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NOTA TÉCNICA AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O MERCADO DE TRABALHO NO CEARÁ

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Setembro de 2013

AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E O MERCADO DE

TRABALHO NO CEARÁ

O contexto histórico do desenvolvimento humano auxilia a compreender as dificuldades ainda existentes para o ingresso da pessoa com deficiência no mercado de trabalho contemporâneo. Não obstante o estabelecimento da política de cotas, reservando postos de trabalho para as pessoas com deficiência (PCD), tanto no setor público quanto na iniciativa privada, percebe-se que boa parcela dessas oportunidades ainda não é preenchida. As motivações são as mais diversas possíveis, passando desde o preconceito dos empregadores e da falta de preparo das instituições para atender a esse segmento populacional até mesmo pelo desinteresse das PCDs por essas vagas, dado o próprio perfil das condições de trabalho que lhes são ofertadas.

No Ceará, por exemplo, estima-se que dos 35,8 mil empregos, que deveriam ser ocupados por pessoas com deficiência, apenas 11,6 mil estavam realmente preenchidos, segundo informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do ano de 2011. Isto é, uma lacuna de 24,2 mil empregos, sinalizando que ainda há muito que ser feito para inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho.

Na raiz desse processo, é preciso levar em consideração que há enormes barreiras a serem vencidas para superação desse problema, que começa desde a inclusão das PCDs aos ciclos escolares. Ao se levar em consideração os resultados do último Censo demográfico, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nota-se que a proporção de pessoas com deficiência que frequenta a escola (ou creche) é menos da

metade da observada entre aqueles que declararam não possuir deficiência alguma (Gráfico 1).

IBGE, Censo Demográfico (Elaboração própria do autor).

Este fato é, de certo modo, relevante, para entender as dificuldades encontradas de (re)colocação das PCDs no mercado de trabalho, embora não seja o bastante suficiente para dar conta dessa realidade. E por quê? Porque não são raros os flagrantes de que muitas das exigências que são colocadas nos processos seletivos são bem maiores do que os cargos e/ou funções realmente necessitam, o que, sobremaneira, asseguram que esses postos de trabalho não sejam ocupados. Na prática, porém, esse problema afeta os trabalhadores das mais diferentes características pessoais, embora possua sérias implicações com relação às pessoas com deficiência, dadas as próprias restrições ainda existentes no mercado de trabalho.

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pessoas com deficiência e daquelas sem deficiência. Entre os primeiros, enquanto a taxa de ocupação atinge 42,9%, entre as pessoas sem deficiência, esse percentual chega a 49,3%, o que, sobremaneira, sinaliza as dificuldades das PCDs no processo de (re)colocação profissional (Gráfico 2).

IBGE, Censo Demográfico (Elaboração própria do autor).

Essa questão é ainda mais emblemática quando é estabelecido o recorte de sexo. Isto porque, tal como constatado no total da população economicamente ativa, as mulheres representam mais da metade da população desempregada. Esta relação, no entanto, inverte-se quando observado o conjunto dos ocupados, uma vez que mais da metade deste segmento populacional é composta por homens. Do total de pessoas com deficiência com alguma ocupação (963,4 mil), 54,4% são do sexo masculino (524,4 mil) e 46,6%, do feminino (439 mil).

Por outro lado, as pessoas com deficiência que não possuem alguma ocupação representam um pouco mais de 1/3 do total de pessoas nessa condição. Dos 3,7 milhões de pessoas não ocupadas no Ceará, 65,2% não possuem deficiência e 34,8%, pelo menos uma. Destas, 66% são do sexo feminino e 34%, do sexo masculino.

recentes da população com deficiência, convém ressaltar mais três aspectos principais. Em primeiro lugar, destaca-se que as pessoas da cor negra e parda representam a maioria desse contingente populacional. Em 2010, 33,6% das pessoas com deficiência eram brancas e 66,2%, pardas e negras.1

De acordo com o IBGE, 27,1% das pessoas com alguma deficiência possuem 60 anos ou mais, fato que sinaliza que as políticas públicas voltadas a esse segmento populacional devem levar em consideração não apenas a questão de gênero como também geracional (Tabela 1), dado que o próprio envelhecimento contribui para o surgimento de algum nível de deficiência, seja ela visual, auditiva, locomotora e/ou intelectual.

Por fim, ganha destaque que três em cada quatro pessoas com alguma deficiência residem nas áreas urbanas do estado, fato este que pode estar associado ao próprio processo de urbanização que vive a sociedade brasileira e/ou das próprias necessidades dessa população no acesso aos serviços básicos de saúde, educação, transporte, assistência social e trabalho, que, geralmente, são mais acessíveis nas áreas urbanas do que no meio rural.

Não obstante essa realidade, percebe-se que houve, ao longo da primeira década do século XXI, um aumento da participação das pessoas com deficiência no território estadual, conforme pode ser observado por meio de um mapeamento, utilizando a técnica de georeferenciamento, com as informações divulgadas pelo IBGE, dos dois últimos Censos Demográficos (Figura1).

