Peça Teatral Infantil de
André Faxas- 1996
Registrada no EDA da BN-RJ sob o nº 279.594 livro 504 Folha 254, na SBAT sob o nº 2797 . registro do autor André Faxas na SBAT: 31533
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS
PERSONAGENS:
JILÓ- O legume discriminado. Inventivo e extrovertido LEÔNCIO- O dono da lanchonete. Grosso e atrapalhado DANICA- A menina que não gosta de jiló.
CENÁRIO ÚNICO: LANCHONETE DO LEÔNCIO MÚSICA DA ENTRADA DE LEÔNCIO
LEÔNCIO ENTRA, TRAZENDO UM SACO DE ALIMENTOS NAS COSTAS
LEÔNCIO - (AO PÚBLICO) – Até que enfim chegou o carregamento !
Batatas, hambúrgueres, linguiças, frutas, ingredientes ! Meu faturamento será enorme com o movimento. Muitos fregueses, muito dinheiro ! Vamos ao confere... Carne ? (OLHA O SACO) Ok. Pão ? Ok. Óleo de soja ? Ok. Batatas ? Ok. Ok, sal, açúcar, manteiga, catchup, maionese, jiló, sorvete... O quê ??? Jiló ??? Jiló??? (ESTÁ COM UM JILÓ NAS MÃOS) Eu não pedi jiló, não quero jiló ! Ninguém gosta de jiló ! Vai ficar aí encalhado até apodrecer. Comprar jiló é jogar dinheiro fora. Sabem de uma coisa ? Vou jogar esse traste no lixo, pois nem os cães comem jiló !
LEÔNCIO JOGA O JILÓ NA COXIA
ENTRA DANICA, QUE SE SENTA EM UMA DAS MESAS DA LANCHONETE
LEÔNCIO FICA EUFÓRICO
LEÔNCIO- Freguesa ! Tenho que atendê-la... (À DANICA) Bom dia,
senhorita. O quê a jovem deseja comer ?
DANICA- Moço, eu quero dois hambúrgueres, dois refrigerantes, muita
batata frita com catchup, maionese e bacon. Sorvete de creme com morango, mashmellow e castanha com cobertura de caramelo. Entendido ?
LEÔNCIO- Claro, senhorita... Que confusão ! (SE AFASTA) DANICA- Moço ! Tudo pra viagem !
LEÔNCIO VAI PARA O BALCÃO, MUITO CONFUSO
LEÔNCIO- Muito bem... Ela pediu... sorvete de bacon com catchup,
batata frita de morango, hambúrguer de mashmellow e...
JILÓ ENTRA EM CENA REPENTINAMENTE)
JILÓ (A LEÔNCIO) – E eu ?
LEÔNCIO- Alguém falou comigo ? Você pediu alguma coisa, menininha? DANICA- Eu não falei nada, moço.
LEÔNCIO- Devo estar cansado e ouvindo coisas.
JILÓ- Eu disse: quero ir para a casa da menininha e fazer parte do seu
lanche.
LEÔNCIO (APAVORADO)- Falaram comigo de novo ! Não há ninguém
aqui. Será que estou louco ?
JILÓ- Quero ir junto aos hambúrgueres, aos refrigerantes, às batatas e ao
sorvete !
LEÔNCIO- Quem falou comigo ????? JILÓ- Fui eu, bigodudo !
LEÔNCIO- Eu quem ?
JILÓ- Jiló, o príncipe dos legumes !
LEÔNCIO- Jiló ? Não é possível, jiló não fala ! JILÓ- Não só falo, como canto, danço e represento.
LEÔNCIO- Devo estar trabalhando demais. Preciso de férias ! Onde já se
viu ? Um jiló falante ?
JILÓ- Acredite ou não, eu falo. E vou torrar a sua paciência, até você me
escutar.
LEÔNCIO- A freguesinha vai pensar que eu sou maluco e vai embora.
Não posso perder dinheiro, pois a coisa tá preta... (A JILÓ) Espere um momento. (SE DIRIGE À DANICA) Já está quase pronto o seu lanche, senhorita. Posso te pedir um favor ?
DANICA- O que o senhor quer ?
LEÔNCIO- É... Mas não muito forte... Só um belisquinho no braço… DANICA- Claro, moço…
(DANICA BELISCA LEÔNCIO COM FORÇA, QUE GRITA)
LEÔNCIO- Ai !!! Não precisava ser tão forte ! Não é sonho, é realidade. DANICA- O senhor está passando bem ?
LEÔNCIO- Claro, claro... Fique tranquila, que já eu trago o seu lanche,
senhorita... senhorita…
DANICA- Danica.
LEÔNCIO- Já trago o seu lanche, canjica. DANICA- Danica ! Danica !
LEÔNCIO- Claro, claro... Já volto, já volto !
LEÔNCIO VOLTA AO BALCÃO
JILÓ- Demorou. Aliás, como se chama, papudo ?
LEÔNCIO (IMITANDO DANICA)- Leôncio ! Leôncio ! JILÓ- Muito bem, Leôncio. Vai me ouvir agora ?
LEÔNCIO- Vou. Mas fale baixo, senão a menina vai achar que estou
louco. Onde já se viu ? Conversar com um Jiló ?
JILÓ- Como disse, sou o Príncipe dos legumes e exijo que me embrulhe
para viagem junto aos outros gordurosos.
LEÔNCIO- Acho agora que o maluco aqui é você. Jiló é horrível. Ela
nunca vai querer.
JILÓ- Diga a ela que possuo fibras, cálcio e as vitaminas A e B.
