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Reprodução induzida de híbridos do gênero Brycon em cativeiro: potencialidades e

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1 Reprodução induzida de híbridos do gênero Brycon em cativeiro: potencialidades e ameaças à conservação das espécies nativas.

Josi Margarete Ponzetto a,b, Carla Natacha Marcolino Polaz a*, Rita de Cássia Gimenes de Alcântara Rocha a, José Augusto Senhorini a, Fábio Porto-Foresti b, Fausto Foresti c

a Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais – CEPTA/ICMBio, Rod. SP 201, km 6,5, C.P. 64, CEP 13630-970, Pirassununga, SP. carla.polaz@icmbio.gov.br b Laboratório de Genética de Peixe - LaGenPe, Departamento de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de Bauru, CEP 17033-360, Bauru, SP. fpforesti@fc.unesp.br

c Laboratório de Biologia e Genética de Peixes, Departamento de Morfologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista - UNESP, Campus de Botucatu, CEP 18618-000, Botucatu, SP. fforesti@fc.unesp.br

Palavras-chave: hibridação, contaminação genética, peixes neotropicais

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2 ABSTRACT

Fish hybridization represents a threat to the conservation of native species. This study aims to evaluate the interspecific crossing of the female matrinxã (Brycon amazonicus - Control Group), with male of piracanjuba (Brycon orbignyanus - Hybrid I) and male of piraputanga (Brycon hilarii - Hybrid II) to verify the rate of hatching eggs, survival rate of larvae and the production of specimens for genetic studies. The results showed significant differences (p <0.05) between survival rates. Larvae from the crossing between matrinxã and piraputanga (HII) were superior both in final weight and in final length, compared to the junction between the control group (CG) and the hybrid I (HI). The results could be used for genetic analysis and they demonstrate applicabilities to aquaculture. These studies present the viability of the Brycon hybrids, and the potential for genetic contamination of natural stocks of wild species may be considered.

RESUMO

A hibridação de peixes pode representar uma ameaça à conservação das espécies nativas. Este trabalho objetivou avaliar o cruzamento interespecífico de fêmea de matrinxã (Brycon amazonicus - Grupo Controle), com macho de piracanjuba (Brycon orbignyanus - Híbrido I) e macho de piraputanga (Brycon hilarii - Híbrido II), a fim de verificar a taxa de eclosão dos ovos, taxa de sobrevivência das larvas e produção de espécimes para estudos genéticos. Os resultados mostraram diferenças significativas (p < 0.05) entre as taxas de sobrevivência. As larvas provenientes do cruzamento entre matrinxã e piraputanga (HII) foram superiores tanto em peso final quanto em

comprimento final, quando comparadas ao cruzamento entre o grupo controle (GC) e o hídrido I (HI). Os resultados permitem a geração de tecnologia para análises de cunho genético, demonstrando aplicabilidade na aquicultura. Estes estudos comprovam a

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3 viabilidade de híbridos do gênero Brycon, com potencial de contaminação genética dos estoques naturais das espécies selvagens.

INTRODUÇÃO

Hibridação é definida como uma fusão de dois patrimônios genéticos diferentes, cujos produtos podem apresentar caracteres taxonômicos intermediários (Mayr, 1963). Para alguns pesquisadores, a hibridação natural é considerada um fenômeno que tem um importante papel para a evolução dos organismos, podendo produzir genótipos que estabeleçam novas linhagens evolutivas (Arnold & Hodges, 1995). Por outro lado, Mayr (1963) aponta que, nos animais, a hibridação bem-sucedida é um fenômeno raro. Dentre os diversos grupos de vertebrados, em peixes a hibridação é um fenômeno bastante comum (Hubbs, 1955, 1961).

A utilização da hibridação em piscicultura tem sido aplicada para diversos fins, em programas de melhoramento genético de fenótipos com baixa herdabilidade e produção de híbridos com heterose, produção de novas linhagens, linhagens estéreis, monossexuais, poliplóides, andro e ginogenéticas (Toledo-Filho et al., 1998). As espécies reofílicas brasileiras, em sua maioria, não se reproduzem naturalmente em cativeiro, sendo, portanto, necessário induzir à desova mediante o uso de hormônios gonadotróficos e/ou hipotalâmicos. Esta técnica vem sendo aperfeiçoada e ajustada por diversos pesquisadores (Beher et al., 2000; Zaniboni Filho & Weingartner, 2007), alcançando resultados satisfatórios, permitindo a produção de juvenis de espécies em risco de extinção e a manutenção da diversidade de peixes.

