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O ressurgimento da marmita sob o olhar do design: proposição de conceito de produto

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEPARTAMENTO DE ARTES

BACHARELADO EM DESIGN

Hannah Roberta Cavalcanti Ferreira

O RESSURGIMENTO DA MARMITA SOB O OLHAR DO DESIGN: Proposição de conceito de produto

Natal - RN 2019

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Hannah Roberta Cavalcanti Ferreira

O RESSURGIMENTO DA MARMITA SOB O OLHAR DO DESIGN: Proposição de conceito de produto

Projeto referente ao Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requerimento para obtenção do título de Bacharel em Design pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Rodrigo Boufleur

Natal - RN 2019

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Resumo

O presente trabalho de conclusão de curso (TCC) teve como objetivo principal a proposição de um conceito de produto-recipiente (‘marmita’) durável com enfoque na saudabilidade no que tange à segurança dos materiais em contato com alimentos e à nutrição, configurando-se uma ferramenta para o auxílio e manutenção de uma alimentação adequada. A primeira fase do trabalho (TCC 1) corresponde ao planejamento do projeto e ao projeto informacional. Essa etapa contemplou pesquisa bibliográfica, entrevistas e observação assistemática com usuários, para a identificação de fatores relacionados ao objeto de pesquisa ‘marmita’ e informações relacionadas à alimentação e estilo de vida do brasileiro na contemporaneidade. Traça também um paralelo com objetos similares e soluções alcançadas nos contextos de outras sociedades. A segunda fase (TCC 2) equivale à elaboração do projeto conceitual e seu detalhamento. As etapas desta fase envolvem a geração de alternativas, a seleção do conceito e a definição do projeto final. Por fim, o sistema e seus subprodutos são apresentados de forma detalhada por meio de imagens e desenhos esquemáticos.

Palavras-chave: ​Projeto de produto; Marmita; Alimentação.

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Sumário

1. Introdução 9

2. Justificativa 10

3. Fundamentação Teórica 11

3.1. Bentô 11

3.2. Tiffin carriers ou Dabbas 13

3.2.1. Case - Priya 16

Figura 3: Priya. Fonte: Min Hwe Loh 17

4. Cenário nacional 17

4.1. Conjectura econômica 18

5. Panorama sobre a alimentação 20

5.1. Cozinha e comensalidade 21

5.2. Comportamento alimentar 22

5.3. Refeições fora do lar 23

5.4. Alimentação e saúde 24

5.5. Saúde e trabalho 25

5.5.1. Comida e a lógica social no trabalho 26

6. Perfil do público consumidor de marmitas 27

7. Tendências de consumo 27

7.1. Saudabilidade 28

7.1.2. Internet 28

7.1.2. Nutrição 28

7.2. Conveniência e praticidade 29

8. O Design como elemento modificador da dieta 29

9. Segurança Alimentar 30

9.1. Sob a ótica jurídica 31

9.2. Migração de contaminantes do recipiente para o alimento 32

9.3. Plásticos 34

10.Sustentabilidade 34

11.Objetivos 36

11.1. Objetivo geral 36

11.2. Objetivos específicos ou secundários 36

12.Metodologia 37

13.Problematização 39

14.Indicadores projetuais 40

15.Análise sincrônica ou paramétrica 41

15.1. Black + Blum Bento Box 43

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15.3. Prepd Pack 45

15.4. Frozzypack 46

15.5. Marmita EcoBox 47

15.6. Marmita Retrátil de Silicone La Cuisine 48

16.Pesquisa das necessidades do usuário 50

16.1. Entrevistas 51

16.2. Observações in loco 53

16.3. Questionário eletrônico 54

16.3.1. Horas diárias despendidas em atividades extradomiciliares 55

16.3.2. Tipos de refeições realizadas fora de casa 56

16.3.3. Motivações 56

16.3.4. Frequência de uso 58

16.3.5. Tipos de alimentos transportados 59

16.3.6. Temperatura ideal para consumo 59

16.3.7. Marmita, nutrição e saúde 60

16.3.8. Materiais 61

16.3.9. Impressão visual/estética 61

16.3.10. Objetos associados ao uso da marmita 62

16.3.11. Higienização pós-refeição 62

16.3.12. Satisfação 62

16.3.13. Considerações 63

17.Hierarquização das necessidades 64

17.1. Praticidade 65 17.1.1. Uso 66 17.1.2. Higiene 66 17.1.3. Temperatura interna 66 17.2. Saúde 66 17.3. Portabilidade 67 17.4. Segurança 67 18.Requisitos de produto 67 19.Materiais 68 19.1. Normas 68 19.2. Cerâmicas e vidros 69 19.3. Cortiça 70 20.Ideação 70 20​.1. Painéis semânticos 70 20​.2. Esboços 74

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22.Simulação digital 78 23.Especificações 81 24.Conclusão 82 25.Cronograma 83 26.Apêndice 84 27.Referências 86

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Lista de figuras

Figura 1 -​ Bentô 11

Figura 2 - ​Tiffin 14

Figura 3 - ​Priya 17

Figura 2 - ​Black + Blum Bento Box 44

Figura 3 ​-​ ​Stainless Steel ECO Lunch Box Tri Bento 44

Figura 4 - ​Prepd Pack 45

Figura 5 - ​Frozzypack 46

Figura 6 - ​Marmitas EcoBox 47

Figura 7 - ​Marmita Retrátil de Silicone La Cuisine 48

Figura 8 - ​Média de horas por dia em atividades extradomiciliares 56

Figura 9 -​ Tipos de refeições realizadas fora de casa 56

Figura 10 -​ Frequência de utilização de marmitas 59

Figura 11 - ​Hierarquização das necessidades 65

Figura 12 - ​Tendência à saudabilidade 72

Figura 13 -​ Público e estilo de vida 73

Figura 14 -​ Experimentação 74

Figura 15 - ​Simulação digital 79

Figura 16 - ​Simulação digital 79

Figura 17 - ​Simulação digital 80

Figura 18 - ​Simulação digital 80

Figura 19 - ​Especificação - Vista do topo 81

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Lista de tabelas

Tabela 1 -​ Problemas em potencial 39

Tabela 2 - ​Análise paramétrica ou sincrônica 49

Tabela 3 - ​Amostra do questionário 55

Tabela 4 - ​Motivação para uso (ipis litteris) 57

Tabela 5 - ​Temperatura ideal para consumo (ipis litteris) 59

Tabela 6 - ​Possíveis relações entre marmita, nutrição e saúde (ipis litteris) 60

Tabela 7 - ​Está satisfeito com a sua atual marmita? O que pode ser melhorado? (ipis litteris) 62

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1. Introdução

A utilização de marmitas - aquela que ​se reporta à preparação dos alimentos no espaço doméstico - tem se reconfigurado prática emergente em cenário nacional. Até um passado bem recente, a marmita era elemento associado às camadas mais desfavorecidas da estrutura social. ​Vista como um recurso para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica (MARTINS, 2012).

As motivações para sua utilização mantiveram-se as mesmas, não obstante, esse artefato vem transitando por um intenso processo de ressignificação, motivado preponderantemente pela instabilidade proveniente da crise econômica nacional.

Quando a carência passa a atingir um tecido social mais abrangente, sucede-se, naturalmente, uma transição do consumismo social para um economismo social, objetivando a poupança. Interessou desfazer-se do estigma associado à palavra e por consequência à imagem da marmita e fazer perpassar novos conceitos, alterando a mentalidade das grandes massas, situadas na classe média. Nesse sentido, a comunidade científica da alimentação e da nutrição assumiu um papel fundamental, valorizando as potencialidades da marmita, associando-lhe vantagens nutricionais, alimentares e econômicas (MARTINS, 2012).

Essa mesma marmita, antes associada a um fraco prestígio social, passa hoje por um processo quase contraditório de ​glamurificação​. Surgem opções para todos os gostos, cores e feitios. Chegam inclusive a ser associadas a nomes de personalidades, assim como ao ​fashion​, conformando uma espécie de modismo.

