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Análise da ordem das palavras nas sentenças em libras do corpus da Grande Florianópolis

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ANÁLISE DA ORDEM DAS PALAVRAS NAS SENTENÇAS EM LIBRAS DO CORPUS DA GRANDE FLORIANOPOLIS

Dissertação submetido (a) ao Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de mestre em Linguística.

Orientador: Profa. Dra. Ronice Müller de Quadros

Linha de pesquisa: Língua Brasileira de Sinais

Florianópolis - SC 2019

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. ROYER, Miriam

ANÁLISE DA ORDEM DAS PALAVRAS NAS SENTENÇAS EM LIBRAS DO CORPUS DA GRANDE FLORIANÓPOLIS / Miriam Royer; orientadora, Ronice Müller de Quadros, 2019.

152 p.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Florianópolis, 2019.

Inclui referências.

1. Linguística. 2. A pesquisa de ordem das palavras nas sentenças em Libras. 3. As observações eram feitas pelos pesquisadores que assistiam e escreviam seus registros. 4. A utilização de dados disponíveis no Corpus de Libras e fazia seus registros com o software ELAN. I. Quadros, Ronice Müller de. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Linguística. III. Título.

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ANÁLISE DA ORDEM DAS PALAVRAS NAS SENTENÇAS EM LIBRAS DO CORPUS DA GRANDE FLORIANOPOLIS

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de “Mestre em Linguística”, e aprovada em sua forma final pelo Programa

de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 15 de março de 2019.

________________________ Prof. Atilio Butturi Junior, Dr.

Coordenador do Curso Banca Examinadora:

________________________ Prof.ª Ronice Müller Quadros, Drª.

Orientadora (UFSC)

_______________________ Prof.ª Aline Lemos Pizzio, Drª.

Presidente de banca (UFSC)

_________________________ Prof. Jair Barbosa Silva, Dr.

(UFAL)

_________________________ Prof.ª Debora Campos Wanderley,

Drª. (UFSC)

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“Sei que é difícil, mas preciso lutar pelos meus objetivos. Minha segunda língua português é um problema? Não, eu tenho meus conhecimentos. A Libras é importante para minha vida!” Miriam Royer (2019)

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Eu, Miriam Royer, agradeço à Universidade Federal da Santa Catarina - UFSC por ter me dado a oportunidade de estudar no âmbito do curso de Letras Libras, me ensinar a desenvolver o meu conhecimento, também por me dar forças para concluir este projeto que levou dois anos.

Agradeço à minha família, pai Benefício Royer e mãe Neli Jacinta Royer, que sempre me apoiaram e me estimularam a continuar meus estudos. Também agradeço aos meus irmãos Roselane Royer, Rejane Terezinha Royer, Rogerio Jose Royer e Ricardo Royer; aos meus cunhados e sobrinhos; que estão no meu coração. Agradeço às professoras Solange Quatrin e Rosane Herther que me ensinaram Libras e língua portuguesa desde minha infância com Thais A. Iapp e Wesley A. Iapp.

Agradeço aos meus amigos, Daltro Carvalho Junior, Vinicius Rodrigues da Silva e Thuanny Galdino, que me apoiaram, sempre foram unidos a mim, me ensinaram, com oportunidades de trabalharmos e estudarmos juntos desde ano 2013. Também agradeço aos meus amigos Benício Bruno, Renato Paulo, Irozina Rauen, Bianca Sena, Pedro Serafim, Igor Silva, Daiane Jeremias, Raniere Almeida Cordeiro, Sara Amorim, Charley Pereira Soares, Gabriela Otaviani Barbosa e Thaís Fleury Avelar, que me apoiaram com trocas de conhecimento e aprendizagens sobre o mestrado. Agradeço à minha tradutora Poliana Wodzik, pela tradução de alguns vídeos para dissertação de mestrado.

Quero agradecer, em especial, à Professora Drª. Ronice Müller de Quadros, minha orientadora, pela oportunidade de ser orientada e por ter sido bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPQ, do Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística - IPOL e do Núcleo de Aquisição de Línguas de Sinais - NALS, por meio do Projeto do Inventário Nacional de Libras e do Inventário de Libras da Grande Florianópolis, nos últimos três anos e seis meses, estimulando o meu desenvolvimento enquanto pesquisadora da área de linguística com dedicação em nos ensinar por meio de seus projetos e por ser um bom exemplo como pesquisadora.

Agradeço ao projeto Corpus de Libras, que disponibiliza os materiais para nós, pesquisadores da Libras, o que torna o nosso trabalho um pouco menos tortuoso e por me oportunizar meu desenvolvimento enquanto pesquisadora.

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A pesquisa de ordem das palavras nas sentenças no âmbito da Língua Brasileira de Sinais – Libras – surgiu por meio de pesquisas teóricas de vários autores como Rehfeldt (1983), Ferreira-Brito (1995), Quadros (1999) e Quadros e Karnopp (2004), que abordam sua sintaxe. Diante disso, este trabalho focaliza-se a partir do estudo da ordem das palavras na Libras usada por surdos da Grande Florianópolis, conforme disponibilizado no Corpus de Libras por meio do projeto do Inventário de Libras desta região do país. Estes dados estão disponibilizados em domínio público, tornando pesquisas - como está - possíveis. Visa-se, então, questionar sobre como é possível diferenciar entre o que as teorias apresentam e a realidade das produções dos surdos em seus usos da Libras em situações efetivas no âmbito das práticas sociais linguareiras? Cabe interrogar: será que a básica ordem das palavras na Libras, em uso real, de fato é SVO? A escolha deste tema, que já vinha chamando a minha atenção há muito tempo, ocorreu após muitas leituras de diferentes autores que abordam a estrutura sintática das palavras e, diante disso, indagam: qual a ordem preferencial na Libras? Vale acenturar que análises com base em corpus de Libras dentro destas propostas não foram contempladas devido ao fato de que este material e tecnologia serem recentes e estarem em desenvolvimento. Anteriormente, as observações eram feitas pelos pesquisadores que assistiam e escreviam seus registros. Atualmente, tem-se ao alcance a facilidade dos registros filmados em Língua de Sinais. Dessa forma, com uma pesquisa mais aprofundada com base nos dados e com o embasamento proporcionado pelos pesquisadores analisa-se, assim, a estrutura para que ela seja devidamente descrita. Por isso, vale assinalar que partimos de uma proposta de análise tipológica. A utilização de dados disponíveis no Corpus de Libras é fundamental, pois

há dados da Libras em domínio público

(http://www.corpuslibras.ufsc.br/), onde podem ser encontrados registros em Libras, em um espaço em que percebemos que nós surdos, nos expressamos de maneira natural, sem que nos preocupemos com a organização de nossa fala espontânea que acontece, efetivamente, na interação com o outro. Sendo assim, este trabalho se volta para os usuários que utilizam a língua como nativos, consistindo, assim, o interesse desta pesquisa. Juntamente com o aporte da pesquisa de corpus, decidi também utilizar o software ELAN, pois tal ferramenta oferece a oportunidade de efetuar uma análise mais detalhada. Pode-se perceber que o papel da linguística abarca uma investigação científica da linguagem verbal humana, incluindo as línguas orais e espaciais, observando que todas as

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línguas compartilham uma característica importante, ou seja, os sistemas de signos usados para a comunicação. Este trabalho tem o objetivo de pesquisar a estrutura das sentenças em Libras com foco em sentenças transitivas com seus argumentos realizados por meio da análise de vídeos nos quais pessoas oriundas da comunidade surda na região da Grande Florianópolis, no estado Santa Catarina, interagem entre si. A importância deste trabalho também reside no fato de que há um número pouco expressivo de pesquisas na Língua de Sinais sobre sintaxe. Acredito que este trabalho poderá representar o primeiro passo para conhecer a realidade dos usos da Libras na comunidade surda da região da Grande Florianópolis, por meio de um estudo no campo da sintaxe. Ao analisar os resultados dentro estruturas de ordens das palavras das sentenças em Libras foram utilizados alguns dados estatísticos das anotações, para comparar as estruturas sinalizadas pelos participantes e, a partir de tal metodologia, pode ser concluído que a estrutura básica da Libras é SVO. Acrescenta-se que essa é uma pesquisa inicial que pode ser aprofundada futuramente.

