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Este trabalho tern por finalidade tecer alguns come~ tarios a respeito dos participios passados em portuguese

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Academic year: 2021

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(1)

John Robert Schmitz IEL/UNICAMP

Este trabalho tern por finalidade tecer alguns come~ tarios a respeito dos participios passados em portuguese Existem na literatura lingdistica diferentes analises do mesmo, fato esse que motiva urn estudo maior do problema. Lemle (1984:122), por exemplo, observa que "entre a cZa~ se dos verbos e ados adjetivos, 0 caso fronteirico

i

0 dos participios passados"l, pois os adjetivos verdadei-ros e os participios passados tais como se ve em (1)-(2) tern tra~os sintaticos e morfologicos comuns:

(1) (a ) riscos calculados (bl riscos graves

(2) (a) os riscos foram calculados (b) os riscos foram graves

Todavia, quanto

a

analise do participio passado apos o verbo ter, Lemle (1984:125) observa urn paralelismo en-tre 0 adjetivo baixo em (3) e 0 que ela chama de adver-bio deadjetivais em (4):

(3) Ela fala baixo. (4) Ela fala enrolado.

Iemle (1984:125, ora~ao 201 a) Iemle (1984:126, orac;ao202 a) Esta analise leva Lemle (1984:1261 a argumentar que estudado e sofrido em (5) devem ser tambem analisados co mo adverbios deadjetivais:

(2)

(5) (a) Ele ternestudado estes problemas.

Lemle (1984: 126, oracao199)

Lemle rejeita a analise de oracoes em (5) como

tra-dicionalmente se tern feito como tem~o composto, isto

e,

urn verbo auxiliar ter seguido de urn participio passado.

o

verba ser mais participio passado e considerado por

Lemle (1984:125) como verba mais adjetivo deverbal. A r~

ferida ling6istica va urn isomorfismo nas oracoes (6-7):

(6) 0 povo brasileiro foi corrompido pela escravatura.

Lemle (1984: 124, oracao198)

(7) Jose esta ansioso por liberdade.

Lemle (1984:124, oracao 199)

adjetivo.

Concordo com Lemle que enrolado em (4) faz 0 papel

de adverbio pois a referida oracao comunica de que manei

ra, isto e, como 0 sujeito ela fala. Todavia, creioque a

analise de enrolado em (4) e tambem de estudado e

sofri-do em (5) todos respectivamente como adverbios

deadjeti-vais nao satisfaz, pois, em prirneiro lugar, a construcao

enrolado em (4) na realidade

e

de origem nominal e nao a~

jetival, isto e, do substantivo rolo composto do prefixo

en- e 0 sufixo -do [en-rol(o) -ado] ~ em segundo lugar as

formas estudado e sofrido em (5) nao se originam de adj~

tivo~ mas dos verbos estudar e sofrer respectivamente.

(3)

bem

e

outra, pais corrompid9 em (6) tern uma for9a verbal que ansioso nao tern, pois ansioso em (7) faz 0 papel de

Jose foi {~orruPto

l

corrompido

(10) 0 pastor criticou a comunidade par ser omissa.

(11) 0 nome de Pedro foi ftmisso da lista pela Secretaria. lomitido

(12) A Secretaria tinha fomitido 0 nome do aluno da lista.

It .

onllSSO

Do exposto acima se ve que corrupto e omisso funcionam c~ mo verdadeiros adjetivos au particloios adjetivais enqua!!: to corrompido e omitido sao particlpios verbais.

Frequently the irregular participle remained in the language but was relexicalized as an adjective.

(4)

o

particIpio perfeito ou passado e urn adjetivo ver-bal que exprime nao somente 0 resultado de uma aCao

acabada, 0 estado a ela conseqfiente, mas tambem uma

aCao concluIda ou uma simples aualidade.

