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"You raise me up to walk on stormy seas" : pressão económica, sentido de pertença e bem-estar psicológico em famílias com jovens adultos

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

“You Raise Me Up to Walk on Stormy Seas”:

Pressão Económica, Sentido de Pertença e Bem-estar Psicológico

em Famílias com Jovens Adultos

Ana Rita Figueira Lopes

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA

“You Raise Me Up to Walk on Stormy Seas”:

Pressão Económica, Sentido de Pertença e Bem-estar Psicológico

em Famílias com Jovens Adultos

Ana Rita Figueira Lopes

Dissertação orientada pela Professora Doutora Carla Crespo

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/

Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

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O conteúdo desta dissertação reflete o trabalho e as interpretações do autor à data da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto concetuais como metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento posterior ao da sua entrega. Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve ser exercida com cautela e parcimónia. Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma resulta do seu próprio trabalho, contém contributos originais e são citadas todas as fontes utilizadas. O autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer conteúdos cuja reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de propriedade industrial.

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“This is what I know: In this life, a steady love and a place to call home, are far more precious than all the earthly possessions and wealth in the world.”

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Agradecimentos

A pedra à beira do caminho, para existir, precisa do Mundo. Só por hoje, eu agradeço… À Professora Doutora Carla Crespo, por estar sempre pronta a orientar e a expressar uma palavra vivificante, que permitiram avançar nas diversas etapas desta primeira viagem pelo mundo da investigação. Agradeço profundamente não só pela sua vontade em ajudar-me a chegar ao destino, como também por ter usufruído dos seus ensinaajudar-mentos, sorrisos e perseverança imprescindíveis durante o percurso.

À Drª Gabriela Fonseca, pela constante disponibilidade e simpatia, por me nutrir de uma motivação e conhecimentos decisivos nesta etapa. Por ser um exemplo de que a distância é mera ilusão na arte de poder auxiliar o outro.

À Drª Ana Tavares, pela surpreendente ajuda no aprimoramento deste estudo, produzindo respostas e soluções face às exigências que o compõem.

Às Professoras Doutoras Sistémicas, por oferecerem espaço à criatividade, magia e compreensão, ao aprofundamento das nossas aprendizagens e, sobretudo, ao demonstrarem que a nossa vida profissional e pessoal constitui-se numa complexa rede formada por laços.

À Professora Doutora Rosa Novo, pela perfumada partilha inesgotável de experiências, de sabedoria e estima. Por ser uma ávida aprendiz, capaz de encarar qualquer desafio pelos alunos. Agradeço por facilmente me ajudar a Crescer a todos os níveis.

À Joans, por seres a primeira pessoa que conheci na faculdade. Por seres “abraçável”, não somente pela doçura que emanas, como também por te fazeres presente em todas as horas. Por mais que percorramos caminhos diferentes, possuímos a vontade de dar ao outro o que de melhor temos e somos.

À Fii, companheira de aventuras sistémicas, por todas as vezes em que fomos as primeiras a chegar às aulas, pelos pequenos luxos que juntas partilhamos, bem como as tomadas de consciência inesperadas e as gargalhadas mais inusitadas. “Quando eu flor, quando tu flores, nós flores seremos!”

À Filó, pela maneira maternal com a qual nos brindas, pela permeabilidade em descobrir que a vida académica é importante, mas além disso, há sistemas deveras fundamentais para que o Todo se edifique harmoniosamente. Por seres exemplo de que a insegurança

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se pode transformar em força.

À baby Ju, por me abrires inteiramente as portas da tua vivência na faculdade, da tua casa e da tua Vida. Agradeço pela tua amizade que tanto contribuiu para a minha expansão de horizontes. Por te mostrares disposta a caminharmos juntas rumo aos objetivos e por quereres abrir mão das certezas.

À madrinha linda, que se derrete perante um chocolate, pela garra e empenho que imprimes no teu trabalho e na Vida. Por acreditares em mim, desde sempre. Por juntas vivenciarmos as angústias e as verdades que nos ecoam. Por saberes ser abrigo. Agradeço pela tua gratidão.

À afilhada mais dedicada, peça fundamental neste processo criativo, mas sobretudo nesta existência humana. Por me espelhares nas minhas potencialidades e vulnerabilidades. Por me incentivares, hoje e sempre, nesta eterna busca da construção de um mundo mais livre e humano.

À afilhada mais recente, chave mestra que abre todas as portas da Psicologia, mas principalmente do meu coração. Por estares disponível, por sorrires para a vida, por viveres calma e sabiamente, por estenderes a tua mão para os outros.

Aos colegas do núcleo de sistémica, por colaborarem nas diversas fases do mestrado, sempre com a máxima de que podemos vivenciar algo de puro, luminoso e reconfortante, se nos unirmos e empenharmos nesta Rede Sistémica. À Lexi, pela sua discreta e criativa presença; À XanaJoni, pela tua imensa dedicação e pela nossa eterna irmandade; À Bea, pela vontade de ser melhor; À Catarina, pela amizade e espírito de sacrifício; À

Carmencita, pelas surpresas diárias e amizade; À Carolina, pelo dom da comunicação e

de saborear o momento; À Cláudia, pela tua organização e pela confiança que sempre depositaste; À Filipa pelo teu sorriso terno e bom-humor subtil; Ao Gonças, pela tua calma e sentido artístico; Ao Hugo, pela viajada experiência de vida; À Inês Baptista, pela assertiva e honesta presença; À Inês Filipe, pelo encanto e amizade; À Inês Ribeiro, pela disponibilidade e sorriso meigo; À Joana, pelo dom da procura de soluções e sorriso aberto; À Margarida, pela boa disposição e simplicidade; À Mafalda, pela tua honestidade e descontração; À Martinha loira, pela tua natureza observadora e delicada; À Martinha, pela alegria contagiante e pela nossa amizade; À Rita, pela tua sensibilidade e expressividade; À Sara, pela tua dedicação descomunal; À Teresa, pelo encorajamento e amizade.

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Aos colegas e amigos que a faculdade me trouxe, o meu profundo reconhecimento pelo esforço face aos desafios. Senti que esse caminho fortaleceu-se a cada conquista. Cada um, à sua maneira, traz consigo verdadeiras pérolas, mesmo que ainda não vislumbradas, permitem evoluir, caminhando seguros, com a certeza de que tudo é possível. Permite ainda que contemple a faculdade como uma Casa.

A todas as famílias que participaram, pela ajuda preciosa neste estudo e, consequentemente, contribuíram para olhar para a Psicologia como uma Ciência, revelando-se esta em constante mutação.

À minha Avó, pelo seu exemplo de serenidade, força e mente aberta. Por naturalmente não esquecer de olhar o outro através da “luz do coração”, partilhando uma palavra amiga e um gesto de solidariedade. Agradeço por me considerares a Luz da tua Vida, principalmente quando a escuridão toma conta de ti.

Aos meus pais, pela confiança nas minhas decisões, proporcionando assim momentos que jamais esquecerei. Por me apoiarem da melhor maneira possível, por convosco conseguir ser eu mesma.

Aos Caríssimos, mestres do meu caminho e testemunhas da mais alta poesia existente na minha respiração, agradeço pela infatigável amizade ao longo dos tempos. Por todos os domingos com alma, que foram fonte de inspiração e renovação, não só para esta etapa da vida académica, mas também para cuidar de um jardim cada vez mais florido de cor e alegria.

Aos amigos setubalenses, que me acompanharam em várias fases na procura de saber o que ambicionava para o futuro e muitos constituíram-se um recurso de orientação imparcial.

Aos amigos e família espalhados pelo país e pelo Mundo, pela amabilidade, preocupação e força no decorrer da minha jornada.

A todos os seres maravilhosos que, pelo menos num momento, zelaram por mim neste vasto Universo.

