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Ainda sobre o Rito Inglês

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Academic year: 2021

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O

YORK

YO

RK

Ainda sobre o Rito Inglês

Irm. João Guilherme C. Ribeiro, M.I., M.R.A.

Numa longa viagem de S. Paulo a Tóquio, sentaram-se lado a lado dois velhinhos, um judeu e o outro japo-nês. Muito educado, o velho rabino, bom conversador, tentava puxar con-versa com o japonês para amenizar a monotonia e a imobilidade forçada. Mas a todas as iniciativas e gentile-zas o japonês respondia rispidamen-te, com grunhidos e monossílabos. O rabino, intrigado, até porque conhe-cia bem a proverbial educação japo-nesa, acabou por irritar-se:

– Faz favor, eu sendo urbano, tentan-do conversar para distrair nesse via-gem comprido e você non faz outra coisa que rosnar. Que coisa feia! – Eu non gosta judeus.

O velho rabino indignou-se:

– Como, non gosta judeus? Eu, sim, podia non gostar de japons, por cau-sa de Eixo no guerra! Mas eu, que tive parente exterminado, eu estou aqui, sem preconceito, tentando fa-zer amizade... Non gosta judeus! Há! Faz favor! Que besteiron!

O japonês ofendeu-se:

– No besteira! Pai de eu, Yoshiro Mo-rimoto, morreu no Titanic!

– Titanic! Titanic? Que tem a ver ju-deus com Titanic? Quem afundou navio foi um iceberg, ora!

– Pra mim, tudo mesma coisa: ice-berg, Goldenice-berg, Rosemice-berg, Zilberberg, tudo mesma coisa!…

Alhos por bugalhos

Não foi à toa que imitei o Irm. Bere-siner, começando o artigo com uma piadinha. É que ela tem muito a ver com o que fizemos com o Rito mais antigo.

O Irm. Joaquim da Silva Pires, com seu bom senso e sua erudição habi-tuais, desatou o nó górdio. Sim, por-que não há outra forma legítima de designar o até então, entre nós, mal apelidado Rito de York senão de Rito

Inglês.

Como ele demonstrou, tudo come-çou há mais de um século, quando do retorno do Grande Oriente dos

Beneditinos ao seio do Grande Oriente do Brasil em 1883. O Gran-de Oriente dos Beneditinos tinha

es-tabelecido contato com a Grande

Loja de Wisconsin e teve três Lojas

que trabalharam no sistema ameri-cano. Já o GOB tinha, desde a funda-ção da Orphan Lodge, em 1837, Lojas trabalhando no sistema inglês. Por ocasião da fusão dos GOB,

Lavradio e Beneditinos, embora a Loja Vésper já tivesse adormecido,

estabeleceu-se a confusão. Para a raia miúda; (1) se as Lojas trabalha-vam em inglês, (2) se ingleses e ame-ricanos falam o mesmo idioma (os ingleses protestam...), (3) se York é um nome reverenciado na Maçona-ria desde as Old Charges e (4) se York é uma cidade da Inglaterra, então, disseram eles:

– C’os diabos, está óbvio que tudo é

farinha do mesmo saco!

E, cá entre nós, o nome York tem um certo charme, não? Então carim-bou-se nos sacos de todas as fari-nhas o rótulo Rito de York e pronto! Pois o rótulo continuou grudado até agora. Até ganhou lustre em duas ocasiões. A primeira foi quando o

GOB e a Grande Loja Unida da Inglaterra firmaram o tratado de

1912, com a criação do Grande

Capítulo do Rito de York, o erro

ratifi-cado oficialmente!

A segunda quando o GOB resolveu, em 1976, reeditar o ritual traduzido por Joseph Thomas Wilson Sadler e impresso na Inglaterra, em 1920, apondo-lhe um título espúrio que não tinha no original: Cerimô-nias

Exatas do Rito de York.

Embaraços

Quantas e quantas vezes, durante a cerimônia de Indução à Cadeira do

Oriente, no Real Arco, vemos a

sur-presa do iniciado ao ser-lhe entre-gue um chapéu.

