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FUNÇÃO MATERNA E CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO (2012)¹

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FUNÇÃO MATERNA E CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO

(2012)¹

ZANINI, Angélica Costa

2

; MAHL, Fernanda Donato

2

; VASCONCELLOS, Joyce

Vanessa Snidarsis²; KESSLER, Themis Maria³.

1

Trabalho de Pesquisa Bibliográfica - UFSM 2

Psicóloga, Mestranda em Distúrbios da comunicação Humana (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. ³ Orientadora e Professora do Departamento de Fonoaudiologia, Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, Santa Maria, RS, Brasil

E-mail: gelipsi.sm@hotmail.com; fe.donato@hotmail.com; ejsnidarsis@ig.com.br;

tkessler@terra.com.br

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo discutir a importância da função materna na constituição do sujeito. Diante disso, ressalta-se que ser mãe é muito mais que gerar um filho, é exercer a função materna que envolve o cuidado físico e psíquico, além de introduzir o bebê no campo da linguagem e, conseqüentemente, no mundo simbólico. A metodologia utilizada consistiu em uma revisão de literatura em livros sobre a temática a pesquisada. Constatou-se que quando o bebê nasce ele ainda não é um sujeito, é um indivíduo totalmente dependente da mãe que necessita se constituir e se desenvolver. A mãe, através dos cuidados com o seu bebê, oferece condições físicas e emocionais, possibilitando que ele entre no mundo simbólico e da linguagem, assim, se constituindo enquanto

sujeito independente. Portanto, para a criança se desenvolver psiquicamente, se constituir enquanto

sujeito saudável, necessita que sua mãe exerça a função materna, ou seja, de uma mãe suficientemente boa.

Palavras-Chave: Bebê; Função Materna; Linguagem; Mãe.

1. INTRODUÇÃO

O indivíduo se constitui na família. Não pode ser visto o bebê e a família de forma isolada, pois um depende do outro para existir. A mãe tem um papel fundamental na constituição do sujeito, atendendo as necessidades primordiais para a criança (o bebê) se manter vivo. Enquanto o bebê é totalmente dependente da figura que exerça função materna, tanto fisicamente, como psiquicamente. A mãe também é quem introduz a criança no mundo da linguagem e no campo do simbólico, sendo sua a tarefa permitir que o pai exerça função paterna.

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Na visão de Winnicott (1986), a família constitui um grupo, na qual sua estrutura se relaciona com a estrutura da personalidade do indivíduo. A família é o primeiro agrupamento e de todos os agrupamentos existentes é o que está mais dentro da unidade da personalidade. Para que a criança se desenvolva de forma saudável, é necessário um ambiente facilitador, uma mãe suficientemente boa e um pai para dar suporte. No início, ainda que o pai não desenvolva o mesmo relacionamento físico, ele é capaz de se identificar com o bebê. Se as coisas ocorrem bem, às crianças nunca agradecem, porque não têm conhecimento desse fato, havendo na família débitos não-reconhecidos. Na verdade, não são débitos, porque ninguém deve nada. No entanto, nenhum adulto atingiria a maturidade estável, se alguém não tivesse se encarregado dele enquanto bebê em suas etapas iniciais.

Quando a criança nasce, ela e a mãe são como se fossem um só corpo. Ela começa a se separar da mãe antes que essa seja percebida de modo objetivo. A criança vai tendo contato com o princípio da realidade e a figura materna vai sendo duplicada (Winnicott, 1986).

O papel materno, de acordo com a representação simbólica do corpo feminino, se atribuiu ao que vai além de nutrir, agasalhar e proteger, pois supõe que a mãe tenha uma atitude continente, que é a capacidade de acolher e de compreender a criança, respeitando seu desejo e sendo recipiente das angústias existenciais dos filhos. A mãe suficientemente boa, nos termos Winnicottianos, é a mãe capaz de possuir a função de holding, que é a capacidade de proteger a criança da agressão fisiológica, tendo relação com a capacidade de a mãe identificar-se com seu bebê. O manipular, que é uma parceria entre mãe e bebê para a criança formar a noção do real e irreal e apresentar objetos a ela, auxilia no impulso criativo da criança, ou seja, a mãe faz o holding, manipula e apresenta objetos ao filho (WINNICOTT, 1965).