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Índice

Introdução ...1

Enquadramento Teórico Famílias e Pressão Económica ... 3

Famílias com Filhos Jovens Adultos ... 5

Sentido de Pertença ... 7 Bem-Estar Psicológico ... 9 O Presente Estudo ... 10 Método Participantes ... 11 Procedimento ... 11 Instrumentos ... 12 Resultados Análises de Correlação ... 14 Análise de Mediação ... 17 Discussão Limitações e Futuras Direções ... 21

Conclusão ... 23

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Lista de Tabelas e Figuras

Tabela 1 – Estatísticas descritivas e a matriz de correlações entre as variáveis

estudadas.

Figura 1 – Modelo dos efeitos mediadores do bem-estar psicológico dos pais na relação

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Resumo

As famílias portuguesas têm sido afetadas pela situação de crise económica mundial, sendo importante perceber o impacto do contexto económico adverso na experiência psicológica individual. O presente estudo teve como principal objetivo compreender as associações entre a pressão económica, o bem-estar psicológico e o sentido de pertença em pais e filhos em famílias com filhos jovens adultos. A investigação prévia tem dado pouca ênfase à relação entre estas variáveis, tanto ao nível individual como familiar. Existe, adicionalmente, uma lacuna na investigação sobre a pressão económica nesta etapa do ciclo vital da família. Neste estudo participaram 50 famílias portuguesas, entre as quais 27 famílias em situação de primeiro casamento, 4 famílias reconstituídas e 19 famílias monoparentais. Por forma a avaliar as variáveis do presente estudo, foi utilizado o Questionário de Dificuldades Económicas (Conger & Elder, 1994; Francisco & Pedro, 2015), a Escala de Sentido de Pertença (Lee, Draper & Lee, 2001; Francisco, Crespo, Rocha, Malaquias & Dias, 2011) e a Escala do Bem- Estar Psicológico (Ryff e Keyes, 1995; Novo, 2004) Os resultados demonstraram não existirem correlações significativas entre a perceção de necessidades materiais insatisfeitas e o sentido de pertença ou o bem-estar psicológico nos filhos. Verificou-se uma correlação positiva forte entre o sentido de pertença dos jovens e o seu bem-estar psicológico. Quanto às correlações diádicas entre resultados de pais e de filhos, encontraram-se correlações positivas fortes entre as necessidades materiais insatisfeitas percebidas pelos filhos e as percebidas pelas mães e pelos pais. Relativamente às díades pais-filhos, o sentido de pertença dos filhos estava positiva e fortemente correlacionado com o sentido de pertença e o bem-estar psicológico dos pais do sexo masculino. O bem-estar psicológico de pais e filhos estava também positivamente correlacionado. Finalmente, verificou-se que o bem-estar psicológico dos pais era um mediador da relação entre o sentido de pertença dos pais e bem-estar psicológico dos filhos. Da discussão dos resultados à luz de teorias do desenvolvimento individual e familiar, conclui-se sobre o impacto da crise económica nas famílias e derivam-se implicações para o acompanhamento psicológico com famílias com jovens adultos, na tentativa de impulsionar o sentido de pertença e bem-estar psicológico de cada elemento.

Palavras-chave: Pressão económica, sentido de pertença, bem-estar psicológico,

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Abstract

Families have been increasingly affected by the worldwide economic crisis. This has led to an urgent need for better understanding its impact on individual psychological experiences. The main goal of this study was to understand the associations among economic pressure, psychological well-being and social connectedness in parents and children in families with young adults. Presently studies focusing on these variables at a family and individual level are scarce. Additionally, there is a gap in the literature concerning the study of economic pressure in this phase of the family life cycle. Fifty Portuguese families participated in this study, among which 27 were intact families, four were step-families and 19 were single-parent families. In order to evaluate these variables, we used the “Economic Difficulties Questionnaire”, (Conger & Elder, 1994; Francisco & Pedro, 2015), the Social Connectedness Scale (Lee, Draper & Lee, 2001; Francisco, Crespo, Rocha, Malaquias & Dias, 2011), and the Psychological Well-Being Scale (Ryff & Keyes, 1995; Novo, 2004). The results showed no significant correlations among the young adults’ perceptions of the unmet material needs and social connectedness, or psychological well-being. A strong positive correlation was found between social connectedness in young adults and their psychological well-being. With regard to the correlations between parents and children, strong positive correlations were found between the unmet material needs perceived by the children and the ones perceived by the mothers and fathers. With regard to the children-fathers’ dyads, the children’s social connectedness was positive and strongly correlated to the fathers’ social connectedness and to their well-being. The psychological well-being of the parents and children was also positively correlated. Furthermore, the fathers’ psychological well-being was a mediator of the link between the fathers’ social connectedness and the children’s psychological well-being. Results are discussed in light of individual and family development theories, considering the individual and family impact of a macroeconomic crisis. Implications for the psychological support with these families, as a way to improve the social connectedness and the psychological well-being of each element are presented.

Key words: Economic pressure, social connectedness, psychological well- being

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Introdução

A vida das famílias portuguesas tem, desde 2008, sido exposta a desafios resultantes da crise económica mundial. Sendo as famílias subsistemas inseridos no macrossistema socioeconómico, a investigação em torno deste tópico adquire particular relevância na atualidade (Fonseca, Crespo, Cunha & Relvas, 2016). Vários estudos têm examinado as repercussões da pressão económica nas famílias, sendo dada ênfase à etapa do ciclo vital das famílias com filhos adolescentes (Fonseca et al., 2016). Por sua vez, a etapa das famílias com jovens adultos tem sido descurada no que respeita aos estudos desta área (Stein et al. 2011).

Estas famílias apresentam tarefas desenvolvimentais particulares, envolvendo movimentações constantes que desafiam a estrutura da família, não somente para os pais que necessitam de preparar as condições necessárias à saída dos filhos de casa, de aprender a dar um novo significado à sua relação de casal e de desenvolver a comunicação de adulto para adulto entre os filhos e os pais, como também para os filhos jovens adultos, já que investem numa diferenciação do eu bem definida face à família de origem, a capacidade para desenvolver um relacionamento íntimo com os pares e a aceitação da responsabilidade emocional do eu (Relvas, 2004; Carter & McGoldrick, 1995). Arnett (2000) alerta que o constrangimento de estar sob um contexto de crise económica revela-se mais proeminente para as famílias com filhos jovens adultos, na medida em que eles planeiam ingressar no ensino superior, no mercado profissional e aprimorar a qualidade das suas relações e da sua saúde. Hoje em dia, os jovens adultos têm sido confrontados com um ambiente económico, social e cultural diferente em comparação com os jovens de gerações anteriores. Estes jovens vivem um tempo em que há oportunidades de trabalho reduzidas, aumento da diversidade e rápidas mudanças ao nível tecnológico. A partir da recessão económica, passou a ser comum os filhos residirem com os pais, sendo necessário conhecer os recursos que estas lhes podem fornecer (Settersten & Ray, 2010).

Tendo por base o estudo longitudinal de desenvolvimento adulto, em Harvard, iniciado em 1938 e que ainda permanece a decorrer, Waldinger, em 2015, apresenta na sua TedxTalk, que não são os bens materiais e a fama imprescindíveis para o bem-estar psicológico e saúde do ser humano, mas sim a qualidade das suas relações (Vaillant,

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2 2012). As pessoas que são apoiadas por relações próximas com amigos, família ou membros de um grupo da comunidade são menos vulneráveis a doenças e à morte prematura (Myers, 2000; Seppala, Rossomando, & Doty, 2013).

Apesar das evidências, persiste a escassez de estudos que englobem a pressão económica sentida pelas famílias com filhos jovens adultos, o sentido de pertença e bem-estar psicológico dos seus elementos. A relação entre estas variáveis é o foco deste estudo, envolvendo todos os elementos da família.

