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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE MESTRADO EM CONTABILIDADE

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FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE

MESTRADO EM CONTABILIDADE

FIORELLA LOPEZ LIZA

CONSERVADORISMO CONDICIONAL NOS LUCROS AGREGADOS:

ANÁLISE DO MERCADO BRASILEIRO

Salvador

2020

(2)

CONSERVADORISMO CONDICIONAL NOS LUCROS AGREGADOS:

ANÁLISE DO MERCADO BRASILEIRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Contábeis.

Orientador: Prof. Dr. José Sérgio Casé de Oliveira

Coorientador: Prof. Dr. Luis Paulo Guimarães dos Santos

Salvador

2020

(3)

SIBI/UFBA/Faculdade de Ciências Contábeis - Biblioteca José Bernardo Cordeiro Filho L789 Liza, Fiorella Lopez

Conservadorismo condicional nos lucros agregados: análise do mercado brasileiro / Fiorella Lopez Liza. - Salvador, 2020.

98f.: il.

Orientador: Prof. Dr. José Sérgio Casé de Oliveira

Coorientador: Prof. Dr. Luis Paulo Guimarães dos Santos

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Ciências Contábeis, Programa de Pós-graduação em Contabilidade.

1. Contabilidade. 2. Lucros – Mercado de capitais - Brasil. 3. Lucros –

Contabilidade. I. Oliveira, José Sérgio Casé de. II. Santos, Luis Paulo Guimarães dos. III. Universidade Federal da Bahia. IV. Faculdade de Ciências Contábeis, Programa de Pós-graduação em Contabilidade. V. Título.

CDD – 657 CDU – 657

(4)

ATA Nº 4

Ata da sessão pública do Colegiado do PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE (PPGCONT). No dia 30/04/2020, reuniram-se os membros da banca examinadora, composta pelos professores(as) Drs.(as): JOSE SERGIO CASE DE OLIVEIRA (Orientador), JOSEILTON SILVEIRA DA ROCHA (Membro Interno, UFBA - PPGCont), LUIS PAULO GUIMARAES DOS SANTOS (Membro Interno, UFBA - PPGCont), e WENNER GLAUCIO LOPES LUCENA (Membro Externo, UFPB - Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis), a fim de arguirem o(a) candidato(a) FIORELLA LOPEZ LIZA, matrícula 218122969, após a apresentação da Dissertação intitulada "Conservadorismo Condicional nos Lucros Agregados: Análise do Mercado Brasileiro".

A presidência da banca abriu a sessão e após passar as orientações regimentais, convidou o(a) discente a expor uma síntese de sua pesquisa. Em seguida os membros da banca apresentaram suas contribuições e arguiram o(a) discente. Na sequência procedeu-se ao julgamento do trabalho, concluindo a banca pela sua aprovação.

Nada mais havendo a tratar, a sessão foi encerrada, dela sendo lavrado a presente ata, que segue assinada pela banca examinadora e pelo(a) candidato(a).

Dr. WENNER GLAUCIO LOPES LUCENA, UFPB

Examinador Externo à Instituição

Dr. JOSEILTON SILVEIRA DA ROCHA, UFBA

Examinador Interno

Dr. LUIS PAULO GUIMARAES DOS SANTOS, UFBA

Examinador Interno

Dr. JOSE SERGIO CASE DE OLIVEIRA, UFBA

Presidente

(5)

Emitido em 30/04/2020

ATA Nº 1428/2020 - FCC (12.01.61) NÃO PROTOCOLADO) (Nº do Protocolo:

(Assinado eletronicamente em 08/10/2020 20:13 )

JOSEILTON SILVEIRA DA ROCHA PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR

1219699

(Assinado eletronicamente em 01/10/2020 19:14 )

LUIS PAULO GUIMARAES DOS SANTOS PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR

2276473

(Assinado eletronicamente em 02/10/2020 10:42 )

ANTONIO GUALBERTO PEREIRA COORDENADOR

2140457

(Assinado eletronicamente em 01/10/2020 17:05 )

JOSE SERGIO CASE DE OLIVEIRA PROFESSOR DO MAGISTERIO SUPERIOR

1227504

Para verificar a autenticidade deste documento entre em https://sipac.ufba.br/documentos/ informando seu número: , ano: , tipo: , data de emissão: e o código de verificação:

(6)

A mi familia, por el coraje que forjaron en mí, que me hizo considerar, fuera de las fronteras, un mundo de posibilidades en busca del conocimiento.

(7)

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus por realizar os meus sonhos e direcionar os meus objetivos, iluminando-me com sabedoria e inteligência nas dificuldades e desafios apresentados durante esse processo de aprendizado e crescimento pessoal.

Ao Programa de Pós-graduação em Contabilidade por ter aberto suas portas para minha formação como mestre e à cooperação entre o Programa de Alianças para Educação e a Capacitação (PAEC OEA-GCUB) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro.

Ao meu orientador, Dr. José Sérgio Casé de Oliveira, pela sua paciência, compreensão e pelos ensinamentos compartilhados durante o desenvolvimento desta dissertação.

Ao meu coorientador, Dr. Paulo Guimarães dos Santos, pelas sugestões e encaminhamentos que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.

Meu agradecimento especial aos meus pais, pelo amor e apoio incondicional, que me incentivaram ao longo desta etapa; e aos meus irmãos, por terem acreditado em mim e torcido sempre pelo meu sucesso.

E a todos os que me acompanharam neste processo do mestrado e na minha travessia em Salvador, que de certa forma contribuíram para meu crescimento humano e profissional.

(8)

“Thoroughly conscious ignorance is the prelude to every real advance in science.”

(9)

Contábeis, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.

RESUMO

Este estudo examina o grau de conservadorismo condicional presente nos lucros agregados do mercado de capitais brasileiro. Nessa linha, tenta trazer evidências para o Brasil das propriedades dos lucros agregados, especificamente do conservadorismo condicional, no entanto, no nível agregado. Usando o modelo de Basu (1997), realizou-se a pesquisa empírica de séries temporais, para o qual, procedeu-se a coleta de informações no nível da firma, das empresas não-financeiras listadas na B3 durante o período que compreendeu desde o primeiro trimestre de 1998 até o quarto trimestre de 2017 no banco de dados Economática®; a partir desses dados, obteve-se uma média de cada variável, a ser utilizada no nível agregado. Em função dos resultados obtidos com demonstrações trimestrais, não se conseguiu evidenciar a existência de um alto grau de conservadorismo condicional mensurado pelo reconhecimento assimétrico entre boas e más notícias. No entanto, esses resultados fornecem os primeiros indícios no Brasil do comportamento dos lucros contábeis no nível agregado. Além disso, para a amostra analisada, no nível agregado, variáveis macroeconômicas melhoram a especificação do modelo de conservadorismo condicional de Basu (1997). Considerando-se que os resultados do presente estudo são preliminares, é salutar que sejam analisados no contexto brasileiro. Contudo, o estudo traz importantes contribuições para a pesquisa brasileira ao apresentar para o país evidências do conservadorismo condicional como propriedade dos lucros agregados, posto que a relação lucro-retorno agregada é um tema pouco explorado no Brasil. Dessa forma, busca-se motivar aos pesquisadores a ampliar o campo de estudo, do micro (nível da firma) ao macro (no nível agregado).

(10)

Contábeis, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.

ABSTRACT

This study examines the degree of conditional conservatism present in the aggregate earnings of the Brazilian capital market. In this line, it tries to bring evidence to Brazil of the properties of aggregate profits, specifically of conditional conservatism, however, at the aggregate level. Using the model of Basu (1997), an empirical research of time series was carried out, for that, proceeded to collect information at the firm level, from the non-financial companies listed in B3 during the period that comprised since the first quarter from 1998 to the fourth quarter of 2017 in the Economática® database, from these data, an average of each variable was obtained, to be used at the aggregate level. Due to the results obtained with quarterly financial statements, it was not possible to evidence the existence of a high degree of conditional conservatism measured by the asymmetric recognition between good and bad news. However, these results provide the first evidence in Brazil of the behavior of accounting earnings at the aggregate level. In addition, for the analyzed sample, at the aggregate level, macroeconomic variables improve the specification of Basu's conditional conservatism model (1997). Considering that the results of the present study are preliminary, they must be analyzed in the Brazilian context. However, the study brings important contributions to Brazilian research by presenting evidence of conditional conservatism as a property of aggregate earnings for the country, since the aggregate earning-return relationship is a topic that is little explored in Brazil. Thus, it seeks to motivate researchers to expand the field of study, from the micro (firm level) to the macro (at the aggregate level).

