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Autoria: Ivani Costa, Avani Terezinha Gonçalves Torres, Maria de Lourdes Barreto Gomes, Gesinaldo Ataide Candido

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Academic year: 2021

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Arranjo Produtivo Local uma estratégia para promover a inovação nas

empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação. O caso do Farol

Digital na Paraíba

Autoria: Ivani Costa, Avani Terezinha Gonçalves Torres, Maria de Lourdes Barreto Gomes, Gesinaldo Ataide Candido

Resumo

Esse artigo tem como objetivo descrever algumas práticas de aglomerações produtivas coordenadas pelo Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas, no caso o Projeto Farol Digital - instrumento de cooperação e integração entre as empresas de tecnologia de informação e comunicação na Paraíba. Trata-se de um estudo exploratório, resultante de um trabalho desenvolvido por 14 parceiros institucionais que envolvem 75 pequenas empresas de base tecnológica. Para se inserir nesse novo cenário competitivo, pequenas empresas perceberam que a solução era buscar iniciativas de interação e cooperação em conjunto com outras empresas, associações, instituições técnicas e financeiras, poder público e outras possíveis combinações, de forma a promover a melhoria de produtividade e qualificação. Nesse sentido, uma das alternativas encontradas foi a formação de Arranjos Produtivos Locais - APL, constituídos por redes, onde as pequenas empresas buscam ações para promover a aquisição de conhecimentos, valores e experiências duráveis capazes de criar um ambiente favorável ao inicio do processo de desenvolvimento local. Utilizou-se, como metodologia, para o alcance do objetivo proposto no trabalho, uma pesquisa bibliográfica e documental para explorar aspectos relacionados aos Arranjos Produtivos Locais, e em seguida, as bases conceituais e metodológicas do Projeto Farol Digital. Além disso, foram levantadas informações através de visitas técnicas a instituições e empresas envolvidas com a Tecnologia de Informação e Comunicação na Paraíba. Este trabalho surge como uma contribuição para um melhor entendimento a respeito da dinâmica que envolve os APL e o projeto Farol Digital na Paraíba.

1. Introdução

No contexto mundial é inegável a importância das micro e pequenas empresas nos cenários políticos, econômico e social, em especial quanto a geração de emprego e renda e as suas contribuições para o desenvolvimento com sustentabilidade. O fortalecimento das micro e pequenas empresas (MPEs) coloca-se como uma sólida alternativa para o alcance do almejado desenvolvimento com inclusão social.

Nas últimas décadas as pequenas empresas a partir das facilidades geradas pelo paradigma tecno-econômico, que propiciou uma revolução nas tecnologias da informação e das comunicações, têm investido no acesso e utilização da informação. Além disso, a ampliação da participação das MPEs nas estruturas produtivas de diversos países, pode ser explicada pela estratégia de desverticalização adotadas pelas grandes empresas, como resultado de processos de reestruturação.

Neste contexto, uma das condições para que as MPEs encontrem as melhores condições de sobrevivência e desenvolvimento é a sua inserção em aglomerações setoriais que proporcionem um ambiente institucional com presença de instituições públicas e privadas que lhe dêem sustentação, tendo como principal tipo de ação, as promoções para a prática da cooperação entre elas e com as instituições de apoio.

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No caso das MPEs brasileiras, com a abertura do mercado brasileiro, no inicio da década de 90, ocorreu um grande impacto na gestão empresarial. De um modo geral, as empresas brasileiras não incorporavam metas gerenciais e tecnológicas tão necessárias para mantê-las no novo cenário altamente competitivo e globalizado. Em função das mudanças no contexto organizacional, vários setores econômicos enfrentaram dificuldades de se manter competitivos e tal diferença, refletiu diretamente na produtividade empresarial levando ao sucateamento de grande parte das empresas nacionais.

