UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Curso de Bacharelado em Relações Internacionais Ano letivo: 2020 (2º semestre)
Disciplina: Direito Internacional Público (DIN 0426) Turma: 4º semestre (vespertino)
Professor: Professor Titular Pedro Bohomoletz de Abreu Dallari (IRI) Monitor: Lucas de Medeiros Diniz (PG-FDUSP, estagiário PAE 2)
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO PONTOS DO PROGRAMA DA DISCIPLINA
PONTO I: OBJETO DO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO; O
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS; FUNDAMENTO E MATÉRIAS DO DIREITO
INTERNACIONAL PÚBLICO.
(Aula de 25.08.2020)
1. Localização do ponto no programa da disciplina
A. Primeira Parte – Introdução ao Direito Internacional Público
1. Objeto do Direito Internacional Público; o Direito Internacional Público no âmbito das Relações Internacionais; fundamento e matérias do Direito Internacional Público (PONTO I).
B. Segunda Parte – Sujeitos de Direito Internacional Público
1. O rol de sujeitos de Direito Internacional Público; o Estado no Direito Internacional Público (PONTO II).
2. Órgãos e normas de regência das relações exteriores do Estado (PONTO III). 3. Organização internacional (PONTO IV).
4. Condição jurídica internacional do ser humano (Ponto V). C. Terceira Parte – Fontes do Direito Internacional Público
1. O rol de fontes do Direito Internacional Público (PONTO VI). 2. Tratado (PONTO VII).
3. Decisões de Organizações Internacionais; direito comunitário (PONTO VIII). D. Quarta Parte – A ordem jurídica da comunidade internacional
1. A comunidade internacional e sua dimensão jurídica; responsabilidade internacional; disciplina jurídica das negociações, das controvérsias e dos conflitos armados internacionais (PONTO IX).
2. Especialidades do Direito Internacional Público (PONTO X). 3. Espaços internacionais (PONTO XI).
E. Conclusão do curso
1. Tendências contemporâneas do Direito Internacional Público; a formação da ordem jurídica global; governança internacional (PONTO XII).
2. Objeto do Direito Internacional Público
O Direito Internacional Público tem por objeto o conjunto de normas jurídicas internacionais, isto é, que não são produzidas no âmbito de um Estado e nem próprias do direito nacional, embora, como se estudará no Ponto VI, possam ser incorporadas ao sistema jurídico do Estado. Assim, as regras de Direito Internacional Público não se definem pela nacionalidade. Não se pode falar em Direito Internacional Público Brasileiro; seria uma contradição em termos. Se uma norma é de Direito Internacional Público, ela é supranacional. Essa condição decorre do processo como essas são geradas – por acordo entre os Estado, a partir de deliberação de organização internacional ou como resultado de um princípio universalmente observado – como se examinará na Segunda Parte do programa de aulas, dedicado ao estudo das fontes do Direito Internacional Público.
O Direito Internacional Público se diferencia do Direito Internacional Privado, pois este, em que pese a denominação, é a especialidade do direito que disciplina os conflitos de leis no espaço internacional, sendo a maior de suas normas de direito nacional dos Estados. Ouse seja, pode-se falar em Direito Internacional Privado Brasileiro, cujas normas estão estipuladas especialmente na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657/1942). De forma mais clara do que na formulação usual nas línguas latinas, na doutrina jurídica anglo-saxã, o Direito Internacional Público é denominado simplesmente International Law, e o Direito Internacional Privado, Conflict of Law. Na maior parte dos casos, a referência simplesmente a Direito Internacional, que aparece com frequência na literatura brasileira das ciências sociais, corresponde a Direito Internacional Público.
3. O Direito Internacional Público no âmbito das Relações Internacionais
O Direito Internacional Público se constitui em instrumento relevante para a compreensão do quadro de relacionamento internacional de determinada época ou região. Por essa razão, é adotado como área de estudo relevante na generalidade dos cursos graduação em Relações Internacionais (RI), tanto aqueles que compreendem RI como um campo de
aplicação das ciências sociais, como aqueles que o consideram uma especialidade da Ciência Política, equivalendo à Política Internacional.