Por outro lado, na corrida desenfreada pela produção de peixes voltada a interesses comerciais, observam-se alguns impactos negativos ao meio ambiente que ameaçam, em diferentes graus, as espécies nativas. Levados pela facilidade da técnica

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4 associada à curiosidade, muitas pisciculturas vislumbraram a oportunidade de misturar produtos sexuais de espécies diferentes.

Os resultados obtidos pela técnica de hibridação precisam ser cuidadosamente interpretados e analisados, devido à grande quantidade e heterogeneidade de produtos híbridos que podem resultar dos cruzamentos interespecíficos de peixes. Um aspecto relevante diz respeito aos riscos biológicos potenciais que os híbridos podem

representar ao meio ambiente, podendo contaminar geneticamente estoques naturais ou cultivados, caso sejam férteis, ou ainda competir de diversas formas com as linhagens parentais (Toledo-Filho et al., 1996). O resultado desses estudos pode possibilitar o uso de indivíduos com boas características qualitativas, oferecendo produtos diferenciados para as pisciculturas, destinados ao consumo alimentar, pesca esportiva, produção de hipófises e criadores de peixes ornamentais.

Os estudos sobre peixes do gênero Brycon iniciaram-se em 1927 com Rodolpho von Ihering; entretanto, ainda hoje não são conhecidos muitos aspectos de sua biologia. Existem cerca de 40 espécies descritas (Britski et al., 1988; Ceccarelli e Senhorini, 1996), distribuídas pelas principais bacias hidrográficas brasileiras, sendo que na bacia Amazônica ocorre o matrinxã (Brycon amazonicus Spix & Agassiz, 1829), na bacia do rio Paraná a piracanjuba (Brycon orbignyanus Valenciennes, 1849) e na bacia do rio Paraguai-Pantanal a piraputanga (Brycon hilarii Valenciennes, 1850) (Paiva, 1983; Mendonça, 1996), objetos do presente estudo. O cruzamento interespecífico destas espécies vem sendo realizado por produtores, de forma indiscriminada, seja por um desempenho melhor de crescimento, seja por outras características biológicas a considerar interessantes para o seu comércio. Essa prática pode se tornar danosa ao ambiente, considerando o risco de contaminação genética pelo escape dos exemplares híbridos.

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5 O presente trabalho objetivou descrever as relações intraespecíficas de “matrinxã x matrinxã” (Grupo Controle – GC) e interespecíficas de “matrinxã x piracanjuba” (Híbrido I – HI) e “matrinxã x piraputanga” (Híbrido II – HII), visando avaliar o desenvolvimento e a taxa de sobrevivência dos diferentes híbridos produzidos, disponibilizando assim material biológico para estudos posteriores de caracterização genética dos espécimes produzidos.

METODOLOGIA

O experimento foi realizado no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais - CEPTA/ICMBio, em Pirassununga, SP. Foram realizados cruzamentos induzidos (intra e interespecíficos) de reprodutores de matrinxã (B.

Amazonicus - GC), fêmea de matrinxã x macho de piracanjuba (B. Orbignyanus - HI) e fêmea de matrinxã x macho de piraputanga, (B. Hilarii - HII) de reprodutores criados em viveiros no CEPTA.

Para a indução à reprodução utilizou-se o método de hipofisação (Ihering & Azevedo, 1934). O agente indutor utilizado para provocar a liberação dos gametas foi o extrato bruto de hipófises de carpa comum (EBHC), administrado na base da nadadeira peitoral. A fêmea recebeu uma dose preparatória de 0.5 mg EBHC/kg de peixe, e após 10 horas de intervalo, 5.0 mg EBHC/kg de peixe; já os machos receberam dose única de 1.0 mg de EBHC/kg de peixe, administrado na mesma hora da segunda dose das

fêmeas. A extrusão dos ovócitos foi realizada manualmente, e a sua fertilização

realizada pelo método a "seco". O momento da desova foi estimado pelo cálculo: horas-grau à extrusão de ovócitos = tempo necessário para a desova a partir da administração da segunda dose de EBHC (h) x temperatura da água (ºC).