As novas formas de atuação das empresas geram a necessidade de maior profissionalização dos gestores, através da aquisição de novas habilidades e competências, cujas aquisições serão facilitadas pelas formas de convivência com a informação e predisposição para múltiplas formas de aprendizagem. Neste caso, a informação e o conhecimento constituem-se num mecanismo fundamental para a geração de maior dinamismo econômico. Observa-se então, uma intensiva utilização de recursos de tecnologia de informação e comunicação num contexto de globalização econômica, isto é, uma mudança para a era da informática. Contudo a dinâmica imposta é de permanente necessidade de reestruturação empresarial, justificada pela eficiência da economia da informação.

Neste cenário, as MPEs encontram dificuldades para adaptarem-se ao atual contexto de necessidade de reestrutução econômica e organizacional, dada a sua escassez de recursos; a alta carga tributária; encargos trabalhistas e falta de qualificação profissional da mão de obra técnica e gerencial. Tais fatores agregados a cultura tradicional de relacionar-se isoladamente, são os grandes responsáveis pelas limitações para promover o desenvolvimento da capacidade inovadora, cada vez mais essencial para a obtenção de vantagens competitivas.

Para adaptarem-se a nova realidade as MPEs buscam ações no sentido de promover a aquisição de conhecimentos, valores e experiências duráveis capazes de criar um ambiente favorável, agora de forma cooperativa para minimizar os custos de investimento da inovação. Uma das possibilidades de acesso à competitividade para as pequenas empresas do Brasil, está nas aglomerações produtivas, aquelas denominadas de Distritos Industriais, Clusters e Sistemas ou Arranjos Produtivos Locais (APL), compostas por outras empresas ou outros atores econômicos, com quem o empreendedor e sua organização mantêm relações para obter recursos diversos, sejam materiais ou imateriais, necessários para complementar os próprios recursos internos.

Essa nova forma de atuação revela-se importante para as empresas, considerando a complexidade crescente do ambiente organizacional, caracterizado por uma maior concorrência e clientes cada vez mais exigentes. Surgindo assim a necessidade das organizações estarem permanentemente buscando mecanismos para se adaptarem ou se anteciparem às mudanças, em especial as inovações tecnológicas (de produtos, de processos e de gestão).

Nessa nova conjuntura, as empresas precisam adotar estratégias diferenciadas, as quais envolvem relações de parceria e de cooperação com os diversos tipos de agentes (produtivos, institucionais, etc.), considerando que com atuações isoladas, as empresas não teriam como encontrar as condições mais adequadas para as características do seu ambiente organizacional. Um dos passos fundamentais para dar início a formação desse modelo de desenvolvimento é a criação de estrutura adequada de governança. Entende-se por governança, o ambiente institucional e operacional dos arranjos produtivos que pode envolver pessoas físicas ou jurídicas, ligadas às funções de investimento nas redes, ou seja, no acesso aos bens públicos de produção. Os princípios fundamentais da governança corporativa são premissas para o sucesso duradouro das associações.

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Neste contexto surgiu na Paraíba o projeto Farol Digital, uma iniciativa conjunta do SEBRAE-PB e de outros 13 parceiros institucionais, entre eles as prefeituras dos municípios de João Pessoa, Campina Grande e Patos que formam as cidades alvo do projeto. O objetivo principal dessa iniciativa é de fortalecer empreendimentos de tecnologia de informação e comunicação – TIC por meio da difusão tecnológica, de modo a inserir-los nos mercados regional, nacional e internacional de forma competitiva e sustentável. Projetos dessa natureza que visam dinamizar os arranjos produtivos locais surgem como oportunidade de gerar valor e permitir que as pequenas empresas consigam superar as dificuldades tecnológicas e de qualificação, fazendo ponte para o futuro.

Esse artigo tem como objetivo descrever algumas práticas de aglomeração produtiva coordenadas pelo Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas da Paraíba – SEBRAE/PB, o caso do Projeto Farol Digital instrumento de cooperação e integração das empresas de TIC.

Para o alcance do objetivo proposto no trabalho, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental para explorar aspectos relacionados as práticas de aglomeração empresarial, principalmente, os Arranjos Produtivos Locais – APL, e em seguida, as bases conceituais e metodológicas do Projeto Farol Digital. Além disso, foram levantadas informações através de visitas técnicas a instituições e empresas envolvidas com a Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC na Paraíba. A utilização da técnica da observação não participante contribuiu para um melhor entendimento a respeito da dinâmica que envolve os APL.

