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Vivemos cinco recessões em 40 anos, mas esta crise é diferente. 250 Maiores Empresas (JL + N)

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Vivemos cinco

recessões em

40 anos, mas esta

crise é diferente

Pandemia

Os impactos económicos associados

à Covid-19 representam um efeito de 360 graus, a que

nenhum país, sector ou negócio consegue escapar. Depois

de uma contracção abrupta e profunda, subsistem dúvidas

quanto ao perfil de recuperação da economia portuguesa e

europeia. Como ficam as empresas do distrito de Leiria

perante o maior desafio em décadas?

Cláudio Garcia

claudio.garcia@jornaldeleiria.pt

z Para estudar as cinco recessões ocorri-das na economia portuguesa desde 1980, ou seja, antes da crise pandémica, a Fun-dação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) criou o Comité de Datação dos Ciclos Eco-nómicos. É presidido por Ricardo Reis (professor na London School of Econo-mics) e tem como colaboradores o inves-tigador José Alberto Ferreira (assistente de investigação no Banco Central Euro-peu) e os docentes do ensino superior José Tavares (Nova School of Business and Economics), Isabel Horta Correia (Católica Lisbon School of Business and Economics), José Varejão (Faculdade de Economia da Universidade do Porto), Luís Aguiar-Conraria (Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho), Nuno Valério (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa) e Pedro Bação (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra).

Diferenças do passado para a actuali-dade? O grupo de especialistas assinala a

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natureza “violenta e abrupta” da reces-são associada à Covid-19 e “o carácter ines-perado do choque”, na comparação com outras recessões na história portuguesa. Quase ninguém previu o embate até três meses antes de ele ocorrer, explicam num documento com data de 30 de Julho, depois de dois trimestres consecutivos de contracção da economia portuguesa na primeira metade de 2020.

De onde viemos, onde estamos

Segundo dados do Comité de Datação dos Ciclos Económicos, é entre 2010 e 2013 que se encontra a mais prolongada reces-são em Portugal nos últimos 40 anos, um período de 10 trimestres na origem de uma quebra de 6,9% no Produto Interno Bruto (PIB) real per capita. Nas outras

qua-tro recessões analisadas pelo projecto da FFMS, com inícios em 2008, 2002, 1992 e 1983, não se detecta duração superior a cinco trimestres nem amplitude maior do que 4,4%.

De volta ao presente, o Instituto Nacio-nal de Estatística (INE) informa na esti-mativa rápida de 13 de Novembro que o

Diferenças do passado para

a actualidade? O grupo de

especialistas assinala a

natureza “violenta e

abrupta” da recessão

associada à Covid-19 e “o

carácter inesperado do

choque”, na comparação

com outras recessões na

história portuguesa. Quase

ninguém previu o embate

até três meses antes de ele

ocorrer, escreve o Comité

de Datação dos Ciclos

Económicos

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>>> PIB real em volume aumentou 13,3% no

terceiro trimestre de 2020 face ao trimestre anterior, depois de dois trimestres con-secutivos a afundar na variação em cadeia: 13,9% no segundo trimestre (um recuo inédito) e 4% no primeiro. Já em termos homólogos, regista-se uma quebra de 5,7% no terceiro trimestre de 2020, após as per-das de 16,4% (também um recorde) e 2,4% observadas, respectivamente, no segun-do e no primeiro trimestre, em relação a igual período do ano passado.

Só com bazuca?

João Carvalho Santos não tem dúvidas de que esta é já “a maior crise” em muitas décadas. O professor e investigador do Politécnico de Leiria aponta duas carac-terísticas novas: o impacto global e trans-versal que atinge todos os continentes e sectores (ainda que com desigualdades) e o desafio sanitário, que se verifica pela primeira vez, nesta dimensão, desde a gri-pe espanhola de 1918. Logo, a resposta tem de ser colectiva, assinala ao JORNAL

DE LEIRIA. Exemplos: a famosa bazuca que o Conselho Europeu continua a negociar e a decisão da Comissão Europeia de garan-tir a aquisição de vacinas para distribuir pelos estados-membros. Porque, salvo excep-ções como a França ou a Alemanha, no con-texto da Europa os restantes países, quan-do sozinhos, tornam-se “economicamente insignificantes”.

O especialista em estratégia e gestão inter-nacional nota que as consequências da pan-demia manifestam-se num contexto em que já existiam sinais de desaceleração eco-nómica e em especial no distrito de Leiria lembra o caso da indústria de moldes e do arrefecimento provocado pelo clima de incerteza no principal cliente, a indústria automóvel.

