• Nenhum resultado encontrado

Biblioteca em rede: comunicação integrada no contexto das culturas participativas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Biblioteca em rede: comunicação integrada no contexto das culturas participativas"

Copied!
202
0
0

Texto

(1)

Comunicação Integrada no Contexto das Culturas Participativas

Cláudia Raquel Lima

Tese submetida à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para obtenção do grau de Doutor em Media Digitais

Orientador:

Heitor Manuel Pereira Pinto da Cunha e Alvelos PhD, Professor, Universidade do Porto

Coorientadora:

Viviana Fernández Marcial

PhD, Professora, Universidade de A Coruña

(2)
(3)

no âmbito do Programa UT Austin-Portugal (SFRH / BD / 52328 / 2013).

(4)
(5)

Manifesto a minha gratidão a todos aqueles que colaboraram neste projeto de investigação ao longo de mais de quatro anos, que me apoiaram e incentivaram no que constituiu um verdadeiro desafio pessoal e profis-sional, que partilharam comigo experiências e conhecimentos e em muito contribuíram para a concretização dos objetivos propostos. Em especial, deixo o meu profundo agradecimento:

• Aos meus orientadores, Professor Heitor Alvelos e Professora Viviana Fernández Marcial, pela con-fiança e motivação, pela disponibilidade, pelo rigor e pela dedicação, pelos conselhos e por todos os conhecimentos que partilharam comigo. O seu inestimável apoio em muito ultrapassou as obrigações institucionais.

• Ao Pedro pelo incentivo e motivação, pelo companheirismo e por todo o apoio que me tem dado desde o tempo do meu mestrado; e ao nosso filho Afonso que me acompanhou nesta aventura desde o primeiro mês de idade sempre com um sorriso.

• Aos meus pais pela motivação, pelos recursos que me proporcionaram e por todo o apoio incondicio-nal que sempre me deram. Agradeço ainda à minha mãe pelas leituras e revisões e pelas sugestões que foi fazendo ao longo deste estudo.

• Aos órgãos da Biblioteca Pública Municipal do Porto que amavelmente me receberam nesta insti-tuição e colaboraram nesta investigação, em especial à Dra. Maria João Sampaio, pela generosidade, simpatia e esforços realizados para a concretização de um caso de estudo nesta biblioteca; à Dra. Carla Fonseca, Diretora da BPMP; à Paula Bonifácio, também pela generosidade e simpatia, e pelas infor-mações e materiais que me facultou; ao Júlio Costa; à Ana Chaves; ao Sílvio Costa; ao Jorge Costa; e à Susana Cunha.

• Aos utentes da Biblioteca Pública Municipal do Porto que participaram nesta investigação, respon-dendo ao inquérito realizado e fornecendo um importante contributo para o cumprimento dos ob-jetivos propostos.

• À Sofia Mota pela amizade e apoio e pela colaboração na realização do inquérito na Biblioteca Pública Municipal do Porto, assim como à Rita Maldonado, Olga Glumac e Cecília Carvalho pela simpatia e pelo auxílio prestado na realização deste inquérito.

• À Professora Carla Santos Pereira pela disponibilidade e ajuda com os seus conhecimentos na área de estatística e análise de dados.

• À Professora Doutora Manuela Barreto Nunes e ao Professor Doutor Armando Malheiro pelos co-nhecimentos partilhados sobre o desenvolvimento das bibliotecas públicas em Portugal.

(6)

tilhados sobre o desenvolvimento do modelo de biblioteca pública anglo-saxónico.

• À Toni Grasso, Lisa Hamilton, Brazos Price e Brice Benton por me terem recebido tão bem na Austin Public Library, pelas informações e pelos materiais que me facultaram.

• A todos os profissionais das bibliotecas públicas portuguesas que aceitaram prontamente responder ao inquérito e entrevistas realizadas ao longo de todo o projeto de investigação, fornecendo informa-ções valiosas e sem as quais os objetivos da presente investigação não ficariam cumpridos.

• À Fundação para a Ciência e a Tecnologia e ao Programa UT-Austin Portugal pela Bolsa de Doutora-mento que me atribuíram, na fase final desta investigação (SFRH/BD/52328/2013).

• À Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto pelo apoio financeiro que permitiu a minha participação em várias conferências, ao longo destes quatro anos de investigação.

• Ao ID+ que me integrou como investigadora e me apoiou neste projeto.

• Aos Professores e colegas do Programa Doutoral em Media Digitas, em especial, ao Professor José Azevedo pelo apoio que me foi dando, ao longo destas investigação, à Soraia Ferreira com quem fui partilhando, nestes anos, questões, receios e sucessos obtidos e à Marisa Silva, sempre disponível, ao Daniel Brandão e ao Nuno Martins.

• Aos Professores e colegas do Doutoramento em Design da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto que amavelmente me receberem neste programa doutoral e partilharam comigo conheci-mentos e preciosas sugestões para esta investigação, nomeadamente à Professora Susana Barreto. • A todos os meus amigos pelo apoio e pela compreensão durante todo este tempo em que estive tão

ausente.

• A todos os que acompanharam este projeto e que de algum modo contribuíram para a sua concretização.

Por fim, dedico este estudo a todos aqueles que se têm empenhado no desenvolvimento e promoção das bibliotecas públicas portuguesas e cuja dedicação e trabalho tem ultrapassado largamente o âmbito das suas funções profissionais.

(7)

Este estudo tem como objetivo contribuir para possíveis soluções que melhor respondam às necessidades e expectativas dos cidadãos utentes e potenciais utentes de bibliotecas públicas portuguesas, através da utili-zação de media digitais de natureza participativa atualmente disponíveis. As contribuições partem de uma reavaliação das formas de abordagem destas bibliotecas à comunidade através de plataformas web, nomea-damente de tecnologias web 2.0.

São analisadas, numa primeira fase, ações de comunicação de bibliotecas públicas dos Estados Unidos, um país onde proliferam exemplos de instituições que têm aproveitado o potencial destas tecnologias para uma maior aproximação e interlocução com o seu público, e de bibliotecas públicas de Espanha, um país geográfica e socialmente próximo de Portugal. Cientes da impossibilidade de uma “importação” total destes modelos para o contexto português, em parte devido a diferenças de teor económico e cultural, foram iden-tificadas práticas passíveis de serem adaptadas em função da realidade portuguesa.

Neste sentido, foi estudado o setor das bibliotecas públicas portuguesas através de bibliografia existente, entrevistas a docentes nestas área e a bibliotecários, e foram observadas ações de comunicação destas biblio-tecas através de plataformas web, nomeadamente tecnologias web 2.0. Foi também realizado um inquérito a nível nacional aos responsáveis das bibliotecas públicas portuguesas, o que permitiu um conhecimento mais aprofundado da realidade destas instituições neste âmbito.

Para um melhor enquadramento dos resultados e para que estes pudessem reverter para um contexto passível de implementação prática, foi desenvolvido um caso de estudo na Biblioteca Pública Municipal do Porto. Com mais de 180 anos, é uma das mais importantes bibliotecas portuguesas de fundos patrimoniais, ser-vindo um público que ultrapassa largamente a comunidade portuense. A par da sua vertente patrimonial, tem também assumido um papel preponderante na promoção da leitura pública no município do Porto (complementado com as ações da Biblioteca Municipal Almeida Garrett).

Numa fase final desta investigação, e como resultado de todo o trabalho realizado, são apresentadas propos-tas metodológicas para a implementação de tecnologias web 2.0 nas ações de comunicação das bibliotecas públicas portuguesas, perspetivando uma maior aproximação destas bibliotecas aos cidadãos, designada-mente através de uma maior interlocução e interação entre estes e os profissionais destas instituições.

Palavras chave

Biblioteca 2.0, Biblioteca pública, Biblioteca Pública Municipal do Porto, Cultura participativa, Cidadania, Web 2.0

(8)
(9)

This study aims to contribute to possible solutions that best meet the needs and expectations of users of Portuguese public libraries, through the use of digital media of participatory nature currently available. The contributions are based on a reassessment of the approaches of these libraries to the community through web platforms, namely web 2.0 technologies.

We start by analising the approaches of US public libraries in web platforms, since in this country there are plenty of examples of public libraries that have harnessed the potential of web 2.0 technologies to es-tablish a closer relationship and a greater interaction with their users. We also analysed the approaches of public libraries from Spain, given the geographical proximity of this country and its social similarities with Portugal. Aware of the impossibility of a full import of these models to the Portuguese context, partly due to economic and cultural differences, communication practices that could be adapted to this reality were identified.

