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AÇÃO DE PESTICIDAS SOBRE ABELHAS: avaliação do risco de contaminação de méis

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Academic year: 2020

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1Mestrando em Biodiversidade e Conservação, Universidade Federal do Maranhão.

2Departamento de Química e Alimentos. Campus São Luís – Monte Castelo. Instituto Federal do Maranhão. ozelito@ifma.edu.br 3Departamento de Tecnologia Química. Universidade Federal do Maranhão.

RESUMO

As abelhas são responsáveis por grande parte da polinização das áreas agrícolas em regiões de clima tropical e subtropical, sendo extremamente importantes para a produção de sementes e frutos. Estes insetos são sensíveis ao uso de pesticidas agrícolas, sendo o envenenamento das mesmas o principal problema para todos os apicultores. O comportamento das abelhas na lavoura durante a pulverização sinaliza para o uso dos meliponídeos como bioindicador da qualidade ambiental. Os efeitos da aplicação desses defensivos podem gerar contaminação do mel, mutação gênica, morte das abelhas e possível extinção da espécie. Estes efeitos são estudados neste artigo, assim como os sintomas do envenenamento das abelhas e por fim são analisadas algumas avaliações de risco para as abelhas diante da aplicação de determinados pesticidas. Uma avaliação prévia de mel proveniente de Turilândia, MA, indicou a necessidade de monitoramento dos produtos apícolas, uma vez que resíduos de herbicidas foram detectados, no sentido de se identificar as etapas de produção que causam a contaminação.

Termos para indexação:polinização, bioindicadores, agrotóxicos, envenenamento.

Pesticides action on bees: evaluation of honey contamination risks.

ABSTRACT

Bees are responsible for much of the pollination of agricultural areas in regions of tropical and subtropical climate, being extremely important for the production ofseeds and fruits. These insects are sensitive to the use ofpesticides in agriculture, and the poisoning of the same is the main problem for all beekeepers. Bees behavior on crops during spraying signals for use ofmeliponideos as an environmental quality bio-indicator. The effects ofthe pesticide application can cause honey contamination, genetic mutation, death ofbees and possible extinction ofspecies. These effects are studied in this article, as well as the symptoms ofthe poisoning ofthe bees and, finally, we analyzed some risk assessments for bees before the application ofcertain pesticides. A preliminary evaluation ofhoney from Turilândia, MA, indicated that the bee products monitoring is needed since herbicide residues were detected, in order to identify the stages of production that causecontamination.

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INTRODUÇÃO

Os meliponídeos constituem um grupo isolado e especializado que é altamente dependente das características climáticas e florísticas de suas regiões de origem. No Brasil, estas abelhas são responsáveis, conforme o ecossistema, por cerca de 40 a 90% da polinização das árvores nativas e, consequentemente, pela produção de sementes e frutos (KERR et al., 1996 apud, MORAES et al., 2000).

Existem mais de 300 espécies de meliponídeos classificadas que podem ser encontradas em um vasto território de clima tropical e subtropical que se estende do Rio Grande do Sul, no Brasil, ao México. Devido à importância econômica da Apis mellifera na produção de mel e na polinização, a determinação da toxicidade de inseticidas para estas abelhas começou a ser estudada mesmo antes da introdução do dicloro-difenil-tricloroetano (DDT) em 1942 (MACIEIRA & HEBLING-BERALDO apud MORAES, 2000).

A qualidade da produção agrícola sempre foi intensamente afetada pelo aparecimento de formas de vida indesejáveis, tais como insetos e ervas daninhas. Desta forma, tomou-se necessária à utilização de agrotóxicos ou pesticidas de diversas classes químicas (JONATAN, 1989 apud COUTINHO et al., 2005). As pragas, doenças e ervas daninhas invasoras constituem fatores limitantes da produção de alimentos nos agroecossistemas que apresentam desequilíbrio ambiental (ARAÚJO et al., 2004, COELHO et al., 2006). Na tentativa de resolver estes problemas, os agrotóxicos têm sido aplicados de forma indiscriminada devido às próprias características culturais do trabalhador rural, como a falta de capacitação profissional, de assistência técnica e propaganda enganosa (COUTINHO et al., 2005).

