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8° Antologia REPERTÓRIO FINAL

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Academic year: 2021

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Direção artística e revisão de texto Juliana Impaléa

Coordenação Técnica Rogério Messias

Arte Gráfica da Capa e Contracapa Patrícia Parrela

Imagem da Capa - “Caminhos” Flôr Kepah

Projeto gráfico

Washington Yohan e Flôr Kepah Seleção de Imagens Flôr Kepah e Washington Yohan

Escritores Arthus de Vasconcellos

Blimer Carmen Fossari Christian von Koenig

Flôr Kepah Francisco de Assis Junior

Gabriel Felipe Jacomel Ingrid Oliveira Ismael Alberto Schonhors

João Jacinto

João Pedro Garcia Jordane Câmara José Luiz Amorim

Juliana Impaléa Juliana Pereira Julio Cesar Gentil

Julio de Mattos Juniores Rodrigues Luisandra Junges Markian Deneszczuk Neto da Silva Pablo Luz Rafael Bitencourt Renata Dias Renatta Calippo Rogério Messias Samanta Rosa Maia Thierry Mickael Motta

Tiago Kroich Washington Yohan Ilustradores Calini Detoni Douglas Bruno F. Flôr Kepah Fred Cruz e Gizelli Flor

Gabriel T. de Oliveira Izabel Garcia Jhozfer da Silveira Jonas Jordane Câmara Kaicy Loren Lara Montechio Micael Michael Rosa Renatta Calippo Tabata Vieira da Silva

Ficha Catalográfica

____________________________________________________________________________________ A637 Antologia poética: sarau boca de cena, 2012.

Florianópolis: UFSC, 2012.

100 p.; 21 cm; il.; vários autores. 1- Literatura brasileira 2- Poesia I.Título CDU 869.0(81))

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“Se um homem encara a vida de um ponto de vista artístico, seu cérebro passa a ser seu coração”.

“A finalidade da arte é, simplesmente, criar um estudo da alma”.

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Edeltrudes Dutra Impaléa (in memorian), Carmen Fossari, Zelia Anita Viviani, Vicente Impaléa Neto, Clóvis Werner, Zelia Sabino, Maris Viana, Jussara Giacomelli, Simone Schmidt, Zeca Pires, José Ernesto Vargas, Stélio Furlan, Marcelo Siqueira, Salvador dos Santos, Marcos Ebersol, Banda 3Jay, Banda Numb, Banda Alquimista, Banda Desclassificados, Banda Expedição, Banda Circo Quebra Copos, Banda Café da Manhã, Banda Psy-cubensis, Banda Comum de 3, Banda UNH8, Banda Guandma, Banda Balanço Bruxólico, Banda Cerveja Grátis, Lucas Quirino, Banda Jambar, Banda Verminoize, Estou Cavando um Buraco, Banda Um Par de Ímpar, Louie, Tatiana Cobbett, Marco Liva, Chico Caprário, Valmor Coutinho, Guilherme Zorel, Juarez Mendonça, Daniel Johnstone, Michel Góes, Eduardo Dias, Oswaldo Junior Pezzato, Ana Santos, Milena Abreu, Grupo de Dança Kirinus, Bob Carvalho, Flavia Desor, Andre Paraíba, Lucas Romero, Grupo de Dança Domínio Cigano, Clair Leal, Telma Scherer, Erick Klein, Aline Maciel, George França, Bárbara Mafra, Aline Fonseca, Fernando Kudder, Bruno Barbi, Fabiano Bernardes, Alessandra Gutierrez da Cruz, Fabiano Foresti, Adrian Impaléa, Mateus Romero, Fabricio Foresti, Escola Estadual Simão José Hess, Fundação Franklin Cascaes, Cine Paredão, Arte de Caderno, Teatro da UFSC, Jornal do Almoço – RBS, Rádio UDESC, Zarpante - cooperatira artística da cultura lusófona, BuuZine, GAIA (Grupo de Apoio à Inclusão do Autista e Síndrome de Asperger), TV-COM, SEPEX – UFSC, DAC, CCE, SeCarte, Agecom, a todos que participaram, direta ou indiretamente, do Sarau Boca de Cena e ao público cativo que participa ativamente desta iniciativa cultural que completa oito anos de existência.

Até o próximo Sarau Boca de Cena! Vamos cultuar a cultura!

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Apresentação Carmen L. Fossari 11

Palavra pregando peça Juliana Impaléa 13

O nó João Pedro Garcia 14

Coceira da vida Julio de Mattos 15

Inconsciente Renatta Calippo 16

Sonho João Jacinto 17

Traduzir-me, confundir-me Washington Yohan e Flôr Kepah 18

Manifesto à poesia Flôr Kepah 19

Classicacos Gabriel Felipe Jacomel 21

Viver Francisco de Assis Junior 22

Daqui até o fim dessa enunciação Blimer 23

Poema Flôr Kepah 25

Juniores Rodrigues 26

Fingidor Tiago Kroich 27

Para uma antologia Thierry M. Motta 28

Julho de mattos Flôr Kepah 29

Quando eu for poeta Julio Cesar Gentil 30

Auto-psicografia Julio de Mattos 31

Words may guard me Arthus de Vasconcellos 32

No adro das mínguas Thierry M. Motta 33

Poema de arames Jordane Câmara 34

Vivendo e aprendendo a viver rafael bitencourt

Rafael Bitencourt 35

Dádivas Renata Dias 36

Eu vou indo evoluindo Juliana Impaléa 37

Olha Juliana Impaléa 38

Os olhos dela Francisco de Assis Junior 39

A dança da passarinha vermelha Flôr Kepah 40

Sorvete Gabriel Felipe Jacomel 41

Encontro Washington Yohan 42

Poema dos desejos Jordane Câmara 43

Estou fazendo anotações incertas e alimentando as traças Poema dos desejos

Blimer 44

Azeites & bacalhaus Luisandra Junges 45

O adeus eterno Christian von Koenig 46

Iamo Carmen L. Fossari 47

Chickenneckyou João Pedro Garcia 48

Haiku José Luiz Amorim 49

Teoria literária i

(poesia épica)

José Luiz Amorim 49

Pentear João Pedro Garcia 50

Heartstealing Gabriel Felipe Jacomel 51

Reticente Juliana Impaléa 52

Seegano Washington Yohan 53

Como comover-se sobre uma pessoa que ama? Blimer 54

Consubstanciação Christian von Koenig 55

Nosso amor Juliana Impaléa 56

Tu, aí João Jacinto 57

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To oscar Markian Deneszczuk 62

Washington Yohan 63

Pornaso José Amorim 64

Mastro em ação! Flôr Kepah 65

Estranhezas Christian von Koenig 66

Juniores Rodrigues 67

Tic-tac Rafael Bitencourt 68

Pontal Pablo Luz 69

Ilha Juliana Impaléa 70

The earth, a planet Carmen L. Fossari 71

Ix Tiago Kroich 72

Suspiros João Jacinto 73

Personagem Julio de Mattos 74

Coqueiral Juliana Impaléa 75

Nublo ao mesmo tempo Samanta Rosa Maia 76

Preso em meu mundo, livre em minha mente. Rafael Bitencourt 77

Facebook Jordane Câmara 78

Informação e conhecimento Rogério Messias 79

Ingrid Oliveira 80

Gabarito da vida Pablo Luz 82

Epitáfio Tiago Kroich 83

Andarilha Renatta Calippo 84

Solidão em escala de dó Renata Dias 85

Bom dia do escravo Jordane Câmara 86

Greve geral João Jacinto 87

Na lona preta Ingrid Oliveira 88

Catedral noturna Tiago Kroich 89

Percepções Renata Dias 91

Demonstração que está fazendo falta Samanta Rosa Maia 92

Golden goose Gabriel Felipe Jacomel 93

Vazio

Das profundezas do inferno para um pacto jovial

Ingrid Oliveira 94

Das profundezas do inferno para um pacto jovial Blimer 95

Luisandra Junges 96

Depois de aldebarã Carmen L. Fossari 97

Juniores Rodrigues 98

Passo em falso Flôr Kepah 99

Não poderemos morrer João Jacinto 100

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Apresentação OITAVA!!!!

