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UMA ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES DA TATUAGEM DEMÔNIO DA TASMÂNIA AN ANALYSIS OF THE REPRESENTATIONS OF TATTOO "TASMANIAN DEVIL"

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UMA ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES DA TATUAGEM “DEMÔNIO DA TASMÂNIA”

AN ANALYSIS OF THE REPRESENTATIONS OF TATTOO "TASMANIAN DEVIL"

*Naiara Souza da Silva Análise de Discurso – Michel Pêcheux *Ercília Ana Cazarin Análise de Discurso – Michel Pêcheux

RESUMO: O presente artigo visa refletir acerca da contraposição de representações discursivas sobre a tatuagem “Demônio da Tasmânia”. De um lado, temos a representação desta tatuagem por parte da Polícia Militar do Estado da Bahia, materializada numa cartilha “didática” e, de outro, temos a representação de um sujeito que possui a tattoo. Tal propósito se deu a partir do contato com a cartilha intitulada “Cartilha de orientação Policial – Tatuagens: desvendando segredos”, publicada pela Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, que traz aos agentes de segurança alguns

significados; e disponível para download no site:

<http://amigosdaguardacivil.blogspot.com.br/2012/05/cartilha-tatuagens-desvendando segredos.html>. Essas informações facilitariam, na concepção deles, a atuação policial através de um reconhecimento visual. Todavia, lembramos que há diferença entre as representações discursivas de quem faz uma tatuagem do “Taz” por filiação ao mundo do crime e de quem a faz por reminiscência à infância, por exemplo. O procedimento metodológico que utilizamos para a análise desse funcionamento apoia-se no recorte feito do objeto de análise, comparado ao sentido atribuído pelo sujeito tatuado que desconhece o sentido contido na cartilha, apanhado por meio da realização de uma entrevista oral aberta. Nesse caminho, partindo do pressuposto de que as palavras não têm um sentido a priori, buscamos na Análise de Discurso (AD) de filiação pêcheuxtiana os respaldos fundamentais para trabalhar os efeitos de sentido produzidos. Estamos diante de sentidos apresentados por um aparelho repressor, num discurso autoritário, e sentidos produzidos por um sujeito que faz uso da tatuagem, ambos afetados por imaginários distintos. Enfatizamos, assim, a questão da constituição do sentido, seguindo o legado de Pêcheux em que as palavras mudam de sentido segundo as posições sustentadas por aqueles que as empregam. Nessa perspectiva, pensamos que os sentidos não estão unicamente no desenho da tatuagem, mas aquém e além delas.

PALAVRAS-CHAVE: Tatuagem. Representações discursivas. Sentido

ABSTRACT: This article aims to reflect on the contrast of discursive representations about the tattoo "Tasmania Devil". On the one hand, we have the representation of this tattoo by the police of Bahia State Military, materialized in a "didactic" booklet and on the other, we have the representation of a subject who has the tattoo. Such purpose occurred from contact with the booklet entitled "Guidance

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Booklet Police - Tattoos: disclosing secrets", published by the Secretariat of Public Security of the State of Bahia, which brings security agents some meanings; and available for download at: <http://amigosdaguardacivil.blogspot.com.br/2012/05/cartilha-tatuagens-desvendando segredos.html>. This information would facilitate, in their view, the police action on visual recognition. However, we remember that there is difference between the discursive representations of who gets a tattoo of "Taz" for membership in the world of crime and those who makes it reminiscent of childhood, for example. The methodological procedure that we use for analysis of this operation is supported by the cut made the object of analysis, compared to the meaning assigned by tattooed guy who ignores the meaning contained in the booklet, caught by implementing an open oral interview. In this way, assuming that words do not have a sense a priori, we seek in Discourse Analysis (AD), membership pêcheuxtiana fundamental backrests to work the effects of sense produced. We are facing senses presented by a repressive apparatus, an authoritative discourse, and meanings produced by a guy who makes use of the tattoo, both affected by different imaginary. We emphasize, therefore, the question of the constitution of meaning, following the legacy of Pêcheux where words change meaning according to the positions held by those who employ them. In this perspective, we think that the senses are not only in the tattoo design, but short and beyond.

KEYWORDS: Tattoo. Discursive representations. Sense

Introdução

Este texto provém de uma inquietação acerca das representações discursivas apresentadas por um órgão público, mais precisamente a Polícia Militar (PM) do Estado da Bahia, sobre as tatuagens materializadas no corpo de sujeitos. É conveniente já pensarmos na ideia do senso comum acerca das funções da PM, cujo órgão é considerado uma corporação que exerce o poder de polícia com as funções de garantir a segurança, a ordem e a lei de todos. Sobremaneira, a cartilha de orientação policial sobre as tatuagens, elaborada pelo Tenente PM Alden da Silva (2011) e publicada pela Secretariade Segurança Pública nos faz refletir, com base nos pressupostos teóricos da Análise de Discurso (AD) de filiação pêcheuxtiana, a respeito de tais representações que coloca sentidos como se fossem únicos, evidentes e transparentes. Todavia, sabemos que tais representações se dão a partir de uma posição e estão inseridas ao todo das formações ideológicas (FI), e, por isso, pensamos o imaginário que perpassa a formação discursiva (FD) e, por conseguinte a FI da Polícia Militar ao elaborar uma cartilha orientacional.

