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Nós nos conhecemos a vida toda. E sempre á amei, por todo esse tempo. Daphne.

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Academic year: 2022

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Nós nos conhecemos a vida toda.

E sempre á amei, por todo esse tempo.

Daphne.

Era cheia de curvas, com uma personalidade borbulhante que nenhuma outra mulher poderia igualar.

E me guardei para ela... Meu primeiro beijo, meu primeiro tudo.

Mas esperei fazê-la minha por muito tempo.

Quando um trabalho me levou para longe dela, sabia que um dia voltaria. Não havia como deixa-la fugir.

Os anos se passaram, mas meu amor por ela só cresceu. E quando finalmente voltei para casa, para ela, sabia que a espera tinha

terminado, cansado de fingir que nossa amizade não poderia

ultrapassar os limites.

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Mas será que já era tarde demais?

Não me importava se era, porque a verdade é que não parava de tentar faze-la minha. Tudo o que precisava era ter a coragem de

contar a verdade sobre como ela me faz sentir.

Todo o resto era só fofura.

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Daphne

— Você sempre pode participar de um desses concursos de camisetas molhadas.

Olhei para Patrícia com os olhos arregalados, sabendo que o choque estava no meu rosto.

—Você está falando sério? Um concurso de camiseta molhada? — Eu bufei depois que falei o sarcasmo na minha voz grossa. Os lábios dela se contraíram em diversão.

Embora soubesse que ela estava brincando, por uma fração de segundos, logo antes do senso comum surgir, pensei que talvez estivesse falando sério.

— Você pode me imaginar no palco com uma daquelas pequenas regatas brancas, meus peitos balançando por todo o lugar, enquanto me pulverizavam com uma mangueira? — Eu ri e balancei minha cabeça, imaginando exatamente isso. Não seria sexy, porque podia imaginar minhas mãos na minha frente enquanto tentavam parar o spray da mangueira, meus olhos se fechavam com força, meu rosto doía com o

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rosto das pessoas. — Não, obrigado. — Levei uma taça de champanhe à boca e tomei um gole longo. Deus, amo as bolhas no champanhe. Eles me fizeram sentir tudo formigando.

— Justo, mas garota, se você participasse de um concurso de camiseta molhada, venceria. Mãos para baixo. Seu peito é como...

Perfeito. — Ela zombou. — Ugh, eu te odeio às vezes.

Revirei os olhos com o comentário de Patrícia, mas não pude deixar de sorrir. Conheço Patrícia desde a faculdade. Ela estudou sociologia comigo em um grupo de estudos. Embora nossos cursos fossem tão diferentes, o meu sendo culinária, tínhamos alguns dos mesmos pré-requisitos.

— Talvez eu devesse colocar implantes mamários? — Ela olhou para o próprio peito e ficou com uma expressão séria no rosto.

— Você é linda do jeito que é.

Ela gemeu e levou a taça de champanhe à boca.

— Eu gostaria de ter sua autoconfiança.

Eu sorri. Tinha orgulho da minha autoconfiança e positividade sobre meu corpo. Por muito tempo, deixei outras pessoas ditarem como me senti como me via. Eu era a “garota gordinha da rua” quando era

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mais jovem. Essa foi a primeira vez que notei que os outros me consideravam diferente. No ensino médio, sempre fui à amiga com o rosto bonito que só precisava perder peso. E na faculdade, eu tinha um pouco mais de liberdade, por assim dizer. As pessoas eram um pouco mais crescidas, com pensamento adulto, não ficavam boquiabertos ou encaravam, ficavam caladas sobre seus comentários.

Eu tinha usado todas essas experiências de vida para perceber que não importava o que os outros pensavam. Eu era quem era e me amava por isso. Esses pensamentos me levaram a pensar em Alfie, meu melhor amigo desde os cinco anos de idade. Ele nunca olhou para mim como se eu fosse algo menos, como alguém que precisava mudar. E mesmo que o tempo e a distância nos separassem aqui e ali ao longo dos anos, com a gente indo para faculdades diferentes, trabalhando fora do estado ou apenas à vida em geral nos puxando em direções diferentes, ele sempre me protegeu. Sempre ficamos próximos.

O considerava minha alma gêmea.

Mas Alfie se mudou para Rosendale definitivamente no mês passado. E apesar de todos esses anos, os altos e baixos que cada um de nós enfrentamos em nossas vidas, estávamos tão perto quanto sempre estivemos.

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Quando Patrícia começou a falar com alguém, um cara aleatório que passava para cumprimenta-la pela cor de sua blusa, que era apenas uma desculpa esfarrapada para falar com ela, fui a procura do Alfie. Eu o vi no canto conversando com um dos amigos do meu pai. O evento em que estávamos deveria ser "íntimo", mas esses tipos de eventos nunca foram apenas íntimos. Havia amigos de amigos aqui, um punhado de pessoas espalhadas por toda a sala. E uma pequena e tranquila festa de aniversário acabou sendo uma festa cansativa.

Olhei para Alfie, sentindo meu coração disparar um pouco. Deus, eu teria coragem de lhe contar como me sentia? Não, provavelmente não. Eu mantive meus sentimentos por ele em segredo por tanto tempo que eles eram apenas parte de mim agora, algo com que eu vivia. Foi algo com que lidei. O medo era muito real em admitir como me sentia, que meus sentimentos por ele haviam crescido de amizade, afeto, paixão e estar apaixonada me assustou. Eu não queria perde-lo, não queria tornar as coisas estranhas. E o fato de nunca ter dito nada para mim, que também tinha sentimentos, que compartilhava qualquer tipo de sentimento íntimo comigo, me fez ficar de boca fechada por tanto tempo.

Definitivamente muito tempo.

Mas era mais seguro assim. Para mim. Para nós.

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Ele olhou para mim como se pudesse sentir meu olhar nele. Seu cabelo loiro e curto, estava jogado para o lado, pude distinguir os músculos do seu peito e seus braços, mesmo através de sua camisa e do blazer.

Meu corpo aqueceu.

Eu sorri, esperando que ele não pudesse ver como eu estava sem dúvida corando, a distância que estávamos separados eram suficiente para não me envergonhar ainda mais.

Ele tinha aquele charme de garoto da porta ao lado, aquela boa aparência que fazia todas as garotas nota-lo. E eu nunca o tinha visto com uma namorada, sem outras pessoas significativas, nem mesmo com ele me dizendo que tinha uma queda por alguém. Nós conversamos sobre tudo. Mas nunca isso. E meu coração agradeceu silenciosamente.

—Por que você simplesmente não pede ajuda aos seus pais?

Voltei minha atenção para Patrícia e limpei minha garganta, balançando a cabeça no processo.

—Eu nem vou para lá. Você sabe que não gosto de pedir ajuda a outras pessoas, especialmente quando isso inclui tanto dinheiro. — Terminei meu champanhe e coloquei na bandeja de um garçom que

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passava. Ele parou para que eu pudesse pegar outro e dei um sorriso agradecido.

Embora não tivesse dúvida de que meus pais me emprestariam o dinheiro, precisava criar minha própria empresa. Eu queria uma pequena cafeteria e pastelaria que também servisse de biblioteca.

Queria fazer isso sozinha, ter sucesso por direito próprio, construindo algo do zero, trabalhando duro e sem receber nada de graça.

Apesar de que eu estava certa que havia conceitos do que queria fazer na minha loja que em todo o mundo e em nossa pequena cidade, não havia nada perto disso. O que tínhamos era o clube de campo e gerações que viviam de dinheiro antigo.

Eu adorava ler, tinha sido uma ávida leitora de livros durante toda a minha vida. Em certo momento, eu queria ser bibliotecária para estar rodeada de livros, mas, à medida que envelhecia, queria ter meu próprio negócio, poder montar pequenos recantos escondidos, me esconder de todos com uma xícara de café, uma massa fresca assada e um livro grosso.

Deus, isso parecia glorioso, queria tornar isso minha realidade. Certamente havia outros que eram como eu? Pelo menos esperava, para que meu sonho não fosse pelo ralo.

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Mas até encontrar os meios para tornar isso realidade, teria que trabalhar das nove as cinco, como recepcionista.

