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As ânforas pré-romanas do tipo Mañá-Pascual A4 do Castelo de Castro Marim

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

As ânforas pré-romanas do tipo Mañá-Pascual A4

do Castelo de Castro Marim.

Volume I

Daniel Alexandre da Silva Santos

Mestrado em Arqueologia

Lisboa, Setembro de 2009

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

As ânforas pré-romanas do tipo

Mañá-Pascual A4

do Castelo de Castro Marim.

Volume I

Daniel Alexandre da Silva Santos

Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de

Letras da Universidade de Lisboa, sob orientação da Prof. Doutora Ana

Margarida Arruda.

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Resumo

Esta dissertação tem por base o estudo dos contentores anfóricos do tipo Mañá-Pascual A4 exumados nas escavações arqueológicas realizadas no Castelo de Castro Marim.

Estas ânforas estão associadas ao transporte de preparados piscícolas, sobretudo de origem gaditana. Embora apenas em modelos mais antigos, foram identificados em exemplares desta tipologia indícios directos de conteúdo, com ânforas encontradas com restos de peixe no seu interior.

Desenvolvendo-se os primeiros exemplares destas ânforas a partir dos finais do século VI a.C., estas vão ganhar maior destaque ao longo da centúria seguinte. A produção e comercialização desta tipologia anfórica perdurará durante a segunda metade do 1º milénio a.C., estando presente em contextos do Período Romano Republicano, até à segunda metade do século I a.C.

Apresentamos uma leitura do faseamento da importação destas ânforas para o Castelo de Castro Marim e das suas principais áreas de proveniência, assim como dos possíveis significados da sua importação.

Abstract

This paper objective is the study of the Mañá-Pascual A4 amphorae found in the Castro Marim’s Castle archeological diggings.

These amphorae are associated with the transportation of fish products, mainly from the Cádiz Bay area. It was identified in exemplars of this amphora type, although only in older models, direct proves of content, with amphorae found with remaining portions of fish in its interior.

Developing the early models of these amphorae from the ends of the 6th century B.C., they will gain higher significance throughout the following century. This amphora production and trading will last during the second half of the 1st millennia BC, being present in Roman Republic levels, until the second half of the 1st century B.C.

We present a reading on the phases of the importation of these amphorae to Castro Marim and of its main areas of origin, as well as the possible meanings of its importation.

Palavras-chave: Ânforas, Mañá-Pascual A4, Preparados Piscícolas, Castro Marim,

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ÍNDICE

VOLUME I

AGRADECIMENTOS ... p. 6

INTRODUÇÃO ... p. 7

1. OCASTELO DE CASTRO MARIM E A COSTA ALGARVIA.

1.1 A costa algarvia na Idade do Ferro ... p. 9 1.2 O Castelo de Castro Marim.

1.2.1 Enquadramento geográfico e histórico ... p. 11 1.2.2 Trabalhos arqueológicos realizados e principais resultados ... p.13

2. AS ÂNFORAS E O ESTUDO DA ECONOMIA ANTIGA ... p.18

3. OS CONTEXTOS DE CASTRO MARIM.

3.1 Os contextos ... p. 19 3.1.1 Campanhas antigas ... p. 19 3.1.2 Campanhas recentes... p. 21 3.2 Análise dos contextos ... p. 21

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4. METODOLOGIA.

4.1 Composição e tratamento da amostra ... p. 24 4.2 Tratamento informático e análise estatística ... p. 25 4.3 Identificação dos grupos de fabrico ... p. 25

5. GRUPOS DE FABRICO.

5.1 Caracterização dos grupos de fabrico ... p. 27 5.1.1 Grupo I ... p. 27 5.1.2 Grupo II ... p. 28 5.1.3 Grupo III ... p. 29 5.1.4 Grupo IV ... p. 30 5.1.5 Fabrico Raro 1 ... p. 31 5.1.6 Fabrico Raro 2 ... p. 31 5.1.7 Fabrico Raro 3 ... p. 32 5.2 Análise dos grupos de fabrico identificados ... p. 32

6. AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4.

6.1 História da forma ... p. 36 6.2 Origem e evolução da forma ... p. 38 6.3 Centros produtores e distribuição dos achados ... p. 41

7. AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4 DE CASTO MARIM.

7.1 Composição do conjunto de Castro Marim ... p. 45 7.1.1 Variante 11.2.1.2... p. 46 7.1.2 Variante 11.2.1.3... p. 46

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7.1.3 Variante 11.2.1.4... p. 47 7.1.4 Variante 11.2.1.5... p. 48 7.1.5 Variante11.2.1.6... p. 49 7.1.6 Variante 12.1.1.1... p. 49 7.1.7 Variante 12.1.1.1/2 ... p. 50 7.1.8 Variante 12.1.1.2... p. 51 7.2 Análise do conjunto de Castro Marim ... p. 51

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS.

8.1 As ânforas Mañá-Pascual A4 em Castro Marim: Leituras e significados ... p. 54

BIBLIOGRAFIA ... p. 63 VOLUME II ANEXOS 1. Plantas e Cortes ... p.87 2. Estampas ... p. 93 3. Fotografias ... p.106 4. Tabela de contextos ... p. 108 5. Catalogo ... p. 111

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AGRADECIMENTOS

Antes de mais, gostaríamos de começar por expressar os nossos agradecimentos a todos os que, de alguma forma, contribuíram para a concepção e desenvolvimento deste trabalho.

Em primeiro lugar gostaríamos de agradecer à orientadora desta dissertação, a Professora Doutora Ana Margarida Arruda, por ter disponibilizado o material estudado e por todo o apoio, orientação e disponibilidade sempre prestados.

Á Dr.ª Patrícia Bargão e à Dr.ª Elisa de Sousa, por todo o auxílio, sugestões e comentários, para alem constante disponibilidade.

Ao Filipe Fernandes, pelos comentários e discussões, que em muito contribuíram para melhorar este trabalho.

Á Inês, por todo o apoio, paciência e ajuda, que com os seus comentários e sugestões em muito contribuiu para melhorar este trabalho.

Por fim, mas não sem a mesma importância, a todos os amigos e familiares por todo o incentivo e apoio sempre demonstrado, determinante no decorrer da elaboração deste trabalho.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho teve por base o interesse despertado pelo estudo de contentores anfóricos da Idade do Ferro e Período Romano, desenvolvido ao longo de vários trabalhos realizados no decurso da licenciatura.

A base desta dissertação é o conjunto das ânforas pré-romanas do tipo Mañá-Pascual A4 exumadas nas escavações do Castelo de Castro Marim, tendo o material sido disponibilizado estudo pela Professora Doutora Ana Margarida Arruda.

Trata-se de um conjunto relativamente numeroso, com 137 indivíduos, tendo sido apenas parcialmente apresentado em diferentes estudos. Neste conjunto podemos identificar diferentes variantes desta família anfórica, assim como fabricos de diferentes proveniências.

Para além de interesses pessoais para a escolha do conjunto em análise, o facto de o estudo de contentores anfóricos constituir uma fonte privilegiada e determinante para o conhecimento das economias antigas também influenciou a decisão. Dada a importância das ânforas no transporte, essencialmente, a media e longa de distância de produtos alimentares, sólidos ou líquidos, através delas podemos aferir as relações comerciais desenvolvidas e reconstruir ritmos de importação e/ou exportação.

Assim, com este estudo pretendemos analisar as presenças de ânforas desta tipologia em Castro Marim, observando, também, os ritmos de importação destes contentores para o sítio algarvio, assim como as principais áreas abastecedoras e a sua evolução ao longo do período de utilização destas ânforas.

Por se tratar de ânforas de conteúdo piscícola, o seu estudo relaciona-se, assim, com a importação e consumo de preparados piscícolas. Desta forma, podemos observar a evolução da importação, e consequente consumo, deste produto alimentar através da presença de exemplares destas ânforas. Já o estudo dos fabricos dos contentores anfóricos pode indicar a área de proveniência do produto transportado.

Relativamente á organização deste trabalho, decidimos dividi-lo em dois volumes. O primeiro corresponde à parte escrita e é composto por oito capítulos, e respectivos subcapítulos. No segundo volume são apresentados cinco capítulos de anexos.

