E n t r e v i s t a
c o m M o i s é s E s p í r i t o
S a n t o
wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Ism ael Pordeus ] r
U niversidade Federal do Ceará
Clara Saraiva
U niversidade N ova de Lisboa
N O TA EX PLICA TIV A
Conheci o professor M oisés Espírito Santo através de seu livro
A
r e l i g i ã o p o p u l a r p o r t u g u e s a , quando com ecei a estudar o processo de
transna-cionalização das religiões afro-brasileiras em Portugal, em 1995. Estive com
ele, nessa m esm a época, em um a rápida conversa, quando fui presenteado
com suas publicações do selo Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões
da U niversidade N ova de Lisboa. A o longo dos anos passei a dialogar com ele
sobre a recom posição do cam po religioso português, m odificado depois de
25 de abril de 1974, com a cham ada Revolução dos Cravos, através de sua
vasta bibliografia, em busca de com preensão das práticas religiosas lusas.
M oisés Espírito Santo foi um dos prim eiros sociólogos portugueses
a se debruçar cientificam ente e dar inteligibilidade sociológica e em ográfica
à
cultura tradicional portuguesa. Perm anece um a referência nos estudos deSociologia da Religião em Portugal. Sua prim eira especialização voltou-se
para a Sociologia Rural, com a m onografia C o m u n i d a d e r u r a l a o n o r t e d o T e j o ,
defendida na França (EH ESS), em 1976. D eu continuidade
à
sua form ação,com a Tese de D outorado L a r e l i g i o n p a y s a n n e d a n s l e n o r d d u P o r t u g a L ,
de-fendida na m esm a instituição, em 1979, fruto de pesquisa que resultou na
publicação do clássico A r e l i g i ã o p o p u l a r e m P o r t u g a l . Em seus estudos
poste-riores, voltou-se para as culturas do M editerrâneo, a identidade m editerrânica
das populações do território português, com as m atrizes culturais fenícias/
cananéias/púnicas/cartaginesas com uns a todo seu território, m as com m aior
incidência no noroeste Português, algum as zonas de Trás-os-M ontes e das
Beiras. D essas pesquisas em ergiu um livro que causou polêm ica com ecos
Professor catedrático, aposentado, responsável pelas cadeiras de
sociologia da vida religiosa, sociologia rural aprofundada, sociologia da
vida cotidiana e etno-sociologia das sociedades m editerrâneas, dirigiu a
pós-graduação em sociologia do sim bólico e do pensam ento religioso,
sendo co-fundador e presidente do Instituto de Sociologia e Etnologia
das Religiões e do Instituto M editerrâneo, am bos da U niversidade N ova
de Lisboa. Foi fundador e diretor de várias revistas acadêm icas. Continua
ainda a trabalhar regularm ente na U niversidade, dividindo com um outro
pesquisador seu pequeno gabinete, em m uito se assem elhando a um
alfar-rabista, onde as estantes transbordam de pilhas de teses, livros e arquivos.
Com o concurso da professora Clara Saraiva, o diálogo que se segue ocorreu
neste espaço de trabalho, na U niversidade N ova de Lisboa
Prof. Ism ael Pordeus Jr.
Clara Saraiva: Eu gostaria de saber porque o professor decidiu
es-tudar religião.
M oisés Espiríto Santo: Foi o professor Placide Ram baud que m e encorajou.
Inicialm ente eu m e interessei m uito pela sociologia rural. Fui o prim eiro
sociólogo do país a se debruçar sobre a questão. Com eçou-se a fazer essas
atividades em 1940, 1950. Então, eu fiz um trabalhinho bem feitinho, sobre
um a aldeia, num a freguesia ali no V ale de Leiria. D epois do 25 de abril, eu já
pude ir lá visitar e tal. D epois eu quis fazer doutoram ento sobre a integração
da im igração e o professor m e disse: "N ão! V ocê tem m uito jeito pra religião.
Porque não se dedica ao tem a?". Bom , foi um a sugestão dele.
CS: Isso tem haver com sua história de vida quando ficou
fora de Portugal?
