As Relações entre Comunicação e Religião: Rádio e Tv como Meios para Expressão do Neopentecostalismo.
Luis de Castro Campos Jr.1
Resumo: O objetivo deste artigo é demonstrar a relação entre comunicação e religião tendo a televisão como lócus privilegiado no tocante a pregação de grupos neopentecostais considerando o surgimento da Igreja Mundial do Poder de Deus que aluga um horário considerável importante na TV transmitindo seus cultos bem como testemunhos como forma de conseguir fiéis e recursos visando suas atividades. As novas expressões religiosas tem encontrado um terreno fértil para sua expansão utilizando os meios de comunicação na busca de um maior número de fiéis.
Palavras-chave: comunicação, religião, história, ciências sociais. Pentecostalismo.
Introdução:
O pentecostalismo brasileiro apresentou mudanças importantes no final do século XX com o surgimento de novos grupos tendo destaque recente a Igreja Mundial do Poder de Deus, fundada e comandada pelo Apóstolo Valdemiro Santiago.
A partir de 1998 este grupo religioso se desenvolveu tendo como núcleo inicial a cidade de Sorocaba no interior paulista para depois chegar a capital, São Paulo onde experimentou um crescimento expressivo aproveitando para se expandir à outras grandes capitais regionais brasileiras como Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
O caso da IMPD2 aponta para um outro momento do neopentecostalismo mostrando divisões internas as quais se caracterizam por novas posturas utilizando de forma privilegiada o espaço televisivo na busca de fiéis patrocinadores. Também inaugura novo momento talvez de cissiparidade, expressão utilizada por Antônio Flávio Pierucci quanto a rupturas uma vez que Santiago foi da Igreja Universal do Reino de Deus, trabalhando como bispo na África antes de sair e criar seu próprio ministério.
1. O Termo Neopentecostalismo.
As origens da IMPD remetem a uma profunda mudança do pentecostalismo ocorrida nos anos 70 do século XX com o surgimento de novas lideranças na sociedade
1 Doutor em Ciências da Religião pela UMESP. Doutor em História pela UNESP – Campus de Assis.
Professor Ajunto de História. Universidade Estadual do Norte do Paraná.
como bem comentou Siepierski. Houve um rompimento na unidade doutrinária neopentecostal com mudanças no seu conteúdo doutrinário.
Para ele a característica do pentecostalismo pode ser melhor percebida no tocante a sua escatologia.
Siepierski sustenta que mesmo a glossolalia deve ser compreendida a luz da escatologia como expectativa da irrupção do Reino de Deus. O fenômeno do Espírito Santo seria um dos sinais que o final dos tempos estava às portas como forma da Igreja se comportar na terra.
Neste contexto a busca do batismo do Espírito Santo seria um revestimento de poder espiritual utilizado na pregação do evangelho visando atingir rapidamente o mundo com a finalidade de apressar a volta de Jesus como visão escatológica.
De acordo com este autor o pós-pentecostalismo é o afastamento dos pentecostais formado na base da Teologia da Prosperidade e no conceito de guerra espiritual.
A despeito da classificação de vários autores sobre os pentecostais tomando como ponto de partida os grupos oriundos da “segunda onda” podemos citar a Igreja do Evangelho Quadrangular3 inserindo novos elementos e estratégias visando melhor propagação de suas mensagens e abrindo o caminho para adesão aos meios de comunicação de massa.4
Em primeiro momento o rádio e depois a televisão tornaram-se pontos estratégicos na pregação pentecostal contribuindo provavelmente para sua expansão.
Nos anos setenta a influência de televangelistas americanos como Rex Humbard e Jimmy Swegaert despertou a atenção de novos pregadores que estavam surgindo neste ambiente de transformações no Brasil tendo como contexto o início da redemocratização do país. Estes novos pregadores deram os primeiros passos na fundação de suas igrejas como em 1977, Edir Macedo e 1980, Romildo Soares.
