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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SOCIOECONÔMICO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE. João Antônio Salvador de Souza

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO SOCIOECONÔMICO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE

João Antônio Salvador de Souza

Readability como medida de complexidade textual: determinantes e implicações no

ambiente informacional do sistema empresa

Florianópolis 2021

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João Antônio Salvador de Souza

Readability como medida de complexidade textual: determinantes e implicações no

ambiente informacional do sistema empresa

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do título de Doutor em Contabilidade. Orientador: Prof. José Alonso Borba, Dr.

Florianópolis 2021

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Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,

através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.

Souza, João Antônio Salvador de

Readability como medida de complexidade textual : determinantes e implicações no ambiente informacional do sistema empresa / João Antônio Salvador de Souza ; orientador, José Alonso Borba, 2021.

141 p.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa

Catarina, Centro Sócio-Econômico, Programa de Pós-Graduação em Contabilidade, Florianópolis, 2021.

Inclui referências.

1. Contabilidade. 2. Complexidade textual, Abordagem sistêmica, Readability, Persistência dos resultados. I. Borba, José Alonso. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Contabilidade. III. Título.

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João Antônio Salvador de Souza

Readability como medida de complexidade textual: determinantes e implicações no

ambiente informacional do sistema empresa

O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof.(a) Patrícia Maria Bortolon, Dr(a) Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Prof. César Augusto Tibúrcio Silva, Dr Universidade de Brasília - UnB

Prof.(a) Suliani Rover, Dr(a)

Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Prof. Ernesto Fernando Rodrigues Vicente, Dr Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de Doutor em Contabilidade pelo Programa de

Pós-Graduação em Contabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

___________________________________________________ Prof.(a) Ilse Maria Beuren, Dr(a)

Coordenação do Programa de Pós-Graduação

___________________________________________________ Prof. José Alonso Borba, Dr.

Orientador

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu orientador Dr. José Alonso Borba por sua paciência, receptividade e parceria acadêmica firmada ao longo de minha jornada como doutorando. Seus conselhos acadêmicos e pessoais moldaram minha percepção sobre vários aspectos.

As contribuições dos professores César Tibúrcio, Suliani Rover, Ernesto Vicente e Patricia Bortolon, no processo de qualificação da tese. Todas as críticas e sugestões de melhorias foram incorporadas ao trabalho final. Em particular, agradeço a professora Patricia por me acompanhar desde a minha jornada no mestrado.

Aos professores do programa de doutorado da UFSC aos quais tive a orgulho de ser aluno. Obrigado por participarem de minha jornada acadêmica.

Aos discentes do programa pelas suas contribuições e parcerias. Em especial, Cleber Broietti e Gilberto Crispim.

A coordenação do PPGC em especial na figura da chefe de experiente Maura Lopes, por sempre atender minhas demandas com destreza e boa vontade.

Ao Departamento de Ciências Contábeis de Macaé da Universidade Federal Fluminense (UFF) pela possibilidade de realizar o doutoramento.

Em especial agradeço a Lorena Lucena Furtado, aluna do doutorado em Ciências Contábeis da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que além de uma virtuosa profissional, me acompanha nesta jornada acadêmica desde o mestrado realizado na UFES. Meus sinceros agradecimentos e que nossa parceria perdure por muitos anos.

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“A vida é puro ruído entre dois silêncios abismais. Silêncio antes de nascer, silêncio após a morte”. (Isabel Allende)

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RESUMO

Os relatórios contábeis integram o conjunto de narrativas da empresa e são instrumentos de comunicação das mensagens sobre os eventos e efeitos econômicos. A mensagem pode ter sua complexidade textual alterada para antecipar a reação do mercado em um ciclo de feedback informacional, no qual os gestores têm incentivos para modificar os textos, para sinalizar o resultado positivo ou ofuscar o resultado ruim, ao passo que os investidores reagem a essas informações com conseguinte implicação no resultado das empresas. Nesse contexto, a abordagem sistêmica da Teoria Geral dos Sistemas é empregada de forma integrativa ao modelo transacional de comunicação, para entender o processo comunicativo do sistema empresa. Esse modelo possibilita enquadrar os gestores como preparadores dos relatórios; a complexidade textual, captada por medidas de readability, como elemento de inter-relação sistêmica; os investidores como partes interessadas; e a harmonização com as IFRS como elemento do ambiente externo. Fundamentado nessa discussão, este estudo tem por objetivo avaliar o efeito do resultado das empresas e da harmonização com as IFRS na readability do Relatório da Administração, para explicar o impacto dessa readability no resultado das empresas. Metodologicamente a readability foi calculada para a seção Análise dos Resultados do Relatório da Administração. O constructo resultado é entendido por três atributos: a persistência, o desempenho atual e o benchmark de referência. A harmonização com as IFRS é uma variável dummy, que delimita o período pré e pós-IFRS. Os resultados descritivos de uma amostra representativa de empresas brasileiras de capital aberto, perfazendo 2006 e 2019, mostram que são necessários, em média, dez anos de educação formal para entender prontamente a escrita dos relatórios. Há uma aparente melhoria na readability e uma redução nos resultados das empresas na comparação do período pré e pós-IFRS. As evidências econométricas mostram que, no geral, as empresas com resultados persistentes e positivos apresentam relatórios menos complexos e têm chances de ter relatórios com alta readability, porque as empresas divulgam relatórios com melhor readability, para sinalizar ao mercado o resultado positivo. Por seu turno, as evidências indicam que as empresas com relatórios menos complexos apresentam resultados positivos e mais persistentes. Tal melhoria na readability possibilita que a informação para a tomada de decisão seja mais fácil de extrair. As descobertas são robustas para testes de sensibilidade e uso de medidas derivadas e alternativas dos constructos resultado e readability. Do ponto de vista acadêmico, esta pesquisa amplia os estudos sobre a complexidade textual, ainda incipientes no contexto do mercado de capitais de países emergentes, e insere uma discussão sistêmica da comunicação contábil, tema escasso na literatura existente. Ao modificar as fórmulas tradicionais e elaborar medida própria para o ambiente pesquisado, esta pesquisa supera, mesmo que parcialmente, as críticas sobre a utilização de fórmulas de readability nas pesquisas contábeis. Para o mercado de capitais, os resultados fornecem indícios para os investidores identificarem informações complexas. Os resultados podem auxiliar os formuladores de políticas públicas a instituir um manual de escrita simples.

Palavras-chave: Complexidade textual; Abordagem sistêmica; Readability; Benchmark de

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ABSTRACT

Accounting reports are part of the company's set of narratives and are instruments for communicating messages about events and economic effects. The message may have its textual complexity altered to anticipate the market's reaction in an informational feedback loop, in which managers have incentives to modify the texts, to signal the positive result or obfuscate the bad result, while investors react to this information with the consequent implication in the results of the companies. In this context, the systemic approach of General Systems Theory is used in an integrative way to the transactional model of communication, to understand the communicative process of the company system. This model makes it possible to frame managers as report preparers; textual complexity, captured by readability measures, as an element of systemic interrelationship; investors as stakeholders; and harmonization with IFRS as an element of the external environment. Based on this discussion, this study aims to assess the effect of the companies 'results and the harmonization with IFRS on the readability of the Management Report, to explain the impact of this readability on the companies' results. Methodologically, readability was calculated for the Analysis of Results section of the Management Report. The resulting construct is understood by three attributes: persistence, current performance, and the benchmark. Harmonization with IFRS is a dummy variable, which delimits the pre-and post-IFRS period. The descriptive results of a representative sample of publicly-traded Brazilian companies, totaling 2006 and 2019, show that it takes, on average, ten years of formal education to readily understand the writing of the reports. There is an apparent improvement in readability and a reduction in the results of companies when comparing the pre and post-IFRS periods. The econometric evidence shows that, in general, companies with persistent and positive results present less complex reports and are likely to have reports with high readability, because companies publish reports with better readability, to signal to the market the positive result. In turn, the evidence indicates that companies with less complex reports show positive and more persistent results. Such an improvement in readability makes information for decision making it easier to extract. The findings are robust for sensitivity testing and the use of derived and alternative measures of the result and readability constructs. From an academic point of view, this research expands studies on textual complexity, which are still incipient in the context of the capital markets of emerging countries, and includes a systemic discussion of accounting communication, a scarce theme in the existing literature. By modifying the traditional formulas and elaborating a specific measure for the researched environment, this research overcomes, even partially, the criticisms about the use of readability formulas in accounting research. For the capital market, the results provide evidence for investors to identify complex information. The results can help policymakers to institute a simple writing manual.