LEÔNCIO- Você é amargo e sem graça. E isso aqui é uma lanchonete e
não uma farmácia. Não vendo vitaminas.
JILÓ- Sou leve e saudável. Não possuo gorduras e colesterol. Por favor,
me embrulhe.
LEÔNCIO- Já disse que não ! Não posso perder a freguesinha. Já pensou ?
Ela chega em casa, abre o embrulho e encontra junto a todas aquelas delícias, um jiló feio, amargo e sem graça. Vai jogar o lanche todo fora.
JILÓ- Por favor, Leôncio ! O meu povo está em extinção. Os jilós estão
acabando. Ninguém mais planta, ninguém mais come jiló. A menina precisa gostar de mim...
LEÔNCIO- Já estou perdendo muito tempo com você, seu legume cretino.
Vou te jogar fora !
JILÓ- Não, Leôncio ! Não faça isso ! Pergunte à menina se ela me quer ?
LEÔNCIO (RINDO) – Ah, ah, ah ! Essa é boa ! Pergunte se ela te quer ?
Claro que ela não quer jiló !
JILÓ- Então pergunte.
LEÔNCIO- Tá certo. Já que insiste, vou perguntar à menina. Agora, se ela
disser não, o seu destino será o lixo !
LEÔNCIO VAI À DANICA
DANICA- Tá demorando muito esse lanche, moço. LEÔNCIO- Já está quase pronto, senhorita...
DANICA- Danica.
LEÔNCIO- Está quase pronto, mexerica. DANICA- Danica ! Danica !
LEÔNCIO- Eu vim perguntar se quer mais alguma coisa ... DANICA- Quero mais nada não. Só os hambúrgueres, refrige...
LEÔNCIO (INTERROMPENDO) – Não precisa dizer, que eu já sei ! É
que...que... temos um produto em oferta na casa…
DANICA- O quê ? Oferta ? Se for chocolate eu quero. Se for pudim eu
LEÔNCIO (INTERROMPENDO) – Jiló ? E se for Jiló ???? DANICA- Se for Jiló ??? Se for Jiló ???
LEÔNCIO- E se for Jiló ?
DANICA (GRITANDO) – Não quero ! LEÔNCIO- Ótimo ! Ótimo, tiririca ! DANICA- Danica ! Danica !
LEÔNCIO- Tudo bem, tudo bem. Já trago o seu lanche bem quentinho !
Além disso, ainda te darei um bom desconto ! Tudo bem suculento, gostoso ! E sem jiló ! Sem jiló ! (CANTANDO EM DIREÇÃO AO BALCÃO)
(JILÓ ESTÁ DESOLADO) Ela não quer jiló ! Ela não quer jiló ! (LEÔNCIO OLHA PARA JILÓ, AMEAÇADORAMENTE) Chegou a
hora ! Dê adeus ao mundo dos alimentos vivos, seu jiló idiota ! Vou te jogar no valão, seu horroroso !
JILÓ- Me dê uma chance, por favor ? Posso te provar que ela gosta de
mim.
LEÔNCIO- Ela te detesta, verdinho !
JILÓ- Ela cresceu, ouvindo que sou ruim e amargo. Mas, na verdade,
nunca me provou. Não conhece o meu sabor. O que ela tem contra mim é preconceito. Me dê um tempo para conquistá-la...
LEÔNCIO- E o que eu ganharei com isso ?
JILÓ- Venderá muito jiló e ficará muito rico.
LEÔNCIO- Rico ? Isso muito me interessa ! E se ela não te quiser nunca ? JILÓ- Simples. Me jogue no lixo, acabe com meu povo, me mate, me
destrua.
LEÔNCIO- Gosto de maldades ! Isso muito me interessa !
JILÓ- Vamos fazer essa aposta então. Você só tem a ganhar, Leôncio. LEÔNCIO (APERTANDO A MÃO DE JILÓ)- Fechado. Te dou um dia
para ela gostar de você. Senão, acabo contigo !
JILÓ- Dê o embrulho à menina. Serei irresistível !
LEÔNCIO ENTREGA O LANCHE À DANICA E SAI DE CENA.
MÚSICA: JILÓ PÕE UM ÓCULOS DE SOL, PEGA UM VIOLÃO E SIMULA UMA SERENATA PARA DANICA
AO TÉRMINO DA MÚSICA, INICIA-SE O DIÁLOGO
JILÓ- Olá, gatinha ? Belo dia, não ?
DANICA- Quem é você ? Aliás, o quê é você ?
JILÓ- Meu nome é Raddi Solanum Gilo, da nobre família solanácea. Mas
pode me chamar apenas de Jiló.
DANICA- Jiló ? Você é um Jiló ?
JILÓ- Não propriamente um jiló. Modéstia à parte, eu sou o Jiló ! DANICA- Pôxa, você é feio mesmo, hein ?
JILÓ- São seus olhos, baby ! Aliás, qual a sua graça ?
DANICA- Sei fazer uma careta bem engraçada ! (DANICA FAZ
CARETA)
JILÓ (AO PÚBLICO)- Acho que ela não entendeu. (À DANICA) Eu
perguntei qual o seu nome ?
DANICA- Danica.
JILÓ- Que nome lindo... Danica... Danica… DANICA- Nunca ouvi dizer que os jilós falavam. JILÓ- Mas eu não falo, eu canto…
DANICA- Tenho que ir para casa, seu Jiló. Meu lanche está esfriando e eu
estou com fome.
JILÓ- Para quê a pressa, Danica ? Vamos conversar... Precisamos nos
conhecer. Aliás, você precisa me conhecer melhor…
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