M ES: Bem , eu tinha notado que a religião dos portugueses não se integrava
na religião dos franceses em França. Então, eu reparei que esses senhores
têm lá as rezinhas deles, vão lá nas capelas ... M uitos portugueses faziam seus
votos pra N ossa Senhora de Fátim a. Era o sinal de um a visão patriótica. Era
a ligação com a terra. E quando eles vinham a Portugal passar as férias eram
os grandes financiadores das festas das aldeias. Tem os aí qualquer coisa que
não é só a ligação com a Igreja Católica. Por isso m e interessei pela religião
280
popular e não necessariam ente pela sociologia clássica da religião, que trata de
quantificar as coisas, sem se preocupar com a dinâm ica das instituições.
Ism ael Pordeus: Penso nos estudos da sociologia francesa sobre o
cato-licism o, quando o senhor fala em quantificar. Penso que é Le Brás que
dizia que o francês quando m igrava para Paris deixava na estação de
M ontparnasse suas crenças religiosas e se tornava ateu.
M ES: O que m e interessa m esm o são as vivências populares da religião,
independentem ente das instituições eclesiásticas, e com isso as próprias
ins-tituições eclesiásticas e a Igreja Católica que, entre nós, aproveitou-se m uito
dos m eus trabalhos. O s sem inaristas continuam a ler os m eus livros, aqueles
que são obrigatórios nos sem inários. Eles vão ver o nosso objetivo, a nossa
análise sociológica dos cultos populares, pregões que não são cristãos e não
t m nada a ver com cristianism o. E eles dão a volta, tentando m odificar ao
m áxim o a im agem pela letra. D izem que a procissão passa por determ inado
sitio e a m odificam do paganism o que a gente encontra.
lP: O senhor está dizendo que eles recom põem os cam inhos das
práticas tradicionais e, ao m esm o tem po, recom põem os sím bolos e
os integram
à
doutrina do catolicism o, escam oteando essas práticasentenárias existentes?
M ES: Sim .
É
um efeito perverso de nosso trabalho. Eu não gosto nada de ouviriss . Q uando eles vêm m e dizer aquilo que aprenderam para "corrigir", isso é
para m im m uito desagradável. Então, a gente não vai fazer um trabalho para
s r elim inado, estragado. N a Beira A lta e Baixa percorri as im agens e descobri
que algum as eram de N ossa Senhora feitas pelos cristãos novos para disfarçarem
a sua própria religião perante o poder católico. Eu escrevi um livrinho sobre
is o e então as im agens foram roubadas. Estam os aqui a fazer um trabalho de
análise das coisas e depois vem alguém apanhar as nossas inform ações para
desfazê-Ias, para subverter o nosso trabalho. Esse trabalho de etnólogo às vezes
tem esses efeitos perversos, negativos. M as tam bém não com pete a m im estar a
guardar essas im agens.
É
com plicado, pois às vezes estam os a revelar aos ladrõesonde há belas coisas, com valor artístico, histórico e patrim onial.
IP: N esse sentido de práticas tradicionais, em m inhas pesquisas aqui
em Portugal, m e deparei com rituais que não diria que sejam de m atriz
a& o-brasileira, em bora tenham pessoas que pertençam ao afro-brasileiro
e tenham práticas relacionadas ao catolicism o. Foram indicadas capelas
onde rituais de cura eram praticados. Fui a V ila N ova de G aia, M iram ar,
com pessoas relacionadas a tais práticas. Tam bém visitei a Capela do
Senhor dos M ilagres ou Senhor dos A m arrados e a capela do Senhor da
Pedra. Realizavam rituais de lim peza e de exorcism o dentro da própria
capela, tanto num a com o na outra. Realizei um percurso nas capelas em
torno da cidade do Porto, no Senhor da Pedra, Senhor dos A m arrados,
Senhor dos M atozinhos, Braga, tam bém no Calvário dos H úngaros
em Fátim a, próxim o
à
casa dos Três Pastores ete. Existia um núm eroexpressivo de pessoas, de "curandeiras" que trabalham nesse "circuito
de capelas". N as pesquisas realizadas pelo senhor, foram identificadas
práticas relativas a esses rituais?