O presente trabalho tem por objetivo discutir a importância da função materna na constituição do sujeito. É um tema relevante na medida em que a mulher vem ocupando novos papeis na sociedade, o que implica na função materna. E uma mãe suficientemente boa é fundamental para um desenvolvimento psíquico saudável do bebê.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada consistiu de uma revisão de literatura em livros, buscaram-se autores que discutem acerca da função materna e da constituição do sujeito.

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Ressalta-se, ainda, que para Cruz e Ribeiro (2004) a revisão de literatura serve para reconhecer e dar crédito à criação intelectual de outros autores abrindo espaço para evidenciar vários campos de conhecimento que já estão estabelecidos. Além disso, pode receber novas pesquisas, por que contribui para obter informações atuais sobre o tema escolhido.

Portanto, a revisão de literatura resulta do processo de levantamento e análise do que já foi publicado sobre o tema, o que permite um mapeamento do que já foi escrito sobre o assunto e, dessa forma, contribui para discutir e verificar visões diferentes à respeito de aspectos relacionados à temática pesquisada (CRUZ e RIBEIRO, 2004).

3. DESENVOLVIMENTO

A mãe, enquanto objeto, desempenha um papel importante na vida do bebê, pois proporciona satisfação e remove o desconforto. Observamos que enquanto algumas tarefas como, por exemplo, fornecer alimento adequado, podem ser realizadas por qualquer pessoa, muitas outras tarefas só podem ser feitas por alguém que tenha motivações de uma mãe. Portanto, neste momento a criança é totalmente dependente da mãe (WINNICOTT, 1958).

O estado inicial de ser mãe está em um momento muito especial denominado por Winnicott (1958) de “Preocupação Materna Primária”, sendo um período que ocorre no final da gestação e nas primeiras semanas após o parto. Neste momento, a mãe tem uma sensibilidade exacerbada e, raramente lembram-se deste período, pois ele acaba sendo reprimido. Este estado poderia ser comparado a uma doença, caso não existisse uma gravidez, parecendo ser uma fuga, retraimento ou um distúrbio em nível mais profundo. A mãe deve ter este estado de sensibilidade exacerbada quase como uma doença, mas, espera-se que tenha saúde tanto para entrar neste estado como para recuperar-se dele. Caso o bebê não sobreviva, a mãe corre sério risco de que este estado se transforme em um quadro patológico.

A mãe que consegue entrar neste estado, possibilita para o bebê um ambiente no qual pode se constituir e começar a experimentar movimentos espontâneos, tornando-se dono das sensações correspondentes à etapa inicial da vida. Ou seja, se a mãe proporciona uma adaptação suficientemente boa à necessidade do bebê, a criança seguirá uma linha de vida muito pouco perturbada.

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considerando-o como uma carga de trabalho e um embaraço positivo. Caso a mulher não tenha desejado ser mãe, pode se sentir infeliz (WINNICOTT, 1964).

Na relação entre mãe e filho, é necessário diferenciar o que é da mãe e o que começa a se desenvolver na criança. Neste momento, está em jogo dois tipos de identificação, que são a identificação da mãe com o bebê e do filho com a mãe. A mãe ainda grávida, tem uma identificação que aumenta com o nascimento do bebê, pois a criança é associada para mãe como um objeto interno. O bebê, na fantasia da mãe, tem outros significados, mas o principal é desviar a atenção do seu próprio self (eu), para o bebê. (WINNICOTT, 1965).

É próprio da mãe falar e ouvir seu bebê, como também olhar e o reconhecer, para que ele possa se identificar. Quando o bebê nasce, normalmente, a mãe sente amor pelo seu filho, ou seja, o que ela ama é seu corpo, pois o bebê passou nove meses no interior do corpo dela e quando o bebê nasce ele ainda é fragmento do real do seu corpo. A partir do momento em que o cordão umbilical é cortado, a mãe vê o bebê em três dimensões, o real que escapa como o objeto de suas fantasias imaginárias e como continuador da filiação simbólica. Se a mãe não vê em seu filho nada de seu corpo, ele é totalmente outro e o Real. (OLIVEIRA et al, 2008).

