“Cristo, ideal do
humilde obediente”
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“Santo Tomás lembra que Santo Agostinho liga a humildade
ao dom do temor assim como a virtude de religião. Tocamos
aqui no ponto mais profundo, na própria raiz da virtude. Esta
doutrina é de uma capital importância”
(CIM 2,11,3)
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“A virtude da humildade não é constituída de um ato particular; podemos
cumprir atos sem possuir esta virtude... A humildade é uma disposição
habitual... como um fogo de cujas chamas jorram faíscas, atos de
humildade... Na humildade é a boa vontade que, auxiliada pela graça,
inclina-se, abaixa-se por reverência a Deus, e leva a inteligência e todo o
homem a permanecer no lugar que lhe é devido”
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“Recebi, ultimamente, uma luz que me parece preciosíssima: Deus, neste
momento, contempla-me. Vê o abismo da minha miséria. Sabe perfeitamente em
que abismo eu soçobraria se Ele me privasse de Sua graça. Conhece com exatidão
aquilo que sou capaz. Eu mesmo posso adivinhá-lo recordando o meu passado, e
resvalaria mais baixo ainda, porque o abuso da graça seria tão grave que me
arrastaria a cometer os maiores crimes. Isto é rigorosamente verdadeiro a
qualquer momento, até quando me sinto todo abrasado pelo desejo de agradar a
Deus. Sou tão inconstante! Este pensamento me humilha e me faz compreender
quanto Deus é bom ao suportar-me e como só nos méritos de Jesus Cristo posso
apoiar minha confiança”
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“Compreende-se com facilidade porque São Bento, que nos indica como único
objetivo “encontrar Deus” fundamenta nossa vida espiritual sobre a humildade.
Ele próprio chegou muito perto de Deus para ignorar que somente a humildade
atrai a graça e que, sem a graça não podemos nada. Toda a ascese de São
Bento se traduz em tornar a alma humilde, depois a faze-la viver na obediência
(que é a expressão prática da humildade): este será o segredo da íntima união
com Deus.”
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“Deus é essencialmente o Primeiro Princípio. Nossa homenagem para com Ele consiste em reconhece-Lo como fonte de todo bem. Eis o que nega, na prática, aquele que tenta
agir por si mesmo. Não se acha toda criatura, em relação a Deus, num vínculo de total dependência? A humildade é o reconhecimento prático desse vínculo. É infinita a elevação à qual Deus nos destina. Só Ele pode fazer com que a alcancemos. Disto, tem
consciência o humilde, de um modo habitual. O orgulhoso, de maneira quase
inconsciente, coloca-se a si mesmo em lugar de Deus. Exalta-se em pensamento, em palavra, em ação, constituindo o seu próprio “eu” como princípio de tudo. Pouco a
pouco, deseja que o admirem constitui-se fim supremo e centro de tudo” (Retiro, Erdington, dezembro 1907).
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“A consideração de nossa miséria pode produzir um
sentimento passageiro de humildade, mas não é aí que está
a virtude, que é uma disposição habitual; a humildade nasce
necessariamente da reverência a Deus: esta é a única causa
que possa gerar e, sobretudo, tornar estável esta virtude”
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“Quando a fé, que preludia a beleza divina, nos faz tocar algo das insondáveis perfeições divinas, nós nos prostramos imediatamente em adoração. A alma capta, numa forte luz interior, esta espécie de face a face entre ela e Deus; ela tem a visão do contraste infinito dos dois termos que se
repelem um ao outro: a pequenez e a baixeza repelirem a grandeza e a majestade; e estas repelirem aquelas. A alma pode, além disto, fixar sua atenção sobre um dos dois termos da relação: se o termo é Deus, ela tende a adorar; se o termo é ela mesma, tende a humilhar-se. É
precisamente no instante do aniquilamento de nós mesmos face à majestade divina que a
humildade nasce na alma. Desde que a reverência de Deus enche a alma é como uma fonte donde emana a humildade: a humildade é causada pela reverência divina [II-II q 161, a4, ad1]”
A – A HUMILDADE NA VIDA MONÁSTICA.
