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Revista do Minstério Público 2013 Peixoto

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Resumo

O testemunho de crianças no sistema penal constitui, ainda, um desafio que tem gerado investigação extensa na comunidade cien-tífica e a busca de formação pelos vários profissionais envolvidos no contexto judicial. Este artigo tem como objetivo apresentar um protocolo de entrevista forense do National Institute of Child Health and Human Development (NICHD). Este protocolo tem sido alvo, nos últimos 30 anos, de vários estudos de validação e de aplicação em casos reais em vários países, sendo um dos mais investigados e mais aplicados. Dada a lacuna identificada em Por-tugal nesta área da entrevista de crianças no âmbito judicial, este artigo visa apresentar os pressupostos subjacentes ao protocolo do NICHD, bem como a estrutura da entrevista, apresentando-a como proposta para uma boa prática em contexto judicial. PalavRas-chave: entrevista forense, NICHD, abuso sexual de crianças

do NICHD: contributo na obtenção

do testemunho da criança no contexto português

[1]

Carlos Eduardo Peixoto[2] Psicólogo Forense

Instituto Nacional de Medicina legal e Ciências Forenses, IP – Delegação Norte Catarina Ribeiro[3]

Psicóloga Forense

Instituto Nacional de Medicina legal e Ciências Forenses, IP – Delegação Norte Docente da Universidade Católica Portuguesa e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Isabel Alberto[4]

Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra

[1]Os autores agradecem todo

o apoio e colaboração fornecidos pelo Professor Michael Lamb na adaptação do Protocolo NICHD ao contexto português. Trabalho apoiado pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) (PTDC/MHC-PAP/4295/ 2012) e pelo Programa Opera-cional Fatores de Competitivi-dade (COMPETE) (CCOMP -01-0124-FEDER-029554).

[2]Membro do CENCIFOR.

cespeixoto@gmail.com

[3]Membro do CENCIFOR.

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Desde os finais do século XIX que os tribunais vêem a criança como uma testemunha competente, muito embora revelem alguma apreensão quan-to à qualidade do seu testemunho (Haugaard et al., 1991). A aceitação da criança neste papel está condicionada a quatro critérios essenciais ao nível das suas competências: a distinção entre a verdade e a mentira e a perceção da responsabilidade de dizer a verdade; a compreensão do evento vivencia-do; a capacidade de manter uma recordação não contaminada do evento; e a capacidade de expressão verbal do evento vivido (Haugaard et al., 1991).

À luz da lei portuguesa, a avaliação da competência para testemu-nhar é particularmente relevante quando a criança é vítima de um crime contra a sua autodeterminação e liberdade sexual. De acordo com o artigo 131º do Código Penal Português, “3 – Tratando-se de depoimento de menor de 18 anos em crimes contra a liberdade e autodeterminação sexual de menores, pode ter lugar perícia sobre a personalidade”. Segundo Carmo (2011), esta perícia não tem como objetivo a obtenção do relato da criança sobre o abuso nem pretende aferir a sua credibilidade. Sobre o alcance desta “perícia de personalidade”, um Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 23/10/2008 afirma que “as perícias para avaliar a credibilidade de qualquer pessoa que deva testemunhar apenas têm por finalidade conhecer a aptidão psíquica e características psicológicas e de personalidade de quem irá prestar testemunho relevante para o Tribunal determinar em que medida (aptidões e características) podem influen-ciar o seu depoimento. Ou seja, o que está em causa é a credibilidade da testemunha e não a credibilidade da versão que esta apresenta dos fatos”. A particularidade e a vulnerabilidade atribuídas à criança no seu papel de testemunha é ainda observada na obrigatoriedade da realização de “declarações para memória futura” (ver artº 271, artº 294 e artº 320 do Código de Processo Penal Português), isto é, a tomada de declarações, por parte da alegada vítima, em fase de inquérito, no sentido de evitar a necessidade da sua inquirição em fase de julgamento. Este tratamento particular da testemunha “menor de idade” está igualmente presente na Lei de Proteção de Testemunhas (Lei nº93/99 de 14 de julho), que

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adverte para a prestação de apoio psicológico quando necessário, a fami-liarização com o espaço e os procedimentos da diligência, e a tomada de declarações “o mais brevemente possível após a ocorrência”, no sentido de “garantir a espontaneidade e a sinceridade das respostas”.

Neste artigo será descrito e analisado um conjunto de metodo-logias, cientificamente sustentadas, que visam a obtenção de informação junto da criança, em caso de suspeita de abuso sexual. Não se trata de apresentar um procedimento de avaliação psicológica forense. Realçamos que o procedimento de entrevista forense não substitui um processo de avaliação psicológica, que pode, naturalmente, ser necessário.

1.

A construção e implementação de protocolos

de entrevista no contexto forense

A investigação sobre as dimensões centrais na capacidade de testemu-nho tem destacado dois aspetos: (a) as crianças evidenciam algumas limitações desenvolvimentais que poderão dificultar a sua capacidade em descrever acontecimentos por si vividos; (b) essas limitações pode-rão ser superadas com a utilização de técnicas e protocolos de entrevista que tenham em conta as especificidades do desenvolvimento da criança. Mais de três décadas de investigação científica têm vindo a demonstrar como se deve questionar uma criança (Brainerd & Reyna, 2005; Eisen, Quas, & Goodman, 2002; Jones, 2003; Kuehnle & Connell, 2009; Lamb, Hershkowitz, Orbach, & Esplin, 2008; Lamb, La Rooy, Malloy & Katz, 2011; Milne & Bull, 1999; Poole & Lamb, 1998; Westcott, Davies, & Bull, 2002). A utilização de protocolos de entrevista baseados sobretudo no recurso a questões abertas (e.g. “conta-me tudo o que aconteceu”) tem sido sugerida como a forma mais eficaz de obter um relato mais espon-tâneo, mais fiável e mais informativo por parte da criança. Como exem-plos do contributo da investigação pode-se referir a construção de guiões de entrevista forense no Reino Unido, como o “Memorandum of good practice on video recorded interviews with child witnesses for criminal

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proceedings” (Home Office, 1992), o seu substituto “Achieving Best Evidence in Criminal Proceedings – Guidance on Interviewing Vic-tims and Witnesses, and Using Special Measures” (Home Office, 2002; 2007; 2011) ou o “Guidance for Interviewing Child Witnesses and Victims in Scotland” (Scottish Executive, 2003). A construção destes guiões esteve associada à necessidade de criação de linhas orientadoras relativamente à entrevista de crianças e outras vítimas de crimes, tendo em conta as suas necessidades desenvolvimentais e de forma a maximi-zar a sua capacidade de informar.

A influência das especificidades desenvolvimentais da criança na sua capacidade de prestar testemunho tem demonstrado, mesmo com a uti-lização de protocolos cientificamente fundamentados e empiricamente validados, que a tarefa de entrevistar uma criança é exigente e desafiante (Cederborg, La Rooy, & Lamb, 2008; Lamb et al, 2009; Orbach et al., 2000; Sternberg et al., 2001). Assim, a investigação tem destacado a importância da especialização e formação contínua dos entrevistadores forenses. Mais especificamente, tem sido recomendado (Lamb et al., 2008) que, após formação especializada na utilização de um protocolo de entrevista forense, o entrevistador deve usufruir de supervisão intensiva (bissemanal), que constituirá uma forma de avaliação da qualidade das entrevistas, bem como de obtenção de feedback e de recomendações no sentido de aperfeiçoar as suas competências de entrevista.

