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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO. Ester Bae

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Ester Bae

Uma nova face da imigração: um estudo dos expatriados Sul Coreanos e sua inserção social em São Paulo.

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

São Paulo 2019 Ester Bae

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Ester Bae

Uma nova face da imigração: um estudo dos expatriados Sul Coreanos e sua inserção social em São Paulo.

Mestrado em Ciências Sociais

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Ciências Sociais sob a orientação da Profa. Dra. Maura Pardini Bicudo Véras.

São Paulo 2019

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Banca Examinadora

________________________________________

________________________________________

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Dedico esta monografia a minha família, por todo o esforço e amor dedicados a mim, a fim de fazer com que eu conquistasse algo que ninguém nunca poderá tirar de mim: o conhecimento.

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OIM = Organização Internacional para as Migrações IDMC= Internal Displacement Monitoring Centre NRC = Norwegian Refugee Council

UN DESA = United Nations Department of Economic and Social Affairs -Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UN DESA),

CGIG = Coordenação Geral de Imigração OIT = Organização Internacional do Trabalho EUA = Estados Unidos da América

PNB = Produto Nacional Bruto

OCDE = Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico FGTS = Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

PIS/PASEP = Programa de Integração Social/Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público

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O presente trabalho foi realizado com o apoio da coordenação de aperfeiçoamento de textual superior no nível Brasil. (CAPES/TAXA) número do processo 88887.151803-2017/000

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a minha irmã Sara, sempre corajosa e devota mãe de três filhas, que é uma grande força.

Ao meu irmão Pedro, de quem tenho grande orgulho pela sua solidez, por sua infinita torcida para realização deste trabalho.

Às minhas sobrinhas Amanda, Angelina e Alícia, que trouxeram alegria para a minha vida desde que nasceram.

Aos meus pais falecidos, a quem devo meu maior agradecimento e amor nesta terra pela vida que me deram e por tudo.

À minha orientadora Profa. Dra. Maura Pardini Bicudo Véras que muito auxiliou e contribuiu com ótimos direcionamentos. Gratidão a tanto compromisso e paciência para comigo.

Aos participantes da pesquisa que se disponibilizaram e concederam seu precioso tempo concedendo depoimentos e histórias da sua trajetória.

À CAPES por ter me concedido uma bolsa de estudos, o que fez com que eu me sentisse ainda mais motivada em realizar o trabalho.

Aos demais professores da Pontifícia Universidade Católica, que muito contribuíram para o meu desenvolvimento profissional e pessoal, além de me auxiliarem com boa vontade neste projeto.

Às minhas melhores amigas Amanda e Yooni, por anos de amizade e pelo incentivo e carinho de sempre.

A Deus, que me deu oportunidade de entrar em uma instituição onde pudesse estudar e por sempre renovar minhas forças mentais, físicas e espirituais.

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Esta dissertação tem a finalidade de estudar e identificar alguns aspectos da realidade concreta dos jovens expatriados em São Paulo, com o objetivo de analisar a sociabilização destes na cidade de São Paulo. Para tanto, buscou-se considerar o grupo de executivos sul-coreanos na faixa etária entre 20 e 40 anos, trazendo à luz caraterísticas comuns na trajetória de expatriados que imigraram por conta do trabalho e a inserção destes em São Paulo, na reflexão de sociabilidade dos expatriados em um mundo cada vez mais globalizado e moderno. Para fazer a apreciação destes, tomou-se como centro de análise os 12 executivos de origem sul-coreana, 4 esposas dos executivos e 6 expatriados de origem holandesa, francesa, indiana, japonesa, filipina e chinesa. Além das entrevistas, foi feito um levantamento de natureza bibliográfica, documental, de notícias e dados numéricos do referencial teórico sobre os temas envolvidos, mediante às reflexões sobre a alteridade e identidade dos autores de áreas e origens variadas, dos quais o foco foi dirigido às de Arjun Appadurai, Saskia Sassen, Georg Simmel, Clifford Geertz, Luc Boltanski, Stuart Hall e Oswaldo Truzzi, a partir do qual se produziram informações quantitativas e qualitativas.

PALAVRAS-CHAVE: migrações; globalização; sociabilidade; expatriados coreanos; multinacionais coreanas;

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This dissertation has the objective of studying and identifying some perspectives of the concrete reality of young expatriates in São Paulo, with the purpose of analyzing the socialization of expats in the city of São Paulo. In order to do so, the group of South Korean executives was sought in the age group between 20 and 40 years old, shedding light on common characteristics in the trajectory of expatriates who immigrated on account of work, and the insertion of these in São Paulo in the reflection of sociability of the expatriates in an increasingly globalized and modern world. To make the appreciation of these, the 12 South Korean executives, 4 executive wives and 6 expatriates of Dutch, French, Indian, Japanese, Filipino and Chinese origin were taken as the center of analysis. In addition to the interviews, a bibliographical, documentary, news, and numerical data survey of the theoretical framework on the themes involved was made through the reflections on the alterity and identity of the authors of varied areas and origins, of which the focus was directed to those of Arjun Appadurai, Saskia Sassen, Georg Simmel, Clifford Geertz, Luc Boltanski, Stuart Hall and Oswaldo Truzzi, from which quantitative and qualitative information was produced.

KEY WORDS: migration; globalization; sociability; Korean expatriates, Korean multinacionals

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APRESENTAÇÃO...12

INTRODUÇÃO...15

1. Trajetória da pesquisa e os executivos sul coreanos em São Paulo...15

2. Procedimentos Metodológicos...18

CAPÍTULO 1. REFERENCIAL TEÓRICO...21

1.1. Contexto Internacional e imigração...21

1.1.1. Imigração no contexto da globalização e sistema neoliberal no mundo moderno...21

1.1.1.1. Imigração e suas novas realidades...21

1.1.1.2. O trabalhador migrante internacional...24

1.1.1.3. Imigração como questão social...32

1.1.2. Nova ordem global: o imaginário social como fato social no mundo globalizado...34

1.1.2.1. O imaginário social e as redes de relações sociais...35

1.1.2.2. A ordenação do Estado-Nação desafiada pelo fenômeno de transnacionalização...38

1.2. Cultura...41

1.2.1. Os culturalistas Franz Boas e Clifford Geertz: diálogo entre relativismo cultural e cultura interpretativa...42

1.2.2. A cultura dentro da língua...47

1.2.2.1. Valores e realidades simbólicas de uma cultura no estruturalismo linguístico...47

1.2.2.2. Experência cultural na segunda língua...52

1.3. Imigração e processos migratórios na cidade: sociabilidade, inserção e identidade...55

1.3.1. Sociabilidade urbana: reflexão de Georg Simmel...55

1.3.2. Inserção na cidade: assimilação cultural e o diálogo entre os assimilacionistas versus pluracionistas: Escola de Chicago e releitura do Oswaldo Truzzi sobre assimilação...58

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Tadeu da Silva...61

CAPÍTULO 2. CONTEXTO HISTÓRICO E O DESENVOLVIMENTO ECONOMICO DA COREIA DO SUL...65

2.1. Contexto de guerras...66

2.1.1. Coreia sob a ocupação Japonesa (1910-1945)...66

2.1.2. Coreia sob a ocupação dos Estados Unidos (1945-1948)...68

2.1.3. Guerra da Coreia (1950-1953)...69

2.2. O que é ser coreano...71

2.2.1. A Bandeira da República da Coreia...72

2.2.2. A Cultura e Identidade Coreana...73

2.2.3. Projeto de Emigração...77

2.3. Desenvolvimento econômico da Coreia...81

2.3.1. Desenvolvimento econômico no governo Park 1961-1979...81

2.3.2. Estado e a sua parceria com Chaebol...83

CAPÍTULO 3. REFLEXÕES SOBRE A INSERÇÃO DO EXPATRIADO COREANO...89

3.1 A trajetória do expatriado de negócios...89

3.1.1 Identificação de certas características comuns na trajetória de um expatriado...89

3.1.2 O expatriado no Brasil...94

3.2 Os executivos coreanos em São Paulo e a sua sociabilidade...97

3.2.1 Perfil do executivo coreano e os motivos que levaram a migrar para o Brasil... .98

3.2.2 O expatriado e a sua família...104

3.3.3 Trajeto dos executivos não coreanos...106

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...116 ANEXOS... ..125

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APRESENTAÇÃO

Sou cidadã brasileira nata de descendência sul coreana, crescida no Brasil, mas Coreia e EUA também foram os lugares que passei a maior parte de minha infância, indo e voltando de um país para o outro. Apesar de estar morando em São Paulo desde 4º ano de ensino fundamental, estudei em uma escola americana integral onde passava maior parte do meu dia, portanto a língua e os laços de relacionamento nos quais sinto mais confortável são coreano, norte-americano e depois português. Por conta disso, muito pouco conhecia da cultura brasileira.