(11)

Contábeis, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.

RESUMEN

Este estudio examina el grado de conservadurismo condicional presente en el resultado contable agregado del mercado de capitales brasileño. En ese sentido, se intenta traer evidencia para Brasil de las propiedades de los resultados contables agregados, específicamente del conservadurismo condicional, no obstante, a nivel agregado. Utilizando el modelo de Basu (1997), se realizó una investigación empírica de series temporales, para lo cual, se recopiló información a nivel de empresa de las empresas no financieras que cotizan en la B3 durante el período comprendido desde el primer trimestre de 1998 al cuarto trimestre de 2017, en la base de datos Economática®; a partir de estos datos, se obtuvo un promedio de cada variable, a ser utilizado a nivel agregado. A partir de los resultados obtenidos con las informaciones trimestrales, no fue posible evidenciar la existencia de un alto grado de conservadurismo condicional medido por el reconocimiento asimétrico entre buenas y malas noticias. Sin embargo, estos resultados proporcionan la primera evidencia en Brasil del comportamiento de los resultados contables a nivel agregado. Además, para la muestra analizada, a nivel agregado, las variables macroeconómicas mejoran la especificación del modelo de conservadurismo condicional de Basu (1997). Teniendo en cuenta que los resultados del presente estudio son preliminares, deben analizarse en el contexto brasileño. Sin embargo, el estudio aporta importantes contribuciones a la investigación brasileña, trayendo evidencia a Brasil del conservadurismo condicional como propiedad de los beneficios agregados, ya que la relación resultado – rendimiento agregado es un tema poco explorado en Brasil. Por lo tanto, se busca motivar a los investigadores a expandir el campo de estudio, del micro (nivel de empresa) el macro (a nivel agregado).

Palabras clave: resultado contable agregado, rendimiento agregado, conservadurismo condicional

(12)

Quadro 2 - Definição das variáveis ... 58

Quadro 3 - Resumo dos testes estatísticos utilizados no modelo ... 67

Quadro 4 - Coeficientes de regressão incluindo as empresas financeiras ... 71

Quadro 5 - Coeficientes de regressão do tratamento dos dados ... 72

Quadro 6 - Coeficientes de regressão do modelo de regressão com dados anuais ... 74

Quadro 7 - Resumo dos testes estatísticos utilizados no modelo ajustado ... 77

Quadro 8 - Coeficientes de regressão do modelo ajustado para diferentes tratamentos de dados ... 80

Quadro 9 - Coeficientes de regressão do modelo ajustado usando diferentes variáveis macroeconômicas ... 81

Quadro 10 - Coeficientes de regressão do modelo ajustado com variáveis macroeconômicas diferentes ... 82

Quadro 11 - Coeficientes de regressão do modelo ajustado com dados anuais ... 83

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listadas na B3 nos trimestres compreendidos no período de 1998 a 2017 ... 63 Tabela 2 - Resultado do modelo MQO para as empresas não financeiras listadas na B3 nos trimestres compreendidos no período de 1998 a 2017 ... 68 Tabela 3 - Resultado do modelo com o retorno desfasado para as empresas não financeiras listadas na B3 nos trimestres compreendidos no período de 1998 a 2017 ... 73 Tabela 4 - Resumo da Estatística Descritiva dos Indicadores Macroeconômicos do mercado brasileiro nos trimestres compreendidos no período de 1998 a 2017... 75 Tabela 5 - Resultado do modelo ajustado MQO para as empresas não financeiras listadas na B3 nos trimestres compreendidos no período de 1998 a 2017 ... 78 Tabela 6 - Análises da ANOVA dos modelos em estudo... 79

(14)

Gráfico 2 – Boxplot dos lucros agregados... 62

Gráfico 3 – Boxplot dos retornos agregados ... 62

Gráfico 4 – Decomposição da série temporal dos lucros agregados ... 65

Gráfico 5 – Decomposição da série temporal dos retornos agregados ... 65

Gráfico 6 – Série temporal dos lucros agregados sem tendência lineal ... 66

Gráfico 7 – Série temporal dos retornos agregados sem tendência lineal ... 66

Gráfico 8 – Decomposição da série temporal do PIB per capita do Brasil ... 76

(15)

1 INTRODUÇÃO ... 16

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL ... 16

1.2 PARTICULARIDADES DO CENÁRIO BRASILEIRO ... 18

1.3 PROBLEMA DE PESQUISA... 19 1.4 OBJETIVOS ... 20 1.5 JUSTIFICATIVA ... 21 1.6 CONTRIBUIÇÕES ... 22 1.7 ESTRUTURA DA PESQUISA ... 23 2 REVISÃO DE LITERATURA ... 24

2.1 A QUALIDADE DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL ... 24

2.2 DE LUCRO CONTÁBIL A LUCROS AGREGADOS ... 27

2.3 ESTUDOS DA RELAÇÃO LUCRO-RETORNO NO NÍVEL AGREGADO ... 29

2.4 O CONSERVADORISMO NA CONTABILIDADE ... 32

2.5 ESTUDOS NO NÍVEL DA FIRMA DE CONSERVADORISMO CONDICIONAL .. 38

2.5.1 Estudos internacionais do conservadorismo condicional ... 38

2.5.2 Estudos do conservadorismo condicional entre países ... 41

2.5.3 Estudos nacionais no nível da firma... 42

2.6 ESTUDOS DE CONSERVADORISMO CONTÁBIL NO NÍVEL AGREGADO ... 45

2.7 DESENVOLVIMENTO DO TEMA DE PESQUISA ... 51

3 METODOLOGIA ... 54

3.1 SELEÇÃO DA AMOSTRA E COLETA DE DADOS ... 54

3.2 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ... 56

3.3 MODELO ECONOMÉTRICO ... 58

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 61

(16)

5 ANÁLISE DE ROBUSTEZ ... 71

5.1 SENSIBILIDADE DOS RESULTADOS ... 71

5.2 ESPECIFICAÇÃO DO MODELO DE BASU (1997) ... 74

5.3 ANÁLISE ADICIONAL ... 84

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 86

(17)

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO GERAL

Um dos objetivos principais da contabilidade, tal como interpretado por Martinez (2001) é prover informações úteis aos diversos usuários (por exemplo: acionistas, gestores, fornecedores, credores, reguladores, competidores, concorrentes, clientes, etc.) das demonstrações contábeis para a tomada de decisão.

Desde que, os diversos usuários são todos os agentes econômicos que direta ou indiretamente buscam auxílio nessas informações, eles têm diferentes interesses. Nesse sentido, dentro do rol informativo da contabilidade se distinguem duas perspectivas: a perspectiva de

valuation, na qual a função da contabilidade é capturar informações que podem ser usadas para

avaliar o valor de mercado das ações e tomar decisões de investimento; por outro lado, na perspectiva contratual, a função da contabilidade é fornecer informações que permitam às partes contratantes avaliar a efetividade com que as obrigações são executadas em ambientes contratuais, como contratos de dívida ou remuneração de executivos (RUCH; TAYLOR, 2015). Um dos principais usuários das demonstrações contábeis são os acionistas, que se concentram no mercado de capitais. Assim, no momento de escolher uma carteira de ações, eles demandaram informações contábeis para estimar os fluxos futuros associados a cada ação, que provavelmente afetará o preço das ações, então influir no retorno das ações, nos investimentos e indiretamente na economia. Portanto, uma vez que a contabilidade é inserida no processo de tomada de decisão, ela passa a ter implicações econômicas. Portanto, para que as informações contábeis sejam uteis, elas precisam ser de qualidade.