Resumindo, a investigação científica (cf. Brainerd & Reyna, 2005 Ceder-borg, La Rooy, & Lamb, 2008; Eisen, Quas, & Goodman, 2002; Jones, 2003; Kuehnle & Connell, 2009; Lamb, Hershkowitz, Orbach, & Esplin, 2008; Lamb et al, 2009; Lamb et al., 2011; Milne & Bull, 1999; Orbach et al., 2000; Poole & Lamb, 1998; Sternberg et al., 2001; Westcott, Davies, & Bull, 2002) sobre a capacidade de testemunho da criança tem concluído que:

­

­A utilização de protocolos de entrevista forense melhora a qualidade

e quantidade de informação relatada pela criança;

­

­As entrevistas devem recorrer essencialmente a questões abertas, não

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e a fiabilidade da informação fornecida pela criança e limitarem a sugestionabilidade interrogativa;

­

­A necessidade de especialização de entrevistadores forenses de

crian-ças e a implementação de um sistema de formação contínua e de supervisão intensiva é condição fundamental para a recolha de infor-mação exata e redução de inforinfor-mação sugestiva, garantindo elevada qualidade das entrevistas realizadas.

2.

O protocolo de entrevista forense

do national institute of child health

and human development (nichd)

A composição do protocolo de entrevista forense do NICHD (ver ane-xo) reflete uma série de estudos realizados por Michael Lamb e colabo-radores ao longo de 20 anos, os quais estão condensados no livro Tell

me What Happened (Lamb et al., 2008). O seu objetivo é potenciar a

obtenção de informações relevantes do ponto de vista forense, a partir da entrevista de testemunhas vulneráveis como, por exemplo, crianças, adultos com limitações cognitivas, jovens ofensores. O protocolo preten-de amplificar a capacidapreten-de preten-de evocação mnésica e a capacidapreten-de narrativa do entrevistado e reduzir a interferência do entrevistador nos conteúdos do relato, nomeadamente através da eliminação de questões sugestivas. A utilização deste protocolo é particularmente importante em casos de crimes contra crianças, como, por exemplo, o abuso sexual de crianças. O protocolo de entrevista forense do NICHD destaca a importância da preparação da entrevista, desde a análise das informações preexistentes até à preparação do local onde esta vai ocorrer. Recomenda-se que o local da entrevista não tenha elementos distratores (e.g. brinquedos) para que a criança se foque e mantenha na tarefa narrativa, evitando também a presença de elementos que facilitem o desvio da sua atenção perante te-mas que possam ser problemáticos ou perturbadores, ou quando não está motivada para a realização da entrevista. Importa ainda salientar que as

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crianças, sobretudo aquelas que estão na fase pré-escolar, evidenciam um período limitado de tempo em que conseguem estar concentradas numa tarefa tão exigente como a solicitada numa entrevista forense.

A entrevista do protocolo do NICHD inicia-se com uma fase

introdu-tória, onde o entrevistador se apresenta, clarifica a tarefa que será exigida à

criança (a necessidade de descrever ao pormenor determinados eventos e dizer a verdade sobre eles) e explica as regras de comunicação (a criança pode e deve responder que “não sabe”, “não se lembra” ou que “não compreende” quando for esse o caso; ou deve corrigir o entrevistador quando apropriado). Neste momento, há um particular interesse em estimular a capacidade da criança em dar informação. O entrevistador deverá salientar que a criança é a única fonte de informação sobre o acontecimento alvo, pois ele não esteve presente, e só a criança lhe poderá descrever o que realmente aconteceu. De acordo com vários estudos (Lamb et al., 1999; Lyon & Saywitz, 1999; Stern-berg et al., 1999), o fornecimento à criança deste tipo de instruções numa fase inicial da entrevista parece maximizar as suas competências de dar informa-ção e de fornecer um relato mais exato, para além de aumentar a sua capaci-dade de resistência à sugestão (Ceci & Bruck, 1995; Malloy & Quas, 2009).

“Olá, eu chamo-me _______ e sou _____ (identificar profissão)*. (Apresentar todas as outras pessoas presentes na sala; idealmente não estará mais ninguém presente. No caso de ser necessária a pre-sença de outras pessoas, é importante que a entrevista decorra em sa-las de visão unidirecional, com sistema áudio e vídeo que permita o

acompanhamento da entrevista sem que sejam vistas pela criança).

Hoje é ____ (data)* e são agora ____ (horas)*. Estou a entrevistar ____ (nome do entrevistado/a)* no/a _______ (local)*.”

“Como podes ver, temos aqui uma câmara de vídeo e um microfone para gravar a nossa conversa para ser mais fácil lembrar-me de tudo o que me vais contar. Por vezes esqueço-me de algumas coisas e a gravação ajuda-me a ouvir com toda a atenção, sem ter que estar a escrever tudo o que disseres”

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“Uma parte do meu trabalho é falar com crianças (jovens) sobre coi-sas que lhes aconteceram. Encontro-me com muitas crianças (jovens) e assim elas podem contar-me a verdade sobre coisas que lhes acon-teceram. Por isso, antes de começarmos, quero ter a certeza que tu compreendeste que é muito importante contar a verdade” (com crian-ças pequenas explicar: “Aquilo que é verdade e aquilo que é mentira”)” “Se eu disser que os meus sapatos são vermelhos (ou verdes), isso é verdade ou é mentira?”

(Esperar por pela resposta, e depois dizer:)

“Não pode ser verdade, pois os meus sapatos são (pretos, azuis, etc.). E se eu disser que agora estou sentado(a), isso é verdade ou é mentira (certo ou errado)?”

(Esperar pela resposta)

“Isso é verdade porque como podes ver estou aqui sentada(o)” “Já vi que compreendes o que significa contar a verdade. É muito importante que hoje me digas só a verdade. Tu deves falar-me só de coisas que realmente aconteceram contigo”

(Pausa)

“Se eu te fizer uma pergunta que tu não percebas, diz “eu não per-cebi”. Está bem?”

(Pausa)

“Se eu não perceber o que tu estás a contar, vou-te pedir para me explicares melhor”

(Pausa)

“Se eu te fizer uma pergunta e tu não souberes a resposta diz “eu não sei”. “Então, se eu te perguntar como se chama o meu cão? (Ou o meu filho) O que é que tu respondias?”

(Esperar pela resposta)

(Se a criança responder, “Não sei”, dizer:) “Certo, porque tu não sabes!”

(se a criança der uma resposta ao acaso, dizer:)

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sabes a resposta não respondas à sorte – diz que não sabes”.

(Pausa)

“E se eu disser coisas que são erradas deves dizer-me. Está bem?”

(Espere por uma resposta)

“Então, se eu disser que tu és uma menina com dois anos (quando

esta-mos a entrevistar um rapaz de 5 anos, etc.), o que é que tu deves dizer?” (Se a criança não o corrigir, dizer:)

“O que deves dizer se eu me enganar e disser que tu és uma menina de 2 anos (quando estamos a entrevistar um rapaz de 5 anos)?”