Entendemos que o presente trabalho justifica-se pela importância de estudos que interpretem a prática de tatuar o corpo, relacionando esse processo aos pressupostos ideológicos e às suas condições de produção e questionando as representações de quem faz

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uma tatuagem por filiação ao mundo do crime e de quem a faz por reminiscência à infância, por exemplo.

Se o sujeito se identifica com a língua para poder dizer, ele também se identifica com o seu corpo para significar. Através da tatuagem, num processo de textualização do corpo, esse sujeito grava no tecido da pele o seu desejo, a sua interpretação e a sua interpelação. Pele que, como explica Abreu, “se transforma em texto em uma junção de linguagens – palavras, imagens, cores, que ganham estatuto na história” (2013, p.143).

Diante disso, cogitamos que no ato da tatuagem se articulam corpo e linguagem, desejo e falta. Esse entendimento nos leva também ao que escreve Abreu sobre essa prática: “Suportar a incompletude e pôr corpo/linguagem em movimento” (2013, p.146). Nessa instância, direcionar o olhar à escrita corporal será uma arte de ler, interpretar e compreender o funcionamento dessa linguagem gravada na pele, transformada num texto que relaciona corpo, discurso, escrita, subjetividade e representações imaginárias.

Nesse contexto, resgatamos a perspectiva pêcheuxtiana que define a língua e a ideologia como um ritual com falhas para indicar que o corpo também é – se os equívocos, a falha, o excesso e a falta se materializam na língua, possibilitando ao analista chegar à ideologia que os constituem, na materialidade do corpo não seria diferente, mais precisamente, seria o lugar de simbolização, um lugar falado pela língua, onde se marcariam os sintomas sociais e culturais (FERREIRA, M.C.L., 2013). No caso em pauta, vale lembrar Pêcheux (1988) no sentido de que “... as palavras não significam a priori...”, pois, para compreender o sentido que produzem, é necessário analisá-las a partir do processo discursivo em que ocorrem para compreender como funcionam e que efeitos de sentido produzem. Assim sendo, os sentidos não podem ser entendidos como determinados, fechados e acabados com uma significação perfeita numa cartilha, ao contrário, eles devem ser pensados como algo constituído por meio do trabalho da ideologia.

Nessa perspectiva, é que refletimos o que a cartilha intitulada “Cartilha de orientação Policial – Tatuagens: desvendando segredos” traz aos agentes de segurança. Alguns significados, nela enquadrados, facilitariam, na concepção deles, a atuação policial através de um reconhecimento visual. Contudo, lembramos que há diferença entre o imaginário que perpassa as duas representações porque o imaginário é lacunar, em virtude à existência do real. Para tanto, buscamos na Análise de Discurso (AD), na tradição de Michel Pêcheux, o suporte fundamental para trabalhar os efeitos de sentido produzidos, na medida em que temos

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sentidos apresentados por um aparelho repressor, num discurso autoritário (noção que será explicitada no decorrer do texto), e, sentidos dados por sujeitos que fazem uso da tatuagem, ambos afetados por imaginários distintos.

1. A “Cartilha de orientação Policial – Tatuagens: desvendando segredos”

A “Cartilha de orientação Policial – Tatuagens: desvendando segredos” é resultado de um trabalho realizado pelo Tenente Alden da Siva (2011) que trata do significado das tatuagens no mundo do crime. Segundo um post de Dacunha, no Blog chamado Amigos da Guarda Civil1, Alden é referência em estudos policiais na Polícia Militar da Bahia e a cartilha, citada acima, repercutiu entre os policiais de rua interessados na eficiência de seu trabalho.

O texto do Blog explica que o Tenente mostra e especifica, na cartilha, o significado de algumas tatuagens em facções criminosas, com a finalidade de ajudar didaticamente seus colegas de profissão a identificar suspeitos ou encontrar, por meio da tattoo, informações qualificadas sobre o cometimento de crimes.

O Blog Bahia Notícias2, também percorre o mesmo caminho. A matéria sobre a cartilha relata que a sua finalidade é oferecer elementos encontrados no corpo das pessoas aos agentes de segurança pública, para que tais profissionais agilizem a operação através do reconhecimento visual.

Neste Blog, veicula-se que os elementos da cartilha não devem ser entendidos de forma a levar à prisão indivíduos inocentes ou que cometeram pequenos delitos, nem se pode discriminar o cidadão pela sua tatuagem mesmo que ela esteja na cartilha. Contrariamente, os elementos da cartilha devem servir como uma ferramenta de orientação para que se busque, a partir do significado encontrado, outras informações acerca do suspeito.

1

Fonte: Disponível em: < http://amigosdaguardacivil.blogspot.com.br/2012/05/cartilha-tatuagens-desvendando-segredos.html>. Acesso em: 2 de junho de 2014.

