, sob a alegação de que tais valores implementarão o serviço de transporte no Estado do Rio de Janeiro, o que, na realidade, não ocorre.

Nesse aspecto, viabilizar o acesso dos empregadores ao extrato de uso contribui para uma melhor fiscalização da forma com que o benefício de transporte está sendo utilizado. Esse fato, enseja de forma primordial a criação de um sistema que reúna todas as informações de uso dos bilhetes, de forma individualizada, evitando assim o prejuízo dos funcionários, dos empregadores e o consequente lucro ilícito seja das empresas privadas, seja do Fundo Estadual de Transporte. Pois de todas as formas, os valores não retornam para a pessoa que os desembolsou sem qualquer justo motivo.

Há de se falar que a falta de atenção ao extrato de uso do serviço de transporte, pode acarretar em perdas financeiras desnecessárias para o empregado e para o empregador, tendo em vista o prazo de 1 (um) ano para o uso dos valores disponíveis na bolsa de crédito dos cartões.

Ademais, diante da impossibilidade de reaver os créditos dispostos no cartão após o prazo de um ano, cumpre destacar que é extremamente viável a criação de mecanismos que evitem o enriquecimento ilícito destas empresas ou até mesmo do Estado.

Portanto, visando combater o desperdício de créditos nos bilhetes de transporte, bem como o enriquecimento das concessionárias ou permissionárias, destaca-se a necessidade de fiscalização. Considerando que a maior parte de compra de créditos advém de vales transportes adquiridos por empregadores, compreende-se que esses também devem ser considerados usuários.

4.5 – Acesso via login do funcionário

Mediante autorização prévia do funcionário, a qual poderá ser suspensa a qualquer tempo, o empregador pode tranquilamente ter acesso às informações do extrato individual dos sistemas informatizados de Vale-Transporte. Esta solução não é a mais econômica ou simples para o empregador, pois deverá montar um aparato tecnológico suficiente para organizar tal gestão em várias contas independentes, mas, no momento, pode ser a mais viável.

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Contudo, é importante que haja uma prévia autorização do empregado, mediante consentimento em um termo que seja claro e objetivo, bem como sendo devidamente explicado ao funcionário que a ele é permitido negar o acesso da empresa ao seu extrato de uso, ou seja, tanto ele pode permitir como negar, e até mesmo suspender o acesso no momento em que achar necessário.

4.6 – Medidas Administrativas e Judiciais

As empresas podem optar por pleitear o acesso aos dados dos seus empregados por meios judiciais, com amparo na legislação administrativa, consumerista e até mesmo trabalhista, considerando a necessidade de tais informações para exercício do poder diretivo do empregador.

Além disso, na condição de usuários dos serviços públicos, também podem as empresas buscarem soluções administrativas, comunicando ao Estado sobre a proibição de acesso a dados relativos a Vale-Transporte de seus funcionários, com base no artigo 7º, V, da Lei nº. 8.987/95.

Por fim, além de pleitear o acesso e controle dos dados e informações de seus funcionários, também poderá ser analisado no caso concreto se a indisponibilidade de acesso trouxe prejuízos à gestão profissional do Vale-Transporte pelas empresas, podendo estas avaliarem pedidos de reparação por danos materiais e até mesmo morais.

V - CONCLUSÃO

Face ao exposto, diante da relação entre concessionárias de serviço de gestão de Vale-Transporte, que pode ser analisada pela ótica do Direito Administrativo ou Direito do Consumidor, com as empresas adquirentes dos serviços, entende-se que estas devem ter o tratamento adequado na qualidade de usuária ou consumidora.

Além disso, as informações referentes ao Vale-Transporte dos empregados não são de cunho pessoal e são de conhecimento permitido em lei pelos empregadores, razão pela qual não se justifica a proibição de acesso e controle de tais informações, sendo certo ainda que a gestão destes dados e informações estão dentro do poder diretivo das empresas empregadoras e se justificam diante das consequências que a falta de controle profissional pode trazer.

Com base nisso tudo, entendemos que é lícito o acesso e controle pelos empregadores de

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é viável a adoção de medidas administrativas e judiciais para pleitear este direito junto às concessionárias de serviços que realizam a gestão e comercialização deste benefício.

É o que por ora cumpria esclarecer.

Sem mais para o momento, permanecemos à disposição para eventuais esclarecimentos e subscrevo-me,

Atenciosamente,

FABIO CENDÃO OAB/RJ nº 183.302

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