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Segundo a classificação do IBGE, amarelos e indígenas representavam 0,2% do total da população com, pelo menos, uma deficiência.

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Homens 1.010.056 43,2 Mulheres 1.330.273 56,8 Urbana 1.754.523 75,0 Rural 585.806 25,0 Branca 750.484 32,1 Preta 126.028 5,4 Parda 1.422.216 60,8 Outras 41.601 1,8 Até 14 221.110 9,4 15 a 29 393.172 16,8 30 a 39 273.475 11,7 40 a 49 444.795 19,0 50 a 59 373.530 16,0 60 ou mais 634.246 27,1

IBGE, Censo Demográfico.

IBGE, Censos Demográficos.

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Ao complementar mais de duas décadas de existência, torna-se imprescindível avaliar a efetividade da Lei nº 8.213, criada em 1991, na inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal, cujos postos de trabalho são, em tese, mais protegidos e regulamentados do mercado de trabalho nacional, ao proporcionarem uma série de direitos aos trabalhadores, entre eles, 13º salário, férias remuneradas e acrescidas de 1/3, seguridade social, nos casos de doenças, acidentes e desemprego, dentre outros benefícios.

No Ceará, levando em consideração as informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), registro administrativo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que leva em consideração o conjunto de empregos celetistas e estatutários, estima-se que há um déficit de cerca

de 24 mil postos de trabalho que deveriam ser ocupados por pessoas com deficiência. Entre os estados da Federação, o Ceará ocupa a 3ª colocação em termos de proporção de pessoas com deficiência no estoque total de empregos formais e a 8º colocação, em termos absolutos, atrás dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Bahia (Tabela 2).

As pessoas com deficiência física representam pouco menos de 2/3 do total de pessoas com deficiência que possuem vínculos formais de emprego no Ceará, realidade bem superior ao registrado no cômputo nacional (53,3%). Em seguida, destacam-se os trabalhadores com deficiência auditiva (16,9%), reabilitados (7,8%), visuais (7,0%), intelectuais (2,0%) e múltiplos (0,8%), conforme ilustra o Gráfico 3.

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Rondônia 351.114 825 256 115 33 29 88 352.460 Acre 120.953 194 54 55 27 17 21 121.321 Amazonas 593.424 2.534 1.002 380 63 42 465 597.910 Roraima 91.700 176 56 32 7 5 12 91.988 Pará 1.031.293 4.009 849 361 143 52 382 1.037.089 Amapá 118.609 336 144 70 18 8 26 119.211 Tocantins 241.971 493 131 66 39 18 51 242.769 Maranhão 670.878 1.894 959 317 206 41 979 675.274 Piauí 391.064 1.272 453 253 95 27 199 393.363 Ceará 1.395.333 7.582 1.960 811 232 89 899 1.406.906 Rio Grande do Norte 587.405 3.700 618 129 90 40 462 592.444 Paraíba 610.872 2.128 776 168 54 36 779 614.813 Pernambuco 1.638.853 5.598 2.417 848 183 69 959 1.648.927 Alagoas 495.438 1.230 622 185 41 73 309 497.898 Sergipe 383.532 1.433 414 199 41 42 176 385.837 Bahia 2.252.838 7.293 2.830 757 400 149 1.351 2.265.618 Minas Gerais 4.818.433 16.534 8.579 1.976 2.280 492 2.682 4.850.976 Espírito Santo 895.709 3.429 1.151 550 251 92 888 902.070 Rio de Janeiro 4.323.570 14.744 5.331 1.900 854 482 2.171 4.349.052 São Paulo 13.302.174 58.217 27.226 6.411 7.759 1.203 9.789 13.412.779 Paraná 2.900.310 10.170 4.007 1.703 1.576 291 2.220 2.920.277 Santa Catarina 2.045.983 6.679 2.773 1.112 1.125 211 3.694 2.061.577 Rio Grande do Sul 2.896.925 11.039 6.269 1.646 2.270 294 2.146 2.920.589 Mato Grosso do Sul 595.192 1.349 494 152 214 37 530 597.968 Mato Grosso 706.430 1.871 516 200 97 55 208 709.377 Goiás 1.377.482 4.650 1.585 427 261 102 723 1.385.230 Distrito Federal 1.147.855 4.828 2.107 1.024 451 148 495 1.156.908

: MTE - RAIS - CGET/DES/SPPE.

Ao mesmo tempo, conforme revelam os dados do MTE, as dificuldades de inserção feminina são claramente observáveis quando se olha o segmento do mercado de trabalho mais formalizado, uma vez que elas representam apenas 35,4% das pessoas com deficiência que possuem vínculos formais de trabalho (Tabela 3), proporção bem inferior à registrada entre o total de ocupados (46,6%). Embora sejam fontes de informações completamente distintas, uma sendo um registro administrativo, e a outra pesquisa domiciliar, é possível inferir a desigualdade existente entre

homens e mulheres, principalmente no acesso das ocupações mais regulamentadas, favorecendo que outras estratégias de inserção ocupacional sejam adotadas pelas trabalhadoras, entre elas, o trabalho autônomo e a condição de trabalhador familiar, cuja situação é caracterizada no apoio a uma determinada atividade econômica que garanta subsistência econômica da unidade familiar.

