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UM HOMEM CÉLEBRE. Ângela Queiroz Antonini 1. Aurora Cardoso de Quadros 2 INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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UM HOMEM CÉLEBRE

Ângela Queiroz Antonini1

Aurora Cardoso de Quadros2

INTRODUÇÃO

Na pesquisa de Iniciação Científica advinha do estudo deste conto machadiano, temos como objeto de análise as angústias vividas pelo personagem Pestana. Um compositor de polcas que passara a vida almejando assemelhar-se aos grandes eruditos europeus. Através deste viés, identificamos em Pestana o conceito de homem subterrâneo descrito por Augusto Meyer, após extensa análise da influência de Dostoievski em Machado de Assis.

Observamos nesse homem subterrâneo nada mais, nada menos do que as nossas angústias e, não raro, frustrações pessoais de não atingirmos o que almejamos para nossas vidas, de forma a voltarmos contra nós mesmos, levando apenas em conta as adversidades e os males, consequências, às vezes, de egos feridos em existências melancólicas e pessimistas.

Machado constrói com maestria esta figura subterrânea em seus personagens realistas, algo que difere muito dos personagens romantizados durante a transição das escolas romântica e realista do autor. Machado, romantizado por muitos, fora mais do que um homem à frente de seu tempo, pois, com sua genialidade e suas ironias disfarçadas em ideias e fatos, conseguira trazer à tona as mazelas e os defeitos da sociedade em que vivera, fazendo também com que suas obras fossem propagadas através desse misto de

1 Universidade Estadual de Montes Claros; Graduação em Letras Inglês; Bolsista do programa PIBIC-

FAPEMIG.Unimontes. E-mail: antooniniangela@gmail.com

2 Universidade Estadual de Montes Claros; Doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela

Universidade de São Paulo (USP); Mestre em Variedades de Discursos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Professora do Departamento de Comunicação e Letras - Unimontes; email: auroracardoso2010@hotmail.com

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estético e social, tornando-se canônico justamente pelo fato de transcender gerações, nos mostrando que somos ainda o mesmo homem subterrâneo que construíra em suas obras realistas por anos a fio.

Dentro destes conceitos de realidade e subjetividade supracitados, temos no personagem desse conto um homem frustrado, que beira à loucura ou, quiçá, atingi-a, mas o papel social obriga-o a manter as aparências, fazendo com que apenas nas entrelinhas machadianas, sejam percebidos os detalhes que deixam pista para entrever a personalidade do compositor.

Augusto Meyer (1986) descreve de forma objetiva o que fora este conceito de homem subterrâneo nas obras machadianas:

" Há em Machado de Assis um ódio entranhado da vida, uma incapacidade radical de aceitação ou até mesmo de compreensão, pois, para compreender é indispensável postular antes um motivo de compreensão, e o que ele faz é resolver todas as questões suprimido-as. O "homem subterrâneo", aliás, quer suprimir o mundo inteiro." (MEYER, 1986, p. 196)

Por meio dessa incapacidade radical de aceitação e compreensão de mundo, as questões pessoais de seus personagens e do personagem em questão nesta pesquisa, nos faz refletir sobre nossas angústias e frustrações pessoais. Quem somos nós? Qual o nosso papel nesse mundo? Estamos atingindo nossos patamares pessoais de erudição assim como almejara o Pestana? Se não estamos, como lidamos com as reviravoltas e impossibilidades com que a vida nos desafia? Estamos insulando em nós mesmos e esquecendo de viver o que nos é dado?

METODOLOGIA

Este trabalho se baseia em análises bibliográficas e críticas de diversos autores que estudaram as obras de Machado de Assis. O seu desenvolvimento se estrutura em processos de leituras, reflexões, discussões literárias entre orientadora e orientanda, e diversas ponderações de experiências pessoais, pois a literatura como arte da palavra, consegue tocar em âmbitos profundos dos seus leitores, levando-os a vivenciar experiências através da leitura de forma que se reflita em sistematizações que propiciam um embasamento bivalente, de modo a aprimorar, além da leitura e da escrita, o as aptidões

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emocionais pela vivência da palavra em sua subjetividade artística. A primeira etapa fundamentou-se numa releitura do corpus, seguida de levantamento bibliográfica tendo por objetivo buscar conteúdos críticos que abordassem o tema de análise desta pesquisa, aproximando os fatos biográficos do autor e as representações do personagem principal, levando em conta as características que os constituem. Após análise e diversas leituras do conto em questão, juntamente com as leituras da bibliografia pesquisada, os registros, encontros, debates e releitura dos registros favoreceram a análise do conto.

A segunda etapa deu-se pelo processo de escrita do trabalho de conclusão de curso, além do artigo apresentado em seminário de literatura da Unimontes.