Keywords: Textual complexity; Systemic approach; Readability; Reference benchmark;

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estrutura teórica da pesquisa ... 26

Figura 2. Diagrama esquematizado do modelo de comunicação de Shannon ... 28

Figura 3. Modelo conceitual para análise das narrativas contábeis... 34

Figura 4. Modelo transacional de comunicação das narrativas contábeis adaptado ao sistema empresa ... 35

Figura 5. Estrutura metodológica da pesquisa ... 53

Figura 6. Evolução temporal da média de FleschMod ... 79

Figura 7. Evolução temporal da média de FogMod ... 79

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Críticas em relação a aplicação de fórmulas de readability nas pesquisas contábeis

e possíveis soluções ... 39

Tabela 2 Estudos anteriores que desenvolveram medidas ou adaptaram fórmulas tradicionais de readability para o contexto da pesquisa contábil ... 41

Tabela 3 Estudos anteriores que investigaram a relação entre resultado e readability .... 45

Tabela 4 Estudos anteriores que analisaram o efeito do ambiente externo na readability ... .48

Tabela 5 Seleção e tratamento da amostra ... 59

Tabela 6Atributos textuais para o cálculo da variável de readability proposta ... 64

Tabela 7 Resumo das variáveis utilizadas na pesquisa ... 71

Tabela 8 Relação entre os objetivos, hipóteses e modelos por função ... 76

Tabela 9 Estatística descritiva da amostra ... 80

Tabela 10 Correlação de Pearson e Spearman ... 89

Tabela 11 Medidas de Persistência, Desempenho, Benchmark e IFRS como determinantes da readability do Relatório da Administração ... 96

Tabela 12 Impacto das medidas de readability e da harmonização com as IFRS na persistência dos resultados e desempenho das empresas ... 102

Tabela 13 Síntese do efeito das variáveis de interesse principal e da validação das hipóteses testadas ... 106

Tabela 14 Reestimativa do modelo (1) com regressão logit para identificar o impacto das medidas de resultado na probabilidade de relatórios com alta readability ... 108

Tabela 15 Reestimativa do modelo (2) para identificar o impacto da readability na intensidade da persistência dos resultados e desempenho das empresas ... 109

Tabela 16 Reestimativa dos modelos (1) e (2) para identificar o impacto das medidas defasadas na readability e resultado das empresas ... 110

Tabela 17 Reestimativa dos modelos (1) e (2) para identificar o efeito das medidas alternativas dos constructos resultado e readability ... 112

Tabela 18 Reestimativas dos modelos (1) e (2) para identificar o impacto do setor regulamentado na readability e resultado das empresas...115

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP Agência Nacional de Petróleo

B3 Brasil, Bolsa, Balcão

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM Comissão de Valores Mobiliários

FASB Financial Accounting Standards Board

FR Formulário de Referência

FRC Financial Reporting Council

IASB International Accounting Standards Board IFRS International Financial Reporting Standards LAJIR Lucro antes de juros e imposto de renda MD&A Management Discussion and Analysis

PLN Processamento de Linguagem Natural

QSE Qatar Stock Exchange

SEC Securities and Exchange Commission

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 14 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ... 19 1.2 OBJETIVOS ... 22 1.2.1 Objetivo geral ... 22 1.2.2 Objetivos específicos ... 22 1.3 A TESE ... 22 1.4 CONTRIBUIÇÕES ESPERADAS ... 23 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ... 24 2 REVISÃO DA LITERATURA ... 26 2.1 FUNDAMENTOS DA TGS DE BERTALANFFY ... 27 2.1.1 Abordagem sistêmica da TGS ... 30

2.1.2 Desenvolvimento e pressuposições da abordagem sistêmica nas organizações ... 31

2.1.3 Comunicação corporativa com as partes interessadas ... 33

2.2 DETERMINANTES DA READABILITY DOS RELATÓRIOS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EMPRESA ... 37

2.2.1 Readability como medida de complexidade textual ... 38

2.2.2 Relação entre readability dos relatórios e resultado das empresas ... 44

2.2.3 O efeito do ambiente externo na readability dos relatórios ... 48

3 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 52

3.1 DESENVOLVIMENTO DAS HIPÓTESES ... 53

3.1.1 Relação entre medidas de readability e a persistência dos resultados, desempenho atual e benchmark de referência ... 54

3.1.2 Harmonização com as IFRS e sua relação com a readability dos relatórios e resultado das empresas ... 57

3.2 SELEÇÃO DA AMOSTRA E TRATAMENTO DOS DADOS ... 58

3.3 DEFINIÇÃO CONCEITUAL E OPERACIONAL DAS VARIÁVEIS ... 61

3.3.1 Fórmulas de readability modificadas... 61

3.3.2 Medida de readability proposta ... 62

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3.3.4 Medida de harmonização com as IFRS como elemento do ambiente externo ... 66

3.3.5 Variáveis de controle ... 67

3.4 MODELOS E TÉCNICA DE ANÁLISE ... 75

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 77

4.1 ANÁLISE GRÁFICA, ESTATÍSTICA DESCRITIVA E ANÁLISE DE ASSOCIAÇÃO ... 77

4.1.1 Análise gráfica das tendências dos índices de readability para o período 2006-2019 ... 78

4.1.2 Estatística descritiva para as variáveis de interesse principal e as utilizadas em testes adicionais e controle ... 80

4.1.3 Matriz de correlação de Pearson e Spearman para identificar a associação entre as variáveis do conjunto de análise ... 88

4.1.4 Síntese dos resultados univariados ... 93

4.2 ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE READABILITY, RESULTADO E AMBIENTE EXTERNO ... 95

4.2.1 Análise das estimativas e reestimativas dos parâmetros do modelo (1) ... 95

4.2.2 Análise das estimativas e reestimativas dos parâmetros do modelo (2) ... 101

4.2.3 Síntese dos determinantes, implicações e validação das hipóteses ... 106

4.3 ANÁLISES ADICIONAIS... 107

4.3.1 Impacto do resultado das empresas e sua intensidade na probabilidade de relatórios com alta readability ... 107

4.3.2 Impacto da readability na intensidade do resultado das empresas ... 109

4.3.3 Impacto das variáveis de interesse principal defasadas na readability dos relatórios e resultado das empresas ... 110

4.3.4 Impacto da mensuração de medidas alternativas dos constructos resultado e readability ... 112

4.4 LIMITAÇÕES ... 116

5 CONCLUSÕES ... 119

REFERÊNCIAS ... 124

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1 INTRODUÇÃO

O conjunto de informações qualitativas e quantitativas expresso nas demonstrações contábeis e nos relatórios elaborados pela administração é o principal meio de comunicação das empresas com as partes interessadas, sendo fundamental para auxiliar na tomada de decisão e no monitoramento das empresas. Dessa forma, é legítimo argumentar que a comunicação dos eventos contábeis é tão relevante quanto a mensuração em si. Em um contexto do mercado de capitais, a comunicação corporativa é um fenômeno multifacetado que envolve uma variedade de formas, gêneros e canais. A utilidade da informação depende de como a mensagem é enviada e percebida pelo usuário. Especificamente os relatórios elaborados pela administração, doravante relatórios, são considerados narrativas contábeis oportunas para descrever e avaliar os resultados da empresa.