Além de ter frequentado as comunidades norte-americana e coreana, devido a profissão de pastor de meu pai, a família toda dedicava a sua vida às atividades da igreja nos finais de semana. Doutor em teologia calvinista, meu pai migrou com a minha mãe e meus dois irmãos ao Brasil como missionário. Por conta do trabalho dos meus pais, desde pequena tive contato com as comunidades/favelas (Iguatemi) e seus habitantes e até os índios (Barragem) - os outsiders da cidade paulistana. Cresci vendo a situação precária destes e percebia que muitas vezes o auxílio que chegava até eles era de pessoas como meus pais, ligadas à uma entidade religiosa ou ONGs. Desde pequena, pude vivenciar os paradoxos na sociedade paulistana: high society da escola americana durante a semana e comunidades mais simples e tribos indígenas nos finais de semana, onde tive contatos com adultos e crianças em situações de risco.

Acredito que fato de ter tido contato desde cedo com a diferenciação entre pessoas no contexto de uma mesma sociedade, colocando alguns indivíduos em condições estruturalmente mais vantajosas do que outros, em que boa parte da população não dispõe de renda suficiente para gozar de mínimas condições de vida, tenha sido um dos motivos pelo qual sempre me interessei pelas questões humanitárias e a razão de escolher o curso de ciências sociais. Pensei que estudando as estruturas e as relações que caracterizam as organizações sociais, culturais, econômicas e políticas, possibilitaria a analisar a construção das

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identidades e a formação das opiniões e mais adiante os movimentos e conflitos sociais.

Essa necessidade de conhecer e entender o sujeito e sua subjetividade recorre a morte que vivenciei desde meus nove e 17 anos, com profunda dor, o desespero e assento aos 17 anos. A morte instalou-se imediatamente em meu ser, os meus demônios e ela se intensificaram com a minha entrada no curso de ciências sociais. Sentia a necessidade de me desfazer dos rótulos que foram colocados em mim, e o curso me mostrou a possibilidade de outras leituras sobre as coletividades humanas e as interpretações além da perspectiva doutrinária da fé evangélica presbiteriana. Senti progressivamente a necessidade de questionar e compreender como e por que acredito naquilo que acredito, e por que penso o que penso e, no fim das contas, reexaminar todo o fundamento.

Todavia, o curso e a vida que a morte me ensinou trouxeram um novo olhar, uma nova viabilidade de compreender o mundo que no primeiro momento se aproximou de forma repulsa, mas que hoje está em constante construção de um modelo de pensamento que conforma a visão de mundo de uma organização própria.

A experiência de ter viajado desde muito cedo para os países e suas cidades de destaque em todo o mundo fez despertar o meu interesse em conhecer e aprender novas línguas e de ter um gozo em conhecer e entrar em contato com culturas distintas, seus costumes únicos e estilos de vida, cujos quais tenho encarnados para a minha própria. Pois como Edgar Morin diz: a cultura não é acumulativa, mas auto-organizadora. Creio que eu tenho selecionado e feito um diálogo das culturas resultando em um equilíbrio entre qualidades brasileiras, como flexibilidade e criatividade, aliadas a disciplina e trabalho intenso, caraterístico dos coreanos. Porém nem sempre a conversa entre as duas culturas era feita de forma passiva, pois no primeiro momento dirigiam-se a mim como uma oriental, uma estrangeira, mesmo sendo brasileira nata.

Uma definição como essa, sobre minha identidade nacional, não é incomum quando se sabe a realidade brasileira, marcada pela ampla diversidade racial, étnica, religiosa e cultural, onde a identidade nacional engloba diversas

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identidades étnicas. Dentro de toda essa diversidade que a cidade de São Paulo tem, a presença dos imigrantes coreanos é notável o suficiente para me aproximar da temática imigração com o foco nos coreanos que trabalham com a confecção e construção de uma identidade própria destes em São Paulo para o trabalho final de graduação.

A minha participação desde agosto de 2015 no projeto de iniciação científica que faz uma análise dos processos de segregação, vulnerabilidade e interculturalidade de imigrantes asiáticos em São Paulo coordenado pela Profa. Dra. Maura Pardini Bicudo Véras, tanto consolidou o embasamento teórico quanto estimulou a dar continuidade no estudo sobre os imigrantes coreanos. Através deste vínculo, pude elaborar o tema do mestrado: os executivos sul coreanos, situando-os num contexto maior em termos de teoria, bem como de diferentes situações de conflito no processo de inserção dos imigrantes coreanos em São Paulo.

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INTRODUÇÃO

1. Trajetória da pesquisa e os executivos sul coreanos em São Paulo.

Desde a graduação estudo a relação entre a cidade de São Paulo e a imigração, tendo os sul-coreanos como objeto de pesquisa. Naquele momento, uma pesquisa de iniciação científica identificou e analisou os novos fluxos de imigração dos sul-coreanos em São Paulo (a partir dos anos 1980), suas motivações e suas localizações na cidade, com destaque para inserção no mercado de trabalho e questões de moradia. A monografia, trabalho final do curso de Ciências Sociais, analisou como o trabalho nas confecções1 proporcionou uma sociabilização do imigrante sul-coreano, contribuindo para a constituição de uma condição identitária própria. Ambas as pesquisas consideraram as relações de alteridade e identidade como os conceitos e linhas de pensamento fundamentais para o estudo dos coreanos.

Nesse âmbito, na presente pesquisa, decidiu-se estudar outro grupo imigrante: os executivos sul-coreanos, o imigrante transnacional – também conhecidos como expatriados. “O termo expatriado denomina aquele que sai do seu país, ou seja, aquele que vive fora de sua pátria por vontade própria ou por imposição. No entanto, esta palavra também é utilizada no mundo corporativo, que, com o crescimento econômico, procurou ampliar suas unidades de negócios e, para isso, desloca seus funcionários para viver e trabalhar em outros países” (RAMOS: 2017). Dicionário Houaiss online2:

EXPATRIADO

s.m. Indivíduo que foi alvo de expatriação; quem se expatriou; pessoa que foi obrigada ou não a viver fora de seu país. adj. Que foi alvo de expatriação; que se conseguiu expatriar. (Etm. Part. de expatriar)

EXPATRIAÇÃO

1 Na pesquisa anterior, BAE, E. Imigração coreana para São Paulo e setor de confecção: constituição de uma condição identitária própria. Monografia (Graduação em Ciências Sociais). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUCSP, 2016, verificou-se que há uma queda de 20% na concentração dos coreanos no ramo de têxtil entre anos 1970 e 2010, de 90% para 70%.

2 HOUAISS, A. Dicionário Online de Português. Disponível em: <www.dicio.com.br/houaiss/>. Acesso em: 13 maio de 2019.

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s.f. Ação ou efeito de expatriar ou expatriar-se; que ou quem está em exílio.