Além desta parte introdutória, o artigo aborda nos itens seguintes: o contexto; conceitos e formas de atuação das aglomerações empresarias, em especial dos APL, e suas implicações como dinamizador das micros e pequenas empresas, bem como a descrição do processo de implantação do Projeto Farol Digital, mostrando as atividades já realizadas e situação atual. Em seguida, são feitas as considerações finais, no qual são reforçadas as necessidades de estudos posteriores para acompanhamento das ações do Projeto e as possibilidades de adequações e atuações para outros APL.

2. Uma breve abordagem das formas de aglomeração empresarial.

O termo aglomeração empresarial está inserido no contexto das redes sociais, as quais envolvem as diversas formas de convivência e relacionamentos entre atores sociais, através da necessidade das práticas de princípios relacionados a cooperação, parceria, associação, relações de complementaridade, etc. As aglomerações empresarias envolvem atividades de pequenas empresas voltadas para a busca da inovação tendo a aprendizagem como o principal foco do processo de busca e prática de ações cooperativas.

Ao longo das últimas duas décadas uma ação primordial para o aumento da competitividade das MPEs tem sido a cooperação entre empresas de um mesmo segmento e setor econômico, as chamadas aglomerações produtivas que assumem o formato de: Distritos Industriais, Clusters e Sistemas ou Arranjos Produtivos Locais (APL). A formação de redes de pequenas empresas possibilita que elas se posicionem estrategicamente no mercado, permitindo maior capacidade de competição às empresas participantes, promovendo oferta mais qualificada de produtos e serviços.

Este formato de aglomeração produtiva foi descrito inicialmente por MARSHALL (1890) para descrever o processo de "concentrações de pequenas e médias empresas localizadas ao redor das grandes indústrias", que ocorreu em algumas cidades inglesas no século 19, denominado “distrito industrial”.

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Já o conceito de cluster remete a um conglomerado de empresas, particularmente as pequenas e médias, unidas em regime de cooperação, para que cada uma das firmas se responsabilize por um dos estágios do processo produtivo de um mesmo negócio, situadas numa determinada região geográfica (PIORE e SABEL, 1984; BRUSCO, 1990; TENDLER e AMORIM, 1996). A especialização, complementada pela cooperação praticada entre diversos agentes concentrados em um determinado território, constitui a base ‘tecnológica’ dos APL (CASSIOLATO E SZAPIRO, 2002). Entretanto, a formação dos APL mesmo constituindo um avanço, se comparado ao funcionamento disperso e isolado de empresas e outros agentes, não deve ser um objetivo definitivo, mas apenas uma transição para uma organização mais sistêmica, sustentável e com maior nível de interdependência entre os agentes, ou seja, um sistema produtivo local (SPL). Nessa forma organizacional, além das empresas, são também protagonistas outros atores locais, como governos, associações, instituições de financiamento, ensino, formação, pesquisa e outras atividades correlatas.

Para Lorange e Roos (1998), essa nova forma de atuação empresarial baseada em práticas cooperativas e em parceria, revela-se como um importante caminho para aumento da competitividade através do compartilhamento de informações, tecnologia, recursos, oportunidades e dos riscos.

O formato organizacional no qual as MPEs se inserem e o ambiente institucional no qual elas operam estão estreitamente relacionados. Os estudos empíricos relatados na literatura mostram que redes de MPEs só alcançaram resultados positivos, em ambientes cujo aparato institucional promovia, direta ou indiretamente, a associação de empresas e a cooperação entre elas ou com instituições de apoio.

A partir destas considerações, pode-se entender que a competitividade das MPEs passa necessariamente pela mudança na sua forma de atuação, em duas perspectivas: a primeira, envolvendo ações direcionadas para a utilização da informação e do conhecimento para otimizar o processo de formulação e viabilização das suas estratégias, assim como a otimização das suas operações. E, numa outra perspectiva, uma nova forma de atuação que envolva relações de parcerias, de cooperação e de complementaridade, as quais estão pré-concebidas nos conceitos, tipologias e modelos de aglomerações de empresas, em especial os APL.

