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EXECUÇÃO PARA PRESTAÇÃO DE FACTO TÍTULO EXECUTIVO

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 145/13.7TBFUN.L1-2 Relator: TERESA ALBUQUERQUE Sessão: 04 Julho 2013

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: PROCEDENTE

EXECUÇÃO PARA PRESTAÇÃO DE FACTO TÍTULO EXECUTIVO

FIXAÇÃO JUDICIAL DE PRAZO

Sumário

I - O contrato junto aos autos, intitulado “Cessão de Quotas, Renuncia à Gerência e Alteração do Pacto”, importa a constituição dos cessionários das quotas daquela sociedade na obrigação de substituírem por garantias pessoais as garantias dadas pelos sócios cedentes para garantir as obrigações dessa sociedade perante entidades bancárias e instituições de crédito.

II - Essa obrigação configura-se como uma prestação de facto positivo e infungível.

III - Não constando, porém, desse contrato o prazo para o cumprimento dessa obrigação, tem o mesmo que ser fixado na própria execução, que se iniciará por uma fase preliminar que se ultimará com a fixação do prazo, e a que se seguirá, no caso do facto não ser prestado no prazo fixado, a fase executiva propriamente dita.

IV -A notificação judicial avulsa a que os exequentes procederam dos

executados fixando-lhes prazo para aquele efeito é inócua no processamento da execução, porque a mesma não consente que o devedor se pronuncie sobre a adequabilidade do proposto pelo credor.

V -Dizendo-se no referido contrato junto como titulo executivo que os cessionários das quotas daquela sociedade devem substituir por garantias pessoais todas as garantias dadas pelos sócios cedentes para garantir as obrigações dessa sociedade perante entidades bancárias e instituições de crédito, está em causa uma obrigação múltipla e cumulativa, mas demasiado

“genérica” para dar início a uma execução.

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VI- Com a operada notificação judicial avulsa dos aqui executados,

procederam os credores à individualização de duas situações em que aqueles se comprometeram a proceder à substituição das garantias pessoais prestadas por estes, pelo que a execução poderá prosseguir para que os executados, em prazo ainda a fixar, substituam as garantias pessoais prestadas pelos

exequentes junto daquelas duas entidades, sendo em função do valor concreto dessas garantias que, a vir a ter lugar a conversão da execução para prestação de facto em execução para pagamento de quantia certa, se processará a

liquidação do valor a executar no património dos executados.

VII - A circunstância dos exequentes não terem dado inicio à execução pela fase preliminar da fixação de prazo não implica o indeferimento liminar da mesma, devendo o juiz convida-los a suprirem a apontada irregularidade, procedendo à indicação do prazo que tenham por adequado para a prestação do facto.

(Sumário da Relatora)

Texto Integral

Acordam na 2ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Lisboa

I – “A” e “B”, intentaram execução contra “C” e “D”, indicando no impresso próprio, como “objecto” da mesma, “prestação de facto”, como “titulo executivo”, “contrato”, e como “factos”, “consta do titulo”, liquidando a obrigação em 20.000,00 €, valor que atribuíram à execução, juntando-lhe enquanto título executivo um escrito intitulado ““E”- Fruta- Comercialização de Frutas, Lda- Cessão de Quotas, Renuncia à Gerência e Alteração do Pacto”

e a certidão de uma notificação judicial avulsa.

Juntaram também certidão do registo comercial referente à referida sociedade

““E”- Fruta- Comercialização de Frutas, Lda .

Foi proferido o seguinte despacho liminar:

«Nos termos previstos no artigo 812º-E, n.º 1 alínea a) do Código de Processo Civil, o juiz indefere liminarmente o requerimento executivo quando seja manifesta a falta ou insuficiência do título.

Nos termos do artigo 45º, n.º 1 do Código de Processo Civil toda a execução tem por base um título, pelo qual se determinam o fim e os limites da acção executiva. É também pelo título que se afere a legitimidade de exequente e executado (artigo 55º do Código de Processo Civil).