Para tanto, considera-se que suas entradas se dão em um mundo cada vez mais globalizado e moderno. Além da idade na faixa etária entre 20 e 40 anos, também se centrou o objeto de estudo em um grupo de expatriados sul-coreanos em São Paulo que imigraram por conta de trabalho. Com a pesquisa, percebeu-se que a maior parte dos expatriados se compunha de executivos empregados das multinacionais. De tal maneira, um dos objetivos principais do trabalho é traçar o perfil do expatriado/executivo coreano nas empresas multinacionais coreanas em São Paulo. Pretende-se diagnosticar as causas da migração a fim de caracterizar este movimento imigratório, como ele é formado, por quais profissionais, de onde vieram, em que empresa multinacional trabalham no Brasil, cargos que ocupam e níveis educacionais.

As empresas multinacionais começaram a se alojar no Brasil durante os anos dourados, de 1956 a 1961, no governo de Juscelino Kubitschek, que abriu a economia nacional para o capital estrangeiro para que se pudesse investir no setor industrial. A entrada dessas empresas estrangeiras no Brasil gerou empregos. Entretanto, acarretou na dependência da economia nacional ao capital estrangeiro, pois as multinacionais passaram a ter o controle da esfera industrial, além de aumentar a dívida com outros países, conhecida como dívida externa. Atualmente, o Brasil possui fortes empresas que têm grande influência no PIB do país e exportam cada vez mais seus produtos, mas ainda é visível a dependência do capital estrangeiro em algumas esferas tecnológicas. O processo pelo qual ocorreu esta expansão explosiva de empresas, que superam a fronteira de seus países de origem, é a própria essência do que é uma multinacional: competição e eliminação de concorrência.

De tal forma, no mundo moderno e globalizado, segundo Milton Santos, dá-se um fenômeno de internacionalização informática, ou cyber informática, que possibilita a entrada de empresas transnacionais e expansão de economia global. Pode-se complementar este argumento com aquilo que diz Norberto Bobbio sobre como a globalização pode ser entendida: ela é a “intensificação de relações sociais mundiais que unem localidades distantes de tal modo que os

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acontecimentos locais são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice-versa” (BOBBIO, 1982, p. 26).

Dentro de condições cada vez mais dinâmicas dos fluxos de capital, mercadorias, serviços e informações têm-se, também, deslocamentos de pessoas. Estas encaram uma cultura diferente do seu “spiritual country”3– a cultura do país de origem. De tal modo, no mundo cada vez mais cosmopolita, segundo Randolph Bourne – intelectual americano do século XX que popularizou o termo transnacional –, os EUA, por exemplo, sendo um país de grande mistura de culturas e pessoas, seria capaz de se transformar em uma nação transnacional caso incluísse aptidões e costumes dos imigrantes e, desta forma, se tornaria o país que aceitaria as singularidades de qualquer cultura. Assim como Bourne, outros sociólogos perceberam, desde então, a necessidade de um novo olhar à sociedade e ao fenômeno de imigração, não se restringindo mais às três categorias convencionais: o permanente, o temporário e o retornado.

Sendo assim, devido ao novo fenômeno que envolve a reorganização global do processo de produção, no qual várias etapas da produção podem ocorrer em vários países, com o objetivo de minimizar os custos e ampliar o mercado, não é impróprio o uso do termo transnacional para o imigrante – o imigrante transnacional –, quando se fala dos executivos sul-coreanos das multinacionais coreanas que vêm para o Brasil. As corporações multinacionais podem ser vistas como uma forma de transnacionalismo na medida em que buscam minimizar os custos e, portanto, maximizar os lucros, organizando suas operações com os meios mais eficientes possíveis, independentemente das fronteiras políticas.

Entende-se que, com a maior flexibilidade em ter locais estratégicos para as grandes indústrias, decorrente dos processos de globalização da economia, estabelecem-se algumas cidades geograficamente estratégicas para a operação do comércio e da finança, chamadas de cidades globais que se tornaram um espaço de produção e implementação de diversidade e intermediações de capacidades complexas (SASSEN, 2016, p. 97). A globalização, além do local

3 Termo utilizado por Randolph Bourne. Segundo ele, na maioria das vezes os imigrantes se apegam firmemente à literatura e cultura de seu país natal, mesmo que vivam em outro país – uma realidade para muitos imigrantes nos Estados Unidos. Cf. LASCH, Hansen. The Radical Will: selected writing of Randolph Bourne. New York: Urizen Books, 1977.

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geograficamente estratégico e o desenvolvimento constante de um país, atrai, simultaneamente, mais empresas multinacionais devido à tecnologia, disponibilidade de transporte e qualidade de telecomunicações; fatores de grande importância para a o desempenho das empresas em âmbito global. Logo, adotando o conceito trabalhado por Saskia Sassen, faz-se possível a reflexão sobre a presença e a manutenção das empresas multinacionais em São Paulo e, em conjunto, os fluxos migratórios urbanos dos expatriados para a cidade.

O imigrante sul-coreano é encarado então como transmigrante, vivenciando múltiplos contatos não só com o país de origem, como também com o ambiente receptor, mas sem alterar necessariamente seus sistemas de vida, hábitos e valores adquiridos em sua terra natal. Em vista disso, a pesquisa tem como o objetivo identificar quem são eles, sua moradia e sociabilidade a partir de seu trabalho como empregados de multinacionais.

2. Procedimentos Metodológicos

Com o objetivo de estudar o executivo coreano e sua sociabilidade em São Paulo, realizou-se uma pesquisa utilizado métodos quantitativos e qualitativos.

A estratégia utilizada foi a realização de entrevistas e levantamentos de dados secundários. O roteiro de entrevista de perguntas, formuladas segundo os conceitos trabalhos no projeto: alteridade e identidade que constam no anexo 1. Cada entrevista durou entre uma e duas horas, sendo que com alguns entrevistados havia membros familiares, cônjuges e filhos presentes e participantes da entrevista. O local das entrevistas foi escolhido segundo os lugares frequentados pelos entrevistados nos bairros Jardins, Itaim Bibi, Paulista e Morumbi. Todos os entrevistados foram informados, previamente, sobre o objetivo da pesquisa, e somente as entrevistas com consentimento do entrevistado foram gravadas. Informações faltantes foram complementadas via e-mail e perguntas abertas em encontros breves. Para esta pesquisa entrevistaram-se 12 executivos de origem sul-coreana, 4 esposas dos executivos e 6 expatriados de origem holandesa, francesa, indiana, japonesa,

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filipina e chinesa. O motivo de entrevistar os não coreanos foi para indiciar e explicitar outros expatriados a fim de ampliar e ajudar a problematizar a questão dos expatriados e destacar as singularidades do expatriado sul-coreano. As perguntas foram feitas em idiomas diferentes: português, inglês e coreano; os entrevistados escolheram livremente o idioma para responder às perguntas. Ao dirigir as perguntas evitou-se o uso do termo “identidade” ou “alteridade”, visando minimizar o eventual caso de o termo explicitamente projetado impedir os entrevistados de expressarem sem se prenderem ao significado. Também, foram criados nomes fantasias para privar os entrevistados.

Bronislaw Malinowski formulou o método da observação participante, que possibilitou a iniciativa de passar o dia nos locais de trabalho dos executivos coreanos, além de uma entrevista formal com um roteiro, conversar e perguntar questões relacionadas ao seu cargo e o funcionamento do setor em que o entrevistado trabalha. Malinowski, imerso na cultura do povo trobriandês, aprendeu a língua e trabalhou diretamente com as pessoas com o foco de compreender os costumes culturais em seu próprio contexto. Da mesma forma, buscaram-se os autores coreanos e estudadas as tradições coreanas a fim de entender a cultura dos sul-coreanos. Ao aproximar-nos dos coreanos com a língua coreana, realizando entrevista na língua nativa do entrevistado, percebeu-se que entrevistar na língua-mãe foi primordial para que ficaspercebeu-sem à vontade e se expressassem sem se prenderem na preocupação de falar português, a língua do país receptor, ou a universal, o inglês.