Palavras-chave: Ordem das Palavras em Libras. Sintaxe. Sentença e Transcrição em ELAN.

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The search for word order in the sentences of Brazilian Sign Language - Libras – were discussed in researches of several authors that approach the syntax, such as Rehfeldt (1983), Ferreira-Brito (1995), Quadros (1999) and Quadros and Karnopp (2004). The actual study focuses on the word order in the Libras used by deaf people of Florianópolis and surrounded areas, available in the Corpus of Libras, through the project of the Inventory of Libras of this region of the country. This data is available in the public domain, making research possible. How is it to differentiate between what the theories present and the reality of the productions of the deaf in their uses of the Libras? Is the word order in Libras, in actual use, actually SVO? The choice of this topic, which had already been drawing my attention for a long time, occurred after the many readings of different strands that deal with the syntactic structure of words. In view of this, we ASL: what is the preferential order in Libras? Analyzes based on Libras corpus within these proposals are not contemplated, because this data and technology are recent and in development. Previously, the researchers who observed and wrote their own records or based on the intuition made the analyses. At present, we have the facility of records filmed in sign language, and with a deeper investigation and with the foundation provided by theory and we see the structure so that it is properly described. Our study has a typological approach. The use of data available in the Corpus of Libras is fundamental, as there are data of Libras in the public domain (www.corpusLibrasufsc.br), where we have the records available in Libras, a space in which we perceive that we deaf people, we express ourselves in a natural way, without worrying about the organization of our spontaneous sign. It simply happens in the interaction with the other. We use the language as native signers that we are and that is the interest of this research. Along with the contribution of the corpus research, I also decided to use the ELAN software, because it offers the opportunity to do a more detailed analysis. As formerly researchers observed and made their records, with ELAN we can use this feature in a more satisfactory way. It can be seen that the role of linguistics, contains scientific investigation of human verbal language as well as oral and spatial languages, noting that all languages share an important characteristic, that is, the sign systems used for communication. This work intends to investigate the structure of the transitive’s sentences with realized arguments in Libras by the analysis of videos in which people from the deaf community in Florianópolis region in the state Santa Catarina, using data from the Corpus of Libras, based on use of the

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language in a spontaneous way. Since there is little research on syntax of sign language, one can already perceive perhaps the main order as such a call may have a change. I believe that this work could represent the first step to know about the reality of the uses of Libras in the deaf community of Florianópolis region, through a study in the field of syntax. When analyzing the results within sentence order structures of the sentences in Libras showed some statistical data of the annotations, to compare the structures flagged by the participants, we confirm that the basic structure of the Libras is SVO. We add that this is an initial research that can be further explored in the future.

Keywords: Order of words in Libras, Syntax, Sentence and transcription in ELAN.

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Figura 1 - [ CARNETOP ], CACHORRO COMER ... 25

Figura 2 - CACHORRO COMER CARNE ... 26

Figura 3 - Áreas de pesquisas contempladas em dissertações de mestrado ... 29

Figura 4 - Áreas de pesquisas contempladas em teses de doutorado .... 29

Figura 5 - Construções de sentenças ... 35

Figura 6 - Instituto Nacional de Educação de Surdos, 1875 ... 79

Figura 7 - Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos ... 79

Figura 8 - Mapa espaço de filmagem ... 84

Figura 9 - Espaço de filmagem... 84

Figura 10 - Espaço de filmagem de acima ... 84

Figura 11 - Identificador de Sinais ... 86

Figura 12 - Captura de tela de ELAN com os vídeos disponíveis e com as trilhas constando as anotações ... 95

Figura 13 - Vocabulários Controlados ... 96

Figura 14 - Tipo linguístico ... 97

Figura 15 - Trilhas ... 97

Figura 16 - Fase expressiva sinal “PEGAR” ... 99

Figura 17 - Segmentação da sinalização ... 100

Figura 18 - Vocabulário controlado de tipo da sentença ... 107

Figura 19 - Ordem (S)VO - MORAR SÃO-JOSÉ-SC ... 107

Figura 20 - Vocabulário controlado de ordem sintática ... 108

Figura 21 - Trilha de ELAN ... 109

Figura 22 - Tela do ELAN com os dados anotados ... 110

Figura 23 - Modelo básico: sintagma sem movimento ... 111

Figura 24 - EU ALUGAR ESCOLA ... 112

Figura 25 - Sentença de tópico ... 144

Figura 26 - Sentença de tópico apresentada na coleta de dados ... 145

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Quadro 1 - Dados publicações das ordens ... 30

Quadro 2 - Dados publicações dos títulos ... 31

Quadro 3 - Construções com verbos ... 42

Quadro 4 - Referência de número e pessoa ... 43

Quadro 5 - Tese de ordem básica das palavras na Libras ... 57

Quadro 6 - Ordem das palavras ... 57

Quadro 7 - Distribuição da ordem das frases na língua de sinais brasileira ... 62

Quadro 8 - Autores e elementos ... 73

Quadro 9 - sinal “MÃE” ... 87

Quadro 10 - sinal “SINAL” ... 87

Quadro 11 - sinal “CASA” e “MORAR” ... 88

Quadro 12 - Surdos selecionados para a pesquisa ... 92

Quadro 13 - História dos quatro surdos selecionados para a pesquisa .. 92

Quadro 14 - Detalhe do nome de vídeos de Corpus de Libras ... 93

Quadro 15 - Quantitativo de anotações ... 94

Quadro 16 - Trilhas básicas do Corpus de Libras ... 94

Quadro 17 - Ordem das palavras oculto ... 108

Quadro 18 - Elementos identificados ... 140

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Gráfico 1 - Dados quantitativos de ordem das sentenças em LSB ... 63

Gráfico 2 - Quantitativo de anotações de unidades sintáticas em Libras ... 113

Gráfico 3 - Quantitativo de anotações de ordens sintáticas ... 113

Gráfico 4 - Total de ordens sintáticas ... 141

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ASL Língua de Sinais Americana

CNPQ Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DP Sintagmas determinantes ELAN Eudico Linguistic Annotator EUA Estados Unidos

INES Instituto Nacional de Educação Surdo

INDL Inventário Nacional de Diversidade Linguística Iphan Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IP Sintagmas flexional

IPOL Instituto de Investigação e Desenvolvimento em Política Linguística

L1 Primeira língua

Libras Língua Brasileira de Sinais1

LSB Língua de sinais brasileira

LSCB Língua de sinais dos centros urbanos LSF Língua Francesa de Sinais

NALS Núcleo de Aquisição de Línguas de Sinais SN Sintagmas nominais

SVO Sujeito, Verbo e Objeto

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina VC Vocabulário controlado

VP Sintagmas verbos

1 Optamos no uso do termo Libras para referir à língua em estudo nesta dissertação, uma vez que esse termo é usado nacional e legalmente (Lei 10.436/2002).