(Espere por uma resposta)

“Correto. Agora já sabes o que fazer quando eu me enganar ou dis-ser alguma coisa que não está certa”

(Pausa)

“Então, se eu disser que tu estás de pé, o que dizes?”

(Espere por uma resposta)

“Correto”

O estabelecimento da relação entre o entrevistador e a criança é outra fase fundamental do Protocolo e deverá sempre preceder qualquer tipo de abordagem dos temas centrais da entrevista. A correta aplicação des-ta componente poderá minimizar a ansiedade e relutância que algumas crianças demonstram na realização da entrevista. De acordo com a litera-tura (Hershkowitz, 2011), a redução da ansiedade e da relutância na crian-ça aumenta exponencialmente a sua disponibilidade e capacidade para dar informação, em termos quantitativos e qualitativos. Por outro lado, o estabelecimento da relação com a criança é essencial para se minimizar o possível efeito de vitimização secundária (Ribeiro, 2009). No Protocolo de Entrevista Forense do NICHD o estabelecimento da relação com a criança é concretizado em duas fases: uma primeira, aberta e estruturada, onde o entrevistador deve desenvolver um ambiente de suporte e calmo para a criança; uma segunda, onde é solicitada à criança a descrição de um evento neutro vivido recentemente. Antes de serem abordadas os

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fa-tos relacionados com o crime em investigação, o entrevistador solicita que a criança descreva um acontecimento recente (dia de aniversário, férias, etc.) vivido por si, para estabelecer a sua capacidade narrativa e de evoca-ção da memória (e.g. na sequência temporal de um evento).

“Eu quero saber mais sobre ti e sobre as coisas que tu fazes” “Há uns (dias/semanas) foi (férias/festa de anos/o primeiro dia da

escola/outro evento). Conta-me tudo o que aconteceu (no teu

ani-versário, Páscoa, etc.)” (Espere por uma resposta)

“Pensa bem sobre (actividade ou evento) e conta-me tudo o que aconteceu nesse dia desde que te levantaste de manhã até (parte do

evento mencionado pela criança na resposta à questão anterior)” (Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção)

“E depois o que é que aconteceu?”

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário durante esta secção)

“Conta-me tudo o que aconteceu depois (parte do evento

menciona-do pela criança) até tu ires para a cama nessa noite” (Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção)

“Conta-me mais sobre (a actividade mencionada pela criança)”

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção)

“Há pouco contaste que (actividade mencionada pela criança). Con-ta-me tudo sobre isso”

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) A abordagem metodológica por parte do entrevistador é a mesma a utilizar na parte substantiva (momento em que se abordam os aspetos

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de interesse forense) da entrevista. Logo, esta secção da entrevista é particularmente importante para o treino da utilização de questões abertas e para a criança tomar consciência do grau de detalhe que lhe será solicitado sobre o evento. De acordo com Sternberg e cola-boradores (1997), as respostas da criança a questões abertas na fase pré-substantiva potenciam a sua capacidade de relato sobre as ques-tões abertas colocadas na fase substantiva. Os estudos mais recentes (Roberts et al., 2011) indicam claramente que a solicitação do treino da capacidade de evocar informação antes de ser abordado o tema central da entrevista forense potencia a capacidade de dar informação por parte da criança.

A denominada fase pré-substantiva, que inclui a fase de estabe-lecimento da relação e o treino cognitivo, cumpre ainda outra função importante. Através da interação com a criança, recorrendo aos mesmos princípios e técnicas a utilizar ulteriormente na parte substantiva da entrevista, o entrevistador deve ter a perceção das capacidades cognitivas mínimas da criança para descrever acontecimentos por ela vividos e a sua motivação para testemunhar. Os estudos realizados com o Protocolo (Lamb et al., 2008) têm demonstrado que o desempenho da criança na fase pré-substantiva é um indicador do seu desempenho na fase substantiva no que diz respeito à quantidade e exatidão da informação revelada e à sua motivação para falar sobre acontecimentos que vivenciou.

Na fase de transição entre a fase pré-substantiva e a fase

substan-tiva, o entrevistador formula uma série de questões abertas no sentido

de orientar a criança para o evento alvo que está a ser submetido a inves-tigação criminal. Estas questões são utilizadas de uma forma gradativa, partindo de questões completamente abertas para questões cada vez mais focalizadas (estas apenas são utilizadas se a criança não abordar os fatos a partir das questões abertas). Assim que o evento tiver sido verbalizada pela criança, o entrevistador solicita–lhe que lhe diga tudo o que ocorreu do princípio até ao fim.

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“Agora que te conheço um pouco melhor, queria falar contigo sobre porque estás aqui hoje.”

“Eu percebo que pode ter acontecido alguma coisa contigo. Conta--me tudo o que aconteceu desde o início até ao fim”

“Como eu já te disse, o meu trabalho é falar com crianças sobre coi-sas que lhes podem ter acontecido. É muito importante que tu me contes porque (estás aqui/vieste aqui/eu estou aqui). Conta-me por-que achas por-que (a tua mãe, o teu pai, a tua avó) te trouxe aqui hoje (ou

“porque achas que eu estou a conversar contigo hoje”)”

Os estudos (Orbach et al., 2001; Sternberg et al., 2001;) têm indicado que após estes estímulos verbais cerca de 60% das crianças suspeitas de terem sido vítimas de abuso sexual revelam acontecimentos abusivos. Se a criança não revelar após este estímulo verbal, o Protocolo propõe a uti-lização de um conjunto de questões cada vez mais focalizadas, sem nunca se mencionarem informações que remetam diretamente para as suspeitas que trouxeram a criança ao momento da entrevista forense.

“Contaram-me que falaste com (médico/professor/assistente social/

outro profissional) no (data e local). Conta-me do que é que falaram”

“Vejo (ouvi) que tens (marcas/feridas/hematoma) no/na

(localiza-ção no corpo da criança). Conta-me tudo sobre isso”

“Tens andado a ser incomodado/a ou magoado/a por alguém?”

“Aconteceu alguma coisa contigo no/em (local/data do alegado incidente)?”

“Alguém te fez alguma coisa que não achaste bem?”

Após a criança mencionar o acontecimento abusivo, de forma a orien-tar o seu relato, o entrevistador recorre a questões abertas e de evocação orientada (incluem o relato já proferido pela criança – “Anteriormente disseste-me que ele te tirou as calças. Conta-me tudo sobre isso”) de for-ma a estimular a descrição espontânea e a evocação mnésica livre sobre

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o evento em análise. A utilização de questões abertas como metodolo-gia central na entrevista forense é um aspeto consensual e recomendado na literatura da especialidade (Brainerd & Reyna, 2005; Eisen, Quas, & Goodman, 2002; Kuehnle & Connell, 2009; Lamb et al., 2008; Lamb et al., 2011; Poole & Lamb, 1998; Westcott, Davies, & Bull, 2002). Ainda sobre a utilização de questões abertas, a pesquisa (Lamb et al., 2008; Or-bach & Lamb, 2001) sugere claramente que estas são as que estimulam a produção, por parte da criança, de um relato mais fiável e com maior quantidade de detalhes.