Entenda-se qualidade como os atributos ou características desejáveis para que as informações sejam utilizadas tanto para fins contratuais, quanto de valuation. Nesse sentido, na literatura contábil tem se observado diferentes atributos ou características da qualidade da informação contábil, como por exemplo: persistência, reconhecimento assimétrico e pontual das perdas (conservadorismo e oportunidade) e gerenciamentos de resultados1

(BURGSTAHLER; HAIL; LEUZ, 2006; DECHOW; GE; SCHRAND, 2010; DECHOW; SCHRAND; COLLINS, 2004; DICHEV et al., 2013). Essas características geralmente são mensuradas com base no lucro contábil (resultado) divulgado e nos componentes do lucro (HRIBAR; KRAVET; WILSON, 2014), como é o caso dos fluxos de caixa e os accruals2.

1 Na literatura, termo equivalente a earnings management (BURGSTAHLER; HAIL; LEUZ, 2006; MARTINEZ, 2008), também conhecido com a expressão: suavização dos lucros (DECHOW; GE; SCHRAND, 2010; DICHEV et al., 2013; MAZZIONI; KLANN, 2018).

2 Utiliza-se o termo na sua língua original inglesa, devido ao fato de que não existe um consenso da tradução do termo na língua portuguesa

(18)

No Brasil, diversos estudos têm analisado as características da informação contábil, como: persistência (PAULO, 2007), conservadorismo (BARROS, 2015; COELHO, 2007; PAULO; ANTUNES; FORMIGONI, 2008; SILVA et al., 2019) e gerenciamento de resultados (MARTINEZ, 2001; PAULO, 2007). Desse modo, nota-se a importância de estudar a qualidade da informação contábil.

Entretanto, para Paulo (2007) a qualidade da informação contábil está ligada à demanda do seus usuários, considerando características próprias do mercado, assim como aspectos econômicos, sociais, culturais, geográficos e até temporais. Além disso, a informação contábil de qualidade torna-se uma importante ferramenta para reduzir a assimetria da informação entre os gestores e agentes (conforme à teoria da agência), dessa forma, promover o desenvolvimento de mercados de capitais mais eficientes.

Dentre as principais características da qualidade da informação contábil, o conservadorismo é considerada uma das características mais fundamentais da informação contábil que remonta há séculos (BASU, 1997; WATTS, 2003), presente na maioria das estruturas conceituais. Caraterizado na contabilidade por reconhecer de forma mais oportuna as perdas não realizadas do que os ganhos não realizados, é uma prática de reconhecimento assimétrico das perdas em relação aos ganhos, interpretado por Basu (1997) como a tendência dos contadores de exigir um maior grau de verificação para reconhecer boas notícias como ganhos do que reconhecer más notícias como perdas.

No que diz respeito aos benefícios do conservadorismo, conforme Paulo (2007), o conservadorismo limita o comportamento dos gerentes, dessa forma, contribui acrescentando a confiabilidade dos números contábeis aos diversos usuários das demonstrações contábeis. Sendo assim, torna-se um instrumento importante na eficiência das relações contratuais, pois restringe o comportamento oportunista dos gestores através da exigência assimétrica da verificabilidade.

A literatura distingue duas formas de conservadorismo: o conservadorismo condicional, e o conservadorismo incondicional. A principal diferença entre eles está na aplicação, posto que o conservadorismo condicional depende de eventos ou notícias econômicas, ao contrário do conservadorismo incondicional.

Contudo, o conservadorismo condicional é mais prevalente na pesquisa contábil, tal como observado por Ruch e Taylor (2015), o que pode estar relacionado ao fato de que ele comunica informações ou eventos econômicos enquanto o conservadorismos incondicional não. Nessa direção, este estudo se centra na análise do conservadorismo condicional.

(19)

1.2 PARTICULARIDADES DO CENÁRIO BRASILEIRO

Os estudos que analisaram o conservadorismo condicional no nível da firma no Brasil (BARROS, 2015; BLACK; NAKAO, 2017; BRAGA, 2011; CELLA; MACHADO; CARMO, 2019; SANTOS et al., 2011; VIEIRA et al., 2011) apresentam resultados mistos e às vezes conflitantes, sugerindo que, a existência do conservadorismo condicional nas demonstrações contábeis no nível da firma, ainda não é concluinte.

Para Paulo et al. (2008) o conservadorismo, assim como as outras características da informação contábil, também é influenciado pelo ambiente regulatório da dinâmica do mercado de capitais de cada país e do tipo de organização empresarial. Além disso, Silva et al. (2019) apontam que existem muitos fatores que podem motivar o conservadorismo, a exemplo de fatores fiscais, normas contábeis, aspectos culturais e até a remuneração de gestores.

É importante ressaltar os fatores específicos do mercado de capitais brasileiro, entre eles, o tamanho do mercado, visto que é o maior mercado de capitais da América Latina. C om 40,80% em valor de ações negociadas com respeito ao PIB brasileiro, é menor quando comparado ao mercado norte-americano, que conta com 160% em valor de ações negociadas com respeito ao PIB norte-americano, segundo dados do Banco Mundial (2018).

Assim mesmo, o mercado de capitais brasileiro é caracterizado por apresentar uma estrutura de propriedade concentrada (BARROS, 2015; BRAGA, 2011; CARVALHO; RIBEIRO, 2019; LEAL; SILVA; VALADARES, 2002): em dezembro de 2019 os dados da B3 mostravam que os investidores individuais representavam 16,87%, a diferença dos investidores institucionais alcançava 35,18% e os investidores estrangeiros somavam 42,58%.

Apesar de adotar um padrão contábil originado em um ambiente common law, Braga (2011) sinaliza que o Brasil é de tradição jurídica code law, onde as demonstrações contábeis não são preparadas para auxiliar na tomada de decisão dos investidores do mercado de capitais, mas sim para atender a demandas tributarias e exigências regulatórias. Observando-se assim uma forte proximidade dos padrões contábeis e as regas fiscais.

Neste ponto, cabe salientar que o financiamento das empresas brasileiras ainda depende fortemente do crédito bancário. Na análise das captações, apesar de a parcela relativa à dívida corporativa ter experimentado um aumento em 2017 (2,2% do PIB) em comparação à 2016 (1,7% do PIB), seu volume ainda era sete vezes menor que o montante relativo ao crédito livre em 2017 (CVM, 2019).

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1.3 PROBLEMA DE PESQUISA

No nível da firma, a literatura internacional tem estudado o papel do conservadorismo, seus determinantes e efeitos (DEFOND; LIM; ZANG, 2016; ERKENS; SUBRAMANYAM; ZHANG, 2014; LOBO; ZHOU, 2006; PENALVA; WAGENHOFER, 2019; SUNDER; SUNDER; ZHANG, 2018). Já no Brasil, também verifica-se diversos estudos de conservadorismo, principalmente como as mudanças normativas afetam o seu grau (ALVES; MARTINEZ, 2014; BRITO; MARTINS, 2013; CELLA; MACHADO; CARMO, 2019; MOREIRA; COLAUTO; AMARAL, 2010; SANTOS et al., 2011; SILVA et al., 2019).

Percebe-se que a maioria das pesquisas de conservadorismo tanto no âmbito nacional quanto no internacional, concentram-se principalmente na análise no nível da firma. Esses resultados anteriores são relevantes porque ressaltam a importância da contabilidade para os diversos usuários das demonstrações contábeis.

Entretanto, Ball e Sadka (2015) apontam que a pesquisa contábil está no processo de convergência para a macroeconômica, destacando a importância de adotar uma perspectiva agregada na contabilidade. Assim mesmo, Gallo et al. (2016) destaca que, enquanto a maior parte da literatura contábil estuda o conteúdo das informações contábeis no nível da empresa e a sua importância para a tomada de decisões econômicas, ainda existem poucos estudos que examinam a sua contraparte no nível agregado.

A princípio, para ampliar a perspectiva micro (nível da firma) da contabilidade a uma perspectiva macro (nível agregado), é importante identificar as consequências econômicas da informação contábil. Martinez (2001) aponta algumas delas, como a influência na distribuição de riqueza dos investidores, na percepção de risco e como ele se distribui entre os diversos usuários, no investimento e consumo da sociedade e a forma como os investimentos são alocados entre as empresas. Sendo assim, é essencial assegurar informações contábeis de qualidade, pois elas provavelmente afetam os preços das ações, que, por sua vez, impactam na escolha dos investidores entre o consumo presente e o investimento e, indiretamente, na economia.

