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PROTOCOLO MP/PR Nº 13013/2015 AUTOS DE INQUÉRITO POLICIAL Nº ª VARA CRIMINAL DE CURITIBA

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PROTOCOLO MP/PR Nº 13013/2015

AUTOS DE INQUÉRITO POLICIAL Nº 0019641-26.2014.8.16.0013 ORIGEM: 3ª VARA CRIMINAL DE CURITIBA INDICIADO: CLEITON JOSÉ PADILHA

OBJETO: ART. 28 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

EMENTA: FURTO SIMPLES. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.

MAUS ANTECEDENTES. REINCIDÊNCIA. TIPICIDADE DA CONDUTA.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS:

1. RELATÓRIO

Os presentes autos de Inquérito Policial foram inaugurados por auto de prisão em flagrante para apurar a prática, em tese, do delito previsto no art. 155, caput, c/c o art. 14, II, ambos do Código Penal (furto simples tentado), supostamente ocorrido em 20.09.2014, no interior das Lojas Jacomar, situada na Rua Desembargador Antônio de Paula, 2765, Curitiba, PR, quando o indiciado Cleiton José Padilha tentou se evadir da loja na posse de 04 (quatro) hidratantes da marca Nívea, 01 (um) desodorante da marca Dove, 01 (um) desodorante da marca Axe, avaliados em R$

50,00 (cinquenta reais) conforme auto de exibição e apreensão de fls. 22 e auto de avaliação de fls. 98.

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O segurança, por meio das imagens do sistema de câmeras, visualizou o indiciado guardando em suas vestes os produtos do hipermercado Jacomar e ao dar voz de abordagem foi ameaçado pelo indiciado que disse para soltá-lo, caso contrário o mataria. Assim, após empreender fuga do local foi atropelado por um veículo e, posteriormente, detido por policiais.

Após ultimação da instrução policial, sobreveio a promoção de arquivamento de fls. 111-115, elaborada pelo Promotor de Justiça Alexandre Ramalho de Farias, contendo fundamentação dirigida ao reconhecimento da atipicidade da conduta com base no princípio da insignificância.

Exercendo controle jurisdicional de 1º grau, o Juiz de Direito Mauro Bley Pereira Junior proferiu a decisão de fls. 128/130, discordando da promoção ministerial de arquivamento, ao argumento de que não se aplica, no caso, o princípio da insignificância tendo em vista os registros criminais do indiciado, o qual, recentemente, foi condenado pela Vara Criminal de Fazenda Rio Grande por furto qualificado. Nestes termos, determinou o encaminhamento dos autos a esta Procuradoria-Geral de Justiça, aos fins do disposto no art. 28 do Código de Processo Penal.

Eis o relatório do autuado.

2. FUNDAMENTAÇÃO

O objeto de análise e valoração aos presentes autos, por parte desta Procuradoria-Geral de Justiça, nos termos do disposto no art. 28 do Código de Processo Penal, direciona-se à operação de ratificação ou discordância quanto ao conteúdo do pronunciamento ministerial de fls. 111-115, que promoveu o arquivamento dos autos por reconhecimento da atipicidade de conduta, com fundamento no princípio da insignificância.

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Analisando-se o conjunto probatório amealhado aos autos, em especial o auto de prisão em flagrante, extrai-se que no dia 20.09.2014, no interior das Lojas Jacomar, situada na Rua Desembargador Antônio de Paula, 2765, Curitiba, PR, o indiciado Cleiton José Padilha tentou se evadir da loja na posse de 04 (quatro) hidratantes da marca Nívea, 01 (um) desodorante da marca Dove e 01 (um) desodorante da marca Axé, avaliados num total de R$ 50,00 (cinquenta reais).

A manifestação proferida pelo agente ministerial tem como base e fundamento a tese denominada “princípio da insignificância”. Nega, com isto, vigência ao artigo 155, do Código Penal.

Tal princípio não existe regrado no Direito brasileiro, sendo conceito desenvolvido por Claus Roxin, que tratou do “princípio da lesividade ou ofensividade ao bem jurídico”, na década de 60.

No entanto, justamente por não estar regrado, o princípio em apreço deve ser usado com parcimônia e sempre diante do caso concreto evidenciado, cotejando-se dois eixos axiológicos: o desvalor da ação e o desvalor do resultado.

O art. 155, Código Penal, que é o tipo penal aplicável para o caso concreto, não está axiologicamente orientado somente por desvalor de resultado.

Conquanto seja um crime material e de dano, a legislação penal destaca o desvalor de ação como dado importante. Fosse somente considerado pela norma penal o desvalor do resultado como preponderante para efeitos de furto, inexistiriam sequer as distinções criadas pelo próprio legislador a justificar a existência de furtos com penas diversas.