O desenvolvimento de relatórios para prática e pesquisa alcançou uma posição de destaque. Estudar seu conteúdo faz-se relevante porque: (i) contêm um amplo conjunto de informações (Rutherford, 2005); (ii) são apresentados de forma textual, na forma de palavras, tabelas, gráficos e imagens (Brennan & Merkl-Davies, 2018), ou verbal, como teleconferências, apresentações gerenciais e reuniões (Beattie, 2014); (iii) passaram por modificações ao longo do tempo (Financial Reporting Council, 2013; Rutherford, 2018); (iv) os preparadores podem apresentar informações discricionárias devido a liberdade na sua preparação; e (v) envolvem o atendimento a públicos com necessidades informacionais distintas e com habilidades e conhecimentos variados, para lidar com a informação. Essas características impulsionam maior aprofundamento sobre a função do conteúdo textual dos relatórios no ambiente informacional. Analisar a parte textual dos relatórios é importante para esclarecer se as informações são enviadas pelos gestores, com o propósito de alterar a percepção dos usuários dessas informações (Clatworthy & Jones, 2001; Rutherford, 2005). Há um interesse em entender o conteúdo dos relatórios sobre os eventos contábeis porque, sem uma comunicação eficaz, a contabilidade perde propriedade informacional, resumindo-se a um repositório arquivístico de estatísticas sobre o desempenho da empresa (Stone & Parker, 2013).

A importância dos relatórios é reconhecida mundialmente por formuladores de políticas públicas. Para o Financial Accounting Standards Board (FASB), mensagens claras e legíveis são vitais para ajudar investidores sofisticados ou não sofisticados a entender a empresa (Financial Accounting Standards Board, 2004). O International Accounting Standards Board

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(IASB) sugeriu princípios para tornar os relatórios mais eficazes, por exemplo, evitar o uso de jargão técnico, apresentar as informações de forma organizada e eliminar informações em duplicidade (International Accounting Standards Board, 2017). Para o Financial Reporting Council (FRC), uma comunicação clara e concisa deve (i) ser focada nas necessidades do público; (ii) dar maior ênfase à aplicação da materialidade; (iii) apresentar melhoria na readability1; e (iv) considerar canais alternativos para relatar a informação (Financial Reporting

Council, 2015). Já a Securities and Exchange Commission (SEC) apresentou o Plain English Handbook com sugestões linguísticas, no intuito de melhorar a escrita do texto dos prospectos, tornando-o mais fácil de ser lido, portanto melhorando sua readability (Securities and Exchange Commission, 1998).

Em nível nacional, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as informações sobre os eventos contábil-financeiros devem ser redigidas de forma simples e direta, com a utilização de uma linguagem clara e objetiva (Ofício-circular CVM/SNC/SEP, n. 1, 2005). Igualmente o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) demonstrou preocupação com a utilidade da informação textual. A orientação técnica OCPC 07 junta-se à discussão internacional e apoia a ideia de uma redação menos técnica e mais informativa (Orientação técnica OCPC-07, 2014). Também desmistifica que os usuários informacionais devam possuir o mesmo conhecimento dos especialistas e entender prontamente os termos técnicos setoriais, isto é, os relatórios devem ser abrangentes e fáceis de entendimento pelos usuários em geral.

A divulgação de relatórios integra o processo de comunicação da empresa. Este é caracterizado pelo envolvimento de múltiplos atores e pode ser analisado por perspectivas distintas e legítimas. Uma forma de analisar esse processo é considerar a empresa como um sistema de interesse, que é o sistema objeto da análise. Neste momento, a abordagem sistêmica pode ser utilizada de forma integrativa com os conceitos de comunicação, para estudar o processo comunicativo do sistema empresa. A abordagem sistêmica é apresentada na Teoria Geral dos Sistemas (TGS) proposta por Bertalanffy (1968; 2010), a qual incorpora conceitos interdisciplinares da cibernética e da Teoria da Informação, tendo como ponto de congruência a informação, e concebe o sistema aberto como um conjunto de elementos inter-relacionados,

1 Optou-se por utilizar o termo original em inglês, pois não é objetivo do trabalho uma reinterpretação e/ou tradução do termo. Na literatura nacional o termo pode ser encontrado em suas variantes terminológicas: legibilidade (característica do que é legível); leiturabilidade (relacionado ao conforto visual) ou inteligibilidade (qualidade do que pode ser compreendido). Estes termos não foram empregados porque a readability foi considerada medida do grau de dificuldade do texto.

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dispostos em ordem hierárquica que operam dentro de limites, como o todo integral, em busca de alcançar seus objetivos.

Na literatura organizacional, pela ótica da TGS, as empresas são conceituadas como sistemas abertos nos quais a abordagem sistêmica pode ser empregada para responder a problema específico (Moeller & Valentinov, 2012), como o da comunicação entre as partes do sistema empresa. Para esse contexto, ressalta-se que a contabilidade está associada à TGS, à medida que ambas compartilham o elemento informação como primordial a seu funcionamento (Hahn, 2007; Valentinov, Verschraegen, & Van Assche, 2019). Esse debate possibilita admitir a informação como elemento de inter-relação que regula o funcionamento do sistema empresa em um processo de feedback informacional.

As propriedades supracitadas proporcionam analisar o sistema empresa, porque: (i) uma forma de estudar as empresas é mediante a abordagem sistêmica (Buckley, 1967); (ii) as empresas devem ser entendidas como um todo integral (Scott, 1961); (iii) as empresas não são sistemas isolados, e sim sistemas integrados que possuem a característica de aprendizagem (Senge, 1990); e (iv) a análise da empresa deve ser integrada e sistêmica, considerando o impacto do ambiente externo e sua influência no processo de tomada de decisão (Hahn, 2007). A base do modelo de sistema aberto é a inter-relação dinâmica de seus componentes. Nesse modelo, a comunicação é vista como elemento que adapta o sistema ao ambiente interno e externo por meio do feedback informacional (Clevenger & Matthews, 1971; Littlejohn, Foss, & Oetzel, 2017). Como a comunicação da empresa é ajustada em face das expectativas das partes interessadas, a comunicação molda a percepção do sistema empresa, e a análise de relatórios específicos possibilita identificar essa relação.

Fundamentalmente os relatórios são identificados como elementos críticos do conjunto de documentos da empresa, os quais são amplamente lidos por uma variedade de usuários (Yuthas, Rogers, & Dillard, 2002), o que torna propícia a análise textual de seu conteúdo. Entre as informações produzidas e divulgadas pelas empresas, destaca-se aquelas em que são discutidos e evidenciados seus resultados. O aparato legal brasileiro com base no art. 133 da Lei nº 6.404 (Lei n. 6.404, 1976), reforçada pelos Pareceres CVM de Orientação nº 15 (Parecer de orientação CVM n.15, 1987) e nº 17 (Parecer de orientação CVM n. 17, 1989) vigentes à época, obriga as empresas de capital aberto a divulgar os Documentos da Administração, que, entre outros, exige a divulgação do Relatório da Administração, cuja função consiste em

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evidenciar os negócios sociais e os principais fatos administrativos ocorridos no exercício, como a análise dos resultados.