Nessa perspectiva, as consequências econômicas do conservadorismo condicional discutidas na literatura centram-se principalmente nos custos de dívida (AHMED et al., 2002; BRITO; MARTINS, 2013; LI, 2015; ZHANG, 2008) e no nível de investimento (BUSHMAN; PIOTROSKI; SMITH, 2011; LARA; OSMA; PENALVA, 2016). Já, Do e Nabar (2019) apontam que o reconhecimento oportuno das perdas acelera as ações corretivas quando os

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projetos falham, já que a tomada de decisão pode ser transferida mais rapidamente para os credores e outros provedores de capital, evitando uma perda significativa de valor.

Outro ponto a ser considerado na perspectiva agregada é o comportamento macro, entendendo-o como a epítome das decisões tomadas no nível micro, ou seja, deliberações definidas pelas famílias e empresas. Visto que o mercado de capitais concentra um grande número de empresas e acionistas, ele tem um papel importante no direcionamento dos recursos na economia, contribuindo para o desenvolvimento de um país.

Neste ponto, cabe salientar que na literatura internacional já existem pesquisas que estendem o estudo dos efeitos do conservadorismo contábil do nível da firma ao nível agregado (CRAWLEY, 2015; DO; NABAR, 2019; LAURION; PATATOUKAS, 2016; LI, 2015; LIM; ZHENG, 2014). Estes estudos utilizam principalmente como proxy os “lucros agregados” - mensurados usando médias dos lucros contábeis no nível da empresa – ou seja, trata-se de variáveis agregadas, que representam totais de uma economia, utilizados na macroeconomia como medidas globais de um país.

Diante desses estudos, que utilizaram variáveis contábeis agregadas, torna-se relevante examinar as propriedades dos lucros agregados. Tendo em vista que o conservadorismo condicional é considerado uma propriedade do lucro contábil (no nível da firma), estender essa propriedade aos lucros agregados (no nível agregado) pode ser razoável. Sendo assim, compete esclarecer que no nível agregado trata-se de uma análise macro, com foco no comportamento do mercado de capitais como todo.

Considerando esse contexto, a questão que norteia esta pesquisa é: qual é o grau de conservadorismo condicional no nível agregado do mercado de capitais brasileiro?

1.4 OBJETIVOS

Em decorrência da questão de pesquisa, o objetivo geral do trabalho é investigar o grau de conservadorismo condicional nos lucros agregados do mercado de capitais brasileiro.

Dado o propósito de estudo, os objetivos específicos para atender ao objetivo geral da pesquisa são: explorar a relação agregada lucro-retorno do mercado de capitais brasileiro, considerando a literatura contábil no nível agregado; (ii) averiguar se os lucros agregados do mercado de capitais brasileiro transmitem informação oportuna e eficiente; (iii) mensurar empiricamente o grau de conservadorismo presente nos lucros agregados do mercado de capitais brasileiro.

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1.5 JUSTIFICATIVA

No contexto internacional, principalmente nos EUA (Estados Unidos de América), a linha de pesquisa da literatura acadêmica focada no estudo de variáveis contábeis agregadas tem surgido recentemente, assim como estudos do impacto macroeconômico dessas variáveis, até vinculados com a política monetária. O principal motivo para estudar os lucros agregados nos EUA é porque estes são um componente importante do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano3. Assim, uma das formas de cálculo do PIB está composta por lucros agregados.

Apesar de no cenário brasileiro ainda não existir uma medida do PIB baseada nos lucros contábeis agregados, isso não significa que o estudo deles no Brasil seja irrelevante. Neste ínterim, para Ball e Sadka (2015) as variáveis contábeis podem ser utilizadas como indicadores de alguns aspetos econômicos, pois elas refletem informações de eventos reais nas empresas e nos mercados. Isto se dá, principalmente, porque os lucros refletem o retorno do investimento passado, que pode transmitir informações da lucratividade de novos investimentos (tanto para a própria empresa, seus concorrentes, seus fornecedores e empresas em geral), dependendo do grau de persistência ao longo do tempo na taxa de retorno sobre ativos.

Diante do exposto, identificar a presença do conservadorismo condicional nos lucros agregados torna-se relevante por vários motivos, a exemplo de:

1º. A literatura considera que o conservadorismo condicional é um mecanismo de contratação eficiente, sendo assim, aumenta a probabilidade de que recursos econômicos sejam alocados em projetos produtivos. Como as perdas são reconhecidas antecipadamente, os gestores podem desviar recursos de projetos improdutivos para projetos produtivos rapidamente (BUSHMAN; PIOTROSKI; SMITH, 2011). No nível agregado, conforme Do e Nabar (2019), melhora a alocação de recursos na economia, aumentando a probabilidade de que recursos escassos sejam alocados a projetos lucrativos.

2º. Estudos anteriores mostram que o conservadorismo condicional melhora a eficiência do investimento, reduzindo o custo de dívida (LARA; OSMA; PENALVA, 2016; PENALVA; WAGENHOFER, 2019). Na medida em que o conservadorismo contábil impõe requisitos de verificabilidade mais rigorosos para o reconhecimento de ganhos econômicos em relação às perdas, no nível agregado, tal como observado por Do e Nabar (2019), aumenta a oportunidade de

3 Em 2008, os lucros corporativos agregados totalizaram 1.2 trilhões de dólares, o que representou 9% do PIB dos EUA no ano (CRAWLEY, 2015).

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projetos produtivos serem selecionados e que esses projetos tenham acesso ao financiamento necessário.

Em soma, considera-se que o conservadorismo condicional influi de forma positiva sobre a economia, posto que, ao impactar no investimento, torna o mercado de capitais mais eficiente e facilita a alocação dos recursos na economia como todo. Assim, fica clara a importância de fazer a analogia dos lucros no nível da firma para o nível agregado, desde a perspectiva micro para a macro. Desta forma, é possível testar se os lucros agregados são informativos e se as propriedades do lucro contábil se estendem para os lucros agregados.

Além disso, análises anteriores sugerem que os lucros agregados estão associados a indicadores macroeconómicos (ANILOWSKI; FENG; SKINNER, 2007; KOTHARI; LEWELLEN; WARNER, 2006; PATATOUKAS, 2014). Sendo assim, existem pesquisas que incluíram indicadores macroeconômicos no modelo empírico para testar o conservadorismo condicional no nível agregado (JORGENSEN; LI; SADKA, 2009; LIM; ZHENG, 2014), posto que, se trata do comportamento de variáveis agregadas e existe tal associação.

O desafio passa pelo enfoque de aprofundar o estudo da informação contábil sobre a realidade brasileira, no nível agregado. Neste ponto, cabe ressaltar que no Brasil, até o momento desta pesquisa, já existem estudos empíricos que analisaram a relação da informação contábil e a macroeconomia, tais como os de Brito (2017), Silva, 2019 e Silva et al. (2018). No entanto, este trabalho se diferencia dos anteriores por representar um primeiro esforço no Brasil em estudar as propriedades dos lucros contábeis no nível agregado, com foco exclusivo no conservadorismo condicional.

Portanto, este trabalho se justifica ao trazer para o Brasil o estudo da contabilidade desde uma perspectiva agregada: 1) ao analisar se a relação agregada lucro-retorno no Brasil exibe o mesmo comportamento encontrado no nível da firma; 2) ao testar se os lucros agregados fornecem informações oportunas do mercado de capitais brasileiro como todo; 3) ao fornecer evidências do grau de conservadorismo condicional presente nos lucros agregados do mercado de capitais brasileiro, que impacta indiretamente na economia do país.

1.6 CONTRIBUIÇÕES

Este estudo traz duas contribuições importantes para a literatura. Em primeiro lugar, colabora com a crescente linha de pesquisa da literatura contábil internacional ao analisar variáveis contábeis agregadas. Sob essa perspectiva, Ball e Sadka (2015) ressaltam a importância de adotar uma perspectiva agregada da contabilidade e desenvolvem argumentos

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para estudar as implicações do mercado de capitais em nível agregado, a fim de ter uma melhor compreensão do papel geral contabilidade e das implicações da informação contábil no mercado de capitais e na economia como um todo. Este trabalho complementa essa literatura, concentrando-se no conservadorismo condicional como propriedade dos lucros agregados no mercado de capitais brasileiro.