Por outro lado, os títulos executivos são, sem possibilidade de quaisquer excepções, aqueles que são indicados na lei, de acordo com o princípio da

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tipicidade, designadamente no artigo 46º do Código de Processo Civil (Ac. STJ de 04/05/1999, CJ tomo II, p. 83 e Amâncio Ferreira, Curso de Processo de Execução, 9.ª ed., p.26).

O exequente juntou aos autos cópia de um contrato de cessão de quotas e uma notificação judicial avulsa, com vista à alteração das garantias pessoais

assumidas, conforme se fez constar naquele contrato.

Poderíamos discutir estarmos perante um documento particular, nos termos previstos no artigo 46.º, n.º 1 alínea c) do Código de Processo Civil.

No entanto, para além doutros requisitos, os documentos particulares, para se configurarem como títulos executivos têm de importar a “constituição ou

reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja determinado ou determinável por simples cálculo aritmético de acordo com as cláusulas dele constantes, ou de obrigação de entrega de coisa ou de prestação de facto”.

Ora, nos presentes autos dos documentos juntos não decorre qualquer constituição ou reconhecimento de uma obrigação pecuniária, a qual é peticionada. E nem se diga que se trata de uma prestação de facto, uma vez que não é este o pedido deduzido.

Pelo exposto, e nos termos previstos no artigo 812.º-E, n.º 1 alínea a) do Código de Processo Civil, indefiro liminarmente o requerimento executivo apresentado por manifesta falta de título executivo.

Custas pela Exequente, que se fixam no mínimo legal».

Proferido este despacho, requereram os exequentes o esclarecimento do mesmo, referindo terem dado entrada a um requerimento executivo a que juntaram cópia de um contrato de cessão de quotas e uma notificação judicial avulsa, com vista à alteração das garantias pessoais assumidas, e que «o peticionado é uma prestação de facto, aliás conforme referido em formulário da plataforma CITIUS, e não a constituição ou reconhecimento de uma

obrigação pecuniária».

Este pedido de esclarecimento foi indeferido.

II – Notificados, apelaram os exequentes, concluindo as respectivas alegações nos seguintes termos:

1 - Vem o presente recurso interposto da sentença proferida em 27 de Fevereiro de 2013, com a referência 8591389, e de despacho decisório de requerimento de reforma de sentença de 19 de Março com referência

8681645, ambos pelo Tribunal a quo que considerou, nos termos previstos no artigo 812.º – E, n.º 1 alínea a), o indeferimento liminar do requerimento executivo alicerçando-se na sua manifesta falta de título executivo.

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2- Ora, os Recorrentes não se podem conformar com tal entendimento, não tendo a decisão recorrida acolhido devidamente a especificidade da matéria em causa e o âmbito jurídico da mesma.

3 - Com efeito, entendem os ora Recorrentes que decisão diferente se

impunha, designadamente, por não ter sido feita uma correcta subsunção dos factos ao direito.

4- No exercício da sua actividade como sócios-gerentes da sociedade comercial por quotas ““E” – Comercialização de Frutas, Lda.” os ora

recorrentes celebraram com “D” e sua esposa “C” um contrato de “Cessão de Quotas, renúncia à gerência e alteração de pacto”, junto aos autos.

5- Nos termos do mesmo, “D” e sua esposa “C” obrigaram-se a substituir por garantias pessoais todas as garantias dadas pelos Requerentes para garantir as obrigações da sociedade ““E” – Comercialização de Frutas, Lda.”,

6- Perante entidades bancárias e instituições de crédito,

7 - Mais se tendo declarado fiadores e principais pagadores de todas as obrigações da dita sociedade garantidas pelos ora Recorrentes.

8 - Sendo o mesmo contrato, objecto igualmente da notificação judicial avulsa junta aos autos.