A Igreja Universal do Reino de Deus5 que surgiu na Avenida Suburbana no Rio de Janeiro iniciou este processo para depois atingir as grandes metrópoles brasileiras se destacando na famosa „onda carioca”. Primeiro no plano interno quando o universo iurdiano apresentou elementos que continham: exorcismo, conversões e curas.
3 Passaremos a adotar IEQ.
4
Paul Freston propõe a classificação do pentecostalismo por ondas: A Primeira Onda representa Congregação Cristã e Assembléia de Deus. A Segunda teria a Igreja do Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo e Deus Amor como maiores expoentes. Já a Terceira onda seria marcada por Igreja Universal do Reino de Deus, Sara Nossa Terra, Renascer e Internacional da Graça de Deus.
Havia a busca excessiva pelo exorcismo dos demônios, então responsáveis por todo tipo de situações negativas que ocorrem na vida dos seres humanos apresentando como caminho a conversão a sua proposta de transformação.
Além destes elementos cabe destaque a outros três segundo Paulo Bolaffi: a Guerra Santa, Realidade do Mal e às doenças divinas.
No plano externo o desafio era como propagar suas novas doutrinas em um país de maioria católica agora densamente urbanizado e marcado por uma população em constante trânsito, talvez atônita pelo novo ritmo impresso na velocidade das máquinas e no ambiente industrial.
Nas afirmações de Prandi, a cidade moderna é profana e sua civilização desencantada no sentido que Max Weber atribuiu a esta palavra: ela prescinde do apelo ao sobrenatural. Todo o comportamento esperado deve ser fundamentado na razão.
“ A idéia que se tem de nossas populações é que habitam cidades imensas, em que as igrejas(católicas) ficaram vazias. Mas, ao mesmo tempo, as frações pobres dessas populações, especialmente aquelas que se viram ou se sentiram abandonadas por sua religião original (esse catolicismo dessacralizado), foram buscar outras formas de crer, e sobretudo se mostrarem crentes, foram construir outros deuses, foram remodelar outros meios de ver e ter contato como o que não faz sentido imediato nesta sociedade – o sagrado”. (PIERUCCI&PRANDI: 24:1996)
Mas qual o modelo ideal do novo homem e da nova mulher? Ele é representado pelo modelo não-religioso como: competência profissional, competitividade, auto-suficiência e visibilidade social, além do consumo de produtos e bens acessíveis apenas a quem possui recursos econômicos.
Por outro lado as frações pobres encontraram no discurso neopentecostal uma ferramenta para tentar sobreviver no processo de exclusão capitalista alicerçado na busca pela educação voltada para o trabalho assegurando assim condições para altos salários e uma condição de vida presente em países do chamado primeiro mundo.
Tudo que é produzido e ganha ares de modernidade é consumido de forma essencial nestas grandes cidades. O problema é que a maioria da população que as habita vive muito mal, sem os recursos necessários como saúde e transporte dentre outros.
Após o desenvolvimento urbano acelerado dos anos 60 e 70 quando todos os setores da economia cresciam, todo tipo de trabalho era requerido. A crença pairava no sentido de que haveria recursos suficientes para todos.
Se por um lado a cidade moderna se apresentou secularizada por outro ela oferece todo tipo de religiões aqueles que por ele foram deserdados. Assim os pobres da cidade teriam ( e tem) a possibilidade de se filiarem a uma igreja pentecostal de grande expressão ou não.
Segundo Prandi, nestes novos locais, que podem ser um templo, ou um imenso barracão adaptado como no caso de David Miranda, sua intimidade será valorizada, através de um espaço de publicidade influenciando seus desejos e necessidades. Além disso a existência de um código moral estreito permite que o novo crente passe a fazer parte de um grupo religioso, muitas vezes separado da sociedade.
