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CONHECENDO OS JOGOS OLÍMPICOS A PARTIR DA HISTÓRIA DAS CORRIDAS DE VELOCIDADE

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Academic year: 2021

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IX

CONHECENDO OS JOGOS OLÍMPICOS

A PARTIR DA HISTÓRIA DAS CORRIDAS

DE VELOCIDADE

Guy Ginciene & Sara Quenzer Matthiesen

Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo (GEPPA) UNESP, Rio Claro, Brasil

Introdução

Apesar de ser considerado como um dos conteúdos clássicos da Edu-cação Física (Matthiesen, 2005), pouco se sabe sobre a história do atletismo, sendo que a maior parte dos trabalhos da modalidade dirige seus objetivos à área de treinamento. Os poucos registros históricos existentes aparecem, na maioria das vezes, como introdução desses trabalhos, ainda que de forma bastante sucinta, dificultando um aprofundamento na história desse esporte (Matthiesen, 2009).

A maioria dos autores considera, por exemplo, que o nascimento da corrida ocorreu na pré-história. Não à toa consideram-na como um movi-mento natural do ser humano, onde o objetivo é se locomover de uma forma mais rápida do que o andar. Isso não deixa de ser uma verdade. Porém não podemos comparar as corridas de 100, 200, 400 metros e, até mesmo, o

stá-dion1 com o simples movimento de correr do homem pré-histórico. Ainda

que a comparação entre esses movimentos possa ser feita, é preciso destacar que seus objetivos são totalmente diferentes. Na pré-história, por exemplo, o objetivo era simplesmente se locomover de uma forma mais rápida que o andar, seja para fugir ou para ir atrás de alguma coisa, como um animal que iria servir como alimento.

1. O stádion era uma corrida de velocidade com a distância de 192,27 metros disputada, por homens, nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga.

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Seguindo em frente na história observamos que a corrida passou a ser disputada em forma de competição. Na Grécia Antiga, de onde provém os primeiros registros de competições de atletismo, a corrida mais conhecida era o stádion, a qual integrava os jogos mais populares da época, os Jogos Olímpicos. Somente os homens participavam dessa competição, enquanto que as mulheres participavam dos Jogos em homenagem a deusa Hera, cor-rendo uma prova de aproximadamente 160 metros, hoje, inexistente na pro-gramação oficial do atletismo (Ginciene, 2009).

Embora, desde aquela época, fosse dada grande importância às cor-ridas de velocidade, de lá para cá muita coisa mudou, a exemplo das regras, dos implementos, do vestuário, do tipo físico dos atletas e, até mesmo, da participação das mulheres. Entretanto, tais modificações, que ocorreram ao longo da história das corridas de velocidade, não são conhecidas pelos tas e profissionais de Educação Física. Ou seja, na maioria das vezes, os atle-tas conhecem apenas a prova tal qual a competem, enquanto os professores de Educação Física se restringem a ensiná-la em seus aspectos puramente procedimentais. Por que será que isso acontece? Não teriam os professores subsídios para trabalharem com este conteúdo? Nesse sentido o objetivo dessa pesquisa foi identificar as modificações que ocorreram nas corridas de velocidade dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga aos da Era Moderna, vi-sando subsidiar os professores de Educação Física das escolas brasileiras no ensino da história do atletismo e, consequentemente, dos Jogos Olímpicos.

Por meio de uma pesquisa teórica, caracterizada como uma pesquisa bibliográfica, nos concentramos na coleta de dados provenientes de livros, artigos, imagens e websites relacionados às corridas de velocidade, tanto dos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga como dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, reunindo-os em um único material didático.

A história dos jogos olímpicos e o ensino do atletismo

O conhecimento da história do esporte é de grande importância para os educadores físicos por diversos motivos. Por exemplo, no atletismo, a téc-nica utilizada na atualidade pode ser conhecida e explicada por meio de sua evolução histórica, já que do simples e natural movimento da corrida foram inseridos movimentos técnicos visando à melhora da performance do atleta.

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Em suma, é possível dizer que tudo o que acontece no mundo do atletismo tem uma explicação histórica. Por meio da história dessa modali-dade esportiva é possível entender o porquê de cada mudança nas regras, na técnica, nos implementos, no vestuário, na estrutura da competição, entre outras mudanças ocorridas ao longo do tempo e que fazem do atletismo o que é atualmente.

Resgatando sua história é possível identificarmos as circunstâncias de sua origem; seus objetivos; onde e por quem foi praticado até aos dias atuais, entre outras coisas, sobre as quais podemos encontrar respostas na sua trajetória histórica para, por exemplo, auxiliar na solução de problemas atuais e presentes em aulas de Educação Física, como é o caso da falta de material e de espaço físico para a sua prática.