9 - Como mesmo referido pelo tribunal recorrido, na correspondente sentença, os ora recorrentes juntaram aos autos um contrato de cessão de quotas e uma notificação judicial avulsa, com vista à alteração das garantias pessoais

assumidas.

10- Acontece que o tribunal recorrido, considerou que o peticionado foi a constituição ou reconhecimento de uma obrigação pecuniária.

11- Mas salvo melhor opinião, não partilhamos da mesma consideração.

12-Conforme peticionado no formulário da petição executiva, é referida uma

“execução para prestação de facto”, não podendo partilhar a consideração de que “E nem se diga que se trata de uma prestação de facto, uma vez que não é este o pedido deduzido”.

13- Sendo tal decisão confirmada em despacho decisório de requerimento de reforma de sentença de 19 de Março, com referência 8681645, considerando ...”a peça processual.. se mostra regular e válida”.

14- A manifesta falta de título executivo, consubstancia motivo de indeferimento liminar do requerimento inicial executivo, nos termos do

art.º812º-E, nº 1, a), do CPC, que foi o preceito citado na decisão ora impugnada.

15- Para que um documento particular se assuma como título executivo exige- se que seja assinado pelo devedor, que importe constituição ou

reconhecimento de obrigações pecuniárias, cujo montante seja determinado ou determinável por simples cálculo aritmético de acordo com as cláusulas

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dele constantes, ou de obrigação de entrega de coisa ou de prestação de facto (art.º 46, n.º 1, alínea c), do CPC).

16- Ora, o tribunal recorrido, fazendo juz a esta última estatuição, indefere “ liminarmente o requerimento executivo apresentado por manifesta falta de título”.

17- Como definição de título executivo, podemos referir que “é o meio legal de demonstração da existência do direito do exequente – ou que estabelece de forma ilidível, a forma daquele direito – cujo lastro material ou corpóreo é um documento [...] que constitui, certifica ou prova uma obrigação exequível, que a lei permite que sirva de base à execução” – Remédio Marques, in “Curso de Processo Executivo Comum”, págs. 55/56.

18- Sendo assim, pelas razões expostas, não andou bem o tribunal recorrido ao proferir o despacho de indeferimento liminar nos moldes em que o fez, impondo-se, nessa medida, a sua revogação.

Por tudo o exposto, deverá ser concedido provimento ao presente recurso interposto pelos ora recorrentes e, nessa medida, ser revogado o despacho recorrido, que deverá ser substituído por um outro que, admitindo

liminarmente o requerimento executivo da exequente, determine o normal prosseguimento dos autos.

Não houve contra alegações.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

III – Importa ter em consideração o conteúdo do acima referido escrito intitulado ““E”- Fruta - Comercialização de Frutas, Lda- Cessão de Quotas, Renuncia à Gerência e Alteração do Pacto, e o da notificação judicial avulsa.

1 - No primeiro constam como outorgantes:

Primeiro – “B” … casado no regime da comunhão de adquiridos com “A”, Segundo- “A” (…), casada no regime da comunhão de adquiridos com “B”, (…) Terceiro – “C” (…), casada no regime da comunhão de adquiridos com “D”, (…) Quarto - “D”, (…), casado no regime da comunhão de adquiridos com “C”, Sendo o seguinte o respectivo conteúdo:

Disseram o primeiro e o segundo outorgantes:

UM- Que são os únicos sócios da sociedade comercial por quotas com a firma

"“E” Fruta Comercialização de Frutas Lda (…), cujo capital social,

inteiramente realizado e registado, de € 5.000,00, correspondente à soma das seguintes quotas: uma, com o valor nominal de € 2.500,00 pertencente ao Primeiro Outorgante e outra, com o valor nominal de € 2500,00 pertencente ao Segundo Outorgante. Que, assim, a sociedade "“E”- Fruta, Comercialização

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de Frutas Lda tem representado a totalidade do seu capital social.