Por outro lado, muitas empresas portu-guesas dobraram o mais recente cabo das tormentas com recurso a exportações, tan-to através da diversificação de geografias como da substituição do mercado interno pelo estrangeiro, que ajudaram a deixar a austeridade para trás. Mas, agora, é o

mun-Uma grande parte [das

empresas] não vai voltar a

abrir, não há nada a fazer (…)

nos tempos próximos, não

vamos ter níveis de turismo

iguais aos que tínhamos

antes da pandemia

João Carvalho Santos,

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atlântica e defesa da base industrial no velho continente surge como contrapeso à nova Rota da Seda e à aproximação que muitos analistas antevêem entre a China e a Rússia. Com cadeias de produção tem-porariamente interrompidas, logo no pri-meiro confinamento, por falta de com-ponentes fabricados noutros pontos do globo, esta é também uma crise diferen-te nos danos que trouxe à superfície.

Mudar de emprego,

mudar de negócio

Já no plano interno, João Carvalho San-tos recorda que Portugal não dispõe hoje de alguns instrumentos que permitiram aos governos, no passado, atacar outros períodos de recessão – entre eles, a defi-nição da taxa de juro e a moeda. O cami-nho do investimento público também enfrenta constrangimentos: não só o escru-tínio da União Europeia se mantém aper-tado como o hipotético financiamento dos apoios do Estado por via de impos-tos parece comprometido por uma carga fiscal sobre famílias e empresas que já é elevada.

“Uma grande parte não vai voltar a abrir, não há nada a fazer”, reconhece o inves-tigador, com um alerta focado na restau-ração e hotelaria: “Nos tempos próximos, não vamos ter níveis de turismo iguais aos que tínhamos antes da pandemia”.

Todas as crises derrubam empresas que não são competitivas, mas esta tem o poder de condicionar ou destruir negó-cios saudáveis, organizados e relevantes. Partindo da ideia de que os apoios conti-nuados do Estado para a economia cons-tituem paliativos, não são sustentáveis a prazo e desvirtuam a competição no lon-go termo, João Carvalho Santos argumenta que os apoios públicos têm de ser enqua-drados por uma política de “reconversão de recursos humanos” e de “reconversão dos negócios” que permita aos trabalha-dores encontrarem novas carreiras e aos empresários iniciarem-se noutros pro-dutos e serviços. Como exemplo, sugere a transformação de hotéis em residências seniores.

Confiança, precisa-se

Para o secretário-geral da Associação Empresarial da Região de Leiria (Nerlei), do inteiro a apresentar sintomas de

con-tágio.

Ainda assim, João Carvalho Santos acre-dita que o núcleo exportador do distrito de Leiria pode beneficiar de uma even-tual reconfiguração das trocas interna-cionais, acelerada, precisamente, pelos efeitos da Covid-19. Uma “redefinição dos padrões do comércio” em que “vamos beneficiar porque somos um país segu-ro, que funciona”, explica. Ou seja, numa lógica de blocos regionais, a proximida-de entre clientes e fornecedores ganha nova importância e Portugal tem condi-ções para aproveitar a posição que ocupa na Europa e no eixo Atlântico.

Ao mesmo tempo, o resultado da pan-demia mostra que determinados secto-res “são estratégicos” e neles “a Europa não pode estar dependente de terceiros”, diz o professor do Politécnico de Leiria. A hipótese de regresso a um comércio inter-regiões, redescoberta da ligação

Esta crise tem um carácter

transversal e é uma crise

mundial. É uma crise

muito mais desafiante para

as empresas superarem,

dado que assenta num

factor externo à economia

mas com reflexos

económicosbrutais

Henrique Carvalho,

secretário-geral da Nerlei

Associação Empresarial

da Região de Leiria

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mesma seja adequadamente veiculada”. Segundo Henrique Carvalho, precisam também de confiar no Estado e nas insti-tuições.

O dirigente defende apoios de curto prazo de tesouraria para os negócios em maiores apuros e em simultâneo medi-das de longo prazo de apoio mais estru-turado, porque será obrigatório pagar o dinheiro que não chegar a fundo perdi-do. Diz ainda que falta agilidade nos pro-cessos de gestão pública.

Henrique Carvalho reconhece, no entan-to, que para enfrentarem “um desafio muito difícil e exigente”, as empresas têm de ser “muito mais competitivas” e devem “aumentar a relevância nas cadeias de valor”, com apostas em mais inovação e investigação, capacidade de desenvolvi-mento de produtos e serviços e respos-tas rápidas ao mercado e aos clientes.

“Consideramos que é importante pro-curar novos nichos e, por exemplo, apro-veitar oportunidades que podem decor-rer de algum desvio de compras europeias da Ásia para a Europa”, explica ao JOR-NAL DE LEIRIA.