“Conta-me tudo sobre isso”

“E depois o que é que aconteceu?” ou “Conta-me mais sobre isso” “Pensa nesse (dia/noite) e conta-me tudo o que aconteceu desde

(acontecimento precedente já mencionado pela criança) até (alega-do evento abusivo conforme descrito pela criança)”

“Conta-me mais sobre (pessoa/objeto/atividade referidos pela criança)” “Tu contaste que (pessoa/objeto/atividades mencionadas pela

criança), conta-me tudo sobre isso”

O entrevistador deverá ainda apurar se o evento descrito ocorreu “uma vez ou mais do que uma vez”, procedendo, em seguida, à identi-ficação de informações específicas de cada ocorrência. Devido à difi-culdade das crianças em discriminar corretamente o número de acon-tecimentos abusivos, o Protocolo sugere apenas a diferenciação entre um ou mais acontecimentos. Além disso, a abordagem dos aconteci-mentos abusivos deverá começar sempre pelo último e, em seguida, pelo primeiro. Só depois se abordarão os restantes. Esta estratégia é fundamentada nos estudos de Ebbinghaus, nomeadamente no efeito de primazia e recência na memória, e que têm sido consolidados pela literatura recente (Baddeley, 1999; Pinto, 1991; Pinto, 2011). Por outras palavras, de um conjunto de eventos nós conseguimos recordar me-lhor o primeiro e o último.

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De acordo com o Protocolo, só quando todas as questões abertas possíveis forem realizadas é que o entrevistador poderá utilizar ques-tões mais diretas (quesques-tões que utilizam essencialmente as expressões “quando”, “como”, “onde”, “o quê”, “quem”). As questões diretas podem ser importantes na identificação de informações nucleares que ainda não foram fornecidas na narrativa livre. Mesmo assim, após a utilização de uma questão direta (e.g. “como é que ele se chama? Chama-se Zé”) deveremos imediatamente utilizar uma questão aberta (e.g. “conta-me tudo sobre o Zé”).

Se ainda faltarem pormenores importantes sobre o acontecimento em investigação, o entrevistador poderá utilizar um conjunto muito limitado de questões fechadas que solicitem a escolha de uma opção. Contudo, quando estas questões forem utilizadas, deverá estar sempre presente uma opção que seja formulada de forma aberta (“ele tocou-te por cima da roupa ou por baixo da roupa, ou tocou-te de outra forma?”). A utilização de questões sugestivas (e.g. “ele tirou-te as calças, não foi?”), que apresentam um sentido de resposta afirmativo e único, devem ser excluídas de todas as fases da entrevista.

O Protocolo de Entrevista Forense do NICHD tem sido identificado na literatura como o exemplo máximo do “estado da arte” em matéria de entrevista forense (Brainerd & Reyna, 2005; Saywitz, Lyon, & Good-man, 2011). O reconhecimento internacional reunido por este protocolo de entrevista tem sido baseado na sua forte base empírica (Lamb et al., 2008). A utilização do Protocolo tem demonstrado ganhos significativos na quali-dade das entrevistas realizadas, sobretudo devido à qualiquali-dade e quantiquali-dade de informação que estas providenciam (Lamb et al., 2008; Orbach et al., 2000; Sternberg et al., 2001). Os estudos sugerem também que a utiliza-ção do Protocolo possibilita uma melhor apreciautiliza-ção da credibilidade das alegações (Hershkowitz et al., 2007; 2008; Lamb et al., 1996), assim como providencia informações relevantes para a investigação criminal (Darwish et al., 2008; Pipe et al., 2008). A pesquisa desenvolvida nos últimos anos indica que a utilização do Protocolo de Entrevista Forense do NICHD

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influencia o desenrolar dos casos de abuso sexual, estando associada a um maior número de acusações e, na fase de julgamento, a utilização do Protocolo estará associada a um maior número de condenações (Pipe et al., 2008). Estes dados poderão ser justificados pelo facto de o Protocolo permitir obter um relato mais convincente e preciso, em comparação com outras formas de entrevistas onde existe um número significativo de infor-mações contaminadas pelo efeito da sugestionabilidade interrogativa do entrevistador. Além disso, as entrevistas em que se recorreu ao Protocolo do NICHD forneceram mais informações relevantes para a investigação criminal, nomeadamente, informações que permitiram a obtenção de outro tipo de provas (testemunhais, documentais, periciais) que corroboraram o relato da criança (Darvish et al., 2008). De acordo com Darvish et al. (2008), as entrevistas que utilizam o Protocolo do NICHD, sobretudo a partir das questões abertas, produzem pistas mais relevantes, fiáveis e veri-ficáveis do que as que foram obtidas por outros métodos.

O Protocolo tem sido utilizado em vários países tais como Israel (Lamb et al., 1996), Estados Unidos da América (Sternberg et al., 2001), Suécia (Cederborg et al., 2000), Canadá (Cyr & Lamb, 2009), Reino Unido (Lamb et al., 2009). De destacar que, atualmente, o Protocolo de Entrevista Forense do NICHD se encontra adaptado ao contexto lin-guístico e cultural português (Peixoto, Alberto & Ribeiro, 2011). Em todos os países onde foi aplicado o Protocolo assistiu-se a uma mudança radical na forma como as entrevistas são conduzidas, traduzindo um aumento substancial da qualidade da informação obtida. Na investigação desenvolvida com entrevistadores forenses após a realização de ações de formação e supervisão com a utilização do Protocolo, estes apresentavam um recurso significativamente superior às questões abertas e uma menor utilização de questões diretas, de escolha múltipla e sugestivas (Ceder-borg et al., 2000; Cyr & Lamb, 2009; Lamb et al., 1996; Sternberg et al., 2001). Concomitantemente, os relatos das crianças apresentavam um aumento significativo da quantidade de informação exata e na qualidade da informação, e uma diminuição de informação sugestiva

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3.

A entrevista forense:

sua repercussão nos processos judiciais

e sua aplicabilidade em portugal

A entrevista forense é um momento fundamental na investigação crimi-nal em que a criança assume o papel de testemunha. Este papel central é mais relevante quando o discurso da criança é o único ou principal meio de prova. Por esta razão, a maior parte dos países ocidentais foram introduzindo alterações nos procedimentos judiciais. A obrigatoriedade do registo vídeo (na maior parte dos países europeus, Estados Unidos da América, Canadá, Austrália), o recurso a entrevistadores forenses especializados (em Itália, esta tarefa compete ao psicólogo forense) e a implementação de guiões e protocolos de entrevista forense (o caso mais evidente é o “Achieving Best Evidence” em Inglaterra e no País de Gales) são importantes alterações na forma como se obtém o relato da criança.