M ES: V ocê falou na Capela do Senhor dos A m arrados que é lá em V ila
N ova de G aia. Eu fui lá. H avia duas pessoas. Eu estava com um colega e
queria ir dentro da capelinha. Esperam os que as pessoas saíssem . Percebi
que um a era bruxa, porque sei que ali é freqüentado por bruxas ou por
vi-dentes, curandeiros. Esperava que as pessoas saíssem para eu ir visitar e saiu
um a pessoa de lá, olhou para nós e disse assim :
"Ah!
O s senhores queremtam bém vir na consulta? Eu disse: "N ão! Só vim os visitar a capela!" M as
ela acabou fazendo a nossa consulta e disse: " V ocê e aquele senhor ... Eu
estou a ver que já tiveram as doenças tal, tal e tal". Eu disse: "A certou três
doenças que nós tivem os, cada um a sua". Eu fiquei im pressionado. N ão sei
com o foi descobrir que já tínham os tido aquelas doenças, nessa capelinha
do Senhor dos A m arrados. D epois eu consultei várias pessoas para saber
de suas experiências, para saber se era possível, por olhar e dizer. D isseram
que sim , que há pessoas que até conseguem ver no subsolo se há vestígios
arqueológicos, se há cadáveres em terraços, se há escritos nos subsolos.
M as nesse dia do Senhor dos A m arrados eu fiquei m uito im pressionado.
Claro que eu podia ter perguntado o nom e da pessoa, m as eu fiquei tão
encavacado que não fui.
IP: Pelo que m e foi falado há um a circulação relevante de pessoas,
videntes, bruxas que circulam nestas duas capelas em M iram ar. Pude
constatar em um a das vezes que lá fui, um senhor dando consulta dentro
da própria capela e pessoas sentadas em bancos próxim os
à
espera dec r'111 atendidas. Este tipo de prática tradicional de rezas em capelas
'O ll1um no norte de Portugal?
M E
:
Isso âo práticas que não são m uito solicitadas. São m uito discretas.I\s
I
ssoas aconselham m uito discretam ente a irm os a determ inados sítios.I'.ss<
s pessoas às vezes circulam . A s videntes estão restritas a determ inados10
ais. A s pessoas é que circulam de um santuário a outro, tam bém poror 1 m e por m ando delas. Elas próprias é que dizem : "V á por um a velinha
l.i m Fátim a em tal sítio, na tal capela." Elas próprias que lhes dizem . A s
p .ssoas circulam , por exem plo, em um culto de êxtase ou transe. N ão sei
S ' conheces ali perto de Entroncam ento, isso tá um bocado m udado. Fui
luando estava ainda num a m aneira um pouco selvagem , digam os assim ,
no sentido puro, popular, sem o controle institucional. Fiquei sabendo de
um culto espontâneo. Peguei os alunos de sociologia do prim eiro ano e fui
U.
A s pessoas praticavam o transe, refugiavam -se lá nos olivais, no m ar. Láonsultavarn uns aos outros e exorcizavam -se. A lguns entravam em transe,
beijavam o chão, punham terra na cara, bebiam água do chão. U m a coisa
m uito curiosa, não sei se ainda há no Entroncam ento, na Senhora da Ladeira.
Era um culto de transe coletivo. A própria senhora da Conceição organizava
isso. D epois ela foi m ais ou m enos proibida, aconselhada a não fazer. D epois
riou-se a paróquia ortodoxa e a partir daí ela própria condenava os espíritas.
Esse culto com eçou com o um transe coletivo, m as nesse sentido popular.
Tinham pessoas que sabiam falar m ais e convencer e tom avam a palavra
no grupo. U m as pessoas se colocavam m ais do que outras. O s espíritos se
m anifestavam m ais, com o eles diziam .
IP: Estive lá sim . U m a dissidência da Igreja O rtodoxa polonesa lá se
instalou, m as quem exercia a liderança era essa senhora (da Conceição).
V am os agora tratar do seu livro,
SRQPONMLKJIHGFEDCBA
R e l i g i ã o n a m u d a n ç a : a n o v a e r a ,onde é feita um a leitura dessa recom posição das práticas religiosas no
Portugal contem porâneo ...