Este estudo pretende ser um contributo inovador e relevante na atual conjuntura nacional e internacional influenciada pela crise e instabilidade macroeconómicas. É neste contexto que surge a frase da música “You raise me up” de Josh Groban como título deste trabalho. A frase “You raise me up to walk on stormy seas” – poderia ter sido proferida por um jovem adulto contemporâneo e dirigida aos seus pais e à rede que estabelece o seu sentido de pertença. Adicionalmente, “os mares tempestuosos” podem aqui retratar tanto a vivência da crise económica como a instabilidade caraterística desta fase de desenvolvimento, sendo que o seu bem-estar psicológico depende da forma mais ou menos adaptativa e acompanhada com a qual “caminha sobre estes mares”.

Esta dissertação encontra-se estruturada em cinco partes: 1) introdução; 2) enquadramento teórico, onde serão definidos os constructos de pressão económica, bem-estar psicológico e sentido de pertença, tendo por base as particularidades do desenvolvimento do jovem adulto e onde se definem os objetivos e hipóteses do estudo; 3) metodologia utilizada, incidindo na caraterização dos participantes, o procedimento e os instrumentos adotados; 4) resultados; 5) discussão geral dos resultados, incluindo ainda as limitações do estudo, pistas de investigação futuras e conclusão.

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Enquadramento Teórico Famílias e Pressão Económica

A família é o contexto das primeiras formas de interação afetiva. É neste contexto que são fornecidas as ferramentas essenciais ao desenvolvimento, já que a família apresenta um papel decisivo na educação dos filhos, socialização, proteção e segurança, sendo prioridade máxima a estabilidade emocional de todos os elementos (Carr, 2006).

Na perspetiva sistémica, a família é vista como “um sistema, um todo, uma globalidade” (Relvas, 1996, p.12), no qual se desenvolvem relações e emoções independentes de vínculos biológicos (Alarcão, 2000; 2006).

Para Macedo (1993), é a matriz de identidade pessoal e social, na qual se desenvolve um sentimento de pertença, bem como o sentimento de independência e autonomia baseado no processo de diferenciação, que fornece a consciência de si mesmo como alguém diferente e separado do outro. Segundo Minuchin (1974), o pertencer é elaborado pela participação da criança nos vários grupos familiares, ao acomodar-se às regras, padrões interacionais e ao compartilhar a cultura particular da família que se mantém através do tempo.

De acordo com o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner (1979), as famílias são microssistemas que se inscrevem em contextos mais vastos, influenciando e sendo influenciadas pelas condições socioculturais e políticas de cariz mais macro. À luz deste modelo, torna-se fácil compreender que a crise macroeconómica despoletada em 2008 poderá comprometer funções primordiais do microssistema família, nomeadamente a de garantir a subsistência dos seus elementos (Voydanoff, 1990). Com efeito, com a crise macroeconómica verificou-se um aumento no desemprego, bem com uma diminuição de rendimentos mensais e um aumento da dívida nas famílias (Moore & Palumbo, 2009).

A um nível mais específico, o Modelo de Stress Familiar Económico (FESM; Conger & Elder, 1994) postula que as famílias são influenciadas de uma forma negativa pela adversidade económica em contexto de crise, uma vez que decréscimos nos seus rendimentos ou mudanças negativas no trabalho podem conduzir a dificuldades económicas diárias (e.g., incapacidade de pagar as contas, comprar alimentos ou roupa, cortes nas despesas), e que, por sua vez, podem originar stress emocional, perda de

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4 energia, sentimentos de tristeza e de zanga, pessimismo em relação à condição futura, assim como um declínio nas relações interpessoais, podendo evoluir para implicações não só no bem-estar dos adultos como também das crianças, caso possuam filhos a cargo (Conger & Donnellan, 2007).

Neste sentido, pode-se considerar que as famílias em tempos de crise macroeconómica experienciam pressão económica, um dos constructos centrais do FESM, o qual não é simplesmente uma impressão subjetiva individual, mas um verdadeiro descritor de eventos adversos que ocorrem na vida das pessoas quando se encontram numa situação financeira difícil (Conger, Conger & Martins, 2010; Conger et al., 2002). Previamente, outros autores (e.g., Guttman & Eccles, 1999; Vinokur et al., 1996; Voydanoff, 1990), fizeram a distinção entre os conceitos de pressão económica e de tensão económica, defendendo que a primeira se operacionaliza através das experiências objetivas em vez das avaliações subjetivas das circunstâncias económicas, como é o caso das medidas de tensão. Posto isto, a pressão económica é representativa das experiências pesadas que dão significado psicológico à vivência da situação económica (Conger et al., 1994, 1999). Assim, a pressão económica reflete as frustrações diárias que podem traduzir-se na incapacidade de pagar contas ou de responder às necessidades básicas (e.g., alimentação, vestuário), podendo, assim, estar associada a sintomas de depressão, ansiedade, hostilidade e dificuldades sociais (Conger & Donnellan, 2007; Falconier & Epstein, 2011). Além disso, a pressão económica não apresenta somente consequências ao nível individual, mas também ao nível conjugal e familiar. Ao nível da relação conjugal, estudos empíricos demonstraram que a perceção de pressão económica está associada a intensificação do conflito conjugal e a insatisfação no relacionamento (Cui, Donnellan, & Conger, 2007). Ao nível familiar, e de acordo com Mistry, Benner, Tan e Kim (2009), as perceções dos adolescentes relativamente aos problemas económicos vividos advêm da pressão económica sentida pelos pais e leva a problemas de comportamento e a níveis mais reduzidos de bem-estar psicológico. A investigação tem demonstrado que o impacto da pressão económica reflete-se também ao nível do conflito entre pais e filhos, acarretando consequências negativas para os filhos, particularmente o comprometimento das suas capacidades cognitivas e sociais, assim como do sucesso académico (Conger et al., 2010). Adicionalmente, quando confrontadas com o aumento da pressão económica, as famílias tendem a isolar-se da família alargada e dos amigos (Conger & Elder, 1994;

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5 Conger et al., 2002). Os resultados de Robila e Krishnakumar (2005; 2006) são concordantes com esta hipótese, uma vez que indicam uma relação entre elevados níveis de pressão económica e uma baixa perceção de apoio social, o que pode relacionar-se com o papel parental que o casal desempenha.

Segundo Gomes e Pereira (2005), para uma família com níveis elevados de pressão económica, a casa representa um espaço de privação, de instabilidade e de reduzidos laços afetivos. Quando a casa deixa de ser um espaço de proteção para ser um espaço de conflito, a superação desta situação ocorre de forma muito fragmentada, uma vez que esta família não dispõe de redes de apoio para enfrentar as dificuldades, resultando, possivelmente, na sua desestruturação. Por sua vez, o facto das necessidades da família não estarem a ser sustentadas compromete a harmonia na dinâmica familiar, sendo necessário um esforço acrescido para se constituir impulsionadora de um desenvolvimento harmonioso e adequado para todos os seus membros.

Porém, apesar da crise económica ser comumente associada a resultados negativos, existem algumas exceções que apontam para outra perspetiva. Por exemplo, Davis e Mantler (2004) optam por conotar esta experiência vivida, de forma positiva e alertam para a possibilidade de existir mudanças vantajosas, nomeadamente encontrar um emprego mais satisfatório, promover novas perspetivas e adquirir competências na gestão das despesas pessoais.

Famílias com Filhos Jovens Adultos

A investigação tem vindo a demonstrar que, é na fase de desenvolvimento entre os 18 e 29 anos, que os indivíduos estão mais predispostos a criar um futuro que lhes permita satisfazer as suas necessidades nas diversas áreas da sua vida (Arnett, 2014). Para o mesmo autor, este período é visto como a etapa central na exploração da identidade, sendo também marcada por instabilidade. Por um lado, é considerado um prelúdio das várias possibilidades que o jovem tem para fazer escolhas que serão o fundamento para a vida adulta, aprendendo mais sobre quem é, o que quer ser e o que pretende na vida. Por outro, estas explorações podem tornar este período muito instável, por existirem mudanças nos diversos contextos onde atua, nomeadamente a escola/universidade, o trabalho, a casa e as relações pessoais e familiares. Esta instabilidade muitas vezes não é voluntária, sendo que depende sobretudo das condições

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6 externas ao indivíduo, as quais poderão comprometer o seu bem-estar psicológico (Arnett, 2014).