A Oitava edição da Revista ANTOLOGIA DO SARAU BOCA DE CENA chega com muito vigor e números significativos: 30 poetas e poetisas, 87 poesias e 16 ilustradores. Uma revista que registra

um panorama literário poético contemporâneo e é distribuída gratuitamente é um feito a ser celebrado numa sociedade movida e focada no lucro.

Na contra mão das obviedades consumistas, está o belo Projeto SARAU BOCA DE CENA, idealizado por uma turma de jovens artistas ao seio da UFSC e logo ampliado para a cidade, outras regiões e mesmo outros países. Juliana Impaléa , cantora, poetisa, produtora, filha da saudosa e querida artista Tude ( grande incentivadora do Sarau) e do poeta Vicente, geriu a ideia e a concretou, leva em seus braços com cuidado para que tenha continuidade.

O Projeto SARAU BOCA DE CENA tem duas vertentes, a primeira reúne artistas de diversas áreas para num teatro ou outro espaço declamarem os poetas as suas criações, os músicos tocarem e cantarem, os dançarinos dançarem, as Artes Plásticas e o Cinema interagirem. A segunda vertente é o registro literário através da Revista ANTOLOGIA DO SARAU BOCA DE CENA, que agora atinge sua oitava edição.

Poetas e Poetisas presentes nesta edição:

Juliana Impaléa, Juniores Rodrigues, Flôr Kepah, Washington Yohan, Blimer, Juliana Pereira, Thierry Mickael Motta, Luisandra Junges, Julio Cesar Gentil, Carmen Fossari, Francisco de Assis Junior, Ismael Alberto Schonhors, Markian Deneszczuk, João Pedro Garcia, Christian von Koenig, Tiago Kroich, Neto da Silva, João Jacinto, Arthus de Vasconcellos, José Luiz Amorim, Ingrid Oliveira, Julio de Mattos, Rafael Bitencourt, Jordane Câmara, Gabriel Felipe Jacomel, Renatta Calippo, Rogério Messias, Renata Dias e Pablo Luz.

E por fim, lembro uma frase de William Shakespeare, para saudar aos Poetas e Artistas Plásticos desta ANTOLOGIA POÉTICA SARAU BOCA DE CENA: “Bem aventurados os que aliam a paixão e o tino”. Boa leitura! Abre-se na Antologia da Revista Literária BOCA DE CENA a Cena da Palavra Escrita: boca da palavra!

Carmen Fossari Poetisa, Diretora e Atriz de Teatro, Dramaturga. Da ACLA, Academia Catarinense de Letras e Artes. Ilha, verão 2012

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Palavra Pregando Peça

Juliana Impaléa

Palavra pregando peça não é sempre que se acerta a forma de se expressar Palavra pregando peça sentimento é quem gagueja o discurso muda o curso cambiando o bê-a-bá Palavra pregando peça então quero ver se nessa dá certo de te falar

que há uma sensação tão bela e um sentimento à vera

Nem sempre me expresso à beça a palavra prega peça

Palavra pregando peça então quero ver se nessa dá certo de te falar

que há uma sensação tão bela e um sentimento à vera

Nem sempre me expresso à beça a palavra prega peça

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O Nó

João Pedro Garcia Eu só quis prender o sol dentro de um verbo intransigente

Ao final deixar a chuva estuprar o meu sossego Desejei perder o medo de matar o horizonte

Perceber que na visão da minha verdade eu sou cego Nunca quis matar a fome antes que ela me matasse Eu escarro na palavra que minha lida abençoou Deposito meu amor no pó e viro a outra face Ao acaso galgo idéias onde nada me atiçou

Meu descanso em preto-e-branco deve paz à minha dor Mas meu verso se engrandece onde perco minha alma Beijo o céu ensandecido quando nego seu amor O silêncio por final dá revelia à minha calma Rogo a todos os impunes que apontem para mim Peço a todas as descrenças que acabem em minha mão Pra que o sol e a chuva desçam para ver meu pobre fim Pra que julguem meu juízo com um nó no coração

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Coceira da vida

Julio de Mattos

Ai! que coceira Na ponta da língua Soubesse falava O quê? Isso aí. Falasse a sua Minha língua existia E leve passavam-se As horas e os dias... Ai! que besteira Quem fala essa língua? Não tenho palavra Não tenho avenida Tivesse o sonho Por realidade Falo a verdade: Não reclamaria Mas ai! Que coceira No céu dessa boca Poeira engasgada Na estrada do ensejo Tivesse o beijo Daquela menina Não ficava à míngua De tanto querer E de tanto amor Até eu resistia A uma tentação De não existir

Ai! Que bobeira Fraqueza à beça! Eira nem beira Pé sem cabeça Fosse o seu chão Não caía o teto De tantas ideias Em vão dialeto Faltava rua e

Não tinha problema; Andava nas águas Dessa melodia Fazendo esquecer Meu doce dilema: Coceira de ser Poema da vida.

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Inconsciente

Renatta Calippo

Não abro os olhos para todos os sonhos, nem fecho para todos os pesadelos.

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Sonho

João Jacinto

O sonho é maior que eu, para que me imponha a não vivê-lo.

Mesmo que me (des)iluda, não me resignarei

à força da gravidade, à cristalização... O sonho

leva-me ao melhor de mim.

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Traduzir-me, confundir-me

Washington Yohan (intervenção de Flôr Kepah)

Nunca a pretensão de agradar, não desta forma!

vaga, vazia... de agradar por agradar.

as coisas que digo são parte do que sou, a expressão autêntica,

verdadeira. sem mais, só. não sei se é para todos na verdade não sei se importa

se é só para você, para poucos...

não sei! escrevo expresso, traduzo o que preciso.

gostem (ou não!) - no fundo gostaria que sim -,

Direi o que sinto, eu apenas insisto .

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Manifesto à poesia

Flôr Kepah

Não estranhe a naturalidade de meu poema, de cada verso: contemporâneo, direto, livre, sem amarras... Estranhe o excesso de rebuscamento do verso alheio, geralmente, utilizado para mostrar o tamanho do Aurélio que carrega: léxicos. Palavras que se misturam sem apropriação, vagam por metáforas incompreensíveis, geralmente, por falta do que dizer, sem uma mensagem real, sem foco. Não são diretas, não acompanham o presente, a velocidade da informação, o desprendimento da arte. Então, tornam-se obsoletas e descartáveis. Pior, com cara de outro século, com algumas poucas exceções: as obras dos gênios surrealistas sobrevivem ao tempo que, dali (trocadilho com o mestre Salvador Dalí) não morreu.

Pobre dos eruditos! Exageram em seus textos adornados, cheios de incompreensão. De tão ocultos, são incontestáveis, conseqüentemente, arrogantes e prepotentes. Assemelham-se a uma teia de aranha (envenena o outro), confusos e petulantes, tirados de um livro de história. Aprisionados a regras pré-impostas, medidas, sem coragem para rompê-las, em prol de algo novo, autêntico. Que espelhe os seus reais pensamentos, sentimentos e modos de ser, desnudos. Sem “plágio”, sem medo de desapegar-se do passado, mantendo-o no eterno olhar de admiração ao que foi condizente ao tempo: à construção arquitetônica Barroca que, em ruínas ou não, será sempre bela.

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Classicacos

Gabriel Felipe Jacomel

o clássico

não se põe em pedestal se derruba (e) distraído! fiz mosaico de sentidos classe co lar classe fi car

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Viver

Francisco de Assis Junior

Tenho sede desse Yin Yang. Do grito descontrolado da vida.

Do dique que se rompe em forma de tigre.

Do dragão que serpenteia no céu com olhos flamejantes. Nas palavras de um Pessoa, muitas pessoas, alguns espíritos.

No extrato dos olhos, ondulante e extenso, o grito clandestino da alma.