DOIS- Que cedem ao Terceiro e Quarto Outorgantes, as suas referidas quotas da valor nominal de € 2.500,00 de que são titulares no capital social da

sociedade "“E”-Fruta Comercialização de Frutas, Lda sendo uma para o Terceiro Outorgante e outra para o Quarto Outorgante, pelo preço de € 10,000,00 cada uma, que já receberam e do qual dão quitação.

TRÊS- Que estas cessões são feitas com todos os correspondentes e inerentes direitos e obrigações.

QUATRO- Que a sociedade "“E”-Fruta Comercialização de frutas Lda " não possuí bens imóveis.

CINCO- Que renunciam, de imediato, à gerência da sociedade "“E” – Fruta Comercialização de Frutas , Lda.

Disseram o terceiro e quarto outorgantes:

UM- Que aceitam, para si, as cessões nos termos acima exarados.

DOIS- Que declaram ter perfeito e integral conhecimento dos contratos e obrigações assumidos pela sociedade "“E”- Fruta Comercialização Lda", nomeadamente com o IDE - RAM (Instituto de Desenvolvimento Empresarial da Região Autónoma da Madeira), ... CAFÉS, instituições bancárias e contrato de arrendamento onde está instalado o estabelecimento comercial da

sociedade "“E” Fruta Comercialização Lda , no ..., ..., Funchal,

TRÊS - Que obrigam-se a substituir por garantias pessoais todas as garantias dadas pelo Primeiro e Segundo Outorgantes para garantir as obrigações da sociedade "“E” Fruta Comercialização de Frutas Lda ", perante entidades bancárias e instituições de crédito, mais declarando serem pessoalmente responsáveis como fiadores e principais pagadores, solidariamente, por todas as obrigações da sociedade "“E”–Fruta Comercialização de Frutas Lda que tenham sido garantidas pelos Primeiro e Segundo Outorgantes.

QUATRO – Que, como únicos sócios da sociedade "“E”, Fruta Comercialização de Frutas, Lda, estando representada a totalidade do capital social da

Sociedade, no valor de cinco mil euros, deliberaram: -Nomear como gerentes os sócios “D” e “C”.

CINCO – Que estão cientes de que devem solicitar à sociedade "“E”- Fruta Comercialização de Frutas Lda, a promoção do registo comercial obrigatório.

Assim o disseram e outorgaram a 28 de Novembro de 2008 Seguem-se as assinaturas dos quatro outorgantes

2 -No requerimento de notificação judicial avulsa requerem “B” e “A” a notificação de “C” e “D” nos seguintes termos:

1º-Os Requerentes foram sócios-gerentes da sociedade comercial por quotas

"“E” — Fruta - Comercialização de Frutas, Lda.". NIPC ..., possuindo cada um deles uma quota com o valor nominal de € 2.500, perfazendo a sua soma a

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totalidade do capital social desta sociedade.

2°- Em 28 de Novembro de 2008, os Requerentes cederam aos Requeridos as suas quotas na supra referida sociedade, nos termos que melhor constam do Documento denominado de "Cessão de quotas, renúncia à gerência e

alteração do pacto", que se anexa e dá aqui por integralmente reproduzido, tendo igualmente renunciado à gerência dessa sociedade.

3°-Nos termos do referido contrato, os Requeridos obrigaram-se a substituir por garantias pessoais todas as garantias dadas pelos Requerentes para

garantir as obrigações da sociedade "“E” — Fruta - Comercialização de Frutas, Lda." perante entidades bancárias e instituições de crédito, mais se tendo declarado fiadores e principais pagadores de todas as obrigações da dita sociedade garantidas pelos Requerentes.

4º-Sucede que, até à presente data, os Requeridos ainda não procederam à substituição das referidas garantias pessoais prestadas pelos Requerentes, nomeadamente junto das entidades "... – Instituição Financeira de Crédito, S.A." (...) e "... Cafés ... – Comercio ...", conforme se haviam obrigado perante estes através daquele documento.