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1 INTRODUÇÃO ... 23

2 OS ESTUDOS DA ORDEM DAS PALAVRAS NAS SENTENÇAS EM LIBRAS ... 28

2.1 REHFELDT (1983): SINTAXE E SEMÂNTICA: DA PALAVRA PARA O TEXTO (DIÁLOGO) ... 33

2.2 FERREIRA-BRITO (2010 [1995]): SINTAXE ... 37

2.3 QUADROS (1999): A ESTRUTURA FRASAL DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS ... 44

2.4 QUADROS E KARNOPP (2004): A SINTAXE ESPACIAL ... 58

2.5 ARAÚJO (2013): A POSIÇÃO DE SUJEITO EM SENTENÇAS DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA ... 62

2.6 ANDRADE (2015): ESTUDOS SOBRE A SINTAXE DA LIBRAS...64

2.7 NAPOLI, SUTTON-SPENCE E QUADROS (2017): INFLUENCE OF PREDICATE SENSE ON WORD ORDER IN SIGN LANGUAGES: INTENSIONAL AND EXTENSIONAL VERBS ... 72

2.8 CONSIDERAÇÕES DO CAPÍTULO ... 73

3 INVENTÁRIO DE LIBRAS ... 78

3.1 INVENTÁRIO NACIONAL DA DIVERSIDADE LINGUÍSTICA...78

3.2 INVENTÁRIO DE LIBRAS DA GRANDE FLORIANÓPOLIS (QUADROS, 2016A, 2016B, QUADROS ET AL. 2017A, 2017B ... 83

4 METODOLOGIA ... 91

4.1 COLETA DE DADOS DO CORPUS DE LIBRAS ... 91

4.2 DETALHAMENTO DA TRANSCRIÇÃO REALIZADA COM O SOFTWARE ELAN ... 94

4.3 UNIDADE SINTÁTICA, TIPO DE SENTENÇAS E ORDEM SINTÁTICA ... 98

5 ANÁLISES E RESULTADOS ... 110

5.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ... 113

5.2 SÍNTESE DOS RESULTADOS ... 139

6 CONCLUSÃO ... 143

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1 INTRODUÇÃO

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a língua de sinais usada pela maioria dos surdos brasileiros. É uma língua reconhecida pela Lei 10.436, de 24 de abril de 2002. A Libras não é uma representação gestual da língua portuguesa, mas é uma língua em si, assim como outras línguas faladas e de sinais. A diferença está na sua modalidade que é visuo-espacial, ou seja, é articulada no espaço à frente do sinalizante com o uso do corpo, predominantemente das mãos e da face. Assim sendo, para se comunicar em Libras não basta apenas conhecer sinais isolados, mas é necessário conhecer a sua gramática para combinar as palavras devidamente e, estabelecer uma comunicação efetiva2.

O interesse pelo assunto da estrutura da ordem das palavras nas sentenças em Libras dos surdos da Grande Florianópolis surgiu por meio do estudo de várias pesquisas teóricas em livros de autores que abordam a sintaxe como Ferreira-Brito (1995), Quadros (1999) e Quadros e Karnopp (2004). Pode ser afirmado que este projeto de pesquisa vem a ser um pontapé teórico-epistemológico inaugural para os estudos da sintaxe com base no Corpus de Libras no Brasil. A constituição deste trabalho se deu através da utilização de dados relativos a usos de Libras produzidos por surdos da região Grande Florianópolis, considerando a língua a partir de situações efetivas de uso da linguagem, que integram o primeiro conjunto de dados coletados no âmbito do Inventário Nacional de Libras, a partir do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Este, portanto, é um estudo com base em corpus. Segundo a descrição do Corpus de Libras (2014), um corpus de Libras precisa envolver “registros em vídeo de situações eliciadas e espontâneas de uso, para ser utilizado em pesquisas e em outras finalidades aplicadas”3.

A seguir, compartilho as experiências vivenciadas nos últimos três anos, em que trabalhar como bolsista de iniciação científica, o que me possibilitou desenvolver conhecimentos e habilidades em diferentes áreas: transcrição, edição de vídeos, revisão, organização de arquivos, organização de dados para a análise. Também tive a oportunidade de vivenciar pesquisas em andamento em diferentes projetos: Núcleo de Aquisição de Língua de Sinais; Inventário de Libras da Grande Florianópolis; Inventário Nacional de Libras; Corpus de Libras;

2 Nesta dissertação decidimos usar ordem das palavras, considerando que sinais correspondem a palavras.

3 Disponível em: http://www.corpuslibras.ufsc.br/inicio?lang=ptbr. Acesso em: 12 mar. 2018.

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Identificador de Sinais. Estas experiências me ajudaram a estabelecer o um perfil enquanto pesquisadora, com possibilidades de aprofundar sobre a Libras em diferentes linhas de pesquisas. Poder estar envolvida no projeto me permitiu conhecer os dados disponíveis, pois também auxiliei na transcrição e revisão de transcrições destes dados. Li várias publicações sobre ordem das palavras nas sentenças em Libras.

A justificativa da pesquisa para escolha deste tema está articulada ao meu interesse, em longo prazo, desde muito tempo, quando comecei a estudar Linguística no Curso de Letras Libras e, posteriormente, no Programa de Pós-graduação em Linguística da UFSC. Vale ressaltar que o estudo com base em corpus é muito importante, pois permite assinalar evidências de usos da possível ordem de palavras nas sentenças em Libras. Diante disso, não se pode deixar de mencionar que há diferentes abordagens teóricas no estudo da sintaxe da língua de sinais brasileira. A pesquisa apresentada visa então analisar a estrutura da ordem sintática da língua brasileira de sinais em uma perspectiva descritiva com base em corpus de língua.

Em pesquisas anteriores ao uso de corpus de banco de dados as observações dos dados eram feitas com base na intuição de alguns sinalizantes ou com base em registros feitos por pesquisadores que assistiam vídeos e faziam suas anotações ou, ainda, por meio de diários de estudo constatando registros com base em observações in loco. Atualmente, existe a facilidade dos registros filmados em língua de sinais que podem ser processados por meio de equipamentos e softwares que permitem a anotação muito mais precisa de dados. Os movimentos, as configurações de mãos usadas, as expressões faciais, os processos linguísticos podem ser captados de forma muito mais detalhada do que antes, tudo isso em função dos recursos tecnológicos disponíveis para as pesquisas envolvendo línguas de sinais no século XXI.

Alguns pesquisadores de línguas de sinais relatam que se perdiam muitas informações ao assistir e depois fazer anotações sobre os dados em língua de sinais, pois é uma língua visuo-espacial que se movimenta no espaço de forma muito sofisticada e rápida (relatos de alguns professores do curso de Letras Libras da UFSC). Assim, atualmente é possível fazer uma pesquisa mais profunda para descrição da estrutura linguística em cada caso analisado.

Diante disso, as perguntas norteadoras desta pesquisa são: Há diferenças entre as pesquisas já realizadas com base em intuições de sinalizantes nativos da Libras e o que pode ser observado em dados com base no Corpus de Libras? A ordem das palavras SVO, considerada a ordem básica da Libras, está representada nas produções dos surdos? E as

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demais ordens são observadas nas produções dos surdos da Grande Florianópolis?

O objetivo geral de pesquisa é estudar a estrutura da sentença na Libras com foco na ordem das palavras nas sentenças cujos itens são sinalizados com base no Corpus de Libras; mostrar antigamente e atualmente a importância – e a ausência – do uso de tecnologias para nos auxiliar a proceder com análises mais precisas. Os objetivos específicos são: analisar a ordem da produção do S(sujeito), do V(verbo) e do O(objeto) no sentido de identificar as possíveis ordenações destes elementos constituintes que se apresentam nas produções destes surdos; pesquisar sobre a estrutura das sentenças com foco na ordem das palavras em Libras por meio da análise de vídeos com produções de pessoas da comunidade surda que integram o Inventário de Libras da Grande Florianópolis.

A hipótese norteadora visa indagar se a maioria das sentenças em foco tiveram verbos transitivos na ordem das palavras analisadas, ou seja, externalizaram a interação entre sujeitos a partir da seleção de um argumento externo e, pelo menos, um argumento interno. Exemplificando: uma sentença em português seria “O cachorro come carne” essa sentença seria classificada como SVO. Na Libras esta mesma proposição poderia se apresentar em outra ordem: OSV, como “CARNE, CACHORRO COMER”, conforme pode ser demonstrado na Figura 1, com tópico na CARNE, não em outra coisa. Por outro lado, poderia também ser produzida na ordem SVO sem tópico: “CACHORRO COMER CARNE”, conforme a Figura 2:

Figura 1 - [ CARNETOP ], CACHORRO COMER Carne, o cachorro come.

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Figura 2 - CACHORRO COMER CARNE O cachorro come carne.

Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Se a sentença tiver tópico pode haver mudança na ordem das palavras em Libras. Isso foi explicado por Quadros e Karnopp (2004) que apresentam a ordem SVO como sendo a ordem básica da Libras, conforme pode ser lido a seguir:

Ordem das palavras é um conceito básico relacionado com a estrutura da frase de uma língua. O ato de que as línguas podem variar suas ordenações das palavras apresenta um papel significante nas análises linguísticas... observou que de seis combinações possíveis de sujeito (S), objeto (O) e verbo (V), algumas delas são mais comuns do que outras (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 133).