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Daqui até o fim dessa enunciação

Blimer

A cidade é construída através de palavras. E as palavras - de aparência estática - se movimentam o tempo todo. Tudo é feito e desfeito de acordo com a missão da expressão: com ou sem cuidado; como tudo é descrito dentro de um círculo fechado: com ou sem distribuições. E foi lendo os classificados dos jornais que senti uma indisposição extremamente suburbana, atingindo as piores catástrofes do meu inconsciente, fazendo-me lamentar profundamente das palavras mal empregadas que empreguei em juramentos completamente neutros. A humanidade festeja um novo tempo lá fora com a mesma imparcialidade que as aranhas constroem suas teias aqui dentro.

A intermediação entre as conclusões ilusórias dos jornais e o repertório de vida de seu leitor só poderia se transformar nessa enunciação obscura. Sabendo eu, que essas fantasias nunca me colocaram em xeque, nem em meus mais profundos sonhos infantilizados. Porém, ruge numa existência apocalíptica aquilo que nenhum pensamento poderá ser acompanhado através de palavras: a mais brilhante presença dessa Fênix de destruição. Como se uma nova destruição surgisse nas acomodações das velhas destruições já conhecidas pela humanidade. Aqui, apresento-lhes os choques de razão, enfrentando-se, destruindo-se, construindo-se e revezando-se com as necessidades de nossos apreços comuns e esquecimentos comuns.

Cidades inteiras foram ameaçadas e pisoteadas, através de palavras, antes da chegada triunfal da fome. Suas principais influências se ocupavam tentando formar seus exércitos e suas quadrilhas para dançar em desventura. Mais uma vez de nada as palavras valeram, viu só!?

Estava esse matuto pacato de longe observando as palavras formadas pelos comerciais. A cidade estava toda iluminada. Sabendo que esse irremediável leitor viera de longe para observar as mesmas enunciações de sempre, as palavras mudaram de formas a fim de atingir seu público-alvo. E atingiram, em menos de alguns meses vocês poderão sentir uma nova vigência social saindo de suas cabeças e dominando todas as ruas de todos os centros urbanos.

Estou tentando mudar de pele mais uma vez a fim de me apreender em palavras. Embora eu tente entender suas transformações e adaptações, ainda sinto o desgosto dessas opiniões que se encaixam como luvas num círculo fechado de vícios e conclusões precipitadas. A cidade é feita e construída por palavras. As palavras estão em todos os lados. Os sentidos são obrigatórios. Só não sabe quem não quer saber. Pois, de vez em quando, esse alguém pode estar se deliciando em sua abstração mais que saudável: esperando a morte das palavras em um rejuvenescimento profético. Em vida, com certeza, seria semi-óbvio.

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Poema

Flôr Kepah

Não meça o poema Nem pra mais, nem pra menos

Ele é exatamente do tamanho que tem que ser

Métrica?

Vem naturalmente... É livre,

Ou some, quando não tinha que ser.

Ritmo, som... A dança é você quem faz.

Importe-se com a palavra Tenha o que dizer Tenha respeito a ela! E se fala de si, de outro ou de ninguém, ah... É só questão de pronome, desde que seja arte.

Nada de “plágio”, seja raro, meu caro! Deixe os gênios dormirem em paz.

Que tal olhar pro acordado? Praquele que tá do seu lado, Pro que ainda sonha, mesmo com medo.

Admiração não morre, nem deve morrer, nem vai morrer. O passado nos faz mais sábio, mas sente sono também! Precisa do céu, precisa do nosso “esquecimento”, Pra fazer arte em outro lugar.

Admiração é pra sempre!

Sobrevive no belo, no subjetivo mundo da arte. Admiração mexe com a gente.

Tá dentro da alma que implora: Não me corrompa!

(26)

Juniores Rodrigues De barro e papel misturando letra e tijolo ergue-se a culpa que oprime o poeta. Micael

(27)

Fingidor

Tiago Kroich

Escrever é aprisionar, Ler é imaginar: Me sinto um espectador

Da minha própria dor.

(28)

Para uma antologia

Thierry M. Motta

Vozes

na clausura das palavras aprisionadas no papel

que em profunda confidência a sete chaves de silêncio poetas vivos

segregaram

de um mundo morto; rebelando-se em família desde o pó de seu desterro multiplicam sua angústia em volumes gratuitos da poesia que assumem pela pouca esperança ânsia de ressuscitarem Vozes

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Julho de Mattos

Flôr Kepah Eu já gosto de você!

"Nem me conhece direito!" Intuição não tem valor?

"Quando vir a minha loucura inconsciente!" E se eu me reconheço em você?

...

Quem disse que tudo tem que ter sentido, direção e lugar? Quem disse que amizade verdadeira tem que tá ao lado? Quem disse que o platônico não é real?

Ou será o real falso? ...

Quem diz tanta coisa pra gente?

Quem enfia conceitos na nossa mente? Quem mente mais?

Você ou ela?

Inventor ou criação? Tanta criatividade! Será em vão?

Como viver neste mundo capitalista sem a prática remunerada da aptidão? Escrevê-la na areia sem medo do vento resolve?

Ou medo dos riscos da profissão?

Porque artista sonha, mas carece de objetividade! Também de espaço, pra pôr em prática o dom. Independente da escolha, do caminho seu Admiro a sua arte

Sua música, seu poema Sua poesia!

Tudo o que nos aproxima e faz - no espelho - Eu gostar de você.

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Quando eu for poeta

Julio Cesar Gentil

Quando eu for poeta, só escreverei no papel, e pintarei a lua de verde

para esverdear o céu. Usarei uma flor na lapela

do meu fino paletó, e apertarei a gravata escarlate

com o mais requintado nó. Libertarei os titãs e os ciclopes,

ao primeiro sol da manhã e tomaremos café juntos, num bistrô em Amsterdã. Pagarei tudo com o cartão, sem me preocupar com o saldo,

pois jogarei na Seleção com Pelé, Zico e Ronaldo. Eu escreverei para o povo

conseguir entender, pois não quero imitar o discurso

do político na TV. Desprenderei as amarras

do meu maior opressor e aumentarei cem por cento

o salário do trabalhador.

Quando eu for poeta, terei paz em todo lugar: mandarei flores à Hillary Clinton

em nome do Ahmadinejad. Não haverá arrastões na Praia de Copacabana,

nem sofreremos influências de ideias bolivarianas.

Serei revolucionário, sem ter que ser anarquista e também não irei me ater a interesses capitalistas.

Reescreverei o Neruda, o Drummond e a Clarice. Cobrirei com poemas a Terra

e toda a sua superfície. Todo dia será celebrado

como a noite de natal, depois disso, os próximos dias

serão todos carnaval. Inexistirá a inveja, o ódio e o preconceito.

A vida será o sonho mais utópico e perfeito.

Quando eu for poeta tudo irá acontecer... Enquanto não sou poeta,

só me resta... Escrever.

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Auto-psicografia

Julio de Mattos

Na ponta da língua uma vírgula: O buraco é bem mais embaixo. A palavra que encaixa no verso, Universo menor

refletido à míngua? Se a mula é sem cabeça, Tem fogo;

A gula que sempre ganha Vem logo e tamanha: Nos acompanha Na crença e no jogo... Por uma sentença apenas Vive o profeta, médium, Poeta:

Estar di(st)ante de si Para amar ou morrer!

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Words may guard me

Arthus de Vasconcellos

After coffee,

I lean and guard myself. My hands,

occupied in labor,

clean the sheets off their plainness uncovering a thousand wishes - bathed in last dawn's memories I try to guard me, and fail, I pour it, as I labor

upon this wishing paper in every curve of each letter's form

I free this flaming hunger, reason devourer.

Let words guard me,

since for the night you won't.

