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A INDÚSTRIA CULTURAL, SEU PODER E SEU DOMINIO SOBRE A CLASSE TRABALHADORA. Aurius Reginaldo de Freitas Gonçalves

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Academic year: 2021

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A INDÚSTRIA CULTURAL, SEU PODER E SEU DOMINIO SOBRE A CLASSE TRABALHADORA

Aurius Reginaldo de Freitas Gonçalves

Se não há continuidade no esforço teórico, então a esperança de melhorar fundamentalmente a existência humana perderá sua razão de ser. [...] a teoria não tem hoje um conteúdo amanhã outro. As suas alterações não exigem que ela se transforme em uma concepção totalmente nova enquanto não mudar o período histórico.

Max Horkheimer

Estamos vivendo um período extremamente difícil, onde as relações sociais encontram em pleno estado de estagnação. As instituições – principalmente as educacionais – estão deixando de representar efetivamente os interesses de uma determinada classe social – classe trabalhadora – mostrando um horizonte que acredito estar desvinculado de qualquer compromisso com a construção humanística da sociedade em geral. Por outro lado, nota-se uma profunda preocupação em manter as mentes ocupadas com um mero reproduzir cultural. A teoria crítica precisa estar presente nesse momento, para melhor fundamentar e auxiliar seu desenvolvimento, e ninguém melhor do que Karl Marx para nos auxiliar nesse trabalho. Será investigado as relações entre cultura, sociedade e trabalho, partindo da análise crítica à essas esferas de pensamento, propondo observar a realidade vigente, pois acreditamos ser impossível teorizar a sociedade sem uma melhor compreensão das formas e processos pelos quais são constituídos culturalmente.

Em todas as culturas, o trabalho é a base da economia, sistema esse baseado em instituições que organizam a produção e distribuição de bens e serviços. Podemos definir como trabalho, toda ou qualquer execução de tarefas que demandem esforço mental ou físico e que tem como objetivo a produção de bens e serviços para atender as necessidades humanas, podendo ser remunerado ou não. Uma ocupação ou um emprego é o trabalho realizado em troca de um salário ou pagamento regular. Habitualmente, relacionamos o trabalho como o equivalente a ter um emprego remunerando, mas essa é

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apenas uma idéia simplista; o trabalho não remunerado é uma parte importante da vida de várias pessoas, e tem um papel imprescindível na manutenção e conservação da sociedade. Um aspecto característico da economia capitalista moderna é o desenvolvimento de uma divisão amplamente complexa e diversa do trabalho. Essa divisão do trabalho significa que a tarefa é dividida em diferentes ocupações que exigem especialização; isso gera interdependência econômica, ou seja, agora todos os indivíduos são dependentes uns dos outros para manter o modo de vida moderno. Se tomarmos uma visão global da experiência de trabalho, podemos notar grandes diferenças entre o mundo desenvolvido e os países em desenvolvimento. A fundamental diferença é que a agricultura, como atividade primária, continua sendo a principal fonte de emprego do mundo em desenvolvimento, ao passo que apenas uma proporção mínima de pessoas trabalha na agricultura nos países industrializados. Da mesma forma que podemos notar que os padrões de empregos também são bem diferentes ao redor do mundo, os países desenvolvidos a economia informal, ou mercado paralelo são relativamente pequenos se comparados com o setor de emprego remunerado formal, ainda que existam muitos migrantes trabalhadores recentes que ganham a vida nesse tipo de economia. Já nos países em desenvolvimento a maioria da experiência ocupacional das pessoas é no setor informal. Um dos aspectos mais característicos do sistema econômico da sociedade moderna é a existência de uma divisão de trabalho: o trabalho é dividido em um número formidável de ocupações distintas, nas quais os indivíduos se especializam. A sociedade moderna assistiu uma alteração no local do trabalho, pois antes os principais trabalhos eram feitos em casa e após a industrialização com progresso da tecnologia industrial, as fábricas privadas assumiram a produção em massa deixando o trabalho artesanal de pequena escala feito no lar, em segundo plano.