Por outro lado, contribui para o debate existente dos benefícios do conservadorismo condicional no mercado de capitais. Nesta perspectiva, para Ruch e Taylor (2015) o conservadorismo contábil tem sido debatido entre pesquisadores e formuladores de políticas contábeis quanto ao seus benefícios para os diversos usuários das demonstrações financeiras. Adotando uma perspectiva agregada, estudos anteriores analisaram o conservadorismo condicional no contexto internacional e encontraram que o conservadorismo condicional está positivamente associado ao crescimento econômico (DO; NABAR, 2019; LI, 2015). Nesse sentido, o presente trabalho presta auxílio ao fornecer evidências do grau de conservadorismo condicional no Brasil e os seus efeitos no mercado de capitais brasileiro.

Em soma, este estudo contribui acrescentando conhecimento à literatura já existente e amplia a compreensão dos efeitos do conservadorismo condicional no nível agregado no mercado brasileiro. No mais, busca-se motivar os pesquisadores acadêmicos a expandir o campo de estudos ao comportamento macro, posto que, a maioria das pesquisas de mercado de capitais, em contabilidade, concentra-se no comportamento micro (ao nível da firma).

1.7 ESTRUTURA DA PESQUISA

A fim de elucidar os temas abordados neste estudo, o corpo do trabalho está organizado por capítulos, incluindo a introdução, já apresentada. O capítulo 2 discute aspectos da literatura acadêmica, aborda temas da qualidade da informação contábil, o lucro contábil (e os “lucros agregados”), o conservadorismo condicional - e os trabalhos que motivaram o seu estudo no nível agregado - e se promove sustentação ao tema de pesquisa proposto. No capítulo 3 expõe-se a metodologia utilizada e o deexpõe-senho da pesquisa, a descrição das variáveis, a expõe-seleção da amostra e coleta de dados, o tratamento dos dados e o modelo econométrico utilizado. No capítulo 4 é apresentada a análise descritiva dos dados e são discutidos os resultados empíricos encontrados. O capítulo 5 exibe a sensibilidade dos diversos tratamento dos dados para avaliar a robustez dos resultados obtidos. Por sua vez, no capítulo 6, expõem-se as considerações finais e sugestões propostas para pesquisas futuras. Por fim são apresentadas as referências.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Como fase inicial da pesquisa, este capítulo proporciona o arcabouço teórico que sustenta o objetivo da pesquisa. Para isso, apresenta-se a revisão de literatura no que diz respeito à qualidade da informação contábil, assim como da importância do lucro contábil e sua extensão a lucros agregados. Em seguida, se discute argumentos teóricos desenvolvidos para explicar as motivações e efeitos do conservadorismo contábil, além de apresentar-se estudos recentes do conservadorismo no nível da firma e no nível agregado. Finalmente se dá suporte ao tema de estudo.

2.1 A QUALIDADE DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL

Conforme Paulo (2007), o objetivo primário da Contabilidade é prestar informações úteis sobre as empresas para seus diversos usuários, sendo a maioria deles usuários externos. Assim, o produto da contabilidade é a informação contábil, caracterizada pela sua utilidade e complexidade. A utilidade reside no uso dessas informações para a tomada de decisões dos diversos usuários, afetando com isso a alocação dos recursos, funcionamento dos mercados e consequentemente a eficiência da economia. Já a complexidade faz referência ao ambiente complexo e dinâmico da contabilidade, caraterizado por pressões exercidas pelos diferentes grupos interessados nessas informações.

Coelho (2007) discute que a qualidade da informação contábil depende do sinal informativo que ela fornece aos usuários, considerando que eles constituem a demanda por informações contábeis de qualidade. Dado que eles possuem interesses diversos, então, é claro que a qualidade da informação contábil seria dada por características que representem todas essas demandas estabelecidas.

Desde o ponto de vista dos padrões contábeis, segundo a Estrutura Conceitual (2019), que segue as diretrizes do International Accounting Standards Board (IASB) a utilidade das informações contábeis é estabelecida em termos de relevância e representação fidedigna. Elas devem ser relevantes (se tiverem valor preditivo ou valor confirmatório, ou ambos) e representar fidedignamente aquilo que quer revelar.

Conforme Ruch e Taylor (2015), a relevância refere-se à medida em que as informações contábeis têm valor preditivo e/ou de confirmação para as decisões dos usuários do mercado de capitais e é comumente operacionalizada como uma associação contemporânea entre o lucro contábil e retornos do mercado. No entanto, o valor preditivo ou confirmação de informações

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depende dos resultados que os usuários das demonstrações financeiras estão tentando prever ou confirmar. Em outras palavras, os usuários do mercado de capitais podem preferir informação que é relevante a partir da perspectiva de valuation, enquanto o mercado de dívida e os usuários de governança corporativa podem optar pela informação que é proeminente do ponto de vista contratual.

Por sua vez, Dechow, Schrand e Collins (2004) apontam que a qualidade da informação contábil é a extensão em que as informações contábeis refletem com precisão o desempenho operacional atual da empresa, são úteis na previsão de desempenho futuro e ajudam a avaliar o valor da empresa. Observa-se que tal definição captura aspectos de representação fidedigna e relevância, levando em conta a estrutura conceitual dos padrões contábeis no que diz respeito às características qualitativas fundamentais para que informações financeiras sejam úteis.

O conceito de qualidade da informação contábil é fundamental na contabilidade. No entanto, conforme Isidro e Raonic (2012), a qualidade da informação contábil é difícil de ser observada e portanto, torna-se difícil a sua mensuração; isto porque, na literatura, não existe uma única métrica para mensurá-la. Dechow, Ge e Schrand (2010) observaram que não existe uma definição consensual de qualidade da informação contábil e isso pode ser atribuído às diferentes perspectivas sobre o uso de informações contábeis (valuation ou contratual).

Partindo do ponto de vista de valuation, a informação contábil serve para avaliar o valor das ações no mercado e na tomada de decisões de investimento, em outras palavras, da decisão de alocação dos recursos. Já a perspectiva contratual está baseada na Teoria Contratual da Firma, onde a empresa é considerada um conjunto de contratos entre os diversos agentes econômicos e cada um deles contribui com algo ao processo produtivo da firma - e em contrapartida recebe algo em troca (PAULO, 2007).

Em um ambiente onde o gestor possui maiores informações econômicas da empresa, a eficiência dos contratos dependerá principalmente do acesso à informação pelas partes contratantes, pois, essas informações precisam ser confiáveis. Tal medida diminui a assimetria informacional entre os gestores e os demais contratantes (conflitos de agência) e reduz o comportamento oportunista do gestor. Em Soma, a informação contábil contém atributos para o monitoramento de contratos e redução da assimetria informacional.

No enfoque contratual, a qualidade dos lucros divulgados interessa aos usuários de modo que não induza a transferências de riqueza não intencionais. Já do ponto de vista dos investidores, a eficiência de relatórios com boa qualidade estará relacionada ao fornecimento de sinais imperfeitos que poderão significar ineficiente alocação de recursos (COELHO, 2007).

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Neste ponto, conforme Paulo (2007), é importante reconhecer as limitações das demonstrações contábeis, pois, apesar do seu objetivo principal estar relacionado com os interesses comum dos diversos usuários potencias, provavelmente não seja possível atender, de forma idêntica, às necessidades de todos os diversos usuários.

Em soma, a qualidade da informação contábil é um conceito amplo de múltiplas dimensões (BURGSTAHLER; HAIL; LEUZ, 2006; DECHOW; SCHRAND; COLLINS, 2004). Dechow, Ge e Schrand (2010) revisaram o grande corpo de pesquisa que estuda o papel da qualidade da informação contábil a fim de identificar as proxies comumente usadas para medi-la, as quais organizou em três categorias: i) propriedade dos lucros: persistência e

accruals, gerenciamento de resultados, reconhecimento assimétrico e pontual de perdas

(conservadorismo e oportunidade) e cumprimento de metas; ii) reação dos investidores aos resultados: o coeficiente de resposta ao lucro (ERC) e iii) indicadores externos da qualidade dos relatórios contábeis: controles internos fracos, regulação e republicações.