2

Fonte: Disponível em: < http://www.bahianoticias.com.br/noticia/147232-cartilha-da-pm-ba-que-associa-tatuagens-a-crimes-e-apresentada-a-guarda-municipal-de-salvador.html>. Acesso em: 2 de junho de 2014.

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Diante do que foi mostrado acima, pode-se perceber que a repercussão na mídia sobre a cartilha foi grande, alguns contra o seu uso e outros a favor. Desde a sua distribuição para os membros do curso de capacitação da Guarda Municipal de Salvador, a partir do ano de 2012, os questionamentos da sociedade tatuada não cessam. Pois, se o autor relaciona o uso de imagens na pele com crimes cometidos ou até a suposta intenção de cometê-los e os PMs fazem um mau uso da cartilha – aproveitando-se da sua posição-sujeito para demonstrar poder sobre o outro –, isso poderá resultar em prisões de sujeitos inocentes.

É contraditório pensarmos em abuso de poder dos PMs, na medida que são eles que zelam pelo bem-estar da sociedade, como é contraditório também se adotar uma cartilha designada orientacional, como se fosse didática, publicada por um órgão que responde pela sociedade. Na referida cartilha são apresentados sentidos presos à tatuagem, num discurso autoritário. Será que o sujeito tatuado terá a chance de atribuir outro sentido na sua tattoo diante uma abordagem policial? Qual sentido será aceito nesse contexto? Um sujeito será abordado pela sua tatuagem? Eis, aqui, questões práticas que alguns PMs levarão em consideração, mas talvez outros não. Assim, teremos policiais utilizando-se da cartilha para afirmar o seu poder, abusando da sua posição-sujeito, encorajado por um órgão máximo que é a Secretaria de Segurança Pública.

Para Alden da Silva (2011), a situação é simples, tem-se dentre a população carcerária do Brasil, mais de 60% dos presos com tatuagem e 20% deles, tatuaram-se enquanto cumpriam pena. Nesse contexto, no seu entendimento, as tatuagens não são utilizadas como simples adornos no corpo, mas para identificar o tipo de crime praticado pelo detento. Em suas palavras, “as tatuagens servem como demonstração de poder, status, estão atrelados a hierarquias e acontecimentos pessoais, significados e códigos que só faziam sentido para quem estava inserido no seu contexto, direta ou indiretamente” (SILVA, 2011, p.7). Mais ainda, “por trás de uma simples aparência artística, alguns tipos de tatuagens representavam um complexo sistema de representações criminosas” (idem, p.8).

Diante disso, o objetivo da cartilha, para ele, não é discriminar pessoas que possuam tatuagens, pois isso seria “discriminar o próprio ser humano que ao longo de sua história utilizou a tatuagem como forma de expressão” (idem, p. 8). E sim, demonstrar que certas tatuagens encontradas em alguns indivíduos podem indicar fortes indícios de envolvimento com a prática de crimes. A cartilha deve servir de apoio aos Policiais Militares nas ocorrências em que o suspeito tenha no seu corpo uma tatuagem (cf. SILVA, 2011).

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Assim, para um melhor aproveitamento do conteúdo, a organização da cartilha foi realizada em categorias criminais, de acordo com as informações de maior valor de cada tatuagem, sem desconsiderar outras informações tais como a multiplicidade de delitos possíveis identificáveis, o tipo de crime cometido ou sofrido pelo indivíduo, características pessoais peculiares, curiosidades acerca do possível perfil e características que apontem para facções criminosas brasileiras ou internacionais. E para “dar um pouco de leveza” como escreve Alden da Silva (201, p. 11), no final da cartilha, há atividades de reforço que servem também para descontração dos estudiosos PMs.

Abaixo, apresentamos a cartilha só mencionada até então:

Cartilha de Orientação Policial – Tatuagens: desvendando segredos. Fonte: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/mana5066/tatuagem-desvendando-segredos>. Acesso em: 24 de maio de 2014.

2. O corpo e a tatuagem

Não podemos tratar da tatuagem sem antes pensarmos no corpo, espaço que permite a sua materialização discursiva. O corpo, enquanto objeto de análise da Análise de Discurso (AD), conquistou um espaço de estudo importante nos últimos anos à medida que ele, assim como a língua, também significa tendo a sua materialidade, manifestando sua organização,

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sua constituição e sua movência de sentidos dentro de um espaço-tempo específico em que ganha corporeidade.

Segundo Ferreira M.C.L, o corpo na perspectiva da AD, é mais do que um objeto teórico, é um dispositivo de visualização, como modo de ver o sujeito, suas condições de produção, sua historicidade e a cultura que o constitui. Ele está relacionado a novas formas de assujeitamento, “trata-se do corpo que olha e que se expõe ao olhar do outro. O corpo intangível, e o corpo que se deixa manipular. O corpo como lugar do visível e do invisível” (2013, p.105).

Pensamos, então, no real do corpo, como espaço do possível e do impossível. O corpo como materialidade discursiva ou também, chamado corpo discursivo, que está organizado de forma estruturada, atravessado pela ideologia, pelo inconsciente e pela linguagem. Dessa forma, entendemos o corpo discursivo como lugar de inscrição do sujeito que se deixa falar e ocultar pelo/no corpo (cf. FERREIRA, M.C.L., 2013).