Nestes termos, (…), requer-se a Notificação Judicial Avulsa dos Requeridos (…

) para, no prazo máximo de 15 (quinze) dias a contar da presente notificação, substituírem todas as garantias pessoais assumidas pelos Requerentes (…) para garantir as obrigações da sociedade "“E” - Fruta - Comercialização de Frutas. Lda.", nomeadamente as prestadas junto das entidades "... –

Instituição Financeira de Crédito, SA" (...) e "... Cafés,... – Comércio de Cafés.

SA".

3- Nos dias 2 e 8/6/2011, foram, respectivamente, notificados “C” e “D”do conteúdo da referida notificação judicial avulsa.

4- Desde 18/12/2008 que se acham registadas na competente Conservatória do Registo Comercial as transmissões de quotas e as designações de novos membros de órgãos sociais da sociedade "“E” — Fruta - Comercialização de Frutas, Lda”.

IV- Constitui objecto do recurso saber se os documentos juntos ao

requerimento executivo constituem titulo executivo relativamente a uma execução para prestação de facto.

Efectivamente, têm os apelantes razão quando acentuam que não

pretenderam e não interpuseram execução para pagamento de quantia certa, mas antes execução para prestação de facto, pelo que os documentos que juntaram ao requerimento executivo têm que ser avaliados como adequados ou não a servirem de título executivo a uma execução desse tipo.

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Assim, o que importa em primeira linha é determinar se os documentos juntos como titulo executivo configuram uma prestação de facto, devendo ter-se presente que segundo o art 46º al c) CPC, à execução (para prestação de facto) podem servir de base «os documentos particulares, assinados pelo devedor que importem constituição ou reconhecimento de (…) obrigações de prestação de facto».

O contrato junto aos autos intitulado ““E”- Fruta - Comercialização de Frutas, Lda- Cessão de Quotas, Renuncia à Gerência e Alteração do Pacto”, importa a constituição dos cessionários das quotas daquela sociedade na obrigação de substituírem por garantias pessoais todas as garantias dadas pelos sócios cedentes para garantir as obrigações dessa sociedade perante entidades bancárias e instituições de crédito.

Trata-se de uma prestação de facto positivo, pois tem por objecto uma actividade do devedor (um “facere”).

E trata-se de uma prestação de facto infungível, já que não pode ser realizada por pessoa diferente dos cessionários que se constituíram como únicos

responsáveis, sendo essencial aos cedentes, credores desse comportamento devido, a pessoa (e património) daqueles devedores.

Na execução para prestação de facto positivo das duas uma: ou o prazo para a prestação do facto está já fixado, ou é necessário fixá-lo.

Mas note-se que é no próprio titulo – que contém a constituição do devedor na obrigação da prestação de facto - que deve constar o prazo dentro do qual deve ser prestado o facto.

O que não sucede na situação dos autos, pois que no aludido contrato de

cessão de quotas não se fez constar qualquer prazo para o cessionários darem cumprimento à referida obrigação de “facere”.

O que significa que está em causa nos autos uma prestação de facto sem prazo determinado.

Para o efeito pretendido – de darem início a uma execução de facto com prazo certo - a notificação judicial avulsa a que os aqui apelantes procederam dos pretendidos executados não surte qualquer efeito.

È certo que constituiu interpelação para os referidos cessionários cumprirem a obrigação, tornando-a exigível e que, não o tendo feito no referido prazo, os mesmos se terão constituído em mora.

Só que essa determinação de prazo para cumprirem é irrelevante para a tramitação da execução para prestação de facto.