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6 A incubação dos ovos ocorreu em incubadoras tipo funil, construída em fibra de vidro com capacidade de 20 l, modelo horizontal (Woynarovich & Horváth, 1983), com circulação constante de água; durante a incubação dos ovos, a temperatura manteve-se a 29.5 ± 0.5 °C. Foram utilizadas três incubadoras, uma para os ovos de matrinxã x matrinxã (GC), uma para os ovos do cruzamento de fêmea de matrinxã e macho de piracanjuba (HI) e outra para os ovos do cruzamento de fêmea de matrinxã e macho de piraputanga (HII), que receberam respectivamente cada uma 15.360 ± 480 ovos.

Dentre os dados coletados foram obtidos o número dos ovócitos extrusados/g, horas-grau para a eclosão das larvas (temperatura da água em ºC x tempo, em h, desde a fertilização até a eclosão das larvas), porcentagem de larvas eclodidas (%) e tamanho das larvas (mm) 10 horas pós-eclosão. Larvas do parental matrinxã (GC) e do

cruzamento entre matrinxã e piracanjuba (HI) e matrinxã x piraputanga (HII), com três dias de vida, apresentaram peso e comprimento de 7.2 ± 0.75 mm, 6.2 ± 0.6 mm e 6.0 ± 0.7 mm respectivamente, na densidade de 10 larvas/litro, foram casualmente divididas em 10 incubadoras verticais com capacidade para 40 l cada, sendo mantidas com volume de 30 l de água, aeração artificial constante, produzida por compressor e pedra porosa, e renovação de água equivalente a 10 trocas por dia, sendo essa água

proveniente de uma represa denominada Represa Nova, com área alagada de

aproximadamente 3,5 ha, localizada dentro do próprio CEPTA, pH 6,5, temperatura variando de 26 a 29ºC, e oxigênio dissolvido a 5.0 mg/l.

Seguiu-se um delineamento experimental inteiramente casualizado, constituído de três tratamentos e cinco repetições cada. Cada unidade experimental (UE) dos três tratamentos: GC com larvas de matrinxã, HI com larvas de matrinxã x piracanjuba e HII matrinxã x piraputanga, foram alimentadas com náuplios de Artemia salina, fornecidos, pela manhã (9 h) e à tarde (17 h), numa concentração de 100 ± 9 larvas/alimentação,

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7 mais ração contendo 30,9 % de proteína bruta, constituída de farinha de peixe, proteína texturizada de soja, farelo de milho, leite em pó e premix mineral e vitamínico,

fornecida na quantidade de 30% da biomassa estimada das larvas, em três porções diárias, às 8, 12 e 16 h. Diariamente, às 8 h e 30 min, foram registrados os parâmetros temperatura (°C) e oxigênio dissolvido (mg/l) da água em cada UE, na profundidade média de 5 cm, utilizando-se um oxigenômetro, provido de um termistor acoplado a uma sonda. Em intervalos de três dias, foram coletadas amostras de água às 9 h para determinação da concentração de amônia (mg/l), por espectrofotometria, e do potencial hidrogeniônico (pH) com auxílio de um peagâmetro digital.

Para acompanhamento da criação, coletou-se aleatoriamente no início do estudo uma amostra de 50 indivíduos de cada espécie, os quais foram submetidos à biometria, registrando-se os valores de comprimento total (LT). No final do experimento, após 18 dias de criação, todos os peixes foram capturados, contados e submetidos a novas mensurações, para se determinar à sobrevivência, peso e comprimento finais.

A taxa de sobrevivência final foi comparada entre os tratamentos pelo teste não paramétrico de Kruskall-Wallis (Zar, 1999) Foi adotado o nível de significância de 5%. Os dados das variáveis físicas e químicas da água das unidades experimentais foram comparados pelo teste não paramétrico “U” de Mann-Whitney (Zar, 1999), a um nível de significância de 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A quantidade de ovos incubados, % de eclosão das larvas, tempo de eclosão e tamanho das larvas com 3 dias de idade está representado na Tabela 1.