Na medida em que as normas internacionais são geradas a partir de determinada conjuntura internacional, elas ajudam a compreender essa conjuntura, as relações de força e as motivações a ela inerentes. E, uma vez, adotadas, as normas internacionais se convertem em fato político e passam a influenciar os desdobramentos de determinada conjuntura. Dessa forma, a boa compreensão das normas internacionais – tanto seus aspectos estruturais, como aqueles substantivos – é uma ferramenta indispensável para o estudioso e o operador de relações internacionais.
4. Fundamento do Direito Internacional Público
Na doutrina clássica de Direito Internacional Público, concebida principalmente a partir da chamada Paz da Vestefália (1648), o fundamento das normas jurídicas internacionais é o consentimento do Estado. Isto porque, na acepção mais extremada da noção de soberania, o Estado tem o poder exclusivo para determinar as normas jurídicas que vigoram em seu território e para aceitar subordinação a normas internacionais, isto por meio da pactuação com outros Estados. Apesar dos avanços do Tratado de Versalhes e da Sociedade das Nações (1919) em direção à cooperação internacional, esse relevante documento para a construção da ordem internacional do século XX ainda preserva a lógica vestefaliana, como se depreende do exame de seu preâmbulo.
Com a Carta das Nações Unidas e a criação da Organização da Nações Unidas (1945), a visão clássica é colocada em xeque e, apesar da preservação da soberania do Estado, reconhece-se que ela não é mais absoluta e se aponta para os direitos fundamentais do ser humano como fundamento do Direito Internacional Público. Essa enunciação pode ser verificada no preâmbulo e nos artigos 1º e 2º da Carta das Nações Unidas.
Esse entendimento não é pacífico, havendo, na doutrina de Direito Internacional Público, brasileira e estrangeira, defensores das duas perspectivas. Os dois principais manuais de Direito Internacional Público adotados no Brasil, ambos indicados na bibliografia deste curso, expressam visões opostas. Francesco Rezek (Direito Internacional Público: curso elementar) é
adepto da visão clássica (subjetivista), enquanto Paulo Casella (Manual de Direito Internacional Público) defende a segunda alternativa (objetivista).
5. Especialidades do Direito Internacional Público
O Direito Internacional Público se define por qualidade adjetiva de suas normas – serem internacionais – e não pela matéria. Qualquer matéria pode ser versada por meio de normas internacionais. Assim, o Direito Internacional se contrapõe ao Direito do Estado (direito nacional), e não a especialidades jurídicas. Estas, convertem-se em especialidades do Direito Internacional Público na medida em que sejam equacionadas por normas internacionais. Ou seja, o Direito Internacional Ambiental, o Direito Internacional Econômico, o Direito Internacional dos Direitos Humanos, entre muitas outras especialidades do Direito Internacional Público, compreendem, cada uma delas, normas que se referem à respectiva matéria.
Ao longo do curso, por meio do estudo de alguns dos principais tratados e documentos de Direito Internacional Público, estas matérias vão ser objeto de exame, mesmo que indiretamente.
6. Temas para reflexão e debate
Com a finalidade de fortalecer o domínio da matéria tratada neste Ponto I, estes são alguns temas para reflexão, que deverão ser enfocados no debate previsto para se realizar através de fórum da plataforma Moodle na aula de 25.08.2020:
a) quais as disposições do Pacto da Sociedade das Nações (primeira parte do Tratado de Versalhes) e da Carta das Nações Unidas apontam para uma perspectiva diferenciada no tocante à fundamentação do Direito Internacional Público?
b) quais as especialidades do Direito Internacional Público podem ser consideradas mais relevantes para o estudo das Relações Internacionais? Por quê?
TEXTOS DE APOIO
Tratado de Versalhes (28.06.1919)
Versão em português (decreto de promulgação):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/D13990.htm
Pacto da Sociedade das Nações (primeira parte do Tratado de Versalhes, de 28.06.1919) Versão em português (disponível no site do Ministério Público Federal):
http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/segurancapublica/PACTO_DA_SOCIEDADE_DAS_NACOES.pdf
Carta das Nações Unidas (26.06.1945)
Versão em português (decreto de promulgação):
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/D19841.htm