É
disso que trata esse livro, onde o senhorfala da recom posição do cam po religioso português, com essas novas
religiões que aqui chegaram .
M ES: Esse foi editado há m uito tem po ...
CS: A ntes do senhor responder a pergunta do professor Ism ael sobre o
cam po religioso, gostaria de saber a sua opinião sobre as reações polêm icas
M ES: Só m e fizeram rir, porque eu náo tenho nada a ver com aquelas
polêm icas. H ouve um a polêm ica entre o V aticano e o governo do Irã. O
V aticano, por causa de Fátim a. D epois o Irã e o governo português, por
m eio do M inistério dos N egócios Estrangeiros. M inha reação foi totalm ente
de indiferença a essa polêm ica, até porque o livro foi traduzido e adaptado
sem m inha autorização lá no Irã, sem eu saber de nada. Tanto que m inha
reação foi a de estar
à
m argem dessas polêm icas. Eu procurei fazer o livro om ais sério possível. Fiz um a com paração entre os antigos cultos fatim idas
e a aparição de N ossa Senhora. Tanto que estou
à
espera que m e apanhemnum errozinho que seja. Fátim a e os seus arredores estão im pregnados,
no inconsciente coletivo, por um a cultura herdada do tem po da facção
fatim ida dos m ouros que, na época, relatavam a visão de um a senhora de
luz que consideravam ser Fátim a, a filha de M uham m ad. Esse livro já teve
várias edições, está im pecável. H á debates sobre o livro, não cito qualquer
interesse m eu, m e afastei disso. Eu evitava falar m uito sobre essa questão:
se quisessem lessem o livro e m ais nada. Eu não estava para polem izar.
A lguns entendiam que eu estava a fazer um a apologia do Islã X iita. Eu
dizia não saber m uito dessas polêm icas, m e lim itando a escrever livros. Eu
sei que houve pessoas que m e consultaram , queriam falar com igo porque
pretendiam instalar um a m esquita para o lado da serra. Eu disse: "O lha,
eu não posso aconselhar nada. Tem de ir as câm aras. Perguntem as câm aras
onde podem construir m esquitas, porque eu não sei nada dessas questões
de urbanism o. Eu não percebo nada disso!" Q uando o senhor xiita falou,
fiquei com m edo. Pensei: "A gora essa gente está a m e chatear!". Eu não vou
entrar nessas polêm icas, m e lim ito a fazer análises religiosas e m ais nada.
Portanto, a m inha reação foi essa: um pouco de indiferença. A inda existem
grupos islâm icos que vão a Fátim a. Só estou
à
espera de críticas ao livro,que digam que isso ou aquilo está incorreto.
IP: Professor M oisés, o senhor poderia falar um pouco dessas m
udan-ças nas práticas religiosas portuguesas, no Portugal contem porâneo?
É
disso, afinal, que trata um pouco esse livro. A N ova Era e a pluralidade
religiosa significam a perda da hegem onia da Igreja Católica?
M ES: O livro trata disso de fato. H á um a m udança religiosa entre nós, que
é a passagem da religião colerivista das aldeias, para um a religião lim
ita-da, individual, entendida na consciência de cada um . Isso é m uito visível
nas práticas religiosas.
É
um a análise tipicam ente sociológica. N ós vem os284
s textos produzidos e perm itidos pela Igreja Católica, quantificam os o
núm ero de pessoas nos cultos, nas capelas, realizam os entrevistas e depois
r 'param os que essa Igreja Católica está em decadência. N ão exatam ente
a Igreja Católica, m as o catolicism o está em perdição. ~u diria q~~ está
p rdido enquanto doutrina de fé. A s pessoas podem aderIr, ao catohCl~m o,
m as é por dependência eclesiástica. São dependentes do paroco, do bispo,
porque consideram o senhor patriarca com o um senhor sim pático: que é
m uito hum ano etc. N inguém acredita ou m uito pouca gente acredita que
para se salvar, tenha que se batizar ou tenha que passar pelos sacram entos
da Igreja Católica. A s pessoas perderam essa idéia, m as "não perd:,ram a
noção da religião com D eus. Isso é o que eu cham o de a N ova Era : um a
relação perfeitam ente individual criada por cada um na sua relação co~
D eus. Essa é a fase histórica da religião católica portuguesa, que eu associo
m uito aos costum es da N ova Era. Essa é a tendência atual: relações
espiri-tuais individualistas e individualizantes com o sagrado, que as pessoas nem
sem pre sabem o que é.