Observando, portanto, a trajetória histórica das corridas de velocida-de, nos certificamos que a saída baixa começou a ser realizada antes mesmo da invenção do bloco de partida. Naquela época, o apoio para os pés eram buracos feitos na própria pista possibilitando o encaixe dos pés. Nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, é possível observar, por exemplo, o americano Jessé Owens2 largando sem o bloco de partida, ao apoiar seus pés em buracos

cavados na própria pista (Ginciene, Matthiesen, 2012). Tal informação pode ser muito útil aos professores de Educação Física interessados no ensino do atletismo no campo escolar. Ou seja, com base nesse episódio histórico o pro-fessor pode buscar alternativas para ensinar a saída baixa, utilizando, por exemplo, pequenos buracos no chão em substituição aos blocos de partida.

Com isso, pretendemos ampliar os conhecimentos dos alunos, contri-buindo para que aprendam mais do que a simples execução de movimentos técnicos, tão comuns a dimensão procedimental dos conteúdos. Assim, para além do saber fazer tão valorizado ao longo das aulas de Educação Física,3

es-peramos contribuir, com essa pesquisa, para o saber sobre a cultura corporal a que se remete Darido (2003).

2. Esse atleta americano e negro, venceu e disputou as provas de: 100 metros rasos, 200 metros rasos, salto em distância e revezamento 4x100 metros, mostrando a Hitler e ao mundo não haver superioridade de nenhuma raça.

3. Em pesquisa realizada por Darido (2003), a partir da observação de aulas de sete profes-sores com pós-graduação fica evidente a falta de tradição no desenvolvimento de conteú-dos na dimensão conceitual, já que apesar conteú-dos professores considerarem os conhecimentos acadêmicos importantes de serem desenvolvidos nas aulas, isso não aconteceu efetivamente em suas práticas pedagógicas.

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Por meio de projeto piloto realizado em uma escola pública de Rio Claro em 2006, observamos, por exemplo, que é possível aplicar esse con-teúdo em aulas de Educação Física, aumentando, inclusive, a motivação por parte dos alunos (Ginciene; Matthiesen, 2009) .

Além disso, observamos a necessidade de aprofundamento e regis-tro da história das corridas de velocidade, em especial, dos 100 meregis-tros ra-sos, considerando a relevância do tema, a escassez de material acerca de sua história, a falta de confiabilidade de alguns dados, além das grandes lacunas entre os episódios concernentes a essa prova do atletismo.

Conforme apontou Matthiesen, Ginciene e Freitas (2012) a história do atletismo acaba se limitando a pequenas introduções em livros voltados aos ensinamentos técnicos, normativos ou de treinamento, sem haver con-textualização histórica que propicie o conhecimento da prova tal qual ela é. Assim, de tão sucintas, as informações históricas presentes nos livros de atletismo não ajudam os professores a inserí-las em suas aulas.

Com isso, o ensino do atletismo, desde sua iniciação até o treinamen-to mais avançado, ocorre sem que se conheça a evolução histórica de suas provas. Em outras palavras, diríamos que a técnica da corrida nem sempre foi a mesma, ainda que um atleta se limite a executar, com tanto rigor, um mesmo movimento repetidas vezes, sem saber como e porquê isso ocorre ou como se chegou a esse resultado. Assim, na maioria das vezes, técnicos, atletas e professores de Educação Física não conhecem a história e evolução das provas que ensinam ou praticam. Mas, esse não é – ou deveria ser – um dos conteúdos a serem trabalhados pelos profissionais de Educação Física?

Talvez, o que falte seja uma boa fonte bibliográfica capaz de levar ao conhecimento e ao trabalho com a história do atletismo, já que as que existem não trazem muitas informações sobre o assunto. Para se obter in-formações mais específicas é preciso recorrer a diversos livros de atletismo, muitos dos quais estrangeiros, ou a livros sobre outro assunto que juntos nos dêem uma pequena idéia dessa evolução, ou seja, de como as coisas aconteceram.

Nesse sentido, o GEPPA produziu uma série de trabalhos a esse res-peito como os artigos de Ginciene e Matthiesen (2009; 2012), os capítulos de livro de Freitas e Matthiesen (2011) e Matthiesen et al (2009), a disser-tação de mestrado de Freitas (2009), os trabalhos de conclusão de curso de

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Sibilia (2011), Gomes (2010), Ginciene (2009), Oliveira (2006), Madalena (2006), Silva (2006) e os inúmeros trabalhos apresentados em congressos pelo próprio grupo.

Considerações finais

Os resultados dessa pesquisa evidenciaram serem muitas as dife-renças entre os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga e os Jogos Olímpicos da Era Moderna, as quais podem ser compartilhadas em aulas de Educação Física. Mais do que a mudança em relação ao sentido religioso observado na Grécia Antiga, identificamos outras mudanças pontuais relacionadas às corridas de velocidade, a começar pelo nome e pela metragem. Nos Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, aproximadamente em 776 a. C., a corrida de velocidade mais rápida possuía 192,27 metros e era conhecida como stá-dion ou dromo. Já nos Jogos Olímpicos da Era Moderna, que começam a ser disputados em 1896, a corrida mais rápida que prevalece até hoje, é a prova dos 100 metros rasos.