Eu olhei para Alfie e senti meu coração disparar quando vi que ele me encarava. Ele sorriu apenas o canto da boca levantando, senti meu corpo inteiro esquentar. Era como se ele estar de voltar na cidade acendesse meus sentimentos, trazendo-os de volta à superfície, de modo que não havia como negá-los. Eles se recusaram a ser enterrados por mais tempo, eu sabia que não seria capaz de mantê-los em segredo por muito tempo.

Mas Deus... O medo de perdê-lo por minhas próprias necessidades egoístas me assustou muito. Mas nós vivemos apenas uma vez, certo? Se eu não dissesse a ele como me sentia, nunca saberia se as coisas poderiam progredir.

Essa era a única coisa que importava.

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Alfie

Talvez um dia eu pudesse contar a Daphne como me sentia, na maior parte da minha vida, desde que a conheci, desde que percebi o que era se importar com alguém, eu estava apaixonado por ela.

Incondicionalmente.

Irrevogavelmente.

Consumido.

Isso aconteceu naquele momento, anos atrás, quando eu a olhei direito antes de ter que sair da cidade, essa realidade se estabeleceu.

Compreendi que ninguém se compararia a ela. Ninguém. Nunca. Mas, na verdade, como ter coragem de dizer a Daphne que eu a amava, que ela era o meu futuro? Eu fui muito covarde. E hoje não era o dia de cultivar um conjunto de bolas.

Frank estava falando sobre fusões e aquisições em sua empresa, mas minha mente estava em outro lugar. Meus pensamentos estavam em Daphne. Sempre nela.

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Ainda me lembrava do dia em que olhei para ela e sabia que a amava que os sentimentos que tinha por ela naquele tempo eram algo muito mais. Foi depois que eu fui enviado para outro estado para o meu trabalho, e embora fosse temporário, naquele momento, parecia uma vida.

Foi tão doloroso deixa-la. Era como se alguém arrancasse meu coração e o segurasse na mão, mostrando-me o que eu não tinha mais enquanto eles o apertavam até que não restasse mais nada.

Eu não queria deixa-la, não queria fazer nada, além de puxá-la para perto e dizer o que ela significava para mim. Enquanto olhava para ela em pé na minha frente, enquanto as palavras tocadas na minha cabeça batiam no meu coração, não queria nada além de contar a ela naquele momento o que ela significava para mim.

Mas não parecia certo dizer a ela algo tão profundo e depois partir, então mantive para mim, nunca proferindo essas palavras, mantendo esse segredo dentro de mim até o momento certo. E haveria um momento certo. Porque mesmo que não tivesse percebido o que sentia por ela se transformou em amizade, atração e agora amor profundo, eu sempre via Daphne como minha, mesmo que ela não soubesse disso.

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Eu a observei andar pela sala, falar com os outros, trazendo sorrisos para o rosto deles.

Sua personalidade era viciante. O sorriso dela é contagioso. Tão linda. Os cabelos loiros estavam em ondas soltas ao redor dos ombros. Meus dedos coçavam para tocá-los, trazê-los ao meu nariz e cheirar aqueles fios. Aposto que eles eram doces, assim como ela.

Usava essa saia rosa bebê, o material ajustado às suas curvas. O cardigã exibia o peito inteiro, os pequenos botões na frente dessas pequenas pérolas artificiais.

Deus, seu corpo era incrível, cheio de curvas, feminino, que eu imaginava espalhado na minha cama muitas vezes para ser apreciadas. Eu tentei ajustar minha camisa para cobrir meu pau, que estava começando a endurecer.

Bebi o resto do meu champanhe, esperando que o álcool entorpecesse minha excitação. Mas sabia que não havia cura para o que sentia por Daphne.

Nunca houve.

Nunca haveria.

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Daphne

Eu estava sonhando acordada, sonhando com todas as coisas que eu queria, todas as coisas que poderia ter se tivesse um pouco de coragem.

Mastiguei a ponta da caneta enquanto olhava pela janela no trabalho, vendo alguns carros se moverem para frente e para trás na Main Street. Havia uma loja de ferragens do outro lado da rua, meu coração disparou um pouco quando vi a caminhonete de Alfie estacionar no meio-fio.

Sentei-me um pouco mais reta, meu corpo inteiro instantaneamente aquecendo. Eu me senti uma menininha, minha paixão ao meu alcance, mas sempre fora dos limites.

Não é uma paixonite.

Isso era real e eu estava irremediavelmente apaixonada.

— Parece que você está morrendo de sede e ele é o único copo de água gelada por aí.

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Voltei meu olhar para Patrícia e limpei a garganta, olhando para a minha mesa e fingindo que não tinha sido pega encarando Alfie. Senti minhas bochechas aquecerem desconfortavelmente.

Eu não tinha dúvida de que meu rosto estava vermelho como o inferno. O fato de ela ter me visto olhando Alfie não me envergonha tanto quanto o fato de ter me lido tão facilmente. Quantas vezes ela me viu fazendo a mesma coisa?

Se ela percebeu o quanto o queria, me perguntei se Alfie também poderia saber.

— Eu não sei do que você está falando — murmurei rapidamente e comecei a trabalhar nas faturas.

Ela riu baixinho, e eu olhei para cima para vê-la levantar uma sobrancelha perfeitamente cuidada.

— Realmente? Há quanto tempo trabalho com você?

Dei de ombros e murmurei:

— Alguns anos.

Ela estava com um pequeno sorriso no rosto.

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— E nesses anos, quantas vezes você falou sobre o Senhor Muito Quente?

Foi a minha vez de levantar uma sobrancelha.

— Senhor Muito Quente?

Patrícia deu de ombros, mas sorriu.

— Foi assim que eu o apelidei há um tempo. — Ela levantou os braços, as palmas das mãos em minha direção, como se estivesse se rendendo. — Mas não se preocupe, eu tenho minhas mãos cheias com Trevor. — Ela tinha esse olhar elegante nos olhos e suas bochechas ficaram rosadas. Eu com certeza não queria saber no que estava pensando. — E acredite, ele é todo homem. — Ela balançou as sobrancelhas para mim e depois exalou alegremente. — Mas quanto tempo você ainda vai encará-lo de longe?

Olhei pela janela, mas não vi Alfie, provavelmente porque ele entrou.

— Eu não encaro — eu menti.

— Você é uma mentirosa horrível.

Eu sei.

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Dei de ombros, mas senti meu coração disparar, sabendo que ela estava certa. Eu ainda olhava pela janela na Main Street.

— Provavelmente pelo resto da minha vida — murmurei baixinho, respondendo à pergunta dela sobre a qual tentei mentir.

Ela zombou e eu olhei para ela.

— O que você tem a perder?

Eu pensei sobre a pergunta dela.

Muito.

Tudo.

— A nossa amizade para começar. — Ela não disse nada, mas foi quem olhou pela janela agora.

— Não posso falar por ninguém além de mim mesma, mas se algo estivesse me comendo viva, se a única maneira de me sentir melhor fosse ser honesta, mesmo que essa verdade pudesse cortar o que eu tinha, eu faria. — Ela olhou para mim e havia uma expressão sincera e genuína em seu rosto. — Eu faria, porque lentamente me secaria, Daphne. Lentamente, isso vai estragar o que você tem. — Ela me deu um sorriso triste. — Esses sentimentos vão atrapalhar, ficar entre vocês dois até que seja estranho e desconfortável.

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Eu olhei para ela, ouvindo essa espessura em sua voz, pelo menos ela sabia do que estava falando. Eu senti isso. Ela experimentou. Limpei minha garganta e tentei agir como se eu tivesse minhas coisas juntas. A verdade era que estava ficando muito mais difícil estar perto de Alfie com o que eu sentia. Estava ficando tão difícil que eu estava me sentindo estranha na presença dele, gaguejando sobre minhas palavras, sendo desajeitada na frente dele, nervosa. Não estava agindo como eu. Estava deixando minhas emoções lidar com as coisas, como o que sento por ele atrapalhasse nossa amizade. E eu sabia que, em última análise, seria a ruína do que construímos ao longo de nossas vidas.

Olhei pela janela novamente e vi Alfie saindo da loja de ferragens. Ele tinha alguns sacos de plástico em cada mão, contornou a parte traseira da picape e os colocou na carroceria antes de subir no banco do motorista. Por um momento, ele apenas ficou lá, com as janelas fechadas, manchadas demais para eu vê-lo.