Os pesticidas que são usados para eliminar pragas nas plantações podem ser perigosos para as abelhas bem como para outros insetos benéficos como borboletas, besouros, mosquitos e bicho-da-seda, entre outros, considerados seres vivos importantes na manutenção do equilíbrio ecológico. Dentre os pesticidas, os inseticidas são os mais tóxicos para as abelhas, podendo levar à perda de colméias inteiras. O envenenamento da abelha é o principal problema para os apicultores no mundo todo. Entretanto, outros compostos aplicados na lavoura podem ocasionar efeito deletério, sem levar à morte da abelha, sendo transportado por esta até a colméia e contaminando, em último estágio, o mel produzido ali, como pode ser depreendido do trabalho de Araújo et al. (2004).

Os incidentes de envenenamento das abelhas são causados principalmente pelos tratamentos realizados em pomares, vinhedos, em áreas de colheitas de cereais e, ainda, pela poluição do ar devido à ação do vento na plantação (PORRINI et al., 2003). Frequentemente os pesticidas são aplicados nas colheitas por meio de pulverizadores, seja no solo ou no ar, e apesar de ser um importante mecanismo para a proteção da colheita, as aplicações podem ser prejudiciais para as abelhas (MUSSEN, 1996).

Estudos sobre a toxicidade de agentes químicos para meliponídeos são ainda relativamente escassos na literatura cientifica brasileira, já que estas espécies não ocorrem em países de clima temperado, onde os principais estudos a respeito de contaminação das abelhas por pesticidas são realizados, não sendo encontrado, até janeiro de 2013, nenhum artigo científico no portal de Periódicos da CAPES, maior biblioteca virtual de periódicos científicos noscontinentesamericanos.

Os agrotóxicos são divididos em diferentes classes, dentre as quais se podem citar herbicidas, fungicidas, acaricidas, algicidas, larvicidas e inseticidas. Suas funções básicas na agricultura incluem a elevação da produção com aumento da produtividade, a melhoria da qualidade dos produtos e a redução do trabalho e gastos com energia. No entanto, o uso indiscriminado e pouco criterioso de agrotóxicos trouxe e continua trazendo problemas muitos sérios para o ambiente e para a saúde humana (COUTINHO et al., 2005).

O problema surge da necessidade de pulverizar as pragas que atacam as colheitas na floração. A maioria dos pesticidas matará as abelhas quando aplicados diretamente nelas. É frequentemente possível modificar práticas de agricultura e remover a necessidade de pulverização quando as flores estão presentes (RADUNZ, 1996).

Assim, a aplicação do pesticida não deve prejudicar as abelhas e os grãos de pólen não germinarão bem nas superfícies molhadas do estigma, por isso é sábio não pulverizar a plantação quando o pólen fresco está sendo depositado nas flores (MUSSEN, 1996).

O presente trabalho teve como objetivo demonstrar a importância desses insetos meliponídeos para a manutenção do equilíbrio do agroecossistema do ponto de vista da biodiversidade e conservação da espécie. Além disto, foi realizado um estudo preliminar de determinação de herbicidas amplamente empregados no estado do Maranhão em uma amostra de mel proveniente do município de Turilândia, MA, buscando demonstrar a necessidade urgente de monitoramento deste importante produto alimentar.

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2003).

As abelhas são insetos extremamente sensíveis às alterações atmosféricas devido à presença de pesticidas, funcionando assim como um termômetro da qualidade ambiental, sendo denominado de bioindicador, pois sofrem alterações na população de sua espécie em função da concentração excessiva de poluentes químicos na composição dos gases da atmosfera. Os pesticidas que são menos perigosos para as abelhas tais como as formulações de Bacillus thuringiensis devem ser utilizadas

adequadamente em situações específicas onde os demais pesticidas não apresentem alcance lesivo para a praga em questão. A formulação e a aplicação dos pesticidas definirão o grau de perigo para as abelhas (RADUNZ, SMITH, 1996).

