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Educação ambiental, representações sociais e formação de professores(as): de volta a escola com Monteiro Lobato

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO. Dissertação de Mestrado. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS): de volta à escola com Monteiro Lobato ____________________________. Andreia Vedoin Cielo. PPGE. SANTA MARIA, RS, BRASIL 2006. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(2) EDUCAÇÃO AMBIENTAL, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS),: de volta à escola com Monteiro Lobato ____________________________. por. Andréia Vedoin Cielo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, área de concentração Formação de Professores, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. PPGE. SANTA MARIA, RS, BRASIL 2006 ii. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(3) Ao Jair, meu grande amor, pelo companheirismo e pelo apoio incondicional, na vida e, em especial, neste trabalho.. iii. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(4) AGRADECIMENTOS. Ao meu professor orientador, Valdo Barcelos, por essa oportunidade de formação pessoal e profissional. Pelo aprendizado e pela amizade durante esse percurso.. Às professoras colaboradoras – Ionir, Aurora e Edair – pela disponibilidade em colaborar com minha pesquisa e pelo exemplo de dedicação pela profissão.. Às professoras da Escola Municipal João Frederico Savegnago de Silveira Martins, pelo aprendizado e pelo carinho.. Aos meus colegas da Prefeitura Municipal de Silveira Martins, pelo companheirismo e apoio.. Ao GEPEIS, pela amizade que proporcionou encontros maravilhosos e muito divertidos. A vivência com as pessoas desse grupo me modificou pessoal e profissionalmente.. Aos meus pais pela vida e pelo incentivo, pois, mesmo diante das dificuldades não mediram esforços para que eu pudesse atingir meus objetivos.. iv. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(5) SUMÁRIO LISTA DE ANEXOS.............................................................................................. RESUMO................................................................................................................ ABSTRACT............................................................................................................ APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 1.1 O início da Caminhada..................................................................................... 1.2 As colaboradoras – minhas impressões ......................................................... 1.3 A escola do início da minha vida .................................................................... CAPÍTULO I........................................................................................................... 1.1 Educação Ambiental, e Formação de Professores: encontros e desencontros ........................................................................................................... 1.2 Educação Ambiental: experimentando novos caminhos .............................. 1.3 Educação Ambiental: redescobrindo nossas relações................................... 1.4 A cada passo um novo desafio......................................................................... CAPÍTULO II......................................................................................................... 2.1 Literatura: novos olhares e novas vozes......................................................... 2.1.1 O lugar da leitura em minha trajetória pessoal e profissional ................. 2.1.2 As barreiras que nos isolam do conhecimento complexo........................... 2.1.3 Educação: um olhar a partir da literatura.................................................. 2.2 Monteito Lobato: um pouco de sua vida e de sua obra................................. 2.2.1 Seus personagens marcantes ........................................................................ 2.2.2 Por que Monteiro Lobato?............................................................................ 2.3 Leitura e Literatura Infantil: contribuições para a formação docente ...... CAPÍTULO III........................................................................................................ 3.1 Saberes docentes, Literatura e Representação Social .................................. 3.1.1 Os saberes na formação docente: subjetividades em movimento............. 3.1.2 Educadores e Educando: sentimentos que nos unem................................. 3.1.3 Eu, tu, nós...as várias pessoas que constroem a identidade do educador 3.2 Representação Social e Literatura: teias e tramas ....................................... CAPÍTULO IV........................................................................................................ 4.1 Professores que contam histórias: entre o real e o imaginário..................... 4.2 Os primeiros passos – nos conhecendo melhor.............................................. 4.3 O reencontro – o calor humano esquenta a conversa.................................. 4.4 Produção escrita: refletindo sobre as lembranças e conversando com Monteiro Lobato..................................................................................................... 4.5 Diferenças e Literatura Infantil: vivendo, lendo e aprendendo com Monteiro Lobato..................................................................................................... 4.6 Encontro com os alunos: da hora da diversão à hora da escuta.................. 4.6.1 A diversão....................................................................................................... 4.6.2 A escuta........................................................................................................... 5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...................................................................... 6 BIBLIOGRAFIA................................................................................................. ANEXOS................................................................................................................... iv v vii 1 1 5 6 8 8 12 16 17 22 22 22 24 28 30 35 37 41 49 49 49 51 55 62 71 72 73 78 82 91 98 98 101 106 110 118. v. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(6) LISTA DE ANEXOS ANEXO A – Procedimentos da pesquisa................................................................. 119 ANEXO B – Questões orientadoras......................................................................... 120 ANEXO C – Carta de Cessão................................................................................... 121. vi. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(7) RESUMO Dissertação de Mestrado Curso de Mestrado em Educação Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil. EDUCAÇÃO AMBIENTAL, REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS),: de volta a escola com Monteiro Lobato Autora: Andréia Vedoin Cielo Orientador: Valdo Barcelos Data e local da defesa: Santa Maria, 14 de setembro de 2006. Esta pesquisa teve como principal finalidade contribuir com a formação de professores em educação ambiental, tendo como referência de estudo e pesquisa o diálogo com a obra literária de Monteiro Lobato. A Teoria das Representações Sociais foi tomada, nesta pesquisa, como alternativa de aproximação entre o texto lobatiano, as professoras envolvidas e sua Representação de meio ambiente. Monteiro Lobato é um clássico e por isso seus livros tornaram-se inesquecíveis. Ele reafirma o prazer do encontro com um texto que fala-nos do humano. Seus leitores, crianças e adultos, “viajam” em seus livros, sentem-se parte integrante da fantasia e de seu reino imaginário. Procuro então tomar a leitura não como uma mera “ferramenta”, como um mero recurso, mas como um lugar de produção conhecimentos e de saberes necessários à docência e à prática educativa. Nesse sentido, a Literatura, de uma maneira geral, e a literatura infantil, em particular, surgem como uma alternativa possível para entrarmos em contato com a subjetividade humana, com os excluídos sociais, com o diferente. Podemos, então, entender a literatura como uma representação de mundo, dependente dos valores, das vivências do autor e do leitor. Os estudos sobre representações nos possibilitam uma aproximação com as construções imaginárias dos educadores. Por isso, torna-se importante, na formação de professores, olhar para dentro de si, buscando. reconhecer. nossas. próprias. representações. A. reflexão e a. problematização sobre nossas representações permitem também modificar ações vii. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(8) e atitudes no mundo. Essa transformação de ações a atitudes torna-se importante quando pensamos em Educação Ambiental, pois ela nos desafia a elaborar alternativas para trabalhar as questões ambientais de uma forma mais ampla, refletindo, por exemplo, sobre a questão da solidariedade, do respeito, da cooperação, da tolerância. O trabalho com as questões ambientais no cotidiano escolar, mais do que uma necessidade formal, se constitui em uma exigência do mundo contemporâneo. Um mundo onde cada vez mais somos desafiados, o tempo todo, a refletir sobre nossas representações sobre o outro. A partir das discussões com as professoras participantes da pesquisa, pude concluir que, apesar das representações de Meio Ambiente estarem muito relacionadas com os aspectos físicos e biológicos, percebe-se uma busca de mudança, de problematização dessas representações cristalizadas na sociedade. Aspectos como o social, o cultural começam a ocupar espaço na fala e no imaginário das professoras. Em suas falas percebi que elas entendem que todos nós somos seres inconclusos e que aprendemos durante toda nossa vida, não importando a idade e o tempo de profissão que temos. E isso é um excelente começo para buscar a melhoria da prática pedagógica. Elas são professoras cientes de seu papel na sociedade e na edificação de pessoas que reflitam sobre os fatos políticos, econômicos e sociais que acontecem em sua cidade e no mundo.. viii. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(9) ABSTRACT Master’s Dissertation Master’s Course on Education Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brazil. ENVIRONMENTAL EDUCATION, SOCIAL REPRESENTATIONS AND TEACHERS FORMATION: back to school with Monteiro Lobato. Author: Andréia Vedoin Cielo Advisor: Valdo Barcelos Date and place of presentation: Santa Maria, September 14th 2006.. This research had as a main purpose to cooperate with the formation of teachers on environmental education, having as a reference for the study and research. the. dialog. with. Monteiro. Lobato’s. literary. work.. The. Social. Representations Theory was taken, in this research, as an alternative to approach Monteiro. Lobato’s. text,. the. participant. teachers. and. its. environmental. Representation. Monteiro Lobato is a classic and that is why his books have become unforgettable. He reaffirms the pleasure of finding out a text which tells us about the human. His readers, children and adults, “travel” in his books, fell as an integrant part of his fantasy and imaginary kingdom. I, then, try to take the reading not as a mere “tool”, as a mere resource, but as a place of knowledge, of information necessary for teaching and for educational practice. This way, Literature, in general, and juvenile literature, in particular, emerges as a possible alternative to get in touch with the human subjectivity, with the social excluded, with the different. So, we are able to understand literature as a representation of the world, which depends on the values and experiences of the author and the reader. The studies on representations allow us an approximation with the educators’ imaginary constructions. That is why becomes important, in teachers formation, to look inside, searching for our own representations. The reflection on. ix. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(10) our representations also permits to modify actions and attitudes in the world. This transformation of actions and attitudes becomes important once we think about Environmental Education, because it challenges us to elaborate alternatives to deal with the environmental questions more widely, reflecting, for example, on solidarity, respect, cooperation, tolerance. The work with environmental issues on daily basis at school, more than a formal necessity, composes a demand of the contemporary world. A world where, more and more, we are being challenged, all the time, to reflect on our representations about the others. From the discussions with the teachers involved in the research, I was able to conclude that, even though the environmental Representations are extremely related to physical and biological aspects, there is a search for a change, to put into question these representations so consolidated in society. Aspects such as the social, the cultural begin to gain place in the speech and in the imaginary of those teachers. In. their. talking, I realized that they understand that all of us are unfinished beings and that we learn in the course of our whole life, no matter our age and profession time we have. And that is an excellent start to improve the pedagogical practice. They are teachers aware of their role in society and in the edification of people who think about the political, economical and social facts which happen in their city and in the world.. Keywords:. Environmental. Education,. Juvenile. Literature. and. Social. Representations.. x. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(11) 1. APRESENTAÇÃO 1.1 O Início da caminhada Inicio este texto compartilhando minha história de vida que, juntamente com algumas inquietações, me conduziram a realizar esta pesquisa. Minha trajetória escolar iniciou numa pequena escola no interior de Silveira Martins. Antes mesmo da primeira série, eu já participava das aulas. Lembro que eu não ia para a escola todos os dias, pois ainda não era aluna regular, mas quando ia a professora trabalhava comigo de uma forma diferenciada dos outros alunos. Era uma “escolinha”, como carinhosamente chamávamos; multisseriada, com apenas uma sala de aula, mas com um pátio grande, com balanços, gangorras e com um espaço gostoso para brincarmos. A pesar de passados muitos anos, ainda lembro com saudades dos teatros, dos jograis que apresentávamos para a comunidade. Dia dos pais, Dia das Mãe, Natal, Páscoa,. início da Primavera, Festas Juninas, tudo era motivo para. organizarmos as apresentações e reunirmos todos na escola. A pequena sala ficava lotada. As pessoas compareciam e, se não havia lugar na sala, eles assistiam a tudo do lado de fora, através das janelas. Claro que lembro também das disciplinas escolares. Todos os conteúdos foram muito importantes para meu crescimento pessoal e profissional, mas os momentos “extraclasse” ficaram gravados na memória de uma maneira especial. Hoje, nesta escola, muita coisa mudou. Ela foi ampliada e possui em torno de 200 alunos. Possui 6 salas de aula, sala da direção, refeitório, sala de apoio, de informática, biblioteca. No entanto, quando entro na sala onde estudei lembro nitidamente de meus colegas, das brincadeiras, das professoras, das descobertas, dos erros e acertos. Essa fase foi tão importante e bonita que, quando lembro disso tudo, fico emocionada. Tudo foi muito divertido, muito gostoso. A escola parecia extensão de nossa casa. Vivi esta época com muito prazer, talvez por isso tenha sido tão significativa para mim.