—Confie em mim, Daphne — Patrícia disse suavemente, e suspirei.

Eu sabia que ela estava certa. Então me levantei, alisei minha saia com minhas mãos e olhei para ela.

— Eu volto já.

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Ela sorriu, me afastando com as mãos. Não me incomodei em dizer que não estava prestes a ir até lá e confessar que estava apaixonada por ele há anos. Mas ter a coragem de talvez convidá-lo para jantar foi um começo.

Saí, esperando até que um carro passasse antes de atravessar a rua. A Main Street havia ficado tão movimentada nos últimos dois anos. A cidade estava florescendo, com o aumento de turistas, o que também levou ao tráfego.

Antes que eu chegasse à caminhonete de Alfie, ele abaixou a janela, com um olhar estranho no rosto. Eu podia vê-lo engolir, sua garganta trabalhando pelo ato.

— Ei — ele disse, e eu ouvi algo tão metódico em sua voz, algo que eu não consegui identificar. Ele se mexeu no assento e instantaneamente notei que ele estava agindo um pouco estranho.

— Você está me observando esse tempo todo? — Eu provoquei, mas quando ele não se livrou daquela expressão estranha, eu fiquei preocupada. — Está tudo bem?

Ele limpou a garganta e assentiu.

— Eu vi você vir aqui fora. — minhas sobrancelhas levantaram com o quão estranho ele estava agindo. — E aí? — Ele levantou a mão e

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passou a palma da mão sobre o queixo que tinha barba de um dia cobrindo ate suas bochechas, e eu me senti quente. Parecia tão masculino naquele momento, tão viril.

Ele colocou as mãos no volante, e eu pude ver quão branca estavam as juntas dos dedos, como se ele estivesse apertando o couro com muita força.

— Você está bem?

Ele assentiu, mas não disse nada. Eu olhei de volta para as mãos e manchas de gordura de serra em seus dedos.

— Trabalhando na moto de novo? — Antes de seu pai falecer, cinco anos atrás, ele deu a Alfie uma Harley velha e meio montada. Eu não sabia nada sobre motocicletas, mas sabia que era especial para Alfie, tinha sido especial para seu pai, então Alfie tratou isso como um tesouro, especialmente depois que seu pai faleceu.

Ele não tinha consertado totalmente antes de sair da cidade, a coisa estava guardada na garagem de sua mãe todo esse tempo. Mas desde que voltou e tinha seu próprio lugar, acredito que começou a mexer de novo nela durante seu tempo livre.

Ele olhou para as mãos e o canto da boca se ergueu em um sorriso.

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— Sim. Levarei uma vida inteira para terminar, mas estou lentamente animado.

Houve um silêncio constrangedor e pesado entre nós por um momento depois que ele falou, limpei minha garganta e olhei para os meus sapatos. Usava saltos para o trabalho, que combinavam com minha saia rosa bebê. De repente Alfie estendeu a mão e segurou meu braço, me puxou contra à caminhonete para que meu corpo batesse nela. O ar me deixou violentamente e senti meus olhos se arregalarem quando o choque me encheu. Um carro passou bem atrás de mim, apenas alguns centímetros de onde eu estava parada. O motorista tocou a buzina, misturando-se com a música alta que bombeava pelas janelas abertas.

Alfie estava fora do caminhão um segundo depois, com a mão na minha parte inferior das costas enquanto me mantinha empurrado contra o caminhão.

— Cuidado, seu filho da puta — ele gritou cheio de raiva que eu nunca tinha o ouvido falar antes.

Meu coração estava disparado e a adrenalina pulsava em minhas veias enquanto eu observava o carro desaparecer na estrada antes de sair para uma rua lateral. Ele ainda estava com a mão nas minhas costas, o peso um lembrete de que ele estava me mantendo protegida.

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— Aquele idiota. Ele tem sorte se não o encontrar e bater em sua bunda punk — ele disse baixinho. Gostaria de saber se ele quis dizer para eu ouvir.

Depois de um longo segundo olhando para o carro agora desaparecido, ele finalmente me encarou. Tinha as duas mãos na minha cintura, um olhar preocupado no rosto.

— Deus, Daphne. Você está bem? — Ele levantou a mão em direção ao meu rosto, mas depois enrolou os dedos na palma da mão, como se não quisesse me tocar, como se estivesse com muito medo.

Mas Deus, eu queria que ele me tocasse. Eu balancei a cabeça e lambi meus lábios, olhando para a rua e depois de volta para ele.

—Eu estou bem — eu disse e notei que várias pessoas pararam nas calçadas boquiabertas.

Alfie deve ter me notado olhando por cima do ombro, porque ele se virou e viu todas as pessoas em pé ao redor.

— Que porra é essa? Movam-se, pessoal. — Alguns se apressaram e outros torceram os lábios em desafio, mas eu estava muito focada no fato de que Alfie era tão protetor comigo.

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— Eu juro que essas crianças estão apenas aprendendo a dirigir

— ele lamentou, olhando para mim novamente. Havia tanta preocupação em seu rosto que realmente quebrou meu coração, mas também me emocionou.

— Alfie, eu juro que estou bem — eu disse novamente e sorri para ele. Eu realmente estava bem, embora um pouco abalada com a forma como tudo aconteceu tão rápido. A adrenalina estava definitivamente bombeando em minhas veias, mas eu não podia culpar tudo pelo fato de que quase me tornei uma panqueca de asfalto um segundo atrás. Também tinha a ver com estar extremamente nervosa por convidar Alfie para jantar.

Não era como se eu devesse dizer não, porque ele provavelmente pensava que éramos apenas nós saindo como amigos, mas eu estava tão nervosa, porque não era apenas como amigos. Era mais.

Limpei minha garganta, lambi meus lábios e, em minha mente, estava repetindo o que dizer repetidamente.

— Escute Daphne — disse ele e pigarreou, o som áspero tão masculino que senti cada parte de eu formigar. — Que tal você jantar comigo esta noite?

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Senti meus olhos se arregalarem, embora não tivesse certeza do por que.

— Jantar?

Ele assentiu e me deu um sorriso torto, um que me lembrava de quando éramos mais jovens e ele estava se metendo em algo que provavelmente não deveria. Era uma expressão de culpa, e que eu achei agradável.

— Deixe-me leva-la para sair hoje à noite. — Ele parecia mais otimista, aquele sorriso torto se transformando em um sorriso completo. Meu coração pulou uma batida.

— Tudo bem — eu disse suavemente, talvez muito suavemente para ele ouvir.

Bem, parecia que ele tinha sido o único a dar o salto me convidando para jantar, e eu gostei. Muito. Eu simplesmente não sabia como ele reagiria quando descobrisse meus sentimentos. Porque eu deveria fazer isso hoje à noite, certo?

E por apenas um momento, enquanto ele me olhava com esse sorriso ridiculamente lindo em seu rosto, senti que talvez meus sentimentos não fossem unilaterais.

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Talvez?

Esperançosamente?

Ou talvez fosse apenas uma ilusão. De qualquer forma, foi muito bom.

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Daphne

Mais tarde naquela noite

Minhas bochechas doem de tanto rir.

Eu não conseguia me lembrar da última vez que tive uma noite tão boa. Aqui estava sentada de frente com o Alfie, o restaurante lentamente começando a esvaziar, porque estamos aqui mais de duas horas.

Eu estava tão nervosa ao convidar Alfie para jantar, embora eu tivesse certeza de que ele provavelmente via isso como dois amigos passando uma noite agradavelmente juntos, isso significava muito mais para mim. Eu estava encolhendo os dedos dos pés para criar coragem, tentando me esforçar para contar como me sentia, como estava apaixonada por ele há anos.

Ele se inclinou para frente e ficamos em silêncio por um segundo enquanto nos encarávamos. Ele estava rindo apenas um segundo atrás, mas quando as menininhas passaram, sua expressão ficou séria. Prendi a respiração enquanto compartilhamos o mesmo ar.

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Eu queria beijá-lo.

Eu queria que ele me beijasse.

Mas as coisas precisavam ser ditas antes que essa linha pudesse ser cruzada.