A observação participante, na qual os antropólogos vivem dentro de um grupo enquanto executam entrevistas e criam relatos detalhados das vidas dos membros no grupo e de sua sociedade como um todo. Margaret Mead, que fez seu trabalho de campo em Samoa e Bali, descreveu diferenças culturais entre adolescentes na cultura ocidental e nas outras culturas. Percebeu que os problemas em adolescentes eram um resultado da cultura e não devido ao determinismo biológico. Outra análise foi que a divisão sexual do trabalho também era um produto da cultura. Essas observações foram possíveis através do percurso reflexivo, no que o pesquisador deve estar ciente, pois através desse método reflexivo se possibilitou notar a divisão sexual da função na família coreana – homem responsável pela parte econômica e pela ordem; mulher

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responsável pelos cuidados e educação dos filhos. Outra observação interessante foi que todos os entrevistados eram no sexo masculino.

Para elaborar um panorama histórico da imigração coreana em São Paulo buscaram-se pesquisas anteriores, a de iniciação científica e monografia de graduação. Além da pesquisa de campo, o trabalho também utilizou reportagens, documentários e dados retirados de pesquisas de origem brasileira, coreano e americano com temas envolvidos, buscando clarear a problemática multidimensional do projeto, tendo as questões de globalização e culturalismo como caminhos indispensáveis à compreensão do objeto do estudo.

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CAPÍTULO 1. REFERENCIAL TEÓRICO

O primeiro capítulo expõe as principais teorias e abordagens que procuram caracterizar e explicar os movimentos migratórios no contexto de um mundo globalizado. A primeira abordagem concebe a imigração no contexto da globalização e sistema neoliberal no mundo moderno. A segunda abordagem conceitua a cultura a partir diálogo entre relativismo cultural e cultura interpretativa e a cultura dentro da língua. A terceira abordagem expõe a migração e procossos migratórios na cidade: sociabilidade, inserção e identidade.

1.1 Contexto Internacional

1.1.1 Imigração no contexto da globalização e sistema neoliberal no mundo moderno

A intenção, aqui, é conceituar a imigração e trazer as percepções das suas novas realidades no contexto global sob o sistema neoliberal. No primeiro momento conceituar a imigração e seus processos a partir de avaliação da globalização de Boaventura de Souza Santos e, em seguida, estabelecer um diálogo com Saskia Sassen e sua reflexão sobre as transformações das cidades no mesmo contexto global e sistema neoliberal. Após isso, tratar-se-á de refletir acerca da imigração como questão social e os efeitos do sistema neoliberal, complementando com a realidade política econômica neoliberal brasileira.

1.1.1.1 Imigração e suas novas realidades

O estudo de emigração deve ser feito através de abordagem multidisciplinar, tendo a imigração como um deslocamento de pessoas no espaço físico (geográfico) que é qualificado em muitos sentidos: social, econômica, política e culturalmente. Por isso, para estudá-la é preciso levar a cabo a interdisciplinaridade, percorrendo diversos domínios do conhecimento. A questão sobre o “nascimento” da imigração leva a estudar as causas, as razões,

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as estruturas internas (estruturas econômicas, demográfica, sociais, mercado de trabalho e etc.). Para tanto, é fundamental considerar a ordem cronológica – a emigração antes da imigração – para compreensão total do fluxo migratório. Assim estabelece-se uma relação de dialética entre emigração e imigração. Visto que a migração humana sempre existiu, a questão é: o que há de mudança sobre esse fenômeno no contexto global e de política econômico neoliberal?

A migração humana é uma questão social que sempre existiu na história – devido a catástrofes naturais, guerras e outros motivos – em busca de uma vida melhor. E dentre os diferentes motivos de deslocamento, existe uma distinção entre fluxos voluntários e espontâneos que merece destaque pois é também fruto da modernidade, mais especificamente do século XX4, como traz a socióloga Adriana Capuano (2017). Quando se trata de migrantes, as definições são muito mais complicadas. Segundo Organização Internacional para as Migrações (OIM), existem 10 categorias de tipos de imigrantes: urbanização e migração, migração ambiental, migração familiar, migração forçada ou deslocamento, estudantes internacionais, migração irregular, migração laboral, crianças e jovens migrantes, migrantes idosos e migrantes retornados.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), portanto, define um migrante como qualquer pessoa que está se movendo ou atravessou uma fronteira internacional ou dentro de um estado independentemente do status legal, se o movimento é voluntário ou involuntário, quais são as causas do movimento, e qual a duração da estadia. Em 2017, conflitos e desastres deslocaram 30,6 milhões de pessoas em seus próprios países no ano passado, de acordo com um novo relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC) e do Conselho Norueguês de Refugiados (NRC). As principais conclusões do Relatório Global sobre Deslocamento Interno (GRID 2018) mostram que o novo deslocamento devido a conflitos e violência atingiu 11,8 milhões em 2017, quase o dobro de 6,9 milhões em 2016. A África Subsaariana

4 “A categoria do refúgio, tal como a entendemos hoje, é também fruto da modernidade, mas especificamente do século XX. A condição de pessoas que se veem obrigadas a se deslocarem vítimas de guerras e perseguições. São bíblicas as passagens que relatam a fuga de pessoas para outras regiões, a fim de salvarem suas vidas. Mas a instituição jurídica do refúgio que conhecemos é fruto dos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial e dos massivos deslocamentos que ela foi capaz de produzir. (OLIVEIRA,2017, p. 98)”

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foi responsável por 5,5 milhões desses deslocamentos, seguido pelo Oriente Médio e Norte da África, com 4,5 milhões. O relatório também mostra que, em 2017, desastres deslocaram 18,8 milhões de pessoas em 135 países. Destes, 8,6 milhões de deslocamentos foram provocados por inundações e 7,5 milhões por tempestades, especialmente ciclones tropicais. Os países mais afetados foram a China, com 4,5 milhões, as Filipinas, com 2,5 milhões, Cuba e os EUA, cada um com 1,7 milhão, e a Índia, com 1,3 milhão de deslocamentos.

Mapa 1 - Novo deslocamento por conflitos e desastres em 2017

1.1.1.2 O trabalhador migrante internacional

Com base nos números de 2017 fornecidos pelas Nações Unidas pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (UN DESA5), o número de migrantes internacionais em 2017 é de 257,7 milhões. Dentre a migração internacional, como vimos acima, existe o grupo de migração laboral e existem 164 milhões de migrantes trabalhadores em todo o mundo. Para os fins deste relatório, o termo "trabalhador migrante", refere-se a indivíduos migrantes

5 De acordo com a segunda edição do relatório “Estimativas Globais sobre Trabalhadores Migrantes Internacionais” https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—dgreports/—dcomm/— publ/documents/publication/wcms_652029.pdf

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internacionais de idade de trabalho (acima de 15 anos) que são empregados ou desempregados em seu atual país de residência. No geral, o trabalhador migrante constitui 4,7 por cento de todos os trabalhadores. Em comparação com estimativas globais anteriores da OIT (2015) sobre trabalhadores migrantes, informou que havia 232 milhões de migrantes internacionais e 150 milhões trabalhadores migrantes, sugerindo aumentos de 2013 para 2017 de aproximadamente 11% para migrantes internacionais e 9% para trabalhadores migrantes. O número substancialmente maior de migrantes internacionais em 2017 poderia ser atribuído ao crescimento da população migrante.

Desse total, 96 milhões são homens, um aumento de 2%, enquanto 68 milhões são mulheres, uma queda de 2% na comparação 2013. A maior proporção de homens entre trabalhadores migrantes também pode ser explicado por outros fatores, incluindo o maior probabilidade de mulheres migrarem por outros motivos exceto do emprego (por exemplo, para o reagrupamento familiar - no caso dos executivos que migram com a família), bem como pela possível discriminação contra as mulheres que reduz suas oportunidades de emprego nos países de destino. Estigmatização da sociedade, a discriminação, a violência e o assédio não só prejudicam o acesso das mulheres a trabalhos decentes, mas também podem resultar em baixos salários, a ausência de igualdade de remuneração e a subvalorização do trabalho realizado pelas mulheres (OIT, 20186).