Só mesmo um pesquisador paciente, meticuloso e culto como o Irm. Pires poderia ter desvendado o mistério da confusão que foi feita entre nós com o Rito Inglês. Sem susto, podemos dizer que o Rito foi confundido, rebatizado e carimbado indevidamente! Os vícios cartoriais fazem mais uma vÍtima...

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– Ora, como pode, se no Rito de York o Venerável não usa chapéu?

Invariavelmente temos que explicar que o nosso Real Arco é Maçonaria americana e que lá o Venerável usa chapéu. E invariavelmente também se surpreendem quando lhes dize-mos que os rituais simbólicos ameri-canos estão mais próximos do antigo ritual inglês e que são mais antigos do que as versões inglesas atuais, das quais o Emulation Ritual é apenas uma de muitas!

Você ficou confuso? Então vamos explicar.

Porém, para que possamos pegar o fio da meada, temos que recorrer à história (ela, sempre ela!). Aqui mes-mo, no Engenho & Arte, muitas ve-zes falamos sobre o que acontecia, paralelamente, nas Maçonarias in-glesa e americana. Só para recordar, vejamos.

Um pequeno flashback

A famosa data de 24 de junho de 1717 obviamente não é o início da Maçonaria, mas apenas da organiza-ção oficial da primeira Potência ma-çônica. Quer dizer, foi a primeira vez que Lojas independentes resol-veram associar-se – e mesmo assim, apenas para que os Maçons de então pudessem organizar uma grande fes-tança anual. De qualquer forma, com a criação da Primeira Grande

Loja, a Maçonaria emergiu

oficial-mente aos olhos do público. Mas é claro que ela já existia há muito. Só que, para existir uma Grande Loja, é preciso que existam Lojas. E para que existam Lojas, é preciso que exis-tam Maçons...

Por mais que se pergunte quem nas-ceu primeiro, se o ovo ou a galinha?, não é preciso inteligência brilhante para aceitar que se aconteceu a inici-ação de Elias Ashmole é porque já havia Maçons para iniciá-lo, concor-da? Daí, a conclusão óbvia é a de que a Maçonaria é algo anterior a 16 de outubro de 1646, meu caro Watson! Seria maravilhoso viajar no tempo e ver as coisas in loco. Porém, em nos faltando a famosa máquina do tempo de H. G. Wells, somos obrigados a especular.

Seja como for, é inegável que a Ma-çonaria ganhou tremendamente de

status durante o período de

recons-trução de Londres, após o catastrófi-co e benéficatastrófi-co Grande Incêndio de

1666. Catastrófico porque destruiu

dois terços da favela imunda que era então a capital inglesa, embora o nú-mero de vítimas não tenha sido tão grande quanto seria de se esperar naquelas condições. Benéfico por três razões. Primeiro, porque aca-bou com os ratos que a infestavam e tinham trazido a peste – cerca de cem mil pessoas já haviam sido viti-madas por ela, um fato às vezes es-quecido por causa da atenção que o

Great Fire desperta. Segundo,

por-que levou à reconstrução da cidade, transformando-a completamente. Terceiro, porque daria um enorme impulso à Franco-Maçonaria. Não pretendo falar da gênese da Ordem, mas daquele momento polí-tico. Em 1666, quando a Franco-Ma-çonaria ganhou proeminência, rei-nava Charles II, monarca da família Stuart, de origem escocesa, restau-rada ao trono em 1660. Mas ele mor-reu sem herdeiro. Acontece que seu irmão, James II, tinha-se convertido ao catolicismo. Para os britânicos de então, fartos de lutas religiosas, o catolicismo era associado à inquisi-ção e à intolerância religiosa, princi-palmente depois que o Rei Sol, Louis XIV de França, revogou o Edito de

Nantes, que garantia liberdade

reli-giosa aos franceses. Essa proibição levara muitos protestantes a refugi-ar-se na Inglaterra, inclusive aquele que teria enorme influência na emer-gente Franco-Maçonaria alguns anos depois, Jean Theophile

Desa-(1)

guliers. Quando nasceu um prín-cipe varão, vendo-se na iminência de um sucessor católico, os ingleses solenemente chutaram o Rei James do trono. Ele refugiou-se na França, sustentado por Louis XIV, enquanto suas filhas, uma após outra, sucede-ram-no na coroa. Como elas não ti-veram filhos, os britânicos convida-ram o príncipe alemão da Casa de Hanover e o coroaram como Rei George I. Entretanto, os Stuarts conspiravam do outro lado do Canal da Mancha.