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8 Tratamentos Ovos incubados % Eclosão Tempo eclosão Horas-grau Larvas CT (mm) Matrinxã (GC) 15360 ± 480 91.4 ± 0.7 457.25 7.2 ± 0.75 Matrinxã X Piracanjuba (HI) 15360 ± 480 88.0 ± 2.5 386.45 6.2 ± 0.6 Matrinxã X Piraputanga (HII) 15360 ± 480 83.6 ± 1.7 386.45 6.0 ± 0.7

* Valores com letras diferentes na mesma linha diferem entre si (p < 0,05)

Tabela 1. Valores relativos à quantidade de ovócitos/grama, ovos incubados,

taxa de eclosão (%), larvas eclodidas, tempo de eclosão e tamanho (mm) das larvas 3 dias após a eclosão.

Os valores da produtividade final das larvas nos tratamentos experimentais são apresentados na Tabela 2. Tratamentos Li/mm/larva 3 dias/idade Lf/mm/larva 18 dias/idade Peso (gramas) % Sobrevivência Peixes produzidos Matrinxã (GC) 7.2 ± 0,75 18.4 ± 4.0b 0.07 ± 0.04b 53.7 ± 4.7b 542 Matrinxã X Piracanjuba (HI) 6.2 ± 0.6 26.4 ± 3.0a 0.26 ± 0.04a 1.7 ± 0.8a 10 Matrinxã X Piraputanga (HII) 6.0 ± 0.7 27.4 ± 2.6b 0.30 ± 0.09a 17.0 ± 3.4a 170

* Valores com letras diferentes na mesma linha diferem entre si (p < 0,05)

Tabela 2. Comprimento médio inicial (Li) e final (Lf), peso médio final (Wf) e

sobrevivência final (S) das larvas de matrinxã Brycon amazonicus, matrinxã fêmea x piracanjuba Brycon orbignyanus e da matrinxã fêmea x piraputanga Brycon hilarii

durante 18 dias de criação.

As variáveis físicas e químicas da água estão apresentadas na Tabela 3. Não houve diferença significativa nos parâmetros analisados entre os tratamentos e entre as unidades experimentais. Variáveis Matrinxã (mín. - máx.) Matrinxã X Piracanjuba (mín. - máx.) Matrinxã X Piraputanga (mín. - máx.) Temperatura (°C) 26.4 – 29.0 26.4 – 29.0 26.4 – 29. 0 Oxigênio dissolvido (mg/l) 5.4 – 6.1 5.4 – 6.0 5.4 – 6.0 pH 6.7 – 7.1 6.7 – 7.1 6.7 – 7.1 Amônia (mg/l) 0.11 – 0.13 0.11 – 0.13 0.11 – 0.13

Tabela 3. Variação da temperatura, oxigênio dissolvido, amônia e pH da água das

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9 A análise dos valores referentes aos parâmetros da água não revelou diferença entre as variáveis no decorrer dos tratamentos, estando de acordo com os valores recomendáveis para manutenção da homeostase, apresentando-se próprio para ambientes de criação de peixes (Boyd, 1990; Sipaúba-Tavares, 1994). Desta forma pode-se inferir que as características físicas e químicas da água das incubadoras não interferiram nos resultados.

A fêmea de matrinxã sinalizou o momento da desova, com contrações

abdominais, que ocorreram com 199.5 horas-grau 7 h após a aplicação da segunda dose de EBHC, com a temperatura da água a 28.5ºC, quando foi realizada a extrusão dos ovócitos. A temperatura exerce grande influência durante o desenvolvimento embrionário. Eckmann (1984) verificou em Brycon cf erythropterus que a eclosão ocorreu aproximadamente 16 horas após a fertilização, a 26.2ºC. Lopes et al. (1995) citam que, a 28-30 ºC, o pacu (Piaractus mesopotamicus) e o tambaqui (Colossoma macropomum) eclodiram 12-14 horas após a fertilização, e quando a temperatura da água diminui para 25-26ºC, o tempo de desenvolvimento embrionário aumentou para 16-18 horas. Os mesmos autores ainda informam que, a uma temperatura média de 30ºC, o período de desenvolvimento embrionário de Brycon cephalus (hoje B. amazonicus, após revisão da espécie) foi de 10 horas e 30 minutos.

