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Academic year: 2021

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História e Cultura afrodescendente

Falar sobre raça no país dos miscigenados é delicado. Afinal, quem são os “claros” e os “escuros” numa sociedade onde a cor da pele é antes de tudo uma construção? Só entre 2007 e 2008 nada menos que 1 milhão de negros e 450 mil brancos deram lugar a 3,2 milhões de autodeclarados pardos. Negros que vivem em condições favoráveis simplesmente “embranquecem” socialmente, enquanto brancos que vivenciam a pobreza, ao contrário, “escurecem” (MORAES, 2010). O preconceito racial, no entanto, ainda é percebido mesmo entre os pretos mais ricos – por isso, quase brancos – enquanto os de pele clara contam apenas com a brancura como um bem de prestígio. São quase negros.

Um negro é um branco muito rico

O antropólogo norte-americano Marvin Harris estava intrigado. Afinal qual era exatamente a cor de uma pessoa acastanhada? Ou alviescura, amarelada, alvirrosada? Passava os olhos pela lista divulgada nos anos 70 pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnud), na qual os entrevistados declaravam a própria cor. Eram incríveis: alvarenta; alvarinta; alvinha; amarela; amarelo-queimada; amarelosa; amorenada; avermelhada; azul; baiana; bem-branca; avermelhada; branco-melada; branco-morena; branco-pálida; branco-queimada; branco-sardenta; branco-suja; branquinha; bronze. Estava estudando uma população no interior da Bahia. Ali, lançou uma questão que até hoje reverbera em solo nacional: quem é branco?

Para conseguir a resposta, ajudava o fato de não ter nascido na terra dos múltiplos coloridos. A quantidade de declarações sobre a cor da pele mostrava que, mesmo em um Estado com alto índice de negros e mulatos como a Bahia, a população simplesmente não conseguia se dizer “branca” ou “negra”. Harris foi seguindo a trilha dessa multiplicidade de tons e percebeu que a cor estava claramente atrelada ao sucesso social de seu dono. Chegou a uma conclusão surpreendente, formulando assim um instigante esquema. Ele diz: um negro é um branco muito pobre; um mulato muito pobre; um mulato pobre; um negro muito pobre; um negro pobre; um negro medianamente rico. Já um branco é: um branco muito rico; um branco medianamente rico; um branco pobre; um mulato muito rico; um mulato medianamente rico; um negro muito rico.

É, sem dúvida, uma forma mais eficaz para lidar com a questão racial no País: ela não se localiza apenas no fenótipo, na aparência, mas perpassa também pela classe social do indivíduo. Significa dizer que o racismo no Brasil manifesta-se pelo branqueamento daqueles que agregam diferentes status e, ao contrário, o enegrecimento ou empardecimento daqueles sem prestígio social.

A cor também está veiculada àquilo que é associado ao que é negativo (preto) ou positivo (branco). A pesquisa empreendida pelo sociólogo Sérgio Adorno a partir dos boletins de ocorrências de crimes violentos em São Paulo durante os anos 90 traz uma assustadora conclusão: se o réu era inocentado pelas evidências, tornava-se “branco” nos registros. Já aqueles cujas evidências apontavam para a culpa eram descritos, mesmo tendo a pele clara, como “morenos” ou “negros”. Mas foi o vice-presidente do Instituto Cidadania Democrática (ICD/SP), Silvio Luiz de Almeida, quem conseguiu responder mais sucintamente à pergunta do assombrado Marvin Harris. Ao estudar o acesso à universidade e a emancipação dos afro-brasileiros, ele afirma: ser “branco”, no Brasil, não se refere apenas à cor da pele, mas a todo um conjunto de atitudes e de privilégios políticos e econômicos que nossa sociedade atribui aos que possuem uma aparência branca. E essa aparência, como sabemos, pode ser construída de diversas maneiras, seja através do sucesso econômico, político, cultural. A falta de privilégios, por sua vez, confere simbólicos pigmentos, uma melanina brasileiríssima.