NÃO ADIANTA, SE NÃO FOR INICIADO,

NÃO VAI ENTRAR. PODE ESPERNEAR À

VONTADE...

Como sempre, as coisas não eram pau e pedra. Muita gente boa na Inglaterra era a favor dos Stuarts. Até porque agora eram os Hanover que cobravam os impostos, não os Stuarts – o bolso sempre foi o órgão mais sensível do corpo humano... Na sociedade e no seio das Lojas Maçônicas as simpatias se dividiam – muitos dos que acompanharam os Stuarts à França eram

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çons. Como não podia deixar de ser, muitas famílias, apesar de dividi-das, mantinham suas ligações. A Maçonaria, além de uma grande fa-mília, tinha nas Lojas um dos mais eficientes meios de divulgação de idéias na época. Mas percebida co-mo sociedade secreta, ainda que pseudo, atraía suspeitas das

autori-(2)

dades. Assim, depois que o últi-mo Grão-Mestre pró Stuart, o Duque de Wharton, foi sucedido pelo Conde de Dalkeith, pró Hanover, naturalmente a Grande Loja se apro-ximou do establishment oficial, co a pouco. Mesmo depois da derro-ta da causa Stuart, em 1745, conti-nuaria a identificar-se com ele. Isso traria conseqüências no futuro.

Incômodos ritualísticos

Em 1730, aconteceu Maçonaria

Dissecada, de Samuel Prichard,

pou-uma inconfidência que expunha ao público o ritual maçônico. Alarma-da, a Primeira Grande Loja introdu-ziu modificações para reconhecer possíveis impostores, o que desagra-dou a muitos e trouxe também con-(3) seqüências, estas mais imediatas. As Grandes Lojas da Irlanda, criada em 1723, e a da Escócia, em 1736, conservaram os rituais como eram. Lembremos que a Franco-Maçona-ria, nesses países, era praticamente tão antiga quanto na Inglaterra. Em 1751, a Grande Loja inglesa ne-gou acesso a alguns Franco-Maçons irlandeses, que resolveram então criar sua própria Grande Loja. Tiveram a sorte de contar com um Grande Secretário muito combativo, Laurence Dermott. Inteligente-mente, Dermott capitalizou o desa-grado de muitos Franco-Maçons com as mudanças no ritual, dizendo que a nova Grande Loja, na realida-de, praticava a verdadeira, a antiga

(4)

Maçonaria de York. Assim, numa jogada esperta, dava à sua Grand

Lodge of England according to the Old Institutions (Grande Loja da

In-glaterra de acordo com as Antigas Instituições) o verniz respeitável de uma antiguidade que ela não tinha e transformava a rival em deturpado-ra de tdeturpado-radições: passou a chamar sua Grande Loja de Os Antigos (The

Antients, com grafia latina, para dar

mais respeitabilidade!), enquanto chamava a rival de 1717 de Os

Mo-dernos, desdenhosamente.

E fez mais: aproximou-se das

Gran-des Lojas da Irlanda e da Escócia.

Os irlandeses e escoceses nutriam profunda antipatia à Casa de Ha-nover, os primeiros porque as dife-renças religiosas eram fator de opressão na Irlanda; os segundos porque ainda se ressentiam da bru-talidade da conduta do Duque de Cumberland para com os escoceses na Batalha de Culloden, em 1746, que terminou com as pretensões dos

(5) Stuarts ao trono.

Assim, nas Ilhas Britânicas, tínha-mos quatro Grandes Lojas, separa-das em dois blocos: de um lado, a

Primeira Grande Loja de 1717 (os Modernos), com rituais modificados

por causa da inconfidência de

Prichard; de outro, as Grandes Lojas dos Antigos, da Irlanda e da Escócia. Aí você pergunta: e daí, o que é que isso tem a ver com o Rito de York? Paciência, já chegaremos lá.