O papel da linguística, entre outras coisas, é de realizar a investigação científica da linguagem verbal humana (falada ou em sinais), procurando explicar os fenômenos linguísticos assim como identificar o que todas as línguas compartilham em comum, ou seja, explicar como se organizam os sistemas de signos usados para a comunicação. Neste âmbito, vale destacar que também pesquiso especificamente a gramática de uso e sua relação com a teoria de base gerativista, porem o corpus de Libras mostra língua em uso.

A base gerativista, também denominada "gerativa", parte da existência de um sistema de regras e princípios formalizados ou explícitos, cuja circunscrição resulta em regras, princípios e padrões. Dessa forma, o corpus se constitui a partir de um conjunto de textos escritos e registros orais que são posteriormente analisados com bases teóricas específicas de análise que se debruça analiticamente sobre a fala ou a escrita das pessoas em instâncias singulares de uso.

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Assim, o recorte desta pesquisa se dá com foco na ordem sintática da Libras com base no Corpus de Libras, mais especificamente nos dados da Libras coletados no projeto do Inventário Nacional da Libras, cujos dados foram obtidos na Grande Florianópolis. Juntamente com o aporte da pesquisa de corpus, decidi também utilizar do software ELAN, pois este oferece a oportunidade de fazer uma análise mais detalhada. Como antigamente os teóricos observavam e faziam seus registros de forma muito restrita por limitações tecnológicas, atualmente pode-se contar com ferramentas que usam a tecnologia disponível para auxiliar a proceder com análises mais precisas. Os capítulos posteriores apresentarão estudos e revisões teóricas das sentenças em Libras que tiveram relação com o Corpus de Libras.

A metodologia utilizada envolve análises de produções com base em corpus de quatro pessoas surdas da Grande Florianópolis. Assim, a análise da ordem das palavras na sentença em Libras foi realizada com a utilização do software ELAN (Eudico Linguistic Annotator). Vale destacar que as anotações realizadas seguem o Manual de transcrição do Corpus de Libras do Inventário Nacional de Libras, disponível na página Corpus de Libras.

Dessa forma, esta pesquisa poderá representar o primeiro passo para conhecer sobre a realidade dos usos da Libras na comunidade surda da região Grande Florianópolis por meio de um estudo situado teórico-epistemologicamente no âmbito da sintaxe. Não se pode deixar de mencionar que essa é uma pesquisa inicial que pode ser aprofundada futuramente. Também deve ser mencionado que ao analisar os resultados relacionados às estruturas de ordem das palavras das sentenças em Libras foram utilizados alguns dados estatísticos das anotações a fim de comparar as estruturas sinalizadas pelos participantes, o que confirmou que a ordem básica da Libras é SVO.

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2 OS ESTUDOS DA ORDEM DAS PALAVRAS NAS SENTENÇAS EM LIBRAS

Ao estudar os primeiros trabalhos produzidos sobre a sintaxe da Libras no Brasil percebi que há uma base linguística que parte de um dos primeiros estudos linguísticos de línguas de sinais, realizado por Stokoe (1960) sobre a Língua de Sinais Americana (ASL), que efetuou análises de base fonológica apresentando os parâmetros primários e secundários que eram compreendidos na ASL. Vale destacar que William Stokoe é considerado o pai da linguística da língua de sinais e também influenciou pesquisadores de diferentes países a estudarem suas respectivas línguas de sinais em diferentes níveis linguísticos, inclusive no nível da sintaxe.

Ao realizar um resgate histórico das publicações a fim de encontrar aquelas relacionadas à sintaxe da Libras, foi constatado que existem vários desdobramentos possíveis acerca desta temática, considerando a ordens dos constituintes. Nesse estudo da tipologia linguística em relação à sintaxe de Libras são estudadas diversificadas sentenças externalizadas no uso dessa língua no Brasil. Mas o que é tipologia linguística? Refere-se a formas de classificações, ordenações que tornam possível a existência de averiguações acerca da história das línguas em relação à língua de sinais, considerando-se a especificidade dessa última. Segundo Pizzio (2011):

[...] tipologia é uma abordagem para a teorização linguística, ou de forma mais precisa, uma metodologia de análise linguística que dá origem a diferentes tipos de teorias linguísticas do que as encontradas em outras abordagens (PIZZIO, 2011, p. 90-91)

A escassez de resultados dessa temática entre publicações de teses e de dissertações através de sites e informação referenciais foi surpreendente, pois foram encontradas poucas publicações com este norteamento de pesquisa no período de 1983 a 2018. Podem ser encontradas em maior número, considerando-se o escopo temático em questão, publicações de artigos científicos em revistas. Algumas publicações integraram seleções de publicações que tratam da sintaxe da Libras em volumes temáticos organizados por diferentes autores. Por exemplo, Quadros (2013) publicou o primeiro volume da Série Estudos das Línguas de Sinais, que inclui investigações de levantamento de teses e de dissertações pela Capes, iniciada no ano 1994 até 2010. Veja Figura 3 e 4 abaixo:

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Figura 3 - Áreas de pesquisas contempladas em dissertações de mestrado

Fonte: Quadros (2013, p. 17 – 18).

Figura 4 - Áreas de pesquisas contempladas em teses de doutorado

Fonte: Quadros (2013, p. 17 – 18).

Ao observar as Figuras 3 e 4 pode ser mencionada a existência de apenas duas publicações na área da sintaxe de Libras: uma dissertação e uma tese.

Como foi encontrado um pequeno número de publicações, uma alternativa foi ampliar o campo de busca para livros, artigos e revistas que tratam de explanar o campo da sintaxe da Libras. Pode ser notado, então que os brasileiros produziram investigações a partir da sintaxe em Libras. Foram então encontrados vários tipos de referências, compreendendo

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diferentes áreas de investigação, conforme pode ser observado no quadro 1, abaixo:

Quadro 1 - Dados publicações das ordens

Nome de ordem Autores

Decifração da estrutura visual

Rehfeldt (1983) Ordem rígida das palavras Ferreira-Brito (1995) Ordem básica das palavras

em Libras

Quadros (1999) Ordem das frases na Libras Quadros e Karnopp

(2004) Ordem das sentenças em

LSB4

Araújo (2013) Ordem dos constituintes

em Libras

Andrade (2015) Ordem das palavras em

língua de sinais

Napoli, Sutton-Spence, Quadros (2017) Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Trata-se de estudos da sintaxe das línguas de sinais, semelhantes aos que podem ser encontrados acerca das línguas orais, mas parece não haver um consenso entre os estudos que permitam identificar a “Ordem das palavras nas sentenças em Libras”. Libras tem sido considerada uma língua SVO pela maioria dos estudiosos como Ferreira-Brito (1995), Quadros (1999), Quadros e Karnopp (2004), Araújo (2013), assim como o português também é uma língua SVO. No entanto, há inúmeras discussões sobre isso.

Antes das nossas análises, serão apresentados os estudos da sintaxe em Libras, considerando também as divergências em relação às conclusões quanto à ordem das palavras nas sentenças em Libras. A seguir, podem ser observadas as pesquisas realizadas, considerando questões de ordem teórica, conforme o quadro 2:

4LSB é língua de sinais brasileira.