(33)

No adro das mínguas

Thierry Mickael Motta

Um desvario de flores pela altura – Lâmpadas engasgadas: uivos mortos

Tisnam seu arredor a sujas súplicas Bocas de cera invocam tal acaso Enquanto de através na ígnea noite; Outras, por inventá-lo, escancararam-se

Um velho se vergasta das pronúncias Mil desta imensidão sonhada em falso:

Divina tatos onde os rasgos mudos Do vórtice sonâmbulo das ruas A palavra abortada rola das línguas

À luz; quer ser crisálida – chafurda No pó: poetas curvos a um delírio de

Lágrimas patinam fezes e pétalas

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Poema de arames

Jordane Câmara

Entrelaçando ilusões, as curvas tomam formas; O vento as sacode, balança, dá movimento ao inanimado; Sempre brilhantes e prontas. Às vezes não nos dizem nada;

Às vezes é o último suspiro de um coração aborrecido. Sua beleza chama a atenção de todos.

Ofuscando sua verdadeira face, que prefere a solidão. Sua existência permite “outros” existirem.

Sua forma morta mantém vivo o escultor. Este sem sua obra azeda em melancolia. O que seria desse poema sem a forma viva do arame?

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Vivendo e aprendendo a viver

Rafael Bitencourt

Quando eu vivo, eu aprendo. Quando eu aprendo, Me sinto ainda mais vivo.

Viver é colocar o aprendizado em prática. Aprender é colocar a vida em prática.

Quem vive aprende, quem sobrevive se arrepende. Quem aprende, entende o viver.

Quem não entende, se contenta em sobreviver. Se viver é aprender, quero ser eterno aprendiz, e se por acaso eu não sobreviver, morrerei feliz.

Quero aprender para não sobreviver e viver pra não me arrepender.

(36)

Dádivas

Renata Dias

Quantas partes de mim existem por aí? Com quantas já me encontrei e com quantas ainda posso me encontrar? Onde está o mal em me doar? Quem há de discriminar um marinheiro que sempre a viajar um amor em cada porto encontrar? Será excesso de amar? Ou será uma forma de a solidão aplacar... Só sei que vivo para amar, E não farei outra coisa nessa vida do que me doar!

(37)

Eu vou indo evoluindo

Juliana Impaléa

Tua paz cada segundo pode contar Amor no peito não precisa conter

Dizem que é pela causa de tanto te amar Meu pensamento vai

onde está você Anoitecendo com a chuva

evoluindo com você Amanhecendo na sua eu vou indo com você Eu vou indo com você Evoluindo com você Eu vou indo com você Tua paz cada segundo pode contar

Amor no peito não precisa conter Pode contar,

Não precisa conter... pode contar, pode contar

Eu vou indo com você Evoluindo com você

Eu vou indo evoluindo

(38)

Olha

Juliana Impaléa

Olha, vou te falar que é gostoso Todo esse gozo em sua prosa Pudesse eu saber de tudo Ando querendo eu ver o seu mundo E o seu perfume doce prova Que o seu raso chega ao fundo Rosas, ou camisas quadriculadas E o seu suor sobre as calçadas

Fazendo renascer o que já foi Céu sem ciúme em seu peito Qualidade é maior do que defeito Invade o sim que sabes seu só seu Outro é ninguém, outro é nenhum Céu sem ciúme em seu peito De mãos abertas Sou mais você do que um perfeito O perfeito é só Mais um O perfeito é só Só mais um Só mais um só Você é perfeito pra quem sabe do imperfeito Você é perfeito pra quem sabe Olha... Calini Detoni – Escultura

(39)

Os olhos dela

Francisco de Assis Junior

Perdi o sono, os olhos e a boca no desassossego da silhueta dela Caminhando o pensamento abrupto serve ao paladar em conta-gotas Destila que é pra não gastar de uma vez, mas hoje e só por hoje Deixa transbordar essa chaleira deita teus sonhos em meus poros Aquece o peito meu, tira os nós dos braços e, enrosca o pescoço Nua nuca de lavanda e marapuama acalma e perturba minha intenção Novamente perdido

em cada pedaço desse teu olhar caleidoscópico

(40)

A dança da passarinha vermelha

Flôr Kepah Quero ver-te todo nu

Saborear-te com os olhos

Pra que tenhas a certeza do que significa teu corpo pra mim Far-te-ei experimentar o gosto do que não tocas

No suor ácido que escorre por meu corpo em chamas, Louco por ti

Mas longe do erétil desejo que invoca o toque, Sem que possa

Dominarei o jogo

Pra te levar ao suplício das minhas mãos firmes Tão macias quanto à seda que virá a ser Todavia não.

Só pra eternizar tuas curvas e retas Em desenhos de cada parte em partes Lentidão...

Pelo menos em princípio!

Porque de pressa já morri de desejo Agora desejo sem pressa

Pra não morrer outra vez.

Mas se assim for, ao menos o retrato terei comigo Pra te lembrar quando tiver saudade

Do cheiro que exalas por mim

Filmarei teu umbigo Bingo!

Perto da bola da vez Agora sim,

Mais próxima da zona que me fecunda em ti Teu olhar de sedento ficará tonto

Na dança da passarinha vermelha Que mexe as asas sem medo

E pousa na ponta do caule o bico entreaberto Pra sentir devagarzinho

Todo o gosto do néctar teu.

(41)

Sorvete

Gabriel Felipe Jacomel

todo mundo já sabia tua boca eu abriria a espinha gelaria tão inteira te sorvia agora que todos já sabem orgulho na gente não cabe tão bem como corpo cabia num freezer de sorveteria

security cam não deixou insegura

caiu na net!

(42)

O encontro Washington Yohan No encontro houve chama e se tornou calor intenso, prazeroso a chama viva existia se mantinha em cada encontro Se riu se falou se dançou se beijou se dormiu abraçados e tudo alimentou a chama a chama pedia para arder crescer e no encontro os consumir em labaredas os corações em festa mas delicadamente com o frescor de flores na primavera soprou o vento polar a chama tremeu de frio e só restou o desejo a saudade daquilo que no encontro se desencontrou Calini Detoni

(43)

Poema dos desejos

Jordane Câmara

Procurando o que já perdeu. Esqueceu que perdia, quando achou não quis; Comovendo os olhos, esperar não podia, quando tinha se fez;

Atraindo olhares, quando vê não enxerga, quando vir, nudez; Esperando já perdeu. Perdia e esqueceu, quando não tinha, quis.

(44)

Estou fazendo anotações incertas e alimentando as traças

Blimer De noite, durante uma longa espera de um coletivo urbano, lembrei-me de certos fragmentos de meus sonhos. Esses se repetem há um ano. A minha visão foge de tua presença assim como a vida muda e a cidade fica cada vez mais descontrolada.

Um dia terei coragem de lhe entregar essa carta. Um dia terei coragem de dizer que estou muito bem acompanhado com todos os fantasmas da solidão. Não será um dia para perder as chances, e sim, um dia para cultivar as incertezas.

Eu vi a sua alma fugir de meu corpo. Eu observei os passos ninjas da garota que se vestia de negro e acompanhava involuntariamente os embaraços da noite e do meu quase futuro. Dos sentimentos que acontecem e se cristalizam, e tornam-se crônicos.

Vejo seus passos na escuridão e na contramão dos meus vestígios e da minha morbidez.

Não vejo mais móveis em sua casa. Não vejo mais seus passos pela cidade. E toda vez que lhe abria meu coração, você se distanciava, pois meus sentimentos fedem. Meu coração-cadáver não aprecia o desejo de se congelar. Por isso que ele é quente, e fede.

(45)

Azeites & Bacalhaus

Luisandra Junges

Não me venha subverter Com estes olhos sórdidos... - Dá um tempo!

Virá à esquina e Segue à via sacra. Meus caminhos não são. Campos de oliveira. E nem eu

Cheiro à azeite Extra-virgem. - Me dá um tempo! Desce as escadas da vida. E vai por mim...

(46)

O adeus eterno

Christian von Koenig Com meus tornozelos enterrados

eu a via desaparecer, lentamente. Erguia meus braços para impedi-la, mas o mais que os erguia,

mais a areia me segurava

e, com meus joelhos como que algemados, reduzia-se o alcance de minhas mãos. Ela confundiu meus gestos de agonia com acenos de despedida,

enquanto a terra, obstinada em separar-nos, prendia-me agora pela cintura.