O primeiro capítulo é introdutório e reporta-se ao espaço e tempo observados. Assim, este encontra-se divido por subcapítulos onde se observam as principais ocupações da Idade do Ferro no actual território algarvio, e se faz referência ao

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enquadramento geográfico e histórico do sítio arqueológico do Castelo de Castro Marim, dando-se a conhecer as características e evoluções da sua implantação, seguindo-se uma breve descrição dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos no sítio e os seus principais resultados.

De seguida apresentamos um segundo capítulo onde abordamos, de forma sucinta, a importância dos contentores anfóricos para o estudo da economia antiga.

No terceiro capítulo apresentamos uma análise dos principais contextos de proveniência dos materiais, organizando-os por etapas de escavação, isto é, a primeira etapa de escavações durante os anos 80 do século XX, e a segunda etapa entre 2000 e 2003.

O quarto capítulo corresponde à exposição das questões metodológicas que estão na base da elaboração deste trabalho, compondo-se o quinto capítulo com a identificação e caracterização dos diferentes Grupos de Fabrico, e sua consequente análise.

De seguida, os capítulos seis e sete são referentes a tipologia dos materiais estudados. O sexto capítulo refere-se a questões gerais relacionadas com a tipologia, como a história e evolução da forma, ou dispersão de achados e centros produtores conhecidos. Já o sétimo capítulo está relacionado com a análise dos materiais de Castro Marim enquadráveis nesta tipologia, tendo sido agrupados segundo as variantes identificadas.

Por fim, no oitavo capítulo apresentamos uma visão geral sobre os dados recolhidos, assim como as principais leituras e conclusões que se podem tirar da análise deste conjunto, seguindo-se da apresentação da recolha bibliográfica realizada.

Num segundo volume optámos por incluir cinco capítulos anexos de informação complementar aos dados apresentados. Nos três primeiros anexos apresentamos um conjunto de imagens, fotografias e desenhos, que permitem ilustrar a realidade documentada.

No quarto anexo apresentamos uma tabela que sintetiza os dados dos contextos de proveniência dos materiais estudados, sendo o quinto anexo o catálogo desses mesmos materiais.

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1. –OCASTELO DE CASTRO MARIM E A COSTA ALGARVIA.

1.1 – A costa algarvia na Idade do Ferro.

Os últimos anos têm contribuído largamente para o conhecimento da ocupação da costa algarvia durante a Idade do Ferro (Figura 1). Destes trabalhos são de destacar escavações como, a do Cerro da Rocha Branca nos anos 80, em Castro Marim, nos anos 80 e inícios do século XXI, ou, mais recentemente, em sítios como Tavira, Faro ou Monte Molião.

A região algarvia regista dois momentos de desenvolvimento na Idade do Ferro. Em primeiro lugar desenvolvem-se, no Algarve Oriental, os núcleos urbanos de Castro Marim e de Tavira, identificados, respectivamente, com a Baesuris e Balsa das fontes

clássicas, cujas ocupações que se terão desenvolvido entre finais do século VIII e inícios do VII a. C., a partir de povoados com ocupação desde o Bronze Final. Ambos os sítios se situam em pequenas elevações com um bom domínio visual da área envolvente e próximo de linhas de água navegáveis. No caso de Castro Marim, sítio localizado junto á foz de um grande rio, o rio Guadiana. Trata-se de uma área activamente ligada ao comércio e interacção com o Mundo Mediterrâneo, em especial com as populações orientais instaladas na região da actual Andaluzia, visível pelo vário espólio recolhido

Figura 1 – Principais pontos de povoamento do Algarve durante a Idade do Ferro

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ou pelas características de implantação e organização dos espaços (Arruda, 1997, 2005a, 2007a, 2007b).

Num segundo momento, em torno ao século V a. C., assistimos a alterações significativas nos povoados algarvios, com uma significativa mudança na estrutura dos aglomerados, sendo visível, como em Castro Marim, uma nova organização do espaço ocupado. Os espólios cerâmicos revelam uma profunda ligação com a região gaditana, com o incremento das importações de produtos manufacturados e alimentares envasados em ânforas (ibidem). Dos artefactos cerâmicos recolhidos são de destacar, para além da cerâmica ática, a cerâmica de tipo Kuass, ânforas do tipo Mañá-Pascual A4, Tiñosa ou B/C, cerâmicas pintadas em bandas ou com engobe vermelho, entre outros.

É, também, neste momento que se desenvolvem novos núcleos urbanos ao longo do restante litoral algarvio. Verifica-se em torno ao século IV a. C. a fundação de novos sítios costeiros, na sua maioria também sobranceiros a cursos de água, cuja ligação ao mundo gaditano está bem documentada, sobretudo pelo acervo cerâmico recolhido, com a presença de cerâmicas áticas e de tipo Kuass, ou a importação de produtos alimentares envasados em ânforas, como o azeite transportado em ânforas do tipo Tiñosa, ou os preparados piscícolas comercializados em ânforas Mañá-Pascual A4. Assim, caminhando para ocidente, regista-se a fundação de Ossonoba, em Faro, Cilpes, no Cerro da Rocha Branca, Ipses, na Vila Velha de Alvor, e Laccobriga, no Monte Molião. Á excepção de Faro, todos os sítios se implantam em pequenas elevações com amplo domínio visual e próximos de cursos de água, possivelmente navegáveis durante a antiguidade. No caso de Ossonoba, esta localiza-se numa pequena colina inserida num ambiente lagunar, que durante a antiguidade poderá ter sido uma ilha dotada de bons portos e ancoradouros. Todos estes núcleos urbanos não registam ocupações anteriores ao século IV a.C., constituindo o século III a.C. o momento de maior esplendor e auge destes sítios com numerosas importação, na sua maioria provenientes da área do Estreito (ibidem; Arruda, et al. 2008).

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Figura 2 – Castro Marim no actual território português. Figura 3 – Castro Marim na Carta Militar de Portugal, 1:25

000, Folha 600. 1.2 – O Castelo de Castro Marim.

1.2.1 – Enquadramento geográfico e histórico.

O Castelo de Castro Marim localiza-se no distrito de Faro, concelho e freguesia de Castro Marim. O sítio está implantado no cimo de uma colina com cerca de 42 m de altura e uma forma de tendência circular, localizada na margem direita do rio Guadiana, próximo da sua foz (Figura 2 e 3). Segundo a folha 600 da Carta Militar de Portugal (1:2500), a sua longitude é de 7º 26’ 30” e a latitude é de 37º 12’ 50”.

Geologicamente, o sítio implanta-se numa área de depósitos quaternários, entre xistos do maciço antigo a norte e calcários lacustres do Oligoceno e rochas eruptivas da orla a ocidente. Actualmente, o local encontra-se rodeado por terra seca, sobretudo solos do tipo E, e alguns sapais, encontrando-se o rio já a alguma distância do sítio. Contudo, é inegável o profundo assoreamento sofrido pelo rio Guadiana, assim como as marcadas

Figura 2

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alterações da linha de costa. Desta situação são reveladoras gravuras de Duarte de Armas, do século XVI, onde se pode observar como os barcos, aparentemente de grande tonelagem, ainda chegavam próximo das muralhas do Castelo, ou, ainda no mesmo século, descrições de 1577, do Frei João de S. José, que caracteriza a área do Castelo de Castro Marim como uma pequena península, ligada a terra por um estreito istmo a oeste. Podemos supor que a colina onde se implantou o Castelo de Castro Marim pudesse ter sido, na Antiguidade, uma ilha no leito do rio Guadiana. Desta forma, as características geográficas e topográficas dotam a implantação, um ponto bem destacado na paisagem, de boas condições naturais de defesa e de um amplo domínio visual, que engloba a foz do Guadiana e boa parte da área costeira, atribuindo-lhe um elevado potencial estratégico no controlo da navegação e do comércio neste rio. (Arruda, 1997a, p. 109; 1997b, p. 244-245; 1999/2000, p. 36-37; Freitas, 2005, p. 9; Oliveira, 2006, p. 23-24).

O Castelo medieval de Castro Marim foi mandado edificar no decorrer da I Dinastia, por D. Afonso III ou por D. Dinis, na sequência das guerras da Reconquista Cristã. Dado o reconhecimento da importância estratégica e militar da região, D. João IV procedeu à sua reconstrução, dificultando a preservação de elementos do original castelo medieval e da sua área envolvente.