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(12) 2 Estudei ali até a quarta série e depois tínhamos que ir para outra escola, na cidade. A partir daí tudo mudou, começando pelo tamanho da escola. Tínhamos vários professores, vários colegas e fiz novas amizades. Aquela sensação de que estava em casa também já não existia com tanta intensidade como antes. Os teatros praticamente não aconteciam e a preocupação com a disciplina tornava-se cada vez maior. Mesmo assim, tive professores que marcaram minha trajetória nesta escola. Uma em especial que influenciou significativamente minha escolha pelo curso de Letras. Ela tinha algo de especial, tinha um cuidado, um grande amor pela sua profissão. Ela foi tão marcante que dias atrás, revirando os cadernos e livros desta época, bastou fechar os olhos e pude relembrar com detalhes as aulas desta professora. Parecia que tudo havia se passado há alguns dias atrás. Faço questão de ressaltar essas minhas experiências, porque acredito que a escola, por mais que tenha mudado, precisa ser um lugar gostoso de se estar, tanto para o aluno, como para o professor, enfim, para a comunidade escolar, de uma maneira geral. É preciso restabelecer o prazer de ensinar/aprender, pois só fará realmente sentido para nossas vidas aquilo que nos faz bem, aquilo que nos faz feliz. Cada professor marca a vida de seus alunos. Deixa lembranças que influenciarão sua vida pessoal e profissional. Essas marcas podem ser positivas ou negativas. Por isso acredito que o amor, o cuidado são fatores importantes para que possamos influenciar positivamente todos aqueles que passam por nossas salas de aula. Esse fato aconteceu comigo, pois foi por influência de minha professora de Português e de Literatura que decidi cursar Letras. Neste curso também encontrei professores apaixonados pela profissão e outros que não demonstravam tanta dedicação. Esses também, de uma forma ou outra, fizeram parte de minha formação profissional e também pessoal, já que acredito que essas duas dimensões estão associadas. Antes mesmo de me formar, comecei a trabalhar na única escola municipal de Silveira Martins, substituindo uma professora de Português que estava em licença gestante. Eu trabalhava como estagiária e, por isso, recebia apenas uma bolsa. O valor era insignificante, mas a paixão pela profissão era a recompensa. Meu primeiro dia de trabalho foi 10 de setembro de 2001.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(13) 3 Fiquei na escola até final do ano. No novo ano, meu contrato foi renovado por mais três meses. Em maio tive que me afastar da escola e iniciei o curso de Especialização em Gestão Educacional. A cada saída da escola um vazio muito grande tomava conta, pois não sabia se iria voltar ou não. Isso me deixava bastante angustiada. A escola era parte de mim, me completava. Em Junho, a professora da Pré-escola entrou em atestado médico, e acabaram me oferecendo a vaga. Na hora vacilei. Não sabia se aceitava, pois não era minha área. Mas me tranqüilizaram, dizendo que a supervisora da secretaria de educação, que tem habilitação para a educação infantil, iria me auxiliar. Acabei aceitando. A vontade de voltar a trabalhar na escola era muito grande. Enfrentei muitas dificuldades, justamente por não ter a formação na área, mas posso dizer que aprendi muito também. Cresci como pessoa e como profissional. Foi uma experiência importante. No outro ano voltei para a escola, agora trabalhando na secretaria, nas aulas de apoio e de Ensino Religioso. E no ano de 2004, entrei no Mestrado em Educação e trabalhei apenas 5 meses na secretaria da escola. Durante esse tempo que estive ali, eu participava das reuniões das professoras, opinava, participava das decisões. Sempre fui, para todas elas, muito mais que uma estagiária. Eu era colega, companheira. Posso dizer que vivi o dia-a-dia da escola de uma maneira verdadeira e intensa. Talvez por isso sinta tanta falta dessa convivência. Aprendi/ensinei muito também. Acho que mais aprendi do que ensinei. Participei de projetos elaborados por algumas professoras, inclusive um sobre Educação Ambiental. Foi este projeto que acabou me aproximando desse tema. Trabalhei com ele na especialização e agora no Mestrado. Nesse sentido, essa dissertação de Mestrado se propõe ir além de uma mera reflexão sobre os problemas relacionados com as questões físicas e biológicas da questão ecológica. Procura, também, pensar e discutir sobre valores como o cuidado, o respeito com o outro, com o diferente, levando sempre em consideração o amor e a alegria em ensinar/aprender. Nessa perspectiva, esta dissertação buscou contribuir com a formação de professores em Educação Ambiental, tendo como referência de estudo e pesquisa o diálogo com a obra literária de Monteiro Lobato. Minha ênfase foi. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(14) 4 para algumas passagens da literatura infantil lobatiana naquilo que ela pode significar na instituição de imaginários e representações sociais sobre Educação Ambiental. Essa proposta se desenvolveu através da identificação de aspectos relacionados ao imaginário das professoras que podem ampliar o seu repertório de conhecimentos e saberes em relação ao trabalho com educação ambiental nos anos iniciais do Ensino Fundamental; reflexão sobre como essas representações podem interferir na formação de professores para o trabalho com Educação Ambiental no cotidiano escolar; de um olhar sobre possíveis contribuições da literatura infantil, em geral, e da literatura lobatiana, em particular, para a formação de professoras em educação ambiental escolar. Selecionei como sujeitos de minha pesquisa 2 professoras dos anos iniciais (Educação Infantil a Quarta Série) de uma escola do interior de Silveira Martins. No entanto, em alguns encontros esteve presente uma terceira professora. Por isso, fiz questão de mencionar suas contribuições para esta pesquisa. Utilizo aqui a expressão “sujeitos da pesquisa” pois acredito que as duas professoras são pessoas ativas, construtoras de suas histórias. Cada conversa que tivemos foi um desafio ao diálogo aberto, onde a subjetividade se fez presente a cada instante. Em cada conversa pude perceber suas emoções, suas angústias, alegrias, frustrações e, ao mesmo tempo, pude aprender também com elas. Realizamos cinco encontros. Neles estiveram presentes também duas colegas do Gepeis que faziam as anotações enquanto conversava com as professoras. Além dessas anotações feitas pelas colegas, logo que terminava os encontros, eu relatava as situações vivenciadas, procurando analisá-las e estabelecendo uma relação com os objetivos de minha pesquisa. As professoras também produziram narrativas escritas sobre histórias de Monteiro Lobato,e sobre suas experiências com Literatura. Todo esse material produzido durante os encontros serviram para a análise da pesquisa. Procurei relatar, durante a análise, todos os momentos vivenciados na escola durante a pesquisa, pois considero todos eles importantes e formativos. Na escola cada momento é de aprendizado. Quem vive ali como professor sabe como se aprende e se ensina na troca com seus companheiros e de como a prática pedagógica diária constitui um importante espaço de sua. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(15) 5 formação. Trocamos materiais, compartilhamos informações, criamos juntos alternativas para resolver problemas. Repartimos dúvidas, dificuldades e também saberes gerados no cotidiano escolar. Neste espaço, circulam afetos, emoções, calor humano, brincadeiras, desentendimentos, porque somos diferentes e pensamos de maneira diferente.. 