Eu estava ficando excitada, ele nem estava me tocando. Apenas olhou para mim, essa expressão estranha em seu rosto quanto mais os segundos se passaram. Senti meus mamilos pressionarem contra o material do meu sutiã, senti umedecer entre minhas coxas. Deus, apenas olhando em seus olhos azuis, essa reação surgiu em mim.

Vi como sua garganta funcionava enquanto ele engolia, mas o momento foi quebrado quando ele se recostou. Tomei uma grande quantidade de ar, sabendo que tinha que me controlar.

Eu queria que Alfie me olhasse mais do que apenas sua amiga.

Eu queria ser a mulher por quem ele estava apaixonado.

Alfie

EU PODERIA TER FICADO OLHANDO Daphne a noite toda. Ela era tão bonita, linda, perfeita. E quando admitiu durante a nossa conversa

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que me convidaria para jantar, mas eu a venci me senti como se estivesse andando nas nuvens.

O garçom apareceu com dois grandes pratos de bolo de chocolate duplo.

— Nós fazemos com o chocolate da Bélgica — disse o garçom com tanto orgulho em sua voz que você pensaria que ele estava pessoalmente voando para a Europa para comprar o chocolate.

— Parece delicioso — disse ela e sorriu suavemente.

O garçom não se mexeu, apenas olhou para Daphne por um tempo desconfortavelmente longo, e senti meu aborrecimento e necessidade proprietário em relação a ela.

Sentei-me ereto e limpei a garganta, olhando para o garçom. Ele finalmente olhou para mim e estreitei os olhos e não consegui parar o rosnado que me deixou.

— Nós estamos bem — eu bati, sem querer parecer tão possessivo, mas, novamente, não pude evitar. Ele olhou para mim e limpou a garganta antes de assentir uma vez.

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— Deixe-me saber se vocês precisarem de algo — ele murmurou e saiu correndo. O espaço entre Daphne e eu tornou-se espesso, e olhei para ela.

Ela olhou para mim com essa expressão estoica, mas depois começou a rir.

— Oh meu Deus, você o assustou. — Ela cobriu a boca, seus olhos ficando brilhantes. Eu pensei que choraria de diversão.

Ela começou a mexer no bolo e levou um pouco à boca. Porra, ela era sexy trazendo o bolo até sua boca, um pouco de chocolate no lábio inferior. Porra, eu queria lamber.

Pegou o guardanapo, cobrindo a boca com ele, rindo novamente. Limpou o chocolate e eu quase gemi de decepção. Mas, novamente, provavelmente era o melhor, porque eu não seria capaz de me impedir de me inclinar e passar a língua pela boca dela, lambendo-a.

Daphne pegou seu copo de água e tomou um longo gole, me observando por cima da borda. Ainda a encarei. Quero dizer, eu não pude evitar. Ela era linda, inteligente e perfeita.

Ela era minha.

Daphne limpou a boca mais uma vez, sorrindo para mim.

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— Você costuma encarar as pessoas com quem janta?

Senti meu coração disparar.

— Não, só reservo isso para você. — Eu pisquei.

E quando ela me deu o sorriso mais bonito, abri minha boca, quase dizendo a ela tudo o que estava em minha mente. Mas fechei prontamente, não me sentindo como se fosse a hora certa. Queria ficar sozinha com ela, para ser privado quando admitisse como me sentia.

Durante a meia hora seguinte, não fizemos nada além de conversar sobre coisas sem sentido, coisas confortáveis, engraçadas e simplesmente... Perfeitas.

— Então, as coisas foram boas nos últimos anos em que você viveu fora do estado?

Balancei a cabeça, mas a verdade era que não foi.

— Sim, na maior parte, mas... — Limpei a garganta e recostei—me na cadeira.

— O que? O que há de errado?

— Eu apenas senti sua falta. Tanta coisa, Daphne.

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Ela não disse nada por um segundo, mas eu vi como o pulso dela pulou embaixo da orelha.

— Eu também senti sua falta, Alfie. Muito. — Sua garganta se moveu para cima e para baixo quando ela engoliu, e me perguntava o que ela estava pensando.

Um momento prolongado passou e, finalmente, ela se endireitou, me dando um sorriso que parecia um pouco... Nervoso.

— E quanto a relacionamentos, conexões com pessoas? — Ela se inclinou para frente, os antebraços apoiados na mesa. — Amigas? — Essa última palavra foi grossa, quase tensa quando ela disse.

Deus, o próprio pensamento de ver uma mulher que não era Daphne nem era algo que já passou pela minha mente. Nunca. Mas eu não disse isso. Eu balancei minha cabeça.

— Não. — Aquela palavra era agora grossa, tensa para mim.

Meu coração começou a bater mais forte com a forma como ela olhava para mim. Estava lutando para dizer como me sentia por tanto tempo. Tempo demais.

Estávamos destinados a estar juntos.

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Eu juro que pensei que não poderia me apaixonar mais por ela, mas quando olhei em seus grandes olhos azuis, sabia que era verdade, estava me apaixonando por ela todos os dias.

Eu a amava, porra.

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Alfie

Eu não consegui parar de pensar em Daphne e ficou ainda pior desde que jantamos. Fui um covarde, mas disse a mim mesmo que estava lentamente passando por minhas emoções, então teria coragem de dizer a ela como me sinto na hora certa.

Mas pensar em Daphne era uma ocorrência regular para mim, algo que fazia parte de mim, durante toda a minha vida. Minhas emoções por ela eram como meu braço preso ao meu ombro ou minha perna ao meu quadril. O próprio pensamento de não a ter em minha mente parecia terrível.

Mas depois do jantar ontem à noite, apenas estar com ela, curtindo sua companhia, vendo como ela me olhava do outro lado da mesa, me deu esperança de que talvez houvesse algo mais entre nós, uma faísca, uma chama de desejo total. Talvez houvesse algo que cresceu a partir de nossa amizade.

Com certeza esperava que sim. Foi uma fantasia minha por mais tempo do que queria admitir.

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E foi assim que me encontrei em pé na sua porta, com um pacote de seis cervejas em uma mão e um saco de papel cheio de todos os suprimentos necessários para fazer nossa sobremesa favorita. Deveria ter telefonado para ela e dito que estava indo, lhe dando um aviso, mas me vi fazendo todas essas coisas antes de perceber o que estava fazendo.

E então, antes que percebesse, aqui estava, com o meu coração na garganta, a perspectiva de ser realmente honesto a qualquer momento, me fazendo sentir todo tipo de nervosismo.

Levantei minha mão e bati na porta três vezes. Podia ouvir o som de música abafada atravessando a madeira, e um segundo depois, a porta da frente se abriu.

"Rebel Yell", de Billy Idol, ficou claro à medida que filtrava pela sala, mas Daphne estava do outro lado com nada além de um roupão felpudo rosa, chinelos macios, seus cabelos loiros empilhados no alto da cabeça em um coque bagunçado e uma máscara verde cobrindo seu rosto.

Deus, ela era linda mesmo quando não estava toda arrumada.

Inferno, ela era linda de qualquer jeito.

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Não houve um tempo em que Daphne não estivesse fodidamente deslumbrante.

Seus olhos se arregalaram, e eu sabia que se a máscara de lama verde não estivesse cobrindo seu rosto, suas bochechas ficariam rosadas de vergonha por eu tê-la visto relaxada e em seu elemento. Certamente, ela sabia que não me importava com todas as coisas de maquiagem e alta manutenção que as mulheres usavam para se arrumar, certo? Na verdade, amava o fato de que Daphne fosse natural em todos os sentidos. Ela não se importava com nada disso. Nunca se importou.

— Oh meu Deus, Alfie. — Ela alisou as mãos no roupão e depois olhou para si mesma, parecendo perceber que era tudo o que ela usava. Ela levantou a cabeça, arregalando os olhos. — Eu... eu não esperava por você.

Sabia que não deveria ter rido, mas não pude evitar. Ela era muito fofa.

—Eu deveria ter ligado primeiro. Sinto muito — eu disse meu humor morrendo quando fiquei sóbrio vendo como ela estava envergonhada. — Mas queria ver você, pensei que poderíamos até beber um pouco de cerveja e fazer um pouco daquele crumble de pêssego com a cobertura de açúcar mascavo que você é especialista,

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como costumávamos fazer quando éramos crianças. — Pude perceber imediatamente quando seu constrangimento começou a desaparecer, porque o sorriso que ela me deu iluminou todo o maldito espaço entre nós.