Neste novo contexto o pré-milenarismo que conseguiu grande sucesso no século XX não mais produziu um efeito profundo em função do não cumprimento das expectativas criadas na transição para o novo século. Na visão de Siepierski o pré-milenarismo refletiu o meio religioso e o sócio-econômico do final do século XIX. Foi fruto de condições históricas objetivas.
As mudanças teológicas que foram produzidas em função do contexto histórico e social permitiram o surgimento de novos postulados levando mais uma vez em consideração a escatologia. Mais tarde o surgimento do pós-milenarismo foi possível embasado em doutrinas pactuais ressaltando a fidelidade e o pacto da bíblia.
Com esta nova visão os cristãos mesmo militando em um território estranho, como o ambiente “mundano” receberiam as bênçãos de Deus enquanto aguardam o retorno de Cristo. Este se dará em um futuro distante e imprevisível. Daí a ênfase do neopentecostal para o sucesso no “aqui” e no tempo presente. Esta nova visão constitui o cerne da pregação nas novas expressões pentecostais enfatizando a necessidade de um cristão mais competitivo, “esperto” e que vê no crescimento financeiro dentre outros um sinal evidente das bênçãos de Deus. São constantes os testemunhos de crentes que “deram a volta por cima” no desemprego e agora são donos do próprio negócio.
Neste novo pentecostalismo o acúmulo de bens materiais não é proibido. Muito pelo contrário, atesta que o crente esta agindo de acordo com os ensinamentos e preceitos proferidos nas reuniões específicas como a Corrente da Prosperidade ou da Vida Sentimental, presentes na Igreja Universal do Reino de Deus.
2. Um novo Contexto: O Rádio e a TV.
Após estas considerações passamos a levantar o papel do radio e mais recentemente da televisão na sociedade brasileira e em especial junto aos grupos religiosos aqui citados.
O rádio como fruto da segunda revolução industrial apresentou um desenvolvimento importante a partir do momento em que a descoberta do transístor permitiu sua fabricação e conseqüente comercialização em massa.
A partir das experiências de Marconi na Itália e de Landel de Moura no Brasil a transmissão de eventos utilizando as ondas hertzianas mudou de forma considerável a vida de milhões de pessoas presentes nas grandes cidades pelo mundo.
No caso específico do Brasil, o rádio foi primeiramente um instrumento da elite sendo usado politicamente nos anos 40 por Getúlio Vargas como arma importante na manutenção de suas idéias cooptando os trabalhadores e impondo um regime autoritário com o monopólio do poder.
A sua inserção ocorreu de fato em 1922 por ocasião do aniversário da independência na cidade do Rio de Janeiro, então capital da república. A transmissão de eventos por meio de alto-falantes instalados em pontos estratégicos apresentou aos brasileiros as possibilidades deste novo aparelho em que a fala e o som tinham um grande impacto na formação das idéias e sentimentos.
As primeiras estações de rádio estavam organizadas em sociedades ou clubes e sua manutenção tinha dependência direta da contribuição que os ouvintes enviavam, garantindo a continuidade da programação.
A medida que a sociedade se desenvolvia o rádio transformou-se de instrumento voltado ao entretenimento a de caráter comercial. Os anos 40 foram marcados como anos de ouro com as radionovelas mas o espaço para a publicidade já começava a ser ampliado permitindo que este veículo se desenvolvesse.
Já a televisão teria o seu marco nos anos 50 com a atuação de Assis Chateuabriand que possuía uma cadeia de jornais, os Diários Associados. Em janeiro de 1950 ocorria a primeira transmissão de tv na cidade de São Paulo atingindo o Rio de Janeiro um ano depois.
A TV Globo de propriedade do jornalista Roberto Marinho seria inaugurada em 1965 fazendo um acordo com o grupo norte-americano Time e Life e com isso recebendo recursos na ordem de 5 milhões de dólares. O governo militar sob influência
nacionalista pressionou e a Globo teve de romper seu acordo embora já tivesse tecnologia suficiente para iniciar uma nova etapa conquistando um território que lhe garantiria sua liderança até os dias atuais.
