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PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. DECISÃO MONOCRÁTICA:

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Academic year: 2021

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SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). ACIDENTE DE TRÂNSITO. INDENIZAÇÃO. COBRANÇA DA DIFERENÇA ENTRE O VALOR PAGO E O

DEVIDO. LEI 11.482/2007.

IRRETROATIVIDADE. INDENIZAÇÃO. COMPENSAÇÃO. SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO EVENTO DANOSO.

PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

DECISÃO MONOCRÁTICA:

Cuida-se de ação de cobrança proposta por EVA CASSIMIRA DIAS em face de SEGURADORA LIDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S.A., objetivando a autora, em síntese, o pagamento da diferença do valor pago a título de indenização referente ao seguro obrigatório DPVAT, em razão de a ré ter efetuado pagamento inferior ao previsto em lei, pelo óbito de Ormindo Dias, vítima de acidente automobilístico, ocorrido em 13/01/1992.

Alega a autora, em resumo, que já recebeu a quantia de R$ 13.500,00, restando, todavia, uma diferença a receber, uma vez que o falecimento de seu cônjuge se deu sob a vigência da Lei 6.194/74, a qual determinava o pagamento de 40 salários mínimos.

A sentença de fls. 129/133, julgando procedente, em parte, o pedido, condenou a ré a pagar à autora a quantia, já atualizada, de R$ 2.035,58 (dois mil e trinta e cinco reais e cinqüenta e oito centavos), acrescida de correção monetária, a partir da sentença, e juros de mora mensais de 1%, desde a citação, além do pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação.

Na sua apelação, arrazoada às fls. 135/143, alega a ré, resumidamente, que a Lei nº 11.482, que alterou a Lei nº 6.194/74, modificando a quantia relativa à indenização por morte, passou de 40 salários mínimos para R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais); que o valor da indenização deve corresponder ao vigente à época do sinistro; que, assim, não há que se falar em indenização em salários mínimos; que por tais razões, não deve ser condenada ao pagamento de indenização

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correspondente a meação de 7,47 salários mínimos, no valor atualmente vigente, devendo a mesma ser fixada com base no salário mínimo vigente à época do sinistro. Pleiteia a reforma da sentença.

A parte autora não contra-arrazoou o recurso (fls. 148).

Preparo regular.

É o relatório.

Com parcial razão o recorrente.

De fato, como é de sabença, o seguro obrigatório – DPVAT, instituído pela Lei nº 6.194/74, visa cobrir os riscos acarretados pela circulação de veículos, buscando, com isso, como aduz SÉRGIO CAVALIERI FILHO, “garantir uma indenização mínima às vítimas de acidentes de veículos, mesmo que não haja culpa do motorista atropelador”.

Pode-se dizer, como conclui o eminente professor, “que, a partir da Lei nº 6.194/74, este seguro deixou de se caracterizar como seguro de responsabilidade civil do proprietário para se transformar num seguro social em que o segurado é indeterminado, só se tornando conhecido quando da ocorrência do sinistro, ou seja, quando assumir a posição de vítima de um acidente automobilístico”. 1

É o reconhecimento do princípio da socialização dos riscos, fundado na solidariedade social.

Com efeito, a Lei nº 6.194/74, posteriormente alterada pela Lei nº 8.441/92, garante a proteção e o benefício de todas as pessoas que, diariamente, se expõem aos riscos da circulação de veículos automotores.

De se concluir, portanto, que o intérprete deve extrair do texto legal o benefício máximo, uma vez que o valor pago de forma obrigatória por todos os motoristas, anualmente, é administrado por um consórcio, cuja finalidade é a de agilizar o pagamento do benefício às vítimas ou aos seus familiares.

Por tais motivos, a Lei em comento estabelece que o valor do seguro obrigatório aplicável à hipótese em exame, no caso de morte da vítima, será de 40 (quarenta) vezes o valor do salário mínimo (art. 3º, letra ‘a’), cujo pagamento “será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado” (art. 3º, letra “a”, e 5º, caput, da Lei nº 6.194/74).