A nível familiar, a família de origem do jovem adulto está a vivenciar o quinto estádio do seu ciclo vital, sendo necessário adaptar-se a esta nova fase. É importante que os pais facilitem a saída dos filhos de casa, aprendam a redefinir a relação conjugal (se existir), a atingir o nível de comunicação entre pais e filhos como adultos iguais, a permitir a entrada de novos elementos no sistema e aprender a lidar com a morte dos avós e o seu próprio envelhecimento (Relvas, 2004). De acordo com Arnett (2000), viver num contexto de crise macroeconómica pode ser particularmente desafiante para famílias cujos filhos têm como objetivos imediatos procurar uma educação superior, entrar no mercado de trabalho, desenvolver as suas relações pessoais e hábitos de saúde. Painter (2005) corrobora a ideia de instabilidade associada ao período da emergência dos jovens adultos, ao afirmar que pessoas que estão a viver essa etapa da vida têm a maior frequência de distress psicológico do que qualquer outro grupo etário. Uma das possíveis explicações para este resultado é o facto de os jovens adultos serem um grupo muito afetado pelos efeitos das mudanças resultantes de um contexto de adversidade económica (Greenleaf, 2014; Stein et al., 2011). Isto poderá levar a um comprometimento das tarefas de desenvolvimento características desta etapa, nomeadamente, a autonomia profissional e financeira, bem como a consequente saída de casa dos pais. Quando tal não ocorre, o jovem permanece em casa dos pais, e não só alcança tardiamente a sua estabilidade profissional, como também pode comprometer a sua instabilidade emocional (McCullough & Rutenberg, 2007).

É fundamental expor a diferença existente entre os jovens que veem os pais, como fonte de apoio, daqueles que não têm qualquer tipo de suporte. Para os jovens cujo apoio dos pais é notório, esta fase pode espelhar uma oportunidade de crescimento e de autoconhecimento, visto que não precisam de se preocupar constantemente com as responsabilidades da família. Para aqueles que não contam com esse apoio, transforma- se numa etapa marcada por um esforço acrescido na aquisição de competências exigidas para conseguir um trabalho que possa sustentar a família e uma necessidade maior de sentirem que exercem controlo no meio onde atuam (Furstenberg et al, 2004). Para além deste aspeto, Coelho e Estramiana (2014) defendem que os fatores mais estruturais (e.g., inserção no mercado de trabalho) não são suficientes para compreender a complexidade e as dimensões que atualmente existem perante esta fase, sugerindo a pertinência do

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7 papel da própria cultura do jovem, as representações idealizadas sobre a juventude, e a perceção que os jovens possuem acerca da família, do matrimónio e da parentalidade.

Os jovens têm presente as trajetórias que os seus pais construíram, igualmente as questões que enfrentaram na época em que começaram a se sentir adultos. No entanto, não existe entre os pais, o sentimento partilhado de que esta fase de desenvolvimento é potencialmente complexa e desafiadora (Arnett, 2000). Este período do curso de vida terá ganho contornos particulares nas últimas gerações: não haverá como compartilhar com os pais uma crise que eles não tenham experienciado com a mesma intensidade. Larson (1990) afirma que os jovens adultos passam o seu tempo livre sozinhos mais do que as outras pessoas, a não ser os idosos, e passam mais tempo sozinhos nas suas atividades produtivas (na escola e no trabalho) do que qualquer grupo etário abaixo dos

40. Assim, tal como descrito pela literatura, expressões como a angústia, a indecisão e a incerteza de um compromisso com o presente e o futuro, estão altamente presentes no quotidiano dos jovens adultos na atualidade.

Sentido de Pertença

Sentir que se faz parte de um grupo é uma necessidade do ser humano (Myers, 2000); por essa razão, os indivíduos procuram vivências sociais, nomeadamente a manutenção de amizades, a construção de novas relações e a realização de atividades em grupo (Baumeister & Leary, 1995). Para estes autores, a necessidade de pertencer corresponde ao grau em que a pessoa possui um número suficiente de diferentes relações pessoais, que permitem uma partilha de informação, apoio emocional e ajuda material; é essencial criar, sobretudo, um sentido de pertença.

Lee & Robbins (1998, p. 338) definiram social connectedness1 como “a consciência subjetiva de se estar numa relação próxima com o mundo”, não apenas com os outros mas também com todo o mundo social, uma vez que inclui amigos próximos, estranhos e comunidade. De acordo com Williams e Galliher (2006), a social

connectdness resulta da acumulação de experiências do passado e do presente e é

compreendida como uma diferença individual que determina a perceção subjetiva acerca do mundo. Quando os indivíduos se sentem afastados da esfera social ao seu redor, apesar de terem familiares e amigos próximos, o sentido de pertença pode estar

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8 ameaçado ou em falta (Lee & Robbins, 1998). Esta ideia surge também na definição de conexão (connection), um conceito próximo proposto por Barber e Schluterman (2008) para a vivência da adolescência. Estes autores consideraram que a conexão pode ser vista como a) a natureza ou qualidade da relação; b) o estado psicológico subjetivo (afetivo ou cognitivo) mantido pelo adolescente acerca de uma relação; e c) a combinação de estados psicológicos e comportamentos específicos para influenciar esses estados. Também é remetida, sobretudo, para os laços formados nas relações e distinguem os seus vários contextos, tais como uma única pessoa, um grupo ou uma instituição.

As pessoas que reportam de um grau elevado de sentido de pertença possuem um sentimento de proximidade absoluta com as outras pessoas, identificam-se espontaneamente com elas, expandindo e participando em grupos ou atividades sociais.

(Lee, Draper, & Lee, 2001). Além disso, o sentido de pertença conduz ao sentimento de proteção por parte do indivíduo face a eventos de vida stressantes, bem como a capacidade de lidar melhor com essas circunstâncias desafiantes (Myers, 2000). Por outro lado, um sentido de pertença reduzido faz com que as pessoas sejam incapazes de fazer uma gestão adequada das suas necessidades e sentimentos, podendo conduzi-las a uma baixa autoestima, ansiedade e depressão; além disso, pode estar associado a um nível de confiança interpessoal também diminuto, levando a comportamentos específicos associados a resultados negativos, nomeadamente o evitamento ou o abandono de oportunidades sociais (Lee, Draper, & Lee, 2001).

Whitlock (2006; 2007) acrescenta que o sentido de pertença não é meramente recebido, através do envolvimento e do cuidado, mas apresenta uma natureza de reciprocidade. Esta reciprocidade é muito importante para a saúde e bem-estar dos indivíduos. Contudo, as pessoas que vivem em condições de pobreza, por exemplo, podem sentir um desequilíbrio entre o apoio que transmitem aos outros e o apoio que recebem (Moskowitz, Vittinghoff, & Schmidt, 2013).

Na última década, vários estudos têm dado especial atenção ao sentido de pertença, evidenciando as suas associações positivas ao bem-estar psicológico de crianças e adolescentes (Spencer e Lewis, 2001; Griffiths et al, 2007; Bernat e Resnick, 2009; Jose, Ryan & Pryor, 2012; Sieving et al, 2017). Adicionalmente, o sentido de pertença tem sido também considerado como um fator impulsionador do ajustamento e do bem-estar em jovens adultos (Rossi, Stratta, & Capanna, 2012), embora seja pouco

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9 enfatizada a relação entre estas variáveis nos jovens adultos. Diversos autores (Iwaniec, 2006; Lee, 2010; McLaren & Challis, 2009; Scannapieco & Connell-Carrick, 2005) referem que o sentido de pertença desempenha um papel protetor, contribuindo para amortecer resultados de adaptação negativos em condições adversas (Duru, 2008; Lee, Dean, & Jung, 2008; Thoits, 2011; Yoono & Lee, 2010).