Dentro desse conjunto de medidas da qualidade da informação contábil, tanto na literatura nacional como internacional, destacam-se como propriedades dos lucros a persistência, conservadorismo e gerenciamento de resultados (BURGSTAHLER; HAIL; LEUZ, 2006; DECHOW; GE; SCHRAND, 2010; DICHEV et al., 2013; MAZZIONI; KLANN, 2018; PAULO, 2007).

No que diz respeito a essas características, de acordo com Paulo (2007), o interesse na persistência está no papel que exerce na previsão dos resultados futuros, por conseguinte, na avaliação do valor dos ativos. Já para Coelho (2007) a prática de conservadorismo implica em decisões sobre o momento do reconhecimento oportuno dos ganhos e das perdas, influenciando assim a escolha contábil. Por fim, o gerenciamento de resultados, segundo Martinez (2001), é caracterizado pelas escolhas discricionárias facultadas aos gerentes, dentro das normas contábeis, em função de incentivos vinculados a motivações do mercado de capitais, motivações contratuais e motivações regulamentares e custos políticos.

Adicionalmente, Dechow, Ge e Schrand (2010) identificaram outras determinantes da qualidade da informação contábil, tais como características das empresas, práticas de relatórios contábeis, governança, controles, incentivos de mercado e fatores externos.

Do mesmo modo, Paulo (2007) observa que esse conceito está relacionado ao consenso do seus usuários, tendo em conta as características institucionais e organizacionais do mercado. Sendo assim, a qualidade da informação contábil está fortemente relacionada ao ambiente econômico, político, e social onde as empresas estão inseridas.

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2.2 DE LUCRO CONTÁBIL A LUCROS AGREGADOS

Como mencionado anteriormente, a qualidade da informação contábil tem sido mensurada principalmente com base no lucro contábil – ou os componentes do lucro –, visto que o lucro é considerado uma medida resumida do desempenho da empresa e serve como norteador das decisões econômicas dos diversos usuários. Sendo assim, para Dechow, Ge e Schrand (2010) os lucros de qualidade mais alta representam com mais fidelidade as características dos processos fundamentais da geração do resultado da empresa que são relevantes para uma tomada de decisão específica por um tomador de decisão específico.

Quanto ao aspecto teórico, o lucro contábil se sustenta no regime de competência. Segundo Martinez (2001), esse regime determina que o registro das transações contábeis da entidade seja efetuado no período em que estas são realizáveis, assim, reconhece-se a receita de acordo com a sua realização e, no mesmo período, confrontam-se as despesas necessárias para efetivação daquela receita.

Partindo do ponto de vista do mercado de capitais, começando pelos estudos seminais de Ball e Brown (1968) e Beaver (1968), vários estudos examinaram o impacto dos lucros contábeis nos preços das ações, demostrando que mudanças positivas nos lucros resultam em aumento dos preços e retornos positivos das ações, resultado refletido principalmente nas estimativas no nível da empresa e no portfólio, usando análises transversais.

Nesse sentido, abordou-se principalmente a contabilidade quanto à sua capacidade para explicar as variações do mercado, confrontando a informação contábil (dados dos relatórios contábeis) com a realidade (preços das ações) do mercado de capitais. Conforme Ball e Sadka (2015), geralmente na literatura, os lucros contábeis são “valor relevante” no sentido de que as expectativas dos lucros e lucros inesperados afetam os preços das ações. Consequentemente, essa literatura conclui que os acionistas estão interessados em lucros contábeis porque afetam - ou pelo menos estão correlacionados com - o valor de suas participações acionárias.

Desde a perspectiva contratual, para Coelho (2007), a qualidade dos lucros interessa aos usuários de forma que não induza transferências de riqueza não intencionais e, do ponto de vistas dos investidores, está relacionada ao fornecimento de sinais imperfeitos que poderão significar ineficiente alocação de recursos. Sendo assim, a apuração do lucro contábil foi motivada por incentivos econômicos atrelados à maximização de utilidade dos gestores e determinada por fatores institucionais, grau de governança corporativa, regulamentação, entre outros. Dessa forma, são demandados atributos de qualidade – como o conservadorismo e gerenciamento de resultados – dos lucros contábeis reportados.

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Em resumo, a literatura contábil mostra o lucro como uma medida importante da qualidade da informação contábil para os diversos usuários da contabilidade e essencial no processo decisório de alocação de recursos para os investidores. Logo, são demandados importantes propriedades ou atributos do lucro.

Tal como observado por Ball e Sadka (2015), as propriedades dos lucros foram definidas e medidas a partir de relações lucro-retorno no nível da empresa, no entanto, desde o ponto de vista dos usuários diversificados das demonstrações contábeis – por exemplo, investidores que mantêm carteiras com ações de diferentes empresas – as métricas de lucro-retorno no nível da empresa não são fácil de atribuir ao bem-estar.

A partir dessa ótica, Ball e Sadka (2015) destacam a importância de compreender o papel dos lucros, no nível agregado, no mercado de capitais. Visto que Brown e Ball (1967) fornecem evidências de que os lucros no nível da empresa são uma função do setor (lucros médios das empresas que constituem o mesmo setor) e da economia (lucros médios de todas as empresas em todos os setores), então, agregar os lucros contábeis de todas as empresas do mercado de capitais, constitui os “lucros agregados” do mercado como todo.

Conforme Ball e Sadka (2015), as variáveis “agregadas” conceitualmente são totais de toda a economia, entretanto, na prática, são medidas usando índices de preços e lucros de mercado. Nesse sentido, na literatura que estende o estudo do lucro desde a perspectiva agregada (CREADY; GURUN, 2010; JORGENSEN; LI; SADKA, 2009; PATATOUKAS, 2014), os lucros agregados são medidos usando médias dos lucros, equal-weighted (média aritmética) e value-weighted (média ponderada), no nível da firma.4 Assim, as amostras normalmente são compostas por todas as empresas de capital aberto ou subamostras importantes, por exemplo o Índice Standard and Poor’s 500.

Com o intuito de aprofundar o estudo de variáveis agregadas, cabe salientar o tema da agregação das variáveis, pois pode anular os sinais de eventos ocorridos durante cada período. Por exemplo, Jorgensen, Li e Sadka (2009) investigaram se o conteúdo informativo e os atributos dos lucros agregados são afetados pelas mudanças dos padrões contábeis. Eles encontraram que certos atributos dos lucros no nível da empresa desaparecem no agregado (por exemplo, lucros agregados falham em prever fluxos de caixa agregados futuros). Assim mesmo, conclui-se que o conteúdo informativo dos lucros para um investidor diversificado não é afetado pelas mudanças nas normas e aplicação contábil.

4 O índice equal-weighted é a soma das variáveis escalonada pelo total das firmas. No caso do índice

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Por outro lado, para Ball e Sadka (2015), a diversificação torna-se relevante ao avaliar o bem-estar dos investidores bem diversificados, posto que as consequências dos erros aleatórios na mensuração dos relatórios contábeis no nível da empresa e, na medida em que é independente das empresas, o gerenciamento de resultados, seriam grandemente atenuados através da diversificação no nível agregado.

Para ilustrar a importância da diversificação, Ball e Sadka (2015) consideram um portfólio de n empresas para um período t, e supõem que a surpresa dos lucros no nível da empresa para a empresa i no período t é independentemente e normalmente distribuída com média zero. Então, mesmo que a relação no nível da empresa entre crescimento dos lucros e retorno das ações seja positiva, o crescimento dos lucros agregados pode não afetar os preços, pois, o crescimento esperado dos lucros agregados converge para zero com o n elevado. Nesse sentido, ainda que a variação dos lucros seja puramente idiossincrática, os lucros agregados não conterão surpresa real e esperada, não afetarão os preços dos ativos e, portanto, não conterão informações relevantes para os investidores.

Em soma, o sinal da relação lucro-retorno no nível agregado, não precisa ser a mesma que no nível da empresa. Nesse contexto, a literatura contábil documentou associações positivas robustas entre os retornos das ações (preços das ações) e as mudanças dos lucros, no nível da firma. Em contraste, as análises no nível agregado mostraram que a relação contemporânea entre as mudanças nos lucros agregados e os retornos agregados é negativa.