The context of Portuguese public libraries was studied through existing literature, interviews with Professors in this field and librarians, and through the observation of communication actions of these libraries through web platforms and specially web 2.0 technologies. It was also carried out a national survey to the Directors of Portuguese public libraries, which allowed a better understanding of the reality of these institutions. For a better framing of the results and so they could revert to a context liable to practical implementation, a case study in the Municipal Public Library of Oporto was developed. With over 180 years, it is one of the most important libraries in Portugal with a vast cultural heritage, serving an audience that goes well beyond the Oporto community. This library has also taken a lead role in the promotion of public reading in the city of Oporto, complementary to the actions of the Almeida Garrett Municipal Library.

In the final phase of this research, and as a result of all the work done, methodological proposals for the implementation of web 2.0 technologies in the communication practices of Portuguese public libraries are presented, aiming a closer relationship and greater interaction between librarians and citizens and a greater engagement of these libraries in their community.

Keywords

(10)
(11)

Introdução 19 Metodologia 24

Metodologia aplicada no enquadramento da investigação 24

Metodologia aplicada no desenvolvimento prático da investigação 29

Parte I: Enquadramento

33

1. A Biblioteca Pública 34

1.1. A biblioteca pública e seu papel na sociedade 34

1.2. O sistema de bibliotecas públicas português 39

2. A web social 46

2.1. Web 2.0 46

2.2. Cultura da participação 52

3. Biblioteca 2.0 58

3.1. Um modelo de biblioteca 2.0 58

3.2. A utilização de tecnologias web 2.0 pelas bibliotecas públicas 63

3.3. Exemplos práticos da utilização de tecnologias web 2.0 pelas bibliotecas públicas 69

4. Bibliotecas públicas portuguesas na web 83

4.1. Panorama das bibliotecas públicas portuguesas na web 83

4.2. O caso da Biblioteca Pública Municipal do Porto 89

Parte II: Desenvolvimento prático

97

5. Prospecção estruturante à escala nacional 98

5.1. Metodologia aplicada 98

5.1.1. Mapeamento de presenças na web de bibliotecas públicas portuguesas 98

5.1.2. Inquérito realizado às Bibliotecas Públicas Portuguesas 100

5.2. Resultados e discussão 104

5.2.1. Mapeamento de presenças na web das bibliotecas públicas portuguesas 104

(12)

6.1.1. Entrevistas exploratórias 130 6.1.2. Análise das páginas web institucionais da Biblioteca Pública Municipal do Porto 133 6.1.3. Inquérito aos utentes da Biblioteca Pública Municipal do Porto 134

6.2. Resultados e discussão do caso de estudo 137

6.2.1. Mapeamento de presenças da Biblioteca Pública Municipal do Porto na web 137 6.2.2. Inquérito aos utentes da Biblioteca Pública Municipal do Porto 147

7. Propostas metodológicas para a implementação de tecnologias web 2.0 168 Conclusão 175 Considerações finais 175 Limitações ao estudo 178 Desenvolvimentos futuros 179 Bibliografia 183 Anexos 191

(13)

Figura 1. Homepage do site da DPL. 70

Figura 2. Site da DPL orientado para crianças. 70

Figura 3. Site da DPL orientado para adolescentes. 70

Figura 4. Página do site da DPL onde figuram hiperligações para as diferentes páginas criadas pela

biblioteca em plataformas web 2.0. 72

Figura 5. Página do site da APL onde figuram hiperligações para diferentes páginas criadas pela

biblioteca em plataformas web 2.0. 74

Figura 6. Página do blog Fancómic, criado pelas BMAC. 76

Figura 7. Página da plataforma Bateginik. 81

Figura 8. Página web da BPM. 82

Figura 9. Tipo de página web das bibliotecas públicas portuguesas, em 2012. 106 Figura 10. Bibliotecas públicas portuguesas presentes em plataformas web 2.0, em 2012. 108 Figura 11. Número de utentes inscritos nas bibliotecas públicas portuguesas da RNBP, em 2013. 112 Figura 12. Faixa etária dos utentes que visitavam com maior frequência as bibliotecas públicas

portuguesas, em 2013. 112

Figura 13. Faixa etária dos utentes que visitavam com maior frequência as bibliotecas públicas

portuguesas, considerando a sua tipologia, em 2013. 113

Figura 14. Distribuição das bibliotecas públicas portuguesas de acordo com o número de

funcionários ao serviço, em 2013. 114

Figura 15. Bibliotecas públicas portuguesas com um funcionário dedicado às plataformas digitais,

em 2013. 115

Figura 16. Tipo de página web das bibliotecas públicas portuguesas registado no mapeamento de

2012 e no inquérito de 2013. 116

Figura 17. Tipo de página web das bibliotecas públicas portuguesas, considerando a sua tipologia,

em 2013. 117

Figura 18. Bibliotecas públicas portuguesas que atuavam em redes ou media sociais, considerando

o número de funcionários ao serviço, em 2013. 119

Figura 19. Redes e media sociais mais utilizados pelas bibliotecas públicas portuguesas: comparação

(14)

em 2013. 121 Figura 21. Periodicidade de atualização de conteúdos no blog, considerando o facto da biblioteca ter

ou não um funcionário dedicado à gestão das plataformas digitais, em 2013. 122 Figura 22. Redes e media sociais utilizadas pelas bibliotecas públicas portuguesas, em 2013. 123 Figura 23. Principais vantagens sentidas pelas bibliotecas públicas portuguesas na utilização de redes

e media sociais, em 2013. 125

Figura 24. Principais desvantagens sentidas pelas bibliotecas públicas portuguesas na utilização de

redes e media sociais, em 2013. 125

Figura 25. Periodicidade de envio de Newsletters nos diferentes tipos de biblioteca, em 2013. 126 Figura 26. Periodicidade de envio de Newsletters, considerando o facto da biblioteca ter ou não um

funcionário dedicado à gestão das plataformas digitais, em 2013. 128

Figura 27. Página do 1º micro site da BPMP na plataforma do BAV. 139

Figura 28. Página do 2º micro site da BPMP na plataforma do BAV. 139

Figura 29. Página Agendas do menu Programas/atividades do 2º micro site da BPMP. 141 Figura 30. Imagem gráfica da página web das bibliotecas municipais do Porto. 144 Figura 31. Imagem gráfica do OPAC das bibliotecas municipais do Porto. 144

Figura 32. Imagem gráfica do site da Câmara Municipal do Porto. 144

Figura 33. Imagem gráfica da plataforma do BAV. 145

Figura 34. Homepage do site das bibliotecas municipais do Porto. 146

Figura 35. Homepage do site das bibliotecas municipais do Porto. 146

Figura 36. Faixa etária dos utentes da BPMP inquiridos, em 2014, de acordo com o género. 148 Figura 37. Ocupação dos utentes da BPMP inquiridos, em 2014, de acordo com o género. 148 Figura 38. Utentes da BPMP que utilizavam tecnologias web 2.0 em 2014, de acordo com a sua

faixa etária. 149

Figura 39. Tecnologias web 2.0 mais utilizadas pelos utentes da BPMP inquiridos em 2014. 150 Figura 40. Utentes da BPMP inquiridos que eram utilizadores de Facebook, de acordo com a sua

faixa etária, em 2014. 151

Figura 42. Utentes da BPMP que eram contribuidores ativos nas tecnologias web 2.0, considerando

a sua faixa etária, em 2014. 154

Figura 41. Tipo de participação, por género, nas tecnologias web 2.0 feita pelos utentes da BPMP

(15)

etária, em 2014. 156 Figura 44. Frequência com que os utentes da BPMP visitavam a biblioteca, de acordo com a sua

faixa etária, em 2014. 157

Figura 45. Frequência com que os utentes da BPMP, do sexo feminino e do sexo masculino,

visitavam o site da biblioteca, em 2014. 157

Figura 46. Frequência com que os utentes da BPMP visitavam o site da biblioteca, de acordo com

a sua faixa etária, em 2014. 158

Figura 47. Frequência com que os utentes da BPMP, do sexo feminino e do sexo masculino,

utilizavam o OPAC da biblioteca fora das suas instalações, em 2014. 160 Figura 48. Distribuição das respostas dos utentes da BPMP, quando questionados se consideravam

que a biblioteca deveria utilizar tecnologias web 2.0, tendo em conta a sua faixa etária,

em 2014. 161

Figura 49. Razões apontadas pelos utentes da BPMP que justificam a utilização de tecnologias

web 2.0 pela biblioteca, em 2014. 162

Figura 50. Tipo de utilização das tecnologias web 2.0 pelos inquiridos da BPMP que consideraram que a biblioteca devia atuar nestas tecnologias para “Possibilitar aos utentes

manifestarem-se sobre a biblioteca, suas atividades e serviços, por exemplo, através de

comentários ou sugestões”, em 2014. 163

Figura 51. Tipo de conteúdos sugeridos pelos utentes da BPMP que consideraram que a biblioteca

devia utilizar tecnologias web 2.0, em 2014. 164

Figura 52. Tipo de conteúdos a serem publicados através de tecnologias web 2.0, sugeridos pelos utentes da BPMP do sexo feminino e do sexo masculino, em 2014. Percentagens relativas ao universo total dos utentes dentro de cada género: 48 utentes do sexo feminino e

