Análise da drenagem linfática manual no tratamento do fi bro edema gelóide e
na redução de medidas
Natália Batista Silva
1Sidilaini Reis Silva
1Ligia de Souza
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Centro Universitário UNIFAFIBE. Graduação em fi sioterapia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE.
Email: <nataliabatista_fi sio@hotmail.com>.
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Centro Universitário UNIFAFIBE. Graduação em fi sioterapia pelo Centro Universitário UNIFAFIBE.
Email: <sidilainireis@hotmail.com>.
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Centro Universitário UNIFAFIBE. Doutora em Ciências da Saúde pela escola de Enfermagem de Ri- beirão Preto da Universidade de São Paulo – USP. Email: <ligia.sousa@hotmail.com>.
Resumo: O fi bro edema gelóide (FEG), é uma alteração na pele caracterizada por con- tornos irregulares, defi nida como uma disfunção metabólica localizada. O objetivo desse estudo foi verifi car a efetividade da drenagem linfática manual no tratamento do FEG e na redução de medidas. Participaram do estudo 8 voluntárias, divididas em 2 grupos:
grupo controle (GC) e grupo experimental (GE) submetido a drenagem linfática ma- nual (DLM). Foram realizada 8 sessões de DLM. Foram avaliados o grau de FEG e pe- rimetria de região glútea e de coxa. Após o tratamento com DLM, foi possível observar melhora do aspecto da pele das participantes do GE. No GC, não foram observadas mudanças no aspecto da pele. Observou-se redução de medidas de coxa signifi cativas no GE em relação ao GC. Conclui-se que a DLM contribui para a melhora do aspecto do FEG e redução de medidas.
Palavras-chave: Fibro Edema Gelóide. Drenagem Linfatica Manual. Fisioterapia Der-
mato-funcional.
1. INTRODUÇÃO
O fi broedema gelóide (FEG), popularmente conhecido como “ce- lulite”, é uma afecção que provoca defi ciência na circulação sanguínea e linfática e hipotonia muscular freqüente, podendo levar à quase total imobilidade dos membros inferiores, além de dores intensas e problemas emocionais (GUIRRO; GUIRRO, 2002).
Essa doença acomete milhões de pessoas no mundo, principalmente mulheres. É uma alteração na pele caracterizada por contornos irregulares, de início na puberdade, defi nida como uma disfunção metabólica locali- zada, do tecido subcutâneo e da derme, que provoca alteração na forma corporal feminina, devido ao excesso de tecido adiposo retido no septo fi broso e por projeções deste na derme (MACHADO et al., 2009).
É estimado que mulheres, após o período da puberdade apresentem algum grau de FEG (BARBOSA; MELO, 2010). A maior incidência do FEG está localizado na região glútea e posterior de coxa, sendo associa- da com elevada concentração de tecido adiposo na região afetada (MA- CHADO et al., 2009).
O FEG decorre de um processo de reação da substancia fundamen- tal, devido uma alteração do meio interno, secundário a fatores locais e gerais em que as proteínas glicosaminoglicanas sofrem um processo de hiperpolimerização. (ROSSI, VERGNANINI, 2000; GUIRRO; GUIR- RO, 2004). Além disso, o surgimento do FEG associa-se a um mau fun- cionamento dos adipócitos, que retêm um maior teor de lipídios, os quais estimulam a retenção de líquidos, levando assim ao aumento de volume da célula, gerando compressão dos vasos e comprometendo a circulação sanguínea. O rompimento das fi bras de colágeno e elastina, responsáveis pela sustentação da pele, secundário ao aumento das células de gordura, levaria ao inestético aspecto da pele característico deste quadro (FREDE- RICO et al., 2006; KHAN et al., 2010).
Segundo Milani et al., (2005), os fatores predisponentes para o surgi-
mento do FEG podem ser hereditariedade, sexo feminino e desequilíbrio
hormonal. Dentre os fatores determinantes podemos citar estresse, fumo,
sedentarismo, maus hábitos alimentares e disfunções hepáticas, e como os fatores condicionantes podemos citar as perturbações circulatórias.
Clinicamente é um acometimento cutâneo não infl amatório, apre- sentando-se doloroso em alguns casos, podendo se manifestar em forma de nódulos ou placas de variadas extensão e localização (MELO et al., 2006).