3. Arranjo Produtivo Local e as práticas cooperativas

No Brasil, os termos arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais, foram desenvolvidos no âmbito da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist). Essa abordagem conceitual convergente com as demais terminologias, contudo mais próxima das especificidades do País, torna-se mais útil à formulação de políticas para sua promoção (CASSIOLATO e LASTRES, 2003).

Os Sistemas produtivos e inovativos locais dizem respeito a aglomerados de agentes econômicos, políticos e sociais – produtores, fornecedores, clientes, instituições de ensino, organizações criadoras de conhecimento, associações, sindicatos, agências de promoção, apoio, financiamento, governos, entre outros – localizados em um mesmo território, com foco em um conjunto específico de atividades econômicas e que apresentam vínculos expressivos de interação, cooperação e aprendizagem (REDESIST, 2005). Tais aglomerações variam, abrangendo desde aqueles mais complexos e articulados sistemas produtivos até aqueles mais simples, os chamados arranjos produtivos locais (APL).

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De acordo com Lastres, Arroio e Lemos (2003), APL é definido como um conjunto de empresas que atuam em torno de uma atividade econômica comum, com apoio de outras empresas correlatas e complementares em uma região específica. Essa forma de relacionamento busca compartilhar as necessidades e funções comuns de um grupo de empresas, com intuito de ganho de escala, poder de negociação e qualificação técnica em todos os elos da cadeia produtiva. Formando assim, uma rede de relações entre os atores envolvidos e suas interfaces, (ver Figura 1).

Figura 1: Esquema de relações e atores em um APL.

Furlanetto e Silva (2005), afirmam que para implementar essas novas formas de relacionamento e de organização entre as empresas que compõem um mesmo sistema produtivo, ou um mesmo arranjo produtivo, é condição básica a presença de ações de colaboração entre seus atores. Sendo de vital importância que esses aglomerados passem por um processo de reestruturação, onde aspectos como cooperação, articulação, interação e aprendizagem entre os seus agentes e as formas alternativas de estrutura de coordenação, devam ser pressupostos para o sucesso da iniciativa de formação de um APL.

No termo de referência para desenvolvimento de APL do SEBRAE (2003a), esses aspectos se manifestam pela existência de iniciativas, ações, atividades e projetos realizados em conjunto, entre: as empresas, empresas e suas associações, empresas e instituições técnicas e financeiras, empresas e poder público, e outras possíveis combinações entre os atores presentes no APL.

Isso pode ocorrer através de:

FORNECEDORES ESPECIALIZAÇÃO PRODUTIVA

CLIENTES/ MERCADO SERVIÇOS COLETIVOS: escolas; consórcios; assistência de categorias; centros de serviços. SERVIÇOS PRIVADOS: bancos; transportes; agentes; designers. INFRA-ESTRUTURA DE APOIO: transportes; áreas edificáveis; acessibilidade e serviços. INSTITUIÇOES: valores; atitudes; confiança; Mercado de trabalho; relações FONTE: LEÃO (2005)

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a) Intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas (com clientes, fornecedores, concorrentes e outros);

b) Interação envolvendo empresas e outras instituições, por meio de programas comuns de treinamento, realização de eventos/feiras, cursos e seminários, entre outros;

c) Integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo desde melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituições.

Portanto, os Arranjos Produtivos Locais em geral, surgem da construção de identidades e formações de vínculos territoriais, construídos a partir de uma base social, cultural, política e econômica comum. O APL pode ser considerado uma estrutura de organizações voltadas para a otimização de processos, redução de custos e aumento de qualidade, uma vez que despesas como transporte, serviços especializados, consultoria, treinamento, insumos, matéria prima, são compartilhados e com isso, aumentam as condições de competição dentro de um mercado. Otimizar processos e minimizar custos são metas prioritárias para a sobrevivência das MPEs no mercado altamente competitivo. Nota-se então, que o estabelecimento de novas formas de organização e de ação conjunta, pode oferecer vantagens competitivas para superar as deficiências oriundas do tamanho e do isolamento, características essas encontradas nos pequenos negócios.