Há entanto, apesar do “enegrecimento social”, um capital com o qual todos estes claros podem contar e que os diferencia substancialmente dos pretos pobres: a brancura da própria pele. Mesmo sofrendo as dificuldades da falta de emprego, renda, moradia e saúde, eles conseguem, na rua, a olho nu, diferenciar-se positivamente. Aproximam-se, visualmente, da maioria daqueles que compõem as fatias economicamente mais privilegiadas do País, vide o ótimo trabalho do economista Marcelo Paixão, que criou para a Organização das Nações Unidas, em 2005, um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) com recorte racial para mostrar a brutal diferença de existências no País. Se apenas o IDH dos brancos fosse levado em

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consideração, o Brasil ocuparia a 44ª posição entre os 174 países listados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Se apenas o IDH dos negros fosse listado, o Brasil iria parar no 105º lugar. São 61 posições de diferença.

Assim, estes brancos são donos da cor, mas não da realidade, da elite econômica do País. Por isso, quase negros. Quase porque, no cotidiano, têm menos chances de, por exemplo, serem abordados pela polícia. “Baculejo” em branco, mesmo pobre, é mais difícil. Eles são mais “raros” neste estrato: dos 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% são negros. Na entrevista para conseguir emprego, são eles os mais cotados para dar conta do item “boa aparência”, um dos filtros que mantêm a população negra afastada dos postos de trabalho. “Quando as pessoas olham uma criança branca pedindo na rua, comovem-se com mais facilidade, chama atenção, ‘olha, coitado, tão bonitinho, tem os olhos azuis’. Porque aquele não é o lugar para aquela criança, aquele é o lugar para o negro, é sempre ele que aparece nesta situação”, diz a professora Eliane Veras, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O capital da cor, única riqueza dos brancos pobres, também foi observado pelo antropólogo Kabengele Munanga, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Ao defender o sistema de cotas nas universidades brasileiras, ele afirma: não há como tratar, falando de políticas públicas numa cultura e sociedade racista, igualmente os negros pobres e os brancos pobres, já que os primeiros são discriminados duas vezes, pela cor e pela condição socioeconômica, enquanto os últimos são discriminados uma única vez. Aqui, ressalta, não é possível acreditar em democracia racial: é preciso tratar tais grupos como profundamente desiguais (de acordo com o Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil 2007/2008, 4.027,710 brancos cursavam até 2006 o nível superior no Brasil, enquanto apenas 1.757,336 pretos e pardos acessaram o mesmo nível).

Enquanto a alvura pode livrar estes quase negros de alguns constrangimentos, a pobreza os mantém distintos, como aponta o cientista político Gustavo Venturi, da Fundação Perseu Abramo. Segundo ele, os pobres não negros não deixam de ser discriminados como pobres. E essa discriminação é provocada pelo próprio contexto social no qual, cada vez mais, o poder é traduzido na aquisição de bens materiais. “Essa experiência advém de um enraizamento cultural profundo de valores derivados de uma estrutura de classes historicamente muito desigual, valores que se expressam no menosprezo do trabalho braçal, que antes cabia aos escravos e depois se sustentou na abundância de mão de obra barata, desqualificada pela falta de oportunidade de estudo e de formação profissional. A discriminação contra pobres no Brasil alimenta-se também da exacerbação dos valores consumistas da nossa sociedade, que sobrevaloriza a aparência, traduzida em vestuário e adereços considerados símbolos de beleza e de sucesso. Em que pese a melhoria da distribuição de renda nos últimos anos, é evidente que essa lógica segue expondo milhões de brasileiros à discriminação social pelo simples fato de serem pobres.”

Racismo científico

Tavares Bastos, jurista e político fundador da Sociedade Internacional de Imigração (1866), era a favor da abolição dos escravos, como se pode ler na sua frase abaixo. Não porque acreditasse em algum tipo de equidade entre ele e os negros, mas porque queria substituir os cativos por homens brancos assalariados, postos de trabalho que atraíssem imigrantes para o solo nacional a fim de promover mais ‘progresso’ ao País. E nesse progresso não havia espaço para pretos. Baseados no positivismo, no evolucionismo e nas teorias que afirmavam a superioridade branca, homens como Joaquim Nabuco e Tavares Bastos incentivavam a imigração de europeus.