E atava-me também as costelas, os ombros e os próprios braços no esforço de conter-me...

Por fim, ao ver sua imagem já distante percebi que não era ela quem passava, mas eu mesmo que partia.

(47)

IAMO

Carmen L. Fossari As estrelas da Via Láctea

Iluminaram esta face de frio De tantos mares

Marés outras Tu e eu

E vez e outra nos nossos Reencontros e partidas. Prolongamos o Inverno, Que é sempre o mesmo Sem o ser.

Que ondas volteiam oceanos Que águas chovem, evaporam Desgelam das montanhas, Repletam os leitos dos rios E a noite se reproduz de noite Longo é o tempo de colher gravetos Secos em feixes amarrados

Que o fogo consome na ânsia de ser Dia

Ver o Sol de todo em todo Beijando verdes e flores E tu amado, de retorno Me encontras

Pressinto de olhar, a rua calma E tanto e ainda mais

Já nós sabemos

Do abraço, beijos tanto em bem querer Que ao girarmos a bússola do tempo

Nunca sabemos se ao Norte ou Sul caminharemos Mas que tu e eu tracejamos um ponto cardeal De aurora, pôr do sol e infiniTus

(48)

Chickenneckyou

João Pedro Garcia

Ai... eu chickenneckyou ai... eu chickenneckyou cada pômulo porsobrinfonte cada dômulo entoqueimado vil losangulo da nosybitch scúpido, mas serraceno ração de minha resposta sobreposta em abandôneyou mas eu chickenneckyou eu chickenneckyou nunca makeatraitorei-me sempre trustineveryday-me decepço a mim e chick, chick sim, eu chickenneckyou sim, eu chickenneckyou.

(49)

HAIKU

José Luiz Amorim

Visão da alegria

Se ela me desse o cuzinho, Então, fá-lo-ia.

TEORIA LITERÁRIA I (POESIA ÉPICA)

Quando você usa o falo Até fazer calo, Isso significa Que o gênero literário É - pica. Flôr Kepah – O elefante (90 x 90 cm)

(50)

Pentear

João Pedro Garcia

Eu ando beliscando gorilas Por onde passo

Tombo elefantes E me desfaço Num formigueiro

Minha vontade não me faz inteiro Eu insisto em pentear macacos Desço ao esqueleto

Aonde a dor encontra o brejo

Onde junto crocodilos para o meu sacrilégio Aos olhos do mundo,

Carrego a faca fundo em um dos sovacos Não existo sem pentear macacos

(51)

Heartstealing

Gabriel Felipe Jacomel

nossa vã prisão o máximo frágil quão caixão torácico vendo o Sol nascer rajado nessas grades de costela ah! Se os punhos fossem limas se as promessas fossem sérrias fugiria com tuas rimas

por quilômetros de artérias

(52)

Reticente

Juliana Impaléa

Mais um silêncio e bye, não vou mais aguentar...

Tua reticência traz o que eu não quero olhar

Mais um segredo e bye, não vou mais aguentar

aprender na prática, eu vou te estudar

que é pra ver se daqui pra frente ‘cê vai lembrar de lembrar o que é amor...

Cuida de mim, cuido da gente, teu abraço me dá tanto calor Porque o momento sempre vai...

Então me diz, fala pra mim, mais um segredo e bye

(53)

Seegano

Washington Yohan

Não queria ter que ir, não de novo, ir embora sempre é sofrido deixar coisas pessoas amizades amores sonhos intenções

Não quero ter que ir, mas não sei,

se quero ficar onde estou

na mesma posição, Eu quero ir e ficar ir onde posso Ser e ficar onde posso Estar

(54)

Como comover-se sobre uma pessoa que ama?

Blimer

A história se repete. Mas isso não significa que poderemos ser movidos pela superação. A mutilação das pétalas das flores celebra a existência dos amores da vida. A mutilação do coração daquele que ama é algo sem importância e banal.

Dos amores que eu tive, não sobrou um pra contar história.

(55)

Consubstanciação

Christian von Koenig

Nós partimos um doutro com o amor latente, Como alguém que descobre, depois de amputado, A importância dum membro antes desusado E assim, quando já dele separado, o sente. Teve a distância de amputar-nos lentamente, Revelar na tristeza o que foi sonegado Para que esse amor, feito tanto de passado, Gravasse-se nos nossos peitos tão presente. Partimos divididos duma só pessoa

Que se atém à esperança, por mais que lhe doa, De que a substanciação própria se restitua. Pois se em teus lábios minha voz inda ressoa E dos meus olhos cai uma lágrima tua, Somente falta a carne que nos seja mútua.

(56)

Nosso Amor

Juliana Impaléa

Para minha Tude Você se foi,

mas quem falou que quem se ama some assim?

O nosso amor não vai ter fim E a gente sempre irá sorrir Para de dizer que não Nossa liga é linda e ponto É porque te sinto aqui

No meu coração te encontro...

(57)

Tu, aí

João Jacinto É bem possível que tenha chegado aos cem,

vivido, até aos cento e qualquer coisa, anos, por que cada vez se morre mais tarde, mas não sei, se da melhor maneira. Mas se Tu, aí, onde estiveres,

tomares conhecimento desta mensagem, e de minha existência e a quiseres mudar em qualquer altura, a meu pedido,

fá-lo, agora, quando ainda tenho cinquenta, já feitos, em dois mil e nove, do calendário gregoriano, e outro tanto, possa ainda usufruir.

Que me encontro aqui, por Sete Rios,

pertencendo a uma espécie do reino animal, a Homo Sapiens,

na Lisboa da saudade, onde desagua o Tejo, num pequeno país europeu, chamado Portugal, e que é banhado pela imensidão do Atlântico, no terceiro planeta do Sistema Solar, o azul,

onde se luta e se mata pelos direitos à Terra e à vida, e pelo poder,

e pela sobrevivência, e em nome de deus(es), e por prazer,

localizado entre muitos bilhões de outras estrelas da Via Láctea,

a que integra com mais de três dezenas de galáxias o Grupo Local, no Superaglomerado de Virgem, etc, etc, etc…

Liberta-me de vez deste Ego, enorme, doentio, herança milenar, que me abafa a inteligência que me liga ao Universo,

que me prende à insignificância que não (pres)sinto, e à Terra,

e à forma, e ao estilo…

Por que sou o que nem sei, e quero evoluir,

seguir o movimento da espiral, sentir-me em casa,

e paz.

E não me canso de olhar para este céu, onde se desenha o presente,

(relógio com dez ponteiros),

e de Te procurar mais além, nas estrelas, mas se aí, Te visse estarias em outro tempo, talvez, quando reinara o Luís XIV,

e eu aí, nem Te (re)conhecesse. Haverá outro caminho,

e terei, sempre em dois mil e nove, feito cinquenta, e à Tua espera

(58)
(59)

E eu que sei apenas o seu nome

Francisco de Assis Junior É com ela que repousa o verso

um querer intenso de saber como é o sabor dos olhos

o toque dos poros

É com ela que desperta o inverso a paz que se desfaz num segundo o desenho dos lábios

o cheiro dos cabelos É com ela que mora o canto

aquele que emudeceu por não saber o macio do ouvido

o sopro do desejo

É com ela que desata o silêncio a pausa que antecede o batimento o acorde da voz

a música do corpo

É com ela que repousa a dança os pés, leve tempo dissolvido a carícia dos dedos

a mordida dos passos

É com ela que eu sonho o momento ensaio imaginando e me desfaço que cor terá seu beijo?

Deve ser uma cor de céu

ou talvez a cor dos olhos de um dragão.

(60)

Luisandra Junges Cantarolavam as pernas bambas

num compasso desafinado. Não sei como me mantive em pé nem quando, nem onde... Nem por que me desafiavam (as pernas, o compasso) No alto falante - estourado do peito

a acústica do teu olhar me fez tremer por dentro. Meu corpo quente escorria aos prantos

Confesso que os nervos queimaram meu estômago Até sair pela boca.