A imposição de uma nova imagem social para o artefato popularmente denominado ‘marmita’ permite o desenvolvimento de ideias mais flexíveis, que se adequem às novas necessidades de uma parcela maior da população brasileira. E é sob essa lacuna que o presente trabalho se ampara, no sentido de aproveitar-se da oportunidade de intervenção, através das práticas e pensares do design, intencionando alterar de forma construtiva a realidade de seus atuais e potenciais utilizadores.

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​Há, no entanto, uma evidente carência de pesquisas e literatura no que tange o assunto da marmita e sua utilização no cenário nacional. Buscou-se amparo na etimologia da palavra, que tem sua origem no francês “​marmite”​, e se reporta a um recipiente comumente metálico ou de barro para ferver água ou cozinhar alimentos (CNRTL, 2012).

Paira uma certa indefinição acerca da categorização do artefato marmita, objeto de estudo deste trabalho. Em alguns aspectos, a marmita assemelha-se a uma embalagem, quando pensamos nas funções elementares de armazenagem, conservação e transporte alimentício. Marmitas e embalagens objetivam a manutenção da integridade física e química do conteúdo depositado no interior do receptáculo, até o momento do consumo. A embalagem, porém, em conformidade ao surgimento de novas necessidades, extrapolou essas funções, desempenhando demais papéis no sentido de informar, identificar e promover vendas.

Sob a égide de um primeiro olhar, a marmita aparenta ser apenas um trivial recipiente para acomodar e transportar alimentos. Este utensílio, porém, pertence e compõe parte da história do Brasil, conforme descreve Ferreira (2005), ao se abordar a temática social e política que girava em torno do marmiteiro. Esta, fortemente atrelada a ideia da manutenção do sustento por meio de atividades laborais manuais, atestava a condição de cidadão de baixa renda e escolaridade, caracterizando-se um divisor silencioso entre a plebe e a elite.

Ao se adequar às necessidades de uma classe trabalhadora operária, impôs silenciosamente uma barreira cultural que desencorajou, até pouco tempo, sua aproximação com demais públicos, o que veio gradativamente mudando.

2. Justificativa

A motivação do presente trabalho parte de uma tendência pessoal da autora à preocupação quanto a alimentação e nutrição adequadas, prezando por um estilo de vida saudável e sustentável. Tem-se o desejo de encorajar tal mentalidade e

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almeja-se que objeto projetado possa induzir uma postura crítica quanto ao que se ingere e provoque um despertar quanto à cultura do descarte.

3. Fundamentação Teórica

Nesse capítulo foram traçados paralelos com as realidades de outros países a fim de investigar como as pessoas ao redor do mundo lidaram com a mesma problemática e solucionaram necessidades basilares de acondicionamento e transporte alimentício. Interessou analisar como os objetos de uso evoluíram junto aos avanços tecnológicos e mudanças de ordem social. Nesse contexto, dois artefatos se destacam: os ​Bentôs ​japoneses e as ​Tiffin Carriers ​indianas.

3.1. Bentô

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O bentô, artefato comumente presente no cotidiano do japonês, tornou-se conhecido com o processo de globalização, e passou a ser utilizado por pessoas em todo o mundo. Seu nome vem do mandarim e significa “coisa útil” ou “conveniente” (Castro, 2015), referindo-se tanto ao recipiente quanto ao conteúdo depositado em seu interior.

Os primeiros registros da sua utilização datam do século 12. Nesse período, o objeto essencialmente utilitário atendia às necessidades de caçadores, pescadores e fazendeiros japoneses, que saíam à campo por longas jornadas. O bentô deveria armazenar adequadamente o alimento preparado para ser consumido fora de casa, que consistia de arroz pré-cozido e desidratado (hoshi-ii), ou bolinhos de arroz (tonjiki), embalados de forma a evitar que se movessem durante o transporte e pudessem tolerar a temperatura ambiente. Além disso, esse objeto deveria ser fácil de transportar (Chopstiks NY, 2009).

No decorrer dos séculos, as refeições puderam ser expandidas para incluir mais do que arroz, e o bentô passou a estar acessível a uma parcela maior da população, expandindo-se entre as diferentes classes sociais e faixas etárias: do público dos tradicionais ​kabukis​ à crianças em fase escolar.

No final do século 16, o bentô passou a ser utilizado em ocasiões variadas, como cerimônias do chá ou em festas para a observação da floração das árvores de cerejeiras, eventos que poderiam ter duração de várias horas. As pessoas também passaram a viajar com maior frequência e por maiores distâncias, o que propiciou com que, eventualmente, o bentô se tornasse uma refeição conveniente para viajantes.

Bentô possui uma longa história e ao longo do tempo surgiram opções e estratégias que se adequassem aos diferentes estilos de vida e avanços tecnológicos. Nos anos 70, lojas especializadas em bentôs “para viagem” espalharam-se pelo japão através do sistema de franquias. Lojas de conveniência também passaram a dispor de opções pré-montadas em descartáveis, que poderiam ser aquecidas em forno microondas no próprio local.

Atualmente, bentôs comportam refeições completas, portáteis e individuais. A caixa pode ser dividida em várias repartições e conter opções variadas de alimento, que incluem arroz, carnes, vegetais e picles (COTO ACADEMY, 2016). Alguns

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bentôs têm as próprias separações, mas é comum criar espaços diferentes com folhas ou objetos alternativos, como formas de silicone.

Seu formato característico teve inspiração em caixas de sementes utilizadas por fazendeiros (Chopstiks NY, 2009). Os modelos mais tradicionais consistiam de recipientes retangulares de cantos arredondados, confeccionados em madeira envernizada. Já os modelos atuais, contemplam inúmeras opções, que mantiveram esse mesmo formato, aceitando mudanças sutis, mas agora fabricados em larga escala em materiais plásticos.

Essencialmente, bentôs e marmitas têm o mesmo propósito utilitário. Diferem apenas na sofisticação dada à apresentação da refeição, uma vez que os japoneses se orgulham em preparar bentôs visualmente apetitosos. Mesmo aqueles preparados em casa são cuidadosamente pensados e organizados. Presentear amigos e familiares com bentôs também é considerado um gesto de afeto e expressa uma intenção sentimental.

Ademais, é sabido que, assim como ocorre no cenário nacional, em períodos de recessão, trabalhadores de escritório japoneses preparam bentôs caseiros a fim de economizar.

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Figura 2:​ Tiffin. Fonte: Google Images

Tiffin carriers, Tiffin boxes ou ​dabbas​, assim como as marmitas e os bentôs, são artefatos destinados ao acondicionamento e transporte alimentício. Financeiramente acessíveis e facilmente encontrados, são onipresentes nas residências e cozinhas indianas. Seu uso constitui uma tradição de longa data, tendo início ao final do século 18, com influência da ocupação inglesa (Caldicott & Caldicott, 2014).

Caldicott & Caldicott explicam que os ingleses, desacostumados ao ambiente e ao calor indiano, por vezes preferiam “​tiff​”, uma dose de licor diluído, à uma refeição completa no almoço. “Tiffin”, seria então, “beber um gole” desse licor. A gíria acabou sendo apropriada pelos indianos e hoje comporta um significado bastante abrangente, podendo se referir a qualquer lanche ou refeição completa consumida entre o desjejum e o jantar. Pode se referir também ao trabalhador que faz a entrega da comida armazenada em uma ​tiffin​, conhecido como ​tiffin-wallah ​ou dabawallah​.

A riqueza de detalhes e formas ornamentais na história do ​tiffin ​deu lugar a uma simplicidade elegante, que o produto necessitava para a produção em massa.

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As ​tiffin carriers consistem de compartimentos metálicos empilhados em duas, três, ou quatro camadas com tampas firmemente seguras por presilhas laterais, que evitam vazamentos. O conceito de empilhar verticalmente contêineres idênticos economiza espaço. Possuem alça na parte superior, o que facilita sua portabilidade. Podem variar em silhueta e tamanho, mas são comumente confeccionados em aço inoxidável e os modelos mais tradicionais têm formato oval.