Ela olhou para o pacote de cerveja na mão que segurava e depois olhou para o saco de papel no outro braço.

— Você me surpreendeu, porque queria... cozinhar? — ela perguntou então olhou para mim, e eu me perdi em seus olhos azuis.

Limpei a garganta e assenti, sentindo—me um pouco envergonhado por achar que não era bom apenas aparecer na sua porta assim.

— Obviamente não é um bom momento. Eu realmente sinto muito. — Eu estava prestes a virar e ir embora, quando ela estendeu a mão e agarrou meu antebraço, me parando.

Olhei para onde a mão dela me tocava, senti eletricidade, fogo se movendo ao longo da minha pele. Porra, era bom ter seus dedos em mim. Levantei meu olhar rapidamente para olhar seu rosto.

— Não, não vá. Apenas me dê um minuto para lavar a gosma do meu rosto e realmente vestir algumas roupas. Então sorriu docemente

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para mim, e senti vontade de devolver o gesto antes que eu pudesse parar.

Deu um passo para trás para me deixar entrar, e atravessei o limiar, ouvindo a porta se fechar atrás de mim. Ela estava a apenas um pé de onde eu estava sem se mexer enquanto olhamos um para o outro. O ar estava quente entre nós e, enquanto segurávamos o olhar, senti me perdendo uma e outra vez.

— Certo, deixe me limpar. — Ela se virou e se afastou, não pude deixar de encarar sua bunda em forma de pêssego enquanto ela caminhava pelo corredor antes de desaparecer em seu quarto.

Pensei nela por baixo dessa túnica, se estava nua por baixo. Só podia imaginá-la tirando aquele material rosa para revelar todas aquelas curvas deliciosas. Aposto que a pele dela era lisa, macia. Aposto que cheirava tão bem em todos os lugares.

Limpei a garganta e comecei a pensar em beisebol, lavar roupa e até lavar a louça. Estava pensando em qualquer coisa para que meu pau não continuasse a ficar duro ou estaria ostentando um tesão enorme quando ela voltasse.

Fui para a cozinha e coloquei a sacola no balcão. Coloquei a cerveja na geladeira e voltei para a sacola para começar a retirar os

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ingredientes. Fazia anos desde que fizemos essa sobremesa. Era algo que fazíamos quando éramos crianças, algo que nossas mães nos encarregavam de fazer, provavelmente para nos manter longe de problemas. Mas tornou-se uma tradição, algo apenas para nós dois.

Sempre que fazíamos algo, era isso, então quando terminávamos, assistíamos a um filme e comíamos o crumble inteiro de uma só vez.

Deus, eu sentia falta daqueles dias, sentia falta de poder sentar no sofá com ela com um cobertor sobre os nossos colos, a sobremesa entre nós enquanto cavávamos com garfos, sem nos preocuparmos com pratos.

Daphne saiu dez minutos depois, com o rosto recém-lavado e levemente rosa, seu cabelo agora paira sobre seus ombros em ondas soltas. Ela vestiu uma calça de yoga que tinha pequenos corações vermelhos espalhados por toda parte, e sua camiseta branca formou seu corpo com perfeição.

Não fique duro. Você não pode ficar duro.

Ela me deu outro sorriso, e enrolei minhas mãos na borda da ilha da cozinha para me firmar.

— Está com fome? Eu tenho uma pizza assando no forno.

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Bom, ela parecia alheia ao fato de que eu estava quase arrebentando minha calça jeans com minha ereção cada vez maior.

Ela foi até o forno e abriu, então foi a primeira vez que senti o cheiro de queijo e molho. Estava tão focado nela e tudo o que tinha a ver com o que eu sentia que nem tinha notado mais nada.

— Eu ia comer pizza e assistir a um romance idiota. Mas sou a favor de um bom terror, se você quiser? — Ela olhou para mim. — Pode ser como nos velhos tempos.

Meu coração quase parou com essas palavras.

Ainda estava olhando para ela, percebi que passou um longo momento onde eu não disse nada. Ela tinha uma sobrancelha perfeitamente arqueada enquanto olhava para mim, esperando.

Levantei minha mão e esfreguei a parte de trás do meu pescoço.

— Sim, isso parece uma noite realmente perfeita.

Ela se endireitou.

— Sim, é verdade, e então podemos cavar a sobremesa que fizemos enquanto assistimos também.

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Balancei a cabeça, sabendo que provavelmente parecia estar muito feliz. Não poderia ter sido melhor.

Ela se mudou para o outro lado da ilha e abriu um armário baixo, pegando algumas tigelas e colocando-as no balcão de azulejos.

— Você tem açúcar mascavo, nozes?

Terminei de pegar o resto dos ingredientes e mostrei a ela.

— Baby, você sabe que não esqueceria nada do que precisamos.

— Houve um pesado silêncio que caiu sobre nós, percebi que disse um termo carinhoso. Merda, não queria tornar as coisas estranhas, mas a palavra saiu da minha boca.

Ela olhou para todos os ingredientes, e pude ver como ela segurava a borda do balcão, assim como eu.

— Você quer começar a fazer o crumble ou a cobertura?

Não perdi a rapidez com que ela mudou de assunto.

Ela levantou a cabeça e olhou para mim quando eu não respondi.

— Você sabe que eu sempre faço o crumble e você faz a cobertura.

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Suas bochechas estavam rosadas, e me perguntei se o rubor dela tinha a ver com o que disse ou com o que ela estava pensando.

— Pensei que talvez você quisesse agitar um pouco as coisas.

Eu zombei.

— De jeito nenhum. É tradição. Você faz a cobertura. Eu não conseguiria fazer isso tão bem quanto você.

Deus, eu a amava.

Durante a meia hora seguinte, trabalhamos naquele crumble de pêssego como se fosse uma obra de arte. Foco e concentração sempre era uma coisa quando fazíamos isso, mas podia sentir eu olhando para ela? Tentei parar, dizendo a mim mesmo para não ser flagrantemente óbvio, mas ela era tão bonita.

Ela levantou o braço e passou as costas da mão pela bochecha, manchando com sucesso de farinha ao longo da pele. Eu ri baixinho, e ela olhou para mim.

— Acabei sujar todo o meu rosto?

Balancei a cabeça, com um sorriso no meu rosto.

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— Você tem um pouco de algo, algo aqui. — Apontei para sua bochecha, e ela riu suavemente antes de limpá-la, mas tudo o que conseguiu fazer foi manchar ainda mais sua pele. Meu sorriso se tornou uma risada total enquanto caminhava pela ilha da cozinha e parando na frente dela. Levantei minha mão e passei o polegar ao longo de sua bochecha, limpando a farinha, deleitando-me com o fato de que ela era tão macia.

Por longos momentos, apenas fiquei lá, minha mão não a tocando mais, mas nossos olhares travaram, esse momento pesado e suspenso passando entre nós. Poderia dizer que ela foi afetada pelo meu toque, a maneira como suas pupilas estavam dilatadas, o fato de que ela começou há respirar um pouco mais. Mas ela foi afetada porque gostava do meu toque ou porque eu estava cruzando a linha?

Queria tanto contar a ela todas as coisas que guardei durante anos, mas o medo me fez ficar em silêncio, me dando um passo para trás. Eu não queria estragar esta noite, não queria faze-la se sentir desconfortável, uma parte de mim pensou que talvez eu estivesse.

Então, voltei a fazer o crumble, sentindo-a me observando, desejando não estar sendo tão covarde agora. Mas eu sabia, sem dúvida, que um dia, um dia muito em breve, todos os segredos seriam revelados, e minha vida seria mudada para sempre.

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Só não sabia se isso era para melhor ou para pior, porque se ela me rejeitasse, não saberia como ser feliz novamente.

SENTAMOS para assistir ao filme há uma hora, com a assadeira de pizza sobre a mesa de café, mais da metade desaparecida, o prato de crumble ao lado, dois garfos presos na sobremesa, comida na sala. Estava no sofá com as pernas apoiadas, cruzadas nos tornozelos, um braço apoiado na lateral do sofá e o outro na parte de trás. Daphne estava sentada ao meu lado, as pernas apoiadas nas almofadas, à cabeça no meu ombro.