Castro Marim é conhecido desde os finais do século XIX (1887), pelos trabalhos de Estácio da Veiga, como um sítio de grande interesse arqueológico, não se tendo, no entanto, verificado contudo qualquer escavação arqueológica no local. Nos inícios do século XX (1917), José Leite de Vasconcellos propôs a identificação do sítio com a

Baesuris referida no Itinerário de Antonino, tendo por base moedas por si encontradas no local com a legenda de Baesuri. Desde há muito que investigadores tentavam identificar Baesuris. André de Resende, no século XVI, propõe a sua identificação com Jerez de Badajoz ou Los Caballeros, enquanto no século XVIII, Frei Vicente Salgado e o Padre Flores localizavam-na em Aiamonte. Nas escavações dos anos 80 do século XX em Castro Marim foi recolhida uma moeda com a inscrição BAE, proveniente de um nível tardo-republicano. Este achado veio confirmar a proposta apresentada por José Leite de Vasconcellos em 1917 e associar definitivamente o topónimo pré-romano com o sítio algarvio (Arruda, 1997a, p. 111; 1999/2000, p. 37; Freitas, 2005, p. 9).

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1.2.2 – Trabalhos arqueológicos realizados e principais resultados.

No sítio arqueológico do Castelo de Castro Marim realizaram-se um total de 10 campanhas de escavação, todas dirigidas pela Doutora Ana Margarida Arruda. Os trabalhos, que decorreram entre os anos de 1983 e 2003, com interrupção entre 1989 e 1999, permitiram a abertura de uma ampla área com cerca de 500 m2. Achados de superfície faziam esperar uma diacronia de ocupação entre a Idade do Bronze e a Época Moderna, dados que foram comprovados com o decorrer das escavações, tendo-se registado uma intensa ocupação durante a Idade do Ferro e Período Romano (Arruda, 1999/2000, p. 37; 2007a, p. 116; 2007b, p. 118-119).

As primeiras seis campanhas de escavação, que decorreram entre 1983 e 1988, enquadraram-se no programa de investigação do então Centro de Arqueologia e História, actual UNIARQ, “O povoamento do Baixo Guadiana das origens à Idade Média”, sob orientação do Professor Doutor Victor Gonçalves. Neste contexto, iniciaram-se os trabalhos de escavação em Castro Marim (Arruda, 1997a,). Nesta primeira etapa a escavação desenvolveu-se segundo a metodologia de quadrículas preconizada por Mortimer Wheeler, com as actualizações propostas por Ferdière. Estes trabalhos tiveram como principal objectivo verificar a diacronia de ocupação do sítio, posicionando estratigraficamente os dados recolhidos à superfície e aferir o estado de conservação dos diferentes vestígios arqueológicos. Nestas campanhas foram abertas no interior do actual recinto amuralhado, em diferentes momentos, quatro áreas de escavação, o Corte 1, Corte 2, Corte 3 e Corte 4 (Figura 4), sendo posteriormente marcados quadrados de 4x4 m, dos quais eram escavados apenas 3x3 m. Esta quadricula utilizada no Castelo de Castro Marim seguiu uma orientação Noroeste/Sudoeste, sendo a coordenada X a alfabética, e a coordenada Y a numérica.

Durante as campanhas de 1983 a 1986 foi aberto o Corte 1, localizado entre o troço Este da muralha joanina e a fortificação afonsina, resultando na abertura de 14 quadrados, cuja escavação integral não foi possível devido ao bom estado de conservação das estruturas identificadas do Período Romano e de Época Sidérica. Estes quadrados encontravam-se, também, diferentemente conservados em função do impacto das construções de Época Moderna.

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Figura 4 – Planta topográfica do Castelo de Castro Marim, com indicação das áreas escavadas

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O Corte 2 é composto apenas por um quadrado, o A1, situado no interior da fortaleza afonsina, escavado durante a campanha de 1987. Este quadrado situa-se no ponto mais alto do cerro do castelo e, á semelhança do que aconteceu no Corte 1, não foi possível prosseguir com os trabalhos em profundidade dado o bom estado de conservação e sobreposição das estruturas encontradas.

Também durante a campanha de 1987 foi iniciada a escavação do Corte 3. Este corte, composto por 12 quadrados, situa-se num espaço exterior da fortificação afonsina, junto á porta Sul. Nesta área registaram-se importantes dados sobre a ocupação de Época Romana, mais concretamente, do Período Republicano.

Por fim, o Corte 4, implantado na zona Sudeste do castelo, entre o paiol e a muralha, foi escavado durante a campanha de 1988. Este é composto por quatro quadrados, dos quais apenas no E10 foi concluída a escavação, tendo-se registado, sob níveis de entulho de Época Moderna, níveis de ocupação do Período Romano e da Idade do Ferro.

O segundo momento de intervenções realizadas no sítio entre 2000 e 2003 foi desenvolvido ao abrigo de dois projectos de investigação. Entre 2000 e 2001 os trabalhados inseriram-se no projecto MARCAS – “Castro Marim e o seu território imediato durante a Antiguidade”, solicitados pela Câmara de Castro Marim e pela delegação de Faro do IPPAR, no sentido de desenvolver acções de valorização da área do Castelo. As campanhas de 2002 e 2003 desenvolveram-se no contexto do projecto MARCAS-ERVA – “Castelo de Castro Marim: Estudo, recuperação e valorização do património arqueológico”, promovidas pela CCR Algarve e pela Câmara Municipal de Castro Marim. Estas novas escavações adoptaram o método de escavação e registo proposto por Barker e Harris, optando-se por uma escavação em open área de maneira a melhor se compreender a complexa estratigrafia e arquitectura do sítio. Estes trabalhos prolongaram para Este e Sudeste o Corte 1, passando a designar-se de Sector 1.

A escavação do Sector 1, cujo processo se caracteriza pela remoção das camadas naturais pela ordem inversa à sua deposição, permitiu a abertura de uma ampla área, que se encontrava artificialmente dividida em dois por um muro de uma construção de Época Moderna, cujas fundações cortaram na totalidade a sequência estratigráfica, correspondendo a uma área interior e uma exterior da referida construção. A ampla área escavada, associada á longa diacronia verificada, permitiu uma leitura horizontal dos diferentes momentos registados, contribuindo para a elaboração de um faseamento das diferentes etapas construtivas do sítio (Arruda, Freitas e Oliveira, 2007). Apesar das

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perturbações de construções mais recentes, foi possível escavar no sítio diversas unidades referentes às ocupações antigas do Castelo, mais concretamente, de Época Romana e da Idade do Ferro.

Assim, os dados recolhidos permitem localizar o início da ocupação do cerro do castelo no final da Idade do Bronze, parcamente representada. Os únicos vestígios identificados limitam-se a duas fossas escavadas na rocha onde foram encontrados materiais característicos deste período, como taças abertas e carenadas e vasos fechados de carena alta em cerâmica manual (Arruda, 1997a, p. 113; 1999/2000, p. 40).

A ocupação humana da primeira metade do I milénio a.C., mais concretamente do século VII a.C. (I Idade do Ferro), tornou-se desde cedo bastante evidente, sendo, neste período, perceptível a introdução de um conjunto de novos materiais. Apesar de se continuar a verificar a presença de cerâmica manual, surgem agora novas formas importadas produzidas a torno, como a cerâmica de engobe vermelho ou a cerâmica cinzenta fina polida. Associado a estas encontramos as importações alimentares envasadas em contentores anfóricos. Estas novidades revelam uma profunda ligação de Castro Marim com realidades mediterrânicas, sobretudo com as populações instaladas na região gaditana. Regista-se neste período a construção de um conjunto de habitações de planta rectangular, para além de uma espessa muralha que defendia o sítio. Assim, é possível admitir a existência de contactos desde, pelo menos, o século VIII a.C., com populações mediterrânicas que se encontravam na região gaditana, estando o Castelo de Castro Marim situado numa área periférica do Reino de Tartesso (Arruda, 1997a, p. 113-114; 1999/2000, p. 40-41; Arruda, Freitas e Oliveira, 2007, p. 467-471).