1.2 As colaboradoras – minhas impressões: Professora Ionir: A Professora tem 18 anos de profissão. Diz que desde criança, durante as brincadeiras, quis ser professora. Fazia seu diário e dava aula para as amiguinhas de infância. Depois, na adolescência, a procura pelo curso de magistério e, mais tarde, pelo de pedagogia foi a realização de um sonho. A professora Ionir diz que sente segurança em seu trabalho e, por amar a profissão, dedica-se muito e dá o melhor de si para que os seus alunos aprendam e sejam felizes. No início, ela confessa que enfrentou muitas dificuldades e frustrações. Hoje em dia, tem mais experiência e consegue driblar as dificuldades com mais facilidade. Sua maior gratificação é perceber o desenvolvimento de seus alunos. Ela adora também as demonstrações de carinho deles. Ela afirma, já emocionada: “Como é bom sentir que meus alunos gostam de mim. Em cada novo progresso deles, sinto que eu fui importante também para seu aprendizado.” A professora Ionir é realmente muito dedicada, se esforça para que os alunos aprendam. Diante das dificuldades, procura pesquisar, estudar, a fim de buscar soluções. Ela é muito meiga e em cada conversa, podemos perceber em seus olhos o verdadeiro amor pela profissão. Professora Aurora: A professora Aurora tem 20 anos de magistério. No início da carreira, como tinha concluído o Segundo Grau1, substituiu uma professora que estava de licença. Depois, gostou da profissão e fez o Curso de Magistério e, mais tarde, o de Pedagogia. Anos atrás, ser professora era sinal de status. Era uma profissão reconhecida pela sociedade e isso também pesou. 1. Atual Ensino Médio.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(16) 6 na hora de escolher a profissão. Diz que enfrenta algumas dificuldades em sala de aula, devido a problemas de comportamento de seus alunos. Ela acredita que, hoje em dia, estão ocorrendo mudanças nos valores das crianças e também da família. Isso, muitas vezes, acarreta problemas na sala de aula. Apesar disso, a sua maior gratificação é ver os seus alunos aprendendo. Ela diz: “Como é bom ver meus ex-alunos, hoje já adultos, fazendo uma faculdade e sendo felizes na profissão que escolheram. Quando nós nos encontramos, eles ainda me chamam de profe. Isso é muito bom. Eu sei que fui importante e colaborei para o sucesso de cada um deles”. A professora Aurora também é muito dedicada e atenciosa com seus alunos.. 1.3 A escola do início da minha vida A escolha dessa escola deve-se ao fato de ali ter começado minha trajetória como aluna e depois como profissional. Não posso, nem quero negar que meu lado subjetivo contou muito na hora da escolha, pois desejo contribuir para que esses professores e, conseqüentemente, para que essa comunidade escolar possa sentir-se mais segura para trabalhar com as questões ambientais, discutindo amplamente sobre as questões educacionais que os inquietam. Desejo que meu crescimento pessoal e profissional colabore para o crescimento dessa minha comunidade escolar. Com relação às colaboradoras da pesquisa, minha escolha deu-se pelo fato de acreditar que a infância é o lugar privilegiado para que se comece a conversar sobre os valores que farão parte de suas vidas. Segundo Maturana (1998, p. 30), “uma criança ao ser aceita e respeitada em seu ser aprenderá a aceitar e a respeitar os outros”. É na infância que “aprendemos” a amar2 ou a odiar. Isso dependerá, em grande parte, das experiências e dos exemplos que tivermos. Por isso, os professores de séries iniciais têm uma responsabilidade muito grande e precisam pensar formas e maneiras de convivência para as crianças onde seja incentivado o respeito a si e ao próximo, o amor, a solidariedade, a criatividade, a imaginação.. 2. Amar/odiar são valores e como tal não se ensinam, portanto, a expressão aprender não é a mais adequada. É aqui utilizada em função de ser de domínio cotidiano. Valores constroem-se na convivência com o outro.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(17) 7 Dessa forma, procuro, no primeiro capítulo, abordar a questão da Educação Ambiental, as diferentes representações sociais a respeito desse tema, as relações do homem com o meio ambiente e o papel do professor frente ao desafio de trabalhar em sala de aula com as questões ambientais. Com isso, discuto novas alternativas de trabalho pedagógico que envolvam a comunidade escolar e que aborde a Educação Ambiental de uma forma ampla e associada à realidade da escola. No segundo capítulo, apresento um pouco a minha relação com a literatura, as barreiras criadas a partir de nossas representações a respeito do que nos cerca, a compartimentalização dos saberes, a literatura como uma possibilidade de romper com a fragmentação do conhecimento, como uma experiência de vida. Explicito também um pouco da vida e da obra de Monteiro Lobato. Sua importância para a educação de uma maneira geral, seus personagens que se tornaram imortais. Falo dos motivos que me levaram a pesquisar sobre este autor e, por fim, abordo a questão da literatura infantil como uma contribuição para a formação docente e para o trabalho com as questões ambientais. Já no capítulo terceiro, comento sobre os saberes na formação docente e sobre as subjetividades dos atores escolares. Além disso, procuro relacionar a questão das Representações Sociais com a Literatura, levando em consideração minha convicção de que a literatura pode ser vista como uma das tantas formas de manifestação de valores, crenças, mitos. E, por fim, no capítulo quarto, faço a análise dos encontros que tivemos com as professoras envolvidas nesta pesquisa. Descrevo nossos encontros, comento sobre nossas conversas, sobre a literatura infantil de Monteiro Lobato e procuro analisar os comentários de maneira a contribuir para a formação dessas professoras em Educação Ambiental, sem deixar, é claro, de aprender com elas.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(18) 8. CAPÍTULO I 1.1 Educação Ambiental e Formação de Professores: encontros e desencontros Tive vontade de mandar instalar uma estrutura que suportasse o desenvolvimento de uma trepadeira na entrada de minha casa. Ficaria bem natural. Surpresa minha quando vi que um beija-flor escolheu uma parte da planta para fazer seu ninho. Para enfeitar a casa precisaria arrebentar o ninho, quebrar os ovos e impedir o nascimento do dois beija-flores. As estruturas foram instaladas depois que eles nasceram. Essa sintonia que é capaz de sentir com toda a natureza que nos cerca está fazendo falta na convivência e na educação. (Werneck, p 81, 2004). A preocupação com o tema da Educação Ambiental tornou-se freqüente nas escolas devido aos graves problemas ambientais que surgiram, e continuam surgindo, em conseqüência do modo de vida em sociedade no mundo contemporâneo. Porém, muitas vezes, as discussões realizadas são ainda fragmentadas e superficiais, decorrentes das representações e preconceitos que os professores têm sobre Educação Ambiental. Uma dessas representações, por exemplo, está relacionada à crença de que a questão ecológica restringe-se à preservação do ambiente e ao combate à poluição. E, como causa dessa, surge outro engano: a escola confere a responsabilidade de trabalhar com esse tema às disciplinas de ciências ou geografia. No entanto, as discussões sobre o meio ambiente são muito mais abrangentes. Por isso é fundamental que todas as áreas do conhecimento propiciem debates, diálogos de forma interdisciplinar, a fim de abordar outras questões que são intrínsecas aos problemas ambientais, tais como: à política, à cultura, à economia. Ao trabalhar sobre essa ótica da interdisciplinaridade, os envolvidos no processo educativo terão a oportunidade de questionar a segmentação entre os campos de conhecimento e a visão disciplinar da realidade sobre a qual a escola se constituiu. Essa questão pode proporcionar um novo tipo de relacionamento entre as áreas do conhecimento. Assim, percebemos que seria. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(19) 9 mais formativo se as disciplinas estivessem interligadas, associadas. Tudo isso, a fim de promover nas crianças e nos jovens uma curiosidade em relação às informações que eles obtêm a respeito do meio ambiente. Dessa maneira, a representação deles sobre essas questões torna-se mais ampla e, portanto, mais familiar diante da realidade em que vivem. Frente a esses aspectos e a essas situações, é importante que a gestão escolar oportunize os debates, a participação da comunidade na tomada de decisões, pois esses fatos são essenciais para a implantação da educação ambiental na escola. Todo o planejamento escolar diz respeito à equipe diretiva que, para obter um bom desempenho, poderia favorecer o envolvimento e o bom relacionamento entre todos, caso contrário as idéias poderão ficar apenas no papel e os problemas reais nunca serão analisados e trabalhados de forma satisfatória. Em relação ao que foi exposta acima, Reigota (1999, p. 82 e 83) afirma que : [...] tanto na educação em geral como na educação ambiental em particular, é fundamental considerar que não se aprende de alguém, mas sim com alguém. E nesse processo pedagógico, a qualidade das relações sociais entre todas as pessoas envolvidas (professor e alunos, funcionários da escola e família de alunos) é critério básico para a realização de uma educação de qualidade. É desejável que a comunidade escolar reflita, conjuntamente, sobre o trabalho com o tema Meio Ambiente, sobre os objetivos que se pretende atingir e sobre as formas de conseguir isso, debatendo sobre o papel de cada um nessa tarefa. É necessário também que a equipe escolar assuma esses objetivos, pois eles só se concretizarão com muito trabalho daqueles que estão dispostos a colaborar. Talvez seja difícil reunir sempre um grande número de professores, mas a troca de idéias precisa sempre acontecer para que o aprendizado aconteça. Nessa relação entre iguais e desiguais se realizarão as parcerias, cumplicidades, discussões, encontros e desencontros. Tudo isso servirá, no entanto, para a construção de conhecimento conjunto sobre a educação ambiental. Precisamos deixar de lado a idéia de que existem aqueles que ensinam e outros que aprendem, pois o ato do conhecimento pressupõe uma relação entre, pelo menos, 2 pessoas que se mantêm em contato. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(20) 10 constante. Há, assim, aquele que ensina e, ao mesmo tempo, aprende numa busca incessante pelo conhecimento. No entanto, para abordarmos a questão da Educação Ambiental na escola, inicialmente, é importante analisar as concepções de Meio Ambiente, pois essa análise nos permite verificar quais nossos conceitos, representações, preconceitos, ideologias, bem como caracterizar as práticas pedagógicas cotidianas relacionadas com esse tema. Assim, segundo Reigota (1995) o primeiro passo para a realização da educação ambiental deve ser a identificação das representações das pessoas envolvidas no processo educativo. Nesse sentido, as representações são construídas a partir de experiências de vida, a partir da cultura e das vivências. Por isso, não há uma definição única sobre meio ambiente, mas Reigota (1995, p. 14) aponta uma definição importante e que nos faz refletir. Segundo este autor, meio ambiente é: o lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relação dinâmicas e em interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de transformação do meio natural e construído. A partir disso, percebe-se que a representação de ambiente depende de cada grupo social, das experiências desses grupos. Além disso, o ser humano faz parte do Meio Ambiente, e há uma permanente mutação devido a uma constante interação entre eles. O ambiente interfere, age sobre homens e mulheres, transformando-os. Da mesma maneira, homens e mulheres agem sobre o Meio Ambiente modificando-o. Assim, no momento em que o espaço, os meios naturais e sociais são transformados, as pessoas também são transformadas por eles. E se percebemos essa interação, essa integração, talvez fosse possível mudar nossa representação a respeito da natureza e do meio em que se vive. No entanto, o que ocorre, atualmente, é uma relação de apartação, de dominação do ser humano sobre o Meio Ambiente. Consideramo-nos donos da “natureza” e de qualquer forma de vida e, por isso, acreditamos que podemos explorá-la da maneira que julgar conveniente. Poucos de nós nos consideramos parte integrante do Meio Ambiente e o valorizamos. Pelo. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(21) 11 contrário, desmatamos, poluímos, degradamos social e biologicamente, destruímos sem nenhum constrangimento, pois o que está em jogo é o poder, o lucro, o dinheiro. Como afirma Barcelos (2000, p. 28): Entre as promessas feitas pela modernidade e que, ou não se cumpriram totalmente, ou, o que é ainda pior, onde se cumpriram acabaram levando a verdadeiros desastres, foi o compromisso ‘fáustico’ de domínio sobre a natureza. Um domínio alicerçado em uma forma de pensar e fazer ciência onde o mundo passou a ser visto como um imenso laboratório onde homens e mulheres modernos exerceriam suas experimentações.. Percebemos que, algum tempo atrás, a idéia de dominar a natureza era desejo de muitos, pois a viam apenas como um recurso e como tal deve ser usado para nos servir. A base do modelo capitalista está calcada na propriedade privada dos meios e bens de produção, onde o que importa é ter mais. E nesse jogo de poder, é necessário que nós, professores, pais, governantes, comunidade em geral, busquemos discutir com os alunos a ética da valorização, do respeito e do cuidado não só com os seres vivos, mas, sim, com todas as coisas do universo. Diante disso, percebemos que as pessoas mudam os seus pontos de vista, e, cada vez mais, preocupam-se em tirar proveito de todas as coisas. Na Antigüidade,. alguns. povos. acreditavam. que. muitos. dos. fenômenos. inexplicáveis, das coisas e formas exuberantes fossem deuses, algo sublime, divino. Com a evolução, com as “descobertas” científicas, quanto mais conhecemos as coisas, mais queremos saber sobre elas, a fim de dominá-las. No entanto, o conhecimento não precisa levar ao controle, pelo contrário, ele pode ser nosso aliado, pois ele nos auxilia na compreensão, no entendimento. Esses aspectos, então, deveriam desencadear uma ação solidária, cooperativa entre as pessoas e o meio, mas o que queremos é vender, comercializar, transformar em produto rios, pedras, florestas, animais. Até o ser humano transformou-se em algo comercializável, com a “desculpa” de salvar vidas. Sobre este grande mercado que se transformou o nosso planeta, Maturana, (1997), comenta que tudo, até mesmo os seres humanos, transformam-se em mercadorias. O autor aqui se refere ao acelerado processo. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(22) 12 de transplantes de órgãos e de fertilização artificial em curso na sociedade em que hoje vivemos. É importante também refletirmos com nossos alunos sobre os modelos de sociedade que geram atitudes egoístas, exploradoras e depredadoras. Muito do que vivemos hoje é fruto de autoritarismos, fanatismos, desprezo pelas minorias, destruição do diferente. No entanto, essas não eram as únicas alternativas de que dispunham, por isso cabe a nós, hoje, optarmos por outras escolhas, por outras atitudes que garantam um futuro um pouco mais solidário, mais ético, mais cooperativo que o nosso passado e o nosso presente. Sob essa visão, a discussão da questão ambiental é considerada urgente e importante para a sociedade, pois o futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre os seres humanos e os demais integrantes do planeta. Devido. a. isso,. torna-se. indispensável. também. que. os(as). professores(as) abordem esse tema fundamental para uma vida social e ecologicamente mais justa, em suas aulas, problematizando as representações socias, a fim de contribuir para a formação de pessoas mais atentas aos problemas ambientais locais e mundiais. A questão relacionada ao meio ambiente é muito ampla e envolve outras inúmeras questões (cultural, social, política, econômica, etc.), por isso pode ser abordada e discutida em sala de aula. O Meio Ambiente é tudo o que nos rodeia, somos nós, ele faz parte da realidade de todos, então, não pode ser deixado de lado.. 1.2 Educação Ambiental: experimentando novos caminhos A Educação Ambiental questiona algumas tendências da educação contemporânea que se baseiam na transmissão de conteúdo, num currículo fechado, numa escola fragmentada, numa equipe diretiva centralizadora. Segundo Barcelos e Angonesi (2001, p. 67): No processo educativo, os reflexos da fragmentação podem ser percebidos facilmente, por exemplo, na estruturação fechada e pouco dinâmica de nossos currículos escolares (...) o que acabamos fazendo é ‘ensinando’ aos educandos e educandas o conceito e a definição das coisas em si próprios apenas, e não através da relação com as outras coisas e com o seu ambiente.