Acontece que foi justamente nesse período que a Maçonaria se desen-volveu nas então colônias da Amé-rica do Norte, levada principalmen-te pelas Lojas militares. Essas Lojas, inicialmente militares e intineran-tes e depois civis e estabelecidas em locais determinados, tinham suas Cartas Constitutivas (Warrants ou

Charters) provenientes das quatro

Grandes Lojas. Naturalmente, à me-dida que a insatisfação das colônias levava mais e mais à independência, as simpatias políticas seguiam a mes-ma divisória. As Lojas dos

Moder-nos, mais chegadas à nobreza,

iden-tificavam-se com a metrópole e com o establishment, enquanto as Lojas da GL dos Antigos, da GL da Irlanda e da GL da Escócia pendiam mais e mais para a causa dos rebeldes. Quando sobreveio a Guerra de

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Independência, essa tendência se cristalizou. Os rebeldes ganharam e os Estados Unidos se tornaram uma nação independente, a primeira re-pública e uma grande experiência prática dos princípios maçônicos. Em termos de tradição maçônica, podemos dizer que a facção yorkista ganhou a parada. A Maçonaria ame-ricana estava firmemente calcada no velho ritual inglês, supostamente tal como era antes que a Primeira

Grande Loja (os Modernos) o tivesse

modificado por causa de Prichard.

Bem, e na velha Albion?

Bem, por volta de 1777, Dermott já havia falecido e as grandes rivalida-des cedido lugar a um espírito de conciliação, que acabou por encon-trar resultados práticos. Com um príncipe de sangue real como Grão-Mestre de cada uma delas, as duas Grandes Lojas acabaram por unir-se em 27 de dezembro de 1813, ficando como Grão-Mestre um príncipe, o Duque de Sussex. Mas para que isso acontecesse, foi necessário aparar as arestas. Uma comissão de notáveis ficou incumbida de examinar os pon-tos controversos entre os rituais dos

(4)

Modernos e dos Antigos, para que se

(7) pudesse chegar a um acordo. Assim, um novo ritual foi desenhado pela Comissão de notáveis e apre-sentado, pela primeira vez, em 20 de maio de 1816. A partir daí, seria dis-seminado através das Lojas de Ins-truções, a primeira das quais foi a Loja Stability, de 1817.

É preciso que se note que a Grande

Loja Unida da Inglaterra não tem um

ritual obrigatório. Nós, latinos, cus-tamos a entender como, depois de tanta celeuma, a Grande Loja-Mãe, que nasceu da pacificação, não im-pôs um ritual no peito e na raça. Três coisas temos que lembrar. Primeiro, que os ingleses preferem os usos e costumes ao gesso da palavra escrita (tanto assim que até hoje não têm constituição escrita, nem acham que seja necessária). Segundo, que as comunicações eram difíceis. E ter-ceiro, que até então os rituais não eram impressos, a não ser as

inconfi-(8) dências esporádicas.

Na prática, os rituais acabaram sur-gindo das Lojas de Instrução, como o

Stability e o Emulation. Mas existem

muitos outros, como Unanimity,

Ox-ford, Sussex, Logic, Perfect Ceremo-nies, Standard, Taylor’s, Revised, Bristol (o que conserva a forma mais

parecida com os antigos rituais) e (9)

outros, ainda. Exceto por este últi-mo, todos diferem muito pouco. Por sua vez, os rituais americanos também diferem pouco entre si – apesar de serem meia centena de Gran-des Lojas, cada um com seu ritual e seus costumes! E, surpresa, os rituais americanos, mais antigos, e os ingleses nem são tão diferentes assim!

Harry Carr, grande escritor inglês e insuspeitíssimo Secretário da Loja

Quatuor Coronati nº 2076,

dirigin-do-se aos americanos, explicou bem o porquê:

“[...] Pelos Rituais e Monitores que

estudei e pelas Cerimônias e Demonstrações que presenciei, não há dúvidas de que seu ritual é mais pleno que o nosso, dando ao candi-dato muito mais explicações, inter-pretação e simbolismo do que nor-malmente nós damos na Inglaterra. Com efeito, por causa das mudanças

No gráfico tentamos resumir os fatos numa linha de tempo, para melhor compreensão. À esquerda, o desenvolvimento das Grandes Lojas das Ilhas Britânicas e como elas deram origem à Maçonaria americana, primeiro, como Lojas e depois Grandes Lojas Provinciais e, após a Independência, como Grandes Lojas iniciais. Deve ser reparado que os rituais americanos descendem diretamente do ritual inglês original, através dos Antigos, e têm como modelo o Monitor de Thomas Smith Webb de 1797.