O material metálico manteve-se uma constante através das décadas. Ele confere durabilidade e facilita a higienização do objeto. Além disso, é completamente reaproveitável, ao passar por processo de reciclagem, reduzido impacto o ambiental agravado pela cultura do descarte.

Os compartimentos individuais das ​tiffin ​são ideais para os pratos típicos e caseiros de um almoço ​thali​, que podem incluir pão, ​dhal​, arroz, curry, picles, sobremesas e mais (Satpathy-Singh, 2016). A comida também pode ser consumida diretamente no recipiente.

Em 1890, Mahadeo Havaji Bachche criou seu próprio serviço de entregas de almoço, chegando a contratar 100 empregados que atendiam a trabalhadores espalhados por toda a cidade de Mumbai. Esses trabalhadores da agitada cidade deixavam suas casas muito cedo, podendo levar quantias consideráveis de tempo até chegarem ao local de trabalho. Vale salientar que muitos deles vivem a 50 ou mais quilômetros de distância do local de trabalho (Caldicott & Caldicott, 2014).

A falta de tempo e pressa inviabilizava que os mesmos levassem consigo refeições preparadas em casa (Satpathy-Singh, 2016). O sistema de Bachche ganhou popularidade rapidamente, permitindo que os trabalhadores indianos pudessem saborear comidas tradicionais a um custo menor do que os serviços oferecidos até então.

Em 2014, a Mumbai Tiffin Box Suppliers Association, diariamente, e, com grande agilidade, entregaram almoços caseiros ainda quentes das panelas à mais de 200,000 trabalhadores de escritórios. As ​tiffin ​esvaziadas são coletadas pelos mesmos entregadores (​tiffin-wallahs​) antes do final do expediente, e reutilizadas no dia seguinte (Caldicott & Caldicott, 2014), ilustrando a cadeia de fornecimento elaboradamente desenvolvida nas cidades indianas.

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A cultura ​tiffin ​é encontrada hoje em toda a índia: uma compacta e portátil refeição caseira que provou-se adaptável mesmo aos gostos modernos, dada sua tamanha utilidade e conveniência.

Apesar da comodidade dos serviços de entregas, na índia, a comida

preparada em casa com cuidado e amor é considerada não somente saudável e

relativamente barata, mas um contentamento divino.

3.2.1. Case - Priya

Um case interessante, voltado para o mercado indiano é o do produto Priya​,          desenvolvido pelos designers Min Hwe Loh, de Singapura, e Brian Kennedy, em        colaboração com a World Kitchen. 

O conceito visou alcançar uma experiência aprimorada do comer, ao prever a        jornada do usuário: os projetistas identificaram que os comensais indianos        misturavam uma pequena quantidade de arroz com curry, e, com um giro do punho,        apanhavam a mistura entre os dedos de uma das mãos e a levavam à boca. 

A partir dessa observação, foram esboçados conceitos de artefatos, e em        seguida construídos modelos em papel. Os modelos deveriam prever a separação        entre alimentos secos e úmidos (curry e arroz) além de facilitar o dobrar e        desdobrar, objetivando alcançar uma área de superfície ideal ao comer com as        mãos (Hwe Loh, 2016).  

O conceito do ​Priya, ​por fim, consiste em um sistema de origami, que permite              a divisão entre pratos úmidos ou líquidos dos sólidos, mantendo-os frescos durante        o transporte. A estrutura do produto combina a flexibilidade proporcionada pelo        silicone co-injetado à integridade estrutural conferida pelo polipropileno. A aparência        do artefato se assemelha a uma folha de bananeira, criando uma correspondência        simbólica entre o novo objeto e as tradições dos usuários.   

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Figura 3:​ Priya​. Fonte: Min Hwe Loh

4. Cenário nacional

Segundo Dijon de Moraes:

O cenário, tanto o existente quanto o futuro, é entendido como o local onde ocorrem os fatos, o espaço para a representação de

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uma história que é constituída por vários elementos e atores sociais no seu percurso narrativo, ou mesmo como panorama e paisagem que se vive e que se vê. (MORAES, 2010,p. 41) A construção do cenário utiliza-se de fontes e vieses oriundos de uma gama de áreas do conhecimento. Sendo assim, o design ​deve confluir com disciplinas do âmbito do comportamento humano, dos fatores estésicos e psicológicos (MORAES, 2010). De um lado tem-se a ideia de um cenário fluido e progressivamente mais complexo, do outro, o design atuando como gestor dessa complexidade.

Trocchianesi (2008), ressalta a necessidade de se delinear uma visão de futuro, ou seja, uma possível linha prospectiva desse cenário. Faz-se necessário conjugar a perspectiva atual com a perspectiva futura, de modo a alinhar as diretrizes norteadoras ao projetar-se um objeto duradouro, de uso prolongado.

A hemerografia, que se reporta ao catálogo de conteúdos jornalísticos e de outras publicações periódicas foi de grande valia como fonte de consulta, possibilitando um entendimento holístico a partir de recortes dos panoramas recentes e suas problemáticas. Esses recortes, quando analisados e sintetizados, comporão o cenário, configurando-se um ​importante meio de apoio processo de Design.

4.1. Conjectura econômica

O revés da economia teve seu início em 2014 e forçou mudanças no comportamento de consumo dos brasileiros. A crise afetou não somente o emprego e renda das famílias, mas desdobrou-se em alterações na mentalidade, valores e convicções de uma parcela da sociedade. O levantamento de opinião em território nacional, denominado ​O Brasil Pós-Crise​, procurou quantificar e qualificar essas mudanças (Garcia, 2018).

Conduzido entre julho e dezembro de 2017, com uma amostra total de 3.614 respondentes, abarcando todas as regiões do país, o estudo revelou a elevação da crença no esforço próprio, abstraindo-se a conjuntura política. Esse senso de

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responsabilidade reflete-se nas estatísticas quando 76% dos entrevistados afirma acreditar na própria capacidade de mudar de vida e 88% pretende trabalhar muito para guardar dinheiro. Um percentual significativo (82%) também expressou pretensão em ampliar seus estudos. Em sumo, o brasileiro pós crise acredita e aposta na educação e na qualificação para reconquistar o que perdeu.

Os brasileiros, frente ao cenário turbulento, adquiriram um olhar mais pragmático em relação ao futuro, em detrimento de um “otimismo ingênuo”. O juízo do brasileiro voltou-se à constatação do regresso, da perda. Torna-se evidente a exigência de tomada de medidas proporcionais para contornar o desvio de uma então realidade. Nesse sentido, dos 97% de brasileiros que disseram ter sido afetados em maior ou menor proporção pela crise econômica, uma grande maioria adotou alguma forma de restrição ou passou a reduzir o consumo de alguma categoria de produto suprimindo os supérfluos. 53% passaram a relacionar-se com as marcas de maneira a optar por aquelas oferecedoras dos produtos mais baratos e que construíram confiança em seu público. Por fim, 49% abstiveram-se totalmente de alguma categoria de produto (GARCIA, 2018).

A racionalização dos gastos materializa-se em compras mais criteriosas: os brasileiros passaram a investir mais na identificação da melhor oportunidade de compra, considerando o custo-benefício. Os valores vigentes passaram a ser os de poupança, privação, consumo consciente e autocontrole. Além da sucessão de um senso de prevenção, no sentido de ​acautelar-se ​e salvaguardar-se em caso de novas eventualidades ou possíveis desdobramentos desfavoráveis. Portanto, é provável que a retomada do consumo nos próximos anos se dê de forma moderada, em comparação ao período pré-crise.

O primeiro trimestre de 2017, contudo, marcou o fim da recessão, com o crescimento de 1%, iniciando um período de retomada da economia, percebida pelos brasileiros não como uma melhora, mas como uma mera interrupção do ciclo de piora. Estima-se que todo o crescimento até o ano de 2020 seja para igualar-se ao patamar pré-crise. As projeções dos analistas do mercado financeiro, todavia, são favoráveis, no sentido de reaver a renda perdida.