Uma das fontes de recurso deste grupo é proveniente dos anúncios e publicidade. Também este grupo se especializou em um setor que marcaria a sociedade brasileira e as comunicações: as telenovelas.
Aproveitando o caminho seguido pela pioneira Tupi, logo começaram a surgir fenômenos de audiência como as novelas Irmãos Coragem e Selva de Pedra.
Em 1974 a transmissão de jogos da copa do Mundo realizada na Alemanha em cores marcou um outro momento na história brasileira. Em pleno regime militar o sucesso da seleção brasileira não foi o mesmo que em 1970 e o time do Brasil acabou desclassificado pela seleção da Holanda iniciando um período de fracassos que só terminaria em 1994 com a copa dos Estados Unidos. O regime militar não pôde utilizar o futebol como forma de influenciar a opinião publica.
Com uma ampla audiência, a televisão diminuiu o poder hegemônico do rádio, mas não decretou sua falência. Estes dois meios de comunicação teriam ainda uma influência muito grande.
Como espaços seculares, rádio e televisão não ficaram imunes ao assédio dos grupos religiosos sendo utilizados sistematicamente já a partir dos anos 50 pelas novas expressões da segunda onda capitaneados em primeiro lugar pela Igreja do Evangelho Quadrangular e mais tarde pela Igreja Pentecostal Deus é Amor, do missionário David Miranda.
Este último iniciou sua igreja em 1962 destacando a cura divina e os milagres “no ar” ao transmitir testemunhos e concentrações muitas delas estratégias para sua propagação. Em 1982 Miranda adquiriu a Rádio Universo de Curitiba e passou a cobrir praticamente todo o território nacional6. Conseguiu um novo meio de comunicação demonizando a televisão que então passava a ser concebida como um instrumento mundano e portanto responsável pela desagregação da família.
De acordo com Leonildo Silveira Campos o grupo de David Miranda não teria recursos para aquisição de horários na tv devido ao seu elevado preço. Daí a importância do rádio uma vez que este veículo também permitia o acesso a crentes de outras denominações seus ouvintes que em tese seriam possíveis adeptos.
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Também comprou um imenso galpão na Avenida do Estado na capital de São Paulo onde possui até hoje sua sede mundial.
A escolha de emissoras decadentes como algumas do antigo grupo de Chateubriand, ocorria em virtude da resistência e preconceito de muitos empresários do ramo contra estes programas religiosos.
Já no caso da televisão as transformações ocorridas entre os pentecostais nos anos 70 permitiram que novos grupos passassem a se utilizar dos programas inicialmente restritos às madrugadas até atingirem o chamado horário nobre, como o caso do missionário R.R Soares com seu programa Show da Fé na rede Bandeirantes exibidos diariamente.
Porém em 1989 Edir Macedo adquiriu a Rede Record por 45 milhões de dólares iniciando um novo momento em que o secular e o religioso caminhavam lado a lado em uma disputa com a Rede Globo.
A Igreja Universal do Reino de Deus passou a veicular seus programas no período noturno muitas vezes dando uma conotação de “guerra santa” contra os outros canais que insistiam em notícias sobre arrecadação das ofertas em muitas reuniões realizadas em grandes estádios de futebol como do Maracanã no Rio de Janeiro e do Morumbi em São Paulo.
A partir de tal aquisição a Rede Record iniciou como que uma verdadeira cruzada empenhada em bater a audiência de sua principal rival, a Globo assumindo riscos e conseguindo algumas conquistas como os direitos exclusivos de transmissão das Olimpíadas de Londres em 2012.
Se David Miranda transmitia suas reuniões pelo rádio, Macedo se ocupou de faze-la pela tv, mostrando suas concentrações como forma de angariar mais fiéis aproveitando assim a força de um meio de comunicação com grande penetração na sociedade brasileira. Os rituais de exorcismo e as orações por solução de problemas passaram a ter destaque importante na maioria dos programas exibidos nos anos 90.