Nesse sentido, pretendemos refletir a prática de tatuar o corpo, relacionando esse processo aos pressupostos ideológicos, às suas condições de produção e as formas de representações da tatuagem, já que acreditamos que o sujeito se identifica com o seu corpo para significar. Através da tattoo, num processo de textualização do corpo, esse sujeito grava no tecido da pele o seu desejo, a sua interpretação e a sua interpelação, em que se articulam corpo e linguagem, desejo e falta. Precisamos, nessa instância, “suportar a incompletude e pôr corpo/linguagem em movimento” (ABREU, 2013, p.146).

A esse respeito, Sant’Anna (2005) escreve que analisar o corpo tomando-o como algo já pronto e constituído seria empobrecedor, pois privilegiaria suas representações da época em que está submerso apenas. É fundamental, assim, localizarmos as problematizações que tornaram possíveis as práticas corporais e suas representações, na medida em que o corpo é um processo e, por isso, resultado provisório de convergências entre técnica e sociedade, sentimentos e objetos. Mais ainda, “trata-se de pensar para além das oposições liberação e repressão, corpo natural e corpo artificial, não para negá-las, mas para analisá-las lá onde elas sempre estiveram: no curso da história, sendo, portanto datáveis, provisórias, plurais e interligadas” (SANT’ANNA, 2005, p. 15).

Levando em consideração as questões até aqui postas, concebemos a tatuagem como um gesto de significação que simboliza e configura uma posição-sujeito constituída por novas

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formas de subjetivação em que se inscreve a tomada do corpo como materialidade. A tatuagem não é um fenômeno novo na sociedade, bem sabemos, ao contrário, ao longo dos tempos e em diferentes culturas, o sujeito sempre marcou o corpo senão com tatuagens, o fez através de pinturas. Entendemos então esse processo como uma tentativa de subjetivação entre tantos modos de subjetivar-se na sociedade em que se vive. Dito de outra forma, seria um projeto individual para ocupar um lugar histórico e cultural (cf. LEITÃO, 2000).

A tatuagem, nesse caminho, configura uma forma de demarcação estilística através da qual algumas pessoas constroem e dão a (re)conhecer não só a sua identidade pessoal, mas também o modo como percebem e se relacionam com o mundo (cf. FERREIRA, V., 2007). Somado a isso, ela pode ser entendida como um gesto de escritura de si em que estabelece um campo de significação, que compreende o próprio corpo do sujeito como um espaço de sentidos. Na relação com a sociedade em que este sujeito circula, ele instaura sua textualidade, visível em sua pele, individualizando-se. Nas palavras de Orlandi, “o sujeito procura destacar-se do corpo coletivo, do seu “eu comum”, significando-se em uma segunda comunidade. Reconhecendo-se no seu desejo de ser” (ORLANDI, 2012b, p. 196).

Diante do exposto, acreditamos que a tatuagem deve ser compreendida por meio de seu funcionamento discursivo, pois o seu sentido não é dado de antemão. O sentido da tatuagem pode ser dado pelo sujeito que a possui e/ou pelo leitor que a interpreta, é o olhar do sujeito histórico que se realiza no sujeito empírico, ou seja, tem-se no momento da produção do sentido o sujeito, o outro e o Outro que constituem a textualização da tattoo.

Levarmos em consideração meramente a tatuagem com um significado preso a ela, trabalhando com as evidências de sentidos, como insinua a cartilha em questão, e deixando de fora todo o funcionamento que permitiu a sua existência é como se fizéssemos o que Saussure fez ao estudar a Língua, no “Curso de Linguística Geral”, em que ao escolher o seu objeto de estudo, deixou de fora o sujeito e toda a exterioridade.

3. A Análise de Discurso (AD) e os seus pressupostos teóricos

Seguindo esta linha até aqui explicitada, podemos dizer conforme Orlandi, que “na perspectiva discursiva, a linguagem é linguagem porque faz sentido. E a linguagem só faz

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sentido porque se inscreve na história” (2012a, p. 25). Partindo desse pressuposto, pensamos no sentido pelo viés de uma teoria interpretativa que “visa a compreensão de como um objeto simbólico produz sentidos, como ele está investido de significância para e por sujeitos” (idem, p. 26).

A Análise de Discurso (AD), dessa maneira, não para sua prática na interpretação, ela “trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretação. Não há esta chave, há método, há construção de um dispositivo teórico” (idem, p 26).

Levando isso em conta, o estudo que pretendemos realizar, quando pensado à luz da AD, nos permite observar a questão do imaginário que atravessa as duas representações, sejam elas: 1. a representação da tatuagem do “Demômio da Tasmânia” da Polícia Militar, materializada numa cartilha “didática” e 2., a representação de um sujeito que possui a tattoo, materializada no seu corpo. Aliado a isso, a teoria também nos permite examinar as posições-sujeitos que estão em jogo nesse processo de constituição de sentidos para além das aparências.