Também a Nerlei procura adaptar-se e o projecto colectivo de apoio à interna-cionalização, por exemplo, está a decor-rer em realidade virtual, com os empre-sários da região a aderirem a missões virtuais organizadas em vários mercados. “Isto espelha bem a resiliência das nos-sas emprenos-sas, que não baixam os braços perante este abrandamento da economia e preparam-se da melhor forma para a retoma”, elogia o secretário-geral da Ner-lei, para quem a crise pandémica obriga todos os sectores de actividade a uma ava-liação interna e a compreender que mudan-ças estão a surgir no ambiente em que operam. “Constatamos que as empresas mais frágeis, em especial as mais peque-nas, sem uma estratégia clara e que evo-luem numa lógica de subcontratação são as que mais têm sofrido. Esse facto pode-rá originar alguns movimentos de centração que, a prazo, poderão gerar con-sequências positivas”.

W, K ou V alongado?

Na comparação com outras recessões que >>>

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Na proposta de Orçamento do Estado, o Governo admite uma quebra de 8,5% do PIB em 2020, mas projecta uma recupera-ção de 5,4% no próximo ano. Em previsões divulgadas no mês passado, o Banco de Portugal e o FMI vêem o PIB português a afundar 8,1% e 10% em 2020. Já em Novem-bro, a Comissão Europeia previu uma con-tracção de 9,3% na economia portuguesa em 2020, seguida de um crescimento de 5,4% em 2021 e de 3,5% em 2022, num com-portamento semelhante ao da Zona Euro (recessão de 7,8% em 2020 e recuperação de 4,2% em 2021 e 3% em 2022) e da União Europeia (quebra de 7,4% em 2020 e varia-ção positiva de 4,1% em 2021 e 3% em 2022).

Se o W traduz uma recaída e o K repre-senta sectores a sofrer enquanto outros recuperam depressa, o V alongado à direi-ta significa um crescimento moderado. Mas parece ainda demasiado cedo para saber que letra vai legendar a saída da cri-se pandémica.

As cinco recessões

No estudo do Comité de Datação dos Ciclos Económicos da Fundação Francisco Manuel dos Santos ficam claras as diferenças entre as cinco recessões anteriores: em 1983, a recessão teve origem numa contracção da procura interna e reflectiu um ajustamento adiado da economia portuguesa à subida do preço do petróleo, combinado com o impacto de um programa sob supervisão do FMI, explica o grupo de especialistas. Em 1992, a recessão foi influenciada pelo contexto internacional, pautado pela Guer-ra do Golfo, pela reunificação alemã e pela instabilidade no Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio. Já a de 2002 foi marca-da pelo contexto interno e reflectiu uma quebra no sentimento económico, acom-panhada por uma grande queda no inves-timento privado e declínio do investi-mento público no contexto do ajuste das contas públicas depois da violação dos limites do Pacto de Estabilidade e Cresci-mento (PEC), diz o Comité.

Em 2008, a recessão acompanhou uma profunda recessão internacional com ori-gem na crise financeira americana. E em 2013 a situação nacional inseriu-se na cri-se das dívidas soberanas que afectou vários países da Zona Euro e Portugal de forma particularmente intensa.

penalizaram a economia portuguesa nas últimas décadas, Henrique Carvalho vê em 2020 uma crise com carácter trans-versal e mundial, em que o confinamen-to, total ou parcial, provocou quebras de cadeias de abastecimento de bens e ser-viços. Daí concluir que se trata de “uma crise muito mais desafiante para as empre-sas superarem,dado que assenta num fac-tor externo à economia mas com reflexos económicos brutais” e que, além disso, “prejudicou e prejudica as exportações” e “faz emergir fragilidades das institui-ções quer do ponto de vista técnico quer do ponto de vista da coordenação”.

Apesar da incerteza quanto ao perfil de saída do actual momento, o executivo da Nerlei identifica “muitos sinais de que a recuperação será muito desigual entre sec-tores e também muito diferente de empre-sa para empreempre-sa, sendo certo que a área do turismo, restauração e alojamento demorará a recuperar”.

De facto, economistas e analistas estão de acordo quanto ao que torna a crise pan-démica distinta das anteriores em Portu-gal – é mais profunda, com contornos que chegam a ser inéditos, mas deverá ser menos longa do que a anterior, ou seja, perspectiva-se uma recuperação mais rápi-da – mas subsistem dúvirápi-das quanto ao desenho que o gráfico vai espelhar quan-to tudo estiver no passado: um V perfei-to parece improvável e sobre as hipóteses W, K ou V alongado à direita não há, por enquanto, consenso.

As cinco recessões desde

1980 e a crise pandémica

1983-1984

Duração: quatro trimestres Amplitude: 2,7%

1992-1993

Duração: cinco trimestres Amplitude: 1,1%

2002-2003

Duração: cinco trimestres Amplitude: 2,9%

2008-2009

Duração: quatro trimestres Amplitude: 4,4%

2012-13

Duração: 10 trimestres Amplitude: 6,9

2020

Variação negativa em cadeia no primeiro (4%) e segundo trimestres (13,9%) e crescimento de 13,3% no terceiro trimestre . Variação negativa homóloga no primeiro (2,4%), segundo (16,4%) e terceiro trimestres (5,7%)

Referências

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