Mudanças no cenário econômico nacional refletem sobre o cotidiano do brasileiro contemporâneo e desdobram-se em seus hábitos alimentares. A

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Associação Brasileira de Bares e Restaurantes revelou que o número de empresas brasileiras operando com prejuízo chegou a quase 40% em 2016, sendo o setor de alimentação fora do lar um dos mais afetados pela crise econômica. “O que ocorre é que uma grande parcela de consumidores passou a abrir mão da conveniência de alguns serviços pelo faça-você-mesmo, a fim de economizar” (ABRASEL, 2017).

5. Panorama sobre a alimentação

No "mundo fluido contemporâneo" [...] as definições profissionais e disciplinares se dissolvem e qualquer um deve cotidianamente redefinir a si mesmo e a sua própria bagagem de capacidade e competência (MANZINI, 2004, p.10-17).

Neste capítulo foram levantadas informações relacionadas à alimentação, de forma generalizada e em contexto nacional. ​Objetivou-se construir uma plataforma de conhecimentos que possa sustentar e orientar a atividade projetual. A aproximação com assuntos diretamente relacionados ao objeto de pesquisa é de grande relevância. O ​projeto de novos produtos requer uma base teórica clara e suficiente para potencializar as chances do artefato idealizado atender às reais necessidades das pessoas.

O design, por sua vez, se encontra na interseção entre a cultura da vida cotidiana, indústria e economia e não deve desconsiderar os efeitos sociais das atividades projetuais, aqui entendidos não como atos assistencialistas, mas como tentativa de intervenção na dinâmica social. Almeja-se ir de encontro à postura profissional que consiste em dar primazia à sociedade, além de dissociar o design do domínio da visualidade e da experiência puramente estética, trazendo-o para o domínio da discursividade, aprofundando-se o grau de elaboração e maturidade.

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5.1. Cozinha e comensalidade

A alimentação é uma necessidade vital, comum a todos os homens e interpretada como algo natural. Entretanto, Montanari sugere que “os valores de base do sistema alimentar não se definem em termos de ‘naturalidade’, mas como resultado e representação de processos culturais que prevêem a domesticação, a transformação, a reinterpretação da natureza” (Montanari, 1949, p. 15).

Moreira relembra que há mais de 300 mil anos o domínio do fogo permitiu a cocção dos alimentos, “modificando-os do cru ao cozido e dando origem à cozinha, o primeiro laboratório do homem” (Moreira, 2010). Nesse sentido, a cozinha é símbolo e berço da civilização e da cultura. Cozinhar é uma atividade humana por excelência. É o gesto que transforma o produto da natureza em alimento fabricado pelo homem. As práticas da cozinha são expressas mediante processos criativos e técnicas elaboradas, e resultam na transformação dos produtos-base da alimentação (Lima, 2009). Isso indica não somente o desejo de melhorar o sabor da comida e proporcionar maior prazer ao ato de comer, mas também o cuidado com a saúde.

Comensalidade deriva do latim ​“mensa” que significa conviver à mesa, e isto envolve não somente o quê se come, mas, principalmente, como se come (Moreira, 2010). Na esteira do tempo a comensalidade veio a tornar-se fator estruturante da organização social. As refeições passaram por processos de ritualização e corporificação de seus elementos. O uso da faca e do garfo, como cortar e proceder à mesa foram sendo convertidos em boas maneiras e meios de distinção social, o que demonstra a complexidade das dinâmicas envolvidas no ritual alimentar (Moreira, 2010).

A alimentação e os artefatos associados a ela revelam muito da estrutura da vida cotidiana. Mendes (2012) afirma que os objetos de uso são indissociáveis de processos culturais e que os os significados e códigos relacionados a estes são traduzidos e traduzem relações sociais, construindo, assim, “um universo inteligível mediado pela materialidade” (MENDES, 2012, p.16). A sociabilidade também

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manifesta-se na comida compartida e o ato de comer acompanhado é veículo para a interação e aprofundamento de relacionamentos sociais.

5.2. Comportamento alimentar

O isolamento do ato de comer, por outro lado, é um comportamento que foi induzido pelo mercado, concomitantemente ao surgimento dos ​drive-thrus ​nos Estados Unidos, a partir da década de 50. O uso de embalagens e utensílios descartáveis ou mesmo a introdução de estratégias que dispensem sua necessidade possibilitaram o comer simultâneo à realização de outras atividades, como a utilização do aparelho celular, o comer em pé, em trânsito, ou em diferentes lugares e situações (Moreira, 2010).

Os restaurantes ​fast foods introduziram conceitos de rapidez e praticidade à alimentação, que há alguns anos era preponderantemente artesanal e fortemente atrelada ao âmbito domiciliar e familiar. A conveniência proporcionada por esse serviço, aliado ao fácil acesso e à palatabilidade (forte apelo sensorial) das refeições oferecidas, contribuíram para a mudança nos padrões de consumo da sociedade atual, com a consequente instituição do hábito de comer fora.

A estratégia mercadológica dos ​fast foods ​o tornou um fenômeno mundial,

que casa hoje com a pressa e o imediatismo dos centros urbanos. A comida é rapidamente servida e também pode ser engolida depressa. Sabe-se, todavia, que o abuso no consumo de refeições processadas pode provocar uma alteração na percepção do volume alimentício a ser consumido, ao passo em que acarreta consequências como o empobrecimento nutricional das dietas, principalmente entre os mais jovens.

A cozinha tende a se individualizar e, nas próximas décadas, cada membro da família se alimentará a seu gosto, por motivos dietéticos, convicções filosóficas ou mera docilidade à publicidade. Essa individualização nas tomadas de refeições tem sido concomitante ao enfraquecimento do espaço familiar como unidade social. [...] O uso do forno microondas facilita aos jovens comerem a sós, contribuindo para o fim das refeições em família, comportamento que leva à erosão do próprio conceito de "refeição” (Moreira, 2010).

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O comer se dispersou para além das residências e para além da mesa, tendendo a desvencilhar-se de lugares ou períodos de tempo próprios destinados à tal atividade (Moreira, 2010). Tem-se assim o declínio da realização das refeições em horários regulares por parte dos brasileiros durante os dias úteis da semana.

5.3. Refeições fora do lar

O modo de vida atribulado da população brasileira e a sobrecarga de responsabilidades individuais têm influência direta sobre os hábitos alimentares e sobre a qualidade das refeições. Alterações nas relações espaço-tempo colaboram fortemente para transformações na vida privada. Dessa forma, tem-se que o local de realização das principais refeições das famílias brasileiras vem se deslocado dos domicílios para além deles.

A alimentação fora do lar torna-se cada vez mais frequente, tendo em vista a profissionalização das mulheres, as longas jornadas de trabalho, a necessidade de deslocamento de pessoas com a generalização do uso do carro ​, a elevação do nível de vida e de educação, e o declínio da habilidade culinária das classes médias, que dispõe-se cada vez mais a consumir alimentos pré-prontos (MINTZ, 2001; ORTIGOZA, 2008; Moreira, 2010).

Nas grandes cidades é evidente a maior distância entre as residências e os locais de trabalho, o que aliado à rigidez dos horários disponibilizados para a prática alimentar, desencoraja ou mesmo inviabiliza longos deslocamentos e torna a realização de refeições fora do lar em estabelecimentos comerciais uma necessidade.

É estimado que um dia útil típico na vida do brasileiro comece entre 6 e 7 da manhã e acabe por volta das 22 (vinte e duas) horas (IBOPE Inteligência, 2013). Em média, 63% dos internautas trabalhadores das principais capitais brasileiras

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demoram cerca de 40 minutos para se deslocarem de casa até o trabalho (IBOPE Inteligência, 2016).

A indústria e os serviços de alimentos propiciam à vida do comensal contemporâneo uma infraestrutura cuja lógica é pautada pela otimização do tempo e trabalho pois, na curta pausa que as pessoas dispõem para comer, a pressa é um dos traços mais visíveis nos centros urbanos, com abreviamento do ritual alimentar em suas diferentes fases, da preparação ao consumo. O comer transforma-se em mera operação de reabastecimento (Moreira, 2010).