1717 1736 1751 1776 1756 1772 1817 1836 1838 1838 1813 1797 1730 Primeira GL (Inglaterra) Lojas e GLs Provinciais inglesas nas colônias

americanas

GLs estaduais USA

Rituais baseados no Monitor de Thomas Smith Webb,

derivado do ritual da GL dos Antigos. 1723 1732 GL da Irlanda GL da Irlanda GL da Escócia GL da Escócia GL Antigos GL Modernos GL Unida da Inglaterra GL Inglaterra muda detalhes no ritual Ma ons ry Di secs ted . o Illust f s y Ma onr Ahim an Re onz Lojas Militares difundem Maçonaria nas

colônias americanas GL Irlanda dá 1ª Carta para Loja militar Carta

Independ.

USA

o Monitr Webb Lodge of Promulgation (1809-1811) Lodge of Reconciliation (1813-1816)

União

Stability Lodge of Instruction Primeiro ritual pós-União impresso GL Irlanda: Nenhum ritual impresso

Ilhas Britânicas

Estados Unidos

Rituais baseados no Ritual Inglês original (pré-1730) Ritual modificado Rituais pré-1730 GL Modernos desaparece do cenário USA

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que fizemos entre 1809 e 1813, é jus-to que se diga que, em muijus-tos aspec-tos, seu ritual é mais antigo e melhor que o nosso”.

York ou American Rite

Há um estado americano, a Loui-siana, onde os termos York e Escocês são usados para os Graus Simbólicos com sentido exatamente similar ao daqui do Brasil. Isto porque a Louisiana foi colonizada pelos fran-ceses e só foi admitida nos Estados Unidos em 1812. A Grande Loja do

Estado da Louisiana adota dois

ritu-ais, um para o Rito Escocês, traba-lhado em 10 Lojas (incluindo sua pri-meira Loja, Étoile Palaire nº1, de Nova Orleans), e outro para o Rito York, trabalhado nas outras 258 Lojas. Na prática, é o mesmo ritual de Thomas Smith Webb para as Blue

ou Craft Lodges.

Um outro exemplo da conexão do termo York com a Maçonaria Ame-ricana está num ritual, que durante anos ouvi chamar de espúrio. Na verdade, também é visto como uma inconfidência. Ainda assim, segun-do Freemasonry Universal, de Kent Henderson eTony Pope, é adotado pelas Grandes Lojas de Arkansas e Missouri, subordinadas à Grande

Loja de Prince Hall, a regularíssima

Maçonaria Negra Americana. Então não tem como ser considerado espú-rio, concordam? É de autoria de Malcolm C. Duncan (de quem nada consegui descobrir) e foi publicado em Nova York (a terceira edição data de 1866).

No frontispício, está o título,

Duncan’s Masonic Ritual and Monitor. Logo abaixo, Guide to the Three Symbolic Degrees of the Ancient York Rite (Guia dos Três

Graus Simbólicos do Antigo Rito de York).

E mais abaixo ainda, continuando: ... and to the Degrees of Mark Master,

Past Master, Most Excellent Master and the Royal Arch (e para os Graus

de Mestre de Marca, Past Master, Mui Excelente Mestre e o Real Arco). Para quem é Maçom do Real Arco, o

Duncan’s é uma fonte muito boa,

di-gam o que disserem.

Uma última palavra sobre

terminologia maçônica

Na Inglaterra, as Corporações de Ofício da Idade Média eram exata-mente Craft Guilds, o termo craft sig-nificando exatamente isto, ofício. Lá, as Lojas que aqui chamamos Simbólicas, responsáveis pelos três primeiros Graus, são chamadas

Craft Lodges, que poderíamos

tradu-zir, ao pé da letra, por Lojas do Ofício. Daquele que está no Segun-do Grau, diz-se que é um Fellow of

the Craft ou Fellow Craft (Colega ou

Membro do Ofício), traduzido para português, com um pouco mais de status, como Companheiro.