Diz a este respeito José A. dos Reis: [1] «Não estando o prazo determinado no

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título, tem de proceder-se previamente à fixação dele. O exequente indicará o prazo que reputa suficiente e requererá que o executado seja citado para, em cinco dias, dizer o que se lhe oferece a esse respeito. Em seguida o juiz

decidirá, ouvido o parecer de perito competente, se o julgar necessário (…) E, pronunciando-se por entendimento doutrinal no sentido de se dever prescindir nessas circunstâncias de ouvir o executado, refere: «Desde que o titulo

executivo nada diz quanto ao prazo da prestação, é razoável que o juiz não o fixe sem ouvir previamente o executado».

Não constando do titulo, o prazo tem de ser fixado na própria execução, dando origem a uma fase preliminar que se ultimará com a fixação do prazo e a que se seguirá a fase executiva propriamente dita que, de todo o modo, só terá lugar se se verificar que o facto não foi prestado no prazo fixado.

Assim, o processo iniciar-se-á com o requerimento do exequente indicando o prazo que reputa suficiente e pedindo a citação do devedor para, no prazo de 20 dias, dizer o que se lhe oferecer; e, estando em causa prestação de facto infungível, poderá o exequente requerer a aplicação de sanção pecuniária compulsória, nos termos da 2ª parte do nº 1 do art 933º (cfr art 939º/1 CPC).

Não havendo motivo para indeferimento liminar, o juiz ordenará a citação do executado para se pronunciar sobre o prazo indicado pelo exequente.

Caso o executado tenha fundamento para se opor à execução, deverá no referido prazo de 20 dias deduzi-la e ao mesmo tempo pronunciar-se sobre o prazo – art 939º/2 CPC. Não pretendendo deduzir oposição, pode por simples requerimento dizer o que achar conveniente sobre o prazo proposto pelo exequente.

Se tiver deduzido oposição, ou o seu recebimento suspende a execução e nesse caso o juiz só fixará o prazo se, e depois daquela ter sido julgada

improcedente; ou não suspende, e então o juiz deve logo fixar o prazo, para o que poderá realizar as diligências que tenha por necessárias (art 940º/1).

Pode o executado prestar o facto no prazo fixado e então não se chegará a iniciar a execução propriamente dita.

Se ele o não prestar, então, e só então, seguir-se-ão os termos da execução da prestação de facto com prazo certo, que se inicia com o requerimento do exequente declarando, na infungibilidade da prestação de facto, pretender a indemnização compensatória – art 940º/2 - sendo o executado agora notificado para o prosseguimento da execução. No prazo de 20 dias poder-se-á opor à execução com base em facto ocorrido posteriormente à citação para a fixação judicial do prazo, desde que seja reconduzível a um dos motivos constantes dos arts 814º a 816º (art 940º/2).

Findo o prazo para a oposição, ou julgados improcedentes os embargos

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quando estes suspendam a execução, dá-se a conversão da execução para prestação de facto em execução para pagamento de quantia certa, que se processa nos mesmos termos da execução para entrega de coisa certa

convertida (art 934º), e se inicia com o incidente de liquidação a que se segue a nomeação de bens à penhora pelo exequente e os demais termos do

processo de execução para pagamento de quantia certa.

O que os apelantes pretendiam era dar início à execução para prestação de facto como se de facto com prazo certo se tratasse, o que não é admissível, como já se referiu por não constar do título executivo a fixação do prazo.

A notificação judicial avulsa não é suficiente para a fixação do prazo, pois que não consente que o devedor se pronuncie sobre a adequabilidade do proposto pelo credor.

Parece que o credor poderá – não querendo recorrer logo à execução – socorrer-se do processo de fixação judicial de prazo, previsto no art 1456º CPC [2], que assegura, ao contrário da notificação judicial avulsa, o

contraditório do devedor (cfr art 1457º/1 CPC).

O que até agora se veio de considerar tem a ver com a exigibilidade da prestação de facto, enquanto pressuposto de exequibilidade, ou condição da acção executiva.