Grau I – é percebido apenas pela inspeção da compressão do tecido entre os dedos ou contração da musculatura, assintomática.
Grau II – a temperatura e a elasticidade da pele encontram-se dimi- nuídas depois da compressão ou contração muscular.
Grau III – em repouso é evidente o aparecimentos do aspecto “casca de laranja” e/ ou um acolchoado da pele. Há sensação de dor na palpação, a elasticidade e a temperatura encontram-se diminuídas.
Grau IV – são as mesmas características do grau III com nódulos mais visíveis, palpáveis e dolorosos. Aderências nos níveis profundos e um aparecimento ondulado obvio da superfície de pele.
Alguns recursos são descritos na literatura tratando especifi camente o FEG. Entretanto, para uma terapêutica efi caz é necessário a compre- ensão da fi siopatologia desta afecção e dos efeitos benéfi cos das técnicas utilizadas (KHAN et al., 2010).
No campo da fi sioterapia dermato-funcional, a drenagem linfática manual (DLM) é um método fi sioterapêutico de massagem altamente especializado, feito com pressões suaves, lentas, intermitentes e relaxan- tes, que seguem o trajeto do sistema linfático. É bastante utilizado no tratamento de FEG, linfedema, pós-operatórios, entre outros problemas
.(GUIRRO; GUIRRO, 2004). Essa técnica tem por objetivo, drenar o excesso de liquido de uma área estagnada, assim, melhorando a circu- lação linfática, eliminação de resíduos, redução de edemas entre outros (BRANDAO et al, 2010; BORGES, 2006).
A DLM na FEG auxilia a evacuação de líquidos ricos em proteínas
e toxinas que tornam o tecido cutâneo edemaciado e com aderências te-
ciduais, assim, normalizando o Ph intersticial e favorecendo a nutrição e
oxigenação tissular (LEDUC; LEDUC, 2007; BORGES, 2006).
É um recurso bastante utilizado na prática clínica para tratamento do FEG. Embora estudos não controlados e não randomizados são encontra- dos apresentando resultados positivos com o uso da drenagem linfática manual para redução do fi bro edema gelóide, até o momento, não foram encontrados estudos de grandes dimensões, controlados e randomizados ou revisões sistemáticas da literatura, que comprovem os efeitos obtidos deste recurso terapêutico. Desta maneira, estudos com bom delineamen- to devem ser elaborados para analisar se a drenagem linfática manual pro- move redução no grau do FEG.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa foi verifi car a efetividade da drenagem linfática manual no tratamento do fi bro edema gelóide e na redução de medidas em mulheres.
2. METERIAIS E MÉTODOS
Este estudo caracteriza-se por um ensaio clínico experimental, ran- domizado e controlado. De acordo com a resolução 196/96 do Código Nacional de Saúde, este projeto foi encaminhado e aprovado pela Insti- tuição onde foi realizada a pesquisa e pelo Comitê de Ética em Pesquisa (protocolo n.25/2011). Foram convidadas a participar do estudo alunas dos cursos da área da saúde (fi sioterapia e nutrição) do Centro Universitá- rio UNIFAFIBE. Estas foram informadas sobre o estudo, objetivos e me- todologia. Todas as participantes incluídas no estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O estudo foi realizado no Centro Universitário UNIFAFIBE, loca- lizado na cidade de Bebedouro/SP. Foram incluídas mulheres com idade entre 18 e 25 anos; fazendo uso de anticoncepcional; não tabagista; etnia branca; sedentárias e nulíparas. Foram excluídas as participantes que apre- sentassem insufi ciência venosa crônica; desconforto com as manobras da DLM; três faltas consecutivas; Índice de Massa Corpórea acima de 35.
A amostra do estudo foi aleatoriamente dividida em dois grupos,
com quatro participantes em cada. As participantes do Grupo Experi-
mental (GE) foram submetidas ao tratamento com DLM e acompanha- das quanto à evolução do FEG e a análise das medidas de glúteos e coxas.
No Grupo Controle (GC), as participantes foram acompanhadas quanto à evolução do FEG, sem receber qualquer tipo de intervenção te- rapêutica.
As participantes responderam à fi cha de avaliação inicial (dados só- cio-demográfi cos e físicos). Todos os procedimentos a partir da avaliação inicial foram realizados com a participante vestindo trajes de banho.