A terceira etapa se dá pela continuidade do processo de leitura, a busca de novas bibliografias durante o decorrer desta pesquisa.

RELATO DA EXPERIÊNCIA

A trajetória do presente estudo se construiu e ainda caminha de modo a propiciar a descoberta de traços singulares do escritor Machado de Assis. As leituras e análises, sendo trazidas a debate em reuniões presenciais e via computador, revelaram a visão aguda de um mestre distinto dos homens comuns do seu tempo. Também os registros conforme as normas preconizadas pela ABNT revelaram a importância da padronização da escrita acadêmica.

Com a pesquisa em andamento até fevereiro de 2017, os resultados atingidos até o presente momento geraram frutos no campo cognitivo e metodológico. Foi escrito um artigo, intitulado "Um Homem Célebre: Uma releitura" já aceito para publicação em anais de evento promovido pelo G.E.L(Grupo de Pesquisa em Estudos Literários) em parceria como Departamento de Comunicação de Letras da Universidade Estadual de Montes Claros, que envolveu o exercício da pesquisa científica, com registros orientados pelas normas da ABNT e da instituição. Desse modo, também como resultado, os ganhos obtidos com as bases da pesquisa serviram para a escrita do nosso TCC, intitulado "A Interdiscursividade no conto Um Homem Célebre", cujo percurso se fez paralelo a esta pesquisa de Iniciação Científica. Contudo, talvez como principal ganho, insere-se, entre os resultados desta pesquisa, o amadurecimento do exercício da reflexão pelo cotejamento e articulação da

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bibliografia estudada, o que gerou o perceptível avanço acadêmico e a autoconfiança para vislumbrarmos o ingresso em um curso de pós-graduação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa de Iniciação Científica tem por objetivo promover e desenvolver a habilidade de pesquisa do estudante de graduação. Por seu intermédio, o estudante exercita a prática cognitiva que associa o tripé da universidade: ensino, pesquisa e extensão, retomando e aprofundando o conhecimento adquirido em sala de aula, e partindo para a pesquisa científica sobre o tema proposto, que, em nosso caso, foi uma escolha inspirada nas aulas sobre a obra machadiana, ministrada pela orientadora na turma do 4° período, no segundo semestre de 2014. Pudemos perceber que o maior proveito de uma aula é o exercício da reflexão, seja em grupo ou individual e o seu compartilhamento por meio da produção acadêmica e suas publicações. Isso implica em um indivíduo atuante no meio acadêmico, que faz dos estudos a sua fonte de novas buscas rumo ao avanço na infinita busca do conhecimento de si e do mundo. A literatura torna-se, nessa dinâmica, um instrumento de peculiar eficácia, pois ao representar o mundo e o homem, faz refletir de modo natural, pela fantasia da ficção.

Pesquisar em literatura, seja ela qual for, é de uma grandeza inenarrável, pois o estudante imerge na experiência dos personagens, vivencia-as, transformando-as em experiências estéticas pessoais, e a partir da leitura e análise de obras literárias, acaba por envolver-se e enriquecer o autor que existe em si mesmo, enquanto produtor de texto. Como estudante de literatura, pode beneficiar-se dela de modo peculiar. Ao associar a realidade e a fantasia, a literatura constitui maravilhoso instrumento para que o acadêmico produza bons e interessantes trabalhos.

REFERÊNCIAS

ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1959.

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CANDIDO, Antonio. Esquema de Machado de Assis. In_________. Vários Escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1977, p. 15-32.

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CURVELLO, Mário. Polcas para um Fausto suburbano. In_________. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982, p. 457-461.

DA REDAÇÃO. Machado de Assis: Carolina acalentou e destruiu o coração do escritor. In: Revista Veja. São Paulo, set 2008.

Disponível em< http://www.abril.com.br/noticia/diversao/no_307190.shtml.>Acesso em 06 jun. 2016.

DIAS, Rosa Maria. O autor de si mesmo: Machado de Assis leitor de Schopenhauer. Kriterion. Belo Horizonte, v. 46, n. 112, p. 382-392, dez. 2005. . Disponível em

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GARBUGLIO, J. C. A linguagem política de Machado de Assis. In__________. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982, p. 461-476.

GLEDSON, John, Machado de Assis: impostura e realismo : uma reinterpretação de Dom Casmurro . São Paulo: Companhia das Letras, 1991.

MAINGUENEAU, Dominique. O contexto da obra literária: enunciação, escritor, sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MEYER, Augusto, BARBOSA, João Alexandre. Textos críticos. São Paulo: Perspectiva, 1986. (Coleção Textos n. 4)

SCHWARZ, Roberto. Um Mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades, 1991.

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WELLEK, René, WARREN, Austin. Teoria da literatura. Coimbra: Europa-América, 1976. WISNIK, José Miguel. Sem Receita. São Paulo: Publifolha, 2004.

Referências

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