“A Igreja Universal é um empreendimento religioso ligado ao surgimento de um capitalismo tardio e a um quadro cultural em que as ferramentas de marketing desempenham um importante papel. Por isso a Igreja Universal não possui um conjunto de produtos a serem empurrados, de qualquer jeito, para públicos indiferenciados. Muito pelo contrário, ela procura conhecer as demandas do público, segmenta e escolhe os grupos que deseja satisfazer com intensidade, oferecendo-lhes produtos diferenciados. (CAMPOS: 55,1997)
Segundo Leonildo S. Campos a Igreja Universal desenvolve uma estratégia de marketing fundamentada no chamado mercado de bens religiosos assumindo uma posição de empresa acentuando termos do mundo empresarial como demanda, produção
e consumo destes bens. Ele ainda completa considerando que uma vez descoberto o que realmente interessava a massa, a preocupação foi o meio para oferecer as pessoas o que elas na verdade estavam ansiosas por adquirir.
3. Um Novo Momento: Igreja Mundial do Poder de Deus.
Após se envolver em um naufrágio na África Waldemiro Santiago teve desentendimentos com a liderança da IURD se afastando da mesma. Como aprendeu a pregar e tinha uma retórica simples, além dos exorcismos e orações por cura e resolução de problemas logo retomou suas atividades iniciando uma pequena igreja em Sorocaba.
Ao usar com certa competência a televisão logo já despontava como grande pregador de milagres conseguindo com isso atrair multidões para seu templo sede e com isso recursos para alugar um horário junto ao canal 21.
Uma observação mais profunda permite perceber que o discurso da IMPD procura muitas vezes combater os métodos utilizados pela IURD até como estratégia para minar o concorrente conseguindo resultados expressivos na migração de antigos membros para suas fileiras.
O estudo dos livros e dos periódicos da igreja podem também auxiliar na constatação de seus aspectos doutrinários e sua preocupação com a leitura da bíblia como forma de reforçar a veracidade de seu aporte teológico embora este se mostre com elevado conteúdo popular, atingindo em tese um bom número de espectadores.
Em uma primeira impressão a abordagem mais simplista iria considerar a IMPD cópia fiel de sua matriz o que tem caracterizado de certa forma os grandes grupos pentecostais.
Mas uma análise mais pormenorizada permite verificar alguns elementos internos diferenciadores que podem favorecer a compreensão do novo segmento.
Por exemplo, aparentemente existe um maior espaço para a glossolalia, característica inicial dos pentecostais “clássicos” e que foi motivo de grandes cisões com a saída de grupos da igreja batista e presbiteriana.
Um segundo elemento importante é a contraposição em alguns momentos da teologia da prosperidade embora a IMPD tenha a reunião para o Crescimento Financeiro
e incentive seus adeptos a conseguir um sucesso na vida material ela não o faz da mesma forma que a IURD.
Esta última em algumas de suas reuniões tem como preocupação central ensinar seus membros a desenvolver projetos empresariais, um componente central em seu marketing religioso.
Um outro elemento diferenciador é a ênfase no sacrifício. Enquanto a IURD faz três campanhas durante o ano denominadas “Fogueira Santa de Israel” a IMPD chega a combater tal prática aproveitando em muitos momentos a insatisfação de antigos fiéis iurdianos que passaram a freqüentar suas fileiras.
Há também estratégia do Apóstolo Valdemiro Santiago em chamar as pessoas a seu púlpito transmitindo o momento do abraço e mostrando que não há tanta distância entre o líder e suas ovelhas como o fazem os demais grupos neopentecostais. Quando as pregações ocorrem em amplos espaços públicos como estádios de futebol, ou mesmo recintos voltados para exposições agropecuárias, ele utiliza um chapéu o que serve para diferenciar mais dos outros pregadores contemporâneos.