Logo, a contraposição das representações nos permitirá compreender as diferentes filiações de sentidos remetendo-as a memórias e às condições de produção que mostram que o sentido não está somente na imagem da tatuagem, numa superfície de evidência, mas na relação com a exterioridade que permitiu a sua produção. Para explicarmos, esta exterioridade é o interdiscurso, definido em sua objetividade material contraditória (Pêcheux, 1988): algo fala sempre antes, em outro lugar e independentemente, isto é, sob o domínio das FI.

Tratando-se de representações, julgamos necessário explicarmos o que entendemos acerca delas. De acordo com o legado de Pêcheux, na AAD-69, os protagonistas do discurso não designam apenas a presença física nos processos discursivos. A formulação do autor indica que os protagonistas “designam lugares determinados na estrutura de uma formação social, lugares dos quais a sociologia pode descrever o feixe de traços objetivos característicos: assim, (...) os lugares do “patrão”, (...) são marcados por propriedades diferencias determináveis” (1990/2010, p. 81)3. Assim, cremos que os “lugares são

representados nos processos discursivos em que são colocados em jogo” (idem, p. 81), ou

seja, “o que funciona nos processos discursivos é uma série de formações imaginárias

3

A formatação desta bibliografia está disposta na seguinte ordem: 1990 refere-se a sua 1º edição/2010 refere-se a edição que estamos utilizando no estudo.

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quedesignam os lugares que A e B se atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro” [grifos do autor] (idem, p. 81).

Resumindo, numa formação social existem regras de projeção, regidas pela existência das formações imaginárias, que estabelecem as relações entre as situações e as posições. O mesmo processo ocorre com o “referente”, objeto do discurso, trata-se de um objeto imaginário e não de sua realidade física e relaciona-se com as condições de produção do discurso (cf. PÊCHEUX, 1990/2010).

Assim sendo, através desse funcionamento das representações imaginárias podemos investigar no nosso corpus a ligação entre as relações de força e as relações de sentido que se manifestam, analisando a dominância do discurso da PM, por meio do seu discurso autoritário carregado de sentidos dados à priori sob o discurso de um sujeito que pode não estar relacionado ao que a cartilha apresenta.

Justificamos nossa inquietação a este sentido estanque, pois, é incontestável que os sentidos não são fechados e acabados, guardados em algum lugar disponível para ser usados com sua significação inequívoca. Ao contrário, nas práticas discursivas de interlocução, é possível haver furos, incompletudes, falhas e várias possibilidades de interpretação. Por conseguinte, os sentidos se constituem, assim como também os sujeitos, através de jogos simbólicos, em que aparece o equívoco como trabalho da ideologia (ORLANDI, 2012a).

Nessa perspectiva, acreditamos que não há sentido evidente porque as palavras são revestidas de opacidade, e nem o sujeito é intencional. Os sentidos, os sujeitos e os discursos não são transparentes, pois estão submetidos às determinações histórico-sociais. Aceitarmos sentidos prévios, contidos numa cartilha, além de nos colocar contra aos pressupostos basilares da teoria, estaríamos incapacitando o sujeito de subjetivar-se.

4. A metodologia

Para exercitarmos a arte de ler, interpretar e compreender o funcionamento da linguagem gravada na pele, denominada tatuagem, e percebermos as representações que se contrapõem, colocamos neste estudo algumas questões: 1) Qual é o imaginário que perpassa as representações da tatuagem apresentado pela PM e qual o imaginário que constitui a

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representação da tatuagem pelo sujeito entrevistado?; 2) Há deslocamento de sentido doelemento escolhido para a análise, tatuagem “Demônio da Tasmânia”, entre a orientação da cartilha e o sentido dado pelo sujeito?; 3) A tattoo do Demônio da Tasmânia reproduz na sociedade sentidos diferentes quando materializadas no corpo de diferentes sujeitos?; 4) O jogo de mostrar/esconder a tatuagem, no contexto explícito no item 3., está ligado aos diferentes papeis sociais que o sujeito ocupa no dia-a-dia, onde o visível e o não-visível está estreitamente ligado aos padrões estipulados na sociedade?; 5) Se a prática de “riscar-se” está ligada somente ao desejo de individualização do sujeito, como aponta a cartilha, pode-se dizer que entraríamos num círculo em que, ao individualizar-se através do gesto simbólico da tatuagem, cair-se-ia nos estereótipos ligados ao desenho?; e, 6) O sujeito que se julga livre para fazer do seu corpo o que deseja, na ilusão de controle e poder, é vítima dos pressupostos ideológicos forjados pela sociedade e legitimado por um aparelho do Estado, em que se busca enquadrá-los em um mundo logicamente estabilizado, igualitário e uniforme?

Para respondermos a esses questionamentos, faremos a análise de um recorte do objeto do presente trabalho, focalizando o nosso olhar na tatuagem do “Demônio da Tasmânia”, comparado ao sentido dado por um sujeito que a possui e desconhece o conteúdo da cartilha. O discurso do sujeito (que aqui não será identificado) sobre a sua tatuagem foi coletado a partir de uma entrevista aberta4, após transcrita, realizada no dia 05 de junho, com a duração de 1min48s, através do uso do aplicativo para gravação de voz num telefone celular Smartphone Dual Chip Samsung Galaxy.