Do contrário, ao se organizarem como unidades de produção isoladas, os pequenos negócios reproduzem a forma de funcionamento das grandes empresas, porém sem suas principais vantagens: a capacidade de gerar economias de escala, de investir em inovação produtiva e na qualificação profissional dos seus funcionários (SEBRAE, 2003b), sendo esses fatores, os maiores responsáveis pela permanência das MPEs no mercado competitivo.

Nota-se também, que o perfil das empresas que compõe o mercado nacional, está fortemente marcado pela presença das MPEs, numa pesquisa realizada em 2002, foi constatado que em conjunto, as micro e pequenas empresas responderam, por 99,2% do número total de empresas formais, por 57,2% dos empregos totais e por 26,0% da massa salarial (SEBRAE, 2005, p. 10).

Porém, sua participação no mercado não significa sustentabilidade, 35% da MPE’s fecham no seu primeiro ano de vida, 46% no segundo e 56% no terceiro ano de funcionamento (SEBRAE, 2004). Portanto, dinamizar arranjos produtivos locais significa incrementar a economia afetando diretamente na demanda agregada. Adicionalmente, pode ser reservado a tais empresas, um papel que vai além da sua contribuição para geração de empregos, podendo também contribuir pra a dinâmica social local. Nesse sentido Leão (2005, p. 45) afirma que:

A reflexão em torno dos arranjos produtivos locais se faz necessária dentro da filosofia de integração dos ganhos econômicos, aliados a questões de políticas públicas e interiorização do desenvolvimento, transferência de conhecimento e tecnologia através da inovação, envolvimento da população local, incremento na renda, além de uma vasta gama de projetos que podem ser administrados quando da construção da governança dos arranjos (...)

De acordo com Guerra (2005, p.12) as empresas integrantes de APL funcionam como numa prova de ciclismo por equipes.

(...) O ciclista compete individualmente, na própria equipe, e coletivamente, com as demais equipes participantes. Durante a prova, coopera com seus parceiros seguindo uma estratégia para atingir determinados resultados. Suas chances individuais aumentam se a equipe da qual é integrante estiver em primeiro lugar e alinhada aos objetivos. Competição e cooperação não são excludentes.

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Neste sentido, o desenvolvimento local pode ser alavancado através do aumento da competitividade das empresas, as quais, quando organizadas em APL, produzem externalidades positivas e se capacitam a encontrar soluções para problemas comuns.

A ação de múltiplos atores públicos e privados, no estado da Paraíba através do Farol Digital, já está possibilitando que se consolide uma cultura de cooperação entre as empresas de TIC que ganham, assim, escala e competitividade para identificar e disputar mercados.

4. Procedimentos Metodológicos

A partir do objetivo proposto no estudo, a pesquisa realizada pode ser caracterizada como exploratória, uma vez que procura compreender um contexto desconhecido quanto à percepção dos empresários e dos gestores das empresas de TIC, acerca das formas de atuação e as vantagens existentes dentro de um APL governado pelo projeto Farol Digital. A pesquisa pode ser considerada descritiva por explicitar as características históricas em termos de criação, desenvolvimento e a atual forma de funcionamento de uma iniciativa para geração de maior competitividade para as empresas de TIC no Estado da Paraíba, posta em prática por uma instituição de apoio a atividade econômica.

Como técnicas de pesquisa, foram utilizadas a pesquisa bibliográfica para consolidar o referencial teórico do trabalho; neste caso, foi necessário levantar o material existente no que diz respeito às aglomerações produtivas e sua afinidade com as MPEs, especialmente quanto às suas práticas de princípios de redes (cooperação, associação, parceria, etc.), características de empresas que atuam num APL. Outras fontes de pesquisa estão pautadas no estudo sobre o setor de TIC do estado da Paraíba realizado pelo SEBRAE-PB em 2005, como também em livros e artigos científicos. Primeiramente foram efetuados levantamentos da bibliografia pré-existente na biblioteca do Sebrae, trabalhos publicados em sites especializados, que abordam o tema em questão além de participações em eventos relacionados ao assunto em nível local, nacional e internacional.