68 utentes do sexo masculino. 164

Figura 53. Tipo de conteúdos a serem publicados pela BPMP nas tecnologias web 2.0, sugeridos

(16)
(17)

APL Austin Public Library

BAV Balcão de Atendimento Virtual

BM1 Biblioteca Municipal inserida em concelhos com menos de 20.000 habitantes

BM2 Biblioteca Municipal inserida em concelhos com uma população entre 20.000 e 50.000 habi-tantes

BM3 Biblioteca Municipal inserida em concelhos com mais de 50.000 habitantes BMAC Bibliotecas Municipais de A Coruña

BMAG Biblioteca Municipal Almeida Garrett BPM Biblioteca Pública de Muskiz

BPMP Biblioteca Pública Municipal do Porto

CM Câmara Municipal

CML Charlotte Meclenburg Library

DGLAB Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas DGLB Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas

DPL Denver Public Library

IFLA International Federation of Library Associations IPLL Instituto Português do Livro e da Leitura

OPAC Online Public Access Catalog (Catálogo Online de Acesso Público) RCBP Rede de Conhecimento das Bibliotecas Públicas

(18)
(19)

Introdução

Nesta investigação colocamos a hipótese que o desenvolvimento de ações de comunicação em plataformas web e, sobretudo, através de tecnologias web 2.0, permitirá ampliar o alcance de serviços e coleções das bibliotecas públicas portuguesas a um maior número de cidadãos, permitirá estabelecer uma relação mais próxima entre profissionais da biblioteca e cidadãos e, principalmente, possibilitará formas de interlocução e interação mais eficientes, o que facilitará a criação de serviços mais orientados às necessidades e expectativas da comunidade de utentes, reais e potenciais. Neste sentido, é objetivo da presente investigação contribuir para possíveis soluções que melhor respondam e correspondam às atuais necessidades destes cidadãos, atra-vés da utilização de media digitais de natureza participativa atualmente disponíveis, constituindo as redes sociais ferramentas privilegiadas (embora não exclusivas) para este efeito.

A expansão do acesso à internet numa escala global a custos reduzidos e a proliferação de tecnologias web 2.0 deram origem a um novo tipo de utilizador ativo, que não se limita a consumir informação, mas que também a fornece, difunde, partilha com outros utilizadores e intervém nos seus conteúdos. Desenvolvem--se assim as designadas culturas participativas, caracterizadas por passarem longos períodos de tempo online, onde desenvolvem as mais diversas tarefas do seu quotidiano, e caracterizadas também pela sua atitude proativa face aos conteúdos digitais (Anderson, 2007; Jenkins, 2008, 2009; Keen, 2008; Palfrey & Grasser, 2008; Shirky, 2010).

Considerando o impacto que esta mudança de paradigma teve na produção de informação online, nas for-mas de pesquisa de informação e no papel das bibliotecas públicas enquanto mediadoras de informação, sur-gem propostas para um novo modelo de biblioteca, designado como biblioteca 2.0, centrado nos cidadãos (utentes e potenciais utentes) e cujos serviços se configuram a partir do seu contributo e participação efetiva. Neste contexto, as plataformas web e, sobretudo, as tecnologias web 2.0 têm-se revelado como ferramentas essenciais para a consubstanciação deste modelo (Bolan, Canada, & Cullin, 2007; Casey & Savastinuk, 2007; Chad & Miller, 2005; Farkas, 2007; Margaix-Arnal, 2007, 2008; Seoane-García, 2009).

Nos Estados Unidos, onde as culturas participativas se encontram profundamente implementadas (Jenkins, 2009; Palfrey & Grasser, 2008), proliferam os exemplos de bibliotecas públicas que têm conseguido uma maior aproximação e interlocução com o seu público, através da utilização destas tecnologias nas suas ações de comunicação (Abbas & Agosto, 2011a; Jain, 2013; Rogers, 2010). As redes sociais, em particular, torna-ram-se nas plataformas de eleição destas instituições (Alkindi & Al-Suqri, 2013; American Library Associa-tion, 2014; Jain, 2013; Rogers, 2010) por apresentarem várias vantagens, entre as quais, o seu baixo custo e facilidade de criação e gestão, por possibilitarem uma publicação e partilha de conteúdos a uma escala global, permitindo ampliar o alcance das suas ações de comunicação, e por possibilitarem, de uma forma

(20)

simples, agregar os cidadãos e formar comunidades, partilhar informação e, sobretudo, interagir com os cidadãos (Agosto & Abbas, 2009; Agosto, Valenza, & Abbas, 2011; Alkindi & Al-Suqri, 2013).

Em Espanha, um país geográfica e culturalmente próximo de Portugal, a utilização de tecnologias web 2.0 pelas bibliotecas não é tão acentuada como nos Estados Unidos, mas existem também diversos exemplos de instituições que têm aproveitado o potencial destas tecnologias para desenvolver ações de forma colaborativa com outras bibliotecas e com os cidadãos, para uma maior interação com o seu público e, por conseguinte, para responderem melhor às suas necessidades e expectativas (Margaix-Arnal, 2008; Pereda & Vega, 2010). Não obstante este novo paradigma social caracterizado pela participação online, também visível no nosso país (Cardoso, Mendonça, Lima, Paisana, & Neves, 2014; Paisana & Lima, 2012), e o sucesso verificado na utilização destas tecnologias em inúmeros exemplos de bibliotecas públicas, em Portugal, pelo contrário, a utilização de plataformas web e, sobretudo, de tecnologias web 2.0, quer para disponibilizar serviços, quer para desenvolver ações de comunicação, verifica-se ainda reduzida (Alvim, 2011; DGLAB, 2012b, 2013b; Nunes, 2003). Por outro lado, verifica-se também que as poucas bibliotecas públicas que têm investido em tecnologias web 2.0 ainda evidenciam ausência de estratégias na publicação de conteúdos e na comunicação com os cidadãos e, sobretudo, exploram pouco o potencial participativo destas tecnologias (Alvim, 2011; Leitão, 2012; Lima & Alvelos, 2012).

Neste estudo, pretende-se demonstrar a importância da utilização de plataformas web e, sobretudo, de tec-nologias web 2.0 pelas bibliotecas públicas portuguesas nas suas ações de comunicação, não só para ampliar o alcance destas ações, mas, principalmente, para aumentar os canais e frequência de interlocução e intera-ção entre profissionais destas bibliotecas e cidadãos, o que permitirá um conhecimento mais profundo das necessidades e expectativas destes últimos e, por conseguinte, a criação de serviços mais adequados.

O desenvolvimento de um caso de estudo na Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP) possibilitará que os resultados obtidos revertam para um contexto específico, passível de implementação prática. A opção por esta biblioteca deve-se, em parte, ao seu posicionamento atípico: sendo uma das bibliotecas públicas municipais mais antigas e mais importantes do país, reúne um vasto património com coleções de valor histórico e cultural incalculável, atraindo públicos oriundos, não só do município do Porto, mas também de todo o país e além fronteiras, aspeto que evidencia a importância da utilização de plataformas descentra-lizadas para ampliar o alcance das ações de comunicação e aumentar os canais de interlocução e interação entre profissionais desta bibliotecas e cidadãos. Por outro lado, a BPMP assume também um papel de relevo na leitura pública no município do Porto, oferecendo vários serviços neste âmbito, entre os quais atividades culturais regulares de promoção da leitura. Neste sentido, a utilização de plataformas web poderá igualmente assumir um papel determinante para as ações de comunicação desta biblioteca, designadamente para efetivar uma maior interlocução e interação entre profissionais e cidadãos, o que permitirá um conhecimento mais profundo das necessidades e expectativas destes últimos e a criação de serviços mais adequados.

(21)

é formulada a partir da observação de uma limitada utilização de plataformas web, e sobretudo tecnologias web 2.0, pelas bibliotecas públicas portuguesas, a saber:

• Que fatores justificam a limitada utilização de plataformas web pelas bibliotecas públicas portuguesas na disseminação e promoção dos seus serviços?