A segunda metade do I milénio (II Idade do Ferro) é marcada por uma renovação da malha urbana do sítio, com a construção de novos edifícios com orientações distintas das ocupações anteriores. Parte destas novas construções mantém-se em utilização até ao século III a.C., apenas com ligeiras modificações. Na II Idade do Ferro os laços com a região do Estreito de Gibraltar intensificam-se, em especial com a área gaditana. Neste momento assistimos ao intensificar dos contactos comerciais, com a importação de objectos cerâmicos, como a cerâmica grega ou a cerâmica de tipo Kuass (Sousa, 2005), e produtos alimentares transportados em ânforas, como o azeite envasado em ânforas do tipo Tiñosa (Carretero Poblete, 2003/2004) ou as ânforas do tipo Mañá-Pascual A4, que constituem o objecto deste estudo, que transportavam preparados piscícolas. Este período florescente vai durar até ao século III a.C., momento em que o povoado entra em crise. A realidade sidérica da II Idade do Ferro de Castro

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Marim apresenta grandes semelhanças com os sítios da Andaluzia ocidental, estando o sítio inserido no vasto território que seria a Turdetânia, assim como, possivelmente, o restante território da actual região algarvia (Arruda, 1997a, p. 114-115; 1999/2000, p. 42-43; Arruda, Freitas e Oliveira, 2007, p. 471-473).

Após um período de relativa estagnação entre o século III e o I a.C., o sítio volta a registar uma intensa ocupação durante a Época Romana, sendo significativos os registos de meados do século I a.C., mais concretamente entre 50 e 30 a.C. O espólio recolhido é composto por um conjunto significativo de material importado, como cerâmica campaniense, cerâmicas de paredes finas e várias tipologias de ânforas, estando ainda presentes as ânforas de tradição “ibero-púnica”. De destacar a importância que o sítio assume neste período, tornando-se em Época Republicana centro emissor de moeda, o que permitiu justificar a sua associação com a Baesuris, como atrás foi referido (Arruda, 1997a, p. 115-116; 1999/2000, p. 43; Arruda et al., 2006, p. 154).

Durante o Período Imperial continua a verificar-se as importações itálicas, norte africanas, ibéricas e sud-gálicas, com a presença de ânforas e diversas cerâmicas finas. Neste período regista-se também uma reestruturação do espaço, com a construção de novas estruturas habitacionais e o alargamento da muralha. Contudo a partir dos finais do século I d.C. verifica-se uma nova retracção, estando possivelmente relacionado com a crescente importância da cidade de Balsa (Arruda 1997a, p. 116; 1999/2000, p. 43; Arruda et al., 2006, p. 154).

É possível, assim, verificar a longa diacronia de ocupação do sítio, desde o final da Idade do Bronze até ao século XVIII da nossa era, registando-se diferentes ritmos de ocupação e desenvolvimento, distribuídos por sete fases de ocupação. A Fase I corresponde ao final da Idade do Bronze, as Fases II a V correspondem às diversas ocupações do sítio durante a Idade do Ferro, a Fase VI corresponde ao período da ocupação romana do Castelo de Castro Marim e a Fase VII corresponde à ocupação de Época Moderna do sito. Neste sentido, são de destacar as ocupações da segunda metade do I milénio a.C., mais concretamente, entre o século V e III a.C., com as presenças da II Idade do Ferro, assim como as ocupações romanas de Época Republicana e Alto Imperial entre os meados do século I a.C. e os inícios de I d.C.

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2.–AS ÂNFORAS E O ESTUDO DA ECONOMIA ANTIGA.

As ânforas constituem um dos elementos mais importantes para o estudo da economia do mundo antigo. Este importante papel está relacionado com o facto de estas constituirem uma fonte privilegiada para o conhecimento das relações e ritmos comerciais, uma vez que estes contentores eram destinados ao transporte de diversos produtos alimentares em larga escala. Desta forma, o estudo das ânforas permite, em certa medida, reconstruir os ritmos de importação e/ou exportação de determinados produtos alimentares a uma escala, por vezes, mediterrânica.

Os primeiros grandes estudos de ânforas incidiram sobre materiais do Período Romano, dado o grande interesse que se verificava sobre a arqueologia clássica. Destes são de destacar os importantes trabalhos de Dressel nos finais do século XIX (Pimenta, 2005, p. 26). Sobre materiais da Idade do Ferro verificam-se as primeiras tentativas de catalogação nos inícios do século XX, embora com critérios pouco rigorosos. É nos meados do mesmo século que se verificam o inicio de grandes e importantes trabalhos relacionados com ânforas púnicas, como o trabalho de Cintas, de 1950, que embora se debruce sobre a cerâmica púnica em geral, inclui uma parte onde se refere aos contentores anfóricos. Um ano mais tarde, em 1951, Mañá dá a conhecer o seu importante, embora breve, trabalho sobre ânforas púnicas, centrando-se nos materiais frequentemente encontrados em Espanha (Mañá, 1951; Ramon Torres, 1995, p. 149-150).

O desenvolvimento das investigações arqueológicas e a crescente importância da arqueologia subaquática conduziu ao aumento da quantidade e qualidade de informação disponível, o que contribuiu para a expansão de estudos, de maior ou menor dimensão, sobre este tipo de artefacto arqueológico. Assim, as ânforas surgem como um dos factores de maior relevância no estudo da economia do mundo antigo, permitindo observar, na grande maioria dos casos, os produtos comercializados, a intensidade dos contactos comerciais e a distribuição desses mesmos contactos, essencialmente, pela bacia do Mediterrâneo.

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3.–OS CONTEXTOS DE CASTRO MARIM.

3.1 – Os contextos.

Em Castro Marim, os contextos de proveniência dos materiais estudados são, na sua maioria, níveis revolvidos resultantes de aterros e derrubes, apresentando a estratigrafia do sítio um reduzido número de contextos fiáveis Esta situação deve estar relacionada com as intensas alterações dos espaços registadas durante a Época Medieval e Moderna, bem como com a longa diacronia de ocupação registada no sítio, com inicio no final da Idade do Bronze e especial intensidade durante a Idade do Ferro e o Período Romano Republicano. Esta intensa ocupação, bem documentada pelo abundante espólio arqueológico, é marcada por construções e momentos de reestruturação dos espaços ocupados, o que contribuiu para a perturbação e destruição de níveis arqueológicos anteriores. Também as construções de Época Medieval e Moderna contribuíram decisivamente para o revolvimento dos contextos arqueológicos anteriores, com frequentes destruições e intrusões em níveis inferiores.

Assim, de entre os contextos analisados foi-nos possível identificar sete contextos fiáveis distribuídos pelas diferentes áreas da escavação. Destes, seis foram identificados durante as primeiras campanhas de escavação, entre 1983 e 1988, e apenas um foi identificado durante as campanhas recentes, que decorreram entre 2000 e 2003.

3.1.1 – Campanhas antigas.

Das campanhas antigas, realizadas entre 1983 e 1988, pudemos identificar seis contextos seguros de proveniência dos materiais estudados, todos do Corte 3, balizados, genericamente, entre os finais século V e o I a.C., que corresponde ao período em estudo.

Do quadrado B5, o nível 1 corresponde a um estrato de terra acastanhada com grande quantidade de fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas, ânforas, entre outros, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes dois exemplares da variante 11.2.1.3, um exemplar da variante 11.2.1.4, um exemplar da variante 11.2.1.6, 16 exemplares da variante 12.1.1.1 e um exemplar da variante 12.1.1.2. As variantes 11.2.1.3, 11.2.1.4 e 11.2.1.6 podem ser consideradas

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como material intrusivo neste contexto pois não se enquadram no seu horizonte cronológico.

Do quadrado C5, o nível 1 corresponde a um estrato de terra acastanhada com grande quantidade de materiais cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas, ânforas, entre outros, e abundante fauna malacológica e mamalógica, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes um exemplar da variante 11.2.1.3, três exemplares da variante 11.2.1.4, dois exemplares da variante 11.2.1.6, 22 exemplares da variante 12.1.1.1 e três exemplares da variante 12.1.1.2. As variantes 11.2.1.3, 11.2.1.4 e 11.2.1.6 podem ser consideradas como material intrusivo neste contexto pois não se enquadram no seu horizonte cronológico.

Do quadrado C6, nível 1 do corresponde a um estrato de terras que, devido às chuvas, não foi possível caracterizar, com abundantes fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas, ânforas, entre outros, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes um exemplar da variante 11.2.1.6, seis exemplares da variante 12.1.1.1, um exemplar da variante 12.1.1.1/2 e um exemplar da variante 12.1.1.2. A variante 11.2.1.6 pode ser considerada como material intrusivo neste contexto pois não se enquadra no seu horizonte cronológico.

Ainda do quadrado C6, o nível 2 corresponde a um estrato de terra amarelada e arenosa com abundantes fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas e ânforas, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes um exemplar da variante 11.2.1.3, cinco exemplares da variante 12.1.1.1 e um exemplar da variante 12.1.1.1/2. A variante 11.2.1.3 pode ser considerada como material intrusivo neste contexto pois não se enquadra no seu horizonte cronológico.