No presente estudo, o período embrionário, desde a fertilização até o momento de eclosão das larvas, compreendeu um período de 457.25 (16.4 h), 386.45 (13.9 h) e 386.45 (13.9 h) horas-grau respectivamente para o cruzamento matrinxã x matrinxã (GC), matrinxã x piracanjuba (HI) e matrinxã x piraputanga (HII), temperatura da água 27.7ºC. Otero (1988) em um experimento semelhante, porém com Brycon moorei sinuensis, incubado à temperatura média de 27 °C, observou a eclosão 14 horas após a

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10 fertilização. Esta variação do período embrionário pode estar relacionada ao fato do desenvolvimento dos teleósteos ser sensível às mudanças ambientais, principalmente à temperatura, ocorrendo maior período de desenvolvimento em temperaturas mais baixas (Faustino et al., 2007).

Segundo Verneque et al. (1998), o objetivo desses cruzamentos é obter um melhoramento genético rápido, reunindo em um só animal as boas características de duas ou mais raças, aproveitando-se a heterose ou vigor híbrido. A heterose é o fenômeno pelo qual os filhos apresentam melhor desempenho (mais vigor ou maior produção) do que a média dos pais.

Sobre isso, Santos & Godinho (1996, 2002) encontraram comprimentos totais após a eclosão de 3.7 mm (Salminus brasiliensis), 3.4 mm (Piaractus mesopotamicus), 2.6 mm (Leporinus elongatus), 3.1 mm (Prochilodus affinis) e 3.2 mm (Prochilodus marggravii). Sendo assim, o comprimento total das larvas de matrinxã, e seus híbridos interespecíficos piracanjuba e piraputanga à eclosão foram superiores ao de outros representantes da ordem Characiformes, citados neste trabalho.

Estas variações de tamanho inicial das larvas recém-eclodidas em diferentes experimentos podem ser justificadas pela origem, idade e nutrição dos reprodutores, que podem influenciar no desenvolvimento do ovário e, conseqüentemente, no tamanho das larvas. Após 18 dias de criação das larvas, o peso e o comprimento final dos juvenis híbridos foram significativamente maior (p < 0.05) que os juvenis do parental B. amazonicus. Os híbridos, portanto, mostraram-se viáveis para criação, apresentando a heterose, discutida acima.

No presente experimento a incubação das larvas de matrinxã e seus híbridos seguiram a mesma densidade utilizada por Ceccarelli e Senhorini (1996); no entanto, a taxa de sobrevivência para as larvas de matrinxã foi de 53.7 ± 4.7, as larvas entre os

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11 híbridos interespecíficos obtiveram taxa de sobrevivência igual a 1.7 ± 0.8 e 17.0 ± 3.4 respectivamente para piracanjuba e piraputanga. Ceccarelli & Senhorini (1996) citam que, na fase de procura de alimento das pós-larvas de piracanjuba e matrinxã, ocorre alta incidência de canibalismo entre 30 e 36 horas após a eclosão, quando não se adiciona alimento às incubadoras. Estes autores preconizam de 5 a 7 larvas de peixe forrageiro para cada pós-larva de matrinxã, nesta fase.

Considerando que a produção de híbridos interespecíficos de peixes seja atualmente uma prática comum, tanto no Brasil como na América do Sul, torna-se necessária ações de caracterização e monitoramento desses animais, para que se realize uma avaliação correta do uso desses indivíduos em projetos de piscicultura, diminuindo os riscos para o meio ambiente, uma vez que esses híbridos, ao serem férteis, podem se retrocruzar ou cruzar com os seus parentais (Toledo-Filho et al., 1994; Porto-Foresti et al., 2008).

CONCLUSÃO

Os híbridos obtidos dos cruzamentos interespecíficos se mostraram viáveis e atrativos para criação, pois apresentaram peso e comprimento finais superiores aos parentais, caracterizando o que se chama de vigor híbrido. Tal constatação pode representar sérios riscos de contaminação genética aos estoques naturais das espécies selvagens do gênero Brycon.

Estes estudos permitem ainda a geração de tecnologia para análises de cunho genético, demonstrando também um potencial de aplicação na aqüicultura.

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15 AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao graduando de Biologia Marco Antonio Abdalla pela valiosa colaboração nos trabalhos de laboratório.

Referências

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