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Exmo Sr. Juiz Federal da Vara da Seção Judiciária do Estado do Maranhão

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Academic year: 2021

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Exmo Sr. Juiz Federal da Vara da Seção Judiciária do Estado do Maranhão

O Ministério Público Federal, pela Procuradora da República signatária, vem à presença de V. Exa., nos termos do art. 129, III, da Constituição da República, art. 6º, inciso VII, alínea “b”, da Lei Complementar nº 75/93 e arts. 1º, inciso III c/c 5º da Lei nº 7.347/85 , propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

em face da FUNDAÇÃO JOSÉ SARNEY, pessoa jurídica de direito privado, com sede nesta cidade, na Rua Giz nº461, Qda. 138, Centro, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

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I

DOS FATOS

Em 15 de julho de 2002, a 3ª Superintendência do IPHAN comunicou a Procuradoria da República do Estado do Maranhão que procedeu a um embargo extrajudicial no imóvel situado nesta cidade, Rua do Giz, nº 461, Qda. 138, Centro, em razão da realização de obras de reforma sem a devida aprovação do projeto pelo Instituto.

O referido embargo se baseou na Informação Técnica nº 166/2002-DT/3ºSR/IPHAN (fls. 04/05) da qual destacamos as seguintes ponderações, in verbis:

“O imóvel em questão, originalmente uma morada inteira, encontra-se em área tombada pelo Governo Federal, segundo

processo nº454-T-57, inscrição nº 64 no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e nº 513 no Livro do Tombo de Belas Artes e, ainda, de acordo com o decreto-lei nº 25 de 30/11/37 é parte integrante do Centro Histórico inscrito na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade.

(...)

Conforme vistoria técnica realizada em 14/09/98 foi constatado que o imóvel possuía ocupação do pátio por edícula térrea, solta do imóvel original. Este possuía paredes internas rebocadas e pintadas com tintas à base d’agua, na fachada os dois vãos de janela rasgada ao lado direito haviam sido transformados em um único vão, fechado com porta metálica de enrolar.

Em data anterior, mais precisamente em 07/04/99 foram solicitados serviços de recomposição da fachada, aprovada por esta 3ª SR/IPHAN, porém não foram executados (processo nº 01494.000088/99-21,)

Em vistoria realizada ao imóvel no dia 14/97/99, foi verificada a realização de obras sem a prévia autorização desta Superintendência Regional. As obras foram paralisadas e foi solicitado encaminhamento de projeto constatando o uso a ser

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dado a cada ambiente, de forma a se ajustar o programa à recuperação do imóvel. Foi solicitado ainda a recuperação do nível original do piso e a retirada da laje da lateral direita do imóvel, desde o alinhamento do lote até a varanda.

Em 03/07/2002, após denúncia de terceiros, realizamos

vistoria técnica, onde verificamos mais uma vez a realização de obras no imóvel em questão sem a prévia aprovação do projeto pela 3ª SR/IPHAN.

No entulho depositado em terreno baldio localizado na Rua do Giz, esquina com a Jacinto Maia, encontramos vários pedaços de azulejos portugueses (inclusive uma peça quase inteira), proveniente da fachada do citado prédio. Observamos ainda que a maioria das paredes internas foram revestidas com cerâmica esmaltada (30x30 cm), até a altura de 1,80 metro, além

da utilização de forro PVC e o mais agravante, construção em dois pavimentos no pátio interno (área livre).” Original sem grifo.

Corroborando a tese de que alterações substanciais foram realizadas no imóvel, pode-se observar fotografias às fls. 06/09, onde são demonstradas a situação do imóvel antes e após a reforma.

Em 20 de novembro de 2003, a 3ª SR do IPHAN informou que o imóvel em questão é de propriedade da Fundação José Sarney, tendo sido adquirido em 18 de novembro de 2001 (fls. 17).

Em 31 de maio de 2004, a Superintendência do IPHAN confirmou que o projeto de reforma do imóvel situado na Rua do Giz, 461, não foi aprovado, tendo sido a obra concluída a revelia do Instituto (fls. 30).

Curial destacar que já foi proposta pelo Ministério Público Federal ação civil pública, tendo como objeto o imóvel em questão, distribuída à 6ª Vara Federal da Seção Judiciária do Maranhão, sob o nº 1998.37.002948-0, porém, trata-se de situação fática diversa (outra causa de pedir), vez que, no que concerne

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aos fatos elencados naquela ação civil pública o imóvel ainda não era de propriedade da ré (pólo passivo diferente – Sra. Cacilda Sales Serejo).

II

DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A Constituição da República confere ao Ministério Público, no seu art. 129, III, competência para promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

Por sua vez, detalha a Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, no art. 60, inciso “b”, a titularidade do Ministério Público da União para instaurar o inquérito civil e propor ação civil pública em defesa, dentre outros, dos bens e direitos de valor artístico, histórico, turístico e paisagístico. Semelhante disposição encontra-se no art. 1º, III, da Lei 7.347/85.