Neste passo, vem a regra do art. 155, § 2º, do Codex. Ali, o legislador, operando à luz do eixo desvalor de ação/desvalor de resultado, deu agasalho ao tratamento de casos de somenos importância do ponto de vista do desvalor de resultado, prevendo tratamento menos gravoso ao comportamento delitivo que nele se amoldasse.

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De fato, o próprio legislador já trouxe regrado um critério que norteia e limita o tratamento de furtos de coisas de pequeno valor, à vista da norma do §2º do artigo 155 do Código Penal:

“Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

(...)

§2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.” (grifo nosso).

O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL assim tem decidido:

1. O princípio da insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

2. A aplicação do princípio da insignificância deve, contudo, ser precedida de criteriosa análise de cada caso, a fim de evitar que sua adoção indiscriminada constitua verdadeiro incentivo à prática de pequenos delitos patrimoniais. 3. O valor da res furtiva não pode ser o único parâmetro a ser avaliado, devendo ser analisadas as circunstâncias do fato para decidir-se sobre seu efetivo enquadramento na hipótese de crime de bagatela, bem assim o reflexo da conduta no âmbito da sociedade. (STF, HC 122547/MG Relator: Min. LUIZ FUX, Julgamento: 19/08/2014).

Ademais, o indiciado é reincidente, foi recentemente condenado pela Vara Criminal de Fazenda Rio Grande (09.08.2010) como incurso no tipo penal previsto no art. 155, §4º, inciso IV, do Código Penal, ou seja, o fato ora narrado não se trata de um evento isolado em sua vida. Assim, levando-se em conta tratar-se de pessoa com tendência para a prática de delito, entendemos que não existem motivos suficientemente aptos a ensejar o arquivamento do presente caderno investigatório, pelo não cabimento da aplicação do princípio da insignificância, em razão do desvalor da ação.

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Nesse sentido:

O paciente é contumaz na prática de delitos, pois ostenta maus antecedentes, conforme consignado nas decisões das instâncias ordinárias, possuindo várias condenações com trânsito em julgado há mais de cinco anos, inclusive por crimes contra o patrimônio, além de possuir uma extensa ficha criminal. Nesse contexto, a reiteração no cometimento de infrações penais se reveste de relevante reprovabilidade e não se mostra compatível com a aplicação do princípio da insignificância, reclamando a atuação do Direito Penal.

Deve-se enfatizar, por oportuno, que o princípio da bagatela não pode servir como um incentivo à prática de pequenos delitos. (STJ, HC 319265 / SP, Ministro ERICSON MARANHO, DJe 30/06/2015).

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FURTO. ATIPICIDADE MATERIAL. REDUZIDO VALOR DAS RES FURTIVAE. DESODORANTES AVALIADOS EM R$ 40,00. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.

AFASTAMENTO. REINCIDÊNCIA MÚLTIPLA. CRIMINOSO CONTUMAZ.

RELEVÂNCIA PENAL CARACTERIZADA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. A despeito da subsunção formal da conduta a um tipo penal, é possível concluir-se pela sua atipicidade material, por diversos motivos, entre os quais a ausência de ofensividade penal do comportamento verificado. 2. Se, do ponto de vista dogmático, a existência de maus antecedentes não poderia ser considerada como óbice ao reconhecimento da insignificância penal, não deve o juiz, ao avaliar a tipicidade formal, ignorar o contexto que singulariza a ação como integrante de uma série de outras de igual natureza, as quais evidenciam o comportamento humano avesso à norma incriminadora. 3. A subtração de dois desodorantes, avaliados em R$ 40,00, revela ofensividade penal e social da conduta praticada pelo recorrente, quando levadas em consideração suas passagens por tráfico, injúria e homicídio, bem como as cinco condenações transitadas em julgado que ostenta. 4. Agravo regimental não provido. (STJ, Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, DJe 01/06/2015).

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3. CONCLUSÃO

Ante ao exposto, no exercício das atribuições previstas no art. 28 do Código de Processo Penal, respeitando-se o defensável entendimento embutido na promoção de arquivamento de fls. 111-115, elaborada pelo Promotor de Justiça Alexandre Ramalho de Farias, entende-se prudente, em observância ao princípio da independência funcional, a designação de outro Promotor de Justiça para oferecimento de denúncia pelo delito de tentativa de furto simples (art. 155, caput, c/c o art. 14, II, ambos do CP), prosseguindo-se, então, a instrução criminal.

Curitiba, 27 de julho de 2015.

Reginaldo Rolim Pereira Procurador de Justiça

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