Em Portugal, a revisão de 2007 do Código de Processo Penal (CPP) introduziu alterações importantes na abordagem aos casos de abuso sexual. Uma dessas alterações foi a obrigatoriedade de tomada de decla-rações para memória futura nos crimes contra a liberdade e autodetermi-nação sexual. De acordo com Carmo (2010), esta diligência processual, já existente desde 1987, é uma “exceção à regra” no que respeita à forma como a prova testemunhal é encarada no processo penal. A regra é que a prova testemunhal apenas tem valor probatório em sede de julgamento quando aí é prestada e apreciada para fundamentar uma possível condenação. No caso desta diligência processual, as declarações são tomadas antes do jul-gamento, podendo ser aí utilizadas sem que a testemunha aí compareça. Todavia, parece existir um desfasamento entre aquilo que são os obje-tivos e o que tem sido a sua aplicação. Apesar da existência de uma dili-gência processual, como as declarações para memória futura, as crianças continuam a ser inquiridas várias vezes e por diferentes pessoas. Ribeiro (2009), no seu estudo sobre as trajetórias e significados do processo judi-cial para a criança vítima de abuso sexual, identificou que estas eram ouvidas cerca de 8 vezes e que esta repetição era aquilo que as crianças

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identificavam como o aspeto mais penoso relativamente à sua participação no processo judicial. Mesmo em processos onde existem sinais físicos e biológi-cos de abuso sexual, as crianças são ouvidas entre 4 a 9 vezes sobre os mesmo factos (Peixoto, 2012). Estas práticas colocam em causa a qualidade do relato obtido, aumentando o risco de contaminação da narrativa da criança (Ceci & Bruck, 1995). Por outro lado, a sucessiva solicitação da descrição dos abu-sos aumenta o risco de vitimização secundária, ou seja, um agravamento do estado emocional da criança, já debilitado pelas experiências abusivas.

Outro aspeto a salientar é a não utilização do registo vídeo para as declarações proferidas pela criança. Em todos os guiões e protocolos de entrevista atrás indicados recomenda-se o registo vídeo. Este registo tem várias vantagens: permite a gravação fiel das declarações da criança e das questões que lhe foram colocadas; torna o processo de obtenção do relato mais célere; permite a análise do conteúdo das declarações e uma ava-liação da qualidade das informações obtidas; torna possível o registo da comunicação não-verbal da criança; permite que as informações obtidas sejam utilizadas em momentos ulteriores do processo judicial, sem que seja solicitada à criança nova inquirição.

Porém, falar de entrevista forense em Portugal é um assunto relati-vamente recente, apesar deste já ter sido identificado como um momento fundamental na investigação criminal como forma de preservar a qualidade do relato da criança e de prevenir a vitimização secundária (Magalhães & Ribeiro, 2007; Peixoto, Ribeiro, & Lamb, 2011). A opinião pública, bem como o sistema judicial, estão cada vez mais sensibilizados para os efeitos nefastos da utilização de técnicas sugestivas em entrevistas com crianças vítimas de abuso sexual, quer para as crianças envolvidas e suas famílias, quer para os adultos falsamente acusados deste crime. Devemos também salientar que, em Março de 2012, a Assembleia da República aprovou a Convenção do Conselho da Europa para a Proteção das Crianças contra a Exploração e os Abusos Sexuais (Resolução da Assembleia da República

nº 75/2012). Este documento, no seu artigo 35º, indica claramente que o

(17)

instalações apropriadas, através de entrevistas realizadas por entrevistado-res especializados e, quando estas necessitarem de ser repetidas, deverão ser realizadas pela mesma pessoa. O documento salienta ainda que o número de entrevistas deve ser limitado e que, em alguns casos, a criança poderá ser acompanhada por adulto de confiança ou representante legal. A Conven-ção foca a importância do registo vídeo da entrevista, advertindo para que este deve ser aceite como prova em sede de julgamento.

Sendo assim, a introdução de um protocolo de entrevista forense pode ter um importante impacto na forma como são conduzidos os casos de abuso sexual. Embora existam, em Portugal, linhas gerais de como se deve entrevistar uma criança vítima de abusos sexual (APAV, 2002; Magalhães & Ribeiro, 2007), a sua utilização não é obrigatória, dando espaço à exis-tência de uma multiplicidade de práticas. Além disso, a pesquisa indica cla-ramente que a entrevista forense de crianças é significativamente melhor com a adoção de protocolos estruturados de entrevista, como é o caso do Protocolo de Entrevista Forense do NICHD, do que o mero recurso a guiões gerais de entrevista (Lamb et al., 2008; Orbach et al., 2000).

Já noutro momento (Peixoto, Ribeiro, & Lamb, 2011) defendemos que a introdução do protocolo do NICHD poderia ser a solução mais ajustada para a melhoria das práticas de entrevista forense em Portugal, uma vez que este, em comparação com outros protocolos de entrevista forense, se destaca pela fundamentação científica e verificação empírica, bem como pela sua validação e testagem em contexto forense. Salienta-mos que, para além das evidências científicas já demonstradas noutros países, está em curso no nosso país uma investigação que visa a adoção do protocolo para o contexto português. Neste momento, está finali-zada a fase de tradução e adaptação linguística do Protocolo (Peixoto, Ribeiro, & Alberto, 2011), estando em curso a sua utilização, de forma exploratória, em casos reais. Os dados preliminares têm demonstrado, claramente, os ganhos qualitativos e quantitativos no relato da criança. As abordagens exploratórias, em meio forense, têm também demonstrado que o momento da entrevista, com a utilização do Protocolo, torna-se um

(18)

momento menos ansiogénico e, por sua vez, mais protetor de um possível efeito de vitimização secundária. Assim, entendemos que a utilização do Protocolo na sua versão portuguesa se encontra em condições de ser uti-lizada na prática judiciária, o que permitirá, para além de garantir a pro-teção da criança, melhorar a fase de investigação criminal e, por sua vez, a fase de decisão judicial, através da obtenção de uma prova testemunhal mais robusta e fiável.

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(22)

Anexo

Guião de Entrevista Forense do NICHD

I.

Introdução

1. “Olá, eu chamo-me _______ e sou_____ (identificar profissão)*. (Apre-sentar todas as outras pessoas presentes na sala; idealmente não estará mais ninguém presente) Hoje é ____ (data)* e são agora ____ (horas)*. Estou a entrevistar ____ (nome do entrevistado/a)* no/a _______ (local)*.” “Como podes ver, temos aqui uma câmara de vídeo e um microfone para gravar a nossa conversa para ser mais fácil lembrar-me de tudo o que me vais contar. Por vezes esqueço-me de algumas coisas e a gravação ajuda-me a ouvir com toda a atenção sem ter que estar a escrever tudo o que disseres” “Uma parte do meu trabalho é falar com crianças (jovens) sobre coisas que lhes aconteceram. Encontro-me com muitas crianças (jovens) e assim elas podem contar-me a verdade sobre coisas que lhes aconteceram. Por isso, antes de começarmos quero ter a certeza que tu compreendeste que é muito importante contar a verdade” (com crianças pequenas explicar: “Aquilo que é verdade e aquilo que é mentira”)

“Se eu disser que os meus sapatos são vermelhos (ou verdes), isso é verdade ou é mentira?”

(Esperar por pela resposta, e depois dizer:)

2. “Não pode ser verdade, pois os meus sapatos são (pretos, azuis, etc.). E se eu disser que agora estou sentado(a), isso é verdade ou é mentira (certo ou errado)?” (Esperar pela resposta)

3. “Isso é verdade porque como podes ver estou aqui sentado(a)”

“Já vi que compreendes o que significa contar a verdade. É muito importante que hoje me digas só a verdade. Tu deves falar-me só de coisas que realmente aconteceram contigo”

(Pausa)

4. “Se eu te fizer uma pergunta que tu não percebas, diz “eu não percebi”. Está bem?” (Pausa)

(23)

“Se eu não perceber o que tu estás a contar, vou-te pedir para me explicares melhor” (Pausa)

5. “Se eu te fizer uma pergunta e tu não souberes a resposta diz “eu não sei” “Então se eu te perguntar como se chama o meu cão? (Ou o meu filho) O que é que tu respondias?”