Não fosse o bastante, tem-se ainda que a tutela ajuizada se volta para a salvaguarda de direitos não fracionáveis interpessoalmente e titularizados por toda a coletividade, pois se trata do patrimônio histórico, artístico e paisagístico, situando-se entre aqueles denominados interesses difusos, previstos no art. 81, inciso I, da Lei nº 8.078/90, aplicável ao caso por força do art. 21 da Lei nº 7.347/85.

III

DA RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DA COISA TOMBADA

O imóvel em questão encontra-se em área tombada pelo Governo Federal, segundo processo nº454-T-57, inscrição nº 64 no Livro do Tombo Arqueológico,

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Etnográfico e Paisagístico e nº 513 no Livro do Tombo de Belas Artes, sendo parte integrante do Centro Histórico inscrito na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade.

Cumpre destacar que o tombamento é uma forma de intervenção na propriedade pela qual o Poder Público procura proteger o patrimônio histórico, artístico e cultural brasileiro, preservando a memória nacional. Assim, o proprietário não pode, em nome de interesses pessoais, alterar as características de seus bens se estes traduzem interesse público por atrelados a fatores de ordem histórica, artística, cultural, científica, turística e paisagística.1

Diante de tais circunstâncias, o Poder Público impõe certas restrições quanto ao uso da coisa tombada pelo proprietário. Destarte, somente lhe é permitido reparar, pintar ou restaurar o bem tombado mediante prévia aprovação do órgão competente, conforme dispõe o art. 17 do Decreto-Lei nº 25/37, in verbis:

“Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em nenhum caso, ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob

pena da multa de cinqüenta por cento do dano causado.” Grifo

nosso.

Neste sentido, cumpre transcrever os ensinamentos de SONIA

RABELLO DE CASTRO2:

“A mutilação do bem tombado deve ser compreendida junto com o disposto no final do art. 17, que determina a audiência do órgão competente para autorizar reparos, pinturas ou restaurações no bem. Caberá, portanto, ao órgão ao qual a lei conferiu o poder de polícia específico determinar, em cada caso, o que poderá ser feito no bem tombado, de modo que a alteração pretendida não o descaractize, mutilando-o. Será, portanto, o

1 JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO. Manual de Direito Administrativo, 10ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2003, p. 621.

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órgão do patrimônio que determinará o que será, ou não, multilação ao bem tombado, dentro dos seus limites de seu poder discricionário.

Se existe a proibição de alterar o bem tombado sem a autorização da autoridade competente, aquele que viola esta determinação estará cometendo infração à norma legal, ainda que sua alteração venha, posteriormente, a ser considerada admissível.” Original sem grifo.

Assim sendo, pode-se afirmar que a vontade do proprietário não é absoluta, devendo ser observadas as disposições legais que impõe limitações ao exercício do direito de propriedade, sob pena de responsabilização pelos atos praticados.

Com efeito, não remanesce qualquer dúvida quanto ao dever do proprietário no que tange a reparação dos danos causados ao imóvel em questão. As obras descaracterizaram o bem tombado, sendo realizadas a revelia do IPHAN, sem qualquer amparo legal. Tal conduta enseja a obrigação de promover a restauração do imóvel, bem como a condenação do réu em face dos danos que provocou, nos termos do art. 3º da Lei nº 7.347/85, art. do Dec.-Lei nº 25 e arts. 186 e 187 do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002)

IV DO PEDIDO

Ante o exposto, requer o Ministério Público Federal:

a) a citação da ré para, querendo, contestar a ação, sob pena de revelia;

b) seja determinado à requerida que se abstenha de realizar qualquer obra no imóvel sem a autorização do IPHAN;

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c) seja imposta a ré multa diária pelo não cumprimento do comando judicial, a ser revertido em prol do Fundo previsto no art. 13 da Lei 7.347/85;

d) proceda a obra de restauração dos elementos alterados no imóvel de acordo

com plano a ser elaborado pelo IPHAN;

e) condenação da ré ao pagamento de indenização em dinheiro pelos danos

causados, nos termos do art. 13 da Lei 7.347/85.

Requer, outrossim, a notificação do IPHAN, através de seu 3ª Coordenação Regional, localizada nesta cidade, Rua do Giz, nº 235, Centro, para acompanhar o feito.

Protesta o Ministério Público Federal pela produção de todas as provas juridicamente admissíveis, em especial a realização de perícia e oitiva de testemunhas a serem oportunamente arroladas.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais). N. Termos.

Pede deferimento.

São Luís, 02 de junho de 2004. CAROLINA DA HORA MESQUITA

Referências

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