Analisar os relatórios por uma abordagem sistêmica de sua comunicação conduz a um entendimento da dimensão complexidade textual. Na literatura contábil, as pesquisas utilizam as medidas de readability como proxy de complexidade textual (Jones & Shoemaker, 1994; Loughran & McDonald, 2016) e concordam que, para a informação contábil atingir seu objetivo, ela deve ser o menos complexa possível, ou seja, deve apresentar maior readability (Courtis, 2004; Rutherford, 2003). Independentemente do formato e gênero, os relatórios compartilham um objetivo comum: a readability (Campbell & Hollmann, 1985; Crow, 1988). Empiricamente as pesquisas contábeis validam a readability como medida de complexidade textual (Guay, Samuels, & Taylor, 2016; Kim, Wang, & Zhang, 2019; Li, 2008).

O conceito de readability é apresentado por diversos autores, não sendo uma construção definida com exatidão. Isso pode ser explicado em virtude de o termo ser intercambiável entre distintas áreas do conhecimento, o que ocasiona confusões terminológicas e conflitos conceituais. Por exemplo, nos estudos contábeis, Merkl-Davies e Brennan (2007) consideram que a readability integra um conceito geral de impression management. Já Beattie (2014) entende a readability como uma característica particular do texto, sendo ela complementar, e não sinônimo de impression management. Isso posto, e como não é objetivo da pesquisa uma reinterpretação do termo, o estudo baseia-se em conceitos aceitos e adotados na literatura anterior, para considerar que a readability colabora para o sucesso na comunicação da mensagem escrita às partes interessadas e é calculada por fórmulas próprias desenvolvidas nas pesquisas em linguística e psicologia educacional. Desse modo, para este estudo, a readability foi considerada como medida do grau de dificuldade de leitura do texto, proveniente da escolha de palavras e forma de construção das frases (Klare, 1963; McLaughlin, 1969).

Segundo Dale e Chall (1948), a readability reúne características dos elementos do material textual que influencia o modo pelo qual um grupo de leitores o entende. Para Smith e Taffler (1992a), a readability mede a complexidade do texto e auxilia na comunicação da mensagem contábil. Isso porque, para a informação contábil atingir seu propósito, ele deve ser legível (Courtis, 2004; Rutherford, 2003). Nessa conjetura, os índices de readability são auxiliares na identificação de elementos que prejudicam a leitura de um texto.

Ao medir a readability, é possível identificar os determinantes e as implicações da complexidade textual no ambiente informacional. Assim, a readability dos relatórios pode ser

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utilizada para alterar a percepção dos usuários, visto que a mensagem opera como elemento de feedback informacional. Duas vertentes podem explicar as causas e as consequências dos níveis de readability: a perspectiva do preparador e a perspectiva do usuário da informação. A perspectiva do preparador está relacionada aos determinantes da readability, pela qual os gestores são considerados os preparadores dos relatórios. Mesmo que não seja possível identificar a autoria de alguns relatórios, há uma suposição implícita de que os gestores são os preparadores principais (Merkl-Davies & Brennan, 2017) e, mesmo que não o sejam, a responsabilidade e o efeito da redação corporativa recaem sobre eles. Conceitualmente os gestores têm incentivos para modificar os textos dos relatórios de acordo com o resultado2 da

empresa, no intuito de apontar ativamente o resultado positivo (Rutherford, 2003; Smith & Taffler, 1992b) ou ofuscar o resultado ruim (Bloomfield, 2002, 2008; Courtis, 2004; Li, 2008). Por outro lado, a perspectiva do usuário da informação capta as implicações da readability. Por essa perspectiva, os investidores são considerados os principais usuários informacionais, os quais geram feedback informacional, ao reagirem às informações modificadas, porque (i) textos menos complexos aumentam a confiança dos investidores (Asay, Elliott, & Rennekamp, 2017), ajudando-os a entender o desempenho da empresa (Tan, Wang, & Zhou, 2015) e, contrariamente, (ii) textos mais complexos prejudicam o processamento das mensagens (Hesarzadeh & Rajabalizadeh, 2020), reduzindo as crenças dos usuários sobre a confiabilidade da informação (Shah & Oppenheimer, 2007).

Ao compreender a empresa como um sistema aberto, fatores do ambiente externo que estão fora do controle da empresa devem ser considerados. Como os elementos textuais mudam com o tempo (Monga e Chasan, 2015), tanto os determinantes quanto as implicações da readability dos relatórios são impactados. Padrões contábeis, como os emitidos pela IFRS Foundation e o IASB, são baseados em princípios e objetivam promover a melhoria do ambiente informacional, o que pode interferir na dinâmica de preparação e entendimento dos relatórios, ao direcionar sua readability. A priori, essa interferência visa reduzir a complexidade textual dos relatórios (Boubaker, Gounopoulos, & Rjiba, 2019; Cheung & Lau, 2016; Lang & Stice-Lawrence, 2015) e, por conseguinte, impactar positivamente o resultado das empresas (Landsman, Maydew, & Thornock, 2012; Wu & Zhang, 2019).

2 Nesta pesquisa o termo resultado é utilizado para descrever o resultado financeiro das empresas.

Especificamente, as proxies para resultado empregadas nos testes estatísticos se referem ao resultado por ação, sendo esse os valores de lucro ou prejuízo por ação.

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Com a finalidade de estabelecer uma combinação de reflexões conceituais e empíricas que permitam apresentar a readability como medida de complexidade textual dos relatórios, este estudo identifica as críticas as fórmulas de readability e apresenta uma visão seletiva da literatura atual sobre os determinantes e implicações da readability no ambiente informacional. Para tanto, a mensagem contida nas narrativas contábeis é considerada elemento de inter-relação sistêmico. Operacionalmente a narrativa contábil, objeto do estudo, é o Relatório da Administração. Também os elementos do texto escrito são utilizados para mensurar a complexidade textual desse relatório mediante duas fórmulas de readability adaptadas e uma elaborada para o cenário do mercado de capitais brasileiro. Essa abordagem permite identificar (i) os determinantes em nível do resultado das empresas e ambiente externo na readability dos relatórios e (ii) a implicação da readability no resultado das empresas. Como determinantes da readability, são selecionados os atributos do resultado (persistência, desempenho atual e benchmark de referências) e a harmonização com as International Financial Reporting Standards (IFRS). Por seu turno, a implicação da readability é analisada a tal ponto que se verifica o impacto desta nos resultados da empresa (persistência e desempenho atual).

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

A mensagem deve ser o menos complexa possível. Nas pesquisas contábeis, a readability é um atributo que capta a complexidade textual. Existe um consenso de que os relatórios apresentam elevada complexidade (Beattie, McInnes, & Fearnley, 2004). Porém, a literatura negligencia uma relação sistêmica da comunicação contábil, o que limita a generalização dos resultados a relações causais em sentido único: ora o resultado das empresas como determinante da readability (Dempsey, Harrison, Luchtenberg, & Seiler, 2012; Lo, Ramos, & Rogo, 2017), ora o nível de readability como implicação do resultado das empresas (Hassan, Abu Abbas, & Garas, 2018). As pesquisas que tentam superar essa dicotomia – Li (2008) e Souza, Rissatti, Rover e Borba (2019) – são incipientes e não consideram o efeito do ambiente externo nas relações. Ao introduzir a abordagem sistêmica da comunicação, espera-se superar essas limitações e apreespera-sentar a empresa como um sistema aberto que tem a medida de readability como elemento de inter-relação.