Sintetizando o discurso de Moreira, as escolhas alimentares e nutricionais passam a ficar em segundo plano, em detrimento de prioridades cotidianas emergentes. Esse panorama generalizado induz os consumidores a procurarem alternativas rápidas e práticas de alimentação, onde muitos recorrem ao setor de

food service.

5.4. Alimentação e saúde

Todavia, ao passo em que surgem alternativas alimentares economizadoras de tempo adaptadas a esse novo comportamento, evidencia-se um aumento no número de calorias ingeridas diariamente, bem como um aumento no consumo de gorduras saturadas e sódio (Devine, 2005).

No brasil, os índices de sobrepeso e obesidade vêm aumentando estatisticamente. A Pesquisa Nacional de Saúde, conduzida pelo IBGE, ainda em 2013, estimou que mais da metade da população adulta apresentava excesso de peso (56,9%). Desse total, 24,4% das mulheres foram diagnosticadas com obesidade, seguido por um percentual de 16,8% de homens.

O sobrepeso, decorrente dos maus hábitos alimentares aliados ao sedentarismo, torna o organismo humano propenso ao aparecimento de determinadas doenças, como como as cardiovasculares, respiratórias, endócrinas e oncológicas (Garcia & Gomes, 2016), e pode ainda reverberar na redução do desempenho acadêmico e laboral.

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A população adulta, entre 25 e 34 anos, encontra dificuldades em conciliar a manutenção de uma dieta saudável com a rotina. Essa faixa de público costuma trabalhar em período integral e dizem ter opções limitadas ​para se alimentar de maneira saudável quando optam por comer fora. ​Evidencia-se a problemática relacionada à disponibilidade e qualidade de alimentos saudáveis nos locais frequentados cotidianamente (Mintel, 2016).

Tradicionalistas, os brasileiros associam uma dieta saudável à uma refeição preparada em casa. De fato, quando querem comer de forma saudável, boa parte dos consumidores afirma cozinhar em casa. 30% dos trabalhadores em tempo integral declararam o almoço como a refeição mais importante para ser saudável (Mintel, 2018). ​Em relação à alimentação fora do lar, podem despender até 1h a mais para ter acesso à comida caseira (IBOPE Inteligência, 2013).

De modo semelhante, o uso de marmita interessa a ​pessoas com restrições dietéticas, seja por condição de saúde, por opção pessoal ou ideológica, como no caso dos veganos e vegetarianos. As opções oferecidas para essas pessoas em restaurantes e lanchonetes costumam ser menos acessíveis, evidenciando necessidades que ainda são de nicho.

5.5. Saúde e trabalho

Saúde e trabalho se influenciam mutuamente. Sendo a alimentação um dos fatores que podem interferir na saúde, é necessário adequá-la à atividade de trabalho, harmonizando o consumo alimentar com a vida profissional. A atividade física ou intelectual irá repercutir em requerimentos energéticos e nutritivos. Priorizar uma alimentação adequada ao trabalhador gera benefícios diretos não só para o indivíduo como para a empresa, na forma de colaboradores motivados, com melhora no desempenho e engajados em suas atividades diárias, além da manutenção do bem-estar físico e mental com a consequente redução das faltas por doença.

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A NR nº24, que regulamenta as condições de higiene e conforto nos locais de trabalho, demanda aos empregadores que assegurem aos seus funcionários locais apropriados para a tomada das refeições nos intervalos concedidos durante a jornada laboral. A empresa deve garantir, nas proximidades desses locais meios para conservação e aquecimento das refeições além de material para a lavagem dos utensílios usados (NR.24, 1993). O empregado que leva marmita ao trabalho também possui o direito de utilizar desses espaços e conveniências, mesmo que a empresa ofereça alimentação própria.

5.5.1. Comida e a lógica social no trabalho

“O percurso dos objetos, suas trajetórias, seus usos e significações permitem interpretar transações, normas e diferentes regimes de valor em que estes circulam, associados a processos dinâmicos de produção e reprodução social (MENDES, 2012, p.31). ​Appadurai (2000) propôs analisar as coisas através da sua vida social. Assim podemos inferir representações, relações e contextos além de indicadores de classe e de gênero, pois analisar as coisas significa analisar os indivíduos que as utilizam, que as consomem e que as dispõem numa dada conjuntura.

Gomes (2017) entende o comer como um ato político e, logo, não neutro, que perpassa o determinismo biológico. A investigação de Gomes (2017) teve como temas centrais o trabalho e as classes sociais sob uma perspectiva antropológica que ultrapassa as premissas subjacentes do utilitarismo. Ele reconhece que o significado da alimentação difere segundo o contexto em que esta decorre. Comer enquanto se trabalha, entre amigos ou mesmo entre os membros do núcleo familiar configuram experiências distintas. O mesmo ocorre com o esquema de percepção sobre os alimentos: ​a marmita em que os alimentos são preparados no espaço doméstico funciona sobre preceitos distintos da alimentação em espaço público.

Alimentar-se durante o período laboral, na lógica da pausa concedida, é sinônimo de conformidade. Come-se rápido e em horários preestabelecidos, com cuidado para não violar o tempo máximo de pausa. ​A alimentação é transportada

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assim para o domínio dos ciclos produtivos, das dinâmicas laborais subordinantes e das relações de forças estabelecidas ​(Gomes, 2017)​.

6. Perfil do público consumidor de marmitas

Uma pesquisa descritiva de caráter quantitativo realizada no território brasileiro conduzida por Garcia e Gomes (2016) visou identificar o perfil dos consumidores de marmitas por meio da aplicação de questionários enviados eletronicamente. Os resultados obtidos nesse estudo indicam mudanças sistêmicas de paradigmas no que se refere aos usuários de marmitas.

A idade média dos respondentes ficou em torno dos 37 anos e, em contrapartida ao julgamento precipitado relacionado ao cunho braçal das profissões tradicionalmente associadas ao consumidores de marmitas, observou-se a predominância de funções laborais administrativas e intelectuais, vinculadas a espaços como escritórios, empresas e órgãos público-privados. Desconforme ao imagético popular que perdurou durante anos, estes consumidores possuem nível superior de escolaridade e renda média mensal de R$ 5.791,26 (d.p. R$ 698,79), considerada elevada nos padrões brasileiros.

Ademais, verificou-se que 38% dos usuários de marmitas utilizam-na cinco vezes na semana para realizar, majoritariamente, refeições no almoço. Os respondentes apontaram ainda como principais motivos para a utilização de tal artefato: (1) a praticidade, (2) a redução de custos e (3) a redução diária do tempo de deslocamento (Garcia e Gomes, 2016).

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7.1. Saudabilidade

Os consumidores da atualidade se encontram mais informados e conscientes do seu papel nos cuidados pessoais e na manutenção da saúde, o que reflete em uma mudança de hábitos e a tendência à estima pelo ​artesanal, pelo caseiro, e pelo

fitness​. Assumem uma postura crítica quanto ao próprio bem estar, aderem e colaboram com a difusão de uma cultura que prega a alimentação saudável e a prática regular de exercícios físicos.

7.1.2. Internet

O brasileiro, cada vez mais, adota a internet como fonte de conhecimento sobre saúde. Utilizam-se de postagens em blogs e redes sociais ou assistem vídeos online para manter-se informados, reafirmando a influência desses canais midiáticos sobre as decisões de consumo (Mintel, 2016).

O ​YouTube configura-se hoje uma plataforma de alcance global que já conta com mais de um bilhão de usuários - quase um terço dos usuários de toda a internet - onde, diariamente, são assistidos bilhões de horas de vídeos. Uma pesquisa rápida contendo apenas a palavra “marmita” disponibilizou aproximadamente 147.000 resultados. Destes, a maioria dos que ocupam os primeiros lugares direcionam-se ao ensino da confecção de marmitas práticas, saudáveis, e, por vezes, voltadas para nichos específicos, como os veganos, ou então para a otimização da economia monetária.

7.1.2. Nutrição

Segundo um levantamento realizado pela agência de pesquisa Euromonitor, o mercado de alimentação direcionado para a saúde e ao bem-estar cresceu 98% no Brasil de 2009 a 2014, atestando uma alteração da mentalidade dos brasileiros,

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que voltam-se para o consumo de alimentos nutricionalmente ricos, naturais e sem conservantes ou demais aditivos (SEBRAE, 2015).