Bem-Estar Psicológico

Foi somente durante a década de 70 do século passado, aquando da mudança de paradigma entre os investigadores para um domínio mais positivo da saúde mental, que surgiu o interesse no que respeita ao bem-estar. Desde então, têm-se desenvolvido vários estudos que exploraram a evolução da definição deste conceito, bem como os seus principais correlatos.

Ryff e Keyes (1995) consideraram que o conceito de bem-estar abrange duas áreas diferenciadas: o bem-estar subjetivo (BES), que se refere à dimensão psicossocial, considerando-se aqui a satisfação com a vida, o afeto positivo e o afeto negativo; e o bem-estar psicológico (BEP), que abrange dimensões psicológicas importantes para o desenvolvimento harmonioso do ser humano. Novo (2003), a propósito do conceito de BEP, considera que este advém de uma orientação teórica humanista, situando assim o bem-estar num conjunto de dimensões globais da personalidade do indivíduo, sendo estas basilares para um funcionamento psicológico adequado.

Mais concretamente, no âmbito do BEP, os autores consideravam que este constructo inclui seis dimensões, que avaliam aspetos dos domínios cognitivo e afetivo (Ryff, 1989 a,b; 1995): 1) Aceitação de si, como uma dimensão indispensável da saúde mental, no que concerne ao reconhecimento dos múltiplos aspetos do self, das qualidades pessoais, quer positivas, quer negativas; 2) Autonomia, que reflete o sentido de autodeterminação, independência face às pressões exteriores e autocontrolo do comportamento; 3) Domínio sobre o meio, não traduzindo apenas a capacidade de adaptação face aos condicionamentos externos como também o poder de gerir e mudar as exigências ambientais; 4) Relações positivas com os outros, dimensão que reflete o envolvimento em relações interpessoais calorosas, empáticas e íntimas; 5) Propósito na vida, que traz ao indivíduo a capacidade para atribuir e construir um significado maior para a sua vida, através das metas estabelecidas; e 6) Crescimento pessoal, tratando-se do funcionamento ótimo da personalidade, que requer não apenas as características

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10 acima referidas, como também uma contínua e ávida expansão. Em suma, o modelo de BEP concede ao indivíduo a consciência dos seus recursos psicológicos, em vários domínios do seu desenvolvimento humano, permitindo assim mediar a sua relação consigo mesmo e com os outros.

Neste estudo, torna-se relevante estudar o bem-estar psicológico pelo fato de serem inexistentes estudos em jovens ou adultos; os existentes focam sobretudo a área do bem-estar subjetivo, nomeadamente operacionalizada na variável satisfação com a vida. Para Novo (2003), o bem-estar não só traz subentendida a ideia de descoberta, como também inclui a construção da identidade e da personalidade. Poucos são os estudos que avaliam o bem-estar psicológico de diferentes elementos numa família. Os três principais determinantes que influenciam a maneira como os progenitores lidam com os seus filhos são: a personalidade e o bem-estar psicológico dos progenitores, as características do filho e o contexto social mais amplo no qual estas relações estão inseridas (Belsky, 1984).

O Presente Estudo

O presente estudo teve como principal objetivo analisar as associações entre a pressão económica, o bem-estar psicológico e o sentido de pertença em famílias com filhos jovens adultos. Para tal, mais especificamente, investigou-se a associação entre a pressão económica – operacionalizada através do indicador necessidades materiais insatisfeitas –, o sentido de pertença e o bem-estar dos pais, das mães e dos jovens adultos a nível individual e diádico (i.e., associações entre variáveis do próprio e de outro elemento familiar). Além disso, pretendeu-se especificamente analisar o papel mediador do bem-estar psicológico dos pais, na relação entre o sentido de pertença dos pais e o bem-estar psicológico dos filhos.Com base na literatura revista, não existem estudos em que relacionem estas variáveis ao nível diádico e familiar, o que constitui uma mais-valia da presente investigação. Adicionalmente ao considerar a família como um todo, é possível obter a perceção de vários elementos da família e não apenas de um elemento isolado. Mais concretamente, este estudo pretendeu averiguar as seguintes hipóteses:

Hipótese 1. A perceção das necessidades materiais insatisfeitas está associada a a) níveis mais reduzidos de sentido de pertença e b) níveis mais reduzidos de bem-estar psicológico em jovens adultos e seus pais/mães.

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11 Hipótese 2. Níveis mais elevados de sentido de pertença estão associados a níveis mais elevados de bem-estar psicológico em jovens adultos e seus pais/mães.

Hipótese 3. Níveis mais elevados de sentido de pertença dos pais/mães estão associados ao bem-estar dos filhos, através dos seus próprios níveis de bem- estar.

Método Participantes

Neste estudo, participaram 36 tríades (jovens adultos e ambos os pais), nove díades (jovens adultos e um dos pais) e cinco jovens adultos. Relativamente à caraterização dos tipos de família, 27 jovens adultos provinham de famílias de primeiro casamento, quatro de famílias reconstituídas, nas quais três eram compostas pelo padrasto, e, por último, 19 de famílias monoparentais, sendo 14 compostas pela mãe. Os jovens adultos nesta amostra tinham idades compreendidas entre os 18 e os 28 anos (M = 21.8; DP = 2.11), sendo a maioria do sexo feminino (n = 35, 70%). Todos eram solteiros e, na sua maioria, estudantes (n = 39, 78%), sendo que 46% completaram o 12º ano e 44% tinham terminado a licenciatura à data deste estudo.

O grupo das mães era composto por mulheres entre os 41 e os 63 anos (M = 50.9;

DP = 4.26). A maioria encontrava-se casada (n = 31, 68.9%), tinha completado o 12º ano

(n = 21, 46.7%), e encontrava-se empregada a tempo integral (n = 31, 70.5%). No que concerne ao grupo dos pais, este era formado por indivíduos com idades compreendidas entre os 43 e os 68 anos (M = 52.4; DP = 4.45). A maioria encontrava-se casada (n = 30; 83.3%), tinha concluído o 12º ano (n =10; 27.8%) e estava empregada a tempo integral (n = 29; 80.6%).

Procedimento

Este estudo está inserido numa investigação mais ampla sobre a vivência das famílias portuguesas no contexto de crise macroeconómica que tem sede na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Relativamente à amostra, o critério de inclusão

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12 para as famílias era serem uma família na qual houvesse pelo menos um filho jovem adulto entre os 18 e os 29 anos de idade (Arnett, 2014). A recolha de amostra foi efetuada a partir da seleção por conveniência, entre Junho e Dezembro de 2016. As famílias foram contactadas pela investigadora e informadas acerca dos objetivos da investigação, da duração do preenchimento dos questionários, bem como do caráter voluntário da participação. Assegurou-se a confidencialidade dos dados e o fato de estes serem tratados pelos investigadores apenas de forma coletiva. Estas informações eram disponibilizadas no consentimento informado fornecido a todos os participantes. Nas instruções que antecediam o protocolo de investigação, solicitava-se aos participantes que preenchessem os questionários sozinhos, sem interferência dos restantes familiares. Após o seu preenchimento, os participantes colocaram os protocolos num envelope selado que devolveram à investigadora.

Instrumentos

Questionário Sociodemográfico

No sentido de se caracterizar os participantes do estudo, foi aplicado um questionário sociodemográfico, com vista a identificar aspetos como sexo, idade, estado civil, nível de escolaridade, situação laboral atual e a composição do agregado familiar.