Outra particularidade dessas mudanças diz respeito à largada das provas. Enquanto os gregos utilizavam um complexo sistema chamado hys-plex, na Era Moderna a saída das corridas de velocidade tem início com um tiro de revolver. Em relação à técnica da corrida, encontramos, primeiramen-te, atletas realizando a saída em pé, a qual foi substituída, posteriormenprimeiramen-te, pela saída baixa, sem o bloco de partida (Ginciene e Matthiesen, 2012). Mais tarde, observamos atletas fazendo buracos na pista para apoiarem seus pés e, por último, observamos a utilização do bloco de partida, que sofreu algu-mas modificações até chegar ao seu formato atual.

Outros acontecimentos históricos importantes como a participação feminina, a vestimenta, a definição da chegada, o doping, os recordes, en-tre outros, parecem ser temas importantes para serem discutidos com os alunos em aulas de Educação Física. Por esse motivo, esperamos que esse resgate histórico auxilie os professores na elaboração de suas aulas, de for-ma que essas inforfor-mações ajudem o professor a ensinar o atletismo para além da prática propriamente dita. Por meio desse processo, o aluno ainda poderá conhecer não só a história que envolve o atletismo, mas, também, a dos Jogos Olímpicos. Esperamos que esse conhecimento histórico possa

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contribuir para que o aluno tenha melhores condições de avaliar, apreciar e, até, criticar este espetáculo esportivo que acontece de quatro em quatro anos e atrai a atenção de boa parte da população mundial.

Referências

Darido, S.C. (2003). Educação física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

Freitas, F. P. R.; Matthiesen, S. Q. (2011). O salto com vara: do processo histórico ao ensino

esco-lar. In: Dagmar Hunger; Samuel Souza Neto; Alexandre Drigo (Org.). (Org.). A educação física e

seus desafios: formação, intervenção e docência (pp. 255-263). Curitiba: Editora CRV. Freitas, F. P. R. (2009). O salto com vara: uma proposta para o ensino escolar à partir de uma

perspectiva histórica. (Dissertação de Mestrado em Ciências da Motricidade). Rio Claro:

Uni-versidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências.

Ginciene, G. (2009). A evolução histórica da corrida de velocidade: um aprofundamento na prova dos 100 metros rasos (Trabalho de conclusão de curso, Bacharelado em Educação Físi-ca). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências.

Ginciene, G., & Matthiesen, S. Q. (2009). Fragmentos da história dos 100 metros rasos: teoria e

prática. Coleção Pesquisa em Educação Física , 8, pp. 181-186.

Ginciene, G., & Matthiesen, S. Q. (2012). O sistema de partida em corridas de velocidade do

atletismo. Revista Motriz.

Gomes, A. O. (2010). A história do lançamento do dardo (Trabalho de conclusão de curso, Licenciatura em Educação Física). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Institu-to de Biociências.

Madalena, R. N. (2006). Um resgate histórico do salto em distância: subsídios para o ensino do atletismo em aulas de Educação Física (Trabalho de conclusão de curso, Licenciatura em Educação Física). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências. Matthiesen, S. Q. (2007). Atletismo: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Matthiesen, S. Q, org. (2005). Atletismo: se aprende na escola. Jundiaí: Editoura Fontoura. Matthiesen, S. Q. ; Ginciene, G.; Freitas, F. P. R. (2012). Registros da maratona em jogos olímpi-cos para a difusão em aulas de Educação Física. Revista Brasileira de Educação Física e Espor-te (Impresso), v. 26, p. 467-476.

Matthiesen, S. Q. ; Prado, V.M.; Ginciene, G.; Freitas, F. R.; Garuffi, M.; Gomes, A.; Fioravanti, C. A. A. (2009). A história do esporte em aulas de Educação Física: sobre o projeto Atletismo se aprende na escola V. In: Núcleo de Ensino/Prograd/Unesp (pp. 1-20). (Org.). Núcleo de Ensino da Unesp São Paulo. São Paulo: Editora Unesp - Forma Eletrônica.

Oliveira, E. A. (2006). O resgate histórico do salto em altura: contribuições para o ensino do atletismo na Educação Física escolar (Trabalho de conclusão de curso, Licenciatura em Educa-ção Física). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências. Sibilia, C. B. (2011). A história do salto triplo como subsídio para o seu ensino na escola. (Tra-balho de conclusão de curso, Licenciatura em Educação Física). Rio Claro: Universidade Esta-dual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências.

Silva, M. F. G. (2006). Evolução da prova do lançamento do disco ao longo dos tempos: con-tribuições para a Educação Física escolar (Trabalho de conclusão de curso, Licenciatura em Educação Física). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista (UNESP), Instituto de Biociências.

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