Quando falam na instituição, os in-gleses dizem The Craft (O Ofício), que nós traduzimos por A Ordem. Nos Estados Unidos, além de Craft

Lodges, as Lojas Simbólicas são até

mais conhecidas por Blue Lodges, isto é, Lojas Azuis.

Embora, no início, bem na tradição da Grande Loja dos Antigos, outros Graus fossem conferidos, com o ad-vento do Grande Capítulo do Real

Arco, em 1797, e do Supremo Con-selho do Rito Escocês, em 1801, as Craft ou Blue Lodges ficaram com os

Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre. Os Graus acima do 4º e aci-ma de Mestre de Marca para a esfera dos Altos Graus do Rito Escocês e do

Rito de York, respectivamente, aí

sim, na nomenclatura hoje aceita pela Maçonaria americana.

E assim, entendidas as razões da con-fusão, por que não resolver, de uma vez por todas, esse imbroglio brasi-leiro com a brasileiríssima sugestão do Irm. Pires, designando o conjun-to dos rituais ingleses pelo seu gentí-lico? Nada melhor que Rito Inglês! Os Maçons do Real Arco mais do que aplaudem o Irm. Pires por sua erudição e vocação Sherlockiana: agradecem-no pela excelência da contribuição à Maçonaria Brasileira em geral e ao legítimo Rito de York em particular!

Gratos, Irm. Joaquim da Silva Pires!

Notas

(1) Hoje praticamente não restam dúvidas

de que Desaguliers, homem notável do seu tempo, membro da Royal Society e amigo pessoal de Isaac Newton, foi um dos res-ponsáveis pela introdução do Terceiro Grau no Simbolismo, por volta de 1725.

(2) Era difícil o momento político.

Sen-tindo-se os Hanover ameaçados pelas cons-pirações Stuart que vinham do outro lado do Canal, as sociedades reservadas, como a Franco-Maçonaria, e outras do mesmo tipo eram vistas, no mínimo, com reserva. E isto perdurou por muito tempo. Em 1799, o Parlamento inglês fez passar o Unlawful

Societies Act, para a “supressão mais eficaz de agremiações estabelecidas com propósi-tos sediciosos e traiçoeiros”. Graças aos

esforços conjuntos dos Grão-Mestres das duas Grandes Lojas, o Duque de Atholl, dos Antigos, e o Conde de Moira, dos

Mo-dernos, uma cláusula foi incluída,

excluin-do “as sociedades sob a denominação de

Lojas de Franco-Maçons [...]”.

(3) O motivo também era econômico. A

Grande Loja e as Lojas prestavam auxílio aos Irmãos necessitados. Obviamente não estavam querendo que espertalhões se apro-veitassem da Caridade.

(4) Não podemos esquecer da velha lenda

das guildas medievais de pedreiros, conta-da nas Old Charges (Velhas Obrigações), relativa ao Príncipe Edwin e à cidade de York. York é um nome venerando nas tradi-ções maçônicas.

(5) Até hoje, para os escoceses, o Duque de

Cumberland é conhecido por Butcher, quer dizer, açougueiro.

(6) Ao eclodir a Guerra de Independência,

45% das Lojas eram dos Modernos e 55% dos rebeldes, do bloco da Maçonaria dita fiel às “antigas tradições de York”.

(7) Um nome destacado nessa fase foi o do

secretário particular do Duque de Sussex, um ilustre brasileiro chamado José Hipólito da Costa, Patrono da Imprensa Brasileira. Somente agora o importante papel por ele desempenhado nessas nego-ciações está sendo estudado. Já publica-mos um artigo do Irm. William Carvalho sobre Hipólito da Costa no E&A #8. Falaremos sobre seu desempenho nesta fase em algum momento do futuro.

(8) O primeiro ritual pós União, da Emulation Lodge of Improvement for Master Masons Lodge of Instruction (Loja de

Instrução da Loja Emulação para o Aper-feiçoamento de Mestres Maçons – esse o nome completo!) foi impresso por George Claret em 1836, baseado no trabalho do preceptor e ritualista entusiasta, Peter Gilkes)

(9) Há um ritual chamado York, mas que

nada tem a ver com a nossa história, porque foi criado em meados do século XIX e usa-do na Union Lodge, de York, hoje Loja York nº 236.

Referências

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