Além disso, foram utilizadas as técnicas de análise documental, através do acesso a toda a documentação referente a forma de atuação do Farol Digital. Como complemento, foi utilizadas a técnica da observação não participante associada a conversas informais com empreendedores e gestores do setor de TIC no Estado da Paraíba, através de visitas técnicas a instituições e empresas atuantes no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação nos municípios alvo do projeto Farol Digital. A observação durante as visitas foi feita de forma não participativa, e os resultados obtidos visam contribuir para um melhor entendimento a respeito do projeto e do setor de TIC na Paraíba.

5. O Farol Digital norteando o APL de TIC na Paraíba

Para implantação do Projeto Farol Digital, foi feito um diagnóstico no ano de 2005, onde foram verificadas as potencialidades para empreendedorismo de TIC em três cidades da Paraíba: João Pessoa, Campina Grande e Patos. Em cada um desses três municípios, verificaram-se carências de: organização no âmbito do Arranjo Produtivo Local (APL); de integração interna (entre as empresas e instituições de ensino e P&D) e externa (nos mercados regionais, nacional e internacional); de atuação mais produtiva em P&D e Marketing & Vendas (M&V); de investimentos e de inovação.

Apesar das carências apontadas pelo diagnóstico, os dados levantados também revelaram que já existem cerca de 320 empresas de TIC (200 em João Pessoa, 100 em Campina Grande e 20 em Patos). Outro fator importante detectado está relacionado com a capacidade de formação de capital humano, nessas três localidades, formam-se anualmente cerca de 500 profissionais

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na área de computação (técnico e de nível superior), suprindo assim, as necessidades para implantação de fábricas de software(Ver FIGURA 2). Estes números têm atraído a instalação de fábricas de software de empresas de Pernambuco (incluindo o CESAR), do Distrito Federal, a exemplo da ORACLE, e até do exterior como a SCHARTNER, da Alemanha.

0 1 2 3 4 5 6

João Pessoa Campina Grande Patos

Fonte: SEBRAE-PB (2005) Escolas e faculdades Cursos Técnicos Graduação Especialização Mestrado Doutorado

Figura 2 - Caracterização Institucional para a formação em TIC

Outros resultados verificados estão relacionados com o perfil de atuação empresarial, entre os quais se podem destacar:

a) As empresas do setor constituem-se, na sua grande maioria, como de micro e pequeno porte, com forma de funcionamento tipicamente familiar, na qual os proprietários compartilham os bens da família com os da empresa;

b) As empresas participantes do APL, apesar de atuarem num mesmo setor econômico e desenvolverem atividades comuns, não buscavam de forma sistêmica a realização de práticas coletivas e em parceria, com o objetivo de otimizar seus processos de trabalho e melhorar as forma de condução das suas atividades;

c) As principais qualificações dos empresários estão relacionadas basicamente a sua grande capacidade de trabalho e seu alto nível de conhecimento sobre as diversas etapas do processo produtivo do seu negócio, o qual permite, inclusive, a criação de inovações do tipo incremental;

d) O capital financeiro, regularmente, não se apresenta em grande volume, o que reflete no pouco investimento em tecnologias e equipamentos sofisticados ou de ponta. Os recursos financeiros para investimentos em tecnologias têm um caráter tipicamente reativo, na medida em que estes recursos são utilizados para solucionar determinados problemas técnicos comuns aos empresários participantes do arranjo;

e) O aspecto mais positivo das formas de atuação das empresas do setor de TIC nas cidades pesquisadas está relacionado à existência de um conjunto de instituições públicas e privadas de apoio à atividade econômica, dentro do princípio de que estas instituições podem atuar de forma conjunta numa relação de complementaridade e de parceria para geração de sinergia.