Questionário de Dificuldades Económicas

Este é um questionário de autorrelato desenvolvido por Conger & Elder (1994), formado por oito escalas, sendo que quatro permitem operacionalizar o constructo de pressão económica. Foi adaptado para Portugal por Francisco & Pedro (2015). No presente estudo, optou-se pela utilização de apenas um dos indicadores do constructo pressão económica, as necessidades materiais insatisfeitas, 7 itens, como por exemplo “Temos dinheiro suficiente para ter uma casa adequada à nossa família” e “Temos dinheiro suficiente para comprar a comida que precisamos.” A resposta aos itens desta escala é efetuada a partir de uma escala de Likert de 1 a 5, correspondendo 1 a Discordo totalmente e 5 a Concordo totalmente. Neste estudo, optou-se por inverter todos os itens do indicador, de forma a que resultados mais elevados na escala total significasse que as necessidades materiais eram percebidas como mais insatisfeitas. Os resultados deste indicador apresentaram uma excelente consistência interna: pais (α

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13 = .92), nas mães (α = .90) e nos filhos jovens adultos (α = .92) (George & Mallery, 2003).

Escala do Sentido de Pertença

Esta escala foi criada originalmente por Lee, Draper, e Lee (2001), tendo sido criada uma versão portuguesa por Francisco, Crespo, Rocha, Malaquias, e Dias (2011). Contém 20 itens que avaliam o sentido psicológico de pertença, isto é, como os indivíduos se relacionam com os outros no meio social. Dois exemplos de itens são: “Sinto que os meus amigos são como família” e “Dou por mim envolvido ativamente na vida das pessoas”.

Nesta escala, os participantes utilizam uma escala de resposta de 6 pontos do tipo

Likert (1= Discordo totalmente, 6= Concordo totalmente). No que diz respeito à sua

fiabilidade, os resultados desta escala apresentaram uma muito boa consistência interna na amostra filhos jovens adultos (α =.94), nas mães (α = 87) e nos pais (α = .90) muito boa (George & Mallery, 2003).

Escala do Bem-Estar Psicológico

A escala do Bem-Estar Psicológico de Ryff e Keyes (1995) adquiriu um formato reduzido, com um total de 18 itens, tendo sido adaptada para Portugal por Novo (2004). Foi desenvolvida a partir das versões anteriores (120 e 84 itens) das Escalas de Bem- Estar Psicológico (Ryff, 1989b). Originalmente, a escala continha seis subescalas que correspondem às dimensões contempladas no modelo de bem-estar psicológico, designadamente Aceitação de si, Crescimento Pessoal, Objetivos na Vida, Relações Positivas com os Outros, Domínio do Meio e Autonomia. Na versão reduzida, estas dimensões são avaliadas conjuntamente através de um questionário de auto-relato de 18 itens cuja resposta é fornecida com uma escala tipo Likert de 6 pontos (1= Discordo completamente e 6 = Concordo completamente). Dois exemplos de itens: “Sinto que, ao longo do tempo, me tenho desenvolvido bastante como pessoa.” e “Gosto da maior parte dos aspectos da minha personalidade”. A escala de bem-estar evidenciou uma boa consistência interna nos pais (α = .86), nas mães (α = .81) e nos filhos jovens adultos (α = .88) (George & Mallery, 2003).

(25)

14

Resultados Análises de Correlação

Na Tabela 1, encontram-se as estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão), valores de alfa de Cronbach e correlações entre as principais variáveis em estudo, bem como entre estas e variáveis sociodemográficas de relevo. Relativamente às correlações, seguiram-se as indicações de Cohen; correlações entre .10 e .29 foram consideradas fracas, entre .30 e .49 moderadas e entre .50 e 1 fortes (Cohen, 1988; Pallant, 2005).

Quanto aos filhos jovens adultos, a nível individual, não se verificaram correlações significativas entre a perceção de necessidades materiais insatisfeitas e o sentido de pertença ou o bem-estar psicológico. Porém, verificou-se uma correlação positiva forte entre o sentido de pertença dos jovens e o seu bem-estar psicológico. Quanto às correlações entre pais e filhos, verificou-se que existiam correlações positivas fortes entre as necessidades materiais insatisfeitas reportadas pelos filhos e as percebidas pelas mães e pelos pais.

Relativamente às díades pais do sexo masculino-filhos, o sentido de pertença dos filhos estava positiva e fortemente correlacionado com o sentido de pertença e o bem- estar psicológico do pai. O bem-estar psicológico de pais e filhos estava também positivamente correlacionado.

Em relação às mães, a perceção das suas necessidades materiais insatisfeitas estava correlacionada de forma moderada e negativa com o seu bem-estar psicológico. Além disso, o sentido de pertença neste grupo estava positiva e moderadamente correlacionado com o bem-estar psicológico. A um nível diádico, as necessidades materiais insatisfeitas reportadas pelos pais estavam correlacionadas moderada e negativamente com o bem-estar psicológico das mães. O sentido de pertença de pais e mães estava também positiva e fortemente correlacionado.

Quanto aos pais, a sua perceção de necessidades materiais insatisfeitas estava moderada e negativamente correlacionada com o seu bem-estar psicológico e de forma positiva com a sua idade. O sentido de pertença estava correlacionado fortemente com o seu bem-estar psicológico. A um nível diádico, o sentido de pertença dos pais estava correlacionado positivamente com o sentido de pertença das mães e também com o dos filhos. Por fim, verificou-se que o rendimento mensal familiar estava moderada e

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15 negativamente correlacionado com as necessidades materiais insatisfeitas percebidas por todos os elementos da família.

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Tabela 1. Estatísticas descritivas e a matriz de correlações entre as variáveis estudadas.

Filhos Mães Pais

1 2 3 4 5 6 7 8 9 Média/DP Alpha de Cronbach Filhos 1. NMI - 2.25/.78 .92 2. Sentido de Pertença -.18 - 4.55/.85 .94 3. Bem-estar psicológico -.20 .76** - . 4.51/.69 .88 Mães 4. NMI .54** -.20 -.08 - 2.65/.84 .90 5. Sentido de Pertença -.11 .07 .15 -.20 - 4.23/.62 .87 6. Bem-estar psicológico -.25 -.03 -.09 -.30* .45** - 4.18/.72 .81 Pais 7. NMI .58** -.14 .13 .61** -.11 -.47* - 2.50/.85 .92 8. Sentido de Pertença .02 .38* .30 -.25 .53** .18 -.23 - 4.39/.63 .90 9. Bem-estar psicológico -.09 .46** .38* -.35 .22 .12 -.37* .69** - 4.44/.72 .86 10. Rendimento mensal familiar -.33* .09 .09 -.30* .27 .28 -.37* .08 .17 1757.78/826 -

11. Idade dos filhos .23 -.13 -.15 -.06 .13 -.09 -.07 .09 .04 21.8/2.11 -

12. Idade das mães .16 .14 -.14 -.16 .01 .11 .03 .07 -.04 50.9/4.26 -

13. Idade dos pais -.28 -.19 -.18 .07 -.35 -.11 .39* -.25 -.32 52.4/4.45 -

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17 .38†

= .17 Bem-estar Psicológico dos

Filhos .78***

Sentido de Pertença dos Pais

Bem-estar Psicológico dos Pais

.33

Análise de Mediação

A análise de mediação foi efetuada a partir do teste de efeitos indiretos proposto por Preacher e Hayes (2008), fundamentado em análises de regressão e no método de

bootstraping. Foi usada a macro PROCESS do SPSS para avaliar a significância de

efeitos diretos e indiretos, sendo que se considera um efeito indireto significativo se o intervalo de confiança não incluir zero.

Foi testado um modelo de mediação, com vista a examinar o papel mediador do bem-estar psicológico dos pais na relação entre o seu sentido de pertença e o bem-estar psicológico dos filhos. Os resultados mostraram a presença de um efeito indireto (ponto

estimado = .30; IC = .0122/.6596) entre o sentido de pertença e o bem-estar psicológico

dos filhos através do bem-estar psicológico dos pais. Tendo em conta que a correlação entre bem-estar psicológico das mães e bem-estar psicológico dos filhos não foi significativa, não se testou o mesmo modelo de mediação com os resultados das mães.