(61)

Sobre o inesperado

Neto da Silva Eram sempre frases de efeito

Eram contos mal contados Com biscoitos estragados Abraços e composições sem jeito.

Te guardei um sofá e maços As frases que assimilei, tornei

Real e avesso ao que sei Te aguardei com chá e tragos.

E me traga boas novas Pois domingo tem Flamengo

E à noite violão com bossa.

(62)

To Oscar Markian Deneszczuk

Que por um "e" não foi selvagem Por esta vogal, foi muito mais que isso. Não escrevo aqui por um prêmio do cinema, escrevo sim pelo presente em nossas vidas, que sua existência representou.

Começou falando da vida de nobres, seus amores, senso artístico e beleza, Por fim, encarcerado pela injustiça, de um tempo a qual não pertencia.

E oferecendo aos meros mortais sua última dádiva, uma reflexão sobre o que deveria mudar,

e como deveria isto se realizar.

Poucos tiveram a oportunidade de conhecê-lo, e os felizardos, jamais esquecerão...

Tenho a certeza que foi muito mais que sua obra. Mesmo porque sua vida foi ARTE.

Por isso digo, mais que selvagem, foi muito além, e completou sua viagem.

(63)

Washington Yohan

"Amo como ama o amor, não conheço nenhuma outra razão para amar, senão amar.

Que queres que te diga, além de que te amo, se o quero dizer-te é que te amo?" (Fernando Pessoa)

Na parede, inusitada parede, à minha frente, em atitude vulnerável, em letras delicadamente desenhadas, me deparo com Pessoa, e vou lendo,

ao mesmo tempo que ouço, o barulho do jato de minha urina, na água do vaso,

e de olhos fixos na parede, na inusitada parede à minha frente, urino e leio poesia, e uma mistura

de sensações me envolve, o olhar nas palavras, o ouvir no jorro na água, o tato,

minhas mãos quentes no meu pênis

e o pensamento,

ah o pensamento....

(64)

PORNASO

José Amorim

Ele prolonga-se até ficar de pé Quando tua boca escala até O posto píncaro de minha pica

Eu digo: - fica que ele estica. Sinto-me feliz estando a olho nu

Diante de teu róseo e belo cu. Apaixonado por teu redondel Cravo o anelar no teu anel. Nas gêmeas virgens tetas com saúde

Eu as mamo mais que amiúde. E quando ficas toda orvalhada É na tua boa boceta bem salgada Que eu enterro meu tinto tabaco E crio inveja até no Deus Baco.

(65)

Mastro em ação!

Flôr Kepah

Toque, toque, toque-me! Comece de um jeito, toque sem jeito.

Ora com carinho, ora sem apresso. Dedos!

Toque sem parar e não pare no mesmo lugar. Nada de acanhamento!

Sinta todo o doc, bem fundo, mas não finda não. Muito há pra ser feito, tenha pressa não! Pra tudo tem o tempo, pro afogamento também. Circule pela margem, só não se esqueça do foco, meu bem!

Onde o “Vesúvio” dorme - perto da “Pompéia” - Pra lavar-se, depois de tanto toc, toc, toc,

Na boca do dragão.

(66)

Estranhezas

Christian von Koenig É estranho, é muito estranho...

Temo ferir-te com minhas palavras, como o vento que carrega

as últimas pétalas de uma rosa; no entanto, nessas circunstâncias a fragilidade dela está em morrer. Eis a estranheza de que te falo: tu... tu és tão viva!

És a rosa natural

que o viajante encontra em seu caminho e, encantado, decide colhê-la

e venerá-la e amá-la e possuí-la e despedaçá-la. Como explicar esse desejo de,

ao mesmo tempo, proteger e destruir? E essa vontade de furtar a beleza da flor? E essa necessidade de posse?

E esse apego ao mal que se faz na esperança de fazer-se um bem? É estranho, definitivamente estranho...

(67)

Juniores Rodrigues

O que ninguém diz que o tempo passa mesmo atrás das cortinas a velha tela amarela corta o tanto de pensar que há naquela tinta um resto de alma ainda pesar do que resta ao redor inventário pouco de paixões permutas de silêncio e fogo e logo é jogo acabado que assim se esquece o frio e se convence

que esse fio de luz só pertence à lua.

(68)

Tic-Tac

Rafael Bitencourt

Enquanto eu o descrevo ele se vai embora, na ampulheta da vida a areia não volta mais, querer controlá-lo mesmo que por um agora, pode apenas mostrar o quanto atrasado estais. Passa o tempo passam as horas,

não aceita comando e não volta para trás.

Não respeita, nem enamora, passa voando, é assim que ele faz. A relatividade o faz complexo

e da complexidade vem o tormento,

saber a verdadeira medida do objeto circunflexo, entender que não está no ponteiro, e sim no momento. Desfaz a imagem, altera o reflexo,

Mostra que o que vale está do lado de dentro.

Às vezes comigo, às vezes ao relento, preterido por todos, assim é o tempo.

(69)

Pontal

Pablo Luz Anjos urinam a beira-mar

Enquanto poetas são banhados no Sol Júbilos na baía dourada

No calmo movimento das águas Várias almas deleitam-se No furor dos que se atrasam Tempo bobo a nos confundir Buscando presentes destoantes Enquanto o Micro trabalha feliz E o Macro ironiza supondo um fim Somos cegos servos dos signos E importamos com os resquícios De nós que já não somos De sonhos desbotados do devir ...envia-nos à outra Ilha

E sempre renova-nos a brisa.

(70)

Ilha

Juliana Impaléa

Cai o dia, acorda a noite...

calma minha a te acompanhar A canoa

vai descendo rio abaixo, de encontro com o mar E lá: ilha!

Linda rendeira Ilha brilha, canta na areia

(71)

The Earth, a planet

Carmen L. Fossari

The homeland The handful of dust The sand pile gravity

The five continents Third of that in the Sun Planet that is

At the center of its core It is iron and nickel Changes in chemical

Earth Sun daughter of the First Sister from another planet Emerged the great meeting

Clouds of dust and gas, contraction Her bountiful waters

Of all the seas, life species

Planet home to several species Exterminated and endangered For ignoble, some grantees That the number of human the numbers of tenure Succumb to greed.

The force uses the language of the land Sensitive nature

To tell their secrets, And its storms Not everyone listens.

Circular, large cosmic Mandala

The land is in the universe, the house, the nest, the hive

Magic initial energy

Is possible that the side of the mystery Whose word that flows to the senses Call: miracle, a gift

Like her, the Earth.

Planeta we live, here we plant dreams To preserve it.

(72)

IX

Tiago Kroich

Não quero ser pedras A pastar velhos campos

Sólidas, rudes, regras Não quero invejar os ventos

Eu quero vistas breves Quero ser como as nuvens Que, de tão altas e leves, serenas

– Apesar do que dizem – Voam tanto e tão rápidas Dotadas monocromaticamente Acima de todas as belezas terrenas

E, como qualquer sonhador, Quero determinar e julgar a força (E há quem me clame de ditador)

Da invasão das ideias, da luz Que iluminam os seres abaixo

De quem as conduz Enquanto sorrindo me encaixo

Branco no azul

(73)

Suspiros

João Jacinto

Tudo está em mim.

E assim, sou reflexo do céu.

E o espelho deve estar em consonância com a imagem. E por cada suspiro que dou,

há uma estrela que aumenta a intensidade de seu brilho. E mesmo que queira,

nem sempre há brilho suficiente, numa qualquer estrela, que me leve a ter uma respiração anelante.

E nem sempre nos meus suspiros

há verdade capaz de provocar movimento seja ao que for.

E continuo observando o céu, em mim, e o firmamento onde me perco, à espera de qualquer entendimento que justifique este sincronismo, para além desta realidade.

(74)

Personagem

Julio de Mattos Personagem de mim, outro

A cada instante Sorrindo o semblante Da sinceridade das horas Na voz da tristeza que canta

E que late e levanta Pra ver o que o ego

Quer dessa vez Acordo trajado de sombra

E tão logo visto A primeira persona do dia

Me sinto saído De algum desenho animado.