Do quadrado D5, o nível 3 corresponde a um estrato de terra queimada e com muitas cinzas, localizada no vértice das banquetes Sul e Oeste, cujo escasso espólio é composto por cerâmica manual, cerâmica comum, cerâmica pintada em bandas e ânforas, da Idade do Ferro. Deste contexto é proveniente, apenas, um exemplar da variante 11.2.1.3.

E, por fim, do quadrado D6, o nível 1 corresponde a um estrato de terra avermelhada, semelhante às suas equivalentes nos quadrados B 6 e C 6, com abundantes fragmentos cerâmicos, como cerâmica campaniense, paredes finas, ânforas, entre outros, do Período Romano Republicano. Deste contexto são provenientes dois exemplares da variante 12.1.1.1.

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Figura 5 – Distribuição dos contextos pelas áreas de

escavação. 3.1.2 – Campanhas recentes.

Das campanhas recentes, decorridas entre 2000 e 2003, apenas identificamos um contexto seguro de proveniência dos materiais estudados, composto por duas unidades equivalentes, datado da segunda metade do século V a.C.

As U.E. [80] e [89], iguais à U.E. [78], constituem um depósito cerâmico com abundante material, como cerâmica ática, cerâmica de engobe vermelho, cerâmica pintada em bandas, ânforas, entre outros, da Idade do Ferro. Destas U.E. são provenientes 12 exemplares da variante 11.2.1.3, sete exemplares da variante 11.2.1.4, três exemplares da variante 11.2.1.5 e três exemplares da variante 11.2.1.6.

3.2 – Análise dos contextos.

As 10 campanhas de escavação realizadas no Castelo de Castro Marim, entre 1983 e 2003, permitiram a abertura de uma ampla área, com cerca de 500m2, repartida por quatro áreas de escavação, o Corte 1, o Corte 2, o Corte 3 e o Corte 4, consistindo o Sector 1 na continuação e alargamento do Corte 1.

Os materiais estudados no presente trabalho tem origem em apenas duas das áreas de escavação, o Corte e Sector

1 e o Corte 3, sendo os contextos maioritariamente oriundos do Corte e Sector 1.

Dos contextos de

proveniência dos materiais estudados, do Corte e Sector 1 são oriundos a quase totalidade dos níveis da Idade do Ferro, sendo nesta área que se verificam os exemplares mais antigos das ânforas Mañá-Pascual A4 em Castro Marim. Nesta

área estão presentes exemplares de todas as variantes identificadas, das quais se destacam os exemplares das variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4, com, respectivamente, 21 e 15 indivíduos. No Sector 1 possui especial destaque a U.E. [89] por se tratar de uma unidade com abundante material, assim como por ser um contexto fiável, datado da

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segunda metade do século V a.C. Deste contexto são provenientes 24 indivíduos, todos das variantes mais antigas, isto é, das variantes 11.2.1.3, 11.2.1.4, 11.2.1.5 e 11.2.1.6, das quais se destaca a primeira, com 11 exemplares.

Do Corte 3 provêem a maioria dos níveis do Período Romano identificados, correspondendo aos últimos momentos de importação de ânforas Mañá-Pascual A4 em Castro Marim. Nesta área estão presentes quase todas as variantes identificadas, excepção feita à 11.2.1.2. De entre estas destaca-se a variante 12.1.1.1, com 54 exemplares. Esta é também a forma mais frequente em todo o conjunto, representando 41% do total. Nesta área são de destacar os níveis 1 dos quadrados B5 e C5, pois trata-se de contextos fiáveis e com grande abundância de materiais, do Período Romano Republicano, com cronologia do século I a.C. Do nível 1 do quadrado B5 são provenientes 21 indivíduos, dos quais se destacam os 16 exemplares da variante 12.1.1.1. do nível 1 do quadrado C5 são provenientes 31 indivíduos, destacando-se também a variante 12.1.1.1 com 22 exemplares. Em ambos os contextos estão presentes exemplares das variantes 11.2.1.3, 11.2.14 e 11.2.1.6, que podem ser considerados como material residual ou intrusivo.

Em termos gerais, predominam os contextos do Período Romano, que compõem 63 % dos níveis identificados, sendo estes, maioritariamente oriundos do Corte 3. Associados a estes contextos estão a quase totalidade dos exemplares enquadráveis na série 12, com especial destaque para a variante 12.1.1.1, com um total de 57 indivíduos. Embora a maioria dos contextos seja da área do Corte e Sector 1, donde provêem a quase totalidade dos níveis da Idade do Ferro, o Corte 3 é área que apresenta um maior número de exemplares dos materiais estudados, representando 61 % do total.

Na estratigrafia do Castelo de Castro Marim as ânforas Mañá-Pascual A4 começam a surgir, ainda que timidamente, nos inícios ou primeira metade do século V a.C., estando presente em contextos da Fase IV do referido sítio, mais concretamente, nas unidades estratigráficas [186] e [785]. É na segunda metade do mesmo século, já na Fase V, que estas ânforas ganham alguma importância aumentando consideravelmente em número de exemplares, dos quais se destacam as variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4. Nestes contextos as ânforas surgem associadas materiais como a cerâmica ática, a cerâmica de engobe vermelho, a cerâmica pintada em bandas, ânforas do tipo B/C de Pellicer, entre outros.

Após este momento de crescimento verifica-se um período algo indefinido, não sendo claro como se terá desenvolvido a importação destes recipientes durante parte do

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século IV e o século II a.C. Isto poderá estar relacionado com uma fase de menor esplendor do sítio, que se reflecte no registo arqueológico.

Contudo, durante o século I a.C. a comercialização destas ânforas volta a ganhar força, superando o volume de contentores importado anteriormente. Assim, é durante o Período Romano Republicano, inserido na Fase VI de Castro Marim, que se atinge o auge da importação das ânforas Mañá-Pascual A4 no referido sítio arqueológico, representada por várias variantes da série 12. Nestes contextos surgem associadas materiais como a cerâmica campaniense, a cerâmica de paredes finas, a cerâmica de tipo Kuass, ânforas como a Castro Marim 1, a Classe 67 ou a Dressel 1, entre outros.

No que se refere aos fabricos registados, podemos observar um claro domínio das importações oriundas da Baía de Cádis. Esta proveniência preferencial ganha especial destaque durante Período Romano, face às características mais heterogéneas das importações da Idade do Ferro, donde se destacam as importações do Sul da actual Andaluzia Ocidental e da Campiña Gaditana.

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4.–METODOLOGIA.

4.1 – Composição e tratamento da amostra.

Os materiais utilizados neste trabalho foram recolhidos ao longo das 10 campanhas de escavação arqueológica realizadas no Castelo de Castro Marim, sob a direcção da Professora Doutora Ana Margarida Arruda, entre os anos de 1983 e 2003, encontrando-se os materiais depositados no Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ).

O espólio em estudo corresponde á totalidade dos fragmentos classificáveis como ânforas do tipo Mañá-Pascual A4, provenientes das intervenções arqueológicas decorridas no Castelo de Castro Marim.

O processo de triagem foi facilitado pelo facto de todo o material se encontrar já lavado, marcado e inventariado, para além de que, grande parte já se encontrava separado por forma. Todos os artefactos se encontravam identificados com a designação do sítio arqueológico, ano da intervenção, indicação de Sector/Corte, Quadrícula, Camada/U.E. e respectivo número de inventário, com excepção de quatro indivíduos, os números 60, 132, 133 e 134. O indivíduo número 60 trata-se de uma recolha de superfície, os indivíduos 132 e 133 apenas indicam o sítio arqueológico, uma indicação temporal referente às primeiras seis campanhas, e o número de inventário, e o indivíduo 134 apenas possui a designação do sítio arqueológico e o número de inventário.

O número total de indivíduos é de 137. Sendo alguns constituídos por mais do que um fragmento, o critério de quantificação baseou-se na contabilização do número mínimo de indivíduos identificados a partir dos fragmentos de bordo.

Os dados recolhidos serão abordados de forma sistemática através da realização de uma análise quantitativa e qualitativa do conjunto. A análise quantitativa da totalidade do conjunto, que conduziu à sua catalogação, teve por base a identificação de diversas variantes formais assim como uma possível proveniência. Estes dados foram uniformizados e catalogados de forma a possibilitar um tratamento estatístico dos mesmos. A análise qualitativa incidiu, essencialmente, sobre material em contexto, permitindo uma análise sincrónica das presenças, assim como da evolução diacrónica destes artefactos em Castro Marim.