COMPORTAMENTO DAS ABELHAS NA

PLANTAÇÃO DURANTE O PROCESSO DE

PULVERIZAÇÃO

As abelhas normalmente procuram o alimento durante o dia, quando a temperatura alcança ou excede 23ºC e essa busca pode demorar horas. Chuva, orvalho pesado ou ventos de velocidade acima de 50 quilômetros por hora tendem forçosamente a mantê-las na colmeia. Para voar, as abelhas têm que manter uma temperatura do corpo acima de 48ºC. Embora criem o calor em seus corpos, quando a temperatura do ar cai abaixo de 22°C, elas não podem reter bastante calor para voar.

Em 18°C, uma abelha eventualmente cairá em uma condição de coma induzido pelo frio e morrerá (MUSSEN, 1996).

As abelhas geralmente procuram alimento dentro de um raio de 1 a 3 quilômetros da colmeia, podendo estender-se a uma distância de onze quilômetros quando o alimento é escasso. As abelhas do campo que buscam alimento na altura da pulverização são atingidas diretamente pelo jato e, dependendo da quantidade de

inseticidas voando na área da aplicação, levando o produto pulverizado à colméia, ou visitando flores contaminadas quando o resíduo tóxico éremanescente(PORRINI, 2003).

O fato de procurarem alimento até 6,5 Km afastados de sua colmeia significa que cobrem uma área potencial de busca alimentar de 128 quilômetros quadrados deáreaspotencialmentetóxicas(MUSSEN,1996).

EFEITOS DO PESTICIDA SOBRE AS ABELHAS

Dos produtos fitossanitários, os herbicidas são os mais utilizados em todo o mundo, tanto em volume, como em área tratada. O uso destes produtos em cereais, soja, beterraba e cana-de-açúcar equivalem a 78% do total comercializado no mundo. O restante corresponde a inseticidas, fungicidas, nematicidas, acaricidas, moluscicidas, rodenticidas e outros. Os herbicidas também são os mais utilizados nas lavouras brasileiras, principalmente, nas culturas de soja, de cana-de-açúcar e de milho, sendo seguidos pelos inseticidas e fungicidas (ARAÚJO et al., 2001).

Os estudos precedentes sugerem que a toxicidade da maioria dos inseticidas para as abelhas diminui em 50% se o pesticida tiver a oportunidade de secar antes do contato com as abelhas, lembrando que cada inseticida tem um período de tempo intrínseco quando o resíduo seco remanescente é tóxico no campo, variando de uma hora a uma semana ou mais. Obviamente, as abelhas não devem encontrar tais resíduos dentro do campo ou do pomar para que elas cresçam de forma ideal (MORAES et al., 2000). Os inseticidas aplicados na forma de pó são quase sempre mais perigosos do que os pulverizados em jatos. A aplicação de borrifos produzidos a partir de pós-úmidos é frequentemente mais perigosa para as abelhas do que as emulsificáveis ou formulações concentradas solúveis em água. As soluções de jatos mais diluídos tornam-se menos perigosas e os jatos finos são menos tóxicos do que os jatos grossos. Pesticidas aplicados em áreas muito extensas ou

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repetidas vezes são provavelmente as causas das mortes em massa. Se aplicado durante o dia, os jatos aéreos são mais perigosos do que as aplicações no solo (RANDUZ, SMITH, 1996).

Se o inseticida não for de ação rápida, algumas abelhas estarão carregando o veneno na volta para a colméia onde será espalhado por contato e através do alimento. Dependendo da toxicidade, outras abelhas na colmeia serão mortas. Os pesticidas com alguma remanescência podem permanecer nas superfícies das plantas por diversos dias e podem matar as abelhas que pousaremnasvegetaçõescontaminadas(MUSSEN,1996).

Os herbicidas e fungicidas não representam perigo imediato, pois não são letais para as abelhas adultas. Os problemas mais sérios para as colônias ocorrem quando as colmeias são pulverizadas diretamente com um inseticida ou cobertos pelo jato do pesticida levado pelo vento (SANFORD, 2003). Entretanto, o contato com aqueles compostos pode contaminar toda a população, com maior possibilidade de transferência destes princípios ativos para os produtos apícolas quando comparados com aqueles de maior toxicidade para as abelhas.