Para a avaliação do FEG, foram coletadas imagens fotográfi cas em vista posterior enfatizando-se a região glútea e posterior de coxa. A máquina foi posicionada a 80 centímetros de distância da participante;
e a borda superior da máquina colocada em uma linha perpendicular à prega glútea, ajustando-se à altura de cada participante. As participantes permaneceram em posição ortostática, descalças, com descarga de peso distribuída igualmente entre os membros. Foram realizadas fotos com a musculatura da região glútea relaxada e, em seguida, exercendo contração isométrica destes músculos.
Para análise das medidas da região glútea e de coxas, foi realizada a perimetria com uso da fi ta métrica, onde as voluntárias permaneceram descalças em posição ortostática, com marcações nas seguintes áreas espe- cífi cas: marcação na região suprapatelar e, em seguida, marcações 10, 20 e 30 cm acima, nos membros inferiores. A perimetria da região glútea foi feita com marcação sobre o trocanter maior do fêmur, onde a participante permaneceu em posição ortostática com membros inferiores unidos.
As imagens fotográfi cas e a perimetria foram realizadas na avaliação inicial, após duas semanas do início do estudo (4 sessões) e ao fi nal da quatro semanas (8 sessões).
Para o tratamento de DLM no GE foi seguido o protocolo proposto
por Leduc e Leduc (2007). Inicialmente foram realizadas 20 manobras
de pressão sobre os linfonodos inguinais direito e esquerdo. Em seguida,
foram realizadas manobras de círculo com os dedos e bracelete nas regiões
de glúteo e membros inferiores direito e esquerdo (LEDUC, LEDUC,
2007). A sequência das manobras está representada na fi gura 1, sendo re-
alizado, inicialmente, os limites apresentados por “A”, seguidos por “B”,
“C”, “D”, “E”, “F”, “G”, “H”, “I” e “J” para a região posterior e os limites A”,
“B”, “C”, “D”, “E”, “F”, “G”, “H” e “I” para a região anterior. Em cada limite foram executadas 6 repetições de cada manobra.
A drenagem foi iniciada com a mulher em decúbito dorsal, sendo realizadas as manobras na porção anterior de membros inferiores e, após, pedia para que ela fi casse em decúbito ventral para a realização da técnica na região posterior dos membros inferiores.
Figura 1- Limites da DLM, vista posterior e anterior.
Para o grupo experimental, foram realizadas oito sessões de trata-
mento, duas vezes por semana, totalizando quatro semanas. O grupo con-
trole foi apenas acompanhado durante este período.
Análise estatística
A análise dos dados foi precedida pela elaboração de um banco de da- dos no aplicativo Excel, utilizado para codifi cação das variáveis em um di- cionário de dados e para validação mediante dupla entrada (digitação) dos dados. Realizou-se análise descritiva e comparativa dos dados. Para a análi- se de redução de medidas foi apresentado a medida realizada em trocanter maior, correspondendo a perimetria do quadril e, para as medidas da coxa, será realizada a média das medidas das marcações suprapatelar, 10, 20 e 30 cm acima, e utilizada na análise estatística uma única medida obtida na coxa direita e esquerda. Foi utilizado o teste t para análise de redução de medidas intragrupos. Para a análise intergrupos foi calculada a diferença média entre a primeira e a segunda avaliação e entre a primeira e a terceira avaliação, sen- do, em seguida, utilizado o teste não-paramétrico de Mann-Whitney.
Para a análise dos dados, utilizou- se o programa Instat . O nível de signifi cância considerado foi de p<0,05.
3. RESULTADOS
Foram convidadas a participar do estudo 8 mulheres, sendo 4 per- tencentes ao grupo experimental e 4 ao grupo controle. Todas as parti- cipantes convidadas e que aceitaram participar da pesquisa realizaram as quatro semanas de tratamento, não havendo nenhuma desistência.
A idade média das participantes do GE foi de 22,25 anos e no GC
a idade média foi de 21. Nenhuma participante era tabagista, gestante ou
usava qualquer tipo de medicamento, exceto anticoncepcional, conforme
critérios de inclusão da presente pesquisa. Em relação às patologia associa-
das, uma paciente do GC era diabética, uma do GE e uma do GC tinham
colesterol alto. A tabela 1 apresenta os principais resultados relacionados
às características e aos hábitos de vida das participantes do estudo.