IP: Seria um a pista o que fala o Luis D um ond em
SRQPONMLKJIHGFEDCBA
I n d i v i d u a l i s m o : ar e l i g i ã o n o m u n d o e fo r a d o m u n d o ?
M ES:
É
isso o individualism o sociológico que trata o D um ond e outros.Esse individualism o é pouco conhecido em Portugal. N ós não o sabem os
por causa da Inquisição, do fascism o, da ignorância popular e do
cornuni-tarism o aldeão que não deixam que as pessoas sejam autônom as e pensem
de um a m aneira diferente. Esse individualism o sociológico só atualm ente
é que está a se instalar, por volta dos anos 50 e 60 (do século X X ). H oje é
praticam ente a posição aceita por um a grande m assa de portugueses: m an:er
um a relação individual com D eus. Essa que é a religião criativa, por~ue
111-venta m aneiras próprias de ser religioso. E aí que entram todas as novidades
religiosas. N ós estam os m uito atrasados em relação aos países da Europa e
da A m érica, m as já estarnos a viver essa fase da adoção individual de um a
constataçâo religiosa, criada pelo próprio indivíduo. O indivíduo cria um
conjunto de crenças e passa a ser aquela a sua religião. N ós vam os ~ Fátim a
e encontram os lá pessoas que não acreditam em D eus, m as acreditam em
N ossa Senhora, nessa potência energética m aternal. O utros acreditam em
D eus, no evangelho e em N ossa Senhora. Enfim , essa é um a posição típica
da N ova Era: cada um cria a sua própria constatação religiosa.
IP:
o
que eu estava a falar não é ponto de reflexão talvez do senhor, m aseu tenho m uita vontade de discutir com o um a sociedade, com o a
por-tuguesa, que objetiva o individualism o e a m odernidade (avassaladoras
em Portugal nos últim os trinta anos), entra na Com unidade Econôm ica
Européia e, ao m esm o tem po, m antêm grupos que utilizam a técnica
de possessão com o um a form a de se com unicar com o num inoso, o
sagrado ... Q uer dizer, usam um a técnica que é categorizada com o um a
form a arcaica e até bem pouco tem po "patológica".
M ES: M as aí não há contradição porque o pensam ento religioso não é
estanque. O s indivíduos são perm utáveis. O pensam ento religioso é
inrer-penetrante. N unca se acreditou tanto com o agora na transm issão de
pen-sam ento, vidas passadas, reencarnação ... Isso é típico da m odernidade, que
não contradiz o individualism o, porque as constelações sim bólicas criadas
pelos indivíduos se integram
à
grande constelação cósm ica da N ova Era,que é prom otO ra de energias de com unicação, entende? O transe é típico
dessas com unidades da N ova Era.
IP: Q uer dizer que eu poderia, de um a certa m aneira, olhar esse processo
de transnacionalidade das religiões afro-brasileiras para Portugal com o
um m ovim ento da N ova Era, o neo-a& o-brasileiro?
M ES: Sim , é tudo
SRQPONMLKJIHGFEDCBA
n e o .É
um a adaptação m oderna. N ós dizem os que osseres hum anos perm utam , tam bém são correntes m odernas da energética.
A s energias do cosm os m anifestam -se nos hum anos e através de elem entos
naturais. O que já não existe é o conceito tradicional de D eus. Isso
desapare-ceu. D eus passou a ser um processo energético que é m uito difícil de explicar
e cada um entende com o a sua fé lhes dita. Portanto, o neo-africanism o e
o neo-anirnism o são processos tipicam ente da N ova Era. São ligações de
perm uta energética entre os seres e a natureza. O transe vem exatam ente aí:
perm utar energia e influenciar outros seres, entrar na consciência do outro.
H á correntes evangélicas m odernas que praticam m uito o transe, a festa e
a euforia dentro de um a assem bléia. Essa euforia é libertadora. Esses rituais
são libertadores. São variantes dos antigos ritos de possessão e de exorcism o.