As seguintes questões são formuladas considerando o caso de estudo da BPMP e são ancoradas numa reali-dade tangente observada nesta biblioteca e complementada em entrevistas e inquéritos realizados aos profis-sionais desta instituição e aos seus utentes, a saber:

• Como podem ser desenvolvidas as características mais valorizadas pelos utilizadores de uma platafor-ma web de uplatafor-ma biblioteca de modo a contribuir para a consolidação da relação entre a instituição e o seu público?

• Que sistemas de natureza participativa e colaborativa, passíveis de implementação extra-institucional, podem resultar num aumento de satisfação dos utilizadores e numa utilização mais frequente dos serviços da instituição?

• Que tipo de práticas poderão ser implementadas no contexto da web que conduzam a uma maior integração da biblioteca na sua comunidade de utilizadores e permitam esbater as fronteiras entre o público e a instituição?

Os trabalhos de investigação realizados para responder às questões supracitadas, são apresentados neste do-cumento segundo uma estrutura que se divide da seguinte forma:

• Introdução • Metodologia • Enquadramento

• Desenvolvimento prático • Conclusão

Na introdução é apresentado o tema e o problema de investigação, e são definidos os objetivos pretendidos, designadamente tendo em conta as questões de investigação. É também apresentada a estrutura da Tese com uma descrição sumária dos principais conteúdos que compõem cada capítulo.

Segue-se a metodologia com uma descrição detalhada dos métodos utilizados para o enquadramento teó-rico do tema em estudo e uma descrição mais sintetizada dos métodos utilizados no desenvolvimento da investigação, uma vez que estes últimos serão, posteriormente, relatados com maior detalhe nos capítulos dedicados ao desenvolvimento da investigação (capítulos 5 e 6).

O Enquadramento, a primeira parte do trabalho de investigação, divide-se em quatro capítulos que abor-dam os conceitos subjacentes ao desenvolvimento do trabalho. No primeiro capítulo, é definido o que se entende atualmente por biblioteca pública e o papel que esta desempenha na sociedade; é resumida a

(22)

evolu-ção da biblioteca pública em Portugal, descrevendo os principais fatores que conduziram a uma mudança de paradigma neste setor, consubstanciada na criação de um sistema de bibliotecas públicas nacional, designado como Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP).

No segundo capítulo, é definido o conceito de web 2.0 e identificado um conjunto de plataformas e tecno-logias neste contexto, consideradas mais relevantes para a presente investigação. É analisado o impacto destas tecnologias nas formas de comunicação da sociedade e caracterizada uma mudança de paradigma social que deu origem ao desenvolvimento de culturas participativas, também aqui caracterizadas.

No terceiro capítulo do Enquadramento é definido o conceito de biblioteca 2.0 e analisada a importância da utilização das tecnologias participativas disponíveis gratuitamente na web para consubstanciar um modelo de biblioteca 2.0. A finalizar este capítulo, são identificados e relatados exemplos práticos bem sucedidos neste âmbito em bibliotecas públicas de dois países específicos: dos Estados Unidos, por ser um país com um paradigma sociocultural muito caracterizado pelas culturas participativas e por ser um dos países pioneiros na implementação do modelo de biblioteca 2.0; e de Espanha, por ser um país geográfica e culturalmente próximo do nosso.

No quarto capítulo, o último do Enquadramento, é feita uma análise do panorama das bibliotecas pú-blicas portuguesas na web através de estudos publicados neste âmbito, sendo a análise das práticas de co-municação da BPMP, nestas plataformas, feita com maior profundidade por se tratar do caso de estudo desta investigação.

O Desenvolvimento prático é dividido em três capítulos, os capítulos 5, 6 e 7, sendo: um capítulo dedicado à metodologia e resultados obtidos numa prospeção feita à escala nacional das ações de comunicação das bibliotecas públicas portuguesas nas plataformas web, realizada pela necessidade de uma visão macroscópica rigorosa do panorama nacional destas bibliotecas nestas plataformas; um capítulo centrado no estudo do caso da BPMP, para um conhecimento mais aprofundado de uma realidade concreta, e perspetivando que os resultados desta investigação revertam para um contexto passível de aplicação prática; e um capítulo onde é feito um conjunto de propostas metodológicas para a implementação de tecnologias web 2.0, com base nos resultados obtidos ao longo da investigação.

Assim, no quinto capítulo, dedicado à prospecção estruturante à escala nacional, é detalhada a metodologia para a realização de um mapeamento de presenças na web das bibliotecas públicas portuguesas, realizado em 2012, é descrita a metodologia aplicada para o desenvolvimento de questionários feitos aos responsáveis de 19 destas bibliotecas, consideradas de maior relevância para o estudo, e é explicada a metodologia utilizada para o desenvolvimento de um inquérito realizado a todas as bibliotecas públicas portuguesas identificadas na lista do portal das bibliotecas da DGLAB, em 20131. Os resultados obtidos são seguidamente expostos e

discutidos. No caso do inquérito realizado em 2013, foi possível obter um maior número de dados e

infor-1 Recuperado de http://rcbp.dglb.pt/pt/Bibliotecas/Bibliotecas/Documents/BibliotecasPublicasMunicipais22Jan2013.xls, consultado a 7 de Ju-nho de 2013.

(23)

mações provenientes dos inquiridos, o que permitiu uma análise de relações entre um conjunto de variáveis, essencial para a concretização dos objetivos propostos.

No sexto capítulo, dedicado ao caso de estudo realizado na BPMP, é descrita a metodologia aplicada em en-trevistas exploratórias realizadas aos coordenadores de departamentos desta biblioteca, por se considerarem detentores de informações mais relevantes para o tema em investigação, é detalhada a metodologia utilizada para um mapeamento de presenças na web da BPMP, realizado em diferentes períodos de tempo pela ne-cessidade de uma atualização contínua dos resultados obtidos, e é explicada a metodologia utilizada para o inquérito realizado aos utentes desta biblioteca. São, seguidamente, analisados e discutidos os respetivos resultados obtidos.

No sétimo capítulo, são feitas propostas metodológicas para a implementação de tecnologias web 2.0 que visem uma maior aproximação da biblioteca aos cidadãos, designadamente através de uma maior interlo-cução e interação com estes. Pese embora esta investigação se foque, em grande parte, num caso de estudo particular, o enquadramento teórico, a análise de diversos exemplos de ações de comunicação de bibliotecas públicas internacionais e os materiais criados para o desenvolvimento da investigação, designadamente do caso de estudo, permitiram identificar um conjunto de ferramentas e metodologias que poderão servir de base para outras bibliotecas públicas, ainda que tenham que ser devidamente adaptadas às características particulares de cada instituição e de cada comunidade. Deste modo, propõem-se, neste capítulo, metodolo-gias a adotar no planeamento de ações de comunicação, através de tecnolometodolo-gias web 2.0, focadas em aspetos relacionados com a criação e gestão de páginas e perfis nestas plataformas. Propõem-se, ainda, (e principal-mente) estratégias passíveis de estimular uma maior interlocução e participação dos cidadãos, e passíveis de resultar numa maior integração da biblioteca na comunidade onde se insere.

Por fim, na Conclusão, é feita uma síntese do trabalho de investigação e são apresentados os principais resul-tados obtidos. É relatado um conjunto de limitações ao estudo e são propostos desenvolvimentos futuros, perspetivando melhorar as ações de comunicação e os serviços das bibliotecas públicas portuguesas através da utilização de meios digitais, designadamente, de meios de natureza participativa.

(24)

Para a concretização dos objetivos desta investigação e para responder às questões de investigação colocadas foram combinados métodos qualitativos e quantitativos, consoante o tipo de dados que se pretendia obter em cada fase da investigação.