2.3 ESTUDOS DA RELAÇÃO LUCRO-RETORNO NO NÍVEL AGREGADO

Desde o estudo de Ball e Brown (1968), a literatura que investigou o conteúdo informativo dos lucros no nível da firma usou a regressão simples dos retornos de mercado sobre as mudanças dos lucros. Assim, obteve o coeficiente de inclinação estimado, comumente referido como coeficiente de resposta ao lucro, que indica quanta resposta existe nos preços das ações para uma mudança nos lucros.

Nesse contexto, o interesse no estudo dos lucros agregados começou com a curiosa constatação de que, embora os lucros estejam positivamente relacionados aos retornos de ações contemporâneos em estudos no nível da empresa, a literatura documenta uma relação contemporânea oposta para surpresas dos lucros e retornos de ações, no nível agregado (CREADY; GURUN, 2010; HIRSHLEIFER; HOU; HONG, 2009; JORGENSEN; LI; SADKA, 2009; KOTHARI; LEWELLEN; WARNER, 2006; PATATOUKAS, 2014; SADKA;

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SADKA, 2009). Esses estudos fornecem evidências de que as surpresas dos lucros agregados estão negativamente relacionadas aos retornos agregados contemporâneos.

Com o intuito de aprofundar as possíveis explicações dessa relação negativa entre lucros e retornos no nível agregado, Choi, Kalay e Sadka (2016) consideram que existem duas hipótese: a primeira é “a hipótese das notícias do retorno”, esta hipótese sugere que os investidores reagem negativamente às surpresas positivas nos lucros agregados, aumentando (ou diminuindo) a taxa de desconto que exigem em seus investimentos quando recebem notícias de lucros positivos (ou negativos). Isso pode ocorrer porque as notícias positivas – agregadas – sobre lucros indicam que o risco dos projetos perseguidos – na economia – é maior que o esperado, o que aumenta as taxas de desconto exigidas. Taxas de desconto futuras mais altas (necessárias) resultam em preços mais baixos, que por sua vez resultam em menores retornos de ações no período atual.

De acordo comKothari, Lewellen e Warner (2006), as surpresas dos lucros agregados são, na maioria das vezes, imprevistas e correlacionadas com notícias relevantes e de valor contemporâneo. Isso faz com que os investidores revisem suas expectativas não apenas sobre fluxos de caixa futuros, mas também em relação às mudanças nas taxas de desconto, o que sugere que os lucros agregados transmitem notícias sobre taxas de desconto. Cready e Gurun (2010) documentam que os retornos agregados do mercado se movem em direção oposta aos lucros esperados das firmas e o impacto é mais consistente quando os lucros transmitem informação das taxas de desconto no nível agregado.

Jorgensen, Li e Sadka (2009) estudaram as propriedades dos lucros agregados adotando uma perspectiva macro e encontraram que as propriedades dos lucros (como conservadorismo, persistência de lucros assimétricos e previsibilidade dos fluxos de caixa), enquanto presentes no nível da firma, desaparecem no nível agregado. Por sua parte, Patatoukas (2014) sugere que a relação entre o lucro agregado e a avaliação do mercados de capitais é complicada devido ao fato de que os preços das ações são muito sensíveis a todas notícias de fluxo de caixa e de taxa de desconto incorporadas nos lucros - até mesmo a pequenas revisões nas expectativas dos investidores em relação às taxas de desconto.

Para Choi, Kalay e Sadka (2016) a segunda hipótese é “a hipótese dos lucros esperados”, que se centra na relação entre lucros esperados e retornos esperados. Esta hipótese indica que as mudanças nos lucros agregados são mais previsíveis que as mudanças no nível da empresa e, portanto, os lucros agregados não são uma proxy ideal para surpresas nos lucros agregados. Em outras palavras: as mudanças nos lucros agregados contêm menos notícias sobre os lucros do que as mudanças no nível da empresa. Ainda sugere que os investidores exigem baixas taxas

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de retorno quando eles esperam melhores condições econômicas futuras (altos lucros futuros agregados) e vice-versa. Consistente com essa hipótese, o estudo de Sadka e Sadka (2009) fornece evidências de que os lucros agregados são altamente previsíveis. Infere-se, pois, que conforme Choi, Kalay e Sadka (2016), a diferença entre as duas hipóteses depende da medida em que as mudanças dos lucros agregados representam surpresas dos lucros agregados (ou até que ponto eles são previsíveis ou esperados).

Anilowski, Feng e Skinner (2007) fornecem evidências de que os retornos agregados e a orientação de lucros agregados estão associados, todavia sugerem que as notícias macroeconômicas impulsionam essa relação. Por outro lado, Hirshleifer, Hou e Hong (2009) mostram que a relação agregada negativa entre lucros e retornos deriva principalmente de uma relação negativa entre inovações em accruals agregados e retornos de mercado. Seus resultados corroboram as evidências no nível da empresa, nas quais os accruals estão associados negativamente aos retornos futuros das ações.

Finalmente, de acordo com Gallo, Hann e Li (2016), os lucros agregados transmitem notícias sobre políticas e o mercado reage negativamente à surpresas políticas que impulsionam a associação de retornos agregados negativos. Quando as notícias sobre políticas não desencadeiam uma reação significativa do mercado (por exemplo, em períodos com surpresas políticas positivas), não observamos uma associação agregada negativa significativa de lucros e retornos.

Diante do exposto, a relação lucro-retorno positiva encontrada no nível da firma difere no nível agregado. Além disso, considerando que no nível agregado, trata-se do comportamento do mercado de capitais, este comportamento pode ser motivado por notícias concernentes à macroeconomia.

Neste ponto, cabe lembrar que no nível agregado, o foco é o comportamento do mercado de capitais como todo. Tal como explicado por Ball e Sadka (2015), as relações lucro-retorno no nível da firma são relevantes principalmente desde a perspectiva contratual, já no nível agregado essas relações, na maioria dos casos, são irrelevantes desde essa perspectiva.

Entre as razões contratuais no nível da empresa mencionadas por Ball e Sadka (2015) está o cálculo da remuneração variável dos executivos e gerentes baseados nos lucros da empresa. Por outro lado, no nível agregado, não se tem conhecimento de contratos substanciais nos quais os pagamentos e outros direitos estejam em função de lucros agregados. Outro motivo contratual refere-se aos efeitos assimétricos dos relatórios contábeis, sendo assim, se uma empresa subestima lucros e outra os superestima pelo mesmo valor, no nível agregado esses erros nos lucros se agregam a zero, no entanto os efeitos desencadeados não.

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Em soma, não é claro que os atributos presentes nos lucros no nível da firma estejam presentes no nível agregado. Ball, Gallo e Ghysels (2019) consideram que as propriedades do lucro correlacionadas entre as empresas (ou seja, aquelas inerentes ao sistema de relatórios contábeis) serão refletidas no agregado. Para eles, se houver variação suficiente entre as empresas nessas propriedades sistemáticas dos lucros, essa variação poderá ser potencialmente explorada na construção de um agregado informativo. No entanto, mesmo que essas características sobrevivam no nível agregado, deve-se entender que as empresas variam em sua contribuição para a informatividade agregada dos lucros.

Apesar de a literatura que investiga os lucros agregados ter iniciado a partir da análise da relação lucro-retorno agregada (investigando a resposta que existe nos preços das ações para mudanças dos lucros), estendeu-se esse estudo para umas das propriedades mais importantes do lucro no nível da firma para os lucros agregados: o conservadorismo contábil. Isto porque o conservadorismo contábil tem sido uma prática que tem caracterizado a contabilidade por muitos anos, desempenhando um papel proeminente nos relatórios contábeis e tendo sido incorporado até nas estruturas conceituas dos padrões contábeis.

2.4 O CONSERVADORISMO NA CONTABILIDADE

O conservadorismo é uma das características fundamentais da informação contábil e tem influenciado a prática contável por séculos (BASU, 1997; WATTS, 2003). No que tange à definição de conservadorismo contábil, tanto os pesquisadores, quanto os formuladores de políticas contábeis tentaram fornecer definições até chegar a uma definição geralmente aceita. Bliss (1924, apud BASU, 1997) define conservadorismo como "não antecipando lucros, mas antecipando todas as perdas". Por outro lado, no Concepts Statement nº2 do Financial

Accounting Standards Board – FASB (1980) se define o conservadorismo como uma reação

prudente à incerteza, para tentar garantir que as incertezas e os riscos inerentes às situações de negócios sejam adequadamente considerados. Assim, este conceito expressa que, se duas estimativas de valores a receber ou a pagar no futuro são igualmente prováveis, o conservadorismo impõe o uso da estimativa menos otimista.