Brandao observa que 0 particIpio passado de verbos

tran-verbal e ter + particIpio passado como urn adverbio deadj~ tival. Nao ha nenhuma mencao, todavia, de estar + partic~ pio passado nesta analise ou estar + sendo +particIpio pa~

goria (0 adverbio tern sido, a meu ver, 0 "a lmoxaI'ifado gI'!2 matical" onde tudo que nao cabe convenientemente emoutras categorias, e relegado ados adverbiosl nao me parece l~ var em conta a ambigfiidade sintatica de alguns particIpios,

(5)

em outra. Observa-se, por exemplo, a ambigftidade das

se-guintes oracoes (13-14):

(13) Mario esta sendo convencido.

(a) Alguem esta convencendo Mario de algo.

(b) Mario esta agindo de forma presuncosa.

(14) Mario e esquecido.

(a) Alguem esquece de Mario.

(b) Mario e olvidadico.

dos de Azevedo (1973, 1974) onde se argumenta que estas

oracoes do portugues formadas com estar seguido de part!

cipios se relacionam semanticamente com as passivas.

Pa-ra Azevedo, existem dois tipos, as construcoes que se r~

ferem a estados autonomos em (15) que nao aceitam agente

e os que se referem a estados dependentes em (16) que s2

mente existem como resultado da acao continua de algum ~

gente:

(15) (a) Mario esta acordado. Azevedo (1973:93,oraCOes133a,b)

(b) *Mario esta acordado por Pedro.

(16) As portas estavam vigiadas (pelo bedel).

Azevedo (1974:28,oracao Sa)

Arruda (1978) conclui que existem tres tipos de con~

trucoes com estar/ficar seguido de participios, pois os

mesmos, precedidos de estar formam urn continuo.

(17) 0 artigo estava assinado pelo chefe.

(6)

o

primeiro tipo em (17) e sintaticamente semelhante

as passivas; 0 segundo tipo em (18) e intermediario

en-tre ativa e passiva; 0 terceiro em (19) e sintaticamente

distinto das passivas, pois arrependido, segundo Arruda,

e urn adjetivo.

Pimenta-Bueno (1986:207-9) numa analise

interessan-te e detalhada argumenta que existem tres grupos de

par-ticIpios. 0 primeiro grupo consiste nos" [V+-do] verbais"

que ocorrem somente apos os verbos auxiliares ter e

ha-ver. (Lembre-se de que para Lemle (1984; 126) este tipo s~

ria analisado como adverbios deadjetivais); o segundo gr~

po consiste nos "[V + -do] nao verbais" e 0 terceiro grupo

proposto por Pimenta-Bueno se refere aos "pal'tia{pios pa!

sivos", uma inovacao introduzida por Pimenta-Bueno,

gru-po esse que compartilha dois tracos sintat~cos, 0 traco

de [+ Adj] e [+ V]. Quanto ao segundo grupo os [V+ -dol ve,;:

bais", Pimenta-Bueno a9resenta alguns exemplos tais como

os em (20)-(21) que, segundo ela, tern0 traco [+ Adj]:

(20) Marta Rocha foi coroada "Miss Brasil" na de cad a de 50.

Pimenta-Bueno (1986:213,oracao 16~

(21) DionIsio foi escolhido Diretor do Departamento de

Eco-devido ao fato de que

"v

IS jamais apl'esentam mal'ClaS de gi..

nel'O no pOl'tugues". Apesar da concordancia de genero (e

numero) que e uma das caracterIsticas dos adjetivos em po,;:

(7)

coroa-do em (21) exemplos de adjetivos. Umcontra-exemplo do po!:: tugues classico que ainda ocorre no portugues contempor~ neo escrito formal e 0 usa de ser +participio passado com concordancia de genero e numero em lugar do tempo compo~ to -- 0 preterito perfeito do indicativo. Observa-se al-guns exemplos do romance 0 Coronel e 0 Lobisomem em (22)

a seguir:

(22) (a) "Uma semana nao era decorrida estando eu na com pra de urn cavalo passarinheiro ... " (p. 20) (b) "Vi que era chegada a ahora de despachar 0

bi-chao". (p. 12) (havia chegado, tinha chegado, chegara)