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Quadro 2 - Dados publicações dos títulos Autor, ano Título Tipo de referência Principais referências utilizadas Rehfeldt (1983) Sintaxe e Semântica: da palavra para o texto (diálogo). Pagina 17. Revista: Ciências e Letras – O espaço semiótico-linguístico das línguas de sinais e o treinamento bilíngue do surdo Fillmore (1968); Oates (1969); Cabral (1977). Ferreira-Brito (2010 [1995]) Sintaxe Pagina 60. Livro: Por uma gramática Língua de Sinais Fischer (1975); Friedman (1976); Carol Padden (1980). Quadros (1999) A Estrutura frasal da Língua Brasileira de Sinais Tese Pollock (1989); Chomsky (1991); Lasnik (1993); Bobaljik (1995). Quadros e Karnopp (2004) A sintaxe espacial Capítulo 3 - página 127. Livro: Língua de sinais brasileira - estudos linguísticos. Siple (1978); Lillo-Martin (1986); Fischer (1990); Bellugi et al (1990). Araújo (2013) A posição de sujeito em sentenças da Língua de Sinais Brasileira Dissertação Chomsky (1981); Lyons (1987); Felipe (1989); Ferreira-Brito (1995); Fiorin (2002); Quadros e Karnopp (2004); Felipe (2007); Cerqueira (2008); Quadros, Pizzio e Rezende (2009); Vilhalva (2009);

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Faria-Nascimento e Nascimento (2010); Quadros (2011). Andrade (2015) Estudos sobre a sintaxe da Libras Capítulo 2 - página 24. Dissertação de Mestrado: Causatividade em Libras. Givón (1970); Fisher (1973); Fernandes (1994); Meir (1998). Strobel e Fernades (1998); Lidell (2003); Quadros e Karnopp (2004); Crato (2010); Ferreira-Brito (2010); Napoli, Sutton-Spence e Quadros (2017) Influence of predicate sense on word order in sign languages: Intensional and extensional verbs Artigo Project Muse Fischer (1975); Liddell (1980); Padden (1988); Fischer e Janis (1990); Liddell (1980, p. 90– 91); Aarons (1994); Coerts (1994); Brito (1995); Matsuoka (1997); Quadros (1999); Chen Pichler (2001); Kristoffersen (2003); Braze (2004); Quadros e Karnopp (2004); Dryer (2005); Pizzio (2006); Meir et al. (2007); Quadros e Lillo-Martin (2008); Souza e Duarte (2014); Napoli e Sutton-Spence (2014); Fonte: Elaborado pela autora (2019).

Pode-se perceber que os diversos pesquisadores que abordam o tema da sintaxe na Língua de Sinais vêm desenvolvendo suas pesquisas após o ano de 1983. Isso se dá porque até meados da década de 80, as línguas de sinais não eram reconhecidas, tanto que os surdos eram proibidos de usar sua língua de sinais e tinham que se submeter a

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preconceitos linguísticos direcionados pejorativamente ao uso das línguas de sinais. Mesmo nesta situação muitos pesquisadores continuavam a perseverar e defender as línguas de sinais, ainda que as interdições e chacotas perpetuassem, apesar de haver mudanças e ter sido observado, com o passar do tempo, que os preconceitos em relação às línguas de sinais diminuíram expressivamente.

As pesquisas anteriores ao ano de 1983 não davam suporte às línguas de sinais, pois nem reconheciam seu status linguístico. Por esse motivo os pesquisadores brasileiros começaram a usar referências de outros países, que já apresentavam evidências de que as línguas de sinais eram, de fato, línguas. Nos Estados Unidos, onde as pesquisas se desenvolviam, ano após ano, as publicações de Stokoe (1960) foram um marco na mudança de paradigmas em relação às línguas de sinais. Após ter sido constatada a veracidade de suas explicações houve um espraiamento de suas pesquisas em todo o mundo. Os Estados Unidos já contavam com esse avanço e foi nesse momento que os pesquisadores começaram a usar as publicações de Stokoe (1960) como embasamento para amplificar suas análises da Libras.

No Brasil a primeira autora a falar sobre a sintaxe em Libras foi a pesquisadora Rehfeldt (1983), mas ela apenas iniciou a discussão sobre a estrutura gramatical da Libras. A segunda autora foi Ferreira-Brito (1995), que partiu de Fischer (1975). A terceira pesquisadora foi Quadros (1999). Esta última pesquisadora teve como foco a sintaxe das línguas de sinais e descreveu detalhadamente a estrutura frasal da Libras a partir das intuições de sinalizantes nativos, considerando também as expressões faciais e corporais e como elas influenciam na produção dos sinais.

Quadros (1999) é um marco na história da língua de sinais em nosso país, pois se antes Stokoe (1960) era utilizado, um teórico de terras longínquas, para ressaltar a integridade de nossa língua, agora pode ser utilizada como referência uma pesquisadora brasileira com profundo conhecimento e familiaridade acerca das particularidades de nossa língua. Foi após estas publicações nacionais que houve um incentivo considerável ao desenvolvimento de novas pesquisas, mais detalhadas e mais rigorosas.

2.1 REHFELDT (1983): SINTAXE E SEMÂNTICA: DA PALAVRA PARA O TEXTO (DIÁLOGO)

A pesquisadora Rehfeldt (1983) desenvolveu uma pesquisa que é usada como evidência do status linguístico da Libras, constatando que se trata de uma língua de fato. Antes dela e desse período, era utilizada a

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expressão “linguagem de sinais” e não a palavra “língua” para se referir à Libras. Isso acontecia devido ao senso comum difundido naquele período, onde o termo “linguagem dos gestos” ou “linguagem de sinais” se referia à Libras.

O senso comum difundia a ideia de que a língua de sinais não era considerada uma língua. Nesse interim, Quadros batalhou para desenvolver suas pesquisas e provar que Libras era, sim, uma língua. Havia outras pesquisas em diversas áreas que poderiam ser relacionadas à língua de sinais considerando especificidade em relação a línguas orais, considerando-se no âmbito de uma modalidade distinta e isso foi feito por Reheldt (1983) através de estudos sobre lógica, estilística, topicalização, verbo e sujeito da estrutura superficial da oração.

Reheldt (1983) utiliza uma análise sintática e semântica. Dessa forma, ao observar uma oração, os elementos podem ser mais facilmente compreendidos como estando organizados com base semântica. Embora o interesse desta pesquisa esteja voltado mais para a área da sintaxe da Libras a semântica aqui apenas guiará a observação da seleção dos argumentos externos e internos de sentenças com verbos transitivos.

No entanto, verificou-se que especificamente nesta área não há muitas pesquisas que expliquem o motivo de as coisas serem da maneira como nós são apresentados. É como se faltasse um aporte de conhecimentos para explicar muitos fatores e é partindo desta observação que se darão as contribuições para a análise que será efetuada.

A maioria das pessoas e da comunidade científica não levou a sério esse movimento de considerar a língua de sinais como uma língua efetivamente, pois anteriormente ao ano de 1983 essas pesquisas não eram apoiadas.

A lei 10.436, chamada de Lei de Libras, no Brasil é datada do ano de 2002, portanto antes desse período, mesmo com a Lei, a Libras não era respeitada em alguns locais, o que é muito diferente do momento em que vivemos atualmente, pois há um forte movimento contra esta corrente e a Libras passou a ter uma significativa representatividade.

O que está supracitado nas pesquisas foi observar algumas frases escritas que foram passadas para a língua de sinais, em sua perspectiva bilíngue a Língua Portuguesa e a Libras poderiam constituir um sujeito bilíngue. Rehfeldt analisou como se dava a fala em língua de sinais e como era em língua portuguesa, para assim apontar quais eram as diferenças apresentadas. Esse trabalho serviu como aporte de suas perspectivas bilíngues.

A pesquisadora Rehfeldt (1983) mostra as estruturas das sentenças na Libras, a partir de Fillmore (1968), que analisou a ASL, pesquisou a

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ASL e sua teoria de “Gramática dos casos" como modelo de análise linguística, mas não encontrou equivalente na Libras. Rehfeldt (1983) demonstra a estrutura de argumentos por meio de sintagmas nominais (SN) como no caso de o verbo “ABRIR”, cujo uso pode ocasionar várias construções de sentenças, conforme ilustrado na Figura 5 abaixo:

Figura 5 - Construções de sentenças

Fonte: Rehfeldt (1983, p. 33).

Nesta Figura, pode-se perceber que uma explicação sobre a sentença precisa ser aprofundada, pois aqui seu foco não parece ser Libras, mas a Língua Portuguesa.

A visibilidade da língua de sinais pode ser percebida como sendo algo positivo, apesar de haver a insistência, na academia, de que seu estudo carece de aprofundamento empírico, o que, ao invés de desanimar, impulsiona a elaborar ainda mais pesquisas e estudos. Rehfeldt ainda menciona que “talvez por esta razão poderá ser muito útil para o trabalho de treinamento linguístico do deficiente auditivo.” Isso leva a assinalar que o enfoque da autora residiu, na ocasião, na reabilitação da fala nas crianças surdas. Assim, sua pesquisa trazia Libras, mas como aporte para a Língua Portuguesa.