(Esperar pela resposta)

(Se a criança responder, “Não sei”, dizer:) 6. “Certo porque tu não sabes!”

(se a criança der uma resposta ao acaso, dizer:)

“Não, tu não sabes a resposta porque não me conheces. Quando não sabes a resposta não respondas à sorte – diz que não sabes”.

(Pausa)

7. “E se eu disser coisas que são erradas deves dizer-me. Está bem?” (Espere por uma resposta)

8. “Então se eu disser que tu és uma menina com dois anos (quando estamos a entrevistar um rapaz de 5 anos), o que é que tu deves dizer?”

(Se a criança não o corrigir, dizer:)

“O que deves dizer se eu me enganar e disser que tu és uma menina de 2 anos (quando estamos a entrevistar um rapaz de 5 anos)?” (Espere por uma resposta)

9. “Correto. Agora já sabes o que fazer quando eu me enganar ou disser alguma coisa que não está certa”

(Pausa)

10. “Então se eu disser que tu estás de pé, o que dizes?” (Espere por uma resposta)

(24)

II.

Estabelecimento da Relação

“Agora quero conhecer-te melhor”

1. “Conta-me sobre coisas que tu gostas de fazer” (Espere que a criança responda)

(Se a criança der uma resposta detalhada, passe para a questão 3) (Se a criança não responder, se der uma resposta curta, ou bloquear, pode perguntar:)

2. “Eu queria mesmo conhecer-te melhor. Preciso que me contes sobre coisas que gostas de fazer”

(Espere por uma resposta)

3. “Conta-me mais sobre (actividade que a criança mencionou no seu relato. Evitar abordar temáticas como programas de televisão, filmes e fantasia)” (Espere por uma resposta)

III.

Treino da Memória Episódica

Evento Especial

(Nota: esta secção é adaptada em função do acontecimento)

(antes da entrevista, identifique um acontecimento recente que a criança tenha vivido – primeiro dia da escola, aniversário, celebração de um feriado, etc. – coloque questões sobre este evento. Se possível, escolher um acontecimento que terá sucedido na mesma altura que o alegado ou suspeito abuso. Se o alegado abuso aconteceu durante um dia ou evento particular, questione sobre outro acontecimento)

“Eu quero saber mais sobre ti e sobre as coisas que tu fazes” 1. “Há uns (dias/semanas) foi (Férias/festa de anos/o primeiro

dia da escola/outro evento). Conta-me tudo o que aconteceu (no teu aniversário, Páscoa, etc.)”

(Espere por uma resposta)

1a. “Pensa bem sobre (actividade ou evento) e conta-me tudo o que aconteceu nesse dia desde que te levantaste de manhã até

(25)

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) 1b. “E depois o que é que aconteceu?”

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário durante esta secção) 1c. “Conta-me tudo o que aconteceu depois (parte do evento mencionado

pela criança) até tu ires para a cama nessa noite” (Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) 1d. “Conta-me mais sobre (actividade mencionada pela criança)”

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) 1e. “Há pouco contaste que (actividade mencionada pela criança).

Conta-me tudo sobre isso” (Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) (Se a criança realizar uma descrição pobre do acontecimento, continue com as questões 2-2e.)

(Nota: se a criança realizar uma descrição detalhada do acontecimento, diga: “É muito importante que tu me contes tudo o que te lembres sobre as coisas que aconteceram contigo. Podes falar-me de coisas boas e coisas más” Ontem

2. “Eu quero mesmo saber sobre coisas que acontecem contigo. Conta-me tudo o que aconteceu ontem, desde que tu acordaste até ires para a cama” (Espere por uma resposta)

2a. “Não queria que deixasses nada por contar. Conta-me tudo o que aconteceu desde que acordaste até (alguma actividade ou parte do acontecimento mencionado pela criança na resposta à questão anterior)” (Espere por uma resposta)

(26)

(Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) 2c. “Conta-me tudo o que aconteceu depois (alguma actividade ou parte

do evento mencionado pela criança) até tu ires para a cama” (Espere por uma resposta)

2d. “Conta-me mais sobre (actividade mencionada pela criança)” (Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) 2e. “Há pouco contaste que (actividade mencionada pela criança).

Conta-me tudo sobre isso.” (Espere por uma resposta)

(Nota: use esta questão as vezes que for necessário ao longo desta secção) Hoje

Se a criança não fizer uma descrição detalhada sobre ontem, repita as questões 2 a 2e sobre hoje, usando:

“Conta-me de tudo o que aconteceu hoje, desde que tu acordaste até chegares aqui”.

“É mesmo muito importante que tu me contes tudo o que realmente aconteceu contigo”

Parte Substantiva da Entrevista

IV.

Transição para as questões substantivas

“Agora que te conheço um pouco melhor, quero falar contigo sobre porque estás aqui hoje.”

(Se a criança começa a falar, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação – Exemplo: “o David mexeu-me no pipi” ou “o papa bateu-me”) – prossiga para a questão 10) (Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não refere nada sobre a alegação, prossiga para a questão 1) 1. “Eu percebo que pode ter acontecido alguma coisa contigo. Conta-me tudo

(27)

(Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não refere nada sobre a alegação, prossiga para a questão 2) 2. “Como eu já te disse, o meu trabalho é falar com crianças sobre coisas

que podem ter acontecido com elas. É muito importante que tu me contes porque (estás aqui/vieste aqui/eu estou aqui). Conta-me porque achas que (a tua mãe, o teu pai, a tua avó) te trouxe aqui hoje (ou “porque achas que eu estou a conversar contigo hoje)”

(Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não faz nenhuma alegação e o entrevistador não sabe que existiu algum contacto prévio com outras entidades, prossiga para as questão 4 e 5)

(Se a criança não fizer referência a nenhuma alegação e o entrevistador sabe que existiu algum contacto prévio com outras entidades, prossiga para a questão 3)

3. “Contaram-me que falaste com (Médico/Professor/Assistente Social/ outro profissional) no (data e local). Conta-me do que é que falaram. (Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não faz uma alegação e não existem marcas físicas visíveis, prossiga para a questão 5)

(Quando existem marcas físicas visíveis, o entrevistador observou fotografias destas ou lhe falaram delas, ou a entrevista decorre num hospital ou logo a seguir a um exame médico, diga:)

4. “Vejo (ouvi) que tens (marcas/feridas/hematoma) no/na (localização no corpo da criança). Conta-me tudo sobre isso.

(Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não faz nenhuma alegação, prossiga com a questão 5) 5. “Tens andado a ser incomodado ou magoado por alguém?”

(28)

(Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não confirma e não faz nenhuma alegação, prossiga com a questão 6)

6. “Aconteceu alguma coisa contigo no/em (local/data do alegado incidente)?”