(c) "Mesmo assim, uma quinzena nao era passada ... " (p. 219) (havia passado, tinha passado, passa-ra)

o

fato de que estas formas concordam em genel:o e numero como alguns adjetivos nao e motivo, a meu veri para ana-lisar os mesmos como adjetivos em vez de verbos, pois em frances e tambem em italiano formas plenamente verb",is co!!: cordam em genero e numero com 0 sujeito. Em russo, hebra~ co e em hindi tambem ocorre 0 mesmo como nas linguas ro-manicas; em russo e em hindi verbos principais concordam em genero e numero com os respectivos sujeitos. Observa-se alguns exemplos em (23-26):

(23) (a) Maria e andata via 'Maria foi embora' (b) Paulo e andato via- 'Paulo foi embora'

(8)

(24 ) (a) Marie est allee 'Maria foi embora'

(b) Paul est aIle 'Paulo foi embora'

(25) (a) Ya rabotal' Eu trabalhei (masculino) (b) Ya rabotala Eu trabalhei (feminino) (26) (a) Mee chaltaa hil 'Eu ando (masc. ) estou' (b) Mee chaltii hil 'Eu ando (fern.) estou' Ambas as ora~oes (20-21) tern urn correspondente ati-vo, isto e, estas ora~oes estao relacionadas com ora~oes ativas tais como as em (27):

(27) (a) Alguem, 0 reitor, os membros do Departamento e~ colheu/escolheram Dionisio Diretor do Departame~ to de Economia.

(b) as jurados coroaram Marta Rocha "Miss Brasi.l" na decada de 50.

Como se devem analisar as formas em -do? Como adver bios deadjetivais e adjetivos deverbais de acordo com a proposta de Lemle (1984), ou em tres grupos distintos, nos moldes de Arruda onde se tem um grupo sintaticamente se-melhante as passivas, outro grupo intermediario entre a-tiva e passiva e ainda outro grupo de participios adjet~ vos, ou finalmente a coloca~ao de Pimenta-Bueno na qual 0

participio

e

analisado como [V -do] nao verbal, [V -do] ve£ bal e em participio passivo?

A nosso ver a analise de Arruda parece ser mais ade quada, pois permite, em primeiro lugar, fazer uma di.sti~ ~ao entre ora~oes plenamente passivas tais como (28) ~

(9)

(28) (a) Mario esta sendo tapeado.

(b) Paulo esta sendo lembrado.

das oracoes ambiguas entre passiva (verbo) e ativa (adj~

tivo) tais como as em (29):

(29) (a) Maria esta sendo educada.

(b) Jose esta sendo prevenido.

e destas em (29) do tipo intermediario ou oracoes "passi

ve-Hke" descritas por Azevedo (1974) como se temem (30):

(30) (a) A cas a esta cercada pela policia.

AzeveOO (1974:28,ORe&<> Sa)

(b) Esses quadros estao comprados por urn milionario.

Azevedo (1974:29,oracao 11d)

e finalmente, de urn lado, por oracoes estativas que par~

cem ter urna relacao com 0 tempo preterito perfeito ou 0

preterito perfeito composto como em (31):

(31) Estou almocado = almocei, tenho almocado.

ou, por outro lado, com oracoes predicativas onde os paE

ticipios sao adjetivos plenos como se ve em (32):

(32) Jose e decidido, determinado, despachado, fingido,

aos estudos da gramatica do portugues, pois a referi

da autora procura estabelecer urna ponte entre a

lin-gdistica e a gramatica pedagogica. 0 relacionamento

(10)

teis no ensino da lingua, subsidios essesvaliososp~ ra a elaboracao de uma gramatica ~edag6gica escolar

ARRUDA, V.M.B. (1978). As Passivas do Estado e de Mudan-ca de Estado em Portugues Contemporaneo. Dissertacaode Mestrado, Brasilia, D.F.

AZEVEDO, M.M. (1974). "On the Sentences of Estar + Parti ciple Sentences in Portuguese". Linguistics. 135:25-33.

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Des-cricao do Portugues). Sao Paulo, Editora Atica. PIMENTA-BUENO,

"I.

gues: Urn Estudo n9 2, 207-29.

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