= .47

.03

.30

Nota. O valor a negrito representa o efeito total; o valor em itálico significa o efeito indireto; os outos valores representam o efeito direto.

*p < .05, **p< .01 ***p <. 001, p =.09

Figura 1. Modelo dos efeitos mediadores do bem-estar psicológico dos pais na relação

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18

Discussão

O presente estudo teve como objetivo principal analisar as relações entre a pressão económica - através do indicador das necessidades materiais insatisfeitas percebidas - o bem-estar psicológico e o sentido de pertença em famílias com filhos jovens adultos. De seguida apresentam-se e discutem-se os resultados correspondentes a cada uma das três hipóteses elaboradas para esta investigação.

A primeira hipótese do estudo foi apenas parcialmente confirmada. Relativamente à primeira alínea desta hipótese - a perceção elevada das necessidades materiais insatisfeitas das famílias está associada a menor sentido de pertença – esta não foi confirmada pelos resultados. Apesar de Conger e Elder (1994; 2002) alertarem para a tendência das famílias se isolarem da sua família alargada e dos amigos, quando percecionam elevada pressão económica, no nosso estudo não se verificou qualquer correlação significativa entre a pressão económica e o sentido de pertença, quer para filhos, quer para as mães e pais.

Quanto à segunda alínea referente à perceção elevada das necessidades materiais insatisfeitas das famílias estar associada a níveis mais baixos de bem-estar psicológico para pais e mães, esta relação verificou-se para pais e mães mas não para o grupo dos filhos. Pode ser particularmente difícil para os pais e mães, pelo menos no início desta nova etapa do ciclo familiar (já que a média de idade dos filhos da nossa amostra é relativamente baixa) o enfrentar de necessidades materiais insatisfeitas. Arnett (2000) aborda o risco de uma crise económica ser uma condição muito exigente para famílias com filhos jovens adultos, que pretendem estabelecer e alcançar objetivos de vida, sendo estas uma das dimensões associadas ao bem-estar psicológico. É possível que este indicador das necessidades materiais insatisfeitas se refira a situações que possam causar particular preocupação sobretudo à díade conjugal (e.g., ter dinheiro suficiente para ter uma casa adequada à família; ter dinheiro suficiente para comprar a comida necessária), elementos responsáveis por garantir a subsistência da família. Estes resultados vão de encontro ao de outros estudos, nomeadamente o de Leinonen e colaboradores (Leinonen, Solantaus, & Punamäki, 2002) que verificaram que sob condições de pressão económica, os pais respondiam demonstrando ansiedade e disfunção social, enquanto as mães respondiam em termos de ansiedade e depressão,

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19 afetando a maneira como ambos interagiam com os elementos da família. Relativamente aos filhos, a interpretação dos dados é mais complexa. Tal como os resultados obtidos neste estudo indicaram, a perceção que os filhos apresentavam acerca da perceção das necessidades materiais insatisfeitas da família estava associada à perceção dos seus pais, uma vez que pertencem à mesma família e este é um indicador que retrata a família e não um indivíduo. Contudo, pode ser que os filhos estejam, de certa forma mais protegidos relativamente ao impacto da perceção das necessidades materiais insatisfeitas no seu bem-estar que não se revelou significativa. De facto, a maioria dos jovens portugueses na faixa etária considerada neste estudo reside com os pais, não contribuindo, na sua maioria, para o rendimento mensal familiar (Funstenberg et al. 2004), o que poderá explicar, em parte que o seu bem-estar psicológico possa não estar comprometido pela pressão económica. Futuros estudos que examinem esta relação entre necessidades materiais insatisfeitas e bem-estar psicológico poderão clarificar se a ausência de resultados significativos para jovens adultos se deveu ao reduzido número da amostra ou a outros fatores de cariz desenvolvimental e /ou geracional. Esta linha de investigação assume relevância dado que segundo Diener (2003), a relação entre recursos económicos e o bem-estar subjetivo tem sido uma temática estudada empiricamente; o mesmo não se tem verificado especificamente ao nível do bem-estar psicológico, apesar de esta relação ter sido teoricamente proposta por Ryff (1989b) que considerou que a dimensão financeira constitui uma variável significativa de influência no bem-estar psicológico.

Para todos os elementos do sistema familiar que participaram neste estudo, a perceção das necessidades materiais insatisfeitas estava correlacionada negativamente com o rendimento mensal familiar. Este resultado é consonante com a literatura anterior (e.g., Ho, Lempers, & Clark-Lempers, 1995; Conger & Conger, 2002), embora não tenha sido incluído nas hipóteses estudadas, vai simultaneamente ao encontro dos pressupostos do FESM: indicadores objetivos de adversidade económica, neste caso o rendimento, originam pressão económica. As necessidades - sejam materiais, sejam sociais - dirigem o comportamento humano, sendo que quando surge algum obstáculo que impede a satisfação desta necessidade, pode surgir um sentimento de fracasso, de impotência e de diminuição (McCullough & Rutenberg, 2007; Larson, 1990).

O sentido de pertença estava associado ao bem-estar psicológico em todos os elementos da família, resultados que confirmaram a segunda hipótese deste estudo. Não

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20 foram encontrados estudos que relacionem estas duas variáveis no contexto familiar nem especificamente em jovens adultos, sendo uma mais-valia deste estudo a avaliação da relação entre estas variáveis a nível individual e diádico. Futuros estudos poderão clarificar esta relação. Vários autores (Griffiths et al., 2007; Rossi, Stratta, & Capanna, 2012; Spencer & Lewis, 2001; Whittaker, 2008) demonstraram que o sentido de pertença é fundamental para o ajustamento dos filhos e para o seu bem-estar psicológico, podendo constituir-se como um fator de resiliência (Capanna et al, 2013). Porém é necessário considerar que conceitos que se podem confundir com o sentido de pertença, como é o caso do apoio social e o suporte familiar, podem potenciar um efeito que contribui para níveis elevados de bem-estar psicológico (Myers, 1999).

A terceira hipótese previa uma relação de mediação, na qual o bem-estar psicológico dos pais seria o mediador da relação entre o sentido de pertença dos pais e o bem-estar psicológico dos filhos. Esta hipótese foi confirmada apenas para os pais do sexo masculino mas não para as mães.

Uma possível explicação para este resultado reside no papel mais ativo que o homem poderá estar a ter na educação dos filhos desde o nascimento (Cia et al., 2006). Paquette (2004) enfatiza o papel do pai no desenvolvimento infantil, sendo responsável pela tarefa de ativação, ou seja, proporcionar a descoberta das capacidades do filho, facilitando a exploração do ambiente e permitir que o filho construa uma relação de confiança em relação a si próprio e ao pai. Neste sentido, o filho começa a desenvolver as suas competências sociais. Na linha dos resultados obtidos, Mead (1973) aborda que o sentimento de se sentir mais seguro e ligado a um elemento da família pode facilitar e promover a formação de ligações com os outros elementos exteriores ao seu contexto familiar. A nossa amostra é sobretudo composta por jovens do sexo feminino, o que poderá também ter influenciado esta mediação ter resultados significativos para os pais e não para as mães.

Larson e Richards (1994) demonstram que os progenitores transmitem as suas emoções aos filhos, havendo mais facilmente uma transferência de emoções negativas.