Após o acontecimento natalício, as mães e seus bebês sofrem uma grande variação em suas condições, demorando em torno de dois ou três dias para compartilharem a companhia mútua. Se os dois estiverem sentindo-se bem, é possível que a mãe e seu bebê se conheçam imediatamente. A hora mais surpreendente do primeiro contato com o bebê, ocorre no momento da amamentação, que é quando o bebê está excitado. Mas é importante a mãe conseguir lidar com o seu bebê nos momentos de excitação e quando ele está satisfeito e mais calmo. (WINNICOTT, 1964).

Dolto (1977) fala sobre mães cansadas, que são mães que não descobriram as alegrias da maternidade. Antigamente, praticamente toda mulher casada tinha filhos independente do seu desejo, pois não havia métodos contraceptivos, mas, atualmente, podem ser evitados. Ainda assim, há dificuldades sociais, como moradias pequenas, mães sobrecarregadas, se houver amor dos pais pelos filhos, as questões sociais não são problemas.

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Quando nasce, o bebê é um ser de necessidade. E quem atende a essas necessidades é uma pessoa que já atravessou o muro da linguagem, ou seja, que está do lado de onde se pode atender a necessidade de um bebê com a linguagem. Portanto, a mãe sendo a genitora ou não, é o ser de linguagem, que atende à necessidade do filho pela linguagem, introduzindo a palavra à criança (ELIA, 2007).

Para Winnicott (1986), a criança não pode ser pensada, sem ao menos se pensar em família, seja na presença ou na falta desta. Bons pais constroem um lar, na medida em que a responsabilidade pelo lar é dos pais e se mantém juntos. Uma boa mãe faz diferença nas primeiras semanas e nos primeiros meses após o nascimento do bebê, como também, haverá uma imensa contribuição quando se tem um pai dando suporte, promovendo cuidados para a criança, possibilitando a ela encontrar gradualmente a si mesma (seu self) e uma relação entre ela e o mundo.

Ainda no ventre, o bebê já é um ser humano único, diferente de qualquer outro ser humano já existente. Quando nasce, já teve uma soma enorme de experiências agradáveis e desagradáveis. Para que os bebês se tornem adultos saudáveis, indivíduos independentes e preocupados socialmente, têm de receber um bom princípio enquanto for bebê, onde o bom princípio que é o amor, é assegurado pelo vínculo entre a mãe e o seu bebê (WINNICOTT, 1964).

Catão (2009), coloca que a criança ouve e escuta muito antes de falar, pois já é um ser falado, ou seja, advém de um falante, posto que esteja implicado na voz do Outro. Quando a mãe fala, ela altera a cadeia sonora de seu enunciado e isso chama a atenção do bebê. As alterações da fala são de suma importância porque o sensório do bebê passa a receber os sons dirigidos a ele. O “manhês” é caracterizado por um alongamento do tempo das cesuras entre as palavras, ao mesmo tempo em que ouve, supondo assim sujeito ou que este possa advir enquanto sujeito (MASCARENHAS, 2000).

O sujeito é efeito da obra da linguagem, pois é antecipado no discurso parental antes do nascimento, também pelo desejo dos pais. O ritmo do desenvolvimento da criança é marcado pelo desejo do Outro, que atua na criança através do seu discurso (JERUSALINSKY, 2007).

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excesso e de violência secundaria para essas crianças, colocando-os muitas vezes em uma adolescência prolongada ou, ainda, em uma infância prolongada. Alguns problemas encontrados em surdos são resultados da falta de inserção destes sujeitos em uma língua de sinais ou oralizada, muitas vezes pela não aceitação da família e do social (SOLÉ 2005).

Através da língua, o sujeito se desenvolve cognitivamente e subjetivamente, mas nem todas as crianças com perda auditiva são capazes de desenvolver a língua sendo oralizados. E a língua de sinais é uma saída para os mais incapacitados cognitivamente e socialmente. A audição de um som por ele próprio não é determinante na constituição do sujeito, mas a escuta da voz materna faz marca no corpo do bebê. A voz, quando inserida no discurso, torna-se significante. Da mesma forma que o olhar se separa da visão quando encontra o desejo do outro, a escuta também se separa da audição, e é desta maneira que entendemos a possibilidade do sujeito surdo escutar a voz da mãe (SOLÉ, 2005).