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(23) 13. Essas questões abordadas por Barcelos e Angonesi causam a compartimentalização dos saberes que por sua vez dificultam a visualização do todo e a articulação entre eles. Muitas vezes, não nos damos conta de que os conteúdos e o currículo não estão relacionados à realidade, nem tão pouco preocupados com a formação pessoal dos alunos. Pelo contrário, apenas, através deles, reproduzimos o que as editoras de livros didáticos desejam ou ainda ficamos lisonjeados explicando que “preparamos” os alunos para o vestibular. Porém, se analisarmos mais calmamente, perceberemos que um número muito insignificante de nossos alunos consegue entrar para uma universidade sem antes passar pelos cursos preparatórios. Afinal, devemos nos perguntar para o que estamos formando? Para a “guerra” individualista do vestibular ou para uma vida solidária, cidadã? Por tudo isso, é nosso dever rever conceitos estabelecidos, selecionar os conteúdos e elaborar, de forma mais ecológica, nossos currículos. Outro fato importante de ser mencionado é que os professores das diferentes disciplinas não debatem, não discutem, a fim de socializar sua prática educativa. Esse fato, com certeza, não é de responsabilidade, única e exclusiva, desses professores. Essa fragmentação tem objetivos e origens políticas e culturais, pois sozinhas as pessoas não tem voz. Dessa forma, não podemos esperar que alguém venha até nós e nos dê a fórmula da mudança. É necessário desafiar-nos, pois a transformação depende de cada um de nós, estudando e trabalhando juntos. Além disso, os professores podem colaborar para essa transformação desenvolvendo-se como profissionais e como sujeitos críticos na realidade em que estão inseridos. Precisam situar-se não só como educadores, mas também como cidadãos participantes do processo de construção da cidadania, de reconhecimento de seus direitos e deveres, e de valorização profissional. Para que a Educação Ambiental tenha sucesso, é fundamental uma gestão escolar construída coletivamente que oportunize, que reivindique condições para a participação. Ela exige também diálogo, participação na tomada de decisão. Ela é, sem dúvida, uma educação política, que exige práticas pedagógicas dialógicas. A Educação Ambiental é política, pois está empenhada na formação do cidadão, baseando-se no diálogo entre culturas,. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(24) 14 povos e gerações.. Nesse sentido, a Questão Ambiental exige que as. sociedades encontrem novos caminhos, novas formas de pensar e de agir, a fim de que as relações entre os humanos e os demais seres integrantes do cosmo não sejam de discriminações, tão pouco de exclusões. Isso implica num novo repertório de valores, no qual a educação tem um papel importante a desempenhar. Por tudo isso, o aprofundamento da democracia é meta fundamental, que permite a todos proporem alternativas e soluções. Enfim, a educação como um ato político. Segundo Reigota (1995, p.64): Assim, aumenta o desafio para a Educação Ambiental de formar cidadãos que possam participar da tomada de decisões sobre assuntos que dizem respeito a grupos sociais e étnicos muito diferentes, geralmente controlados por grupos que dominam a economia e a política, com interesses muito mais homogêneos.. É necessário, desafiar-nos, tentarmos buscar soluções, a fim de que a Educação Ambiental esteja presente nas salas de aula, transformando a escola num local onde haja alegria, pluralismo de idéias; fazendo com que a escola seja democrática, crítica e comprometida com a mudança. É neste lugar que o aluno passa a ser o sujeito do conhecimento. Cidadão que saiba questionar os fatos políticos, econômicos e sociais que acontecem na sua cidade e no mundo e que saiba atuar na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida. A escola pode buscar formar trabalhadores-cidadãos, tendo o compromisso de colaborar para que seus alunos sejam capazes de intervir criticamente na realidade local e mundial, a fim de transformá-la. A escola não deveria preocupar-se apenas em formar mão-de-obra, mas precisa continuar incentivando os alunos a se engajarem na busca pela justiça social e ecológica e pela solidariedade humana. Ser cidadão é, a partir disso, participar de uma sociedade, tendo direito a ter direitos, bem como construir novos direitos e rever os já existentes. No entanto, essa cidadania que teremos que construir é abrangente, pois, atualmente, vivemos tempos de pós-modernidade. Habitamos um mundo que planetarizou-se. Segundo Barcelos (2000, p. 26), “a cidadania que ora precisa ser construída é uma cidadania terrestre. Nossa identidade deixou de ser nacional e passou a ser planetária. Somos cidadãos de uma cidade, de um. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(25) 15 país, mas também somos cidadãos do mundo”. O que acontece em outros países, em outros continentes pode nos afetar direta ou indiretamente, pois vivemos num mundo globalizado, em que as fronteiras não são apenas geográficas. São também simbólicas. Esses fatos podem nos atingir positiva os negativamente, dependendo das relações econômicas, sociais, culturais e políticas estabelecidas entre os países. Como alerta Boaventura Santos (2000, p.41): Os mapas que nos são familiares deixaram de ser confiáveis. Os mapas são, por agora, linhas tênues, pouco menos que indecifráveis. Nesta dupla desfamiliarização está a origem do nosso desassossego. Se durante nossa prática como educadores e durante nossa vida levarmos em consideração essas questões, teremos uma Educação Ambiental comprometida com a construção de uma cidadania que vai além das fronteiras geográficas, que valoriza a natureza e as questões ambientais. Segundo Barcelos e Angonesi (2001, p.61):. As discussões sobre as questões ecológicas estariam intimamente ligadas ao processo de planetarização das relações que hoje vivemos. Exige, portanto, uma compreensão mais alargada das questões que nos desafiam.. Como educadores, somos desafiados a ter uma visão mais ampla dos problemas, das situações que nos rodeiam. Não devemos tentar nos isolar do mundo, adotando uma visão ingênua, imaginando que aquilo que acontece em outros países não nos atinge. Pelo contrário, a escola precisa pensar na possibilidade de oportunizar momentos de reflexão e de discussões a respeito de fatores locais e mundiais que nos afetam. Somente assim será possível contribuir para a edificação de pessoas que essa sociedade globalizada e pósmoderna exige. A partir dos aspectos abordados acima, pode-se concluir que, mais do que nunca, toda comunidade escolar precisa ir em busca união, de companheirismo, de solidariedade. Atualmente, os problemas ambientais. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(26) 16 tomaram uma grande dimensão e, por isso, sozinhos não teremos significativos avanços. Dessa forma, o nosso desafio é elaborar alternativas para trabalhar a questão ambiental, sem deixar de lado a valorização e o respeito a cada colaborador. Com certeza atingir todos esses objetivos não é nada fácil. Eles não são conquistados em curto prazo. Essa modificação de representações constitui-se numa grande desafio a todos os envolvidos com a educação. Devemos, então, mais do que nunca, acreditar que a sala de aula é um espaço de aprendizagem, onde educador e educando devem ser vistos como parceiros na construção do saber. Cabe ao professor problematizar as representações instituídas em nossa sociedade, articular as diversas formas de conhecimento e relacionar teoria e prática, dando maior coerência, visão de conjunto ao estudo dos múltiplos fragmentos que estão postos no acervo de conhecimento da humanidade que o aluno necessita ter acesso. Assim, é fundamental que o professor se coloque na posição de mediador da relação educador e conhecimento, de um facilitador da aprendizagem, de um “eterno aprendiz”, como cantava o poeta Gonzaguinha, tendo consciência de que não é o “dono do saber” que lhe cabe transmitir como algo inquestionável e entendendo que se aprende fazendo, refazendo, recomeçando e também refletindo e problematizando seu próprio fazer.. 