Era bom tê-la assim, nós dois tão relaxados, lembranças de como costumávamos experimentar isso frequentemente tocando em minha mente. Gostaria de não ter aceitado o pedido naquela época, gostaria de ter dito alguma coisa, feito uma jogada. E todos esses anos teriam passado com o desconhecido, com meus sentimentos por ela crescendo e crescendo, me devorando.

Olhei de cima a baixo para ela, mas não conseguia ver seu rosto, apenas a queda de seus cabelos loiros, amando o cheiro que eu sentia. Era como flores, mas mais forte e mais doce. Eu me encontrei inclinando um pouco e fechando os olhos, meu nariz a apenas um

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centímetro de distância do topo da cabeça dela. Inspirei profundamente. Deus, ela cheirava tão bem. Embora tenha dito a mim mesmo que esperaria, que não diria nada até ter certeza de que ela estaria pronta para ouvir, não consegui segurar. Não queria.

Eu me endireitei um pouco e ela se moveu contra mim, sua mão se movendo para repousar no meu abdômen.

— Daphne — eu disse suavemente, minha voz está grossa de emoção. O volume do filme era tão baixo que quase não consegui ouvi- lo, e flashes de cores da tela encheram a sala escura. — Há tanto que queria te dizer, que quero te dizer. — Ela ainda estava com a cabeça no meu ombro, mas não se mexeu. Talvez ela sabia onde isso estava indo?

— Eu queria te dito isso tantas vezes, de tantas maneiras diferentes. — Levantei minha outra mão e a coloquei em seu ombro, enrolando meus dedos em torno de sua pele quente, macia e flexível. — Eu te amo. Eu estou apaixonado por você. — Um batimento cardíaco passou antes de eu continuar. — Você é tudo que eu penso, tudo que eu quero. — Minha garganta ficou tão apertada que quase não sabia se conseguiria dizer as próximas palavras. — Eu te quero há tanto tempo que nem consigo imaginar estar com outra mulher. Nunca estive com uma mulher, Daphne.

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Ela ainda não tinha dito nada, e meu pânico estava aumentando. Mas eu não conseguia parar agora.

— Tudo que sempre quis, foi que você se sentisse da mesma maneira. — Pronto, eu disse, revelei meu segredo mais profundo para a minha melhor amiga e o amor da minha vida. E quando se passaram longos segundos e ainda não tinha dito nada, finalmente olhei para ela. Sua cabeça estava abaixada, então não podia ver seu rosto por causa de seus cabelos estarem cobrindo, não podia ver suas emoções através dele.

Levantei a mão dela e as empurrei, foi à visão que fez meu coração parar. Seus longos cílios repousando sobre suas maçãs do rosto. A expressão relaxada em seu rosto me disse que ela estava dormindo contra mim há algum tempo. Não tinha ouvido nada, ainda estava inconsciente de como me sentia.

E uma parte de mim ficou aliviado, porque estava com tanto medo da rejeição dela, mas outra parte, uma parte mais forte, odiava que ainda não sabia como me sentia. Talvez este era o destino, o destino me dizendo que não era o momento certo, que era muito cedo, que precisava esperar.

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Ou talvez eu só precisasse tentar da próxima vez, olhá-la nos olhos enquanto seguro seu rosto, dizer que a amo mais do que qualquer outra coisa neste mundo, que nunca mais iria me afastar.

Não poderia.

Nunca.

Ela poderia dizer que não me amava, mas sabia, sem a menor dúvida, que tentaria fazê-la mudar de ideia sobre isso. Tentaria até dar meu último suspiro.

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Daphne

— Obrigada novamente por fazer isso.

Olhei para cima quando Karen estava passando por mim. Sorri para ela e levantei minha mão.

— Isso não é um problema. Não é como se não pudesse usar as horas extras de qualquer maneira. — Fiquei até tarde no escritório para ajuda-la a terminar a papelada. Ainda tínhamos mais uma hora antes de terminar, mas disse a Karen que ficaria para que ela pudesse encontrar o namorado para jantar.

Não era como se tivesse planos interessantes de qualquer maneira.

Levantei-me e a segui para fora, trancando a porta assim que foi fechada atrás dela. Fiquei ali um momento, a visão das gotas de chuva na porta de vidro quase hipnotizando enquanto elas lentamente deslizavam.

Fiquei pensando em Alfie, o que provavelmente não deveria fazer, pois era improdutivo, não levaria a nada e me deixava mais deprimida

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do que qualquer outra coisa. Mas pensei naqueles momentos roubados que jurei que tínhamos enquanto cozinhamos juntos outro dia.

Além disso, era difícil parar de pensar nele, no que queria com ele. Especialmente quando pensei nele aparecendo na minha casa inesperadamente, do jeito que o vi olhando para mim, aqueles toques acidentais que compartilhamos enquanto nos movíamos na minha pequena cozinha.

Todas as minhas emoções se levantaram ferozmente naquela noite e se recusaram a recuar.

Podia ouvir o som alto da música do bar do outro lado da rua e isso me tirou dos meus pensamentos. A agência de viagens em que trabalhava estava no centro da cidade. Havia uma pequena loja de flores ao nosso lado, e à esquerda havia um negócio de design de interiores. A mercearia e uma loja de ferragens do outro lado da rua, à direita, mas por alguma razão, eles pensaram que colocar um bar no centro da praça era uma boa ideia.

E supus que sim, dado que estava super cheio na maioria das noites até às duas da manhã.

Voltei para minha mesa e peguei meu telefone, olhando as horas.

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Já eram dez da noite, horas depois que já deveria ter saído do trabalho. Mas a agência de viagens da cidade era extremamente popular, especialmente dada à época do ano em que os turistas queriam ficar no meio do nada, nas cabanas de luxo recém-construídas.

Não estava reclamando. Manter-se ocupada significava segurança no trabalho. E em nossa pequena cidade, não era como se tivéssemos muitas vagas de emprego disponível.

Sentei-me e voltei ao trabalho. O tempo passou muito rapidamente e, quando terminei de inserir a última fatura, fechei o computador e arrumei a mesa. Estava cansada e pronta para dormir ou talvez um banho de espuma quente e um copo de vinho branco.

Ou talvez passar algum tempo com Alfie.

Eu me senti corar com esse pensamento. Porque isso levou a algumas imagens muito intimas correndo pela minha mente.

Balancei a cabeça para limpar meus pensamentos e coloquei meu casaco, olhei para o clima abafado do lado de fora. Chovia sem parar desde a hora do almoço. Agora estava com uma garoa leve e um nevoeiro cobrindo a cidade.

Peguei minhas chaves, minha bolsa e fui em direção à porta da frente.

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Depois de destrancá-la, estendi a mão e desliguei o interruptor na parede. Apenas um segundo se passou, onde estava em plena escuridão, em seguida, algumas luzes de segurança se acenderam, o brilho amarelo iluminou o pequeno escritório.

Saí e fechei a porta, trancando-a atrás de mim. Olhei para o bar por um segundo, apenas vendo uma pessoa lá fora, o som do baixo e música ainda mais alta agora que o vidro e o metal do meu escritório não estavam abafando.

Mesmo à distância, cheirava a cigarro, podia ver uma nuvem de fumaça vinda do homem que estava encostado na lateral do prédio. As luzes da rua estavam intermitentemente posicionadas para cima e para baixo na Main Street, mas onde ele estava haviam sombras escondendo-o.

Sem dúvida, ele era outro bêbado fazendo uma pausa para fumar.

Apertei minha jaqueta um pouco mais, o vinil vermelho liso, lustroso e já parecia molhado. A cidade há essa hora estava praticamente morta, ao lado do bar. Mas todas as pequenas lojas da praça fecharam por volta de seis horas atrás. Se não fosse o bar indecente, seria uma cidade fantasma agora.

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Comecei a caminhar pela calçada, os sapatos que usava provavelmente não eram a melhor ideia, devido ao clima. Os estalos abaixo de mim, e de vez em quando, o som de um carro passando, os pneus correndo sobre as poças d'água, eram a única coisa que se podia ouvir no momento.