O envenenamento por herbicidas e por fungicidas não é comum, mas mesmo nos casos em que as abelhas adultas não sofram nenhuma consequência direta do contato com o fungicida, o resíduo desse pesticida pode retornar à colônia com o pólen contaminado no campo ou com o pólen contaminado pelos pêlos das abelhas que voaram através dos pulverizadores ou andaram nas flores contaminadas. Incorporado ao alimento, algumas formulações do produto irão matar as larvas da abelha ou levarão à má formação em crisálidas e indivíduos jovens. O fato que todas as formulações de um determinado produto não parecem ser igualmente tóxicas sugere que podem ser os coadjuvantes, cargas e demais componentes da fórmula e não os princípios ativos que causam a toxicidade (RADUNZ, SMITH, 1996). È muito comum a presença de dioxinas, tensoativos, espessantes, emulsificantes, entre outros componentes, com conhecido efeito tóxico sobre diversos organismos vivos.

OS SINTOMAS DAS ABELHAS ENVENENADAS

Para se determinar se está havendo algum distúrbio ou anormalidade na colmeia, como o envenenamento das abelhas pela aplicação de pesticidas em áreas agrícolas da ‘circunvizinhança’, faz-se necessário à observação de alguns parâmetros comportamentais da espécie. Grandes quantidades de abelhas da mesma idade aparecendo mortas em frente à colmeia, o desaparecimento

de um grande número de indivíduos do campo, a agressividade e comportamento anormal, a diminuição lenta de sua atividade metabólica, a morte recente das operárias, ovos abaixo da média considerada padrão para a ninhada, número anormal de rainhas e morte de toda uma ninhada sem nenhuma doença aparente, são razões suficientes para que os pesticidas possam ser considerados os causadores de envenenamento. A morte será considerada normal quando o número for menor que 100 por dia. Acima de 1000 por dia, considera-se um número de mortes muito elevado (RADUNZ, SMITH, 1996).

AVALIAÇÃO DE RISCO

O risco que os pesticidas apresentam pode ser classificado em quatro grupos baseados no efeito total. Isto é determinado por três propriedades: a toxicidade direta para as abelhas recentemente pulverizadas, a persistência da atividade dos resíduos e o tempo até a morrer. Outros fatores influenciarão o resultado tais como a temperatura, a quantidade de produto químico aplicado na colheita e a porcentagem das abelhas do campo que buscam alimento na área pulverizada. Alguns fungicidas e herbicidas podem também afetar e seu uso próximo às áreas de procura alimentar das abelhas deve ser evitado (RADUNZ, SMITH, 1996).

Os pesticidas que apresentam efeito tóxico mais frequente são organofosforados, seguidos por carbamatos e organoclorados (PORRINI et al., 2003). Observa-se que o risco dos pesticidas Carbaril, cloropirifós, diazinona, dimetoato, ometoato, metomil, fentiona, metamidofós, metidationa, monocrotofós para as abelhas é elevado para aquelas que procuram alimento até 10 horas depois da pulverização. Estes pesticidas nunca deverão ser pulverizados na plantação durante a florada, especialmente se as colmeias são ativas e se a plantação requer polinização. O risco é moderado com expectativa de algumas perdas no número de indivíduos 10 horas depois da pulverização de acetato de demeton-s-metil (RADUNZ, SMITH, 1996). O risco é baixo, com uma pequena chance das abelhas morrerem no intervalo de 3 a 5 horas após a pulverização de endosulfam, dicofol, óleos de petróleo, a maioria de produtos químicos piretróides e triclorofom. O risco será mínimo mesmo se pulverizados em excesso nos locais da busca alimentar para as formulações do Bacilo thuringiensis, propargito, oxitioquinox, havendo pouco risco de perder abelhas se estes produtos são pulverizados na noite em que a procura por alimentos terminar (RADUNZ, SMITH, 1996).

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(Apis mellifera) como também as abelhas nativas (diversas espécies de Melipona) podem ser exploradas economicamente. Estas têm seu produto bastante valorizado, por sua excelente qualidade, menor volume produzido, entre outros fatores, como ser considerado um produto orgânico sem presença de pesticidas.