Tabela 1- Frequência (n) e porcentagem (%) das características e hábitos de vida das participantes do estudo.
GE=Grupo experimental; GC= Grupo controle.
Em relação ao exame físico inicial do GE, três participantes apre- sentaram FEG grau II e uma apresentou grau III. No GC, quatro par- ticipantes apresentaram FEG grau II. Foi realizado registro fotográfi co das participantes dos grupos estudados para análise qualitativa da redução dos graus de FEG após o tratamento. A fi gura 5 apresenta a região glútea e superior de coxa pré-tratamento de uma paciente do GE submetida à DLM. Nas fi guras 6 e 7, a mesma paciente após 4 e 8 sessões de tratamen- to com DLM, respectivamente.
Após o tratamento com drenagem linfática no GE, foi possível ob- servar redução do aspecto de “casca de laranja” e melhora do aspecto da pele das participantes, por meio de avaliação visual com a musculatura relaxada e contraída. Para o GC, não se observou mudanças no aspecto da pele entre as participantes deste estudo.
Musculatura relaxada Musculatura contraída Figura 2 - Pré-tratamento – grupo experimental.
Musculatura relaxada Musculatura contraída
Figura 3 - Após 8 sessões de tratamento – grupo experimental
Em relação a perimetria, os dados pré e pós tratamento nos grupos GE e GC, são apresentados nas tabelas 2, 3 e 4, correspondendo às medidas rea- lizadas em trocanter maior, coxa direita e coxa esquerda, respectivamente.
Tabela 2 - Análise estatística da redução de medidas na região de trocanter das pacientes.
GE= grupo experimental; GC,=grupo controle; Dif.12,=diferença entre a primeira e a segunda avaliação; Dif.13= diferença entre a primeira e a terceira avaliação. Nível de signifi cância <0,05.
Nas colunas encontram-se as análises intragrupo e nas linhas as análises intergrupo.
*Análise Intragrupo: teste T.
Valor p (1-2): análise intragrupo entre a primeira e segunda avaliação.
Valor p (1-3): análise intragrupo entre a primeira e terceira avaliação.
**Análise Intergrupo: teste Mann-Whitney.
Ao analisar as medidas de trocanter maior verifi cou-se que não hou-
ve redução de medidas entre os GE e GC. O mesmo pode ser observado
nas medidas intragrupos, onde, nem GC, nem GE apresentaram redução
signifi cativa de dor pré e pós-tratamento.
Tabela 3 - Análise estatística da redução de medidas em coxa direita.
GE= grupo experimental; GC,=grupo controle; Dif.12= diferença entre a primeira e a segunda avaliação; Dif.13= diferença entre a primeira e a terceira avaliação. Nível de signifi cância <0,05.
Nas colunas encontram-se as análises intragrupo e nas linhas as análises intergrupo.
*Análise Intragrupo: teste T.
Valor p (1-2): análise intragrupo entre a primeira e segunda avaliação.
Valor p (1-3): análise intragrupo entre a primeira e terceira avaliação.
**Análise Intergrupo: teste Mann-Whitney.
+
Estatisticamente signifi cativo.
Na coxa direita observou-se que houve redução signifi cativa das me-
didas entre os GE e GC, sendo que a redução do GE foi signifi cativamen-
te maior que o GC. Quando realizada a análise intragrupo, apenas o GE
mostrou redução signifi cativa das medidas de coxa direita entre a primeira
e terceira avaliação, mostrando que a drenagem linfática foi efi caz na re-
dução de medidas desta região.
Tabela 4 - Análise estatística da redução de medidas em coxa esquerda.
GE= grupo experimental; GC,=grupo controle; Dif.12= diferença entre a primeira e a segunda avaliação; Dif.13= diferença entre a primeira e a terceira avaliação. Nível de signifi cância <0,05.
Nas colunas encontram-se as análises intragrupo e nas linhas as análises intergrupo.
*Análise Intragrupo: teste T.
Valor p (1-2): análise intragrupo entre a primeira e segunda avaliação.
Valor p (1-3): análise intragrupo entre a primeira e terceira avaliação.
**Análise Intergrupo: teste Mann-Whitney.
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