Metodologia aplicada no enquadramento da investigação

Para o enquadramento teórico deste estudo foi feita uma investigação bibliográfica e utilizados métodos qualitativos, entre os quais entrevista, focus groups e observação. Numa primeira fase, procedeu-se a uma investigação bibliográfica que permitisse construir um quadro teórico em torno do tema abordado e especi-ficar, concretamente, um conjunto de conceitos determinantes, a saber: biblioteca pública, web 2.0, cultura participativa e biblioteca 2.0. Esta investigação bibliográfica foi feita com recurso a diversas bases de dados, entre as quais o Repositório Aberto da Universidade do Porto2, o RepositóriUM (repositório da

Universi-dade do Minho)3, e-LIS4, Taylor & Francis5, Emerald6 e Mendeley7, e recorrendo também às coleções de

bibliotecas como a biblioteca da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, a biblioteca da Uni-versidade Portucalense, a Biblioteca Pública Municipal do Porto e a Austin Public Library (Estados Unidos). Perspetivando complementar a ausência de bibliografia extensa sobre o tema em investigação, nomeada-mente no que respeita à utilização de tecnologias web 2.0 pelas bibliotecas públicas, sobretudo em Portugal, e procurando reunir factos relevantes e delinear eventuais hipóteses de trabalho, foram desenvolvidas en-trevistas exploratórias semidiretivas a quatro docentes da área de Ciência da Informação: dois docentes da Information School da Universidade do Texas, em Austin, um docente da Universidade Portucalense, no Porto, e um docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Uma vez que esta investigação foi desenvolvida no âmbito de um Programa Doutoral realizado em cola-boração com a Universidade do Texas, em Austin, a qual forneceu um conjunto de contactos relevantes e facultou os meios necessários para a concretização de uma visita exploratória a Austin, foram feitas duas entrevistas exploratórias a docentes e investigadoras da School of Information desta Universidade,

permi-2 http://repositorio-aberto.up.pt 3 http://repositorium.sdum.uminho.pt 4 http://eprints.rclis.org 5 http://www.tandfonline.com 6 http://www.emeraldinsight.com 7 http://www.mendeley.com

(25)

tindo uma visão mais abrangente do setor das bibliotecas públicas e um contacto direto com uma realidade diferente da portuguesa – a realidade dos Estados Unidos, um dos países que deu origem ao modelo de biblioteca pública anglo-saxónico, determinante para modelo de biblioteca pública atualmente em vigor em Portugal. Uma destas entrevistas foi realizada à Professora Doutora Barbara Immroth, nas instalações da School of Information da Universidade do Texas, no dia 21 de Março de 2013. Esta entrevista foi precedida de um contacto feito por email para a sua marcação e onde era resumido o teor deste estudo. Procedeu-se a uma entrevista semidiretiva a partir de um guião semiestruturado com questões de resposta aberta, a qual decorreu pelo período de cerca de 50 min. A entrevista foi gravada e foram abordadas questões sobre a atua-ção das bibliotecas públicas na web e discutidos exemplos no que respeita à atuaatua-ção em plataformas web 2.0, entre os quais o exemplo da Denver Public Library, considerado por diversos autores como uma referência neste contexto (Agosto & Abbas, 2009, 2011; Arroyo Vásquez, 2008; Farkas, 2007; OCL, 2007).

A outra entrevista foi realizada à Professora Doutora Loriene Roy, docente e investigadora da School of Information da Universidade do Texas, tendo sido, em 2007-2008, Presidente da American Library Association, a maior e mais antiga associação de bibliotecas do mundo. Após um primeiro contacto feito por email, onde lhe foi exposto o tema em estudo e solicitada a marcação de uma entrevista, esta foi reali-zada no dia 24 de Março de 2013, também nas instalações da School of Information, depois de uma aula do curso de “Bibliotecas Públicas”, ministrada por esta docente e à qual a doutoranda teve oportunidade de assistir. Foi feita uma entrevista semidiretiva a partir de um guião semiestruturado com questões de resposta aberta que incidiam em assuntos como qual a perceção da inquirida sobre o atual panorama das bibliotecas públicas, qual o papel destas bibliotecas face à proliferação de informação na internet e que tipo de apoios fornece a American Library Association na promoção destas instituições. Esta entrevista teve a duração de 1 h e foi gravada.

Para um maior conhecimento sobre o desenvolvimento de bibliotecas públicas em Portugal e sobre a situa-ção em que atualmente se encontram, foram entrevistados dois docentes e investigadores de universidades do Porto, especializados na área de Ciência da Informação. A primeira docente entrevistada foi a Professora Doutora Manuela Barreto Nunes, coordenadora do Mestrado em Educação e Bibliotecas da Universidade Portucalense e Diretora da biblioteca desta universidade. Foi uma testemunha priveligiada dos acontecimen-tos que levaram ao nascimento da RNBP, tendo sido o seu irmão, Henrique Barreto Nunes, um elemento fundamental no desenrolar de acontecimentos que antecederam a formação desta rede. Ao longo da última década, a docente tem desenvolvido e colaborado em estudos sobre a atuação das bibliotecas públicas na web (Alvim & Nunes, 2010; Nunes, 2003, 2004).

A entrevista decorreu no dia 5 de Dezembro de 2013, na Universidade Portucalense. Teve uma duração aproximada de 1 h 30 min e foi gravada. Foi feita uma entrevista semidiretiva, construída a partir de um guião com questões de resposta aberta sobre a origem das bibliotecas públicas e municipais em Portugal; sobre o papel da biblioteca pública portuguesa e quais os seus pontos fortes e as suas fragilidades; sobre como e quando se produziu uma mudança de paradigma neste setor que parte do nascimento de um sistema de bibliotecas municipais, ou seja, da criação da RNBP. Foram ainda colocadas questões, também de resposta

(26)

aberta, sobre a DGLAB, o atual organismo responsável pela definição de estratégias para a criação e desen-volvimento da RNBP, nomeadamente sobre a sua evolução e os múltiplos organismos que lhe sucederam8;

sobre que tipo de estratégias são definidas por este organismo e qual o seu peso e influência na definição de políticas para as bibliotecas públicas; como são feitos os apoios financeiros para a manutenção das bibliote-cas, nomeadamente da RNBP; como é feita a avaliação do cumprimento destas bibliotecas no que respeita ao estipulado no contrato programa da RNBP e como é avaliado o seu grau de sucesso; que fatores justificam a maior ou menor autonomia das bibliotecas municipais, nomeadamente em relação às Câmaras Municipais do município onde se inserem. Por fim, foram também colocadas questões sobre a utilização de platafor-mas web e tecnologias web 2.0 pelas bibliotecas públicas portuguesas. Foi ainda solicitada a indicação de referências bibliográficas que permitissem um conhecimento mais alargado sobre a história e evolução das bibliotecas públicas e municipais portuguesas.

O outro docente entrevistado foi o Professor Doutor Armando Malheiro da Silva, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, membro da Comissão Científica da Licenciatura em Ciência da Infor-mação e da Comissão Científica do 3º ciclo em InforInfor-mação e Comunicação em Plataformas Digitais. Foi também uma testemunha priveligiada dos acontecimentos que levaram ao nascimento da RNBP. A entre-vista realizada a este docente permitiu um conhecimento mais alargado sobre os diferentes paradigmas de bibliotecas, nomeadamente o paradigma custodial historicista, característico de bibliotecas patrimonialistas, e o paradigma pós-custodial informacional, característico de bibliotecas onde vigora o livre acesso à infor-mação, e permitiu também esclarecer como se processou a evolução de um paradigma para outro, sendo destacado, neste âmbito, o papel da RNBP, e o papel do bibliotecário em cada um destes paradigmas. Esta entrevista decorreu no dia 13 de Janeiro de 2014, nas instalações da Faculdade de Letras, durante cerca de 2 h, tendo sido igualmente gravada.

Atendendo à elevada capacidade comunicativa do entrevistado, aos trabalhos científicos por ele produzidos neste domínio e à sua vasta rede de contactos com profissionais do setor das bibliotecas públicas, muitos deles atores essenciais na produção de um novo sistema de bibliotecas consubstanciado na RNBP, optou-se, neste caso, pela realização de uma entrevista centrada9, ou seja, não foi conduzida por perguntas

preestabe-lecidas, como nos casos anteriores, mas por uma lista de tópicos relacionados com o tema em estudo (Quivy & Campenhoudt, 2008). Esta abordagem tornou-se, assim, mais flexível e próxima de uma “conversa formal”, tendo sido, contudo, colocadas questões, geralmente na sequência de informações dadas pelo in-quirido. Visto que, à data da entrevista já tinham sido desenvolvidas diversas fases da investigação, tanto no

8 Em 1980 foi criado o Instituto Português do Livro, cujas funções se circunscreviam “às políticas de apoio à edição, de implantação do livro nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e de promoção do autor no estrangeiro” (PORTUGAL, 2012, para. 2). Em 1987, este organismo passou a designar-se como Instituto Português do Livro e da Leitura, acumulando às funções anteriores a função de promoção da leitura. Este instituto veio posteriormente a fundir-se com a Biblioteca Nacional, dando origem, em 1992, ao Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro. Em 1997 esta fusão cessa, passando o organismo responsável pela promoção do livro e das bibliotecas a designar-se como Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, a que se sucedeu, em 2007, a Direção Geral do Livro e das Bibliotecas. Em 2012, como resultado da fusão deste último organismo com a Direção-Geral dos Arquivos, nasceu a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, atualmente em vigor. 9 Tradução feita em Quivy & Campenhoudt (2008) para a denominação inglesa de focused interview.