ão
variantes m odernas.É
na N ova Era que todos esses m ovim entos estãosendo ressuscitados porque de fato eles entram nesses elem entos cósm icos
da perm uta e m esm o nessas idéias políticas m odernas da globalização: já
não há fronteiras, tudo isso vai no cam inho da globalidade cósm ica.
I
Pl
Passei um ano a fazer um a pesquisa aqui e olhei m uita bibliografia.S .\. que eu não investiguei bem ou realm ente há pouca produção na área
tI.1
o iologia da religião, em decorrência da Iaícizaçâo da universidade.Pur que náo se olha m ais para o fenôm eno religioso português?
M E: 1 lá pouca coisa. H á am adores, jovens que se interessam pela
reli-j\lolO, m a não fazem vida disso. H á pessoas que vem para universidade,
IlIolS querem ser gestO res de em presas. O m eio é pequeno. A liás, eu tenho
\C') trô professores colegas de sociologia da religião aqui em Portugal. Para
clol!' um exem plo: aqui na universidade eu não encontrei ninguém que m e
,"b
tituísse. V ou continuar aqui um pouco, m as vou em bora um dia e m ecll\~ ram que eu não seria substituído por ninguém . A pesar do trabalho que
(li c.lesenvolvi e continuo a desenvolver, a universidade não tem dinheiro
p.lra dar a um sociólogo preocupado em pesquisar religiosidade ou dar aula
li
os ciologia da religião. A gora com o Bolonha vai ficar pior.: : N ão sei com o pode haver um curso de antropologia sem haver um a
(li ciplina de antropologia da religião.
M ES: Entre nós esses pragm atism os nunca deixaram de funcionar. Eu tive
vários alunos que eu quis encorajar e eles diziam : "D epois, o que é que eu
v u fazer com isso?" M uita gente se interessa, m as não há m uita produção.
l
lá
publicações locais, nas aldeias.: Eu trabalho no M inho e há m uitas pessoas que deixaram de ir
à
bruxa, m as vão as igrejas evangélicas.
M ES: A s igrejas evangélicas não estão m uito longe do catolícism o. N ós é
que vem os m udanças na relação com o coletivo. A s pessoas que optam tem
colhas. A escolha já é um sintom a da m odernidade entre nós. Em relação
à
religião, as pessoas m udam sem pre para m elhor. E por isso que m udam .A s m udanças são sintom as de m odernidade.
CS: H á m uita gente hoje em dia, nessa configuração do cam po religioso,
que vai a várias coisas. A ntigam ente havia m enos opções.
M ES: A s pessoas circulam . Procuram o que m elhor às satisfazem .
CS: Em relação ao futuro do Instituto de Sociologia e Etnologia das
Religiões, visto que o professor foi a alm a desse Instituto, o que é que
MES:
wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Eu estou em discussão com os colegas para ver com o é que a gentevai continuar esse trabalho, m as a universidade tam bém não ajuda m uito
por causa da burocracia. N ão tem os salas pra trabalhar, por exem plo. Estou
em discussão com alguns colegas para m anter o Instituto para além do que
eu faço. Estou
à
espera de todas as idéias, de todas as pessoas que queiramaderir, queiram vir criar um pequeno núcleo e continuar.
OBRAS DE
M orsss
EspíRITO SANTO:1972 -
SRQPONMLKJIHGFEDCBA
U n V i l l a g e P o r t u g a i s (em co-autoria com N icole Cherbuet). Saint D enis: Logernent er prom otion sociale, 45 páginas.1977 -
L e G e a n t A d a m a s t o r e t A t a r e s C o n t e s d u P o r t u g a l (em co-autoriacom M aria Padez-K orzi). Paris: La Farandole, 60 páginas.