“O homem livre, o homem branco, além de ser muito mais inteligente que o negro, que o africano boçal, tem o incentivo do salário que percebe, do proveito que tira do serviço, da fortuna enfim que pode acumular a bem de sua família. Há entre esses dois extremos, pois, um abismo que separa o homem do bruto. [...] Cada africano que se introduz no Brasil, além de afugentar o emigrante europeu, era em vez de um obreiro do futuro, o instrumento cego, o embaraço, o elemento de regresso das nossas indústrias.” (BASTOS)

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Como Bastos, outros “ilustrados” também se baseavam, alguns sem saber, nas teorias do francês Joseph-Arthur de Gobineau (1816-1882). Foi ele que, em seu Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas (1853-1855), espraiou o que entendemos hoje como racismo. Baseado na falsa crença da existência de várias raças humanas, no entendimento de diferenças entre tais raças e na ideia de que entre estas raças algumas são mais superiores que outras. O britânico Houston Stewart Chamberlain (1825-1927) foi o pai do mito da superioridade da raça ariana, do qual Hitler se apropriaria através das ideias de Alfred Rosenberg (1893-1946). Munido de gráficos, números, tabelas e “pesquisas”, Chamberlain sustentou “cientificamente” o nazismo ao afirmar que judeus, ciganos, eslavos e homossexuais eram inferiores e o alemão personificava a perfeição da humanidade.

A Faculdade de Direito do Recife foi, em solo nacional, um dos centros de difusão da crença na inferioridade negra baseada no evolucionismo e no positivismo. “O negro não é só uma máquina econômica; ele é antes de tudo, e malgrado a sua ignorância, um objeto de sciencia", escreveria um de seus mais famosos integrantes, o crítico Sílvio Romero (1851-1914), no prefácio de Africanos no Brasil, livro de Nina Rodrigues, outro arauto do “racismo científico”. Romero acreditava que a mescla de cores trouxe-nos aspectos não desejáveis, por isso era necessário embranquecermos. “Romero contribui para mostrar que o atraso estava ligado ao trabalho do índio, que seria lento, e ao escravo, que era causa de nossa estagnação econômica. Não estávamos, assim, aptos ao desenvolvimento, não estávamos prontos para um país novo, capitalista. Ele estava convencido de nossa inferioridade e por isso investe seu otimismo no branqueamento”, diz o sociólogo Arim Soares do Bem, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

No artigo Criminologia e etnicidade: culpa categórica e seletividade de negros no sistema judiciário brasileiro, a influência de Silvio Romero foi grande a ponto de estimular o recrutamento de imigrantes em vários países europeus, dando início a uma nova fase imigratória que somente foi interrompida com o processo de nacionalização da mão de obra introduzido por Getúlio Vargas na década de 30 do século 20. De 1880 até 1940, vieram para o Brasil cerca de 1,4 milhão de italianos, 1,2 milhão de portugueses, 580 mil espanhóis, 170 mil alemães, 108 mil russos e 47 mil poloneses. Nabuco, que nunca escondeu seu amor pela fleuma do Velho Mundo, era um dos entusiastas dessa invasão europeia. Usou-a, aliás, como base de seu projeto antiescravagista. Em um discurso na Câmara dos Deputados, em 1879, disse que o Brasil precisava urgentemente da abolição a fim de constituir uma nacionalidade apropriada com base no imigrante europeu, este dono de um “sangue caucásico, vivaz, enérgico e sadio”. Essa também era a percepção da elite nacional de uma maneira geral, que, se não chegou a discriminar legalmente o negro (como nos Estados Unidos das leis segregacionistas), terminou o legitimando como ser inferior ao relacionar seu estereótipo ao negativo, ao feio, além de privilegiar a estética e o pensamento que chegavam dos EUA e da Europa. Esse verdadeiro sentimento de inferioridade nacional perdura em parte até hoje nessa mesma elite (e de uma classe média que tenta copiá-la), que prefere aquilo que vem “de fora”.

Outro nome forte da política nacional demostraria, quase setenta anos depois, que o racismo científico, apesar de ter perdido sua força a partir dos anos 30, ainda era uma realidade entre nós: no final do Estado Novo (1945), Getúlio Vargas assinou um decreto-lei que também estimulava a imigração europeia. Ele justificava seu ato apontando “a necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características básicas mais desejáveis de sua ascendência”.

Primórdios da escravidão africana

Apesar do longo e violento processo aculturativo, consequência do contato forçado entre as sociedades, a cultura africana não foi destruída, mas persistiu mesmo esfacelada. Pode-se notar isto peio sincretismo, principalmente religioso, tão evidente quando se abordam os aspectos culturológicos da questão.