Ao desagregar os trabalhadores migrantes por grupo etário, verifica-se que enquanto os trabalhadores jovens (com idades entre os 15 e os 24 anos) e os trabalhadores mais velhos (24 a 65 anos ) representam 8,3 % e 86,5 %, respectivamente. Essa composição etária é válida tanto para trabalhadores migrantes do sexo masculino quanto do feminino. O fato de a esmagadora maioria dos trabalhadores migrantes consistir de adultos em idade avançada sugere que alguns países de origem estão perdendo a parte mais produtiva de sua força de trabalho, o que poderia ter um impacto negativo em seu crescimento econômico. Por outro lado, os países de destino se beneficiam de receber trabalhadores em idade ativa, uma vez que enfrentam cada vez mais pressões demográficas. É importante notar, no entanto, que a emigração de indivíduos em

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idade ativa pode fornecer uma fonte de remessas para os países de origem (OIT, 2016a).

Gráfico I - Distribuição global de migrante trabalhador, por grupo de idade e sexo, 2017.

Fonte: OIT, 2018a 1

De 2013 a 2017, a concentração de imigrantes trabalhadores em países de alta renda caiu de 74,7 para 67,9%, enquanto sua participação nos países de renda média alta aumentou. Este número crescente poderia possivelmente ser atribuído ao desenvolvimento econômico de alguns países de renda mais baixa, particularmente se esses países estiverem próximos a países de origem do migrante e de destino dos migrantes. Também, políticas de imigração mais rígidas em países de alta renda e um crescimento econômico mais forte entre os países de renda média alta também podem contribuir para as tendências observadas. Mesmo assim, a maior concentração de imigrantes trabalhadores está nas regiões de América do Norte e Norte e Sul de Europa Ocidental. Brasil, classificado como país de renda média alta, e parte do grupo América Latina e Caribe, recebe 2,7% do total número de imigrantes trabalhadores (OCDE / OIT, 2018).

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Além dos números e porcentagens de imigrantes trabalhadores, é preciso compreender as vinculações e impactos mútuos, entre o crescimento econômico global e os fluxos migratório. O crescimento econômico global aumentou 3,6% em 2017, em comparação com 2016 (FMI,2017a). O modesto aumento no crescimento global foi amplo, impulsionado por expansões no desenvolvimento, países emergentes e desenvolvidos.

À medida que a economia global se recupera num contexto de crescimento da força de trabalho, projeções indicam que em 2018 o desemprego global deverá permanecer em um nível semelhante ao do ano passado, segundo um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT 2018). No Brasil, a incidência de empregos informais também é significativa entre empresas formais.

Gráfico II: Parcela de empregos informais por setor de atividade

Fonte: OIT, 2018a 2

"Embora o desemprego global tenha se estabilizado, os déficits de trabalho decente continuam generalizados e a economia global ainda não está criando empregos suficientes. Esforços adicionais devem ser implementados para melhorar a qualidade dos empregos para os trabalhadores e assegurar que

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os ganhos de crescimento sejam compartilhados de forma equitativa", afirmou o Diretor-Geral da OIT, Guy Ryder. No meio deste contexto:

“a reconfiguração do contexto político-econômico global, associada à carência de mão de obra observada em diversos segmentos da indústria nacional, explica o novo fluxo de estrangeiros interessados em trabalhar no país (Brasil)” (MOMO;2014; p.14).

Segundo a revista Veja7, o número de profissionais estrangeiros com autorização temporária para permanecer no país cresceu 137%, passando de 2.460 profissionais em 2009 para 5.832 em 2012. Segundo o Ministério do Trabalho, esses profissionais são altamente qualificados e vêm ao Brasil exercer profissões nas áreas de gerência e supervisão de empresas, sendo as áreas principais a engenharia, tecnologia, análise de sistemas, petróleo e gás, construção civil e infraestrutura. Um incentivo a mais do ministério foi diminuição da burocracia. Houve o início de todo o procedimento para obtenção de visto ser feito pela internet, com certificação digital. O objetivo foi eliminar totalmente os documentos enviados em papel e reduzir o prazo de tramitação, que hoje dura em média 22 dias.

De acordo com o dado mais recente da Coordenação Geral de Imigração (CGIg), o Ministério do Trabalho concedeu 28.658 autorizações de trabalho para estrangeiros no Brasil, em 2016. A maioria foi para pessoas do sexo masculino, que receberam 25.393 concessões, contra apenas 3.265 para pessoas do sexo feminino. Quase todas têm entre 20 e 49 anos de idade. Em 2016, a nacionalidade que recebeu o maior número de autorizações de trabalho foi a norte-americana, com 3.952 concessões. Os demais países que tiveram os pedidos atendidos foram, nesta ordem, Filipinas (2.841), Reino Unido (1.844), Índia (1.675), Itália (1.664), Espanha (1.389), Alemanha (1.228) e França (1.204). Das 28.658 concessões dadas em 2016, cerca de metade (15.993) foi para trabalhadores com curso superior completo (CGIg 2017)8.

7 Disponível em https://veja.abril.com.br/economia/brasil-concedeu-73-mil-vistos-a-profissionais-estrangeiros-em-2012/

8 Disponível em http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2017/02/cerca-de-28-mil-estrangeiros-recebem-autorizacao-para-trabalhar-no-brasil

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A autorização de trabalho é pré-requisito para os estrangeiros solicitarem o visto de trabalho no Brasil. E, ao contrário do que ocorre nos casos de vistos humanitários, em que os imigrantes são, em sua maioria, de países pobres e têm baixa escolaridade, as autorizações de trabalho são normalmente solicitadas por pessoas de países desenvolvidos e com formação acadêmica.

Contudo, no mundo cada vez mais global e no quadro de um novo regime econômico – serviço especializado e finança (SASSEN, 2010) – tem-se intensificado a imigração em massa por diversos motivos, entre eles conflitos étnicos e entre grupos sociais, como mostra os números acima. Além dos refugiados, outro tipo significante de imigrante são os expatriados. Tendo o objetivo de traçar o perfil do expatriado/executivo coreano nas empresas multinacionais coreanas em São Paulo, é importante ressaltar que a palavra “expatriado”:

“ao ser incorporada no mundo dos negócios, sofre um deslizamento de sentido, passando de um sentido negativo, que compreende aquele que é expulso do seu país, para um sentido positivo, aquele que vai para outro país a trabalho, com toda assessoria de uma empresa” (RAMOS; 2017).

Pode-se pensar a presença dos expatriados como uma consequência desse processo global. Segundo Boltanski e Chiapello, no mundo pós-guerra, houve ascensão de “classes médias “e “executivos” (2009, p. 25). Raramente a burguesia tinha salário como o único recurso, pois eles eram beneficiados por substâncias como rendimentos patrimoniais, e o dinheiro que recebiam por pertencer a uma organização não era considerado “salário”. Lembram-nos os autores que o assalariado era o termo usado para os operários. Com a desvalorização da moeda nos anos 20, seguida pela crise dos anos 30, houve também redução dos patrimônios como bens imobiliários.

Assim surgem novas frações da burguesia como engenheiros, médicos e os executivos que acarretou um novo estilo de vida para as profissões de nível superior, apoiadas em novos dispositivos de garantia, não mais patrimoniais, porém sociais:

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“regime de aposentadoria dos executivos, importância crescente dos diplomas na determinação dos salários e das carreiras, promoção regular nas carreiras ao longo da vida(...), sistema de seguro social reforçados por fundos mútuos, estabilidade dos proventos salariais pela institucionalização dos processos de revisão dos salários em função da evolução passada dos preços ao consumidor, quase garantia do emprego em grandes organizações que asseguravam a seus executivos “planos de carreira” e ofereciam serviços sociais (refeitórios, cooperativas, colônias de férias, clubes esportivos)” (BOLTANSKI E CHIAPELLO, 2009, p.26).