Os artefactos foram desenhados e tintados à escala 1/1, sendo agrupados em estampas segundo a sua variante formal e proveniência contextual. Para a sua

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representação gráfica, as tintagens foram reduzidas à escala de 1/4, apresentando todas as estampas uma barra de referência em centímetros para leitura imediata. A numeração dos materiais apresentados é contínua, correspondendo o número apresentado nas estampas à numeração apresentada no catálogo. Todos os materiais foram desenhados à excepção dos indivíduos 109 e 131, dado o seu elevado mau estado de conservação.

Como ilustração complementar são utilizadas fotografias de alguns materiais e uma fotografia de pormenor das pastas de cada um dos grupos de fabrico.

A definição tipológica deste conjunto tem por base inicial o trabalho realizado por Mañá (1951) sobre materiais levantinos e de Ibiza. Contudo a nomenclatura tradicionalmente utilizada, a de Mañá-Pascual A4, foi proposta por Ramon Torres, tendo por base tanto os trabalhos de Mañá como os posteriores estudos de Pascual (Sáez Romero, 2008, p. 528). No que se refere às variantes formais, foi adoptada a tipologia desenvolvida por Ramon Torres (1995), mais concretamente, as séries 11 e 12 do referido autor. Como complemento a esta tipologia resolvemos adicionar a proposta de variante formal apresentada por Sáez Romero (2002; 2008), isto é, a forma 12.1.1.1/2.

4.2 – Tratamento informático e análise estatística.

Todos os dados relativos ao espólio estudado foram inseridos numa base de dados criada para o efeito, tendo sido utilizado o programa Microsoft Office Exel, versão 2007. Nesta base de dados foi criada uma ficha individual para cada indivíduo, identificado pelo número de catálogo, apresentando um conjunto de campos descritores, como proveniência, fragmento, variante ou fabrico.

Para o tratamento de imagens foi utilizado o programa Adobe Photoshop CS3, enquanto para as tintagens foi utilizado o programa de desenho vectorial Adobe Illustrator CS3.

4.3 – Identificação dos grupos de fabrico.

Na identificação dos grupos de fabrico procedemos a uma análise macroscópica da totalidade do conjunto, com recurso a uma lupa de 10 aumentos. A descrição de cada grupo teve por base um conjunto de descritores, como cozedura, textura, fractura, dureza, elementos não plásticos (e.n.p.) e colorações das peças.

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Assim, efectuamos uma análise macroscópica dos constituintes petrográficos segundo as características de cada indivíduo, tendo sido criados grupos e subgrupos, sempre que se verificassem elementos diferenciadores que assim o permitissem. Para a caracterização das pastas, seguimos, de modo geral, os critérios descritores propostos por Stienstra (1986).

As cores dos diferentes exemplares foram descritas individualmente segundo o código de Munsell (2000), indicando-se as variações cromáticas registadas nas pastas, superfícies e aguadas.

Os fragmentos analisados macroscopicamente foram reunidos em quatro grupos de fabrico distintos e três fabricos raros. No grupo III apresentamos uma subdivisão identificada por A e B, que se reportam a diferentes produções de uma mesma área de fabrico.

Tentámos, sempre que possível, relacionar os fabricos identificados com áreas de produção conhecidas. De notar ainda o facto de se tratarem apenas de análises macroscópicas, dada a impossibilidade de se realizarem outro tipo de análises, o que introduz uma relativa subjectividade às conclusões alcançadas.

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5.–GRUPOS DE FABRICO.

5.1 – Caracterização dos grupos de fabrico.

A análise macroscópica dos fabricos foi realizada com recurso a uma lupa de 10 aumentos sobre a totalidade do conjunto, baseando-se a descrição de cada grupo num conjunto de descritores, como cozedura, textura, fractura, dureza, elementos não plásticos (e.n.p.) e colorações das peças.

Assim, esta análise teve como objectivo a definição de diferentes grupos de fabrico. Tentámos, sempre que possível, relacionar os grupos de fabrico identificados com as áreas de produção conhecidas.

Desta forma, foi-nos possível estabelecer quatro Grupos de Fabrico distintos e três Fabricos Raros, sendo que apenas para os Grupos de Fabrico foi possível apontar uma possível área de proveniência, sendo mais fiáveis nos casos dos Grupos de Fabrico I e III.

5.1.1 – Grupo de Fabrico I (Figura 6).

As pastas são relativamente duras, homogéneas, de textura fina e porosa, polvorentas, com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são raros (até 5 %) e de pequena dimensão, com a presença de micas brancas e prateadas, feldspatos, calcites, elementos ferruginosos e/ou cerâmica moída, e raros minerais negros opacos e quartzo. A cor da pasta varia entre o castanho (7.5 YR 5/4), o amarelo avermelhado (5 YR 7/6) e o castanho muito pálido (10 YR 8/3), podendo ocorrer situações com pastas bicolores ou com veios, de colorações semelhantes.

Apresentam superfícies lisas e polvorentas, com cores que oscilam entre o castanho claro (7.5 YR 6/4), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2) nas faces externa e interna, surgindo 16 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre o rosa (7.5 YR 7/3), o castanho muito pálido (10 YR 8/2) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2).

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Figura 6 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo I.

Figura 7 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo II.

5.1.2 – Grupo de Fabrico II (Figura 7).

As pastas são pouco duras e pouco depuradas, homogéneas, de textura rugosa e com cozedura média (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são frequentes (10 a 20 %) e de pequena e média dimensão, com a presença de micas brancas e prateadas, feldspatos, calcites, quartzos, elementos ferruginosos, cerâmica moída e minerais negros opacos. A cor da pasta varia entre o castanho forte (7.5 YR 5/6), o vermelho claro (2.5 YR 6/8) e o amarelo pálido (5 YR 8/2), podendo ocorrer situações com pastas bicolores, de colorações semelhantes.

Apresentam superfícies lisas e algo polvorentas, com cores que oscilam entre o cinzento claro (10 YR 7/1), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2) na face externa, e entre o cinzento (2.5 Y 6/1), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2) na face interna, surgindo 38 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre o castanho muito pálido (10 YR 8/3) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/2).

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Figura 8 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo IIIa.

5.1.3 – Grupo de Fabrico III.

Fabrico A (Figura 8)

As pastas são duras, algo compactas e com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena dimensão, com a presença de calcites, quartzos, feldspatos, elementos ferruginosos e/ou cerâmica moída, e minerais negros opacos. A cor da pasta oscila entre o cinzento-escuro (10 YR 4/1), o castanho acinzentado (10 YR 5/2) e o cinzento claro acastanhado (2.5 Y 6/2).

Apresentam superfícies lisas, com cores que oscilam entre o cinzento-escuro (10 YR 4/1), o castanho (10 YR 5/3), o rosa (7.5 YR 7/4) e o castanho muito pálido (10 YR 8/4) na face externa, e entre o cinzento (10 YR 5/1), o castanho (7.5 YR 5/2), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/3) na face interna, surgindo 80 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre o rosa (7.5 YR 7/4), o castanho muito pálido (10 YR 8/2) e o branco rosado (7.5 YR 8/2).

Este grupo é composto por um total de 15 indivíduos.

Fabrico B (Figura 9)

As pastas são duras, homogéneas, mal depuradas, de textura rugosa e com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são frequentes (10 a 20 %) e de pequena dimensão, com a presença de calcites, quartzos, feldspatos, elementos ferruginosos e/ou cerâmica moída, e minerais negros opacos. A cor da pasta oscila entre o castanho acinzentado (2.5 Y 5/2), o castanho (10 YR 5/3) e o amarelo avermelhado (7.5 YR 7/6), podendo ocorrer situações com pastas bicolores, de colorações semelhantes.

Apresentam superfícies lisas, com cores que oscilam entre o castanho (10 YR 5/3), o rosa (7.5 YR 7/4) e o amarelo pálido (2.5 Y 8/3) na face externa, e entre o

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Figura 9 – Fotografia macroscópica da pasta do Grupo IIIb.

castanho acinzentado (10 YR 5/2), o vermelho claro (2.5 YR 6/6), e o castanho muito pálido (10 YR 7/4) na face interna, surgindo 80 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre o rosa (7.5 YR 8/4) e o castanho muito pálido (10 YR 8/2).