Karl Marx foi um dos primeiros autores a escrever sobre o desenvolvimento da indústria moderna e as consequências dos potenciais da divisão do trabalho; segundo Marx, a divisão do trabalho aliena os indivíduos de sua ocupação. Para o sociólogo, a alienação – conceito chave para entender a teoria Marxista – se refere a sentimento de hostilidade ou indiferença não apenas em relação ao trabalho, mas igualmente à estrutura geral de produção industrial dentro do modelo capitalista. Vejamos uma definição interessante do conceito de trabalho:

Processo de intercâmbio e mediação entre o ser humano e a natureza, inserido nas relações sociais. Quando é livre, Marx o concebe como uma

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atividade vital humana orientada a produzir bens segundo as leis da beleza. Porém, na sociedade capitalista, não é livre, é forçado, está alienado e estranhado. Converte-se em uma tortura e numa obrigação imposta pela dominação capitalista. O capitalismo de nossos dias obriga uma parte dos trabalhadores a desgastar sua vida trabalhando o dobro, e condena o restante ao desemprego, em lugar de repartir o trabalho entre todos, o que possibilitaria reduzir o trabalho necessário à reprodução da vidae aumentar o tempo livre para o ócio e o prazer. (Kohan, N. 2000, p.15)

As principais transformações ocorridas no mundo do trabalho – decorrentes da globalização e do neoliberalismo – manifestaram-se, no campo econômico, sob a forma da reestruturação produtiva, e no campo social, por meio da flexibilização, desregulamentação e relativização dos direitos dos trabalhadores, tendo como consequência, a precarização das condições e relações de trabalho. Tais medidas compõem um novo regime do capital, “readaptado” ao mundo globalizado e neoliberal, denominado de “acumulação flexível” e marcam a passagem do paradigma da sociedade do trabalho para a sociedade neoliberal. Passadas algumas décadas, já é possível concluir que esse conjunto de transformações inviabilizou a manutenção do emprego, consolidou o desemprego crônico ou estrutural e obrigou o trabalhador a se sujeitar às regras impostas pelo “mercado”, sendo ideologicamente induzido á acreditar que tal reestruturação produtiva era necessária e inevitável como forma de se manter no mercado de trabalho. Tais mudanças acentuaram, ainda, a existência de uma segunda categoria de trabalhadores, denominados como “informais”, indivíduos que ficaram inteiramente alijados do mercado de trabalho formal e da proteção da tutela do Estado.

A indústria cultural “pegou carona” nessa ideologia dominante, transformando trabalho em mercadoria. Não é a toa que chamamos hoje de “mercado de trabalho” as novas formas de se relacionar com as mais diversas atividades de subsistência. A alienação é justamente isso: perda de vínculo do homem com aquilo que produz. Se antes havia uma relação entre o homem e o mundo das coisas e, portanto, da natureza, hoje essa relação é intermediada pelo imediatismo e pelo consumismo de bens e produtos. Essa cultura é dominante porque parte de uma ideologia dominante,

Os pensamentos da classe dominante, são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material numa dada sociedade, é também a potencia dominante do pensamento. (MARX, K. ENGELS, F. 1998, p. 55)

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Podemos observar que, a forma de produção capitalista também produz valores não somente pela exploração dos trabalhadores, mas principalmente pela construção e manutenção de valores culturais. Os produtos consumidos de hoje, como por exemplo, música, divertimentos, entretenimento, roupas, sapatos, comida, todos eles revelam valores culturais específicos, que refletem anseios e desejos de uma sociedade aburguesada. A indústria cultural afeta diretamente as relações de trabalho da sociedade capitalista, produzindo produtos voltados para o desejo imediato, rápido e comprometido apenas com as necessidades oriundas de um consumo diletante e sem vínculos mais profundos com realidade humana. Nossos desejos são orientados pelas regras dessa sociedade capitalista, criando seres mentalmente “educados” para o consumo de massa. Em Eros e Civilização (1975) o teórico frankfurtiano Herbert Marcuse denuncia o domínio nefasto que a sociedade de consumo impõe ao homem e a sociedade em que ele vive.