Os gestores podem elaborar relatórios para moldar a percepção dos investidores sobre o resultado das empresas. Por outro lado, os investidores podem reagir a essas informações

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modificadas, com conseguinte análise equivocada das empresas. Empiricamente a escolha das medidas de resultado direciona sua relação com a readability, e a literatura existente considera fundamentalmente três medidas do resultado: a persistência, o desempenho atual e o benchmark de referência. Consoante com essas noções, Li (2008) evidencia que (1) empresas com desempenho atual considerado ruim divulgam relatórios anuais mais longos e com menor readability e (2) empresas com relatórios anuais menos complexos têm maior desempenho e resultados mais persistentes. Dempsey et al. (2012) corroboram esses achados, ao identificarem que empresas com resultados ruins apresentam relatórios anuais com menor readability. Lo et al. (2017) identificam que (1) empresas que gerenciam o benchmark de referência, isto é, modificam seus resultados atuais com objetivo de superar os resultados do ano anterior, apresentam relatórios anuais com baixa readability e (2) empresas com resultados satisfatórios apresentam relatórios com maior readability. Em estudo fora do mainstream norte-americano, Hassan et al. (2018) descobrem que as empresas listadas no mercado acionário do Catar com relatórios anuais menos complexos são mais lucrativas.

As pesquisas que analisam a parte textual dos relatórios no mercado acionário brasileiro ainda são incipientes. Com destaque para as pesquisas de: (i) Souza et al. (2019) que analisam a relação bilateral entre readability e resultado; (ii) Silva, Rodrigues e Abreu (2007) que estudam uma possível relação entre os relatórios e o resultado financeiro das empresas; (iii) Silva e Fernandes (2009) que aplicam o índice Flesch para analisar a facilidade de leitura de 4.533 fatos relevantes divulgados nos anos de 2002 a 2006; (iv) Borges e Rech (2019) que identificam os determinantes da readability das notas explicativas; e (v) Gomes, Ferreira e Martins (2018) que analisam o impacto da OCPC 07 sobre o tamanho e a readability das notas explicativas. Mesmo com essas pesquisas, existe uma lacuna a ser preenchida, seja na elaboração e adaptação de medidas de readability ao contexto estudado, seja na identificação dos determinantes e implicações da readability nos relatórios de empresas brasileiras.

Fatores do ambiente externo do sistema empresa impactam a forma de elaboração dos relatórios e o resultado das empresas. Isso ocorre porque as tendências temporais afetam atributos textuais como a readability (Cazier & Pfeiffer, 2017; Dyer, Lang, & Stice-Lawrence, 2017b). A harmonização contábil é considerada um choque exógeno que impacta essa relação. Em termos de determinantes, a readability pode ser influenciada pela harmonização com as IFRS. Cheung & Lau (2016) investigando o mercado acionário australiano, Boubaker et al. (2019) analisando o mercado acionário francês e Lang & Stice-Lawrence (2015) em pesquisa

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multipaíses sugerem que a harmonização com as IFRS melhorou a readability dos relatórios. Já Landsman et al. (2012) e Wu e Zhang (2019) observaram que, no período pós-IFRS, as empresas apresentam melhoria nas suas métricas de resultado. Mesmo com esses achados, os estudos que relacionam readability com a harmonização com as IFRS não foram extensivamente examinados em mercados emergentes, sendo essa uma lacuna existente.

Por uma perspectiva metodológica, é importante salientar que a generalização dos resultados é reduzida devido às especificidades do ambiente pesquisado. Mercados com características de concentração acionária podem incentivar a expropriação por parte do acionista controlador ante os minoritários (Shleifer & Vishny, 1997), principalmente em países com baixa proteção legal (La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer, & Vishny, 2000). Desse modo, o ambiente de informação das empresas também influencia na forma de divulgação das informações (Guay et al., 2016). Como o Brasil é um país com características de estrutura de propriedade concentrada com baixa proteção aos acionistas minoritários, isso pode, a priori, favorecer o uso de relatórios modificados.

Esta pesquisa estende-se aos estudos supracitados, ao: (i) introduzir uma discussão sistêmica da comunicação contábil; (ii) calcular uma medida de persistência dos resultados baseada em estudos de contabilidade financeira; (iii) modificar as fórmulas originais de readability; (iv) desenvolver uma medida de readability própria para o ambiente pesquisado; e (v) apresentar o efeito da harmonização com as IFRS na readability e o resultado das empresas no mercado acionário brasileiro. Somada a isso, esta pesquisa, por ser realizada em um cenário que não o mainstream, contribui para o entendimento de que a complexidade textual dos relatórios pode ser um fenômeno global, como sugerido por Beattie et al. (2004).

De fato, existem lacunas entre identificar os determinantes da readability dos relatórios e considerar suas implicações no resultado das empresas, bem como avaliar o impacto da harmonização com as IFRS nesse processo. Fundamentada nessas lacunas e motivada pela necessidade de provocar reflexão sobre a importância crescente das narrativas contábeis como instrumento de comunicação das informações, esta pesquisa pretende responder à seguinte questão: quais são os efeitos do resultado das empresas e da harmonização com as IFRS

na readability dos Relatórios da Administração e qual a implicação dessa readability no resultado das empresas no mercado acionário brasileiro?

Para operacionalizar a questão de pesquisa, configura-se a complexidade textual por meio de índices de readability, a narrativa objeto do estudo é o Relatório da Administração, a

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medida de ambiente externo é identificada com base na harmonização com as IFRS e o resultado das empresas é entendido por três atributos: a persistência, o desempenho atual e o benchmark de referência.

1.2 OBJETIVOS

A seguir são apresentados o objetivo geral e os específicos para auxiliar na resposta à questão de pesquisa.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral é avaliar o efeito do resultado das empresas e da harmonização com as IFRS na readability do Relatório da Administração, para explicar o impacto dessa readability no resultado das empresas.

1.2.2 Objetivos específicos

Os objetivos específicos foram elaborados de acordo com as medidas utilizadas para operacionalizar o objetivo geral. Em termos específicos, busca-se:

a) Avaliar se a readability do Relatório da Administração é modificada de acordo com os atributos do resultado (persistência, desempenho atual e benchmark de referência). b) Explicar o efeito da readability do Relatório da Administração na persistência dos

resultados e no desempenho das empresas.

c) Identificar se a harmonização com as IFRS modifica a readability do Relatório da Administração e o resultado das empresas.

1.3 A TESE

Este estudo compreende a empresa como um sistema aberto, que tem a complexidade textual configurada por índices de readability como elemento de inter-relação sistêmica. Essa concepção rejeita entender o processo comunicativo como linear e permite estudar os relatórios por um modelo transacional, com a inserção do ambiente externo na análise. As explicações

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orientadas para o sistema possibilitam entender se os gestores modificam a readability dos relatórios, com objetivo de antecipar as reações dos investidores e verificar se essa modificação influencia no resultado das empresas.

Do exposto, formula-se a tese de que o resultado das empresas e a harmonização com as IFRS determinam a readability do Relatório da Administração e esta, por seu turno, exerce influência no resultado das empresas.

1.4 CONTRIBUIÇÕES ESPERADAS

A tese é original por relacionar a TGS na análise dos relatórios, adaptando seus elementos ao ambiente contábil. Uma análise sistêmica possibilita entender, de forma monológica, as nuances da comunicação contábil no mercado acionário. As discussões teóricas e os resultados podem complementar as pesquisas que analisam os relatórios por lentes de teorias econômicas.

Espera-se igualmente que o estudo apresente contribuições metodológicas. Este estudo introduz novos dados e medidas de readability na literatura. Ao modificar as fórmulas tradicionais de readability – Flesch e Fog –, elas foram adaptadas ao contexto estudado. Também foi desenvolvida uma métrica de readability com base na ferramenta computacional de análise textual Coh-Metrix-Port. Essa nova métrica atende ao chamado de Core (2001). O autor supracitado chama a atenção para necessidade de utilizar métodos inovadores advindos do Processamento de Linguagem Natural (PLN), para elaborar variáveis em larga escala. O PLN é utilizado para obter variáveis linguísticas em nível do texto, com o auxílio de softwares específicos. Para esta pesquisa, é utilizada a ferramenta on-line Coh-Metrix-Port, a qual é a primeira métrica desenvolvida para o cenário dos relatórios de empresas brasileiras. Espera-se que tanto as métricas modificadas quanto a desenvolvida sejam utilizadas em substituição das métricas originais em pesquisas futuras.