Nesse caminho, utilizamos o dispositivo que permite a escuta discursiva, através da qual se explicitam os processos de identificação e representação dos sujeitos e suas filiações de sentidos, ou seja, pretendemos observar e descrever a relação do sujeito com a sua memória. Nessa missão, descrição e interpretação se inter-relacionam (ORLANDI, 2012a).

É conveniente lembrarmos, antes de apresentarmos nossa análise, que o trabalho não é sobre a imagem, e sim sobre o sentido atribuído a priori pela imagem. Considerando tais aspectos, realizamos, a seguir, a análise.

5. A análise

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Para utilizarmos a entrevista, neste estudo, temos um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado pelo sujeito entrevistado que nos autoriza a sua utilização.

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As sequências discursivas (sdr) escolhidas evidenciam as seguintes características, diante o gesto de leitura empreendido.

Sdr 1:

Cartilha de Orientação Policial – Tatuagens: desvendando segredos. Fonte: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/mana5066/tatuagem-desvendando-segredos>. Acesso em: 25 de maio de 2014.

A sdr 1 é uma das tatuagens expostas na cartilha de orientação policial (2011). Como podemos ver, a cartilha apresenta o nome do desenho seguido de uma explicação a cerca da sua significação5, após as suas possíveis variações de desenho e localização. Trilhando, rapidamente, pelas cores do título, temos as cores amarelo e vermelho que metaforicamente indicam atenção do leitor, como os sinais de trânsito, ou podemos insinuar também, a simbologia social da cor vermelha que indica, na sua forma negativa, agressividade ligada ao combate, dominação e rebelião.

Todos os elementos utilizados pelo autor, ou o contexto intralinguístico que ele articula, direciona o leitor ao sentido que ele apresenta, tornando o seu discurso o mais verdadeiro possível. Podemos dizer que há uma ideologia trabalhando como um mecanismo estruturante do processo de significação.

O que cabe relacionarmos, aqui, é o que traz Althusser quando trata do poder dos Aparelhos de Estado (AE) que funcionam simultaneamente pela repressão e pela ideologia,

5

Reproduzimos o texto que constitui o recorte: “Um grande número de indivíduos flagrados na prática de crime e que possuíam esta tatuagem, apresentavam inúmeros registros de ocorrências do tipo furto e/ou roubo. Havendo recorrência entre diversos suspeitos na prática de roubo coletivo de dinheiro, anéis, bolsas e às vezes até mesmo de roupas dos transeuntes por um grupo de pessoas (arrastão). O grupo pode ou não estar organizado, dependendo da espontaneidade do roubo. A maior recorrência se deu na prática de roubo à coletivos e estabelecimentos comerciais.

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permitindo às classes dominantes assegurar a sua dominação sobre as classes operárias. Em tal relação estabelecida, a cartilha de orientação policial estaria “ensinando saberes práticos mas em moldes que asseguram a sujeição à ideologia dominante ou o manejo da prática desta” (ALTHUSSER, 1970, p. 22).

Nessa perspectiva, a instituição do Estado como a Polícia Militar estaria funcionando como agente da produção, da exploração e da repressão aos sujeitos tatuados, não só com aqueles sujeitos envolvidos ao mundo do crime, mas com todos os sujeitos que apresentam as tatuagens da cartilha, por não ter mais controle sobre os efeitos de sentido que nela ressoam. Nas palavras de Althusser, a PM estaria exigindo

uma reprodução da submissão desta às regras da ordem estabelecida, isto é, uma reprodução da submissão desta à ideologia dominante para os operários e uma reprodução da capacidade para manejar bem a ideologia dominante para os agentes de exploração e da repressão, a fim de que possam assegurar também, <<pela palavra>>, a dominação da classe dominante. (1970, p 21-22)

Com tal característica, a PM representaria uma autoridade que legitimaria o sentido, assegurando pela força e/ou pelo poder as condições políticas da reprodução das relações de exploração de uma instituição sobre os seus assujeitados. Neste ponto, quando a PM se utiliza do discurso autoritário – tal como define Orlandi, em que “a reversibilidade tende a zero, estando o objeto do discurso oculto pelo dizer, havendo um agente exclusivo do discurso e a polissemia contida” (2011, p. 154) – para dar o sentido à tatuagem “Demônio da Tasmânia”, a PM ratifica a sua posição de autoridade sobre os demais sujeitos.

O sentido da tatuagem estabelecido pela cartilha é expresso pelo enunciado: “um grande número de indivíduos flagrados na prática de crime e que possuíam essa tatuagem, apresentavam inúmeros registros de ocorrências do tipo furto e/ou roubo”. Desta forma, para eles, o imaginário que perpassa a representação do sujeito tatuado com a imagem do Taz é a imagem de um sujeito “mão-leve”. É uma posição-sujeito da PM marcada e significada: a da prevalência dos fortes sobre os fracos, objetivando firmar seu lugar de poder pela imposição do sentido para que haja eficiência no trabalho do policial de rua.