1980 -
C o m u n i d a d e r u r a l a o n o r t e d o T e j o . Estudo de sociologia rural (com prefácio de Placide Ram baud). Lisboa: Instituto de Estudos para o D esenvolvim ento, 222 páginas.1981 -
P o r t u g a l e a a r t e p o p u l a r : diapositivos com entados (com revisão de M aria Beatriz Rocha Trindade). Lisboa: Instituto de A poio à Em igração e às Com unidades Portuguesas, 18 páginas.1984 -
A r e l i g i ã o p o p u l a r p o r t u g u e s a (com prefácio de Ém ile Poulat), Lis-boa: Edições A Regra do Jogo, 270 páginas; 2" edição: Lisboa, A ssírio &A lvim , Colecção Peninsulares/Especial, n021, 1990,296 páginas (2'edição revista e aum entada, com várias reim pressôes).
1987 -
O C o n c e l h o d a B a t a l h a (com fotografias e design de Severino Pereira). Lisboa: Câm ara M unicipal da Batalha, 140 páginas.1988 -
O r i g e m o r i e n t a i s d a r e l i g i ã o p o p u l a r p o r t u g u e s a . Seguido deE n-s a i o s o b r e t o p o n í m i a a n t i g a (com posfácio de N atália Correia). Lisboa:
A ssírio & A lvim , Colecção Peninsulares/Especial nO 10, 395 páginas (várias reim pressôes).
1989 -
F o n t e s r e m o t a s d a c u l t u r a p o r t u g u e s a . Lisboa: A ssírio & A lvim , Colecção Peninsulares/Especial n016, 396 páginas (várias reirnpressôes).1993 -
O r i g e m d o c r i s t i a n i s m o p o r t u g u ê s . Precedido deA d e u s a s i r i a , deLuciano de Sam oçaea. Lisboa: Instituto de Socologia e Ernologia das
288
Religiões da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica, 2000, 242 páginas (1aedição), 1997 (2'edição).
1993 -
D i c i o n á r i o j e n í c i o - p o r t u g u ê s : 10 000 vocábulos das línguas e dialectos falados pelos fenícios e cartagineses desde o século X X X a.c., englobando o fenício, o acadiano, o assírio e o hebraico bíblico. Lisboa: Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica, 2000, 290 páginas (2' edição: 1994).1995 -
L i ç ã o : Introdução Sociológica aoIslâo. V ila N ova de G aia.Estra-tégicas Criativas, 64 páginas (Lição para a obtenção do grau de Professor A gregado em Sociologia das Religiões, proferida na Faculdade de Ciências Sociais e H um anas da U niversidade N ova de Lisboa, nos dias 27 e 28 de m arço de 1995)
1995 -
O s m o u r o s fa t i m i d a s e a s a p a r i ç õ e s d e F á t i m a . Lisboa: Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica, 2000, 400 páginas (quatro edições). A quarta edição (1998) foi m elhorada e aum entada. Foi feita, recentem ente, a 5' edição: Lisboa, A s-sírio &A 1vim , 2006. Existe um a tradução parcial da obra em italiano, por M arcello Saco:F á t i m a M a g i c a - L e A p p a r i z i o n i d i F á t i m a fi a C r i s t i a n e s i m oP o p o l a r e e M i s t i c i s m o l s l a m i c o . Le N ardo Itália, BESA Editrice, 1999.
1997 -
O b r a s o n á r i o p o r t u g u ê s e a c u l t u r a h e b r a i c a . Lisboa: Instituto deSociologia e Em ología das Religiões da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica 2000, 302 páginas (2'edição, 2000).
1999 -
C o m u n i d a d e r u r a l a o n o r t e d o T e j o s e g u i d o d e v i n t e a n o s d e p o i s .Lisboa: A ssociação de Estudos Rurais da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica 2000, 351 páginas.
2001 -
O r i g e n s d o c r i s t i a n i s m o p o r t u g u ê s (versão corrigida e m elhorada). Lisboa: Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica 2000, 320 páginas.2002 -
A r e l i g i ã o n a m u d a n ç a : a N o v a E r a . Lisboa: Instituto de Sociologia e Ernologia das Religiões da U niversidade N ova de Lisboa e G ráfica 2000, 303 páginas.2004 -
C i n c o m i l a n o s d e c u l t u r a a o e s t e : Etno- H istória da religião popularnum a região da Estrem adura. Lisboa: A ssírio &A 1vim , Colecção Penin-sulares/Especial, 535 páginas.