[...] o progresso intensificado parece estar vinculado a uma igualmente intensificada ausência de liberdade. Por todo mundo da civilização industrial, o domínio do homem pelo homem cresce em âmbito e eficiência. [...] E a mais eficaz subjugação e destruição do homem pelo homem tem lugar no apogeu da civilização, quando as realizações materiais e intelectuais da humanidade parecem permitir a criação de um mundo verdadeiramente livre. (MARCUSE, 1975, pp. 27,28)

O pensamento de Herbert Marcuse deriva dos conceitos freudianos a respeito da psicanálise1, de suas observações frente à dinâmica social moderna (p.104) e dos mecanismos mentais dos indivíduos. Com isso, o autor aproxima sua teoria da negação radical dessa sociedade de consumo, como um esforço de mantermos ainda de pé diante do domínio racional objetivado pelo sistema capitalista. Vale lembrar que, para Marcuse, a perda da negatividade e de um momento que faz oposição, é a contrapartida ideológica do próprio desenvolvimento material da sociedade industrial avançada: “o impacto do progresso transforma a razão em submissão aos fatos da vida e à capacidade dinâmica de produzir mais e maiores fatos do mesmo tipo de vida” (1982, p. 31). A falsa ideia de que somos então sujeitos da historia já não encontra respaldo nessa sociedade, pois tudo fora absorvido pelo desejo e pela posse do que era particular. A

1

Cf. Marcuse (1975, p. 105). Segundo Freud, a civilização começa com a inibição metódica dos instintos primários. Podem-se distinguir de dois modos principais de organização instintiva: a) a inibição da sexualidade, resultando em duradouras e crescentes relações grupais; e b) a inibição dos instintos destrutivos, conduzindo ao domínio do homem e da natureza, à moralidade individual e social.

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subjetividade agora dera espaço para a construção de um indivíduo, com as mesmas características de um produto, universalizando os desejos, não como desejos individuais mais como algo comum a todos: para as mesmas pessoas, os mesmos desejos. Esse seria o supra - sumus de nossa sociedade atual.

Essa sociedade solipsista reforça a teoria de uma sociedade culturalmente repressiva onde o domínio da natureza deva ser amparado pela Razão Instrumental. Marcuse aponta que “liberado da pressão dos propósitos e desempenhos penosos, a que a carência necessariamente nos obriga, o homem recuperará ‘a liberdade de ser’” (1975, p. 168). O Eros (imaginação/impulso lúdico) a que Marcuse se refere, seria a proposta de saída para os conflitos que o homem encontra na sua singularidade. A violência que antes estava somente no interior do homem agora é exteriorizada na forma de consumo de produtos prontos e acabados. Suprimido da sociedade a força subversiva, ficamos então a mercê de uma civilização acomodada e cética, principalmente em relação ao meio em que vive.

Portanto, a sociedade vive agora o predomínio da Razão em detrimento da Natureza; onde a ideia de dominação da natureza pelo homem condiciona a sociedade a pensar numa potencialização das ações humanas racionalizadas através de ações e práticas condicionadas. Nesse sentido, a classe trabalhadora precisa antecipar sua consciência e lutar para que essa realidade possa mudar o mais rápido possível, ou estaremos a todo o vapor rumo ao colapso social.

REFERÊNCIAS

MARCUSE, H. Contra-revolução e revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981. ______. A Ideologia da Sociedade Industrial: o homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

______. Cultura e Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, vols. I e II, 1997.

MARX, K. E ENGELS, F. A Ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro 3. O processo global de produção capitalista. Tradução de Reginaldo Sant`Anna. Rio de Janeiro: Bertrand, 1981.

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