Por fim, verificou-se que o clima de confiança e colaboração entre as empresas atuantes no setor de TIC, ocorria muito mais por relações de amizade, parentesco, do que por uma estratégia pré-concebida, com objetivos bem definidos e devidamente incorporados. Neste sentido, o projeto Farol Digital pode contribuir significativamente para aumentar a confiança, as possibilidades de práticas coletivas e de parceria entre as empresas do setor.

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O Projeto Farol Digital - PFD, uma iniciativa conjunta do SEBRAE-PB e de outros 13 parceiros institucionais, busca promover a inovação e o fortalecimento do setor TIC por meio da difusão tecnológica e do acesso aos mercados regionais, nacional e internacional de forma competitiva e sustentável. Dessa forma, servirá para desencadear e coordenar ações visando atender às carências diagnosticadas. O atendimento a estas carências contribuirá para fortalecer e democratizar a atuação em TIC das empresas e instituições locais, como também promover maior agregação de valor, geração e fixação de empregos e riqueza na Paraíba.

O Público-alvo do PFD são empresas e potenciais empreendedores no setor TIC de João Pessoa, Campina Grande e Patos. O projeto tem a duração de três anos (2005 a 2007), e tem como principais metas:

d) Consolidar e ampliar o empreendedorismo em TIC na Paraíba, com empresas certificadas e produtos e serviços inovadores.

e) Diversificar e complementar as áreas de atuação além de software, para hardware, telecomunicações e prestações de serviços correlatos.

f) Comercializar produtos e serviços de classe mundial nos mercados nacional e internacional.

g) Promover a fixação de mão-de-obra especializada local, gerando emprego, renda e oportunidades de crescimento empresarial.

h) Conhecer e organizar o APL Paraibano de TIC, aumentando as possibilidades de negócios interna e externamente.

i) Promover o surgimento de centros digitais no eixo das cidades envolvidas, com o apoio do governo municipal e estadual, de forma a fomentar o surgimento e a fixação de empresas TIC.

Para o SEBRAE-PB coordenar a governança do APL de TIC foi necessário estabelecer parcerias com diversos atores. São inicialmente 13 instituições: o Parque Tecnológico da Paraíba; o IEL; as Universidades Federais da Paraíba e de Campina Grande; o CEFET; UNIBRATEC; UNIPE; as Faculdades Integradas de Patos; o Banco do Brasil; Prefeitura Municipal de João Pessoa, Campina Grande e Patos e o Governo do Estado, porém outros parceiros juntar-se-ão ao projeto paulatinamente.

Cada uma dessas instituições se ocupa também, de dimensionar e buscar financiamento adequado para a execução das ações planejadas. O SEBRAE-PB e o SEBRAE Nacional contribuem com recursos financeiros para cada ação.

O total de recursos econômicos e financeiros inicialmente alocados no PFD, nos três anos de execução, é de R$ 3.272.638,00. Neste total não estão incluídos os investimentos feitos em infra-estrutura, imóveis e obras civis pelas prefeituras dos municípios-alvo e possivelmente, Governo do Estado. Outros investimentos complementares deverão ser supridos pelos atuais e novos parceiros e pelas próprias empresas.

Quinze ações foram inicialmente planejadas pelas instituições parceiras e empresas nas três cidades-alvo do projeto. Novas ações poderão ser acrescentadas para atender necessidades específicas e diagnosticadas. Cada ação é coordenada por um dos parceiros, mas executada com a colaboração de todos os interessados, para que juntos possam definir as ações mais importantes e os rumos do projeto, criando uma visibilidade e referência para o setor TIC. O projeto está em seu primeiro ano, mas conta com uma expressiva adesão, o comitê gestor abriu o processo de seleção de empresas TIC nas três cidades alvo, captando empresas em diferentes segmentos e estágios de maturidade. Já são 71 empresas que estão começando a entender as possibilidades advindas deste tipo aglomeração produtiva.