(27)

que respeita ao estudo de práticas de comunicação das bibliotecas públicas portuguesas em plataformas web, como no que concerne ao caso de estudo na BPMP, foi-lhe feita uma exposição do tema em investigação e da metodologia aplicada, bem como de um conjunto de resultados, à data obtidos. Esta exposição suscitou, por si só, diversas intervenções e um conjunto de reflexões do Professor Doutor Armando Malheiro da Silva. Outros tópicos abordados, que foram extensamente desenvolvidos pelo inquirido, foram os factos históricos que influenciaram a evolução das bibliotecas públicas em Portugal; o papel destas bibliotecas na mediação da informação; os fatores que impulsionaram o desenvolvimento da RNBP e os problemas que esta enfrenta atualmente, num cenário de crise económica; os factos históricos relacionados com a BPMP e os problemas decorrentes de uma dicotomia no seu posicionamento, designadamente no que respeita à sua vertente patri-monialista e à sua vertente informacional orientada para promoção da leitura pública.

Para complementar a ausência de bibliografia no que respeita a ações de comunicação de bibliotecas públi-cas portuguesas em plataformas web, foram observados diversos exemplos de atuação destas bibliotepúbli-cas na web e comparados com outros exemplos observados de bibliotecas internacionais. Neste âmbito, as ações de comunicação da Austin Public Library (APL) na web foram observadas com maior detalhe, sendo as obser-vações feitas complementadas por um questionário e por entrevistas exploratórias realizadas a profissionais desta instituição, durante a visita feita a Austin.

Em Novembro de 2012, foi realizado um contacto inicial por email a Toni Grasso, responsável pelo de-partamento de marketing da APL, a quem foi descrito o teor da presente investigação. Posteriormente, foi também enviado por email um questionário “de administração direta” (Quivy & Campenhoudt, 2008, p. 188), com perguntas de resposta aberta sobre as práticas de comunicação da biblioteca através de platafor-mas web 2.0, nomeadamente quem eram os responsáveis pela atualização de conteúdos no Twitter e na pá-gina de Facebook da APL; qual a periodicidade com que faziam publicações; que tipo de publicações faziam com maior frequência e quais suscitavam maior número de reações (comentários e gostos) dos utilizadores; se sentiam uma crescente afluência de utilizadores nas plataformas utilizadas pela biblioteca, entre outras. Durante a estadia em Austin, que decorreu entre os dias 21 e 28 de Março de 2013, foi realizada uma visita exploratória à John Henry Faulk Central Library, a biblioteca central da APL, e foram feitas entrevistas, também exploratórias, a quatro profissionais desta instituição responsáveis por atividades relacionadas com o marketing da biblioteca e a gestão de tecnologias web 2.0, designadamente: Toni Grasso, responsável pelo departamento de marketing com quem já mantínhamos contacto por email; Lisa Hamilton, responsável pela gestão das páginas de Facebook e Twitter da APL; Brazos Price e Brice Benton, responsáveis pela gestão do OPAC10. Estas entrevistas decorreram no dia 21 de Março e, para além de permitirem um contacto mais

direto com uma realidade concreta, permitiram também o acesso a um conjunto de dados estatísticos que, de certo modo, confirmam a importância que a utilização de tecnologias web 2.0 pode ter para promover os serviços da biblioteca e para melhorar a interlocução entre os seus profissionais e os seus utentes.

(28)

A primeira entrevista foi realizada a Toni Grasso e Lisa Hamilton em simultâneo. Teve a duração de 1 h e foi gravada. Foi uma entrevista semidiretiva, construída a partir de um guião com questões de resposta aberta que foram elaboradas tendo em conta as respostas fornecidas ao referido questionário (realizado em Novem-bro de 2012), as diretrizes delineadas no Plano Estratégico da APL disponível online (Austin Public Library, 2011), e uma análise prévia das práticas comunicativas da APL através de plataformas web. Para Toni Grasso foram colocadas questões relacionadas sobretudo com o plano de marketing, a periodicidade com que são elaboradas novas estratégias e quando e como é feita a avaliação dos seus resultados; como são coordenadas as ações de comunicação dos diferentes pólos11; que públicos alvo são considerados no plano estratégico da

APL. Uma vez que se encontra permanentemente disponível, na homepage do site da biblioteca, um inqué-rito sobre a satisfação dos utentes, foram também colocadas questões sobre este inquéinqué-rito.

Para Lisa Hamilton, as questões colocadas foram essencialmente relacionadas com as ações de comunicação desenvolvidas através de redes sociais. Visto que, numa pesquisa feita previamente, foi verificada a existência de páginas da APL em plataformas web 2.0 que não se encontravam anunciadas no seu site12, foi

inicial-mente pedido à entrevistada que especificasse quais as plataformas em que atuavam e quais eram geridas por si. Outras questões colocadas foram: quando tinham começado a utilizar redes e media sociais nas ações de comunicação da biblioteca e em que medida a utilização destas tecnologias tem contribuído para melhorar os serviços da biblioteca; como é feita a avaliação do grau de sucesso das ações desenvolvidas nestas platafor-mas; quais as principais vantagens e desvantagens sentidas; se a periodicidade de publicações se rege segundo um plano estratégico ou se acontece à medida que vão tendo notícias para divulgar, sejam estas em grande ou reduzido número. Foi ainda solicitado a Lisa Hamilton estatísticas referentes aos acessos e reações do público às publicações feitas na página de Facebook da APL, o que nos facultou prontamente.

Uma vez terminada esta entrevista, entrevistamos, em simultâneo, Brazos Price e Brice Benton, ambos responsáveis pela gestão do OPAC. Esta entrevista foi desenvolvida na presença de Toni Grasso, que oca-sionalmente teceu também comentários. Teve a duração de cerca de 20 min e foi gravada. Foi uma entre-vista semidiretiva, construída a partir de um guião com questões de resposta aberta elaboradas tendo em conta as respostas fornecidas ao questionário realizado em Novembro de 2012 e uma análise prévia feita ao OPAC da APL. Este catálogo tinha sido lançado uns meses antes e era construído com base na plataforma Bibliocommons, uma plataforma que permite associar ao tradicional OPAC da biblioteca um conjunto de ferramentas 2.0. Deste modo, o atual OPAC da APL permite ao utilizador vários níveis de participação, entre os quais, publicar comentários ou sumários de obras; criar listas bibliográficas; atribuir classificações

11 Para além da biblioteca central, a John Henry Faulk Central Library, a APL possui 20 pólos localizados em diferentes áreas da cidade, uma biblioteca dedicada exclusivamente a conteúdos sobre a história e a população de Austin, o Austin History Center, e a Recycled Reads, uma livraria para venda de livros usados e para venda de objetos feitos a partir da reutilização de livros da biblioteca que já não se encontram em circulação devido ao seu avançado estado de degradação.

12 À data desta entrevista foi comunicado a Lisa Hamilton a ausência de identificação da totalidade das plataformas web 2.0 em que atuavam, a qual indicou ser uma situação provisória e estar em vias de resolução, o que se veio a verificar, nomeadamente aquando de uma nova análise que fizemos a estas plataformas em Setembro de 2014.

(29)

e palavras chave (tags); melhorar pesquisas, filtrando os seus resultados13, entre outros. Foram, então,

colo-cadas questões relacionadas com o lançamento deste novo catálogo e as formas de divulgação do mesmo; se sentiam um aumento de afluência ao presente OPAC quando comparado com o catálogo anterior; quais as principais vantagens e principais desvantagens ou dificuldades sentidas na sua utilização, designadamente tendo em conta as novas ferramentas sociais introduzidas; se consideravam que a introdução deste novo catálogo se refletia num contributo para melhorar os serviços da biblioteca. Foi também solicitado a Brazos Price e Brice Benton estatísticas referentes aos acessos ao OPAC e à utilização das ferramentas 2.0 nele in-cluídas, as quais foram prontamente enviadas por email.

As entrevistas de caráter exploratório realizadas a docentes investigadores da área de Ciência da Informação, em Portugal e em Austin, a observação feita a formas de atuação das bibliotecas públicas, nacionais e inter-nacionais, nas plataformas web e o questionário e entrevistas realizadas a profissionais da APL permitiram complementar a ausência de informação bibliográfica neste âmbito, tendo fornecido informações determi-nantes para um conhecimento mais profundo da realidade vivida neste setor, bem como pistas de reflexão sobre o tema em investigação. Os resultados obtidos serão, por isso, expostos ao longo do enquadramento deste estudo.