(Nota: não mencione o nome do alegado suspeito ou qualquer pormenor da alegação)

(Se a criança começa a responder, espere)

((Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não confirma ou não faz nenhuma alegação, prossiga com a questão 7)

7. “Alguém te fez alguma coisa que não achaste bem?” (Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não confirma ou não faz nenhuma alegação, prossiga com a questão 8)

PAUSA – ESTÁ PREPARADO PARA CONTINUAR? SERÁ MELHOR FAZER UM INTERVALO ANTES DE CONTINUAR? SE DECIDIR CONTINUAR, DEVE FORMULAR VERSÕES ESPECÍFICAS DAS QUESTÕES 8 E 9 COM OS FACTOS DISPONÍVEIS ANTES DA ENTREVISTA. ASSEGURE-SE QUE ESTAS SUGEREM À CRIANÇA O MENOR NÚMERO DE DETALHES POSSÍVEL. SE AINDA NãO FORMULOU AS QUESTÕES, FAÇA UM INTERVALO, E FORMULE-AS CUIDADOSAMENTE ANTES DE PROSSEGUIR.

8. “Alguém (fazer breve sumário das alegações ou suspeita sem adiantar nomes para o alegado perpetrador ou providenciar demasiados pormenores)” (Por exemplo: “Alguém te bateu?” ou “alguém mexeu no teu pipi?”) (Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(29)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não confirma ou não faz nenhuma alegação, continue com a questão 8)

9. O/A teu/tua professor/a (médico(a)/psicólogo(a)/vizinho(a)) disse-me/ mostrou-me (“que tu mexeste no pipi de outras crianças/ ”um desenho que tu fizeste”), e eu queria saber se alguma coisa aconteceu contigo. Alguém (fazer breve sumário das alegações ou suspeita sem adiantar nomes para o alegado perpetrador ou providenciar demasiados pormenores)”. Por exemplo: “Alguém na tua família te bateu?” ou “alguém mexeu no teu pipi?”) (Se a criança começa a responder, espere)

(Se a criança fizer uma descrição sumária da alegação, prossiga para a questão 10)

(Se a criança faz uma descrição detalhada, prossiga para a questão 10a) (Se a criança não confirma ou não faz nenhuma alegação, continue com a secção XI)

V.

Investigação do(s) evento(s)

Questões Abertas

10. (se a criança tem menos de 6 anos, Repita a alegação usando as palavras da própria criança sem providenciar pormenores ou nomes que a criança não referiu.) (diga:)

“Conta-me tudo sobre isso” (Espere por uma resposta)

(se a criança tiver mais de 6 anos diga simplesmente:) “Conta-me tudo sobre isso”

10a. “E depois o que é que aconteceu?” ou “Conta-me mais sobre isso” (Espere por uma resposta)

(Use esta questão as vezes que for necessário até obter uma descrição completa do alegado evento)

(NOTA: SE A DESCRIÇãO DA CRIANÇA É GENÉRICA, IR PARA A QUESTãO 12 (DIFERENCIAÇãO DOS EVENTOS). SE A CRIANÇA DESCREVE UM EVENTO ESPECÍFICO, PROSSIGA PARA A QUESTãO 10b)

(30)

10b. “Pensa nesse (dia/noite) e conta-me tudo o que aconteceu desde (acontecimento precedente já mencionado pela criança) até (alegado evento abusivo conforme descrito pela criança)”

(Espere por uma resposta)

(Nota: utilize esta questão as vezes que forem necessárias para assegurar que todos os detalhes do evento são descritos)

10c. “Conta-me mais sobre (pessoa/objeto/atividade referidos pela criança)” (Espere por uma resposta)

(Nota: utilize esta questão as vezes que for necessária ao longo desta secção) 10d. “Tu contaste que (pessoa/objeto/atividade mencionada pela criança),

conta-me tudo sobre isso” (Espere por uma resposta)

(Nota: utilize esta questão as vezes que for necessária ao longo desta secção) (Se estiver confuso sobre determinados pormenores (por exemplo, sobre a sequência dos eventos), pode ser útil dizer:)

“Já me contaste muitas coisas, e isso foi muito útil, mas estou um pouco confuso(a). Para ter a certeza que percebi, começa pelo princípio e conta-me (como é que tudo coconta-meçou/ o que é que aconteceu exactaconta-mente/ como é que tudo acabou/ etc.)”

Questões focalizadas relacionadas com a informação relatada pela criança (Se ainda faltam alguns pormenores centrais da alegação ou são pouco claros após a utilização exaustiva de questões abertas, utilize questões diretas. Importante salientar que deve utilizar, sempre que apropriado, questões diretas emparelhadas com questões abertas/solicitações à elaboração) (Nota: primeiro foque a atenção da criança no pormenor referido, e depois coloque a questão direta)

Formato geral das questões diretas:

11. Contaste que (pessoa/objeto/atividade), (realização da questão direta) Exemplo:

(31)

1. “Tu contaste que estavas nas lojas. Onde estavas exactamente?” (pausa para a resposta) “Conta-me mais sobre essa loja”

2. “Há pouco disseste que a tua mãe te bateu com essa coisa comprida’. Conta-me mais sobre essa coisa.”

3. “Tu falaste de um(a) vizinho(a). Sabes o seu nome?” (pausa para a resposta) Fala-me sobre esse teu vizinho” (Não pedir uma descrição) 4. “Tu disseste que um dos teus colegas viu isso. Como ele se chama?

(pausa para a resposta) “Conta-me o que ele estava lá a fazer.” Segmentação dos Eventos

12. “Isso aconteceu uma vez ou mais do que uma vez?” (Se o evento aconteceu uma vez, prossiga para o Intervalo). (se o evento aconteceu mais do que uma vez prossiga para a questão 13. LEMBRE-SE DE EXPLORAR OS EVENTOS INDIVIDUAL E DETALHADAMENTE CONFORME ESTÁ DESCRITO A SEGUIR)

Exploração de Eventos Específicos Quando Existem Vários Questionamento Aberto

13. “Conta-me tudo sobre a última vez (a primeira vez/na altura em que no (localização)/na altura que (alguma atividade específica/outra vez que te lembres bem) em que aconteceu alguma coisa.”

(Espere por uma Resposta)

13a. “E depois o que aconteceu?” ou “Conta-me mais sobre isso.” (Espere por uma Resposta)

(Nota: Utilize esta questão quantas vezes for necessário ao longo desta secção) 13b. “Pensa nessa (dia/noite) e conta-me tudo o que aconteceu, desde (eventos

precedentes mencionados pela criança) até (alegado evento abusivo conforme descrito pela criança)”

(Espere por uma Resposta)

(Nota: utilize variantes desta questão as vezes que for necessário até que todas as partes do evento sejam elaboradas pela criança)

13c. “Conta-me mais sobre (Pessoa/objeto/ atividade referida pela criança)” (Espere por uma Resposta)

(32)

13d. Tu disseste que (Pessoa/objeto/ atividade referida pela criança). Conta-me tudo sobre isso”

(Espere por uma Resposta)

(Nota: Utilize esta questão quantas vezes for necessário ao longo desta secção) Questões focalizadas relacionadas

com informação descrita pela criança

(Se ainda faltam alguns pormenores centrais da alegação ou são pouco claros após a utilização exaustiva de questões abertas, utilize questões diretas. Importante salientar que deve utilizar, sempre que apropriado, questões diretas emparelhadas com questões abertas/solicitações à elaboração)

(Nota: Primeiro deve focalizar a criança no detalhe mencionado, e só depois coloque a questão direta)

De seguida está o formato geral das questões diretas:

14. “Tu contaste que (Pessoa/ objeto/ atividade referida pela criança), (Como/ Quando/ Onde/ Quem/ Qual/ O quê) (conclusão da questão direta)”

Exemplos

1. Tu contaste que estavas a ver televisão. Onde é que estavas exactamente? (Espere por uma Resposta)

“Conta-me tudo sobre isso”

2. “Há pouco contaste que o teu pai “te bateu”. Conta-me exactamente o que ele te fez”

3. “Tu contaste que estava lá um amigo. Como é que ele se chama? (Espere por uma Resposta)

“Conta-me o que estava a fazer”

4. “Há pouco contaste que o teu tio “etc.” (deu-te um beijo na boca/ fez sexo contigo/ etc.). Conta-me exactamente o que ele te fez.”