Aproximei-me dos prédios para ficar longe do respingo de água suja daqueles carros que passavam aleatoriamente. Levantei meu capuz e cobri minha cabeça, minha bolsa pendurada no ombro, o ar um pouco frio, mesmo para esta época do ano. Meu carro estava no estacionamento da outra rua, a única coisa ruim de trabalhar nesta quadra.

Como não havia estacionamento na Main Street, fomos obrigados a estacionar a um quarteirão de distância, em um estacionamento designado. Normalmente, não era um problema, porque as pessoas estavam deixando seus negócios ao mesmo tempo, o sol ainda não havia se posto e a cidade estava extremamente tranquila. Mas não mentia e dizia que isso não era assustador, andando pela rua, ninguém por perto, esse sentimento sinistro pairando no ar.

Eu era uma pessoa paranoica em geral, lendo muitas histórias de horror nos jornais, assistindo televisão e vendo muitas coisas

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realmente deprimentes acontecendo no mundo. Era difícil não deixar tudo isso afundar.

Enfiei a mão na minha bolsa e peguei minhas chaves, estava prestes a virar a esquina para ir ao estacionamento, quando ouvi passos pesados se aproximando. Olhei por cima do ombro e vi um homem a alguns metros do outro lado da rua. Não era como se ele estivesse sendo intimidador, nem como se estivesse fazendo algo que teria sido alarmante ou ameaçador. Mas apenas tive uma sensação estranha. Era o cara do bar? Talvez ele estivesse apenas vindo para o carro dele? Mas peguei o ritmo, virei à direita no estacionamento e segui direto para o meu carro.

Eu estava prestes a destrancar minha porta quando ouvi cascalho esmagando atrás de mim.

E assim, meu coração parou.

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Daphne

— Ei, olhem lá, Chapeuzinho Vermelho.

Abri a porta, sem me incomodar em dar-lhe a satisfação de responder.

Sua voz estava arrastada, então estava sem dúvida bêbado.

— Ei, onde você está indo?

Tirei meu capuz da cabeça, tirei o telefone, peguei o número de Alfie e estava prestes a ligar, só para estar na linha com alguém, para que o imbecil atrás de mim ficasse assustado e pensando que eu estava pedindo ajuda.

Deveria entrar no meu carro e trancar prontamente a porta, quando o senti agarrar meu braço. Por instinto, apertei o botão Ligar, apesar do som do sangue correndo em meus ouvidos, ouvi o toque do meu telefone e a voz profunda de Alfie apareceu.

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— Olá? — Alfie disse novamente, mas ele parecia distante, mais abafado quando meu coração disparou mais forte, enquanto o pânico brotava dentro de mim. — Daphne?

O cara não tinha feito nada mais do que agarrar meu braço, mas isso foi suficiente para o medo tomar de conta.

— Porra, você é uma mulher e tanto, não é? — Ele me olhou de cima a baixo, levantou o outro braço e abriu minha jaqueta ligeiramente. — Muito para segurar durante uma boa e dura foda.

A raiva cresceu em mim, arranquei meu braço do seu alcance e coloquei minha mão em sua bochecha. O som da carne batendo na carne era alto, limpando minha cabeça e fazendo o medo se dissipar.

Não deixaria ninguém falar comigo dessa maneira.

Ele olhou para mim, com um choque no rosto, uma marca de mão vermelha se formando em sua bochecha. O cheiro de álcool veio dele, cerrei meus dentes quando a bile subiu na minha garganta.

Ele era jovem, inferno, provavelmente da minha idade. Fiquei chocada que ele tinha uma boca tão vulgar ou que ele pensou que poderia falar com alguém dessa maneira.

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— Se você me der licença, eu tenho que chegar em casa. Você está bêbado, o jeito que você está falando comigo e me olhando é extremamente inapropriado. — Estava tentando deixar claro que não iria tolerar a merda dele, mesmo que por dentro estivesse tão preocupada com o que faria, se ele se afastasse. Mas sabia que se desistisse, as coisas só piorariam.

Ou talvez estivesse errada.

Homens que gostavam de tirar vantagem das mulheres gostavam do poder que tinham. Bem, não daria isso a ele.

Ele não se mexeu por longos segundos, e então vi o choque começar a desaparecer de seu rosto. Em seu lugar havia uma raiva bêbada. É claro que ele não podia ser esperto e simplesmente ir embora, perceber que o que estava fazendo era errado, imoral e ilegal. Ele estava me assediando, tentando me intimidar.

Tive meu quinhão de idiotas na vida, tentando me derrubar, para me fazer sentir como se eu fosse menos do que era. Não deixaria um idiota embriagado tentar fazer isso comigo. Não. Foda-se ele.

Ele fez um barulho estranho e estridente profundamente dentro de seu peito, senti meu coração despencar com o som. Ele deu um passo mais perto. Seus olhos estavam vermelhos. E quando ele exalou

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senti um cheiro concentrado de seu hálito com álcool, meu estômago se contraiu de nojo.

Minhas costas estavam pressionadas ao lado do meu carro, e com a chave ainda na fechadura, não podia usá-las para espetar o idiota. Ainda estava com o celular na mão, mas tinha desistido da ligação com Alfie. Ele ainda estava na linha?

Levei o telefone ao ouvido, prestes a começar a falar com ele, dizer o que estava acontecendo, talvez assustar esse merdinha, dizendo que estou sendo assediada, quando ele arrancou meu celular, jogando para o lado que ricocheteou no capô do meu carro antes de pousar no cascalho.

Senti meus olhos se arregalarem com a agressão que vinha dele.

— Que diabos? — Eu murmurei. — Deixe-me em paz. — Ficou claro que ele não gostava de ouvir eu não sendo submissa. Ele provavelmente é um daqueles caras que não aceitavam o não como resposta. Provavelmente tinha síndrome do pau pequeno para acompanhar sua personalidade de merda.

E antes que soubesse o que estava acontecendo, ele colocou a mão no meu cabelo, puxando os fios com força o suficiente para que minha cabeça fosse empurrada para trás. Gritei de choque e

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desconforto, levantei minha mão para agarrar seu pulso, tentando puxá-lo para longe. Mas ele era forte. Por que os bêbados sempre pareciam ter força sobre-humana?

— Solte-me — tentei dizer com um tom forte, que o deixaria saber que não seria uma vítima fácil. Fui me virar, mas ele tinha um poder forte sobre mim e, com uma perna diretamente na minha coxa, acabei tropeçando nela e aterrissando no chão. O cascalho rasgou meus joelhos nus, mas não foi tão doloroso como quando ele me puxou de volta pela nuca e me bateu contra a lateral do meu carro. Ele estava com o rosto perto do meu novamente, e virei minha cabeça, tentando me afastar dele, do fedor de sua intoxicação.

Ele baixou o olhar para o meu peito e, embora soubesse que não podia ver nada por causa da minha jaqueta, senti nojo pelo olhar obsceno que me deu. Abriu a boca para dizer alguma coisa, mas o flash dos faróis entrando no estacionamento momentaneamente me cegou e o fez virar a cabeça nessa direção. Fiz o mesmo, prestes a acenar para quem quer que esteja aqui, pedir ajuda, quando percebi que era uma caminhonete.

O veículo parou derrapando a poucos centímetros de onde estávamos. O filho da puta nem se afastou de mim, talvez um pouco atordoado por quase ter sido atropelado pelo caminhão.

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Meu coração estava batendo tão forte e rápido que doía, suor percorrendo meu corpo, adrenalina correndo através de mim ferozmente.

E então a porta do lado do motorista se abriu, e ouvi duas botas baterem no cascalho antes que a pessoa viesse pela frente do caminhão percebi quem era. Alfie.

Ele olhou na minha direção e depois para o homem me segurando. Vi essa raiva como nunca tinha visto antes cruzar o rosto de Alfie. Pude ver que suas mãos estavam apertadas firmemente ao lado do corpo, assisti enquanto seu peito subia e descia enquanto respirava com mais força.

Antes que soubesse o que estava acontecendo, Alfie estava com a mão em volta da garganta daquele idiota, puxando-o para longe de mim e batendo-o contra o capo de sua caminhonete. Alfie se inclinou para baixo, tão perto do rosto do cara que pude ver os olhos se arregalarem na proximidade.