1.3 Educação Ambiental: redescobrindo nossas relações Sempre resta a esperança do homem descobrir o velho segredo: que o mundo é ele e ele é o mundo.(Reigota, 1995, p. 29). Outra questão importante que precisa ser observada está relacionada à preocupação de alguns professores em incentivar, problematizar, junto aos seus alunos, a idéia de pertencimento ao ambiente local/global. Aliado a isso, coloca-se a necessidade de responsabilidade e não de mera propriedade sobre o que existe. Atualmente, a grande parte dos problemas ambientais observados deve-se ao fato das pessoas agirem como se fossem "donos" da. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(27) 17 natureza. Com isso, acreditam que podem explorá-la, devastá-la com o propósito único de obter lucros. Nós, educadores, podemos contribuir para a (re)desconstrução da representação e do conceito de que ela existe apenas para nos servir e de que nós não fazemos parte dela. Somente acreditando e sentindo que somos parte do ambiente é que poderemos compreender por que devemos respeitá-lo e amá-lo como a nós mesmos. Dependemos dele, não para, simplesmente, lucrar, mas para viver, e, isso, é fundamental. Segundo Barcelos e Angonesi (2001, p. 64):. Não é mais aceitável que continuemos pensando e agindo como se desse dito 'mundo natural' não fizéssemos parte; como se fôssemos apenas atores e como se nossa atuação tivesse apenas repercussão até onde alcança nossa curta e limitada visão. A educação, como processo permanente de construção humana, pode contribuir para o repensar desse modo de viver e buscar formas de promover tal (re)conciliação transformadora para que possamos recuperar nossa identificação com a natureza.. Somos dependentes, mas ao mesmo tempo não percebemos que, poluindo e desmatando, usando agrotóxicos, exterminando outras formas de vida, não reconhecendo o outro como legítimo em sua diferença, estamos nos prejudicando, nos destruindo. Por isso todas as ações praticadas pelo homem contra a natureza são revertidas contra ele mesmo.. 1.4 A cada passo um novo desafio Segundo Barcelos, a escola deve deixar de ser apenas o espaço onde pessoas buscam 'subir' ou 'crescer' na vida. Hoje estamos desafiados a fazer com que a educação seja para a vida:. Essa educação para a vida exigirá de todos(as) educadores e educadoras a incorporação, em nosso cotidiano escolar, e em nossas práticas pedagógicas, questões emergentes na sociedade contemporânea e que estão a desafiar os modelos tradicionais de ensino.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(28) 18 Dentre essas temáticas emergentes, está a questão ecológica. (Barcelos 2003, p. 88). No entanto, para que esse trabalho seja efetivado é fundamental que os professores trabalhem conjuntamente. Porém, muitas vezes, isso não acontece. Além disso, o que chama mais a atenção é que, as discussões ficam restritas a momentos específicos e não interligados aos conteúdos mínimos obrigatórios. Isso demonstra que temos muitas dúvidas quanto à forma como podemos trabalhar em sala de aula, durante o desenvolvimento dos conteúdos, com as questões relacionadas ao meio ambiente. As origens de tal dificuldade são diversas. No entanto, algumas já podem ser detectadas, como, por exemplo, a quase inexistência da discussão das questões ambientais na formação de professores e de professoras (graduação/licenciatura); o imaginário ainda limitado sobre a complexidade dessas mesmas questões. Embora as discussões a respeito das questões ambientais tenham assumido no planeta um patamar cada vez maior, as alternativas propostas para os problemas existentes são herdeiras dos modelos de produção de conhecimento dos séculos passados, mostrando-se inadequadas para a superação dos novos desafios. Por outro lado, tivemos por muito tempo, em Educação Ambiental, uma forte dependência de referenciais teóricos estrangeiros. Tais referências eram, em muitos casos, inadequadas ou não conseguiam estabelecer uma relação mais efetiva e afetiva com as diferentes realidades aqui encontradas. Ao refletir sobre o cenário atual de formação inicial de professores, para trabalhar com as questões ambientais na educação, é importante ressaltar que boa parte das práticas educativas escolares ainda insiste em simplificar a complexidade das realidades vividas. Os livros didáticos não escapam dessa fragilidade, na medida em que tendem a fragmentar os problemas, contribuindo para uma formação em que o pensamento integrado e complexo fica restrito a uma intenção e/ou exemplos e iniciativas isoladas. Há também de termos presente a idéia de que as atividades de Educação Ambiental, realizadas extraclasse, são válidas e muito importantes, porém não são as únicas possíveis. Segundo Barcelos (2002), para que a. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(29) 19 atividade em sala de aula seja relevante para a temática ambiental, é preciso que exerçamos nossa criatividade e que incentivemos a do grupo com o qual nos envolvemos. Há inúmeras possibilidades para trabalharmos com esse tema, porém precisamos criar, inventar, questionar o que está instituído. Além disso, notamos que as disciplinas de Geografia e de Ciências são as que mais trabalham com as questões ambientais. Quando falamos em meio ambiente, o que logo nos vem à mente são os aspectos físicos e biológicos, como florestas, rios, solo, clima. E quem, na realidade, entende desses assuntos são os professores de Ciências, Biologia e de Geografia, por isso os outros logo pensam que essa temática não lhes dizem respeito. Porém essa é uma representação muito estreita que se tem de natureza. Hoje, precisamos entender que Educação Ambiental é muito mais do que preservar, conservar. A Educação Ambiental exige que se trabalhe com questões mais amplas, como a solidariedade, respeito, cooperação, tolerância, gestos de bondade e outros tantos sentimentos que estão em verdadeiro processo de degradação. Cabe também a nós, educadores, buscarmos soluções para esses desafios, pois não há um livro de receitas prontas que nos ensine passo a passo como fazer e o que fazer diante de tantas situações que se apresentam diariamente na escola. A respeito disso, Barcelos e Noal (1998, p.112) nos dizem:. Não apostamos em nenhuma proposta salvadora e definitiva para a Educação Ambiental. Apostamos, sim, em uma busca solidária de alternativas baseadas no diálogo não só entre as diferenças, como também, e fundamentalmente, na intersecção dos contrários, na diversidade de todas as ordens, no erro em acerto, na incerteza, enfim, no conflito radical entre racionalidade/subjetividade.. Se há uma solução, ela, com certeza, passa pela união, pois somente juntos poderemos encontrar as respostas para nossas incertezas. Outra questão que podemos notar com freqüência, quando falamos em Educação Ambiental, é que nós, professores, não estamos habituados a planejar conjuntamente atividades em geral e nem as relacionadas à ecologia.