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(58,4%), no segmento mais formalizado do mercado de trabalho cearense, possui entre 30 e 49 anos de idade. Isto permite perceber que outras faixas mais ao extremo da pirâmide etária possuem menor representatividade entre aqueles que detêm vínculos formais de trabalho, retratando claramente as maiores dificuldades de inserção ocupacional dos mais jovens e daqueles com mais idade. Homens 7.472 64,6 Mulheres 4.101 35,4 Física 7.582 65,5 Auditiva 1.960 16,9 Visual 811 7,0 Intelectual/mental 232 2,0 Múltipla 89 0,8 Reabilitados 899 7,8 Até 24 1.520 13,1 25 -29 2.031 17,5 30 - 39 3.784 32,8 40 - 49 2.968 25,6 50 - 59 1.061 9,3 60 ou mais 209 1,8

Até fundamental incompleto 2.832 24,5 Fundamental Completo 1.537 13,3

Médio incompleto 1.000 8,6

Médio Completo 5.155 44,5

Superior incompleto 400 3,5

Superior completo 612 5,3

Pós-graduação (mestrado e/ou

doutorado) 37 0,3

MTE/RAIS (Elaboração própria do autor).

Não obstante essa realidade, pode-se constatar que a maior parcela das pessoas com deficiência formalmente empregada possui, no mínimo, o ensino médio concluído (53,6%), o que, em grande medida, sinaliza a importância da escolarização

quase a totalidade dos empregos formais ocupados pelas pessoas com deficiência está na iniciativa privada, uma vez que o regime estatutário só representa 1,4% do total de vínculos ativos desse segmento populacional.

Cabe ao poder público avaliar as iniciativas que estão em curso para abertura de novas vagas para as pessoas com deficiência, especialmente tendo em vista que os postos de trabalho no setor público geralmente asseguram maiores perspectivas de estabilidade e plano de cargos e salários para os trabalhadores. A ação de inclusão profissional, com base na abertura de concursos públicos, daria mais oportunidades de inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Frente a essa realidade, cabe chamar atenção que a maior parcela dos vínculos formais entre as pessoas com deficiência está presente nas empresas maiores, especialmente do setor industrial, conforme sinaliza o Quadro 1 sobre as ocupações mais frequentes entre as pessoas com deficiência, no Ceará.

Trabalhador polivalente de calçados Alimentador de linha de produção Auxiliar de escritório, em geral Assistente administrativo

Operador de máquina de costura e acabamento Zelador de edifícios

Costurador de calçados, a máquina Faxineiro

Cobrador de transporte coletivo Embalador a mão

Almoxarife

Vendedor de comércio varejista Recepcionista

Porteiro de edifícios

Operador de triagem e transbordo Operador de caixa

Trabalhador de manutenção de edificações Operador de máquinas fixas

Servente de obras

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Em síntese, o quadro que emerge do processo em curso de inserção ocupacional da pessoa com deficiência é de que ainda há grandes desafios a serem trilhados, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, uma vez que boa parcela dos postos de trabalho, que são oferecidos às pessoas com deficiência, está relacionada a oportunidades que geralmente não permitem maiores progressões tanto em termos salariais quanto nas condições de trabalho, o que, sobremaneira, dificulta o interesse dessas pessoas nas vagas que são “disponibilizadas” para elas. Não é raro, assim, ouvir estes profissionais dizerem, especialmente aqueles que conseguem o acesso ao Benefício da Prestação Continuada (BPC), que já estão “aposentados”, haja vista que o padrão de remuneração oferecido pelo mercado de trabalho é basicamente igual ao desse benefício assistencial.

Ao mesmo tempo, tornam-se necessários maiores esforços de sensibilização e de fiscalização das relações de trabalho no cumprimento da Lei nº 8.213, tanto na iniciativa privada, quanto no setor público, para assegurar maiores oportunidades de trabalho para esse segmento populacional, que é cada vez mais representativo na sociedade brasileira, o que torna necessário um esforço coletivo para superar as dificuldades ainda encontradas, em termos de infraestrutura urbana, transporte público e acesso às políticas públicas de saúde, educação, transporte, assistência social e trabalho.

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Cid Ferreira Gomes

Evandro de Sá Barreto Leitão

Robson de Oliveira Veras

Francisco de Assis Diniz

Sônia Maria de Melo Viana

Antônio Gilvan Mendes de Oliveira

Francisco Assis Papito de Oliveira

Erle Cavalcante Mesquita

Wládia Magalhães Lima Rocha

Maria de Fátima Almeida de Sousa

Erle Cavalcante Mesquita

Diorgia Maria Dias de Carvalho Rosaliane Macedo Pinto Quezado

Regina Helena Moreira Campelo

Referências

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