“Por via de consequência, esta reverência a Deus se estende a tudo o que lhe
diz respeito, tudo o que o representa: a humanidade de Cristo e todos os
membros de seu Corpo místico. Devemos, diz São Tomás, não somente
reverenciar Deus em Si mesmo como também reverenciar em todo homem o
que é de Deus, ainda que de outra maneira. É por isto que, conclui São
Tomás, devemos, pela humildade, submetermo-nos a nossos semelhantes por
causa de Deus” (CIM 2,11,3; STh II-II q 61 a 3 ad 1).
B – MONGE, O HUMILDE OBEDIENTE.
“O fundamento da vida espiritual é, como vimos, segundo São
Bento e São Tomás, constituído pela humildade pois esta virtude é
a disposição preliminar e necessária para que se estabeleça na
alma o estado da caridade perfeita... Mas, como o mostra SB, a
expressão prática da humildade no monge é a obediência; com
efeito, quando a alma é cheia de reverência a Deus ela se
submete a Ele e aos que O representam para cumprir sua vontade
em todas as coisas; isto é a obediência. Esta virtude é o fruto e o
B – MONGE, O HUMILDE OBEDIENTE.
“A obediência monástica é a disposição em virtude da qual o homem, por amor de Deus, consente em prostrar-se diante de Cristo na pessoa escolhida pelo próprio Deus, quer se trate de um superior simpático ou não, perfeito ou imperfeito. Em meu Abade, devo considerar Cristo e submeter-me inteiramente a Ele. Nada avilta tanto o homem quanto a obediência servil. Assim, para que a nossa obra seja sobrenatural, é
preciso ver em toda autoridade uma participação na autoridade de Deus. Isto porém só se descobre na luz de Deus, é uma questão de fé. Quanto maior vossa fé, mais
vosso Abade será para vós o Cristo” (Conferência, Maredret, 1905).
B – MONGE, O HUMILDE OBEDIENTE.
“Viver na obscuridade de uma fé prática e ativa, tal é a homenagem que Deus
reclama de nós. Ora, a obediência nos dá ocasião de mostrar a Deus nossa fé
Nele: a obediência é a manifestação da nossa fé. É necessário, com efeito, uma
grande fé, uma fé perfeita para sustentar constantemente a obediência a um
homem que, é verdade, representa Deus mas o representa guardando ele próprio
suas imperfeições. Aí está a fonte de uma profunda virtude e de um grande
mérito”
B – MONGE, O HUMILDE OBEDIENTE.
“É por amor a Deus que nós nos submetemos ao superior em toda obediência (RB VII). Algumas linhas escritas por São Bento sobre a obediência mostram em sua alma uma tendência profunda a agir por amor. Nele queima como que um entusiasmo por Deus,
por Cristo, a própria caridade. No seu pensamento a obediência não é somente uma disposição íntima que inclina a executar todo comando com prontidão e devotamente
porque a ordem moral exige que o inferior se submeta ao superior. A obediência do monge deve ser um exercício perpétuo de amor... a obediência torna-se assim
expressão de uma disposição habitual de vida unitiva pela conformidade ou comunhão perpétua da vontade humana com a vontade divina”
B – MONGE, O HUMILDE OBEDIENTE.
“O princípio que faz, para nós monges, a obediência tão necessária, é que esta virtude resume nela todos os meios de encontrar Deus. Porque viemos ao mosteiro? Qual é
nosso objetivo? Somente um: buscar Deus, tender em sua direção com todas as energias de nosso ser. Mas, como dissemos frequentemente, é seguindo Cristo Jesus que chegamos a Deus, pois é Ele somente que leva ao Pai toda a humanidade... Ora,
como Cristo realiza esta obra gigantesca? Por sua obediência. O caminho que Ele percorreu e no qual devemos segui-Lo é um caminho de obediência”.