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(30) 20 No entanto, temos consciência que o trabalho com esse tema é fundamental. Isso demonstra, mais uma vez, que nós possuímos dúvidas e nos sentimos inseguros para trabalhar com esse tema. Por isso, na maioria das vezes, falamos sobre as questões ambientais apenas quando a direção pede, ou ainda quando o conteúdo oficial, prescrito pelos livros didáticos, exige que sejam debatidos com os alunos os problemas ambientais. Mesmo assim, ótimos trabalhos são desenvolvidos, porém não é algo contínuo, permanente. Com isso percebemos que, cada vez mais, torna-se fundamental buscar o envolvimento e compromisso de todos os segmentos escolares na concepção, elaboração e implementação dos planejamentos no dia-a-dia da escola, acompanhando e participando da gestão pedagógica da escola. Somente um trabalho baseado na parceria e na troca de experiências auxiliará cada professor a resolver alguns problemas e a desenvolver de maneira satisfatória o que já foi planejado para sua disciplina e para a escola. Isso tudo sem esquecer que seria muita pretensão querermos resolver questões tão amplas e complexas, como os problemas ambientais, sozinhos. Podemos perceber também que, geralmente, as escolas desenvolvem vários projetos relacionados à questão ambiental e, em sua maioria, obtiveram bons resultados, porque os alunos realmente se envolveram de uma maneira bastante interessada. A partir desses projetos os alunos apresentam significativas mudanças de atitude em relação ao meio ambiente, por isso esses professores acreditam que é de extrema importância trabalhar com a Educação Ambiental na sala de aula. No entanto, sabemos também que os professores, com algumas exceções, costumam trabalhar com as questões ambientais a partir de projetos externos à escola. Dessa forma, esses projetos foram pensados, discutidos, elaborados por terceiros e a escola fica apenas com a incumbência de colocálos em prática. Tal fato está em acordo com o alerta feito por Barcelos (1998), quando afirma que não raramente acontece de os professores da escola não participarem da elaboração desses projetos de educação ambiental. Isso faz com que os professores não se sintam atores importantes do projeto. São na verdade coadjuvantes, quando não meros espectadores. Na maioria das ocasiões, os professores não têm a oportunidade de planejar, de decidir sobre um projeto de Educação Ambiental próprio que. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(31) 21 envolva questões que estejam de acordo com o Projeto Político-Pedagógico da escola e com os planos de estudo dos professores. Tudo isso faz com que ótimas idéias, sugestões e aulas excelentes sejam esquecidas quando o projeto chega ao fim. Essas conclusões são importantes, pois o que se deseja em Educação Ambiental é que todos prossigam trabalhando em sala de aula com esse tema. Para isso é fundamental que os professores participem, dêem suas opiniões na elaboração dos projetos e não apenas na execução. Somente assim, eles terão ainda mais prazer em falar sobre Meio Ambiente e sobre todos os outros assuntos relacionados com ele. Em sua maioria, os professores são muito criativos, pois têm, muitas vezes, que fazer “mágica” para poder desenvolver sua prática pedagógica de maneira que atraia o interesse dos alunos. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas, diariamente, por esses professores, como falta de material, de equipamentos, baixos salários, eles ainda acreditam na educação e procuram desenvolver suas aulas da melhor forma possível. Assim, é possível acreditar que podemos trabalhar as questões ambientais sobre um novo olhar, elaborando seus próprios projetos, pois os professores, em sua grande maioria, estão abertos a discussões e desejam aprender sempre mais.. CAPÍTULO II 2.1 Literatura: novos olhares e novas vozes 2.1.1 O lugar da leitura em minha trajetória pessoal e profissional Verbo Ser Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser?. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(32) 22 É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. ER . R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser esquecer. Carlos Drummond de Andrade Quando criança, morava numa chácara com minha família. Meus pais são agricultores e precisavam ir para a lavoura, por isso eu ficava na casa dos meus avós. Os momentos que ficava com eles eram muito divertidos, pois meu avô precisava cuidar de alguns outros animais e eu sempre acompanhava para ajudá-lo. Mas o mais divertido acontecia nas horas vagas, quando sentávamos nos degraus da porta da cozinha e ali ele ficava horas contando-me histórias. Hoje não lembro muito bem quais eram as histórias, pois, na maioria das vezes, ele improvisava. Mas nunca esquecerei daqueles momentos gostosos, onde podia, sem sair do lugar, visitar um outro mundo repleto de animais e de seres fantásticos. Como dizia o poeta mexicano Otávio Paz (1994) a leitura como uma viagem que se faz com o corpo quieto e alma agitada Infelizmente, essa prática de contação de histórias, que tanto auxiliam a formação da criança, foi aos poucos sendo deixada de lado por inúmeros motivos. No entanto, acredito que esse momento de minha vida foi muito importante também para a escolha da profissão. Nunca tinha refletido sobre isso, mas talvez inconscientemente tenha optado pelo curso de Letras por essa influência de meu avô. Porém, mesmo tendo cursado a faculdade de Letras, não tinha desenvolvido o gosto pela leitura. Lia porque era “obrigada” a ler. Estava num curso que precisava ler muito e conhecer diferentes obras, principalmente, as clássicas. No entanto, confesso que não lia por prazer, mas sim, por pura obrigação, pois não conseguia aproximar as aulas de literatura e de ensino da língua com as experiências gostosas que tive na infância.. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

(33) 23 O desejo de ler e, conseqüentemente, de escrever, de que tanto falamos, foi despertado em mim devido aos exemplos dos professores que convivem, atualmente, comigo, no mestrado. Até então, ler e escrever eram atividades enfadonhas, pois não podia interpretar de acordo com minhas vivências. Havia sempre interpretações possíveis, corretas. Não podia “viajar” no texto. Tudo era muito racional, muito certo, muito previsível. Tinha que me esconder atrás da impessoalidade, atrás de um autor conceituado que poderia dar sustentação às minhas idéias. Hoje isso se modificou. Sinto-me à vontade para realizar minhas interpretações, redigir aquilo que realmente acredito sem precisar disfarçar-me, pois tenho professores e colegas que dão o exemplo de que é possível mostrar-se. Diante disso, cada vez mais, acredito que é fundamental, como diz Freire (1997), a corporeificação da palavra pelo exemplo. De nada serve fazermos o discurso de que a leitura é importante, que através dela somos capazes de escrever melhor, expressar-nos melhor, se nós, professores, não damos o exemplo. Precisamos ler mais, precisamos ser apaixonados pela leitura, a fim de que os alunos percebam a boniteza do ato de ler. Dias atrás, lendo Rubem Alves, parei para refletir sobre a história do Pinóquio. Quem não conhece a história daquele menino que fugiu do pai, o talentoso carpinteiro Gepeto? Pois bem. Rubem Alves propõe uma reflexão sobre esse menino que precisava entrar para a escola, a fim de se tornar um menino de verdade. E isso continua sendo concebido pela sociedade em geral e principalmente pelos professores. É preciso passar pela escola para que uma criança seja, no futuro, um bom médico, um bom dentista, um bom advogado, enfim, para ser um profissional. Essa escola, da qual fazemos parte, preocupa-se muito com o futuro, que ninguém sabe ao certo como será, e esquece-se de viver com seus alunos o presente, o aqui e o agora. Nossas escolas são vistas como lugar de disciplina, da concentração, de silêncio. Temse muito tempo para estudar, ser bom aluno e pouco tempo para conversar, para rir, para brincar, para ser criança, para ser feliz. Não podemos esquecer da alegria, da brincadeira. Não podemos querer que as crianças vivam nosso mundo, que aprendam apenas o que nós adultos queremos, pois assim como nós, elas aprendem aquelas coisas que lhes dão prazer. Na grande maioria. Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now..

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