Entretanto, esse sentido atribuído pela PM não condiz com o sentido produzido pelo sujeito entrevistado que possui a tattoo. Vejamos a fotografia da tatuagem do sujeito:

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Tatuagem do Demônio da Tasmânia com asas de anjo – Corpus do estudo coletado no dia 05 de junho de 2014.

Neste gesto de se tatuar, o sentido da Tatuagem do “Demônio da Tasmânia” desliza para um outro lugar. Se a relacionarmos com o saber estabelecido pela cartilha teríamos uma interpretação completamente diferente.

De acordo com as considerações do sujeito que a possui (sdr 2), o sentido da tatto é bastante peculiar. Para esse sujeito, o sentido do “Demônio com asas” compreende as características humanas de bondade e de maldade existentes na sociedade, somado ao anseio de auferir confiança no outro. Na sua formulação relata: “É... quando eu fui fazer a tatuagem,

na verdade, eu não sabia o que eu ia fazer, eu fui impulsivo, como eu falei né, só que eu tinha... só que eu tava olhando assim e achei ele. E eu achei interessante por quê? Porque eu... eu... eu acho que assim ó, que que ele demonstra pra mim, que toda pessoa, que nenhuma pessoa é cem por cento boa nem cem por cento ruim, ou seja, ele é um Demônio de Tasmânia só que ele é anjo também. Então, é isso que ela demonstra pra mim, pra me lembrar que... que não dá pra confiar cem por cento em ninguém porque todo mundo tem seus ... seus problemas, digamos assim.”

Diante disso, observamos que para esse sujeito, o sentido está dissociado do crime. Podemos até, por certo lado, relacionarmos discursivamente ambos os saberes no que diz respeito ao sujeito “do bem” e ao sujeito “do mal”, mas isso não implica relacionarmos a tatuagem do sujeito ao seu possível ato de bondade e maldade a ponto de levá-lo à prisão ou ser considerado “mão-leve”.

Para nós, o sentido atribuído pelo sujeito entrevistado está associado a sua “memória afetivo-discursiva” onde “já-ditos e distintas emoções estão emaranhadas” (SILVA, 2010, p.

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42). Reproduzindo a autora, “pressupor a afetividade é pressupor a dinâmica pulsional, e consequentemente, a constante mudança subjetiva” (idem, 2010, p. 43).

Na ótica desse sujeito sobre a sua tatuagem, dos sentimentos lembrados sobressai o desejo de ser tatuado, expresso em outra formulação: “Eu fiz essa tatuagem, mais ou menos,

quando eu tinha 19 anos, na época do quartel. Um dia normal assim, eu sou meio impulsivo. E um dia que eu recebi o meu salário, acho que foi um dos meus primeiros salários lá do quartel. Eu tinha um dinheiro e queria fazer uma tatuagem e me deu a loucura de fazer uma tatuagem”.

Isto nos faz pensar que “onde há desejo, há inconsciente, onde há inconsciente, há sujeito e onde há sujeito, há um corpo que fala e que, ao falar, falha, pois tudo não se diz e todo não se é” (FERREIRA, M.C.L. 2013. p. 105). Dessa forma, a tatuagem materializada em seu corpo, está relacionada a novas formas de assujeitamento ao Outro que o instiga a expressar-se de forma acentuada como condição de apelar uma posição, seja ela, a de sujeito tatuado, como também um modo de se distinguir do outro, ter reconhecimento e visibilidade por meio desse projeto individual na tentativa de ocupar um lugar imaginário histórico.

Portanto, a representação que este sujeito tem de sua tatuagem não confere com a representação da PM acerca da mesma. Para muitos sujeitos, de uma determinada sociedade, algumas tatuagens não fazem nenhum sentido porque, em sua memória discursiva, esses sujeitos não foram afetados pelo processo de significação, como no caso do sujeito entrevistado ao inteirar-se da cartilha. Em outros casos, como o da PM, existem sujeitos tão identificados com os saberes de uma formação discursiva que traçados limites imaginários, os amarram, estancando alguns sentidos que poderiam ser outros.

Isso pode ser observado, para finalizarmos, noutra formulação do sujeito por nós entrevistado: “Ah... (barulho do celular) as pessoas quando falam, quando veem o Taz, todo

mundo normalmente me... me... me achaca assim, sei lá, falam assim bah, por que que tu fez um Taz? Aí eu dou, uma... essa minha explicação e todo mundo pensa: bah, que massa, não sei o quê. Só que, humm... inicialmente eles acham, acham besta né”.

Diante dessa formulação, percebemos que as representações do sujeito entrevistado, do outro e da PM são distintas porque o imaginário que perpassa a FD e, por conseguinte a FI de ambos são díspares. Em outras palavras, precisamos levar em conta os efeitos do

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imaginário para apreendermos as representações. Compreendermos tal funcionamento não é tarefa operatória de cálculo, mas de sua explicitação, tal como tentamos fazer.

Considerações finais

Neste estudo, pretendemos refletir acerca da contraposição de representações discursivas sobre a tatuagem “Demônio da Tasmânia” entre duas instâncias. O interesse centralizou-se nas representações da PM e de um sujeito que possui a tatto na medida em que os sentidos são mobilizados pelo imaginário.