Talvez a linguagem seja o aspecto mais importante do desenvolvimento da criança, pois é a linguagem falada que permite uma boa e bem-sucedida comunicação e interação social, que faz parte do cotidiano do ser humano. Através da linguagem, pode-se expressar o que se sente e se pensa, e o processo de educação é facilitado. O bebê evolui sua escuta fazendo um passeio primeiro entre sons, fonemas, depois em palavras e posteriormente em frases completas com expressões. Crianças com perda auditiva não desenvolvem a fala espontaneamente, pois se confrontam com dificuldades na linguagem. E quanto mais tempo um lactante estiver em perda auditiva sem ser tratado, mais difícil será a aquisição da linguagem (NORTHERN e DOWNS 2005).

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através da lei, que o homem é desligado do corpo coisa e realiza a união entre linguagem e ação, transformando em ação psicomotora (LEVIN, 1995).

A língua é o lugar de expressão e de constituição da subjetividade, lugar onde a relação dialógica entre eu e o outro é explicitada. Oliveira et.al (2008), traz a idéia de “paiês” chamando a atenção para o fato do pai interagir com mais facilidade com a criança do que a própria mãe. Com o pai, a criança se expressa com mais freqüência do que com a mãe, se comunicando por meio de vocalizações e sorrisos. Uma das possíveis explicações para o presente fato é do pai ter assumido o papel de “maternagem” enquanto a mãe trabalha. Desta forma, o pai desenvolveu estratégias de interação que chamam mais a atenção do

bebê do que as colocadas pela mãe. O pai usa o “manhês” com mais freqüência do que a

mãe quando se dirige a criança.

A saúde mental do ser humano tem base na primeira infância, assentada pela mãe, que fornece um meio ambiente facilitador, onde os processos complexos e essenciais do bebê ocorrem. De acordo com Winnicott (1958), o bebê deve passar por três momentos no desenvolvimento, sendo o primeiro estabelecer contato com a realidade, o segundo onde a personalidade do bebê deve se tornar integrada e estável e o terceiro momento quando o bebê deve se sentir vivendo dentro de seu corpo, pois no inicio ele e a mãe são como um só corpo.

4. CONCLUSÃO

A mãe deve permitir a entrada do pai, assim como junto a ele possibilitar um ambiente facilitador, onde a criança tenha um lar que atenda suas necessidades. É função materna oferecer cuidado físico, como por exemplo, higiene, alimentação e saúde. Da mesma forma como psiquicamente, ofertando tranqüilidade, segurança, conforto, acolhimento e amor, além de introduzir a criança no mundo da linguagem e, conseqüentemente, no simbólico.

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REFERÊNCIAS

CATÃO. Inês. O bebê nasce pela boca: voz, sujeito e clínica do autismo. São Paulo, Instituto Langage, 2009.

CRUZ, Carla; RIBEIRO, Uirá. Metodologia Científica: teoria e prática. 2.ed. Rio de Janeiro: Axcel Books, 2004.

DOLTO, Françoise. Quando os filhos precisam dos pais. Respostas a consultas de pais com dificuldades na educação dos filhos. São Paulo, Martins Fontes, 1977.

ELIA, Luciano. O conceito de sujeito. Rio de janeiro, Zahar, 2007.

JERUSALINSKY, Alfredo. Seminários V, O Declínio Do Império Patriarcal. São Paulo, Lugar de Vida, USP, 2007.

LACAN, Jacques. Outros Escritos. 1966- 1973. Rio de janeiro, Jorge Zahar, Ed 2003.

LEVIN, Esteban. A clínica psicomotora. O corpo na linguagem. Rio de janeiro, Vozes, 1995.

MASCARENHAS, Cláudia et al. A clínica com o bebê. São Paulo, Casa do Psicólogo, 2000.

MOTTA-ROTH, Désirée (Org.). Redação Acadêmica: princípios básicos. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, Imprensa Universitária, 2001.

NORTHERN, L. J.; DOWNS, M.P. Audição na infância. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2005.

OLIVEIRA, Eunice et al. As interações da Clínica com bebês. Recife, NINAR, 2008.

SOLÉ, Maria Cristina Petrucci. O sujeito surdo e a psicanálise. Porto Alegre, Editora UFRGS, 2005).

WINNICOTT D. W. Da pediatria à psicanálise. Obras Escolhidas. 1958. Rio de Janeiro, Imago, Ed 2000.

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WINNICOTT, D. W. A família e o desenvolvimento individual. 1965. São Paulo, Martins Fontes, Ed 2005.

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