(33)

REPITA TODA A SECÇãO PARA TODOS OS EVENTOS

MENCIONADOS PELA CRIANÇA QUE QUER VER DESCRITOS. A NãO SER QUE A CRIANÇA TENHA ESPECIFICADO APENAS DOIS EVENTOS, PERGUNTE SOBRE “O ÚLTIMO” E DEPOIS “O PRIMEIRO”, E DEPOIS “OUTRA VEZ QUE TE LEMBRES BEM”.

VI.

Intervalo

(Diga à criança:)

“Agora quero ter a certeza que percebi tudo e ver se há mais alguma coisa que preciso de te perguntar. Eu vou só (pensar sobre o que me disseste/ rever as minhas notas/ conferir com NOME)

(durante o Intervalo, reveja a informação que recolheu, veja se falta alguma informação, planifique o resto da entrevista. CERTIFIQUE-SE DE FORMULAR AS QUESTÕES FOCALIZADAS POR ESCRITO.)

Depois do Intervalo

(de forma a obter mais informações importantes que ainda não foram descritas pela criança, coloque questões diretas e abertas adicionais, conforme foi descrito anteriormente). Utilize questões abertas (“Conta-me mais sobre isso”) depois de realizar uma questão direta. Depois de finalizar estas questões, proceda para a secção VII).

VII.

Obter informação que ainda

não foi mencionada pela criança

(Deve utilizar estas questões apenas se já tentou utilizar outras abordagens e ainda entende que falta informações de relevância forense. É muito importante emparelhar questões abertas (“Conta-me tudo sobre isso”) sempre que possível)

(Nota: No caso de vários eventos, deve direccionar a criança para os eventos relevantes utilizando as palavras da própria criança, colocando questões focalizadas apenas depois de ter dado oportunidade à criança de elaborar sobre os detalhes centrais do evento)

(ANTES DE PROSSEGUIR PARA O PRÓXIMO EVENTO, CERTIFIQUE-SE QUE OBTEVE TODAS AS INFORMAÇÕES EM FALTA SOBRE O EVENTO ESPECÍFICO)

(34)

Formato geral das questões focalizadas em informação que ainda não foi mencionada pela criança

“Quando me contaste sobre (evento específico identificado no tempo ou espaço) disseste que (Pessoa/Objeto/Ação). (Questão focalizada)?” (Espere por uma Resposta)

(Quando apropriado, continue com uma questão aberta; diga:) “Conta-me tudo sobre isso”.

Exemplos

1. “Quando me contaste sobre a altura em que estavam na cave, disseste que ele(a) tirou as calças dele(a). Aconteceu alguma coisa com as tuas roupas?” (Espere por uma Resposta)

(Depois da criança responder, diga:) “Conta-me tudo sobre isso”. (Espere por uma Resposta)

2. “Quando me contaste sobre a última vez, contaste que ele te tocou. Ele tocou-te por cima da tua roupa?”

(Espere por uma Resposta) (Depois da criança responder, diga:) “Conta-me tudo sobre isso”. (Espere por uma Resposta)

3. “Ele tocou-te por baixo da tua roupa?” (Espere por uma Resposta)

(Depois da criança responder, diga:) “Conta-me tudo sobre isso”. (Espere por uma Resposta)

4. “Contaste que alguma coisa aconteceu no recreio. Alguém viu o que é que aconteceu?”

(Espere por uma Resposta) (Depois da criança responder, diga:)

(35)

“Conta-me tudo sobre isso”. (Espere por uma Resposta)

5. “Sabes se aconteceu alguma coisa parecida com outras crianças?” (Espere por uma Resposta)

(Depois da criança responder, diga:) “Conta-me tudo sobre isso”. (Espere por uma Resposta)

6. “Contaste-me que alguma coisa aconteceu no celeiro. Sabes quando é que isso aconteceu?”

(Espere por uma Resposta) (Depois da criança responder, diga:) “Conta-me tudo sobre isso”. (Espere por uma Resposta)

VIII.

Se a criança não menciona

as informações esperadas

Utilize apenas as solicitações que são relevantes.

Se tiver conhecimento de conversas em que a informação foi mencionada diga:

1. “Contaram-me que falaste com (...) no (data/local). Conta-me o que falaram.”

(Se a criança não fornece mais informação, coloque a questão 2; Se a criança fornece mais informação, diga:)

“Conta-me tudo sobre isso”

(Prossiga com outros estímulos abertos?, como “Conta-me mais sobre isso”, se necessário)

Se tem conhecimento de anteriores revelações e a informação ainda não lhe foi revelada diga:

(36)

2. Contaram-me (ele/ ela disse-me) que tu contaste (sumário da alegação, especificando sem mencionar, se possível, detalhes incriminatórios). Conta-me tudo sobre isso.”

(Prossiga com outros estímulos abertos?, como “Conta-me mais sobre isso”, se necessário)

3. Se alguma coisa foi observado, diga:

a) “Contaram-me que alguém viu (...). Conta-me tudo sobre isso.” (Prossiga com outros estímulos abertos?, como “Conta-me mais sobre isso”, se necessário)

Se a criança negar, continue com a 3b.

b) Aconteceu alguma coisa contigo em/no (tempo/espaço)? Conta-me tudo sobre isso.”

(Prossiga com outros estímulos abertos?, como “Conta-me mais sobre isso”, se necessário)

Se a criança apresenta/apresentou lesões ou marcas físicas, diga:

4. “Vejo (Disseram-me) que tu tens (marcas/te magoaste/tens um dói-dói) no (...). Conta-me tudo sobre isso.”

(Prossiga com outros estímulos abertos?, como “Conta-me mais sobre isso”, se necessário)

5. “Alguém te (sumário da alegação sem mencionar o nome do alegado perpetrador (a não ser que a criança já tenha referido o seu nome ou fornecido informações incriminatórias)

Se a criança negar prossiga para a próxima secção. Se a criança responder afirmativamente diga: “Conta-me tudo sobre isso”

(Prossiga com outros estímulos abertos?, como “Conta-me mais sobre isso”, se necessário)

IX.

Informação sobre a Revelação

“Tu disseste porque é que vieste falar hoje comigo. Contaste-me muita coisa e isso ajudou-me a perceber o que aconteceu.”

Referências

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