São diversos os segmentos de consumo que surgem a partir da tendência à saudabilidade e bem estar. Evidencia-se uma preocupação dos consumidores com a nutrição ao passo em que se aumenta a procura por alimentos funcionais, produtos dietéticos e alimentos orgânicos, mais expressiva em países em desenvolvimento (Brasil Food Trends 2020, 2010).

7.2. Conveniência e praticidade

Cresce também a demanda por produtos que permitam a economia de tempo e esforço por parte dos consumidores, na forma de refeições prontas e semiprontas ou alimentos de fácil preparo. No que tange a alimentação fora de casa, essa praticidade se dá através de produtos embalados para o consumo individual e serviços de ​delivery.

As necessidades de conveniência e praticidade, todavia, inclinam-se à convergência com as necessidades de saudabilidade e bem estar, resultando no aumento da demanda de alimentos convenientes e que são compatíveis a uma alimentação adequada (Brasil Food Trends 2020, 2010).

Diante desse cenário, a marmita reaparece como aliada à alimentação adequada, sendo menos onerosa à população, monetária e temporalmente, atendendo ambas as tendências de consumo mencionadas acima.

8. O Design como elemento modificador da dieta

“Todo e qualquer objeto que nos circunda faz parte da nossa cultura material e ajuda a condicionar nossas práticas sociais, maneiras de pensar e formas de comportamento” (SANTOS, 2005, p. 20). Mendes (2012) ressalta que os objetos,

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enquanto projeto, demonstram estratégias e visões de mundo que possibilitam aberturas para inovações e mudanças.

Sendo assim, o Design pode configurar-se ferramenta de mudança sócio-cultural, uma vez que os “objetos destinados à compra, preparo e consumo de alimentos são elementos modificadores da nossa dieta” (Bermúdez, 2015, p.18).

O ato projetual pode ser entendido como tentativa de mudança de realidade através da proposição de soluções dentro de um contexto e público preestabelecidos. ​O uso da marmita pode induzir as pessoas a adquirir uma postura crítica quanto ao que se ingere. Sendo assim, ela por si só, possui potencial como modificadora da dieta fora do lar.

Segundo Devine (1998), os períodos de transição na trajetória de vida são ocasiões em que os sistemas de escolha de alimentos podem sofrer alteração, oferecendo oportunidades de intervenção. ​Através do design, é possível sugerir a adoção de novos hábitos alimentares durante esses períodos estratégicos das vidas das pessoas em que é usual ocorrer mudanças na identidade pessoal.

9. Segurança Alimentar

A necessidade de conservação alimentar dá-se ao o fato das matérias-primas agroalimentares serem de origem animal ou vegetal, e, portanto, suscetíveis a alterações. Essas alterações podem ser produzidas por vários agentes, sejam eles físicos, na condição de luz e calor, químicos, por meio do contato com oxigênio e água ou biológicos, através da ação de microorganismos e enzimas. Essas alterações se iniciam desde a colheita dos vegetais e abate dos animais. É de interesse aumentar a vida útil dos alimentos através de técnicas que evitam alterações microbianas, enzimáticas, químicas e físicas, mantendo seus nutrientes e suas características organolépticas (aroma, sabor, textura).

O tempo de vida útil de um alimento depende ainda de características intrínsecas a ele, além do contato direto com o material de embalagem e fatores relacionados à permeabilidade dessa embalagem (Silva, 2018). A segurança

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alimentar correlaciona-se diretamente com as interações alimento/embalagem/meio externo durante o período de tempo anterior ao consumo. A marmita, enquanto embalagem deve atuar como barreira contra fatores responsáveis pela deterioração química, física e microbiológica (Jorge, 2013), ​suprimindo um ou mais fatores essenciais à proliferação de microorganismos, de modo que o meio se torne não propício a qualquer manifestação vital. As alterações mais alarmantes são as microbianas, pois sabidamente podem provocar doenças e levar um indivíduo até a morte.

O principal órgão legislador para embalagens no brasil é a ANVISA (Agência Nacional de Segurança Sanitária). Somente substâncias que constam nas listas positivas de resoluções sancionadas pela ANVISA são permitidas para a fabricação de materiais de embalagem.

As funções mais elementares das marmitas, como recipientes de embalagem, são as de proteção - deve conter o produto alimentício permitindo o seu transporte, protegendo-o contra choques, vibrações e compressões que podem ocorrer no percurso - e conservação, mantendo a integridade, qualidade e segurança do alimento, minimizando sua deterioração (Jorge, 2013).

9.1. Sob a ótica jurídica

“A percepção da qualidade dos alimentos pelo consumidor envolve tanto aspectos mensuráveis quanto subjetivos, como custo e quantidade acessíveis, as características nutricionais e organolépticas, condições higiênico-sanitárias, celebração da cultura e hábitos alimentares, atendimento às expectativas, dentre outros.” (Ramalho, 2014, p. 3)

A lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006 prevê no Art. 2o que “A

alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal [...]”.

O artigo quarto da mesma lei oferece subsídios a respeito do direito à Segurança Alimentar e Nutricional que relacionam-se diretamente com o objeto desta pesquisa ao prever [1] a promoção da saúde e da nutrição; [2] A garantia da

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qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos; [3] O estímulo a práticas alimentares e estilos de vida saudáveis que respeitem a diversidade étnica e racial e cultural da população; [4] A produção de conhecimento e o acesso à informação; Tudo isso considerando [5] a conservação da biodiversidade e a utilização sustentável dos recursos.

É cabível afirmar que a lei extrapola o conceito do alimento seguro ao relacionar o assunto a aspectos culturais, a hábitos inerentes aos seres humanos, e à redução do desperdício, sem deixar de lado o fator sustentabilidade (Ramalho, 2014).

O transporte de produtos alimentares é reiteradamente um dos elos mais fracos na garantia da segurança alimentar. Para que o trânsito de alimentos seja feito em condições seguras pressupõe-se como requisitos a preservação da saúde e do meio ambiente, ou seja, um adequado transporte de alimentos deve conservar os produtos minimizando os riscos de contaminação e de forma sustentável (RESOLUÇÃO Nº 604, 2002).

9.2. Migração de contaminantes do recipiente para o alimento

O uso de marmitas têm se tornado prática comum, visto o interesse na economia familiar, a praticidade e flexibilidade que a marmita proporciona e a oportunidade para escolhas nutricionais mais adequadas e personalizadas. No entanto, a marmita e suas práticas são interesse de discussão do ponto de vista da saúde e da segurança alimentar.

Podemos involuntariamente ingerir nas refeições outros compostos não-nutrientes potencialmente contaminantes, que podem ser tão ou mais determinantes para a nossa saúde do que escolhas alimentares pressupostas em termos puramente nutricionais. Os alimentos têm complexa composição com diversidade de macro e micronutrientes. No entanto, podem representar fonte significativa de compostos com potencial tóxico, quando estes compostos, em determinadas condições, migram de diferentes materiais de embalamento para o alimento (Teixeira et al, 2014).

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O Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável por meio do material Linhas de Orientação sobre Contaminantes de Alimentos alerta sobre a transferência de substâncias tóxicas de embalagens plásticas em que o alimento/refeição, já confeccionado, é “armazenado, transportado e, sobretudo, sujeito ao calor”. Essa transferência é agravada quando as embalagens são usadas por longos períodos de tempo ou para substâncias as quais não estão adaptadas.

O plástico, matéria-prima largamente utilizada, contém aditivos que tornam seu uso mais atrativo. Esses aditivos, porém, são as substâncias de potencial danoso sujeitas a migrar para o alimento, apresentando risco para a saúde humana. Uma parcela significativa de estudos já relacionam a exposição a aditivos do plástico com doenças várias, “quer quando a exposição acontece em fases precoces da vida, tais como na vida in utero, ou mesmo primeira infância, quer como fruto de uma exposição crônica ao longo da vida. Estas consequências vão desde efeitos metabólicos relacionados com a obesidade até a doenças do foro mental (atenção e cognição)” (Teixeira, et al., 2014, p. 10).