Os pais transmitem também a ambição aos seus filhos para que tenham uma vida com um estatuto diferente do que possuem. Nesse caso, ocorre um adiamento da autonomia financeira dos filhos devido a dificuldades em conciliar a carga horária de trabalho com a educacional (Biasoli-Alves, 2000). Contudo, uma vinculação segura na relação com os

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21 pais garante a construção de modelos positivos de si próprio e dos outros, que possibilitam o desenvolvimento de competências necessárias para beneficiar de relações próximas com os outros e reforçar o seu sentido de pertença (Crespo, 2012). Corroborando esta ideia, Sampaio (2012) refere que só é possível o jovem se tornar independente psicologicamente se for capaz de abandonar o vínculo infantil que o ligava aos pais e construir uma relação menos dependente, mas não menos importante, onde o respeito e a confiança mútua são essenciais.

Ao longo de todo este processo, concretamente descrito no estudo de Feres-Carneiro, Henriques e Jablonski (2011), os pais e filhos avançam e recuam no plano relacional. Trata-se de uma sucessão de idas e vindas, que se constituem como estratégias de convivência, configurando o jogo interativo. Não se trata de competir entre si, de se superarem um ao outro, mas sim de permanecerem unidos e tentar encontrar um sentido na relação. Estes resultados reforçam a importância de se potenciar tanto o sentido de pertença como o bem-estar psicológico do pai, para que se possa estabelecer um vínculo emocional que seja mais positivo para a saúde mental dos filhos. Em suma, estes resultados, ainda que preliminares, reforçam a importância de se potenciar tanto o sentido de pertença como o bem-estar psicológico do pai, para que se possa estabelecer um vínculo emocional que seja mais positivo para a saúde mental dos filhos.

Limitações e Futuras Direções

O presente estudo apresenta contributos importantes para o plano científico sobre a relação entre a perceção da pressão económica, o bem-estar psicológico e o sentido de pertença em famílias com jovens adultos. Contudo existem algumas lacunas que devem ser consideradas: 1) a amostra utilizada carateriza-se por ser de conveniência e de tamanho bastante reduzido, tendo sido selecionada através de uma estratégia de amostragem não-probabilística, o que limita a interpretação e generalização dos resultados para a população portuguesa; 2) existe uma discrepância em relação ao sexo, sendo a amostra deste estudo formada sobretudo por jovens do sexo feminino; 3) os instrumentos escolhidos para a sua concretização são de autorrelato, conduzindo assim a possíveis enviesamentos causados pela desejabilidade social (Novo, 2005); 4) o fato das análises serem quantitativas não permite extrair informação adicional relativamente a cada resposta do participante; 5) o estudo é transversal, pelo que não permite estabelecer uma relação causal entre as variáveis.

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22 Quanto à recolha de dados, recomenda-se que estudos futuros sobre a temática utilizem uma amostra mais heterogénea e extensa, no sentido de contribuir para a investigação com conclusões mais generalizáveis. Seria também uma mais-valia recorrer a metodologias longitudinais e mistas. Além disso, foi incluído apenas um dos três indicadores de pressão económica, sendo que se sugere a presença em estudos futuros de outros indicadores (e.g., cortes e ajustamentos financeiros), para que seja avaliada a pressão económica de uma forma mais abrangente. Também se poderia optar por fazer comparação entre grupos, tendo em linha de conta as diversas configurações de famílias presentes na sociedade, para ver se existiriam diferenças significativas entre os jovens adultos que pertencem a cada configuração familiar (e.g famílias nucleares intactas vs. famílias monoparentais), nas variáveis estudadas.

Os resultados deste estudo possuem implicações para o campo da Psicologia da Família, uma vez que as dinâmicas familiares contribuem em grande parte para o desenvolvimento dos jovens que nesse contexto têm os primeiros modelos comportamentais, cognitivos e emocionais (Silva, 2004). Adicionalmente, podem auxiliar a criar guidelines na intervenção psicológica com indivíduos e famílias, nomeadamente a promoção do sentido de pertença e de bem-estar psicológico dos pais e, assim, consequentemente, influenciar o bem-estar psicológico dos filhos. Esta atenção especial dada à família é evidenciada por Sampaio (2012), que considera ser uma construção mútua de uma realidade diferente; o problema que é identificado como leitmotiv da motivação para a consulta (comumente denominado o “pedido”) não existe no individuo, mas na complexa rede de relações que vivencia com a família e os pares.

A um nível mais macro, as implicações são também relevantes. Por exemplo, é importante considerar medidas políticas e sociais para promover, a entrada no mercado de trabalho de uma forma mais eficiente, para que os jovens adultos não permaneçam numa espécie de adolescência quase infinita (Birman, 2008), assim como dinamizar novos programas com atividades que promovam o sentido de pertença tanto para pais como para filhos. Investigações têm demonstrado que a participação em atividades sociais, fora do contexto escolar (e.g. desporto, música) está relacionada com a construção de relações interpessoais positivas, competências e recursos positivos necessários para tornar-se um jovem adulto ativo. A participação nessas atividades são excelentes oportunidades de crescimento, uma vez que desenvolvem uma boa autoestima e previnem índices de depressão (Howie, Lukacs, Pastor, Reuben, &

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23 Mendola, 2010). Acrescentam Moraes et al. (2007) que, tanto as crianças como os jovens, começam a reconhecer os seus interesses, através da participação em diversos grupos, contribuindo assim para a formação da sua identidade social. Menos claro está, neste momento, o significado do sentido de pertença na idade adulta e dos fatores contextuais e individuais que propiciam um elevado sentido de pertença nesta faixa desenvolvimental. Os resultados deste estudo sugerem a importância deste sentido de pertença em adultos, pais de jovens adultos, quer para o seu bem-estar psicológico, quer para os dos seus filhos. Poder-se-á hipotetizar que o sentido de pertença seja uma peça fundamental para os homens desta faixa etária para o seu bem-estar psicológico, realçando a importância dos diferentes grupos nos quais se inserem e desenvolvem as suas competências sociais. Assim, estudos futuros poderão aprofundar o conhecimento sobre o que significa para os adultos sentir-se parte de um contexto social mais amplo, bem como identificar os resultados positivos que poderão estar associados a esse sentido de pertença, quer para o próprio, quer para os outros significativos.

Conclusão

A crise económica a nível mundial tem criado diversos efeitos na vivência das famílias, como a pressão económica que exerce impacto em todo o sistema familiar. Esta pressão concebe restrições e condicionamento à família, podendo os seus elementos muitas vezes sentir-se privados de alguns bens materiais, o que tem um impacto negativo o seu bem-estar psicológico. Particularmente, as famílias com jovens adultos têm conquistado, pouco a pouco, visibilidade na investigação, dado que existem tarefas desenvolvimentais que poderão ficar comprometidas no contexto de crise envolvente (Stein et al. 2011).

No âmbito deste estudo com famílias portuguesas com jovens adultos, ao nível das correlações entre resultados dos diferentes elementos da família verificou-se, contrariamente ao esperado, que não existia uma correlação significativa entre a pressão económica e o sentido de pertença ou o bem-estar psicológico dos filhos. Já o sentido de pertença vivenciado pelos pais do sexo masculino estava significativamente associado ao bem-estar psicológico dos filhos, sendo este efeito mediado pelo bem-estar psicológico dos pais.

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24 A importância do sentido de pertença a um contexto social mais vasto do que a família realça a importância da ligação entre diferentes níveis sistémicos, ou seja, o modo como a família pode beneficiar quando os seus elementos constroem relações positivas noutros contextos (Castro & Zautra, 2016). Como refere Sampaio (2012) a família não se trata de uma célula indestrutível, mas um espaço emocional onde cada um procura crescer e individualizar-se. Finalmente, os resultados deste estudo podem contribuir para o desenvolvimento e implementação de intervenções individuais e/ou familiares especificas, com vista ao incentivo do sentido de pertença e promoção do bem-estar psicológico dos vários elementos das famílias nesta importante etapa do ciclo vital.

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Tabela 1. Estatísticas descritivas e a matriz de correlações entre as variáveis estudadas
Figura 1. Modelo dos efeitos mediadores do bem-estar psicológico dos pais na relação  entre o sentido de pertença dos pais e o bem-estar dos filhos

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