Mas como é bom de ver, a prestação de facto positivo e infungível que já se viu conter-se no contrato junto aos autos dito ““E”- Fruta - Comercialização de Frutas, Lda- Cessão de Quotas, Renuncia à Gerência e Alteração do Pacto”

(respectiva cláusula 3ª), não se mostra desde logo exequível, não apenas em relação ao prazo – acima analisado – mas também relativamente à “certeza”

da obrigação.

Com efeito, dizer-se que esse documento importa a constituição dos

cessionários das quotas daquela sociedade na obrigação de substituírem por garantias pessoais todas as garantias dadas pelos sócios cedentes para garantir as obrigações dessa sociedade perante entidades bancárias e

instituições de crédito, não pode deixar de se ter como demasiado “genérico”

para dar início a uma execução.

Estamos perante uma obrigação complexa ou múltipla (o objecto da prestação é plural, abrangendo vários factos ao mesmo tempo) e cumulativa porque os vários objectos sobre que incidem devem ser efectivamente prestados [3] («

todas as garantias»).

Embora este tipo de obrigação de prestação de facto não exija, por definição, qualquer escolha - como sucede com as obrigações alternativas, cfr arts 543º/1, maxime art 548º CC – exigirá da parte do credor a individualização

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dos vários factos a prestar.

Só deste modo, crê-se, uma obrigação cumulativa vê o seu objecto

suficientemente determinado em termos de se ter como certo e poder dar origem a uma execução para prestação de facto.

A acção executiva, toda ela, pressupõe o incumprimento da obrigação, mas o incumprimento não resulta do próprio título quando a prestação é, perante este, incerta, havendo então que a tornar certa, sem o que a execução não pode prosseguir (art 802º) [4]

Ora, do contrato junto aos autos como título executivo, intitulado ““E”- Fruta - Comercialização de Frutas, Lda- Cessão de Quotas, Renuncia à Gerência e Alteração do Pacto”, não resulta a certeza da prestação nos termos acima referidos, isto é, a individualização das concretas obrigações de “facere” a prestar.

Mas essa individualização já resulta – embora apenas em parte – do conteúdo da notificação judicial avulsa que os apelantes juntaram também ao

requerimento executivo.

Com efeito, com a operada notificação judicial avulsa dos aqui executados, procederam os credores à individualização de duas situações em que aqueles se comprometeram a proceder à substituição das garantias pessoais prestadas por estes, concretamente junto da "... – Instituição Financeira de Crédito, S.A."

(...) e junto da "... Cafés ... – Comercio de Cafés, SA.".

Consequentemente, a execução poderá prosseguir para que os executados, em prazo ainda a fixar, substituam as garantias pessoais prestadas pelos

exequentes junto daquelas duas entidades, sendo em função do valor concreto dessas garantias que, a vir a ter lugar nos termos acima descritos a conversão da execução para prestação de facto em execução para pagamento de quantia certa, se processará a liquidação do valor a executar no património dos

executados, mostrando-se inócua a “liquidação” a que os apelantes

procederam no requerimento executivo, liquidando a obrigação em 20.000,00

€.

Assim, se para efeito de fixação de prazo a notificação judicial avulsa não complementa o título executivo, pelas razões acima expostas, já o

complementa quanto às concretas obrigações de “facere” que os exequentes pretendem ver executadas.

Trata-se neste aspecto da prova complementar do titulo, a que se refere o art 804º nos seus nº 1 e 2, tendo-se aqui em consideração o reparo de Lebre de Freitas [5] quando salienta que estes dispositivos «têm alcance geral, pelo

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que se aplicam, para além dos casos nele expressamente previstos (obrigação dependente de condição suspensiva ou duma prestação por parte do credor ou terceiro) a todos aqueles em que a certeza e a exigibilidade não resultam do titulo executivo, mas já se verificaram antes da propositura da acção executiva (…)».

Resta ponderar se a circunstância dos exequentes não terem dado inicio à execução pela fase preliminar da fixação de prazo implicará o indeferimento liminar da mesma.