Ademais, o sucinto manual traça diretrizes quanto ao uso do recipiente-marmita que indicam evitar:

i. Acondicionar alimentos/refeições quentes em recipientes plásticos;

ii. Utilizar a embalagem para aquecimento do conteúdo em banho-maria, microondas ou outro meio qualquer.

Sabe-se, porém, que essas informações não estão completamente difundidas ou acessíveis à população. Ainda que os comensais modernos tenham ciência dos potenciais perigos do acondicionamento e aquecimento de alimentos em recipientes inadequados, os condicionantes temporais, físicos e econômicos inviabilizam ou desestimulam os comportamentos considerados apropriados do ponto de vista da saúde.

Sendo a segurança alimentar questão de interesse primário neste projeto, a escolha da matéria-prima a ser utilizada na confecção do artefato em via de idealização é de prima importância, caracterizando uma oportunidade de intervenção ou mesmo de inovação.

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9.3. Plásticos

Os materiais plásticos vão ao encontro dos requisitos técnicos e formais exigidos na embalagem de produtos alimentícios, viabilizando a sua contenção, preservação e proteção. Além de deterem características desejáveis como baixo peso e possibilitar sua combinação com outros materiais, o que cria oportunidades de aplicações muito diversificadas e favorece a sua utilização (Freire ​et al.​, 2008).

Apesar da comodidade inerente ao uso de embalagens plásticas, cresce a consciência dos consumidores quanto a segurança alimentar e a impactos ambientais causados por esses materiais. Preocupações adicionais emergem ainda quanto à segurança pertinente ao uso de materiais pós-consumo recuperados, especialmente devido a contaminações residuais potencialmente transmissíveis aos alimentos. Com relação ao aproveitamento de reciclados na fabricação de novas embalagens alimentícias a problemática principal gira em torno da capacidade do material polimérico em absorver compostos químicos.

Freire ​et al. ​(2008) explana que aos mais de 30 diferentes tipos de plásticos disponíveis no mercado atual, em seus processos de transformação, são incorporados diferentes aditivos. Essas substâncias proporcionam um melhor desempenho das características finais do produto e se encontram dispersas na matriz polimérica que entrará em contato direto com o alimento. Fica evidente que as embalagens plásticas não são inertes e possuem potencial contaminante, quando ocorrem processos denominados de migração.

Há também há a problemática dos resíduos gerados pelo descarte de embalagens alimentícias produzidas com materiais plásticos, agravada pela baixa qualidade no gerenciamento dos resíduos sólidos.

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É evidente a preocupação quanto ao esgotamento dos recursos necessários para a produção de bens e serviços que suprem necessidades humanas, face a incapacidade de renovação dos ecossistemas com semelhante ímpeto e velocidade. Diante de tal realidade, é incontestável a necessidade de se prever a adoção de novos estilos de vida por meio de mudanças comportamentais, posto que a sustentabilidade está intrinsecamente vinculada ao social. Contiguamente, o desenvolvimento de artefatos que mediam as atividades humanas deve promover tais mudanças, valorizando e propiciando o agir sustentável.

O projeto de novos produtos, deve, necessariamente, considerar todo o ciclo de vida, desde a extração dos recursos, os processos produtivos e seus usos, até sua revalidação como objeto funcional ou a sua disposição final. Faz-se imprescindível incorporar critérios de sustentabilidade ao longo do processo de criação, não apenas como diferencial competitivo, mas como internalização da responsabilidade, enquanto projetista, quanto ao produto, bem ou serviço produzido e suas implicações no mundo (PAPANEK, 1985).

Vive-se uma era de descartáveis, onde tudo rapidamente se torna obsoleto, e é rejeitado ainda em prazo de validade. Designers são contratados para gerar novos problemas com consequentes soluções temporárias - e assim reina a obsolescência programada. O que acarreta uma consequente distorção de valores, com influência sobre a psique humana, onde esses comportamentos não são apenas tidos como normais, como fortemente induzidos pelo mercado.

As mudanças dos hábitos alimentares que decorrem de mudanças no estilo de vida, têm levado a um aumento considerável na oferta de alimentos pré-preparados e conservados, o que explica o progressivo aumento na quantidade de resíduos de embalagens no total dos resíduos sólidos urbanos produzidos. Apesar da inquestionável importância econômica e social da embalagem, cresce a consciência do seu impacto no ambiente, fomentando a necessidade de prevenir a produção excessiva de resíduos de embalagens, de modo a promover a sua revalorização ou prever alternativas substituintes no caso das embalagens produzidas por fontes não renováveis.

É preciso contrapor-se a redução do Design aos aspectos estéticos-formais, à associação ao efêmero, ao caro ou mesmo ao supérfluo e projetar visando suprir

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necessidades humanas, promovendo a dissociação da ideia do Design como instrumento da economia do desperdício e como fomentador de um consumo insustentável. Ir, assim, ao encontro a um movimento contrário, que busque maximizar a durabilidade, reciclabilidade e reparabilidade em artefatos confeccionados em materiais de baixa degradabilidade.

O desenvolvimento de um artefato adequado também intenciona contribuir com a conservação dos alimentos, ocasionando menos desperdícios e a conserva de sobras, possibilitando seu consumo ​a posteriori​.

11. Objetivos

11.1. Objetivo geral

Desenvolver conceito de marmita durável que promova o eficaz acondicionamento e transporte do conteúdo alimentício, com enfoque na saudabilidade no que tange à segurança dos materiais em contato com alimentos e à nutrição. Deve atender a jovens adultos universitários e/ou trabalhadores em contexto urbano.

11.2. Objetivos específicos ou secundários

- Facilitar a higienização almejando a economia de tempo e segurança alimentar;

- Explorar materiais alternativos que sejam seguros para o contato com alimentos e ambientalmente responsáveis.

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12. Metodologia

Para Cross, a metodologia projetual objetiva aprimorar a prática de design e apresenta uma orientação fortemente voltada ao processo (CROSS, 1993). É se não uma série de operações pautadas por uma ordem lógica, que não são determinantes para o sucesso do desenvolvimento de produtos, mas atuam como um processo auxiliar.

Das necessidades das pessoas surgem os problemas de design. Quando o design apropria-se dessas necessidades e propõe soluções significativas, está diretamente a promover a qualidade de vida (Munari, 1981).

Munari afirma ser imprescindível definir o problema no seu todo. Julga necessário iniciar o processo de design pela definição desse problema, que por sua vez irá delimitar naturalmente o projeto. O mesmo autor acredita que “o problema não se resolve por si só; no entanto, contém já todos os elementos para a sua solução [...]” (Munari, 1981).

Desta feita, segue-se a componentização do problema. Ou seja, sua decomposição em fragmentos menores. Essa etapa objetiva evidenciar e sanar possíveis subproblemas inconspícuos, uma vez que o nível de complexidade inerente aos problemas contemporâneos exige do projetista que este congregue um número ainda maior de informações, para que haja segurança no encaminhamento do projeto. Nesse sentido, o pensamento de Munari se baseia e conflui ao de B. Archer (1967). Não é incomum, porém, que a resolução de um subproblema conflite com a resolução dos demais. É incumbido ao projetista a capacidade de coordenar criativamente as soluções dos subproblemas, visando alcançar ou aproximar-se de uma solução ​optimal ​para o projeto global (Munari, 1981).

Seguinte está a etapa de recolhimento de dados, que apoiará a decisão sobre os elementos constitutivos do projeto. Vale salientar que essa etapa também compreende o ​Benchmarking ​e análise de conceitos ou produtos similares em

circulação no mercado. Posteriormente, as informações coletadas serão analisadas. Delas será possível extrair insumos de projeto, sugestões majoritariamente acerca de como não proceder. Assim, o projeto é orientado de forma a implementar a

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utilização de outros materiais, outras tecnologias, outra configuração, outros custos (Munari, 1981).