O fluxo de pesquisas sobre readability concentra-se em documentos de língua inglesa e em mercados de capitais com estrutura de propriedade pulverizada. F. Li (2010) e Merkl-Davies (2007) chamam a atenção para dificuldade de generalização dos achados relacionados ao tema, sugerindo estudos em outras línguas que não o inglês. O Brasil, em particular, possui altos níveis de concentração acionária (Andrade, Bressan, & Iquiapaza, 2014; Leal, Carvalhal, & Iervolino, 2015) e passou por um recente processo de harmonização com as IFRS. Assim, o

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Brasil pode ser um caso representativo para outros mercados emergentes, portanto é esperada uma contribuição significativa para a literatura sobre a complexidade textual dos relatórios.

Esta pesquisa considera a harmonização com as IFRS como um fator exógeno, pertencente ao ambiente externo do sistema empresa. Espera-se que o benefício de analisar o impacto da harmonização com as IFRS nos índices de readability e no resultado da empresa seja duplo, ao esclarecer se a harmonização contábil em nível local proporcionou melhoria da readability e resultado das empresas e possibilitou uma análise longitudinal da evolução dos índices de readability.

Os achados podem ser úteis aos participantes do mercado de capitais. Espera-se que os investidores identifiquem e reivindiquem divulgações menos complexas, isto é, com maior readability, para suas análises. Além do mais, os resultados podem oferecer subsídios para que reguladores e normatizadores apliquem políticas públicas, para mitigar o uso de relatórios tidos como complexos em nível local, já que não há regulamentação para padrões universais de redação de relatórios. Espera-se que os gestores atentem para o potencial dos relatórios e tomem iniciativas proativas. Por exemplo, uma auditoria sobre a forma de escrita pode não só auxiliar o escritor a localizar suas fraquezas e pontos fortes de comunicação, como ainda fornecer aos demais membros administrativos da empresa um procedimento sistemático de avaliação da comunicação por escrito. Em uma análise mais ambiciosa, os índices de readability aplicados neste estudo podem ser incorporados em um manual de escrita simples, nos moldes do promovido pelo Plain English Handbook da SEC.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

No capítulo introdutório, apresentam-se os contornos da pesquisa. Inicia-se com a apresentação do tema e segue com a problematização, os objetivos, a declaração da tese e as contribuições esperadas.

No capítulo 2, é tratada a revisão da literatura em duas partes principais, a saber: os fundamentos da TGS de Bertalanffy e os determinantes da readability dos relatórios e suas implicações para a empresa: a primeira enfatiza a abordagem sistêmica da TGS, o desenvolvimento e pressuposições da abordagem sistêmica nas organizações e a comunicação corporativa com as partes interessadas; a segunda destaca a readability como medida de

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complexidade textual, a relação entre readability e o resultado das empresas, além do efeito do ambiente externo na readability dos relatórios.

No capítulo 3, apresenta-se a metodologia empregada na pesquisa, no qual constam as hipóteses e os procedimentos metodológicos.

O capítulo 4 trata da análise e discussão dos resultados. Por fim, o capítulo 5 contém as conclusões do estudo.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

A revisão da literatura inicia-se com a seção 2.1, que apresenta os fundamentos da TGS. Nela, a TGS é considerada como uma construção interdisciplinar que incorpora elementos da cibernética e da Teoria da Informação. As semelhanças e diferenças entre essas correntes de pensamento são destacadas. Na seção 2.1.1, estabelece-se a diferença entre a abordagem sistêmica, reducionismo e o holismo. Prossegue com as definições de julgamento de limites, níveis de observação e dimensão metodologia da abordagem sistêmica. A seção 2.1.2 organiza os conceitos da abordagem sistêmica aplicáveis às empresas. Na seção 2.1.3, é argumentado que a comunicação contábil opera como elemento de feedback informacional. Também é apresentado o modelo de comunicação adotado na pesquisa.

A seção 2.2 apresenta os determinantes da readability dos relatórios e suas implicações para a empresa. A readability como medida de complexidade textual, a relação entre readability dos relatórios e resultado das empresas e o efeito do ambiente externo na readability dos relatórios são abordados na seção 2.2.1, 2.2.2 e 2.2.3, respectivamente.

A título de simplificação, na Figura 1, consta a estrutura teórica aplicada neste capítulo.

Revisão da literatura

Fundamentos da TGS de Bertalanffy Determinantes da readability dos relatórios e suas implicações para a empresa

• Abordagem sistêmica da TGS.

• Desenvolvimento e pressuposições da abordagem sistêmica nas organizações. • Comunicação corporativa com as partes

interessadas.

Figura 1. Estrutura teórica da pesquisa

Relações conceituais apresentadas na revisão da literatura que direcionam as hipóteses do estudo

• Perspectiva do preparador. Os gestores têm incentivos para modificar os textos dos relatórios de acordo com o resultado da empresa, com intuito de (i) sinalizar ativamente o resultado positivo ou (ii) ofuscar o resultado ruim.

• Perspectiva do usuário da informação. Os investidores podem reagir as informações modificadas porque (i) textos menos complexos aumentam a confiança dos investidores ajudando-os a entender o desempenho da empresa e, contrariamente, (ii) textos mais complexos prejudicam o processamento das mensagens, reduzindo as crenças dos usuários sobre a confiabilidade da informação.

• Impacto positivo da harmonização com as IFRS no resultado das empresas e na readability dos relatórios.

• Readability como medida de complexidade textual.

• Relação entre readability dos relatórios e resultado das empresas.

• O efeito do ambiente externo na readability dos relatórios.

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2.1 FUNDAMENTOS DA TGS DE BERTALANFFY

A TGS de Bertalanffy (1968; 2010) é uma construção interdisciplinar e teve como marco fundamental a década de 1950. Cientistas de áreas do conhecimento distintas contribuíram simultaneamente para a teoria, em particular a cibernética e a Teoria da Informação.

Bertalanffy inicialmente direcionou esforços a desenvolver sua Teoria dos Sistemas em física e biologia (Bertalanffy, 1950b). Posteriormente, o modelo de sistemas abertos apresentou princípios válidos para os sistemas em geral (Bertalanffy, 1950a). De caráter interdisciplinar e relevante a outros campos do conhecimento, o autor publicou, em 1968, sua obra final da TGS – General System Theory: foundations, development, applications (Bertalanffy, 1968)3.

O campo da cibernética foi relevante para a TGS e, por vezes, tratadas erroneamente como sinônimos. A cibernética é considerada uma junção de linguagem e técnicas referente à regulação e comando em sistemas mecânicos ou vivos e tem por foco central a comunicação e o controle (Bertalanffy, 2010; Wiener, 1948). No cerne da abordagem cibernética está a ideia de sistemas como conjuntos de componentes que formam algo maior que a soma de suas partes, que, por sua vez, monitoram, regulam e controlam as entradas e saídas de elementos para permanecerem, por meio do feedback, estáveis e atingir suas metas (Littlejohn et al., 2017). Em suma, o campo de estudo da cibernética é o sistema em sua forma primária, sendo ela parte da TGS.