Classificação zoológica das abelhas que originaram o mel das análises:

ReinoAnimalia ClasseInsecta OrdemHimenoptera FamíliaApidae GêneroApis EspécieMellifera

O mel é o produto natural elaborado por abelhas a partir de néctar de flores e exsudatos sacarínicos de plantas. O produto é designado simplesmente por "mel" ou "mel de abelha" (SOUZA, BAZLEN, 1998). É considerado um fluido viscoso, aromático e doce, elaborado pela abelha a partir do néctar ou exsudatos sacarínicos de plantas, ou ambos, principalmente de origens florais, os quais, depois de levados para a colmeia pelas abelhas, são amadurecidos por elas e estocados no favo para sua alimentação (ARRUDA, 2002).

Na história da humanidade, o mel foi uma das primeiras fontes de açúcar para o homem. No Brasil até o século XIX, o mel e a cera utilizados na alimentação pelos índios e brancos e a confecção de velas pelos jesuítas, eram provenientes das abelhas sem ferrão (NOGUEIRA-NETO, 1997).

Por sua origem, o mel pode ser floral, obtido dos néctares das flores e se divide em mono floral, quando o produto procede principalmente da origem de flores de uma mesma família, gênero ou espécie e possua características sensoriais, físico-químicas e microscópicas próprias e multifloral ou poli floral quando é obtido a partir de diferentes origens florais. O melato ou mel de melato é

(b) mel industrial

O mel não poderá conter substâncias estranhas à sua composição normal, nem ter adição de corretivos de acidez, poderá apresentar-se parcialmente cristalizado e não deverá possuir caramelização, nem espuma superficial (NORONHA, 1997).

A composição do mel depende, principalmente, das fontes vegetais das quais ele é derivado, mas também de diferentes fatores, como o solo, a espécie da abelha, o estado fisiológico da colônia, o estado de maturação do mel, as condições meteorológicas quando da colheita, entre outros. De maneira geral, o mel das espécies de meliponídeos tem como principal característica à diferenciação nos teores da sua composição, destacando-se o teor de água (umidade), que o torna menos denso que o das abelhas africanizadas (A. mellifera). A cor varia do quase transparente ao âmbar escuro e o gosto e níveis de açúcar dependem do paladar, da espécie, da época, da região e, principalmente, da florada. Além dos açúcares em solução, o mel também contém ácidos orgânicos, enzimas, vitaminas, flavonóides, minerais e uma extensa variedade de compostos orgânicos, que contribuem para sua cor, odor e sabor (NOGUEIRA-NETO, 1997).

O mel tem alto valor nutritivo e propriedades medicinais (antioxidativa e asséptica), geralmente relacionadas à presença de compostos fenólicos e à enzima glicose oxidase, a qual catalisa a oxidação da glicose, com concomitante produção de peróxido de hidrogênio, um forte agente oxidante que ataca o envoltório de microrganismos (MARCHINI et al., 1998).

As abelhas são vítimas do manuseio inadequado de pesticidas na agricultura, pois matam as mesmas por intoxicação e contamina seu alimento, o mel. A aplicação de defensivos agrícolas deve-se às necessidades de controle de pragas e doenças que atacam culturas de interesse agronômico onde o controle biológico ainda não é comercialmente viável. Este uso deveria

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habitantes, IDH de 0,527 e PIB per capta de R$ 1.231,32.

Figura 1.Localização do município de Turilândia (adaptada de Wikipédia, on line, 2007).

A amostra de mel foi recebida pelo Núcleo de Análise de Resíduos de Pesticidas (NARP-UFMA), acondicionado em contêiner plástico de cor branco-leitosa, armazenado em local arejado e ao abrigo da luz. Desenvolveu-se o procedimento analítico (Figura 2) descrito a seguir: Retiraram-se alíquotas para estudo, acondicionando-as em frascos de vidro. Pesou-se 20g de mel em béquer. Adicionaram-se 20 mL de sistema de solventes (metanol: água, 70:30). Colocou-se em ultrassom por 15 minutos até solubilizar e homogeneizar completamente a mistura. Transferiu-se o volume para um balão volumétrico de 50 mL e completou-se com o referido sistema de solventes. Preparou-se a solução estoque dos padrões dos pesticidas 2,4-D, 2,4,5-T e 2,4-DCF, na concentração de 100 mg L-1, adicionando-se 20 L dos padrões em algumas