A criatividade é etapa intrínseca ao projetar. Mas, por criatividade não se deve relacionar uma ideia intuitiva, desapegada de todo e qualquer método. A criatividade entendida por Munari deve ater-se à lógica e manter-se nos limites do problema, de forma a propor soluções plausíveis, técnica e economicamente. É importante frisar que a criatividade apenas se dá após as etapas metodológicas precedentes, caso contrário, tenderá a buscar soluções imediatistas, rasas e negligentes (Munari, 1981).

A operação seguinte relaciona-se ao estudo e seleção de materiais, tecnologias e processos produtivos disponíveis para a realização do projeto. Prevê também a experimentação como forma de descobrir novas aplicações para os diferentes materiais e técnicas, dentro do contexto do projeto. Através da experimentação, procura-se reduzir ainda mais a incerteza e as chances de falha.

Das experiências anteriores resultam amostras, conclusões e informações, que nos levarão à construção dos primeiros modelos demonstrativos. Tendo estabelecido relações suficientes entre os dados recolhidos, analisados e experimentados, chega a hora de materializar as ideias em esboços. Estes esboços devem ser concebidos preferencialmente em escala ou tamanho natural, e podem ser postos em prática separadamente, enfatizando a concepção de cada componente, que posteriormente serão reunidos no objeto global. Os modelos demonstram as possibilidades matéricas ou técnicas, traduzidos meio à representação gráfica; representam o que poderá, eventualmente vir a ser solução do problema (Munari, 1981).

O modelo, ou os modelos, deverão necessariamente passar por validação com prováveis utentes. O desígnio da verificação do modelo é obter juízos sinceros acerca da proposta apresentada. Estes juízos, quando assentados em valores objetivos, terão potencial de modificação do modelo, estudada a possibilidade de implementação dessas novas considerações. Juízos dotados de subjetividade e fundamentados afinidades individuais, por sua vez, devem ser desconsiderados.

Por fim, tem-se o que Munari denominou por “desenhos construtivos”, que nada mais são senão as representações fidedignas do objeto projetado. Essas

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representações dar-se-ão através do desenho técnico, que deve ser claro e suficiente, colaborando para a percepção de todos os aspectos do projeto. Representações tridimensionais ou a feitura de modelo em tamanho natural; O executor deve compreender o que se pretende realizar.

A justificativa pela escolha da metodologia de Bruno Munari dá-se por sua lucidez, apesar de sucedidos vários anos desde sua proposição. Ademais, é por característica bastante abrangente e facilmente aplicável ao projeto de produtos atemporais.

13.Problematização

A problematização nada mais é senão uma técnica que induz o questionamento a fim de elucidar o problema de projeto ou as necessidades a serem satisfeitas.

Seguinte ao referencial teórico, podemos elencar, agregando-se também o repertório do projetista, algumas possíveis problemáticas, passíveis de verificação. Desta feita, obteve-se a seguinte relação de problemas em potencial, dispostos na tabela abaixo.

Tabela 1 -​ Problemas em potencial. Fonte: Autora, 2018.

Possíveis problemas na utilização de marmitas

Risco de acidentes (vazamentos) Dada a pressa do dia a dia ou mesmo por falha no design, a comida pode se deslocar durante o trajeto e ocasionar vazamentos

Má higiene O uso constante sem a devida atenção à limpeza

provocaria um acúmulo de impurezas e sujeira, resultando no mau cheiro

Risco de acidentes (quedas) O modo de vida atribulado e marcado por um ritmo

intenso pode ocasionar falhas humanas e acidentes. As quedas inclusive podem resultar em vazamentos ou na quebra do recipiente

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Insatisfação com a comida preparada

Com uma rotina intensa e acelerada, a atenção dedicada ao preparo dos alimentos pode diminuir, resultando em refeições insatisfatórias de gosto questionável

Abreviamento do ritual alimentar As curtas pausas para comer são marcadas pela pressa, visando a otimização do tempo e do trabalho

Manuseio dos talheres O corte de alimentos rígidos, como as carnes, pode ser

um problema devido ao espaço geralmente reduzido e compartimentarizado das marmitas. Se confeccionadas em material inadequado podem ainda riscar

Espaço reduzido para a realização da refeição

Considerar o comer em diferentes ambientes, pensando a restrição espacial

Impossibilidade de aquecer o alimento

Há preferência em alimentar-se de refeições aquecidas. A necessidade de aquecimento surge dado o ​gap​ de tempo entre o preparo e consumo

Objetos acessórios após a refeição Como proceder com os talheres sujos no pós-refeição?

Mau cheiro Os restos de alimento podem ocasionar mau cheiro

Mistura dos alimentos A comida pode se deslocar durante o trajeto e se

misturar

São várias as problemáticas previamente identificadas na utilização de marmitas, e que podem configurar-se oportunidades de intervenção. No próximo capítulo, foram listados listados indicadores projetuais.

14.Indicadores projetuais

Após a síntese e análise das problemáticas levantadas, é possível propor algumas soluções iniciais, que abarcariam todo ou parte dos problemas, de forma a nortear o desenvolvimento do projeto:

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1. O objeto projetado deve ser hermeticamente fechado, à prova de vazamentos. O reduzido contato com o oxigênio evita a proliferação de bactérias e reduz a velocidade com que os alimentos se deterioram, ocasionando menos desperdícios e a conservação de sobras por mais tempo, possibilitando seu posterior consumo.

2. Indo ao encontro à necessidade de aquecimento do alimento ​a priori ao ato de comer, é de interesse adequar a escolha do material pela característica ou propriedade de manutenção da temperatura ou que ao menos possibilite o esquentar em forno microondas;

3. Não utilizar ou minimizar a utilização de materiais plásticos ou demais materiais que possam apresentar riscos à saúde;

4. Reduzir o tamanho do artefato final apenas ao essencial, como forma de minimizar o uso de materiais, facilitar seu transporte e limitar a quantidade de alimento a ser ingerida. Também pode ser indicados quantitativos relativos aos grupos de macronutrientes.

5. Maximizar a durabilidade do artefato ao confeccioná-lo em materiais de baixa degradabilidade, contribuindo com o fator sustentabilidade ao gerar menos descartes.

6. Facilitar a higienização por meio da escolha de materiais não porosos, oleofóbicos ou hidrofóbicos. A forma deve evitar quinas e prever o desmonte dos componentes.

15.Análise sincrônica ou paramétrica

A análise sincrônica ou paramétrica visa evitar reinvenções e pode auxiliar no processo de tomada de decisão, uma vez que é possível identificar características

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desejáveis e evitar as que não atendem com plenitude as necessidades do mercado. Conhecendo os pontos fracos e fortes de um produto é possível intervir de forma a melhorá-los, mudá-los ou mesmo procurar mantê-los (Bonsiepe, 1984).

Em sumo, compara produtos em desenvolvimento a produtos existentes ou concorrentes, baseando-se em variáveis mensuráveis. Devem ser estabelecidos critérios de ordem quantitativa em observância a aspectos de funcionalidade, conforto, cor, forma, preço, dimensões, material, processos de fabricação e também de ordem qualitativa: estilo e sensação (Pazmino, 2015).

Por concorrente, entende-se todo produto ou serviço que atenda a um mesmo mercado e satisfaça as mesmas necessidades de um nicho de consumidores. Para melhor entender determinado produto, é preciso analisá-lo sob todos os possíveis aspectos a ele inerentes.

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15.1. Black + Blum Bento Box

Figura 4: ​Black + Blum Bento Box. Fonte: Bento&Co Origem:​ Taiwan

Preço:​ $25.60 USD (Aproximadamente R$100,00) Dimensões:​ 19 cm x 12 cm x 6 cm

Capacidade:​ 500 ml

Materiais: ​Polipropileno e silicone

Lacre: ​Lacre eficiente em silicone, com clipes robustos Durabilidade: ​Resistente, robusto e durável

Forma: ​Retangular

Cores: ​Opções variadas de cores Seguro para microondas: ​Sim Seguro para lava-louças: ​Sim

Diferenciais: ​Possui pequeno contêiner para molhos e seção separada para saladas, além de separadores removíveis

Referências

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