Reheldt (1983), no entanto, reconhece a Libras como língua e sustenta a necessidade de ampliar as pesquisas no campo da Linguística com a Libras. Atualmente, percebe-se que há um aumento de pesquisadores surdos, que apresentam a vantagem de serem sinalizantes e dominarem a Libras como sua primeira língua (L1). Rehfeldt (1983) mostra em sua análise que há uma base para a estrutura da sentença da língua de sinais em questão, conforme segue:

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Auxilio da expressão facial: produzir sentença feita pergunta [modalidade]:

POR QUE ELE NÃO IR ESCOLA? Por que ele não foi a escola?

Ponto de referência o corpo: produzir sentença com quem está falando ou com quem fala:

MÃE LEVAR FILHO ESCOLA Mãe leva filho na escola.

Ponto de referência: produzir sentença com quem executa [agente] e quem sofre determinada ação [paciente]:

GATO COMER RATO O gato come rato.

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Marcado pela direção do movimento em relação ao corpo: produzir sentença com sinalizante tempo [passado, presente e futuro]:

ONTEM EU TRABALHAR LOJA Ontem eu trabalhei na loja.

AMANHÃ EU IR TRABALHO LOJA Amanhã eu trabalharei na loja.

Nesta pesquisa, se iniciam as pesquisas que reconhecem as estruturas sintáticas da Libras como uma língua, com uma gramática, mas não havia exemplos das figuras em Libras, ou seja, havia uma fragilidade empírica. Essa autora utilizou a expressão “decifração da estrutura visual” que é interessante. Foi uma das primeiras linguistas a pesquisarem a Libras, um passo importante para área da linguística no Brasil.

2.2 FERREIRA-BRITO (2010 [1995]): SINTAXE

No período da publicação deste livro não havia nenhum outro anterior a este que situasse as especificidades da língua ou que tivesse Libras como seu foco temático. O livro contém pesquisas das línguas de sinais em diferentes visões e subáreas e, para esta pesquisa, foi selecionado um capítulo que está relacionado com a presente pesquisa, o capítulo 2, sobre “A Sintaxe e Incorporação de Funções Gramaticais” – página 52 a 67 - que traz estudos acerca da Incorporação e da Sintaxe”.

A leitura deste livro é muito agradável é preciso pontua que não se trata de uma apresentação aprofundada sobre as especificidades da Libras. Trata-se da primeira publicação sobre a Libras e, por isso, a apresentação é mais geral. Mesmo assim, o livro fornece fatos para provar que Libras

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é uma língua, mas não utiliza estudo de corpus, tampouco o auxílio de gravações e softwares ELAN para fornecer mais dados sistemáticos ao estudo até porque estes recursos não estavam disponíveis na época. Ainda assim, com todas as dificuldades de pesquisa até a efetivação da publicação, esse livro é um marco em nosso país. Esta pesquisadora teve muito trabalho em juntar os materiais necessários para fornecer as evidências linguísticas apresentadas, mostrando mais uma vez a importância de seu trabalho. Dessa forma, a presente pesquisa apoia essa iniciativa e reconhece o valor da obra.

Para Ferreira-Brito (1995) a sintaxe envolve uma incorporação de funções gramaticais, que podem ser atestadas a partir de publicações sobre a ordem das palavras nas frases da ASL, por exemplo. No caso da Libras, ela chega à conclusão de que a ordem básica é SVO, apresentando vários fenômenos linguísticos, conforme listado a seguir, como exemplos disso:

Incorporação de objeto direto:

COMER-MAÇA TOMAR-CAFE

Incorporação de locativo temporal:

ELE ALUGAR CASA Ele aluga a casa.

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Verbos direcionais: incorporação do sujeito e objeto:

1SCONVIDAR2S FESTA

Ele me convida a festa.

Verbos com incorporação da negação:

MENINO GOSTAR-NÃO FRUTA O menino não gosta de fruta.

Sentença com marcação de tempo (advérbio de tempo):

ONTEM EU IR CASA AMIGO Ontem eu fui casa de meu amigo.

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Elemento da frase de topicalização:

[CASATOP] MÃE IR

Para casa, mãe vai.

Sujeito e objeto não podem ser invertidos (depende do tipo de verbo do objeto pelo argumento interno):

BOI COMER MILHO O boi come milho.

*MILHO COMER BOI *O milho come boi.

Uso do espaço para mecanismos gramaticais: ÁRVORE HOMEM SUBIR

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Localização dos referentes:

ESCOLAx MENINOy IR

O menino foi à escola.

Uso do corpo e do espaço do corpo:

ÁRVORE HOMEM CORTAR Homem corta uma árvore.

Verbos direcionais e não-direcionais:

PERGUNTAR GOSTAR

Uso da orientação do corpo e de dêiticos:

EU GOSTAR DEL@ Eu gosto dele.

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ELE CONVERSAR ELA Ele conversa com ela.

Uso ou apagamento do sujeito (sinal nominal) e do “proforma” (classificador):

LIVRO GROSSO DAR+ Eu dei livro grosso para vocês.

Neste exemplo, também há o apagamento do objeto (sinal nominal). Dessa forma, Ferreira-Brito (1995) pesquisa as construções com verbos, observando: que o sujeito e o objeto também estão vinculados com a localização dos referentes, com a reação do experienciador acerca do estado ou ação do agente; o verbo enquanto estado cognitivo, emotivos ou experienciador; o verbo de ação para sinalizar como agente, movimento com ação. No quadro 3 são apresentados exemplos de verbos de estados verbos de ações:

Quadro 3 - Construções com verbos

Verbos de estados Verbos de ações

PENSAR, ENTENDER, DUVIDAR, GOSTAR, SABER etc.

COMER, PAGAR, FALAR, ANDAR etc. Fonte: Ferreira-Brito (1995, p. 61)

Os verbos podem incluir o sujeito e o objeto, dependendo do seu tipo, da gramática e da sentença em Libras e, conforme Ferreira-Brito (1995, p. 61): “Estes verbos não são flexionados, por isso, a ordem é pertinente [...]”. Não são mencionadas as diferentes ordenações de palavras: SOV, VSO, VOS, OVS. Pode ser mencionado, ainda, que a

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autora estava iniciando as pesquisas e apresentou as primeiras análises das sentenças na Libras. Segundo Ferreira-Brito (1995) é possível encontrar sentenças subordinadas, coordenadas e as sentenças predicado - tipo “CARRO BONITO” (para “carro é bonito”) - na sintaxe em Libras. A autora observa que as orações subordinadas parecem indicar que:

Não há em LIBRAS a forma infinitiva do verbo. Então mesmo na subordinada, ele traz a marca de concordância em número e pessoa com o sujeito. (FERREIRA-BRITO, 1995, p. 67).

Observa-se que as orações subordinadas e coordenadas não apresentam palavras funcionais como encontrado na língua portuguesa, como “que” e “se” porque em Libras não são utilizados estes elementos. O tipo de sentença a seguir exemplifica a marcação de número e de pessoa com uma sentença subordinada:

MENINA PENSAR VOCÊ FICAR CASA

A sentença na língua portuguesa apresenta o elemento “que” que indica a oração subordinada. Em Libras não há este elemento embora a sentença apresente esta estrutura.

A menina pensou que você estivesse em casa.

O predicado em Libras é caracterizado pela modalidade espaço- visual, por isso são utilizados elementos como espaço e referência de número e de pessoa no verbo:

Quadro 4 - Referência de número e pessoa 1º pessoa singular e plural = 1S e 1P 2º pessoa singular e plural = 2S e 2P 3º pessoa singular e plural = 3S e 3P

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MÃE 3SMANDAR3S FILHO 3SDAR-BOLO2S

Mãe manda filho que entregue bolo para você.

Fonte: Tradução em Libras de Ferreira-Brito (1995, p. 64)

É preciso destacar que Lucinda Ferreira-Brito foi uma pesquisadora importante porque publicou um livro que teve muita repercussão e é amplamente citado até os dias de hoje. Neste livro ela explica vários componentes linguísticos da Libras apresentando as primeiras análises da estrutura desta língua.