amostras de mel, consideradas como fortificadas no nível de 0,1 g g-1. Acondicionou-se cartucho de C-18 com 2

mL de acetato de etila, seguido de 2 mL de acetona e 5mL do sistema de solventes (metanol:água, 70:30). Realizou-se a primeira passagem das amostras de mel fortificadas pelos cartuchos C-18 (retenção de moléculas apolares). Acondicionou-se cartucho Lichrolut–EN® (Merck) com 2

mL de acetonitrila, seguido de 2mL de metanol e 5 mL de solução de ácido clorídrico (pH=1,0). Passou-se 50 mL da solução de mel (fortificada e testemunha), previamente limpa em C18. Realizou-se a eluição do cartucho Lichrolut-EM®com 2 mL de acetonitrila, armazenaram-se as amostras

em vails selados com septos de teflon® para serem

posteriormente analisadas por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). Foram feitas injeções de 20 L (injetor tipo Reodine®) de cada amostra tratada como previamente

descrito em Cromatógrafo (Shimatzu). As amostras foram eluídas com a fase móvel acetonitrila: tampão formiato de amônio (5 mmol L-1, pH 4,5), isocrático, fluxo de 0,8 mL min-1, com detecção por absorção de radiação na região do idealmente ocorrer em condições controladas, isto é, que

possibilitassem a produção agrícola e, ao mesmo tempo, mantivessem as condições do ambiente (DANTAS et al., 1998). Mas, muitas vezes não é assim que acontece e após aplicações de pesticidas sobre as plantações, para controlar vetores de doenças animais, vegetais ou humanas, combater pragas (insetos, fungos, bactérias, etc.) das próprias plantações, e para controlar a competição entre as culturas de interesse e as ervas daninhas, a plantação, o solo e todo o ecossistema ao redor é contaminado não intencionalmente (RADUNZ, SMITH, 1996).

A contaminação humana pelo consumo do mel pode ocorrer de forma indireta quando construímos apiários próximos às áreas de aplicação desses compostos químicos na lavoura da ‘circunvizinhança’. Esta atitude aumenta as chances de se consumir um mel com enorme risco de estar contaminado por pesticidas, e com suas características físico-químicas modificadas (RADUNZ, SMITH, 1996).

Além do perigo que representa entrar em contato direto com tais substâncias, existe outro problema importante: a contaminação do meio ambiente. Tratam-se de substâncias resistentes e acumulativas que permanecem durante muito tempo em solos, águas, vegetais e animais, que compõem a dieta alimentar humana, transmitindo-se ao longo da cadeia alimentar, sofrendo acumulação e bio-magnificação. Lembrando que as abelhas e outros insetos podem ser biocarreadores e biodissipadores do pesticida nos seus respectivos ecótopos interferindo na sua diversidade e população. No caso da abelha especificamente, há um agravante, o fato dos seres humanos se alimentarem do seu produto, o mel (ARAÚJO et al., 2004).

MATERIAL E MÉTODOS

O mel é o produto apícola mais comercializado, sendo considerado um alimento saudável e rico em nutrientes. Deste modo, a presença de pesticidas neste produto alimentício deprecia seu valor econômico e simbólico, causando prejuízos à saúde dos consumidores. Devido a isto, realizou-se um teste preliminar para determinar a presença de herbicidas, amplamente empregados no Maranhão, em mel de abelha africanizada (Apis melífera), proveniente de Turilândia, MA (Figura 1). Este município está localizado na meso-região do Oeste Maranhense e micro-região do Gurupi, entre as coordenadas 02° 12' 03" S 45° 20' 34" O 02° 12' 03" S 45° 20' 34" O, distando 160 km da capital, com área de 1.511,575 km2, população estimada em 2006 de 17.747

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Figura 2.Esquema analítico desenvolvido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As curvas analíticas são apresentadas nas Figuras 3 a 5. O cromatograma obtido para a solução dos padrões na concentração de 5,0 g mL-1 é apresentado na Figura 6. Os cromatogramas obtidos na análise da amostra testemunha (amostra de mel sem adição de pesticidas) e das amostras fortificadas estão apresentados nas Figuras 7 e 8, respectivamente.