Metodologia aplicada no desenvolvimento prático da investigação

Para o desenvolvimento prático desta investigação foram combinados métodos qualitativos e quantitativos, consoante o tipo de dados que se pretendia obter em cada momento da investigação. As diferentes metodo-logias aplicadas serão sucintamente relatadas nesta fase, sendo extensivamente detalhadas nos capítulos 5 e 6, referentes ao desenvolvimento de uma prospecção estruturante à escala nacional e ao desenvolvimento de um caso de estudo na BPMP, respetivamente.

Numa primeira instância, em 2012, foi realizado um mapeamento de presenças na web de bibliotecas pú-blicas portuguesas, procurando identificar plataformas web utilizadas por estas bibliotecas e o tipo de ações de comunicação desenvolvidas neste contexto. O mapeamento foi realizado através do método de observa-ção direta, recorrendo a pesquisas na internet e a fontes bibliográficas onde eram identificadas plataformas utilizadas pelas bibliotecas.

Face à constatação de uma limitada utilização de plataformas web 2.0 por estas instituições, foi realizado um questionário com questões de resposta aberta aos responsáveis pelas principais bibliotecas públicas do país, visando compreender as principais razões para esta limitada utilização de plataformas web pelas bibliotecas, sobretudo plataformas web 2.0, e a perceção que estes profissionais tinham sobre vantagens e desvantagens da utilização destas tecnologias. Este questionário foi enviado por email e era de administração direta.

(30)

Partindo dos dados obtidos no enquadramento e deste mapeamento de presenças de bibliotecas públicas portuguesas na web, foram colocadas duas hipóteses nesta investigação, a saber:

• As plataformas web são pouco utilizadas pelas bibliotecas públicas portuguesas para comunicar com os cidadãos devido a um conjunto de fatores que ultrapassam a dimensão da insuficiência de recursos humanos, razão mais citada pelos bibliotecários.

• As bibliotecas públicas portuguesas poderão utilizar de forma acrescida o potencial da web social para estimular uma maior interlocução entre biblioteca e cidadãos.

Para verificação das hipóteses colocadas foi utilizado um método quantitativo, consubstanciado na realiza-ção de um inquérito online (Ferreira & Carmo, 1998; Quivy & Campenhoudt, 2008) às 300 bibliotecas públicas portuguesas identificadas na lista apresentada no site da DGLAB, perspetivando a realização de um novo mapeamento destas bibliotecas na web, a análise da evolução face a 2012, bem como, identificar os principais fatores que determinam a utilização ou não utilização de um conjunto de plataformas web 2.0 disponíveis gratuitamente na internet. Este inquérito era constituído por várias questões de resposta fechada, de escolha fixa e escolha múltipla, e duas questões finais de resposta aberta, visando fornecer aos inquiridos um espaço para que pudessem desenvolver melhor determinadas respostas ou ideias e fazerem sugestões no âmbito do tema abordado (Hansen, Cottle, Negrine, & Newbold, 1998).

Foram obtidas respostas de 139 bibliotecas (quase 50% dos inquéritos enviados com sucesso), tendo 1 inquérito sido invalidado devido a um conjunto de respostas dadas que, no seu conjunto, se revelaram in-consistentes, levando a questionar a sua fiabilidade. Deste modo, foram validadas e analisadas respostas de 138 inquéritos, tendo sido utilizado para o efeito o software Statistical Package for Social Sciences® (SPSS), versão 22.

Para o desenvolvimento do caso de estudo na BPMP, foram conjugados diferentes métodos, qualitativos e quantitativos, incluindo entrevistas exploratórias, observação direta de ações de comunicação desta biblio-teca na web e um inquérito aos seus utentes (Ferreira & Carmo, 1998; Quivy & Campenhoudt, 2008). Para um conhecimento aprofundado da BPMP, do seu posicionamento e das estratégias de comunicação utilizadas para divulgação e promoção dos seus serviços e atividades, foram realizadas entrevistas explora-tórias aos coordenadores das salas e dos departamentos da biblioteca considerados de maior relevância para esta investigação.

O método de observação direta foi aplicado para obter um mapeamento de presenças da BPMP na web, tendo este sido realizado em diferentes fases da investigação, perspetivando uma análise da evolução de ações de comunicação nestas plataformas, durante o período em que decorreu a investigação.

Os resultados obtidos nas entrevistas exploratórias e o mapeamento de presenças da BPMP na web, bem como um conjunto de dados verificados em exemplos de outras instituições observados no enquadramento deste estudo, levaram à formulação de uma hipótese para a BPMP em particular, a saber:

(31)

• As práticas comunicativas realizadas pela BPMP no âmbito das plataformas web, poderão ser repen-sadas de forma a melhor corresponderem às expectativas dos utentes desta instituição.

Para verificar se esta hipótese se confirmava, foi realizado um inquérito presencial aos utentes da BPMP, perspetivando identificar um conjunto de características sociodemográficas destes utentes, a sua familiarida-de com tecnologias web 2.0 e aspetos sobre a sua relação com a BPMP, nomeadamente a frequência com que visitavam esta instituição, o conhecimento que tinham sobre a utilização de determinadas plataformas web pela biblioteca, e suas considerações sobre uma eventual utilização de tecnologias web 2.0 pela biblioteca. Este inquérito era constituído por várias questões de resposta fechada, de escolha fixa e escolha múltipla, e duas questões finais de resposta aberta, abrindo um espaço para um maior desenvolvimento de ideias e sugestões do inquirido (Hansen et al., 1998).

Foram realizados inquéritos a 118 utentes da BPMP, tendo dois sido invalidados por ter sido questionada a fiabilidade das suas respostas. Assim, foram validadas e analisadas respostas de 116 inquéritos, sendo utiliza-do para o efeito o software Statistical Package for Social Sciences® (SPSS), versão 21.

(32)
(33)
(34)

1.1. A biblioteca pública e seu papel na sociedade

Sendo o objetivo desta investigação contribuir para possíveis soluções que melhor respondam e correspon-dam às necessidades dos cidadãos utentes e potenciais utentes de bibliotecas públicas portuguesas, através da utilização de media digitais de natureza participativa atualmente disponíveis, torna-se essencial definir o que se entende por biblioteca pública para clarificar a argumentação feita. São traçadas, assim, breves linhas sobre o que se entende por biblioteca pública e sobre a sua importância para o desenvolvimento da sociedade e dos cidadãos em particular.

Para a definição do que se entende atualmente por biblioteca pública recupera-se aqui a descrição feita pela International Federation of Library Associations - IFLA (Koontz & Gubbin, 2013) que a descreve como “uma organização criada, mantida e financiada pela comunidade, quer através da administração local, regio-nal ou central, quer através de outra forma de organização comunitária”, que “disponibiliza acesso ao conhe-cimento, à informação, à aprendizagem ao longo da vida e a obras criativas, através de um leque alargado de recursos e serviços, estando disponível a todos os membros da comunidade independentemente de raça, nacionalidade, idade, género, religião, língua, deficiência, condição económica e laboral e nível de escola-ridade” (p. 13). Tem como principal objetivo o fornecimento de “recursos e serviços em diversos suportes, de modo a ir ao encontro das necessidades individuais ou coletivas, no domínio da educação, informação e desenvolvimento pessoal, e também de recreação e lazer” (p. 13). Por ser um centro de informação de livre acesso e aberto a todos, pela diversidade de conteúdos e formatos que apresenta e pelo vasto conhecimen-to, ideias e opiniões que disponibiliza, assume especial relevância para o “desenvolvimento e manutenção de uma sociedade democrática” (p. 13). Enquanto equipamento municipal, torna-se fundamental para o desenvolvimento intelectual e cultural da comunidade onde se insere, devendo os seus materiais e serviços procurar servir primeiramente as necessidades e expectativas dessa comunidade.

As primeiras bibliotecas públicas abertas a todos os cidadãos, suportadas por fundos públicos e adminis-tradas como bens públicos, foram criadas nos países anglo-saxónicos, nomeadamente em Inglaterra e nos Estados Unidos, no início da segunda metade do século XIX (Harris, 1990; Melo, 2010). Designadas, en-tão, como public libraries, free libraries ou town libraries (Melo, 2010), estas bibliotecas surgiram associadas ao ideal de uma cidadania democrática, sendo o livre acesso à informação, ao conhecimento e à educação a todos os cidadãos particularmente valorizado. Outro fator determinante para o florescimento de bibliotecas públicas gratuitas nestes países foi o desenvolvimento tecnológico e industrial que marcou o século XIX, exigindo uma maior formação dos cidadãos para ampliar as suas competências.