Com o sistema de produção global e de transferências financeiras, apontadas como interações transnacionais por Boaventura de Souza Santos (2005a), ocorre, igualmente, a disseminação global de grandes corporações – as multinacionais. A facilidade e rapidez de mobilidade do capital intensificaram as relações sociais em âmbito mundial, onde:

“[...] a intensificação de relações sociais mundiais une localidades distantes de tal modo que os acontecimentos são condicionados por eventos que acontecem a muitas milhas de distância e vice-versa.” (GIDDENS, 1990, p. 64).

Do mesmo modo, favoreceram-se o controle e gerenciamento das prestações de serviços dessa nova organização graças à revolução nas tecnologias de informação e de comunicação possibilitando preeminência das agências financeiras multilaterais (SANTOS, 2005a, p. 29).

No caso dos coreanos, o livro de Park e Han (2014) faz um ensaio sobre a vida dos expatriados e mostra que entre os anos 1990 a 2000 houve aumento no número de expatriados com o objetivo de atender o setor de “management of quality of products” – gerenciamento da qualidade dos produtos. Este dado revela quanto as multinacionais, localizadas em cidades globais, atendem a demandas de finanças e serviços. Complementando, de acordo a revista Profissional e Negócios9 de outubro de 2013, uma pesquisa global da consultoria

Mercer revelou que 70% das companhias esperam investir em expatriações de curto prazo e 55% em longo prazo. É de competência da empresa cuidar dos

9PROFISSIONAL E NEGÓCIOS. Tempos de Expatriação. 23 out. 2013. Disponível em:

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detalhes da expatriação do funcionário, bem como de sua adaptação e de sua família.

Para evidenciar o que há de novo na migração é significativo a leitura da Saskia Sassen sobre as cidades na economia mundial. Conforme diz, nos anos 1970 surgem duas correntes: a) Direção aos serviços. Ascendência das finanças e dos serviços especializados em todas as economias adiantadas (SASSEN, 1998, p. 71); e, b) Transnacionalização. A atividade econômica elevou a intensidade e volume das transações entre cidades, contribuindo para formação de sistemas urbanos globais (SASSEN, 1998, 72).

A primeira corrente reflete as mudanças na composição setorial do emprego, o relatório de OIT (2008) observa que os empregos no setor de serviços serão o principal motor do crescimento de emprego no futuro, enquanto os empregos nos setores agrícola e industrial continuarão a diminuir. Uma vez que o emprego vulnerável e informal é predominante na agricultura e nos serviços de mercado, as mudanças nos empregos projetadas em todos os setores podem ter um potencial limitado para reduzir os déficits de trabalho decente, se não forem acompanhadas de fortes esforços políticos para aumentar a qualidade dos empregos e a produtividade no setor de serviços.

A segunda corrente traz uma reflexão sobre a cidade, que pertence a um sistema, ou hierarquia urbana, nacional, a um sistema transnacional e internacional (ex.: Paris, Londres). O gerenciamento, as finanças e os processos de prestação de serviços no plano internacional ocasionaram o aumento da complexidade das transações internacionais e as funções das empresas matrizes das multinacionais (SASSEN, 1998, p. 75). A cidade é, então, considerada como local preferido de produção de serviços. Em São Paulo, a base para entrada de multinacionais foi a abertura do mercado de ações para os investidores estrangeiros. Privatização das empresas setoriais ou públicas e dispersão espacial das atividades econômicas geram, consequentemente, demanda por serviços especializados. Na cidade está concentrada as infraestrutura e apresentação de serviços que produzem as condições necessárias para exercer um controle global. Portanto, a cidade é local de produção (SASSEN, 1998, p. 100).

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Diz Janet Abu-Lughod, socióloga americana especialista em sociologia urbana, que é impossível estudar a cidade somente pela perspectiva sociológica (apud SASSEN, 1998, p. 11). Além disso, Saskia Sassen lança um olhar sobre a cidade relacionando-a ao processo econômico global. A autora analisa a globalização além de trocas de mercado; percebe as transformações das cidades em locais transnacionais para atender as exigências da economia global: formação do espaço que o sistema econômico ocupa através de zonas de processamento das exportações, centros bancários offshore e crescente mercado financeiro global. Estas transformações nas cidades causam um impacto na sociedade e a alteram, segundo Sassen (1998), modificam a estrutura social das próprias cidades, a organização do trabalho, a distribuição dos ganhos e a estrutura do consumo – padrões de desigualdade social urbana. Em concordância, Vera Telles, com seu olhar antropológico, revela, em seu texto “Nas Tramas da Cidade”, o capitalismo que engendra urbanização – “circuito de mercado e os grandes equipamentos de consumo compõem a paisagem urbana” (TELLES apud SASSEN, 1998).

Contudo, observa o aumento da informalidade na cidade e a nova lógica do trabalho na economia urbana composta cada vez mais por setores de serviços especializados e de finanças; e as entradas receptivas pelo Ministério de Trabalho brasileiro ao imigrante qualificado.

1.1.1.2. Imigração como questão social

Outro olhar sociológico é o de Sayad que diz que a imigração está condenada a toda uma série de outros objetos ou de outros problemas que ela desenvolveu e que foram constituídos como “problemas de imigração”, pois, segundo o autor, ela é o “objeto que cria problema” (SAYAD, 1998, p. 15). Nesse sentido, pode-se dizer que a imigração é um fato social, já que para compreendê-la é preciso facompreendê-lar da sociedade como um todo. Alguns aspectos mais específicos que o autor gostaria de completar em seu estudo, que é relevante para esta pesquisa, são as relações diferenciais de homens e mulheres com a condição de imigrante, a reestruturação das relações internas da família num contexto de

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imigração, relação entre marido e mulher, relações entre pais e filhos e, mais amplamente, entre os sexos e as faixas etárias10.

Quando se pensa acerca da questão social, deve indagar quem estabelece a coesão e em que condições ela se determinada, seja regional, local e global. A atual questão social refere-se à ampliação do trabalho na sociedade capitalista, começando pela degradação do trabalho, pela perda e por conta, também, do desaparecimento de muitas categorias e postos de trabalho. Isto ocorre quando o estado passa a se retirar do campo social com cortes, privatizações e etc. Na política econômica neoliberal, a tendência econômica vigente no mundo globalizado, o Estado restringe sua responsabilidade social.

Como diz Harvey, o estado neoliberal procura promover a causa, facilitar e estimular todos os interesses comerciais, e isso, segundo ele, hipoteticamente promoverá o crescimento e a inovação e, assim, se erradicaria a pobreza. Desta forma, os setores de transporte, telecomunicações, petróleo e outros recursos naturais, serviços públicos, habitação social, educação, sistema de saúde são transformados em esfera privada (HARVEY, 1989, p. 22). Segundo a leitura de Harvey, o sistema neoliberal é hostil a todas as formas de solidariedade social e impõe restrições à acumulação de capital. O consenso neoliberal e sua homogeneização ou uniformização na política econômica tem sido uma das interpretações de globalização: “Nem todas as dimensões da globalização estão inscritas do mesmo modo neste consenso, mas todas são afetadas pelo seu impacto” (BOBBIO, 1982, p. 27).

A economia mundial tem se movido à base do padrão de aumento da concentração de renda dos ricos e enfraquecendo a democracia. Isto é, próprio do capitalismo neoliberal. No caso do Brasil, houve um movimento, na década de 2000, de redistribuição de renda e inclusão dos pobres e da classe dos trabalhadores com aplicação do orçamento público. Porém, logo isso foi interrompido pela burguesia oligárquica com políticas neoliberais para reter privilégios econômicos e dar golpe de estado a fim de manter o monopólio do poder político. Um dos motivos que permitiu a restauração oligárquica deve-se à herança escravista, conforme diz Jessé de Souza, que serve para legitimar interesses econômicos de uma elite que manda no mercado:

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A família dos muito pobres repete há 500 anos a família dos escravos e eles ainda fazem o mesmo tipo de serviço que faziam antes, são escravos domésticos. Fazem parte de famílias desestruturadas, uma vez que a escravidão não se estimulava que o escravo tivesse família porque era preciso humilhá-lo, abatê-lo. Exatamente como acontece hoje. A escravidão só prospera com o ódio ao escravo e o Brasil de hoje é marcado por uma coisa central que só um cego não vê, o ódio ao pobre. A humilhação do pobre. (SOUZA, 2017a).