Bertalanffy (2010) admite as semelhanças estruturais entre a cibernética e a TGS, porém alerta sobre pontos divergentes. O autor distingue as abordagens em seus conceitos: (i) a cibernética enfatizando o feedback e o estado estável do sistema e (ii) a TGS com foco nos sistemas abertos e inter-relações dinâmicas. A ótica cibernética destaca modelos de equilíbrio de respostas a estímulos, para manter valores desejados por meio do processo de feedback da informação. Já a TGS considera o feedback informacional em seu processo, porém sua ênfase está na inter-relação de seus componentes, considerando o ambiente externo na equação.

Sem considerar o ambiente externo, o modelo de equilíbrio simples cibernético é ancorado nos conceitos de estímulo, mensagem, resposta e feedback. Os estímulos e respostas

3 O livro de Bertalanffy de 1968 possuiu uma 5ª edição para 2010, traduzida para o português brasileiro, que será utilizada como referência ao original.

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podem ser definidos como input (entradas ou insumos recebidos pelo sistema) e outputs (saídas ou resultados finais processados no sistema). A mensagem é a informação que se deseja transmitir. O feedback, também identificado como retroalimentação ou realimentação, é o retorno ao sistema de uma parte de sua energia de saída (Wiener, 1948).

As diferenças entre o modelo de equilíbrio cibernético e o modelo da TGS ficam mais latentes à medida que se aprofundam em suas metodologias. O modelo da TGS fundamenta-se nos sistemas abertos, os quais estão em constante inter-relação dinâmica com seu ambiente. Já o modelo cibernético de feedback é aberto ao fluxo de informação, mas fechado por ocasião da perda dessa informação, de modo que esta só pode diminuir, e nunca aumentar, passando de um estágio de informação para um de “ruído” (Bertalanffy, 2010).

A Teoria da Informação contribuiu simultaneamente na cibernética e na TGS, fornecendo princípios intercambiáveis a todas classes de sistemas. O engenheiro e matemático Claude Elwood Shannon (1916–2001), em conexão com seu trabalho no Bell Telephone Research Laboratory, publicou, em 1948, em duas partes, sua formulação matemática da Teoria da Informação (Shannon, 1948a, 1948b). Posteriormente esses artigos foram revisados e unificados em uma publicação (Shannon, 1948c). O pesquisador estava interessado em resolver o problema técnico da transmissão de mensagens e assim declarou que o conceito de informação aplicado em sua teoria não estava relacionado com significado, mas somente com aspectos quantitativos (Shannon, 1948c). Para tanto, pesquisou o ruído considerando-o originário de perturbações externas nos canais de transmissão que distorciam as mensagens. O ruído foi incorporado ao seu diagrama esquemático de um modelo de comunicação, este apresentado na Figura 2.

Em 1949, Shannon estabeleceu parceria com o matemático Warren Weaver e publicaram o livro The Mathematical Theory of Communication, e Weaver acrescentou a teoria

Sinal Sinal

recebido Fonte de

informação Transmissor Receptor Destino

Fonte de ruído

Mensagem Mensagem

Figura 2. Diagrama esquematizado do modelo de comunicação de Shannon

Fonte: de “A mathematical theory of communication” de C. E. Shannon, 1948c, The Bell System Technical Journal, 27, p. 380.

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implicações mais amplas ao conceito de informação. O autor entendia que a informação carregava um grau de incerteza e liberdade de escolha dentro de um sistema, devido às possibilidades do que e como se pode informar (Shannon & Weaver, 1949). Essa reflexão introduziu na teoria três níveis de análise para o fenômeno comunicativo e informacional, a saber: (i) nível técnico – a transmissão dos sinais de comunicação; (ii) nível semântico – o significado dos sinais; e (iii) nível pragmático – os efeitos da mensagem no destino. Não obstante, Shannon & Weaver (1949) priorizam a noção linear e objetiva no processo informacional (nível técnico), o qual, pelo menos em parte, afeta os níveis seguintes.

O cerne da TGS está na definição de sistemas abertos. Ao conceber essa característica, Bertalanffy (2010) introduz o conceito de ambiente externo e trata da dicotomia entre os termos fechado e aberto. Os sistemas fechados são associados a física e seu funcionamento é isolado de seu ambiente externo. Os sistemas abertos são associados à lei da termodinâmica e/ou lei da entropia. A entropia é um processo que tende à exaustão e desorganização, culminando no encerramento do processo sistêmico. Os sistemas abertos, sejam sociais, sejam biológicos, precisam alimentar-se de um fluxo contínuo de matéria e energia do ambiente externo, para manter a ordem e alcançar seus objetivos (Capra, 1996).

Bertalanffy (2010) recorre à Teoria da Informação para discutir entropia. Ao considerar a informação como noção geral da Teoria da Informação, destaca a entropia como medida de desordem e a entropia negativa como sinônimo de informação, isto é, uma medida de ordem e/ou organização. Dessa maneira, em um sistema fechado, a variação da entropia é sempre positiva, com conseguinte “destruição” do sistema. Em outra perspectiva, estão os sistemas abertos que interagem com troca de informação com o ambiente, produzindo e importando entropia, que pode ser negativa. Portanto, os sistemas fechados apresentam a tendência geral a entropia ou desordem máxima, já os sistemas abertos tendem à ordem superior à medida que progridem.

A informação operando como princípio do sistema pode ser medida como fluxo informacional ou tomada de decisão. Na Teoria da Informação e na cibernética, a informação é medida em fluxo informacional linear, remetendo a um esquema clássico estímulo/resposta (Shannon & Weaver, 1949; Wiener, 1948). Na TGS, a informação é medida, em princípio, como tomada de decisão. Neste processo, o feedback informacional estabiliza ou conduz a direção das ações no sistema (Bertalanffy, 2010).

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Do disposto entende-se que a TGS é interdisciplinar e incorpora elementos da cibernética e da Teoria da Informação. O ponto de congruência das correntes de pensamento é a informação, a qual opera como componente de inter-relação entre os sistemas. Mediante essa discussão, pode-se afirmar que um sistema aberto é um conjunto de elementos inter-relacionados dispostos em ordem hierárquica que operam dentro de limites, como o todo integral, em busca de alcançar seus objetivos.

2.1.1 Abordagem sistêmica da TGS

A abordagem sistêmica surgiu como alternativa ao reducionismo e ao holismo. A TGS de Bertalanffy (2010) incorpora tal concepção ao criticar o pensamento reducionista e assumir princípios da visão holística. O pensamento reducionista gera conhecimento ao estudar as partes para compreender a totalidade de um sistema complexo (Capra, 1996; Spruill, Kenney, & Kaplan, 2001). O reducionismo condiciona a inexistência de inter-relações entre as partes, estando o comportamento do todo condicionado ao mesmo comportamento das partes (Bertalanffy, 2010; Capra, 1996). Já a abordagem holística considera uma visão macrorreducionista e refere-se à compreensão da realidade em função da totalidade (Bunge, 2014). Ao não incorporar as possíveis inter-relações das partes, o pensamento holístico torna-se concorrente do pensamento sistêmico, e não torna-seu sinônimo.

Na abordagem sistêmica, considera-se a inter-relação entre as partes, e as relações de causa e efeito isoladas, propostas na abordagem reducionista, são sobrepostas por relações dinâmicas e contextuais explicadas pela propriedade do todo, que nenhuma parte possui isoladamente (Capra, 1996). Isso não exclui analisar as partes independentemente, mas implica a análise das relações dessas partes e da sua contextualização em termos do ambiente (Bertalanffy, 2010; Capra, 1996).