(35)

Em Inglaterra, as primeiras bibliotecas públicas foram criadas no enquadramento de uma lei, de 1850, designada como Public Libraries Act, que autorizava as cidades inglesas com mais de 10.000 habitantes a cobrarem taxas para financiar a fundação de bibliotecas de livre acesso para todos e com serviços gratuitos (Harris, 1990; Melo, 2010). Esta lei vinha na sequência das observações feitas pelo Comittee on Public Libraries que considerava as condições do serviço bibliotecário de então precárias e recomendava a instaura-ção de bibliotecas públicas gratuitas em todo o país (Harris, 1990).

Nos Estados Unidos, a criação de legislação neste âmbito foi também determinante, tendo o estado de New Hampshire sido pioneiro ao permitir às cidades, em 1849, cobrarem taxas aos cidadãos perspetivando a implementação e manutenção de bibliotecas públicas (Harris, 1990).

A importância do papel das bibliotecas públicas no processo de democratização da sociedade americana e no seu sistema educativo (Melo, 2010) estava explícita no relatório que precedeu a fundação da Boston Pu-blic Library, considerada por diversos autores como a primeira biblioteca púPu-blica americana14 (Thompson,

1977), onde se podia ler:

Reading ought to be furnished to all, as a matter of publicly policy and duty, on the same principle that we furnish free education, and in fact, as a part and a most important part, of the education of all. For it has been rightly judge that – under political, social and religious institutions like ours – it is of paramount importance that the means of general information should be so diffused that the largest possible number of persons should be induced to read and understand questions going down to the ery foundations of social order, which are constantly presenting themselves, and which we, as a people, are constantly required to decide, and do decide, either ignorantly or wisely. (citado em Harris, 1990, p. 243)

A criação de bibliotecas públicas na Europa Continental, à imagem do modelo anglo-saxónico, não foi imediata e viu-se, por vezes, comprometida, em parte, “devido ao maior peso da conceção patrimonialista da cultura e do próprio conservadorismo político-social” (Melo, 2004, p. 20). O modelo de bibliotecas que mais se terá assemelhado, no séc. XIX, ao modelo de bibliotecas públicas anglo-saxónico foi o das bibliotecas populares criado com o intuito de educar e formar as massas populares. Não obstante, diferenciava-se nos princípios subjacentes à sua implementação, tendo como principais objetivos fornecer à classe operária um espaço de lazer alternativo que permitisse combater hábitos menos próprios como a frequência de tabernas ou casas de jogo, consumo de álcool e criminalidade, e não tanto a defesa do livre acesso à informação,

14 Embora seja unânime a importância da fundação da Boston Public Library e que esta se tornou numa referência da história das bibliotecas públicas americanas, existem divergências quanto a esta biblioteca ter sido, de facto, a primeira biblioteca pública deste país. Thompson (1977) refere-a como a primeira biblioteca municipal americana de serviços gratuitos, financiada por verbas oriundas de impostos, o que é também confirmado no site desta biblioteca (http://www.bpl.org/general/history.htm). Já Lerner (2005) e Harris (1990) avançam que esta não terá sido a primeira a ser suportada por fundos públicos. Estas divergências foram confirmadas por Loriene Roy (comunicação pessoal, 25 de Março, 2013) em entrevista exploratória. Não sendo este o objeto de estudo desta investigação, deixamos aqui o apontamento para a relevância desta biblioteca num período histórico em que são fundadas as primeiras bibliotecas públicas americanas.

(36)

cultura e formação, generalizado a todas as classes, como contributo para uma cidadania esclarecida e parti-cipativa na sociedade democrática (Melo, 2010).

Em 1931, Ranganathan, na sua obra The Five Laws of Library Science (1931), instituiu cinco leis da bibliote-conomia que assentavam precisamente nestes pressupostos, consagrando a biblioteca como um serviço para o cidadão, como mediadora do conhecimento e não como um depósito de livros, e com um papel ativo na promoção do desenvolvimento local a todos os níveis. Estas leis tornaram-se essenciais para a bibliotecono-mia, tendo vindo a desempenhar um importante papel no âmbito das bibliotecas públicas. Ditam estas leis que: “os livros são para usar” (p. 1) e, portanto, devem ser disponibilizados em livre acesso a todo e qualquer indivíduo, independentemente da sua condição; “a cada indivíduo o seu livro” (p. 74), porque o público não deve ser uniformizado, sendo que cada indíviduo tem necessidades de leitura e conhecimento diferentes e a biblioteca deve estar apta a essas diferenças e satisfazer essas necessidades; “a cada livro seu leitor” (p. 299) e, por isso, deve ser assegurado que cada livro encontra o seu leitor através de vários métodos, entre os quais a catalogação, uma ampla divulgação de conteúdos e a disponibilização das coleções em livre acesso para que o leitor as possa ver, descobrir novas obras e examiná-las livremente; “poupe o tempo do leitor” (p. 337), o que pressupõe a utilização de métodos que permitam ampliar a visibilidade das obras, como por exemplo o serviço de referência, a classificação e a catalogação de obras, a sua organização no espaço da biblioteca e livre acesso, para que cada leitor encontre rapidamente o que pretende e possa rentabilizar o seu tempo na prática da leitura; e “uma biblioteca é um organismo em crescimento” (p. 382) manifestado no aumento e atualização de coleções e respetiva catalogação, no crescente número de leitores, e na consequente evolução e adaptação de espaços e serviços, assumindo os bibliotecários um papel fundamental na gestão deste orga-nismo em crescimento.

Estes princípios, subjacentes ao modelo de bibliotecas públicas anglo-saxónicas, e ao que se entende atual-mente por biblioteca pública na Europa Continental, ficaram consagrados universalatual-mente em 1949, no Manifesto da Unesco The Public Library: A living force for popular education, onde a biblioteca pública foi proclamada como “uma força viva para a educação popular e para o crescimento de um entendimento inter-nacional, e deste modo para a promoção da paz” (Unesco, 1949, p. 1). Este manifesto concebia as bibliotecas públicas como um “agente democrático para a educação”, estabelecendo a gratuitidade dos seus serviços e disponibilização destes para toda a comunidade em termos equitativos, independentemente da sua “ocupa-ção, credo, classe ou raça” (p. 1). Atribuía-lhes uma função complementar à atividade escolar, cultivando o gosto pela leitura nas crianças e jovens adultos, e um papel essencial na aprendizagem contínua, ao longo da vida adulta. Estabelecia o livre acesso às estantes, a disponibilização de diferentes suportes (tais como livros, revistas, jornais, filmes ou música, entre outros) e diferentes serviços (entre os quais, por exemplo, exposi-ções, listas de obras, debates ou palestras).

Este manifesto, revisto em 1972 e atualizado em 1994, visando um melhor enquadramento face à evolução cultural e tecnológica, consubstanciou a natureza inclusiva da biblioteca, ao proclamar o livre acesso ao co-nhecimento e informação a todo e qualquer cidadão, mesmo aqueles que “por qualquer razão, não possam usar os serviços e os materiais correntes, como por exemplo minorias linguísticas, pessoas com deficiências,

Referências

Documentos relacionados

mais importante contradição social da produção capitalista: a divisão entre operários e capitalistas” (Tom Bottomore. Dicionário do pensamento marxista. O capital: crítica da

Os resultados obtidos na classificação histológica pela Working Formulation e pelo sistema Kiel modificado demonstraram que o grau intermediário de malignidade (Figura 1) foi o de

c) O professor terá garantia de emprego durante os 12 meses imediatamente anteriores à aquisição do direito à aposentadoria integral por idade ou por tempo de serviço, desde que

Vale ressaltar que a diretriz política da humanização passa a ser fundamental na formação dos residentes, uma vez que traduz os princípios e diretrizes do SUS em modos de operar

Três agentes disfarçados de traficantes de drogas entravam subindo as escadas do hotel; Alma, um jovem de apenas vinte e um anos de idade, cabelos cumpridos de cor preta, trajando

dos fatores abióticos.. A alta estação ocorreu de agosto a dezembro de 2002, ou seja, durante os 4-5 meses imediatamente subseqüentes ao final da dormência. Durante este período,

do problema referente ao nível de onhe imento do aprendiz.. Após o disparo desta transição, é. depositado uma  ha no lugar Pronto_Diagnosti ar_Problema da página

Dá-se o nome de vínculo a cada uma das restrições impostas por um apoio ao movimento da estrutura. Assim, ao impedir um movimento do ponto vinculado, uma articulação