A manifestação da sociedade civil contra sistema o neoliberal sempre existiu. Todavia, como critica José Correia Leite (2003), ela não consegue ter uma articulação pelo motivo central da inexistência de uma pauta única e por ser tão heterogênea e plural. Na prática, para realizar muitas as ações não-governamentais, o orçamento participativo vem do próprio governo e, muitas vezes, são financiadas pela sociedade política. Segundo a perspectiva de Jessé de Souza, acontecem golpes de Estado toda vez que tentam diminuir essa distância entre as classes. Por sua vez, a classe média brasileira transforma esse seu ódio ao pobre pela herança escravista, patriarcal e influência cristã e meritocracia. Por fim, a burguesia brasileira apresenta características ligadas ao moderno capitalismo, com preferência por políticas neoliberais de altas taxas de juros e menores impostos sobre sua renda e riqueza.

De tal maneira, quando se fala sobre globalização, deve-se considerar um fenômeno multifacetado com dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligada de modo complexo. Uma das consequências da globalização, além dos aumentos drásticos da distância entre o pobre e o rico, da sobrepopulação, das catástrofes ambientais e conflitos étnicos, é a imigração massiva.

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1.1.2. Nova ordem global: o imaginário social como fato social no mundo globalizado.

O imaginário social tem levado um foco nos estudos de sociais desde 1930, qual por sua vez estava sendo estudado e teorizado pela escola de Frankfurt (Keller, 1992). O conceito é sobre como o imaginário pode ser usado no dia-a-dia das pessoas a fim de atingir uma mudança social. Appadurai (1999)11 empregou o conceito em discussão com os temas de globalização e modernidade, alegando que a imaginação na vida social tomou uma nova forma no mundo globalizado, nomeando como o imaginário social. Pretende-se neste item a salientar a relação entre a globalização e o papel do imaginário social como elemento fundamental para compreender a sociedade e suas redes no mundo moderno, ou seja, “tematizar certos fatos culturais e utilizá-los para expor a relação entre a modernização” (APPADURAI, 1996, p. 12).

Segundo o autor, a globalização não é simplesmente um nome para denominar uma nova época no mundo cada vez mais capitalizado, mas nela consiste como as pessoas relacionam um com o outro no cotidiano em comunidades além das fronteiras territoriais. Em apoio a esses argumentos, Rizvi (2006, p. 193) observou que a globalização “envolve processos através dos quais as pessoas se envolvem em vida cotidiana, consideram opções e tomam decisões, agora em novas formas de colaborações que não estão mais confinadas a comunidades, mas atravessam as fronteiras nacionais”12.

A Modernização é caracterizada como uma transformação radical que diz respeito a uma forte ruptura com o passado e, apesar do mundo sempre ter sido global, segundo o autor, hoje implica “interações de uma nova ordem e de uma

11 Appadurai, A. (1999). Globalization and the research imagination. CA: Blackwell Publishers. Arjun Appadurai é antropólogo formado pela Universidade Brandeis (Boston), mestre e doutor pela Universidade de Chicago. Apesar de sua vida acadêmica ter sido iniciada nos Estados Unidos, Appadurai nasceu em Bombaim (atual Mumbai), onde viveu até se mudar de país. Nos Estados Unidos passou a lecionar, a partir dos anos 2000 até os dias atuais, na área de Mídia, Cultura e Comunicação em algumas universidades. Appadurai, em suas obras, aborda questões emblemáticas para as Ciências Sociais. No livro Dimensões culturais da globalização, não foi diferente.

12 Tradução própria. Original : Rizvi (2006: p. 193) “it involves processes through which people engage with ordinary life, consider options and make decisions, now in new forms of collaborations that are no longer confined to local communities but span across national boundaries”

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intensidade” (APPADURAI, 1996, p. 43), pois elas não limitam ao âmbito territorial devido à tecnologia, dominada em grande medida pelos transportes e pela informação que permeia interações de um mundo dominado pela imprensa. Como sintomas desta transformação estão os meios de comunicação eletrônica e as migrações de massa como efeito conjunto da obra da imaginação.

1.1.2.1 O imaginário social e as redes de relações sociais.

Entende-se a imaginação como uma expressão da vida social, ou seja, como uma reconstrução cultural e da identidade presentes em todas as sociedades que são expostas por meio de mitologias, rituais, sonhos e etc. Appadurai esclarece a compreensão sobre o que é a imaginação no mundo, categorizado pelo autor em três grandes peculiaridades no mundo globalizado que está caracterizado pelo avanço tecnológico.

A primeira diz respeito à imaginação que ganha espaço para além das atividades sociais. Ela é disseminada na medida em que passa a fazer parte do imaginário cotidiano, resultado do movimento de transformação social oriundo da midiatização. As redes sociais são fundamentais nas redes pessoais de amizade e parentesco, e como Soares (2004)13 aponta, a rede social na internet também consiste em um conjunto de pessoas, organizações ou instituições que estão conectadas por algum tipo de relação, desta forma, a internet, se relacionar com o outro e o mundo tornou-se habitual, algo comum nas nossas vidas no mundo contemporâneo.

A segunda peculiaridade sobre o imaginário social é a distinção entre imaginação e fantasia, ou coletivo e individual respectivamente. A fantasia possui um caráter mais individual e, logo, está dissociada da ação. Entende-se a imaginação como característica constitutiva da subjetividade e, em relação aos

13 Dois pressupostos relevantes sobre o comportamento social fundamentam a análise de redes segundo Soares (2004) são: 1) os atores, frequentemente, participam de algum sistema social que comporta muitos outros atores, os quais são importantes pontos de referência para tomar decisões; 2) num sistema social, a estrutura, as regularidades presentes nos padrões relacionais dos atores, manifesta-se em vários níveis. Esses pressupostos remetem ao papel central que a organização das relações sociais desempenha na análise das propriedades estruturais das redes nas quais se inserem os atores, bem como na identificação dos fenômenos sociais emergentes, que não têm existência na esfera individual.

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meios de comunicação eletrônica, apesar de um mecanismo novo no contexto global e moderno, reflete a subjetividade social – “sentimentos de identidade” de cada um, já que transforma o discurso cotidiano. O novo meio de comunicação “(...) é uma ferramenta para que cada indivíduo se imagine como um projeto social em curso” (APPADURAI, 1996, p. 14).

Ao contrário, a imaginação possui um sentido mais coletivo e, então, pode ser o gatilho para ações, já que cria identidades e sentimentos comuns entre pessoas de uma determinada comunidade (seja um bairro ou uma nação). Assim, é a imaginação que cria a ideia de igualdade.

Vale lembrar que uma rede consiste num conjunto de atores ligados por um tipo específico de relação. Os diferentes tipos de relações correspondem redes diferentes, ainda que o conjunto de atores seja o mesmo, pois “[...] é improvável que, para o conjunto de trabalhadores de determinada empresa, a rede de conselhos, a rede de amizade e a rede de autoridade sejam a mesma coisa” (Knoke e Kuklinski, 1982, p. 12). A rede, porém, não é consequência, apenas, das relações que de fato existem entre os atores; ela é também o resultado da ausência de relações, da falta de laços diretos entre dois atores, do que Burt (1992) chama de “buraco estrutural”. Fofoca seria um exemplo do último, e não a considerar pode levar a um entendimento impreciso de como se espalham ou se evaporam os rumores” (Knoke e Kuklinski, 1982, p. 11). Nas entrevistas com as esposas dos executivos coreanos percebeu-se conflitos e redes de relações afetadas pelas fofocas oriundas do condomínio Portal do Morumbi14 onde residem15.