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organização coletiva, com intuito de divulgar e comercializar seus produtos no âmbito internacional (Consórcio PBTech). Como resultado em 2005, os investimentos em P&D consolidaram 15 novas tecnologias disponibilizada no mercado, tanto nacional como internacional. Em números o volume de exportações ultrapassou a cifra de 1.5 milhões de dólares. Os principais compradores foram : Alemanha, Espanha, Portugal, México e Estados Unidos.

Como qualquer atividade em equipe, o projeto necessita criar uma identidade própria, através do estabelecimento de parcerias, lideranças empresariais, objetivos mais específicos para o grupo e, acima de tudo, consciência para o crescimento coletivo. Várias ações estão em andamento buscando promover a inovação e o fortalecimento do APL de TIC, entre elas: − Iniciação de cursos de especialização em TIC, voltados para a capacitação técnica e

ampliação da visão gerencial;

− Certificação no processo de desenvolvimento de software (MPS-BR);

− Promoção de palestras e eventos de curta duração, visando sensibilizar os empresários para assuntos mercadológicos como vendas e planejamento estratégico;

− Criação de um portal do projeto www.faroldigital.org.br como elemento de integração e comunicação entre os interessados;

− Caracterização das empresas participantes em termos estratégicos e mercadológicos, como base para definição de ações de interesse comum ao projeto;

− Definição mais ampla do Arranjo Produtivo Local visando desencadear a integração entre os diversos participantes da cadeia de TIC.

Portanto, a consolidação das ações acima citadas, aliada tanto com a vocação natural do estado, que tem como referencia internacional a cidade de Campina Grande, quanto com o cenário econômico favorável será possível através de soluções inovadoras, estabelecer um panorama de TIC na Paraíba com grande potencial competitivo.

6. Considerações Finais

A experiência de aglomeração produtiva das empresas de TIC na Paraíba, descrito nesse artigo, converge num processo potencialmente rico para promover o desenvolvimento local sustentável. O Farol Digital possui uma particularidade, a ousadia de destoar de outros projetos que apostam em investimentos ao longo do litoral ou em torno de grandes metrópoles, inspirados no modelo tradicional de desenvolvimento brasileiro, nele busca-se tornar, três cidades inseridas numa das regiões mais pobres do país, em um “oásis de TIC integrado”.

Mesmo com todos os investimentos realizados e parcerias concretizadas, algumas dificuldades podem ser apontadas, uma delas, a heterogeneidade do grupo. Apesar de todas as empresas pertencerem ao mesmo setor produtivo, diferentes níveis de maturidade e de gestão dificultam a realização de ações que atendam as diversas expectativas e necessidades.

Outro fator relevante de entrave é a não participação efetiva dos Governos Municipal e Estadual, pois seus gestores ainda não incluíram na pauta do planejamento prioritário, um programa voltado para a promoção do desenvolvimento tecnológico.

Porém, o Projeto Farol Digital vem sinalizando positivamente em direção a organização e estruturação do APL de TIC no estado, através da integração e racionalização dos esforços dos seus vários parceiros. O Farol Digital não tem uma receita mágica para o sucesso, a não ser através do comprometimento e esforço todos, buscando principalmente dos parceiros envolvidos (Universidades, agentes financiadores e governos), o desencadeamento de ações decisivas visando facilidades de financiamento, incentivos tributários, programas de

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capacitação e ações integradas de mercado.

Decididamente, todas as instituições e profissionais sintonizados com o Farol Digital, acreditam que ele surge para iluminar os caminhos das empresas de TIC. Espera-se enfim, que o projeto concretize a sustentabilidade do potencial tecnológico do estado reconhecido nacionalmente e internacionalmente, tornando-se uma referência na produção de bens e serviços de classe mundial no setor TIC.

A descrição das ações concretizadas no primeiro ano de atuação do Projeto Farol Digital, feita nesse artigo, traz a tona informações referentes a cooperação de diversos atores locais envolvidos com TIC na Paraíba. Porém fazem-se necessários estudos posteriores para verificar o real impacto gerado pelo Projeto Farol Digital no que diz respeito à mudança das ações empresariais agora coletivas e inovadoras, para promover um desenvolvimento local sustentável.

7. Referências

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Referências

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