Registre-se, também, que a Lei nº 11.482/2007, que alterou a redação do art. 3º da Lei nº 6.194/74, não se aplica aos casos anteriores à sua vigência, isto porque o valor das indenizações cobertas pelo seguro DPVAT deve observar a legislação vigente à época do sinistro.

1 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil, 3ª edição. São Paulo: Malheiros

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É nesse mesmo sentido o entendimento esposado pela Jurisprudência deste Tribunal:

Direito Civil. Seguro obrigatório de danos pessoais por acidente de trânsito (DPVAT). Irretroatividade da lei nova. Lei n.º 11.482/2007, aplicável somente aos sinistros ocorridos após sua vigência. Valor da indenização previsto no artigo 3º da Lei 6.194/1974, que estabelece até 40 (quarenta) vezes o salário-mínimo vigente no país na data do pagamento, nos casos de invalidez parcial permanente. Jurisprudência consolidada no sentido de que o valor corresponderá ao percentual relativo ao grau de incapacidade, tomando-se como parâmetro a indenização máxima prevista. Sentença que se reforma. Recurso da autora a que se dá parcial provimento e recurso do réu a que se nega provimento monocraticamente. (2009.001.39698 – DES. ALEXANDRE CÂMARA – Julgamento: 17/07/2009 – Segunda Câmara Cível).

Agravo Inominado. Apelação. Ação de cobrança. Indenização relativa ao seguro DPVAT. Irretroatividade da lei nova. Os valores fixados pela lei 11482/07 não podem ser aplicados, já que se trata de acidente ocorrido antes de sua entrada em vigor. Aplicação da alínea "a", do artigo 3º da Lei 6194/74. O valor do seguro obrigatório de veículo automotor, em caso de morte, é de 40 salários mínimos. Reforma da sentença, de ofício, para determinar a incidência de juros e correção monetária. Recurso desprovido. (2009.001.58612 – DES. CARLOS EDUARDO MOREIRA SILVA - Julgamento: 01/10/2009 – NONA CÂMARA CÍVEL).

Por outro lado, a norma especial prevê que a fixação em salário mínimo para a cobertura do seguro obrigatório está fulcrada em critério legal específico, não se confundindo, portanto, com índice de reajuste, não havendo qualquer incompatibilidade com as normas que vedam o uso do salário mínimo como parâmetro de correção monetária.

É nesse sentido, aliás, a jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça, litteris:

CIVIL. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). VALOR QUANTIFICADO EM SALÁRIOS MÍNIMOS. INDENIZAÇÃOLEGAL. CRITÉRIO. VALIDADE. LEI N. 6.194/74. I. O valor de cobertura do seguro obrigatório de responsabilidade civil de veículo automotor (DPVAT) é de quarenta salários mínimos, assim fixado consoante critério legal específico, não se confundindo com índice de reajuste e, destarte, não havendo incompatibilidade entre a norma especial da Lei n. 6.194/74 e aquelas que vedam o uso do salário mínimo como parâmetro de correção monetária. II. Recurso especial não conhecido” (Resp 153209/RS, Segunda Seção, DJ 02/02/2004, rel. designado p/ Acórdão: Min. ALDIR PASARINHO JÚNIOR).

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SEGURO OBRIGATÓRIO. INDENIZAÇÃO. SALÁRIO MÍNIMO. As leis nºs. 6.205/75 e 6.423/77 não revogaram o art. 3º da Lei nº 6.194/74. O salário mínimo no caso não se constitui em fator de correção monetária, mas sim em base para quantificação do montante ressarcitório. Precedente da Eg. Segunda Seção. Recurso Especial conhecido e provido”. (REsp 33501/SP, Quarta Turma, DJ 29/04/96, rel. Min. RUY ROSADO DE AGUIAR).

