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Metas dos ODM: Mal Compreendidas ou Mal Formuladas?

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entro de Pobreza

INTERNACIONAL

C

Maio, 2008 Número 33

por Hamid Tabatabai, Economista Sênior,

Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil (IPEC), Organização Internacional do Trabalho, Genebra

Metas dos ODM:

Mal Compreendidas ou Mal Formuladas?

Em um recente

One Pager, intitulado “ODM: Metas Mal Compreendidas?”, Jan Vandemoortele procura corrigir um “equívoco comum… da visão convencional sobre os ODM”. Ele observa que “os ODM eram essencialmente uma extrapolação das tendências globais de 1970 e 1980, projetadas até 2015… Assim, medir se o progresso está no bom caminho para o cumprimento dos objetivos em 2015 só pode ser feito a nível global… É errado lamentar, por exemplo, que a África Subsaariana não cumprirá os ODM, já que as metas não foram definidas especificamente para esta região.” O mesmo se aplica necessariamente ao nível nacional. Neste One Pager, argumenta-se que, se Vandemoortele estivesse correto, os ODM não seriam apenas mal compreendidos, mas também mal formulados.

Vandemoortele foi co-diretor do grupo interagencial das Nações Unidas responsável pela consolidação dos ODM. Dessa forma, pode-se a princípio considerar que a sua opinião representa a visão “oficial”. No entanto, sua visão parece estar em desacordo com diversos documentos, que sugerem o contrário, tanto ao nível regional quanto nacional. Por exemplo, o principal relatório do Projeto do Milênio da ONU está repleto de afirmações como “os países da Ásia Ocidental têm-se aproximado, como grupo, do cumprimento dos Objetivos, mas os progressos têm sido assimétricos dentro da região, dentro dos países e entre os Objetivos. Alguns países já se aproximaram do cumprimento da maioria dos Objetivos e até já se comprometeram com metas adicionais aos ODM, mais ambiciosas, mas outros permanecem significativamente fora do caminho para atingir os Objetivos originais” (2005, p. 161).

Mais importante ainda, a interpretação de Vandemoortele privaria a estrutura dos ODM de muito da sua força, se não mesmo da sua própria razão de existência. Existem várias razões. A primeira se relaciona com as metas dos ODM serem meramente extrapolações de tendências históricas. Se isto é tudo a que se aspira, por quê, então, nos preocupar? Assegurar que tendências passadas continuem não parece requerer toda a agitação que rodeia os ODM. Uma justificação respeitável para estabelecer tais objetivos seria introduzir maiores esforços para melhorar o desempenho passado. Por um lado, os ODM se destinam presumivelmente a acelerar as tendências através de reformas nos países em desenvolvimento, e, por outro, aumentar os fluxos de ajuda e investimento por parte dos países desenvolvidos.

Em segundo lugar, o fato das metas quantitativas serem baseadas em tendências globais não é, por si mesmo, razão para não as aplicar a outros níveis, como o regional e o nacional. De fato, o Relatório do Projeto do Milênio da ONU interpreta explicitamente os ODM como “objetivos nacionais, dado que é este o espírito com que são perseguidos em todo o mundo” (p. 3).

Em terceiro lugar, as tendências passadas são médias de diversas experiências. Alguns países se mantêm obviamente abaixo da média. Um motivo para estabelecer tendências passadas como meta é o de encorajar países de desempenho fraco a se elevarem ao nível médio. Isto iria também elevar a média. Se esta era a intenção, as metas dos ODM teriam de se aplicar aos contextos regional e nacional, e não ao global dos

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O CIP publica Working Papers, Policy Research Briefs, edições da revista Poverty in Focus, One Pagers e Country Studies.

Para informações adicionais e acesso às publicações do CIP: www.undp-povertycentre.org

quais derivam. Não é necessariamente verdade que “interpretar os ODM como uma medida uniforme significa condenar inevitavelmente mais da metade dos países à categoria de ‘mau procedimento’ …” (ênfase acrescentada). Este seria o caso apenas se as tendências gerais persistissem, não quando aceleram. É, em princípio, possível a cada país num grupo sair-se melhor do que a média do grupo no passado. Finalmente, se os ODM se destinassem apenas a ser seguidos globalmente, por quê é que tantos países tentariam alcançar os ODM no contexto nacional? Claramente, muitos países parecem achar inadequada uma interpretação conservadora dos ODM – segundo a qual deveriam ser aplicados apenas globalmente – e adotaram sua própria interpretação. De fato, é a própria organização de Vandemoortele, o PNUD, que lidera a monitoração dos esforços dos ODM e insiste em fazer relatórios nacionais!

Vandemoortele está, contudo, certo de que “seria um equívoco trágico dos ODM caso… países [que não cumprissem as metas globais] fossem classificados como ‘fracassados’ … “. Poderia de fato haver razões perfeitamente legítimas para que alguns países ficassem aquém de tendências históricas globais ou de quaisquer outras metas quantitativas, independentemente do modo como foram estabelecidas. O verdadeiro critério para julgar o desempenho e o esforço é saber se fizeram o melhor que podiam à luz das circunstâncias.

Referências:

UN Millennium Project. 2005. Investing in Development: A Practical Plan to Achieve the Millennium Development Goals. New York. Vandemoortele, Jan. 2007. “MDGs: Misunderstood Targets?”. Centro Internacional de Pobreza. One Pager No. 28. Janeiro.

Referências

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