Figura 3. Curva analítica do herbicida 2,4-D, construída pela injeção de 20 L de solução padrão nas concentrações de 0,05, 0,1, 0,5, 1,0 e 5,0

g.mL-1.

Figura 4.Curva analítica do herbicida 2,4,5-T, construída pela injeção de 20 L de solução padrão nas concentrações de 0,05, 0,1, 0,5, 1,0 e 5,0

g mL-1

Figura 6.Cromatograma do padrão de pesticidas na concentração 5 g mL-1.

Figura 7 . Cromatograma da amostra testemunha.

Figura 8.Cromatograma da amostra fortificada no nível de 0,01 g g-1.

Observou-se que a amostra considerada testemunha apresenta picos característicos para 2,4-D e 2,4,5-T, não sendo detectado 2,4,5-DCF. Esta amostra deveria estar isenta de pesticidas, mas apresentou uma concentração apreciável dos herbicidas 2,4-D (0,025 g g -1) e 2,4,5-T (0,01 g g-1), quando comparado com a curva

analítica. Esta amostra foi empregada para a fortificação e estudos de recuperação, o que pode ter favorecido uma recuperação elevada para o 2,4-D, embora a concentração encontrada na testemunha tenha sido

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à procura de alimento, observando sempre a atividade das abelhas antes de pulverizar. Pesticidas particularmente perigosos para as abelhas, não devem ser utilizados nas plantações durante a florada, pois seus resíduos podem permanecer ativos por muitos dias nas plantas e no pólen contaminado, que se for armazenado na colmeia pode matar as abelhas, mesmo após alguns meses.

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deduzida no cálculo de recuperação. Novos estudos fazem-se necessários, no intuito de otimizar o método analítico desenvolvido, devendo-se construir a curva analítica dentro do extrato da testemunha conforme sugerido por AMARANTE Jr. et al. (2003). Estudos de recuperação com amostra isenta de pesticida são necessários para garantir a exatidão do método. Entretanto, os resultados preliminares sugerem a contaminação por estes herbicidas do mel oriundo do município investigado, quer a contaminação tenha ocorrido no campo, na coleta, no transporte ou no armazenamento. Assim, faz-se necessário um estudo mais aprofundado que indique em que etapa da produção ocorreu a contaminação.

CONCLUSÃO

Considerando-se que este trabalho objetivava descrever a importância ambiental das abelhas, nativas ou não, foi possível demonstrar, a partir de pesquisa na literatura científica atualizada, esse papel relevante do inseto polinizador e produtor de diferentes insumos alimentícios e farmacêuticos. Entretanto, para que ocorra um equilíbrio entre a atividade agrícola e a apícola, os fazendeiros e os criadores de abelhas devem firmar contratos escritos de polinização, indicando suas respectivas obrigações. As colmeias devem ser colocadas fora da área da plantação e sempre contra o vento, diminuindo assim o efeito da pulverização do pesticida. O estudo preliminar de uma amostra de mel comprovou a contaminação deste produto, sendo necessários mais estudos que otimizem as condições analíticas e que monitorem a produção no município de Turilândia, no sentido de se quantificar os compostos estudados e determinar a etapa vulnerável à contaminação. Porém, estes resultados consistem em um alerta para o fato de que o produto consumido no município estudado apresenta possível contaminação.

Buscando-se evitar tais contaminações, pode-se sugerir que na florada, a plantação não deverá ser pulverizada a menos que seja absolutamente necessário, e sempre que possível, deve-se usar os pesticidas que são menos perigosos para as abelhas. Os fazendeiros deverão avisar os apicultores antes de realizar a pulverização permitindo que os mesmos removam ou fechem suas colmeias. Os criadores de abelha também devem contatar as propriedades próximas, deixando um número de telefone de contato, para avisos de aplicações de defensivos agrícolas que ocorram fora da propriedade da fazenda.

Todo pesticida que representar uma ameaça às abelhas deve ser pulverizado à noite quando estas não estão

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Figura 1. Localização do município de Turilândia (adaptada de Wikipédia, on line, 2007).
Figura 4. Curva analítica do herbicida 2,4,5-T, construída pela injeção de 20 L de solução padrão nas concentrações de 0,05, 0,1, 0,5, 1,0 e 5,0

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