A terceira peculiaridade da imaginação no mundo pós-eletrônico, termo utilizado pelo próprio autor, está na diferença entre seus sentidos individual e coletivo, mas também a interdependência. Tendo em vista que existe diferenciação entre ambos os conceitos, a imaginação é tratada no texto em seu sentido coletivo, embora também possa ser explanado vinculado apenas ao indivíduo. Neste sentido, complementa-se com o Morin (1996), quem também traz a noção de indivíduo como a de "um produto; é o produto, como ocorrem

14 O nome do condomínio onde a grande parcela dos executivos sul coreanos reside, na região do Panambi.

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com todos os seres sexuados, do encontro entre um espermatozoide e um óvulo, ou seja, de um processo de reprodução" (pp. 47-48); resultando assim na sua noção de sociedade - "Desse modo, a sociedade é, sem dúvida, o produto de interações entre indivíduos" (p. 48) e vice-versa.

Desta forma, retratar e compreender o mundo atual global a partir da teoria do imaginário social, é possível pois:

Imagem, imaginado, imaginário: todos os termos que nos orientam para algo de fundamental e de novo nos processos culturais globais: a imaginação como prática social. Já não é mera fantasia (ópio do povo cuja verdadeira função está alhures), já não é simples fuga (de um mundo definido principalmente por objetivos e estruturas mais concretos), já não é passatempo de elites (portanto, irrelevante para as vidas de gente comum), já não é mera contemplação (irrelevante para novas formas de desejo e subjetividade), a imaginação tornou-se um campo organizado de práticas sociais, uma maneira de trabalhar (tanto no sentido trabalhista como no de prática culturalmente organizada) e uma forma de negociação entre sedes de ação (indivíduos) e campos de possibilidade globalmente definidos. (APPADURAI, 1996, p. 48).

Portanto, a imaginação é o mecanismo de todas as formas de ação do indivíduo e, por conseguinte, um fato social que integra em si a maneira de agir e a organização na interação social: ela é a nova ordem global (APPADURAI, 1996, p. 49).

1.1.2.2 A ordenação do Estado-Nação desafiada pelo fenômeno de transnacionalização.

Outra abordagem no contexto da globalização é o conceito de Estado-nação e como este vem absorvendo os efeitos dos meios de comunicação e as migrações que estão sendo amplamente globalizados, categorizados como transnacionais, pois operam além dos limites de uma nação e adotam a supremacia do Estado-nação. De tal maneira, conforme Appadurai, a globalização foi além de mídia e fluxo de pessoas, “[...] estreitou a distância entre elites, deslocou relações essenciais entre produtores e consumidores, quebrou

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muitos laços entre o trabalho e a vida familiar, obscureceu as linhagens entre locais temporários e vínculos nacionais imaginários” (1996, p. 22).

Estado-Nação, segundo UNESCO, “é aquele em que a grande maioria está ciente de uma indentidade comum e compartilha a mesma cultura16”, ou seja é uma área onde as fronteiras culturais correspondem às fronteiras políticas. Isto implica que o Estado incorpore pessoas de uma única etnia e tradições culturais (KAZANCIGIL, A. AND DOGAN, M. 1986, p. 188). No entanto, a maioria dos estados contemporâneos é poliétnica, e não cabe no ideal do Estado-nação que todos os membros de uma nação fossem organizados em um único estado, sem que outras comunidades nacionais estivessem presentes. Algumas das principais questões das ciências sociais e humanas acerca do mundo moderno perpassam pelas ideias do Estado-nação, sua história, sua crise e projeções futuras. Em relação ao Estado-nação, ainda que inserido em um sistema, possui variações, principalmente no que diz respeito ao imaginário nacional. No mundo globalizado, a ideia de soberania territorial se torna insustentável devido ao movimento migratório e fluxos globais do capital, uma vez que os Estados-nação dependem dos próprios meios na unidade étnica e cultural que constitui entidades política e geopolítica soberanas.

A soberania e o poder regulador do Estado-nação têm sido enfraquecido pelo transnacionalismo na forma de movimentos de pessoas, bens e capital (SASSEN, 1998). Acima foi exposto o argumento das condições transnacionais que evidenciam a emergência de formações sociais não-nacionais e mesmo pós-nacionais e a perspectiva da produção globalizada da localidade no mundo contemporâneo (Appadurai, 1996). Não se pretende repetir estas observações anteriores, mas as parafraseio pois estas constituem o pano de fundo dos argumentos que se desenvolve aqui.

O filósofo alemão Jürgen Habermas no livro Era das Transformações (2003) prevê a construção de novos espaços a partir da perspectiva de ampliação da esfera da influência da experiência das sociedades democráticas para além das fronteiras nacionais. No entender de Habermas, tal processo de

16 Tradução pessoal, citação encontra-se no site da UNESCO

http://www.unesco.org/new/en/social-and-human-sciences/themes/international-migration/glossary/nation-state/

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democratização pode ser reproduzido no que chama de constelação pós-nacional pelos caminhos de uma política interna voltada para o mundo em geral, ou seja, aberta a uma ordem cultural cosmopolita, capaz de funcionar sem a estrutura de um governo mundial (HABERMAS, 2003, p. 37-74).

As relações sociais e as suas redes globais promovem maior dispersão do que o Estado-nação suporta. Também, a identidade e a ligação que o sujeito tem a seu país e a territorialidade está cada vez escasso no mundo que é caracterizado pelas diferentes formas de circulação de pessoas no mundo contemporâneo, que seja pelas oportunidades econômicas, pessoas fugindo dos governos corruptos, refugiados de guerra e entre outros. Entres estes diversos migrantes, o executivo coreano - expatriado que foi transferido temporariamente para outro país pela empresa com quem tem o vínculo trabalhista - é uma figura que ameaça a ordenação do Estado-nação, uma vez que está ‘refém’ de mudanças constantes, implicando mais de um país a serem transferidos segundo a necessidade da empresa. Posto isto, pensar em identificar com uma nação e a uma cultura é limitada quando estudamos o indivíduo expatriado, sendo que o próprio termo culturalismo17 é definido pela mobilização política de direitos ou, como afirma Appadurai (1996, p. 30), é “o serviço de uma política nacional ou transnacional” que tende a ser ampliada, ir além das fronteiras territoriais, na era das comunicações de massas, migração e globalização18.

Já os fluxos migratórios, ao contrário dos meios de comunicação eletrônica, são antigos na história da humanidade. E se intensificou no último

17 Culturalismo é definido como uma construção consciente das identidades e defende a importância central da cultura como uma força organizadora nos assuntos humanos.

18 Tendo em vista que o livro trata das dimensões culturais da globalização, o autor atenta-se, igualmente, à discussão cultural acerca da globalização. Primeiramente, busca ressaltar que a globalização não se trata de homogeneização cultural. “A globalização da cultura não é o mesmo que sua homogeneização, mas a globalização requer o uso de uma série de instrumentos de homogeneização.” (APPADURAI, 1996, p. 63).Por outro lado, o termo cultural remete à relação entre culturas e, desta forma, valoriza a pluralidade. As diferenças culturais são marcadas em diferentes grupos e o estilo de vida. Considerando que cada área possui suas peculiaridades, suas formações culturais, sua história e etc., sugere “que consideremos culturais apenas as diferenças que exprimem, ou servem de fundamento, à mobilização de identidades de grupo.” (APPADURAI, 1996, p. 27). Assim, o que é cultural é aberto e estabelece trocas entre as diferentes culturas. Portanto, as teorias de modernidade não atendem as fragmentações nos processos culturais da sociedade no meio global, como a do culto global do hiper-realista: o exemplo dado sobre a afinidade filipina pela música popular americana. O conceito de americanização, segundo o antropólogo não é o termo correto, pois há culturalismo envolvido e, além disso, “o resto de suas vidas não está em completa sincronia com o mundo de referência de onde são originárias as canções” (APPADURAI, 1996, p. 46).

Referências

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