Muito embora eu mesma Me chame de homem

Não sei se o que sou Tem nos livros de história

Ou de biologia E se não me falha a memória

Me falta essa (onis)ciência Pois o que sei é bem pouco

Quase nada Perto da imensidão Dessa estrada Repleta de auroras. Coqueiral Juliana Impaléa

(75)

Coqueiral Juliana Impaléa O coqueiral traz corpo Carajás morenos de paz E eles trazem

madeira, mel e milho, banana, cana e tinta,

pintada nossa índia de urucum e carinhos. Colar, coral, cantigas,

côco, cedro e moringa, lanças, tranças e umbigais. Índio quer sol e chuva! Índio não quer discussão... Isso não é pedir nada, que palidez a sua, meu irmão.

(76)

Nublo ao mesmo tempo

Samanta Rosa Maia

genuínos

os olhos que de um gato me olhavam cercavam minha cara de amarelo e os olhos-portas pra algum lugar dentro da bíblia de pêlos corriam.

(77)

Preso em meu mundo, livre em minha mente.

Rafael Bitencourt

Liberdade não se conquista, Liberdade não se vende, Liberdade não se ganha, Liberdade se aprende.

Liberdade não se limita ao lado externo, Ela pode estar presa a um pensamento. Vejo pessoas reclusas por fora,

E algumas livres por dentro. Asas não garantem liberdade,

E sua ausência não o impede de sonhar. Há muitos Hermes em gaiolas,

E muitos ápteros por aí a voar. O pai da vida não me fez alado, Mas pôs sua filha a me ensinar, E eu, mesmo sem asas,

Atento, aprendi a sonhar.

(78)

Facebook

Jordane Câmara

Compartilhar o quê? Se todas as coisas permeiam o esquecimento. Na loucura do cotidiano não encontramos mas algo verdadeiro a compartilhar. Apenas doces ilusões existenciais, nessas horas a bebida vai bem. Cai a noite e o

vento bate nas folhas caindo do outono... isso não posso compartilhar, nunca me pertenceu. Sinto, ouço, até mesmo vejo, mas passou, o vento. Todo o resto faz parte do que já foi e não volta, não ha tempo.

(79)

Informação e conhecimento: os detalhes que fazem toda a diferença

Rogério Messias

Sempre tive ambição de ser alguém na vida, não que tenha feito algo de tão notável assim, acredito que tenha feito diferença na vida de muitos amigos, uma vez que o contato com o mundo que de tão grande fica complexo de se entender. Tenho lido e acompanhado informações que me alarmam... De repente, todos somos tomados por um instinto quase “aurelístico”, numa exaustiva disputa de conhecimento que transcende a discussão, ultrapassando todos os limites do que pode ser aceitável de difusão da informação, e da pior maneira possível. A responsabilidade de transmissão e difusão da informação acaba por gerar um conhecimento que num micro espaço pode causar muitos problemas, com isso causando transtornos à vida de várias pessoas nesse micro espaço e em relação a um macro espaço, onde por vezes ocorre este problema: um conhecimento gerado através de

informações erradas.

Como exemplo de como uma informação errônea pode gerar situações constrangedoras, temos uma história que pode ter um final engraçado... Num domingo à tarde, bem na hora do jogo de futebol de seu time de coração entrar em campo, o bêbado cai no sono. O time do mané perdeu! Foi um chocolate: 6X0 para o

Corinthians. A maior farra na rua e o pobre torcedor em seu sono pesado. Lá por umas horas da madrugada o cara acorda. A ansiedade dá lugar a uma angústia de saber o resultado do jogo. Ele até liga a TV, mas já era muito tarde para qualquer emissora manter a cobertura da festa do timão... Então o mané resolve ligar para alguém, mas quem poderia dar essa notícia sem que tivesse chances de tirar um sarro? Um amigo de time? Mas e se o cara estivesse querendo esquecer (e devia estar mesmo)?...

Então resolve ligar para sua mãe. Grande erro! Buscar informação sem levar em conta seus conhecimentos, ao negligenciar o fato de que sua mãe nunca falaria nada que pudesse magoá-lo, com objetivo de defender seu filhinho das dores e angústias. Logicamente ela não disse que tinha acontecido, e pior... Ele, louco de curiosidade, perguntou: – Fui campeão, mãe? - Ela devolve a questão com um enorme e sonoro sim. Sem esperar sua mãe terminar de falar, ele desliga o telefone sem escutar o mais importante, que ele sempre será o campeão da mamãe... O cara ficou louco, achando que seu time tinha sido campeão. Sai pela rua, tirando um sarro de todos como um autêntico campeão - que não era - e começa a beber novamente, pensando brindar a vitória. A situação fica tenebrosa: o cidadão, no amanhecer da city, sai correndo pela avenida, alucinado, entoava um brado que exprime todo seu sentimento daquele momento: – É Campeão !!!

... Os torcedores do timão começavam a sair para o trabalho, quando percebem o Locke pendurado na estátua no meio da praça, acreditando ser campeão - e é aí que a história começa a degringolar: os corinthianos, como se poderia prever, não quebraram de pancada o mal informado, pelo contrário, deram corda, fingindo um chororô. Apenas o beberrão que não entendeu, e pior, ele também tinha que trabalhar. Então, o mané dirige-se muito atrasado, e meio bebado ao batente. O que ele não imaginava é que seu chefe era um dos corinthianos que tiravam sarro dele na praça. Em tom de piada, seu chefe comenta sobre os torcedores que comemoram até quando o time é humilhado... Obviamente ele não acreditou, e começa a discutir com o chefe, que de tão feliz com o timão nem dá bola e vira de costas, deixando o mané chorando sozinho. A situação do mal informado piora, pois ele não se controla e vai às vias de fato com seu empregador, que por sinal não brigava nada e tomou um pau de doido, quase passando dessa pra melhor.

Nosso mané mal informado acabou sendo demitido, e por justa causa. E mais: acabou preso, condenado há 20 anos de prisão por tentativa de homicídio. Sua mãe vai visitá-lo sempre, mas agora ele não pergunta mais nada sobre seu time...

Depois de muito, o mané percebeu a importância de utilizar informações precisas para gerar conhecimento. É importante que se compreenda: conhecimentos são necessários, e, bem articulados, tem a missão de desenvolver outros conhecimentos, gerados por informações bem trabalhadas em seu dia a dia. É, mas isto já é outro capitulo...

(80)

Ingrid Oliveira

indignação: s.f. Sentimento de cólera e desprezo que uma ofensa ou uma ação injusta provocam. Faz tempo não escrevo poesia

infelizmente

o que vou escrever não será poesia porque tem por trás

selvageria hipocrisia.

O que vou escrever é minha transcrição de

muita indignação.

Da tua boca saem palavras tão firmes

tão infladas de uma verdade cinicamente

falsa

Que essa tua suposta segurança

não camufla toda essa preponderância e arrogância.

Por tua língua só passam palavras tortas Palavras mortas

que se amontoam num grande oco Que hora mais cedo

hora mais tarde se perdem

e se esfacelam no ar

no meio da voz da língua do povo. E pasmem,

minha ironia não é vazia porque corre nas minhas veias sonhos vermelhos de rebeldia. E digo ainda,

aquilo que me faz não mudar de lado e virar um pelegado

é convicção

De que o que esse povo precisa minha gente é de conscientização!

(81)
(82)

Gabarito da Vida

Pablo Luz Veja irmã, melhor que te afogasse

Para que tu não percebesses Num tremendo lago de Fogo Do qual nós, de ombros pesados Obrigados somos a nos apresentar Tenho tanto de tanta coisa

Que no fim dá Vontade De escarrar demente E neutralizar a ânsia, sim: Apaixonar-se é morte

Detenha qualquer rotação além E preserve os graves

Pois estamos aflitos E acordar tão cedo Poderia ser bonito, irmã Se tivéssemos direção E nunca se sabe quando A Vida recomeça Se no lar que se deixa Ou no próximo prato Que se lava.