Watts e Zimmerman (1986, apud ZHONG; LI, 2017) referem-se ao conservadorismo como a regra de que os contadores devem relatar o menor valor entre os possíveis valores alternativos para ativos e o maior valor alternativo para passivos. Além disso, a receita deve ser reconhecida mais cedo e as despesas, mais cedo ou mais tarde.

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Diante dessa visão, a prática do conservadorismo esteve baseada apenas em técnicas contábeis, focada na escolha de menores valores para ativos ou receitas e maiores valores para passivos ou despesas. Nessa perspectiva, Zhong e Li (2017) apontaram que embora essas definições sejam úteis, elas não consideraram o ambiente econômico real e não distinguiram diferentes tipos de conservadorismo. Como consequência, medir o conservadorismo era difícil e os pesquisadores chegavam a conclusões contraditórias.

Por fim, Basu (1997) propôs uma nova definição ao conservadorismo contábil: interpretou o conservadorismo como “a tendência dos contadores de exigir uma maior verificação para reconhecer boas notícias do que para más notícias nas demonstrações financeiras”. Sendo assim, “boas notícias” são reconhecidas gradualmente ao longo do tempo, enquanto “más notícias” são incorporadas aos lucros ao tempo no período atual, de modo que os lucros refletem más notícias mais rapidamente do que boas notícias. Portanto, espera-se que os lucros publicados reflitam perdas econômicas mais tempestivamente que ganhos econômicos, devido à assimetria de tratamento dada a verificabilidade requerida para o registro antecipado dos dois tipos de eventos (COELHO, 2007).

A definição de Basu (1997) forneceu uma nova visão sobre os relatórios contábeis e um ímpeto para a pesquisa contábil. Antes disso, o conservadorismo era visto apenas como uma resposta incondicional à incerteza: quando confrontado com uma gama de possíveis valores contábeis do patrimônio líquido, selecione um valor baixo (BALL; KOTHARI; NIKOLAEV, 2013).

Entretanto, o conservadorismo tem sido debatido entre os formuladores de políticas contábeis relacionado à confiabilidade das demonstrações contábeis. A princípio, tanto o FASB (1980) quanto o International Accounting Standards Board - IASB (1989) enfatizaram a importância do conservadorismo (ou prudência) como uma característica qualitativa da informação contábil. No entanto, em 2010, o conservadorismo foi excluído da estrutura conceitual conjunta proposta pelo IASB e o FASB, por ser incompatível com a característica de neutralidade e o potencial de má aplicação do conceito para gerenciar os resultados.

No contexto brasileiro, o conceito de conservadorismo estava presente na Resolução No

750/93 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) como Princípio da Prudência, que determinava o reconhecimento de menor valor para os componentes do ativo e do maior para os passivos, sempre que alternativas igualmente válidas puderem ser empregadas para quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Já em 2008, a

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Estrutura Conceitual Básica5 emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) incluía a Prudência como o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas de certas condições de incerteza, no sentido de que ativos ou receitas não sejam superestimados e que passivos ou despesas não sejam subestimados.

Contudo, a Estrutura Conceitual foi revisada e alterada em 2011 e uma dessas alterações foi a exclusão da característica de Prudência (ou conservadorismo) na condição de representação fidedigna por ser inconsistente com a característica de neutralidade, pois promove subavaliação de ativos e superavaliação de passivos.

Posteriormente, em 2019, foi realizada uma segunda revisão da Estrutura Conceitual, onde define-se o conceito de prudência como “o exercício de cautela ao fazer julgamentos sob condições de incerteza. O exercício de prudência significa que ativos e receitas não estão superavaliados e passivos e despesas não estão subavaliados”. No entanto, a característica de prudência segue sendo excluída e para fins desta pesquisa não representa alteração significativa.

Apesar das mudanças na estrutura conceitual, o conservadorismo continua sendo um conceito relevante na evidenciação da informação contábil. Estudos anteriores (BALL; SHIVAKUMAR, 2005; BASU, 1997) ressaltaram a presença do conservadorismo como sinal da qualidade da informação contábil. Portanto, continua sendo estudado.

Para Paulo et al. (2008), assim como as demais características da informação contábil, o conservadorismo também sofre influência direta do sistema regulatório, da dinâmica do mercado de capitais de cada país e do tipo de sociedade empresarial. Nessa direção, Coelho (2007) sinaliza que no modelo brasileiro há o incentivo da prática de conservadorismo na apuração do lucro contábil através da antecipação do reconhecimento de perdas, uma vez que isto reduz o valor presente dos impostos, a pagar ao longo do tempo.

Entre os pesquisadores existe um debate quanto aos benefícios do conservadorismo. Para Ruch e Taylor (2015) essa controvérsia surge a partir das diferentes perspectivas sobre o papel informativo da contabilidade. Nessa direção, a avaliação dos custos e benefícios de conservadorismo contábil dependem em grande parte das perspectivas da informação contábil (valuation versus contratual), pois as informações desejáveis desde uma perspectiva podem ter pouco valor desde outra perspectiva.

Desde a perspectiva de valuation, tal como observado por Zhong e Li (2017), os relatórios contábeis conservadores não são adequados devido ao potencial de fornecer informações

5 Em correlação às Normas Internacionais de Contabilidade, este documento corresponde à tradução do Pronunciamento Conceitual Básico do IASB

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tendenciosas aos investidores. Sendo assim, o conservadorismo distorce os números das demonstrações financeiras, portanto, resulta em tomadas de decisões ineficientes.

Por outro lado, Ruch e Taylor (2015) aponta que o conservadorismo apenas altera a quantia do valor de mercado das ações que é registrado no valor contábil. Para eles, ainda que alguns estudos sugiram que o conservadorismo produz informações de baixa qualidade alterando as expectativas dos lucros futuros, apontam que há evidência limitada apenas para sugerir que o conservadorismo reduz o valor relevância (atributo desejável desde a perspectiva de valuation não necessariamente desde a contratual) da informação contábil.

Desde a perspectiva contratual, o conservadorismo é necessário como um mecanismo de contratação eficiente (BASU, 1997; KOTHARI; RAMANNA; SKINNER, 2010; WATTS, 2003). Sob a Teoria Contratual da Firma, baseada nas relações contratuais entre a firma e seus credores, o conservadorismo limita os gestores ao fornecer números contábeis não excessivamente otimistas (resultando em relatórios mais confiáveis para as partes contratantes) e minimiza o comportamento oportunista dos administradores ao exigir maior verificação de boas noticias do que más notícias.

Do e Nabar (2019) apontam que os gerentes possuem informações que os proprietários não detêm, além disso, eles têm incentivos para ocultar perdas e destacar ganhos (a exemplo de manter seus empregos e melhorar a sua remuneração). Nesse contexto, Lafond e Watts (2008) argumentam que o conservadorismo condicional mitiga a assimetria de informação entre gestores e investidores externos da empresa, atuando como um mecanismo de controle e exigindo maior verificação dos ganhos com relação às perdas.

Finalmente, para Silva et al. (2019) ainda que o conservadorismo produza informações possivelmente enviesadas (não neutras), ele possui a capacidade de melhorar a qualidade da informação contábil, atenuando práticas oportunistas dos gestores que poderiam levar a resultados artificialmente inflados - o que talvez seja mais prejudicial aos usuários da informação contábil do que informações menos otimistas.

Em soma, o conservadorismo desempenha um papel importante na perspectiva contratual, incrementando a eficiência da contratação. Contudo, cabe destacar que na literatura o conservadorismo está conceituado de duas formas.

A partir do estudo seminal de Basu (1997), os pesquisadores começaram a distinguir os tipos de conservadorismo e, dessa forma, direcionar melhor as pesquisas. A seguir são apresentados os tipos de conservadorismo, suas diferenças e como eles se relacionam.

Na literatura se distingue duas formas de conservadorismo (BALL; SHIVAKUMAR, 2005; BEAVER; RYAN, 2005): O conservadorismo incondicional (ex-ante ou independente

Referências

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