2.3 QUADROS (1999): A ESTRUTURA FRASAL DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Quadros (1999) analisa a Libras profundamente quanto à estrutura da frase por meio de estudos com línguas orais e línguas de sinais, buscando verificar os elementos identificados em diferentes estudos que pudessem ser encontrados ou não na Libras. Mesmo sendo brasileira não teve uma base de pesquisas aqui no Brasil e, por isso, foi aos EUA para buscar pesquisas na ASL. Utilizando, portanto, elementos encontrados na Língua Americana de Sinais, pode associar estes componentes com a Libras e, assim, pode comparar as duas línguas de sinais e os comportamentos linguísticos delas adjacentes. Vale destacar que nos Estados Unidos, naquela época, existiam outros pesquisadores desenvolvendo suas pesquisas com as línguas de sinais, o que pode auxiliar Quadros em sua busca.

A pesquisadora Quadros (1999) segue teoricamente os estudos de Noam Chomsky no que diz respeito à estrutura da frase nas línguas. Ele desenvolveu a teoria gerativista, utilizada por Quadros (1999) para desenvolver sua análise da Libras. Diante disso, o rigor de seus estudos é

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incontestável bem como a qualidade das explicações aprofundadas que são fornecidas sobre a estrutura frasal da Libras.

Com o passar do tempo o avanço das tecnologias favoreceu o desenvolvimento de novas análises, pois naquela época não havia a ferramenta ELAN ou similar para analisar dados empíricos da Libras. Quadros (1999) analisou dados da Libras a partir das intuições de sinalizantes nativos não utilizando dados com base em corpus da língua, até porque realizou uma pesquisa de cunho gerativista, o que não implicou na necessidade de uso do ELAN já que partiu de dados com base intuitiva. De certa forma a proposta da presente pesquisa toma como ponto de partida a pesquisa de Quadros (1999), incluindo dados de corpus da Libras com a utilização do software ELAN para auxiliar nas análises, com vistas a uma pesquisa mais aprofundada. Os estudos de Quadros (1999) envolvem exatamente a questão da estrutura da frase com uma análise detalhada das diferentes ordens identificadas nesta língua. Assim, serão considerados os estudos anteriores, mas a referência principal serão os argumentos trazidos por Quadros (1999) a fim de verificá-los com dados com base em corpus.

A esta altura cabe destacar que Ferreira-Brito (1995) forneceu um alicerce para comparação entre a Libras e a Língua Portuguesa, mas não a nível sintático. Dessa forma, alguns anos depois, a pesquisadora Quadros (1999) fez este aprofundamento comparando sintaticamente a Libras e a ASL.

Estes pesquisadores e teóricos desenvolveram suas investigações com base em uma comparação sintática a partir dos estudos com as línguas faladas. O objetivo desta pesquisa não é utilizar o Português e seus elementos como base para comparações, mas analisar a Libras em uso por seus falantes e a partir disto elencar seus elementos. Outrossim, esta pesquisa está vinculada ao desenvolvimento de métodos mais aprofundados que se utilizaram destas bases, como Quadros (1999) e Ferreira-Brito (1995), já que muitos foram os que contribuíram para o desenvolvimento do presente trabalho.

Até podem ser considerados os estudos com a Língua Portuguesa, porém este não é foco principal. Posto isso, torna-se necessário mencionar que a ordem básica das palavras é estabelecida através da interação de elementos estruturais frasais com marcações manuais ou não-manuais e propriedades das construções na Libras, conforme pode ser observado a seguir:

Marcação de mudança de olhos e de corpo: produzir sentença com o uso dos olhos e do corpo:

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JOSÉ GOSTAR IX(ela) MARIA José gosta de Maria.

Afirmativa: produzir sentença com expressão facial neutra ou movimento de cabeça:

EU GOSTAR CACHORRO Eu gosto de cachorro.

Negativa: produzir sentença com expressão facial de negação. Foram verificados dois tipos sentença diferente: sinal “NÃO”, incorporação da negação no verbo:

EU TER-NÃO CASA Eu não tenho casa.

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ELA NÃO MORAR FLORIANOPOLIS-SC Ela não mora em Florianópolis - SC

VOCÊ PRECISAR-NÃO NÃO COMPRAR MOTO Você não precisa comprar moto.

Interrogativa QU e S/N: produzir sentença em que o sinalizante produz expressão facial com sobrancelhas franzidas e movimento da cabeça inclinando-se para frente. Podem ser identificados dois tipos de sentenças em Libras:

a) QU: produzir sentenças com uns elementos interrogativos (o que, quem, por que, como, onde, para quê, quando e quanto):

O-QUE JOÃO COMPRAR? O que João compra?

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QUEM GOSTAR BOI? Quem gosta de boi?

PORQUE VOCÊ FALTAR AULA? Por que você faltou à aula?

COMO ELE ENTRAR CASA? Como ele entrou na casa?

VOCÊ MORAR ONDE? Onde você mora?

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PARA-QUÊ COMPRAR CARRO? Para quê comprar carro?

QUANDO VOCÊ VAI VIAGEM? Quando você irá viagem?

QUANTO VALOR ESSE ROUPA? Quanto é valor dessa roupa?

b) S/N: produzir sentença com interrogativas em que a resposta pode ser sim ou não:

VOCÊ QUER SUCO? Você quer suco?

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VOCÊ CONHECER ELE? Você conheceu ele?

Focalizadas e duplas: produzir sentença com duplicação do elemento com foco no final de sentença:

EU COMPRAR CARRO COMPRAR Eu compro carro.

VOCÊ PODER FOLGA PODER Você pode ter folga.

Topicalizada: produzir sentença no início da sentença com expressão facial de tópico:

CARROTÓP PAI GOSTAR

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Sentenças com dois verbos: produzir sentença em sinalizante a partir do uso de dois modificadores de dois verbos:

ELE GOSTAR TRABALHAR AGRONOMIA Ele gosta de trabalhar em agronomia.

Sentenças com advérbios temporais: produzir sentença com advérbios temporais:

EU IR CASA AMIGO AMANHÃ Eu vou na casa de meu amigo amanhã.

AMANHÃ EU IR CASA AMIGO Amanhã eu vou na casa de meu amigo.

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EU AMANHÃ IR CASA AMIGO Eu vou na casa de meu amigo.

Verbo com concordância: produzir sentença com flexibilidade na ordem devido à realização de concordância no verbo com referência de pessoa e também que permite haver argumentos nulos:

LIVRO MARIA DAR JOÃO De livro, Maria deu para João.

MARIA JOÃO LIVRO DAR Maria deu livro para João.

MARIA DAR LIVRO IX JOÃO Maria deu livro para João.

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LIVRO (EU) 1SDAR2S (VOCÊ)

Eu te dei livro.

Sentenças com verbo sem concordância: produzir sentença que não tem concordância no verbo com referência de pessoa:

MEU AMIGO GOSTAR VOCÊ Meu amigo gosta de você.

Auxiliar: produzir sentença com auxiliar quando não há flexão verbal no verbo (pessoa, número, tempo e modo):

JOÃO MARIA AUX AMAR João ama Maria.

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Quadros (1999) já havia considerado as pesquisas com Libras de Felipe (1989) e Ferreira-Brito (1995) que mostraram que a Libras tem várias possibilidades de ordenação das palavras na frase, mas constatou que parece haver uma ordem básica SVO. Diante disso, pode ser afirmado que a sentença pode ocorrer através da aparição de vários tipos de frases: simples, interrogativas, orações subordinadas, sentenças com advérbios, com modais e auxiliares e outros tipos de sentenças mais complexas.

A partir da ordem básica das palavras - SVO em Libras - Quadros (1999) constatou que pode ter os seguintes tipos de ordem: SVO, OSV e SOV. Essas ordens de palavras podem acontecer por estarem associadas com elementos estruturais frasais com marcações manuais ou não- manuais e propriedades das construções na Libras. A seguir são apresentados tipos de construção:

Construção SVO: são gramaticais sem informação complementar; afirmativa; negativa; focalizada; interrogativa QU e SN; concordância:

EU GOSTAR CACHORRO Eu gosto de cachorro.