Não parece que esta irregularidade no processamento da execução deva merecer resultado tão drástico.

Na verdade há titulo executivo, pelo que se entende que o juiz deve convidar os exequentes a suprir a apontada irregularidade do requerimento executivo, procedendo à indicação do prazo que tenham por adequado para a prestação do facto – que se reconduzirá, concretamente, à substituição das garantias pessoais prestadas pelos exequentes junto das acima referidas entidades - nos termos do o disposto no art 812ºE/3 CPC, aplicável à execução para prestação de facto, ex vi do nº 2 do art 466º CPC [6].

Refere Lebre de Freitas [7] a respeito do despacho de aperfeiçoamento em consequência da falta de certeza ou exigibilidade: «Constitui, no código

revisto, uma orientação fundamental o aproveitamento das acções, mediante o suprimento da falta dos pressupostos processuais, bem como a correcção de irregularidades formais, susceptíveis de sanação (arts 265º/2 e 508º/2) pelo que a orientação que, no caso que nos ocupa, já anteriormente preconizava a solução do aperfeiçoamento é hoje indiscutível ( art 811-B/1) e só no caso de o requerente não aperfeiçoar a petição é que se seguirá, tal como no de falta de apresentação do titulo executivo, o indeferimento liminar (art 811º/B/2)».

V – Pelo exposto, acorda este tribunal em julgar procedente a apelação, ainda que por fundamentos diversos dos indicados pelos apelantes, e revogar o

despacho recorrido, que deverá ser substituído por outro em que se convidem os exequentes a indicar o prazo que reputam suficiente para a prestação de facto pelos executados - que se reconduzirá concretamente à substituição das garantias pessoais prestadas pelos exequentes junto de "... – Instituição

Financeira de Crédito, S.A. (...) e da "... Cafés ... – Comercio de Cafés, SA." - de modo a que se inicie a execução pela fase preliminar a que alude o art 939º/1 CPC.

Sem custas.

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Lisboa, 4 de Julho de 2013

Maria Teresa Albuquerque Isabel Canadas

José Maria Sousa Pinto

--- [1] - «Processo de Execução»- vol 2º 1995 566/567

[2] Neste sentido, se pronunciam Lebre de Freitas e Castro Mendes, cfr Lebre de Freitas, «A Acção Executiva à Luz do Código Revisto», 3ª ed , p 338 nota 28.

[3]- Ver a respeito desta classificação respeitante às obrigações de prestação de factos, que distingue nas obrigações complexas as obrigações cumulativas e as obrigações alternativas, Amâncio Ferreira, «Curso de Processo de

Execução», 7ª ed 96/97

[4] Lebre de Freitas, «A Acção Executiva à Luz do Código Revisto», 3ª ed , p 69

[5]-Obra citada, p 80

[6] - Neste sentido pronunciou-se o Ac RE 24/1/2008 (Fernando Bento)

referindo: «Se o título executivo constituído por uma sentença de condenação na realização de qualquer obra for omissa quanto ao prazo, no requerimento de execução o exequente deve indicar o prazo que reputa suficiente e

requerer a sua fixação judicial; se omitir tal indicação, deve o juiz convida-lo a suprir tal irregularidade»

No Ac RL 13/2/1990 (Rolão Preto) foi entendido que «tratando-se de titulo executivo para prestação de facto, se tal titulo não indicar o prazo em que a obra deve ser concluída, a acção executiva terá de começar pela fase

preliminar de determinação judicial desse prazo, sob pena de inexequibilidade».

E no Ac RL 4/7/1991 (Almeida Valadas) é referido: I - «Necessitando uma obrigação por sua natureza de prazo para ser cumprida, superior a uma fracção insignificante de tempo, há que proceder à respectiva fixação desse prazo. II Não se procedendo a tal fixação, a obrigação é inexigível, não podendo promover-se a execução respectiva»

Referências

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