Este grupo é composto por um total de cinco indivíduos.

5.1.4 – Grupo de Fabrico IV (Figura 10).

As pastas são duras, compactas, homogéneas e com cozedura forte (modo A) e fractura regular. Os e.n.p. são, de modo geral, pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena dimensão, com a presença de micas brancas e prateadas, feldspatos, quartzo, minerais negros opacos e muito raros fragmentos de cerâmica moída, com excepção da presença abundante (30 %) de calcites. A cor da pasta oscila entre o castanho (10 YR 5/3) e o amarelo avermelhado (5 YR 6/6).

Apresentam superfícies lisas, com cores que oscilam entre o cinzento rosado (5 YR 6/2), e o amarelo avermelhado (7.5 YR 7/6) na face externa, e entre o cinzento avermelhado (5 YR 5/2) e o rosa (7.5 YR 7/4) na face interna, surgindo 60 % do grupo com uma aguada clara, que oscila entre o amarelo pálido (2.5 Y 7/3) e o branco rosado (7.5 YR 8/2).

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Figura 11 – Fotografia macroscópica da pasta do Fabrico Raro 1.

5.1.5 – Fabrico Raro 1 (Figura 11).

A pasta é dura, relativamente compacta, homogénea e com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena dimensão, com a presença de quartzo, calcites, elementos ferruginosos, cerâmica moída, minerais negros opacos, e abundantes micas e feldspatos. A pasta é castanha avermelhada (5 YR 5/4).

A superfície é lisa, de cor amarelo avermelhado (5 YR 6/6) na face externa e castanho muito pálido (10 YR 7/4) na face interna, sem vestígios de aguada ou engobe.

Este grupo é composto apenas pelo indivíduo com o número de inventário 27.

5.1.6 – Fabrico Raro 2 (Figura 12).

A pasta é dura, compacta, homogénea e com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são pouco frequentes (5 a 10 %) e de pequena dimensão, com a presença de quartzo, por vezes de média dimensão, calcites, elementos ferruginosos, cerâmica moída, e abundantes minerais negros opacos, micas e feldspatos. A pasta é amarela avermelhada (5 YR 6/6).

A superfície é lisa, de cor amarelo avermelhado (5 YR 7/6) na face externa e castanho claro avermelhado (5 YR 6/4) na face interna, surgindo com uma aguada rosa (7.5 YR 8/3).

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Figura 12 – Fotografia macroscópica da pasta do Fabrico Raro 2.

Figura 13 – Fotografia macroscópica da pasta do Fabrico Raro 3.

5.1.7 – Fabrico Raro 3 (Figura 13).

As pastas são duras, compactas, homogéneas e com cozedura forte (modo A) e fractura de tendência regular. Os e.n.p. são frequentes (10 a 20 %) e de pequena dimensão, com a presença de quartzo, calcites, micas e minerais negros opacos e brilhantes. A pasta é castanha (10 YR 5/3).

A superfície é lisa, de cor castanho claro (7.5 YR 6/3) ou cinzento claro (10 YR 7/2) na face externa e castanho acinzentado (10 YR 5/2) ou castanho (7.5 YR 5/3) na face interna, surgindo o individuo 49 uma aguada branca (10 YR 8/1).

Este grupo é composto apenas pelos indivíduos com os números de inventário 37 e 49.

5.2 – Análise dos grupos de fabrico identificados.

A análise macroscópica dos materiais permitiu identificar quatro grupos de fabrico e três fabricos raros, com diferentes proveniências, das quais se destacam as

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produções da Baía e Cádis e as da Campiña Gaditana. No Grupo IV pudemos observar uma clara associação entre fabrico e forma.

O Grupo I, que representa 50 % do conjunto, é composto exemplares de todas as variantes, com excepção da 11.2.1.2, sendo maioritária a variante 12.1.1.1 com 73 % do grupo, com um total de 50 indivíduos. Trata-se de pastas amareladas, polvorentas e com raros e.n.p. que podem ser enquadráveis nas produções da Baía de Cádis. Os materiais deste grupo são, na sua quase totalidade, provenientes do Corte 3 (96 %), maioritariamente de contextos Romanos (96 %).

Este grupo de fabrico, embora esteja presente entre as formas mais antigas, vai adquirir especial destaque entre as variantes mais recentes, como as 12.1.1.1, estabelecendo-se como o principal área abastecedora deste tipo anfórico de Castro Marim durante a segunda metade do 1º milénio a.C., sobretudo entre o século II e o I a.C.

O Grupo II, com pastas amareladas e com e.n.p. frequentes pode ter origem em local indeterminado do Sul da Andaluzia Ocidental, possivelmente em área próxima da região gaditana. Apresenta características similares ao Grupo I, com excepção dos e.n.p. mais frequentes e de maiores dimensões. Este grupo representa 28 % do conjunto, apresentando exemplares de todas as variantes, com destaque para as variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4, com 26 % e 23 % do grupo, respectivamente. Os exemplares deste grupo são maioritariamente procedentes do Sector 1 (60 %), sobretudo de contextos da Idade do Ferro (38 %).

O Grupo III corresponde a produções da área da Campiña Gaditana. As duas variantes identificadas podem ser associadas aos dois grupos identificados por Carretero Poblete (2004), equivalendo o Fabrico IIIa ao descrito pelo autor espanhol na alínea a), produções de argilas verdes, e o Fabrico IIIb ao descrito na alínea b), produções com argilas castanho-avermelhadas (Carretero Poblete, 2004, p. 90-91). Este grupo constitui 15 % do conjunto, correspondendo o Fabrico IIIa a 11 % e o Fabrico IIIb 4 %. O Fabrico IIIa integra apenas exemplares das variantes 11.2.1.6 e, sobretudo, 11.2.1.3 (87 %), enquanto o Fabrico IIIb é composto apenas por exemplares das variantes 11.2.1.3 e 11.2.1.4, com 60 % e 40 % do grupo, respectivamente. Os exemplares deste grupo são sobretudo do Sector 1 (87 %) no Fabrico IIIa, e exclusivos do mesmo sector no Fabrico IIIb, dominando os contextos da Idade do Ferro, com 87 % no Fabrico IIIa, e com 80 % no Fabrico IIIb.

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Embora se trate de um grupo relativamente pequeno, a sua constatação vem revelar dados pouco conhecidos e igualmente pouco abordados. Uma vez que é tido como seguro que as ânforas Mañá-Pascual A4 eram utilizadas para o transporte de preparados piscícolas, pode colocar-se a questão do motivo da sua produção na área da

Campiña Gaditana. Dado que apenas se registaram exemplares das variantes mais antigas, estas produções podem estar relacionadas com um momento inicial de fabrico da forma, período em que se trataria, muito provavelmente, de um recipiente para transporte de conteúdos diversos. Por se tratar de uma região interior propensa para a agricultura, a sua utilização pode estar relacionada com o transporte de alguma produção agrícola, que provavelmente seria vinho. Essa associação deve-se, para além do carácter interior desta produção, ao facto de terem sido encontradas ânforas Mañá-Pascual A4 de produção local em contextos de lagar na região do Castillo Doña Blanca, como em San Cristobal (García Vargas, 1998, p. 203; Ruíz Mata, Niveu de Villedary y Mariñas, 1999).

O Grupo IV é constituído exclusivamente por cinco exemplares da variante 11.2.1.4, representando 4 % do conjunto. Os exemplares deste grupo encontram-se repartidos de forma homogénea entre o Corte 1 e o Corte 3, com dois indivíduos cada, encontrando-se de forma semelhante entre contextos da Idade do Ferro e do período Romano Republicano. Trata-se de pastas rosadas com e.n.p. pouco frequentes, com excepção de abundantes calcites, sendo possível produção tenha origem no Norte de África. Assim, esta produção apresenta algumas semelhanças com as produções de Kuass (Alaoui, 2007, p. 68-69), dada a abundante presença de calcites. Associado a este facto está também a existência de produções de várias variantes das ânforas Mañá-Pascual A4 no actual território marroquino (López Pardo, 1990; Aranegui Gascó, 2001, 2007; Alaoui, 2007). Porém, dada a impossibilidade de realização de outros tipos de análises às pastas, esta proposta deve ser considerada como uma mera hipótese a necessitar de futura confirmação.