(83)

Epitáfio

Tiago Kroich

Não sei o que sou Se carne ou se alma

Se tudo ou se nada Essa idéia de mundo

Já me devorou

(84)

Andarilha

Renatta Calippo

Perdi minha identidade, Não sirvo à pátria,

Acendo uma vela para Deus, e um cigarro para o Diabo. Vivo com as malas nas mãos,

Vejo anarquistas em todas as partes. Viro a esquina rumando entre as cidades. Não volto mais,

Sou filha do mundo,

Não tenho mais dó nem piedade. No meio das latas e da fumaça,

No meio do purgatório diante do inferno.... Não temo mais o meu desejo.

Sem olhar para trás, Eu sigo feliz

Até o penhasco.

(85)

SOLIDÃO EM ESCALA DE DÓ

Renata Dias

E a solidão dos que mesmo acompanhados se sentem sós.

E a turba da multidão delirante que não se deixa acompanhar dos solitários. Um ser só será sempre e tão somente só.

Só ele estará entre seus semelhantes; Só ele estará entre seus pares;

Só ele estará entre seus parentes, entre os amigos... E muito mais só entre desconhecidos.

Só ele trilhará seu caminho...

E quando parar para descansar, ainda assim estará só. E nessa rima triste de só com dó

Não tenha pena desse ser solitário que anda só; Talvez só você também esteja, e no momento... Não há ninguém com dó!

(86)

Bom dia do Escravo

Jordane Câmara

A voz arredia que invade a tranquila fala do poeta, em manhãs de primavera, onde o som dos pássaros, a brisa do mar, até mesmo o minuano cortando o rosto não passam de lembranças. Perturbado ainda com os primeiros raios de sol, aquele sussurro lhe deseja bom dia, como a ordem do sinhô para o escravo, nunca será um bom dia, não para o indigente que não é dono de sua própria liberdade. Mesmo liberto dos grunhidos o escravo não tem nada a fazer, a não ser procurar sua família, quando negado seu desejo seu dia não é bom.

No teatro aristocrático os negros ganham um papel, triste como sua história. O libambo aprisiona seus dias... não existe Helenas, Afrodite, nem Dionísio. Não existe espaço para felicidade. Uma vida inteira do desejo, da busca interminável, do sonho não realizado, da conexão interrompida, esse é o bom dia do escravo poeta. Não ganhou papel e lápis para descrever seus próprios sonhos, agora da mão do historiador suas anciãs revelam-se. Ele também sonhava, também queria um bom dia, não sabemos de suas individualidades, mas quando reunidos celebravam sem pudor, sem patrão, sorridentes e capazes. Suas vidas incógnitas ganham as academias, suas individualidades serão expostas, mesmo que não seja num bom dia.

(87)

Greve Geral

João Jacinto

Greve Geral?!

Vão, mas é, trabalhar!...

Como é possível, quando há quem ainda não esteja suficientemente rico,

à custa da vossa labutação

e tenha já, para roubar, muito mais tempo? Greve Geral?!

O que ganham com isso? Nada!

Mas há quem precise do vosso esforço, para que lhe cresça os lucros

e nada vos sobre! Greve Geral?!

Vão, mas é, trabalhar,

que o senhor engenheiro vos agradecerá com mais umas quantas promessas de nãos!... E viva,

in feliz democracia! Viva!

(88)

Na Lona Preta

Ingrid Oliveira

ao MST

Este céu não tem estrelas Não tem nuvens

Não tem sol

Erguido por mãos vermelhas Mãos que lutam

Este céu tem cor escura Tem cheiro de terra Tem grito de força Este céu é lona preta.

(89)

Catedral Noturna

Tiago Kroich

Quem é você? Luz enganosa! De quem é esse rosto? De quem são esses cabelos negros?

E esses olhos cansados, estranhos Cheios de sonhos quebrados De quem são essas lágrimas? Quem é você que me persegue? Por que vejo você no meu reflexo?

Quem é, o que quer? Por que me olha?

***

Que palavras sussurras calado? Não vês que não há mais nada? Que só este espelho te escuta Essa tua voz que ninguém ouve

Esse grito que ninguém sente Essa alma perdida no esforço

Esse pêndulo, esse ciclo De silêncio e de sufoco Você que me olha e que pergunta

Eu sou a sombra e o reflexo Sou os desejos e ilusões Sou um caráter perdido A sede do que foi e do que sempre será

Não sou luz nem escuridão Sou só o semblante sem razão

O fantasma de uma noite

Em que o sol não significa nada Já você, carne fadada que me pergunta

Agora as palavras caem no espelho Você tem sua resposta? Quem é você que me renega A própria história da sua vida Eu que sou o seu percurso

Eu que sou o seu destino Seu passado e seu futuro A treva que lhe espera Poder unânime da vida Você, dos cabelos negros

Dos olhos cansados Das lágrimas sem brilho Que me molham o rosto

E você, quem é? *** Eu sou...

...a chama dos meus sonhos Sou a dança que resiste Sou a força determinante A última gota da esperança

Se porém não sou tudo Tampouco sou eu nada

(90)
(91)

Izabel Garcia Percepções

Renata Dias

Note o ar petulante;

O andar como fosse sobre ovos;

O aperto de mão tal como dedilhar os botões nojentos de um elevador público. Tudo revela ares de superioridade, mas não passa de afetação!

Quais são os valores em que acreditam essas pessoas? Nem sabem quem eu sou...

Não sabem o que trago nos bolsos...

Não sabem se quer o quanto o ser humano pode se degradar... Por dinheiro

Por drogas Por cachaça Por poder

Por mulher ou por jogo.

Existem os que se degradam até por açúcar, e some-se a isso o poder global que o açúcar enquanto combustível irá desempenhar.

Pobreza lhes parece doença contagiosa e para fugir do contágio, foge-se primeiramente de seus estereótipos. E não haverá lugar entre eles para os negros, os nordestinos, os mutilados e para aqueles que as dores da vida deixaram rugas no rosto. E por que vindo de onde eu vim por vezes compactuo e até contribuo com essas manifestações racistas e preconceituosas? ...quando finjo que não sinto.

...quando finjo que não sei, e até quando finjo que nem é comigo.

Acredito ser uma forma de desejar ser invisível, passar sem ser percebido...

Já que não sou negro, não sou nordestino, não sou mutilado e jovem demais para que as desgraças que vivi deixem marcas no meu rosto.

(92)

Demonstração que está fazendo falta

Samanta Rosa Maia

Saltam em salto as pôças – as póças as môças – as móças nas docas, dondocas nem tiram os sapatos

(93)

Golden goose

Gabriel Felipe Jacomel

fígado fidalgo algo diz que deu errado

na receita do foie gras o ganso pateta tomou uma mais

e roubou o canto do cisne

(94)

Vazio

Ingrid Oliveira

Hoje, tudo o que consigo ver é gente invisível. Seus olhos carregam algo que ainda não tem nome porque atroz demais pra ser falado. e passam por elas riem com seus silêncios de vergonha. seguem não se importam. só consigo indagar,

e sem respostas cato meus devaneios.

são corpos ocos travestidos de carne e osso. ainda é tarde, pra gente criar dignidade? Lara Montechio

(95)

Das profundezas do inferno para um pacto jovial

Blimer Lilith aproveita cada segundo da eternidade dos bons homens para distorcer a visão do mal e contrabalancear a necessidade que temos de mentir. Afinal de contas, se Deus não tivesse inventado o pecado, não precisaríamos cometê-lo.

Eu senti as carícias de Lilith enquanto descansava em um sono profundo, no intervalo entre um sonho e outro. Foi como se eu estivesse morrido e esperando pelo julgamento das pessoas de bem em algum telejornal sensacionalista.

Mesmo assim, não considero um engano. Em muitos momentos, eu visitei o inferno com a finalidade de observar os anjos que caíram em tentação com essa minha visão de águia.

Referências

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