Todavia, modificando o posicionamento por mim anteriormente adotado, e, em consonância com o recente entendimento do e. STJ, a indenização correspondente a 40 salários mínimos deve levar em conta o salário mínimo vigente à época do evento danoso, computando-se, daí por diante, a correção monetária através dos índices oficiais até o efetivo pagamento pela seguradora (RESP 788712/RS, julgado em 02/09/09).

É também nesse mesmo sentido o entendimento deste Tribunal de Justiça:

AGRAVO INOMINADO. APELAÇÃO CÍVEL. DPVAT.1. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.2. COMPETÊNCIA NORMATIVA DO CNSP - PREVALÊNCIA DA LEI FEDERAL.3. POSSIBILIDADE DE ADOÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO COMO PARADIGMA.4. DO SALÁRIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO EVENTO.5. CONCLUSÃO1. Ab initio, o argumento de o acidente ter sido causado por um ônibus, o qual não faria parte do convênio do seguro, não merece prosperar. E isso, porque não pode ato normativo restringir benefício concedido por lei ordinária, em evidente prejuízo ao cidadão, ainda mais que a lei não fez qualquer distinção quanto ao tipo de veículo automotor. Precedentes do TJRJ. Portanto, afasta-se a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam, pois há solidariedade entre as seguradoras ao pagamento das indenizações do DPVAT, por força da Lei nº 8.441/92. 2. Instruções editadas pelo CNSP não revogam o previsto em lei federal. Precedente do TJRJ. 3. É totalmente possível a vinculação da indenização ao salário mínimo, pois esta não visa atuar como índice de correção, não estando, assim, em desconformidade com as leis 6205/75 e 6423/77.4. O salário mínimo utilizado como base para o pagamento de seguro DPVAT é o vigente à época do evento ou do pagamento parcial. Precedente no STJ. 5. Recurso não provido. (2009.001.57319 – DES. JOSÉ CARLOS PAES – Julgamento: 28/10/2009 – DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL).

No caso em exame, o documento de fls. 17 comprova o pagamento realizado em 14/08/2008, pela via administrativa, da importância de R$ 13.500,00, correspondente a 32,53 salários mínimos vigentes à época do pagamento, restando, portanto, diferença a ser paga, no total de 7,47 salários mínimos.

Cabe ressaltar, contudo, que consta da certidão de óbito do de cujus (fls. 15) o registro da existência de cinco filhos, devendo, pois, diante da ordem de sucessão hereditária, serem resguardados os seus direitos.

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Logo, compete a autora, o pagamento de, tão-somente, o valor correspondente a sua meação, ou seja, a metade do valor relativo à diferença do Seguro DPVAT.

Por outro lado, a sentença de primeiro grau, ao condenar a ré ao pagamento da diferença no total de R$ 2.035,58, considerou como parâmetro o valor do salário mínimo de R$ 545,00, vigente à data de sua prolação, razão pela qual a respeitável decisão está a merecer a necessária reforma para que o cálculo da diferença a ser paga leve em consideração o valor do salário em vigor na data do sinistro.

À vista do exposto, autorizado pelos artigos 557 - §1º -A, do CPC, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso, para condenar a ré a pagar à autora, respeitada a sua meação, o valor correspondente a 7,47 salários mínimos, convertidos de acordo com o valor do salário mínimo vigente à época do sinistro, computando-se, daí por diante, a correção monetária, de acordo com os índices oficiais adotados pela e. Corregedoria Geral de Justiça, até o efetivo pagamento, com a incidência dos juros de mora de 1% ao mês, a partir da citação, mantida no mais, a r. sentença de fls. 129/133, que ora se confirma por seus próprios termos.

Rio de Janeiro, 07 de novembro de 2011.

Desembargador MALDONADO DE CARVALHO Relator

Certificado por DES. MALDONADO DE CARVALHO

A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br.

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