Na Europa, o tráfico de escravos já era bastante ativo no século XV. Os portugueses, por sua vez, desenvolveram um pequeno comércio de escravos comprados na Costa do Ouro e, mais tarde, ao longo de toda a Costa Ocidental da África. Com a descoberta do Brasil, no século XVI, esse comércio foi incrementado pela necessidade de mão-de-obra na colonização.

Em 1525, começaram a chegar os primeiros africanos, o tráfico negreiro se intensificou e, em 1600, já havia 20 mil escravos nos engenhos de açúcar. Em 1850, a população brasileira era cerca de oito milhões de

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habitantes, sendo 2.5 milhões escravos. Estima-se que tenha sido trazidos entre 3,5 a 4 milhões de escravos do continente africano desde os primórdios da colonização até o fim do tráfico legal ou clandestino.

Os grupos escravos, através dos séculos, sofreram sensível diminuição em relação ao total de habitantes brasileiros; com a miscigenação, o negro puro está desaparecendo e a população, embranquecendo. A tendência, entretanto, é predominar um tipo nem branco nem negro, mas mulato, pardo ou moreno. A reconstrução das culturas africanas sempre foi problemática, porque para o homem branco havia, simplesmente, o negro escravo, e não grupos de negros portadores de culturas diversificadas. Por isso, desde o início, foi impossível ao negro praticar suas culturas de origem, sendo estas grandemente deturpadas, perdendo muitos de seus elementos. Na condição de escravo, o negro era considerado de etnia e cultura inferiores.

Diversidades de grupos e culturas

Pelos Tratados de Paris (1817) e Aix-la-Chapelle (1818), o comércio de escravos, sob pressão dos ingleses, passou a ser ilícito. Entretanto, o tráfico clandestino de negros superequatoriais continuou e bem vigoroso. Chegaram ao Brasil, portanto, negros africanos de diferentes lugares e culturas. Havia criadores e agricultores, habitantes das florestas e das savanas, moradores de casas redondas ou retangulares, artesãos, técnicos de mineração e de trabalhos com ferro, pessoas pertencentes a grandes reinos ou a pequenas organizações tribais, a sistemas religiosos politeístas ou monoteístas, totêmicos ou adoradores de ancestrais de linhagem. Portanto, de condições culturais diversas, algumas de níveis elevados. Homens de diferentes padrões culturais, linguísticos e biológicos.

O tráfico para o Brasil nem sempre se realizou por famílias, etnias ou tribos, mas por meio de grupos variados, com as mais diversas culturas. Havia uma mistura de pessoas antes mesmo da entrada nos navios. Chegando ao Brasil as famílias remanescentes eram novamente separadas, marido e mulher, pais e filhos, parentes.

Cultura material

De Benin, Nigéria, Angola, Congo e Moçambique foram introduzidos os objetos de bronze e outros metais como armas de caça, de pesca, sabres, punhais e material de mineração. Os negros de Moçambique eram hábeis ferreiros.

Na arquitetura, houve sobrevivência Ioruba e Angolense, na construção de pejis dos mocambos de barro batido e nos tipos de habitação populares ainda hoje encontrados no Nordeste.

Eram bem conhecidas e desenvolvidas as artes da cerâmica na confecção de vasos de barro e a de cestaria, com peça s de palha. Também não se pode esquecer de que os africanos faziam e utilizavam máscaras. Na indumentária, os Iorubas usavam panos vistosos, de algodão, saias rodadas e xales da Costa; ornavam-se com colares, braceletes e brincos de argolões.

Dos Hussás, cuja cultura se mesclou à maometana (genericamente chamados Maleses), originou-se o traje da "baiana," - com o turbante ou rodilha na cabeça, saias redondas, chinelinho, miçangas e balangandãs (estes oriundos de Angola e Congo).

Quanto aos instrumentos musicais, encontra-se no Brasil uma série deles, de variadas formas, principalmente de percussão. Os Iorubas e Congueses trouxeram os tambores, atabaques, campânulas, agogôs, adjás, gonguês, flautas e afofeis. Os Bantos contribuíram com os tambores de jongo (hoje, dança encontrada em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo), o ingono (tambor de macumba e candomblé, usado no Nordeste), o zambê, a cuíca, o urucungo, o berimbau (elemento importante na capoeira) e outros.