Os conceitos da abordagem sistêmica avançam na discussão do caráter subjetivo dos sistemas. Essa perspectiva foi introduzida por Knight et al. (2019), Ulrich (2003) e Ulrich & Reynolds (2010). Em sua concepção, a subjetividade está relacionada ao julgamento de limites. A demarcação de um sistema possibilita sua identificação em um sistema de interesse, o qual traz em si uma delimitação das possíveis inter-relações, porque o sistema de interesse atende às necessidades de partes interessadas específicas que possuem perspectivas e visões de mundo singulares sobre o sistema (Ulrich, 2003; Ulrich & Reynolds, 2010). Assim, os limites do

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sistema devem ser fixados por meio da perspectiva de um grupo de partes interessadas (Knight et al., 2019).

A abordagem sistêmica está interessada em entender como os sistemas são compreendidos nos vários níveis de observação. Meadows (2008) e Reynolds e Holwell (2010) informam que a abordagem sistêmica deve ser pensada em tipologias que considerem estas dimensões: elementos, interconexões e função ou propósito. Dubrovsky (2004) articula que os sistemas devem ser entendidos em função de suas unidades (chamadas de totalidade), suas partes (chamadas de elementos) e seus relacionamentos (chamados de inter-relação). Nesse contexto, entende-se que os elementos são as características do sistema, isto é, suas partes. As inter-relações são as interações sistêmicas: (i) entre as partes e o sistema, (ii) entre os sistemas e (iii) entre o sistema e o ambiente externo. O objetivo é a finalidade do sistema, isto é, sua função ou propósito. A unidade é o sistema como um todo, ou seja, sua totalidade. As características apresentadas podem ser agrupadas em elementos, inter-relações, ambiente externo, objetivo e totalidade.

Os conceitos teóricos da abordagem sistêmica são complementados por uma discussão metodológica que sugere uma estrutura para investigar as inter-relações sistêmicas para a solução de problemas práticos. Essa dimensão move as relações de causa e efeito lineares para uma relação dinâmica e contextual. Bunge (2014) sugere que os estudos combinem as abordagens bottom-up (sintética) e top-down (analítica), de modo que as inter-relações sistêmicas sejam investigadas em termo das extremidades.

Do disposto, entende-se que a abordagem sistêmica é assim alcançada: (i) por se contrapor ao reducionismo e ao holismo; (ii) ao entender o caráter subjetivo dos sistemas; e (iii) ao mostrar como os sistemas devem ser entendidos nos vários níveis de observação. Não obstante, os aspectos metodológicos da abordagem sistêmica permitem a aplicação da TGS para a resolução de problemas práticos, bem como possibilitam uma direção na forma de analisar os sistemas abertos e suas inter-relações.

2.1.2 Desenvolvimento e pressuposições da abordagem sistêmica nas organizações

A abordagem sistêmica pode ser utilizada para analisar o sistema empresa. O conceito de organização como sistema aberto foi aprofundado na obra seminal intitulada The Social Psychology of Organizations dos psicólogos e cientistas sociais Daniel Katz (1903–1998) e

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Robert L. Kahn (1918–2019) (Katz & Kahn, 1966). Os autores admitem o conceito de sistemas de Bertalanffy e apresentam as organizações como classe especial de sistemas abertos com propriedades únicas e simultaneamente propriedades em comum com os demais sistemas abertos.

Para Buckley (1967), a única forma de estudar sistemas organizacionais é mediante a abordagem sistêmica. Mais especificamente, Scott (1961) considera que as organizações somente podem ser estudadas como um sistema e devem ser entendidas como um todo integral. No entender de Senge (1990), as organizações não são sistemas isolados, e sim sistemas integrados que possuem a característica de aprendizagem. Segundo o autor, as organizações devem dominar as cinco disciplinas essenciais para a aprendizagem: mestria pessoal, modelos mentais, construção de visão compartilhada, aprendizagem em equipe e pensamento sistêmico. A abordagem sistêmica é tratada na quinta disciplina e considerada integradora das demais. Não obstante, existem outras formas de analisar as organizações que não estão no escopo deste estudo, como a dialética (Benson, 1977; Farjoun, 2002), a hermenêutica (Heidegger, 2008) e a fenomenologia (Husserl, 2020). Também há correntes sistêmicas, como a proeminente Teoria Social Sistêmica proposta por Niklas Luhmann (Luhmann, 1996).

A abordagem sistêmica pode ser empregada para responder ao problema específico da empresa (Moeller & Valentinov, 2012). A análise da empresa deve ser integrada e sistêmica, considerando o impacto do ambiente externo e sua influência no processo de tomada de decisão (Hahn, 2007). Especificamente, entende-se que a contabilidade está associada à TGS à medida que compartilham o elemento informação como primordial a seu funcionamento, e o sistema empresa deve utilizar as informações contábeis como medida de entropia negativa, que evita a desordem geral do sistema (Hahn, 2007; Valentinov et al., 2019).

Ao seguir a tradição sistêmica, a comunicação contábil é conceituada como transmissão de mensagens pela empresa sobre seus eventos econômicos, para os investidores (Bedford & Baladouni, 1962). Isso conduz ao entendimento de que as empresas são comunicação em si, e não apenas “contêineres” dentro dos quais ela ocorre (Kuhn, 2012), porque a comunicação é a base para a empresa (Weick, 1979). Nesse contexto, considerar a empresa como sistema aberto, que tem a comunicação como elemento de inter-relação, direciona o estudo a compreender como as mensagens são produzidas e utilizadas.

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2.1.3 Comunicação corporativa com as partes interessadas

Em um contexto de mercado de capitais, a comunicação corporativa é um processo complexo que envolve o atendimento a públicos com necessidades informacionais diferentes e com habilidades e conhecimentos variados para lidar com a informação. Essa comunicação tem o objetivo de informar as partes interessadas sobre os resultados organizacionais e gerenciar o relacionamento externo (Merkl-Davies & Brennan, 2017; Parker, 2013). As partes interessadas incluem investidores, analistas financeiros, clientes, agências governamentais, organizações não governamentais e o público em geral.

A apresentação da comunicação corporativa envolve uma variedade de formas, gêneros e canais. O material narrativo pode ser apresentado na forma de palavras, tabelas, gráficos e imagens (Brennan & Merkl-Davies, 2018) e o verbal como teleconferências, apresentações gerenciais e reuniões (Beattie, 2014). Esse material é representado em diferentes gêneros (relatórios anuais, relatório da administração, notas explicativas, press release e relatórios de sustentabilidade) e mídia (impressa, digital ou audiovisual). Independentemente da forma, gênero e canal, o objetivo da comunicação corporativa eficaz é prestar contas e auxiliar a tomada de decisão das partes interessadas. Especificamente as narrativas contábeis representam oportunidades para o preparador descrever, discutir e avaliar o resultado das empresas (Jones & Smith, 2014).

Por envolver tanto a mensuração quanto a comunicação entre empresa e partes interessadas (Chambers, 1966), é legítimo argumentar que a comunicação corporativa é tão relevante quanto a mensuração em si, cuja constituição é resultado dos eventos e efeitos econômicos da empresa que, ao buscar atingir seus objetivos, interage com seu ambiente interno e externo. Fundamentalmente uma comunicação ineficaz gera entropia positiva, conduzindo o sistema à desordem, tão como uma comunicação eficaz gera entropia negativa, regulando o sistema e mantendo nele a ordem (Clarke, Dean, & Edwards, 2013).

Considerar a comunicação como elemento de inter-relação do sistema conduz ao reconhecimento da presença do fator feedback informacional. Este pode ser utilizado para antecipar as reações dos destinatários da informação. Conforme ressaltam Prakash & Rappaport (1977), o efeito do feedback sobre os relatórios pode ser relacionado ao resultado da empresa, porque, primeiro, a avaliação sobre o resultado modifica a previsão dos analistas financeiros e a tomada de decisão dos investidores e, segundo, os relatórios moldam a percepção e criam

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