É provável que estes elementos diferenciadores contribuam para melhor compreensão deste novo fenômeno surgido nos anos 90 que agora inaugura uma nova era: a das cisões nas grandes denominações neopentecostais.
Outro método utilizado por este pregador se dá na transmissão de suas concentrações em suas sedes instaladas na capital de São Paulo. Quando não está em outro estado, Santiago aproveita as reuniões no domingo para organizar encontros em Santo Amaro – São Paulo, (na avenida João Dias – a mesma da IURD) e no bairro do Brás onde teve de reformar seu templo para escapar das investigações empreendidas pelo ministério público paulista.
Ao enfatizar o uso da bíblia (conta sempre com o auxílio de um pastor ou obreiro para mostrar à câmera textos da bíblia) em suas reuniões ele procurou ser diferente mostrando que muitos milagres ocorridos nos tempos apostólicos também podem ser verificados na sede da IMPD.
Acompanhado por cinegrafistas ele desenvolve uma linguagem popular, as vezes interrompendo sua fala para mostrar vários milagres apresentando pessoas simples, que se dispõe a mostrar como as suas orações tiveram importância em suas vidas.
Com isso a Igreja Mundial do Poder de Deus tem se constituído em um dos mais importantes desdobramentos neopentecostais no início do século seja atraindo fiéis de sua antiga matriz (a IURD) seja mesmo com fiéis católicos.
Considerações Finais.
O neopentecostalismo se desenvolveu com maior velocidade em terras brasileiras aproveitando em sua estrutura elementos do marketing religioso em uma sociedade marcada pelo consumo e a busca do sucesso individual.
Embora ocorram conquistas como a redemocratização do Brasil, o crescimento urbano desordenado e os desafios históricos em virtude da exclusão social não permitiram que melhores condições sociais fossem asseguradas no sentido existencial a população brasileira.
A falta de transporte adequado, as precárias condições urbanas em regiões metropolitanas ainda constituem desafios para os governantes provocando um sentimento de angústia em setores consideráveis da população.
Neste novo espaço as religiões se acomodam e aproveitam para desenvolver graças a um discurso agregador veiculado agora pelos novos meios de comunicação atingindo cada vez mais lares.
Além disso as incertezas geradas pelas crises do capitalismo, contribuem para a produção de um contingente cada vez maior de excluídos que encontram no discurso neopentecostal o alento para suas frustrações e dificuldades.
Tais denominações perceberam com maior acuidade que grande parte de seu sucesso depende de sua visibilidade por este contingente e com isso conseguiram com grande competência um número de adeptos o que tem alterado a composição do campo brasileiro no século XX.
A relação entre os meios de comunicação de massa com as igrejas neopentecostais é muito intensa marcando uma nova tendência entre os evangélicos brasileiros lhe dando maior visibilidade e lhe conferindo certa vantagem quanto a propagação de seus valores e mensagem.
Referências.
CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, Templo e Mercado: Organização e Marketing de Um Empreendimento Neopentecostal. Petrópolis:Vozes. São Paulo: Simpósio Editora e Universidade Metodista de São Paulo, 1997.
CAMPOS, Leonildo Silveira. O Milagre no Ar. Persuasão a Serviço de Quem? São Paulo: Aste, Simpósio p.93-114
SIEPIERSKI, Paulo D. Contribuições para Uma Tipologia do Pentecostalismo Brasileiro in: GERRRIERO, Silas. O Estudo das Religiões. Desafios Contemporâneos. São Paulo: Paulinas, 2003. Coleção: Estudos da ABHR.
PIERUCCI, Antonio Flávio e PRANDI, Reginaldo. A Realidade Social das Religiões no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.
MANOEL, Ivan Ap. e RAMOS, Solange (orgs) Identidades Religiosas. Franca: UNESP – FHDSS: Civitas Editora, 2008.