Na culinária, os Iorubas, principalmente os Nagôs, contribuíram com numerosos pratos, em especial na Bahia. O complexo do inhame, o uso do azeite de dendê, o vatapá, o acaçá, o bobó, o acarajé, o abará, o efó, o axoxó, etc, são origem Ioruba. A pimenta pura, mastigada na comida ou esmagada no caldo da carne ou do peixe, reinava em toda a África, de onde foi trazida.

Cultura imaterial

No processo aculturativo, surge, portanto, não uma prática pura, mas um sincretismo religioso. Entre esses rituais, podem-se apontar: (a) Candomblé (Bahia) significava primitivamente dança e instrumento musical, e depois passou a designar a própria cerimônia religiosa dos negros; (b) Macumba (Rio de Janeiro, São

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Paulo e Minas Gerais) - religião e ritual mágico, tendo-se transformado e adquirido formas novas: (c) Xangô (Nordeste Oriental); (d) Tambor (Nordeste Ocidental); (e) Batuques ou Paras (Rio Grande do Sul) etc. “A religião Ioruba se mesclou ao catolicismo, adaptando os seus deuses ou orixás aos santos católicos. Oxalá é identificado com o Senhor do Bonfim; Xangô identifica-se ora com São Jerónimo, ora com Santa Bárbara, e, na forma de Aira, com São Pedro, na de Xangô de Ouro, com São João Menino; Oxóce, com São Jorge; Ogum, com Santo Antônio; Omòlu, com São Lázaro outras vezes com São Bento, dependendo do local ou grupo; Iemanjá, com Nossa Senhora da Conceição; Iansã, com Santa Bárbara; Oxúm, com a Senhora das Candeias e outros. As práticas religiosas afro-brasileiras sofreram também influência do espiritismo, como Candomblés, Umbanda, Quimbanda, Sessão de Terreiro e até a Mesa Redonda e as Sessões de Caboclo" (CARNEIRO, 1961:76-79).

O Nagô tornou-se a "língua geral" dos negros nas cerimonias religiosas, nos cânticos de terreiro, nos atos litúrgicos. Em contato com a língua portuguesa, exerceu forte influência, contribuindo com inúmero s termos e formas de expressão, principalmente o quimbundo.

A influência do africano na literatura popular foi riquíssima, destacando-se contos, fábulas, lendas, poesias e autos populares. A dança e a música, que os negros africanos introduziram no Brasil, tiveram origem religiosa e mágica, e aqui se difundiram e se modificaram. Entre as danças, podem-se indicar o jongo, o batuque, o maracatu, o coco-de-zambê, os congos e outras mais.

Resultante cultural

Outras causas somaram-se para a sobrevivência da religião africana, que, após a abolição da escravatura, pôde desenvolver-se mais livremente. Ela sobreviveu sobretudo nas regiões açucareiras do Nordeste, onde os negros das plantações tiveram chances de reafirmar suas representações simbólicas e seus valores em festas e reuniões permitidas e, às vezes, incentivadas pelos senhores, para a obtenção de um escravo mais eficiente.

As influências recíprocas tiveram inicialmente caráter intertribal, em consequência da promiscuidade a que foram submetidos nos porões dos navios negreiros e posteriormente nas senzalas, onde se acentuaram. Desde o início, as línguas se misturaram, perdendo sua pureza original.

Paralelamente à aculturação linguística, desenvolveu-se a aculturação religiosa, verdadeiro sincretismo de crença s e cultos predominantemente totêmicos e fetichistas. As sobrevivências religiosas africanas foram mescladas com elementos religiosos indígenas, católicos e espíritas. Mas foi o catolicismo que exerceu maior influência, pois o negro era obrigado a se converter à religião católica. A conversão realmente não se deu, e o negro passou a praticar as duas religiões concomitantemente.

Hábitos e costumes, de modo geral, foram alterados e também se mesclaram. O legado africano relativo à dança, à música e aos instrumentos musica foi bastante significativo, tendo sido adotado, muitas vezes reinterpretado, e persistindo até hoje.

REFERÊNCIAS

MARCONI, Marina de Andrade & PRESOTTO, Zelia M. Neves. Antropologia: uma introdução. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2009.

SARTRE, Jean Paul. Reflexões sobre o racismo. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1968.

MORAES, Fabiana. Especial Joaquim Nabuco. Jornal do Commercio. 2010. Disponível em http://www2.uol.com.br/JC/sites/especial_joaquimnabuco/html/html2/materia_01.html

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