Para os Fabricos Raros 1, 2 e 3 não nos foi possível determinar uma possível área de proveniência, podendo, contudo, ser integrados no vasto grupo do “Extremo Ocidente Indeterminado” (Ramon Torres, 1995, p. 257). Estes fabricos são compostos por indivíduos que não nos foi possível enquadrar em nenhum dos grupos estabelecidos, dadas as suas características, representando cada um dos fabricos raros 1 % do conjunto.

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Figura 14 – Gráfico da distribuição percentual

pelos grupos de fabrico Assim, das diferentes proveniências

verificadas destacam-se expressivamente as produções da actual Andaluzia, especialmente as oriundas da Baía de Cádis. O factor da proximidade geográfica surge como o mais determinante para justificar a presença destas importações no Castelo de Castro Marim, importações essas também bem documentadas ao longo do território algarvio, como em Tavira (Maia, 2006), Faro (Arruda, Bragão, de

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6.–AS ÂNFORAS MAÑÁ-PASCUAL A4.

6.1 – História da investigação.

A origem da nomenclatura desta forma tem por base primordial os estudos de J. M. Mañá, onde o autor agrupa, numa tipologia esquemática, um conjunto de tipos de ânforas púnicas que podem ser encontradas em Espanha, no qual esta forma corresponde ao subtipo A4 (Mañá, 1951). Contudo, a primeira real definição deste tipo anfórico foi elaborada por Pascual, onde este criou uma base de informação com exemplares bem conservados passível de ser comparado com os achados muito fragmentados de diversos sítios arqueológicos (Sáez Romero, 2002, p. 290; 2008b, p. 527-528). Paralelamente, nas escavações de Kuass, Ponsich identifica a produção deste tipo de ânfora no centro

oleiro do sítio marroquino, definindo-a nos seus tipos II e III, que correspondem a série 12 de Ramon Torres, tratando-se por isso de exemplares mais tardios desta forma (López Pardo, 1990; Sáez Romero, 2002, p. 290; 2008b, p. 528). Passados estes momentos iniciais, os estudos de Ramon Torres permitiram dar um importante salto na investigação. Assim, com estas suas investigações Ramon

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formalmente este tipo anfórico, denominando-o de Mañá-Pascual A4, com base no nome dos dois principais impulsionadores do estudo destas ânforas, tendo contribuído também com algumas precisões ao nível da cronologia, assim como a sua associação com o transporte comercial na área do Estreito (Sáez Romero, 2002, p. 290-291; 2008b, p. 528). Passado pouco tempo, Florido Navarro (1984), na sua tipologia de ânforas pré-romanas do Sul peninsular inclui exemplares de ânforas Mañá-Pascual A4 no seu tipo VI, nas variantes 1 a 4, datando-as, de um modo geral, entre o século V e o III a.C. Á semelhança de Ramon Torres, identifica este tipo anfórico com o transporte de preparados piscícolas, enfatizando a sua abundante presença em lugares costeiros (Florido Navarro, 1984, p. 426; Sáez Romero, 2002, p. 291; 2008b, p. 528). Há que destacar, também, as investigações de Muñoz Vicente sobre as ânforas pré-romanas de Cádiz, onde procede a uma organização tipológica do registo anfórico gaditano, do qual faz parte as ânforas Mañá-Pascual A4. Estas ânforas, definidas como Cádis A4 (variantes a-f), são associadas a diversos contextos gaditanos, tendo sido identificada a sua produção local (Muñoz Vicente, 1985). Para tal muito contribuíram os trabalhos realizados no centro oleiro de Torre Alta (Perdigones Moreno e Muñoz Vicente, 1988; Muñoz Vicente, 2006).

Posteriormente, a tipologia das ânforas fenício-púnicas do Mediterrâneo Central e Ocidental, de Ramon Torres (1995), veio marcar decisivamente uma nova etapa nas investigações destes contentores anfóricos, especialmente no Extremo Ocidente Mediterrâneo. Esta tipologia veio introduzir uma nomenclatura mais universal, utilizada internacionalmente, para além da sua contribuição com novas precisões em termos cronológicos e tipológicos, estando as ânforas Mañá-Pascual A4 representadas pelas séries 11 e 12.

A identificação e estudo de vários centros oleiros produtores destas ânforas, tal como das fábricas de produção de preparados piscícolas têm contribuído significativamente para o apurar das cronologias, assim como para o conhecimento das evoluções e alterações formais. Neste sentido têm particular importância os diversos projectos desenvolvidos em torno da área Estreito, em especial da região gaditana. Nesta área verificamos um aumento considerável de centros oleiros e fábricas de preparados piscícolas conhecidos. De um modo geral, estas duas áreas funcionais apresentam-se em diferentes áreas da região gaditana. Pois, enquanto a maioria dos centros oleiros se localiza na zona de San Fernando, numa área mais interior da Baía de Cádis, grande parte das fábricas de preparados piscícolas estão situadas na zona do

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Puerto de Santa Maria, numa área próxima da entrada da mesma baía. Assim de entre estas áreas oleiras podemos destacar o importante centro oleiro de Torre Alta, grande produtor de ânforas Mañá-Pascual A4 (Perdigones Moreno e Muñoz Vicente, 1988; Frutos Reyes e Muñoz Vicente, 1994; Castañeda Fernández e Herrero Lapaz, 1998; Sáez Romero, et al., 2002; Sáez Romero, 2004; 2007; 2008b; Muñoz Vicente, 2006). Na zona do Puerto de Santa Maria verifica-se uma grande concentração de fábricas de produção de preparados piscícolas, de entre as quais se pode destacar, por exemplo, a fábrica de Las Redes ou a de Pinar Hondo ou Puerto 19. Nestas fábricas as ânforas seriam envasadas com os preparados piscícolas, que depois seriem comercializados, em alguns casos a média e longa distância (Frutos Reyes, Chic e Berriatua, 1988; Frutos Reyes e Muñoz Vicente, 1996; Gutiérrez López, 1997; 2004; Vallejo Sánchez, Córdoba Alonso e Niveau de Villedary y Mariñas, 1999; Muñoz Vicente e Frutos Reyes, 2004; García Vargas e Ferrer Albelada, 2006).

De notar também a importância que os achados subaquáticos podem ter, sobretudo por se tratarem, na grande maioria, dos casos de fragmentos de ânforas muito bem conservados, ou até mesmo peças completas. Este facto pode contribuir decisivamente para o estudo e melhor definição das variações formais dentro dos tipos anfóricos, em especial a evolução formal dos corpos das ânforas, e a associação de determinadas formas de bordo às formas do corpo das ânforas.

Recentemente, Sáez Romero apresentou uma proposta para a identificação de exemplar intermédio entre a variante 12.1.1.1 e a 12.1.1.2, que designou de 12.1.1.1/2. Esta forma é referida como um modelo de transição entre as outras duas referidas. Trata-se de uma ânfora que apresenta um misto de características das variantes 12.1.1.1 e 12.1.1.2, contribuindo, assim, para uma melhor definição de ambos as formas, remetendo para esta variante, a 12.1.1.1/2, o que se pode situar num ponto intermédio (Sáez Romero, 2002; 2008b).

6.2 – Origem e evolução da forma.

A grande família que compõe o tipo anfórico Mañá-Pascual A4 parece ter origem nas ânforas do tipo Vuillemot R1, sobretudo nos seus modelos mais evoluídos, com cronologias entre o século VII e o VI a.C. Estas ânforas, que correspondem á série 10 de Ramon Torres, apresentam uma dispersão muito semelhante à das Mañá-Pascual A4, sobretudo na região do Mediterrâneo Ocidental. Para além de estarem presentes nas

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Figura 16 – Evolução das ânforas Maña-Pascual A4 (segundo Sáez Romero 2008b, p. 531).

mesmas áreas, as características da sua evolução formal apontam para que se trate de uma evolução de uma longa família de ânforas. Nos exemplares mais tardios das ânforas R1 podemos observar um desenvolvimento da parte superior do corpo que se

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Figura 1 – Principais pontos de povoamento do Algarve durante a Idade do Ferro  (adaptado de Arruda, 2007b)
Figura 2 – Castro Marim no actual território português.
Figura  4  –  Planta  topográfica  do  Castelo  de  Castro  Marim,  com  indicação  das  áreas  escavadas  (adaptado de Arruda et al., 2006)
Figura 5  –  Distribuição  dos contextos  pelas  áreas  de  escavação.
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