A boca de Alfie se moveu enquanto ele falava, mas eu não conseguia ouvir o que ele disse. Era muito baixo e profundo, o som do sangue correndo em meus ouvidos ainda muito predominantes, o barulho do motor do caminhão abafando todo o resto.

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Longos segundos se passaram, apenas Alfie olhando para o cara tão intensamente que realmente senti um arrepio na espinha. Engoli em seco, minha ansiedade não tendo nada a ver com o que quase aconteceu e tudo a ver com o que poderia acontecer no momento seguinte.

Ele deu um passo atrás e o cara se endireitou, tropeçando para longe, os olhos arregalados enquanto olhava para Alfie. Parecia aterrorizado. E então fugiu, tropeçando nos pés no processo antes de finalmente desaparecer na esquina.

Fiquei ali por um longo momento, apenas olhando para onde o cara tinha fugido, mas não conseguia me mexer, nem podia dizer nada. Fiquei chocada e assustada, meu corpo estava tão tenso que parecia que alguém havia derramado cimento em minhas veias. Então, lentamente, Alfie virou-se e olhou para mim. A raiva agora se dissipara em seu rosto, em seu lugar, havia uma preocupação clara. Foi então que exalei bruscamente, percebendo que estava segurando a respiração.

Fiquei tonta por um momento antes de me afundar no carro, meus nervos disparando, minhas mãos começando a tremer. Ele não disse nada enquanto se aproximava de mim, me puxou para seus braços e apenas me abraçou. Descansei minha cabeça em seu peito, fechando os olhos e ouvindo a batida constante do seu coração. Isso me

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acalmou, tirou o mau pressentimento de mim, apenas o lavou, apagando esse sentimento.

Não sei quanto tempo ele ficou lá, mas Alfie não disse nada, não se mexeu. Apenas me abraçou, me dando o conforto que precisava. Foi quando me segurou em seus braços, enquanto apertava minha cabeça em seu peito, que percebi o quão assustada realmente estava.

A realidade bateu, a adrenalina desaparecendo, e sabia que se ele não estivesse me segurando, eu teria caído no chão.

— Se você não tivesse aparecido... — Eu sussurrei, mas não terminei minhas palavras. Eu não sabia se tinha me ouvido sobre o barulho do motor. Mas senti seus braços apertarem em volta de mim e sabia que ele tinha.

— Eu não quero pensar nisso — ele disse contra a minha têmpora e depois me deu um beijo suave. — Eu não sei o que faria se algo acontecesse com você. — Sua voz soou tão grossa, tão tensa.

Eu me afastei, mas ainda tinha meus braços em volta da cintura dele. Inclinei minha cabeça e olhei para ele, vendo como suas sobrancelhas estavam arqueadas, preocupação em seu rosto ainda dolorosamente gravada em sua expressão. Queria levantar meu braço e

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passar o dedo entre os olhos dele, suavizar a dor que estava clara que ele sentia.

— O que você disse a ele? — Talvez não quisesse saber. Talvez eu tenha? Mas o que ele disse para aquele cara o fez olhar para Alfie como se sua vida estivesse pendurada naquele momento.

E tive a sensação de que tinha sido.

Ele não respondeu por longos segundos, e me perguntei se responderia. Ele segurou minha bochecha, sua mão grande e quente, a sensação de calos nos dedos me dizendo que homem forte e trabalhador ele era.

— Eu disse a ele que não havia nada mais perigoso do que quando a mulher que um homem amava era ameaçada. — Ele olhou nos meus olhos, e tudo que queria fazer era me perder neles. — Eu disse que deveria mata-lo por pensar que poderia colocar as mãos em você, que teria batido nele com a toda a minha ira se você não estivesse assistindo. — Ele engoliu em seco e ouvi como sua voz era grossa, como essas palavras eram reais para ele. — Disse que, se não fosse embora naquele momento, não seria capaz de controlar a violência que lhe causaria. — Sua voz ficou mais tensa, mais forte. Senti o perigo e a realidade de suas palavras se instalando.

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Ele me puxou para perto novamente, e assobiei quando meu joelho machucado entrou em contato com sua coxa vestida de jeans. Ele se afastou e olhou para a minha perna.

— Porra. — Ele disse aquela palavra solitária severamente. Levantou o olhar e olhou nos meus olhos. — Deixe-me leva-la para minha casa e cuidar de você.

Eu não respondi imediatamente. Nada nunca soou mais perfeito.

— Por favor. Deixe-me cuidar de você, Daphne. — Alfie parecia desesperado, lambi meus lábios e assenti.

— Obrigada — sussurrei, mas realmente, queria dizer muito mais, queria subir na ponta dos pés e pressionar meus lábios nos dele, para dizer como estava apaixonada por ele. Mas, em vez disso, depois que juntamos todas as minhas coisas do chão, deslizei minha mão na dele e o deixei me levar para sua caminhonete.

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Alfie

Talvez não devesse tê-la em minha casa, mas por instinto, queria que estivesse em meu domínio, cercada por minhas coisas... Um local seguro onde pudesse cuidar dela.

Eu a coloquei sentada em uma cadeira, ajoelhei-me na frente dela enquanto cuidava de seus joelhos. Ela suspirou baixinho enquanto os limpei com um pouco de peróxido, e levantei meu olhar para olhar em seu rosto.

— Sinto muito — sussurrei. Odiava que estivesse machucada, e me odiava por ter acrescentado mais dor.

Ela me deu um sorriso suave.

— Está bem. Estou bem. — Ela olhou para os joelhos. — Engraçado como esses pequenos arranhões podem doer tanto.

Olhei de volta para os joelhos dela. Eu não teria citado a eles como

‘pequenos arranhões’, não com a forma que a pele foi raspada quando deve ter caído. Mas Daphne era uma mulher forte. Ela sempre foi.

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— Parece que dói como uma cadela. — Voltei a trabalhar na limpeza de seus joelhos. Minha raiva ainda pulsava em mim enquanto pensava naquele filho da puta a assediando. As coisas que ele a chamou, do jeito que ele tentou tocá-la... Eu deveria ter matado.

— Desculpe-me, você teve que ver isso. Ouvir. — Ela acrescentou essa última parte suavemente, odiava que sentisse algum tipo de vergonha.

Eu me inclinei para trás e a olhei. Queria abraçá-la, beijá- la. Queria contar tudo a ela. Mas eu era um covarde.

— Daphne, as pessoas neste mundo podem ser idiotas inúteis. Você é muito melhor que ele, do que todas as besteiras que ele jogou em você. — Tive que enrolar meus dedos nas palmas das mãos para me impedir de estender a mão e tocá-la. — E estou feliz por estar lá para protege-la. — Apertei minha mandíbula. — Eu deveria ter matado ele. — Não tinha a intenção de dizer a última parte em voz alta, mas assim que saiu dos meus lábios, quando vi os olhos dela se arregalarem, soube que deixara escapar.

Eu não era um homem violento, não deixava a agressão me controlar, mas quando se tratava de Daphne e alguém a machucando, mesmo que essa dor viesse das palavras, era como se essa a fera

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assumisse. Não conseguia me conter, pois tinha jurado acabar com aquele idiota se ele não corresse. E faria tudo de novo.

— Eu sinto muito. Não deveria ter dito isso — falei e adicionei um pouco de pomada antibiótica nos joelhos dela antes de colocar um curativo neles. Isso era uma mentira sobre se arrepender. Não estava, porque faria qualquer coisa para garantir que ela estivesse segura.

Então fiquei sentado de joelhos na frente dela, olhando-a, meu coração trovejando. Ela começou a respirar um pouco mais. As pupilas dela dilataram, observando enquanto entreabria os lábios.

Não sei por que ver todas essas coisas me excitaram, mas senti meu corpo reagir a ela.

Queria contar a ela como me sentia, o que significava para mim. Queria explicar que, mesmo que essa seja a coisa mais louca que nós dois pudéssemos experimentar, tudo o que precisou foi de uma olhada nela para saber que ela deveria estar na minha vida.

Deveria ser minha garota.

Ela sempre foi feita para ser minha.

— Alfie? — A maneira como disse meu nome como uma pergunta, esse pequeno tremor em sua voz, me fez levantar. Ainda estava de

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