Vale lembrarmos que

na análise do discurso, não menosprezamos a força que a imagem tem na constituição do dizer. O imaginário faz necessariamente parte do funcionamento da linguagem. Ele é eficaz. Ele não “brota” do nada: assenta-se no modo como as relações sociais se inscrevem na história e são regidas, em uma sociedade como a nossa, por relações de poder (ORLANDI, 2012a. p. 42).

Assim, consentirmos com os sentidos prévios apresentados pela cartilha de orientação policial é tolerarmos a noção de sujeito homogêneo, em que ao individualizar-se através do gesto simbólico da tatuagem, cairia nos estereótipos ligados ao desenho que tatuou. E mais, nem mencionamos o preconceito fomentado por um AE ao não aceitar a diferença, encaixando os sujeitos em blocos “criminosos” e “inocentes” impedindo sua subjetivação. Diante a obrigatoriedade de fechamento do texto, com certeza, deixamos muito a dizer.

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Referências

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autoria. São Carlos: EduFSCar, 2013.

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Tradução: Joaquim José de Moura Ramos. Lisboa: Presença, 1970.

FERREIRA, Maria Cristina Leandro. O Corpo enquanto objeto discursivo. In: Análise do

Discurso em perspectiva: teoria, método e análise. Verli Petri e Cristiane Dias (orgs.). Santa

Maria: Editora da UFSM, 2013.

LEITÃO, Débora. À flor da pele: estudo antropológico sobre a prática da tatuagem em grupos urbanos. Dezembro de 2000. Trabalho de Conclusão de Curso - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2000.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Tipologia de discurso e regras conversacionais. In: A linguagem e

seu funcionamento: as formas do discurso. 6º ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2011.

______. Análise de Discurso: princípios e procedimentos. 10º ed. Campinas, SP: Pontes

Editores, 2012a.

______. À flor da pele: indivíduo e sociedade. In: Discurso em Análise: Sujeito, Sentido e Ideologia. 2º ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 2012b.

PÊCHEUX, Michel. Semântica e Discurso (1975). Tradução: Eni Puccinelli Orlandi... [et al]. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1988/ 2009.

______. Análise automática do discurso (AAD-69). Tradução: Bethania Mariani... [et al]. In: GADET, F.; HAK, T. (Orgs.) Por uma análise automática do discurso. Uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 4º ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, (1990/2010).

SANT’ANNA, Denize Bernuzzi de. Políticas do corpo: elementos para uma história das práticas corporais. 2º ed. São Paulo: Estação Liberdade, 2005.

SILVA, Alden da. Cartilha de Orientação Policial – Tatuagem: Desvendando segredos. Salvador, BH: Magic Gráfica, 2011.

SILVA, Renata. O tempo discursivo na constituição do imaginário do trabalhador no

discurso da CUT. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada). Universidade Católica de

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Transcrição da entrevista realizada no dia 05 de junho

Sujeito

“Então, eu fiz a tatuagem do... do meu Taz, ele é um Demônio de Tasmânia e ele tem asas de anjo. (fungada) Eu fiz essa tatuagem, mais ou menos, quando eu tinha 19 anos, na época do quartel. Um dia normal assim, eu sou meio impulsivo. E um dia que eu recebi o meu salário, acho que foi um dos meus primeiros salários lá do quartel. Eu tinha um dinheiro e queria fazer uma tatuagem e me deu a loucura de fazer uma tatuagem, me encontrei com uns amigos, que tinham na rua, aquele... um dos guris tinha feito um piercing recém e eu pensei bah, vou fazer uma tatuagem, vocês conhecem alguém? E eles falaram que conheciam um cara, um amigos deles que era tri bom, fazia... fazia... ia fazer um valor melhor pra eles, aí eu fui lá (fungada), ah... eu fiz o... por que eu fiz esse Demônio da Tasmânia com... com asas? O que eu acho que ele significa pra mim? É... quando eu fui fazer a tatuagem, na verdade, eu não sabia o que eu ia fazer, eu fui impulsivo, como eu falei né, só que eu tinha... só que eu tava olhando assim e achei ele. E eu achei interessante por quê? Porque eu... eu... eu acho que assim ó, que que ele demonstra pra mim, que toda pessoa, que nenhuma pessoa é cem por cento boa nem cem por cento ruim, ou seja, ele é um Demônio de Tasmânia só que ele é anjo também. Então, é isso que ela demonstra pra mim, pra me lembrar que... que não dá pra confiar cem por cento em ninguém porque todo mundo tem seus ... seus problemas, digamos assim. Ah... (barulho do celular) as pessoas quando falam, quando veem o Taz, todo mundo normalmente me... me... me achaca assim, sei lá, falam assim bah, por que que tu fez um Taz? Aí eu dou, uma... essa minha explicação e todo mundo pensa: bah, que massa, não sei o quê. Só que, humm... inicialmente eles acham, acham besta né. É, eu nunca vi ninguém com essa tatuagem ainda assim, eu nunca vi mesmo. E é isso!”

Duração: 01:48

Aplicativo utilizado para gravação: Gravador de voz – telefone celular Smartphone Dual Chip Samsung Galaxy.

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