EU GOSTAR-NÃO CACHORRO Eu não gosto de cachorro.

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EU GOSTAR CACHORRO GOSTAR Eu gosto de cachorro.

QUEM COMPRAR CARRO? Quem compra um carro?

ELE GOSTAR CACHORRO? Ele gosta de cachorro?

Construção OSV: são derivadas somente mediante alguma marca especial de expressão não-manual; tópico; concordância:

CASA JOSE COMPRAR Casa, José compra-la.

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LAPIS 1SDAR2S

Lápis, Eu te dei.

Construção SOV: são derivadas somente mediante alguma marca especial (expressão não-manual); foco; com concordância:

ELE TELEVISÃO VER[CONC]

Ele viu televisão.

EU QUEBRAR CELULAR QUEBRAR[FOCO]

Eu quebrei celular.

Quadros (1999) explica que as combinações dos constituintes VSO, VOS e OVS são ordens não aceitáveis nas sentenças na Libras e, portanto, são agramaticais. A autora constata que a ordem básica das palavras na Libras é SVO e que a ordem das palavras OSV e SOV são derivadas do SVO. Então, ela explica sua tese da seguinte forma:

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Quadro 5 - Tese de ordem básica das palavras na Libras

(1) todas as sentenças SVO são gramaticais sem qualquer informação adicional;

(2) ordem das palavras OSV e SOV são permitidas somente quando há alguma característica especial, como concordância e os marcadores não-manuais;

(3) não há dúvidas sobre a interpretação de sentenças SVO com argumentos reversíveis, como com ordem das palavras OSV e SOV; no entanto, as sentenças que contêm esses argumentos reversíveis são consideradas não gramaticais com verbos transitivos porque ambos os argumentos são interpretados como assunto e o objeto é eliminado. Este não é o caso dos verbos transitivos opcionais, já que as sentenças com argumentos reversíveis são ambíguas;

(4) outras combinações como VSO, OVS e VOS não são possíveis na LSB, mesmo na presença de um marcador especial.

Fonte: Quadros (1999, p. 72 - 73).

O quadro abaixo foi extraído de Quadros (1999), que sintetiza as possibilidades de ordenação das palavras identificadas na tese da autora.

Quadro 6 - Ordem das palavras

Fonte: Quadros (1999, p. 73).

Apresenta seis ordens, das quais três são possíveis e as outras três restantes não são derivadas. A partir disso, esta pesquisa pode trazer evidências destas ordens com análises e comparações na produção dos surdos com base no corpus selecionado. Em síntese, na tese apresentada por Quadros (1999) sobre a estrutura frasal foram identificados pontos importantes que apresentam evidências para a ordem básica SVO e, então, uma proposta de estrutura da frase com verbo.

Pode-se perceber que na presente pesquisa foi explanado de forma mais breve sobre a estrutura frasal, as expressões e locações e, em terceiro a ordem SVO. Isso porque as pesquisas no campo da sintaxe no âmbito

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da Libras ainda são bastante incipientes. Dessa forma, isso nos serve de estímulo para que continuem a pesquisar a Libras.

Uma possibilidade que surge é de que mais pesquisas possam ser efetuadas para acrescentar conhecimentos, visto que os estudos mencionados foram realizados há vinte anos, fazendo crer que no momento em que vivemos, com as novas tecnologias, podem ser obtidos diferentes dados e informações para analisar com base em diversos fatores, como a tecnologia de ELAN. Ainda sobre a estrutura dos tipos frasais existem poucos apontamentos e, por isso, seria produtivo que novos olhares permeassem estas análises. É muito satisfatório perceber o estímulo fornecido por estes pesquisadores que por assim dizer abriram o campo das pesquisas para que fossem desenvolvidos outros estudos sobre a Libras, sobretudo, no caso em questão, no campo da sintaxe com foco na estrutura frasal.

2.4 QUADROS E KARNOPP (2004): A SINTAXE ESPACIAL

Os estudos de Quadros e Karnopp (2004) abrangem diferentes campos da Linguística voltados para a Libras. Conforme mencionado anteriormente, as pesquisas apresentadas nos trazem fatos linguísticos da Libras que evidenciam ser esta uma língua de fato. Importante, neste contexto é a existência da Lei 10.436/2002 que reconhece o estatuto linguístico da Libras e a reconhece como língua pertencente à comunidade surda brasileira. Essa é uma conquista da comunidade surda brasileira e reflete o alcance dos resultados encontrados nas pesquisas com língua. Na sequência, foi publicado o Decreto 5.626/2005. A publicação de Quadros e Karnopp, assim como as pesquisas que a antecederam, teve uma grande repercussão em todo o país, oferecendo também subsídios para a composição deste decreto.

A maior parte dos pesquisadores brasileiros hoje utiliza a obra de Quadros e Karnopp como base teórica, assim como os cursos de mestrado e doutorado em nosso país, pois esta publicação é considerada como guia para muitas pesquisas.

Quadros e Karnopp (2004) embasaram suas pesquisas em vários autores americanos e alguns europeus cujas publicações foram produzidas originalmente em inglês, que também constam em Quadros (1999). Isso porque as autoras fizeram análises dos textos com foco em suas pesquisas, disponibilizando as análises da Libras em português.

Atualmente ambas as obras se tornaram referências importantes. Para presente pesquisa, parte-se especialmente da obra de Quadros (1999)

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abordada no capítulo de sintaxe em Quadros e Karnopp (2004). Sobre tal tema, podem ser as autoras mencionam:

Sinais em local especifico: existe a possibilidade de os elementos da sentença estarem localizados em pontos específicas do espaço para sinalização, o que pode interferir na ordem das palavras na sentença:

CASA (do João) CASA (do Pedro)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 128).

Direcionar a cabeça, os olhos e o corpo: produzir sentença utilizando a direção da cabeça, dos olhos e do corpo para gerar concordância em relação à localização simultaneamente com os sinais:

CASA IX(casa)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 128).

Apontação ostensiva com referência específica: produzir sentença que indica o referente de forma explícita:

IX CASA

(60)

Pronome com apontação ostensiva: produzir sentença que utiliza a localização da referência:

IX(casa) NOVA

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 129).

Classificador com referência: produzir sentença se utiliza a de uma referente localização no espaço:

CARRO CL (carro passou um pelo outro)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 129).

Verbo direcional com referente: produzir sentença com omissão de sujeito e objeto porque o verbo é direcional (com concordância):

(eu) IR (casa)

(61)

Ao observar as explicações possíveis sobre as referências da área de Libras foram encontradas diversas análises acerca dos diferentes usos das referências na Libras. Ao olhar com atenção primeiramente podem ser mencionadas algumas análises em Quadros (1995) e em Quadros (1999), complementadas posteriormente em Quadros e Karnopp (2004), que nos apresentam diversos aspectos dos usos de referência.

Construção ordem (S)V(O): é derivada por omitir sujeito e objeto, mostra verbo com concordância e referência especifica:

aDARb (el@) deu (algo) (el@)

Fonte: Quadros e Karnopp (2004, p. 154).

Em Quadros e Karnopp (2004) foi verificado que o uso da ordem VOS segundo Quadros (1999) não era aceita na época como possível dos falantes, mas atualmente ela pode ser encontrada na produção de falantes surdos, em contextos muito específicos. Isso porque Quadros (1999) não havia verificado tais ocorrências na época. Arrotéia (2003), em sua dissertação de mestrado sobre negação, acabou identificando a ocorrência da ordem VOS, cuja pesquisa reuniu dados que evidenciaram que a ordem VOS apresenta expressões de FOCO, em ordenamentos nos quais pode haver dois verbos em uma mesma sentença e eles são omitidos algumas vezes em Língua de Sinais Brasileira, com a confirmação dos movimentos de cabeça afirmativos. Após esta publicação, as pesquisadoras Quadros e Karnopp (2004) perceberam que isso era possível também, o que possibilitou a complementação do quadro identificado anteriormente por Quadros (1999):

Construção ordem VOS: pode ser derivada, apenas em contexto de foco contrativo seguindo a análise de Arrotéia (2003):

Referências

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