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INFORME SOBRE POLÍTICAS E MOVIMENTOS NEGROS ALAGOAS

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INFORME SOBRE POLÍTICAS E MOVIMENTOS NEGROS ALAGOAS

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INTRODUÇÃO

Entre os dias 06, 07 e 08 de julho de 2009, em Maceió, realizamos cinco encontros para discutir as políticas de igualdade racial no estado de Alagoas. A primeira atividade aconteceu no Auditório do FIEA, como parte do II Encontro Etnicidades do Estado de Alagoas, realizado pela ONG Maria Mariá, em parceria com a Federação de Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA). Na oportunidade, apresentamos a proposta do Mapeamento para o movimento social e organizações do Movimento Negro presentes. Ainda neste dia, nos reunimos com lideranças locais não presentes ao Encontro e articulamos outros momentos, a fim de dialogar com pessoas representativas do “movimento negro histórico”, que não compareceram ao evento.

No segundo dia, participamos do espaço da Conferência Livre de Segurança Pública, que ocorreu no mesmo auditório, onde fomos apresentados/as às organizações presentes. O terceiro encontro foi realizado no NEAB/UFAL, quando fizemos um Grupo Focal com 2 membros do NEAB, um do FENAL e 2 lideranças jovens do Jacintinho, considerado o maior bairro negro de Maceió. Por fim, participamos de uma reunião do FENAL, encerrando as atividades da visita. A seguir os principais pontos identificados em relação a cada segmento pesquisado.

I. INFORMAÇÕES A PARTIR DO QUESTIONÁRIO APLICADO

Tipo de organização, situação jurídica e tempo de existência

A maioria das 26 organizações que preencheram o questionário está concentrada no município de Maceió (16), mas houve presença também das localidades de Igreja Nova (2), Penedo (2), Marechal Deodoro (1), Monteirópolis (1), Rio Claro (1), Viçosa (1) e Olho D’água das Flores (1) (Tabela 1, em anexo). As organizações do Setor Público correspondem a 31% e as do movimento social 69/%1. (Tabela 2, em anexo). Somente uma organização declarou ser não formalizada; oito estão em processo de formalização e seis são formalizadas. (Tabela 3, em anexo)

A média de existência das organizações pesquisadas é de 10 anos, sendo que metade delas tem até quatro anos de existência e a mais antiga possui 59 anos de existência2. Também no caso de Alagoas, os dados da pesquisa mostram que nos últimos anos houve uma intensificação no surgimento de organizações com ações na área racial, embora o número ainda seja pequeno. As do Setor Público têm média de tempo mais elevada (19 anos) que as demais. (Tabela 4, em anexo)

Quem atua nas organizações, público e áreas de atuação

A média de pessoas atuando nas organizações foi calculada em 58 pessoas por organização. O número é mais elevado no Setor Público (104 pessoas), devido ao número declarado pela Secretaria Estadual da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos (557 pessoas). As Associações ou Movimentos têm em

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Apenas uma organização não se classificou entre as alternativas propostas.

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média 56 pessoas atuando, as Instituições Religiosas 34 e as ONG’s e OSCIP’s 21 pessoas (Tabela 5, em anexo). Os homens são maioria (56%) nas posições de trabalho, e a distribuição racial revela uma maioria negra (75,3%). A população negra figura com 81% no que tange ao público atendido, 62% Infância e juventude, e 54%, Quilombolas. O público de indígenas foi o menos escolhido (8%), seguido de Lésbicas, gays, bi-sexuais e transgêneros (19%). O número médio de atendimento ficou em 409 pessoas/ano, sendo que a média mais elevada pertence ao Setor Público, com 615 pessoas, e ONG’s ou OSCIP’s, com 483 (Tabela 6, em anexo).

Em relação às áreas de atuação, confirma-se a elevada escolha da Educação, (81%), Arte e Cultura (73%) e Direitos Humanos e Ações Afirmativas (46%). O menor interesse está nas áreas de Meio-ambiente (27%), Saúde (19%), Informação (12%) e Outras (12%) (Tabela 7, em anexo). Em termos médios, as organizações atendem anualmente a 409 pessoas. O maior número refere-se ao atendimento no Setor Público, com 625 pessoas/ano (Tabela 8, em anexo).

Políticas públicas e disseminação de conhecimento

Foram pesquisadas oito instituições do setor público alagoano: duas escolas estaduais3, três secretarias estaduais4, uma secretaria municipal5 e dois núcleos de estudo, pesquisa e extensão6.

Ambas as escolas declararam desenvolver políticas de igualdade racial na área de Educação (Lei 10.639/03 e/ou Lei 11.645/08). Uma desenvolve também ações dirigidas ao acesso ao mercado de trabalho e, a outra, políticas de combate ao racismo institucional. Em ambos os casos, os recursos são originados do orçamento público e, embora não reconheçam a existência de articulação com outras instâncias do setor público, uma delas menciona ação articulada com uma secretaria estadual.

Entre as secretarias que responderam ao questionário, uma delas não declarou desenvolver políticas de igualdade racial: a Secretaria de Educação de Marechal Deodoro. A Secretaria Estadual de Educação e Esporte declarou desenvolver ações nas áreas de Educação das relações etnicorraciais e políticas orientadas às comunidades quilombolas, com recursos orçamentários e articuladas em nível ministerial e de outras secretarias estaduais e municipais.

A Secretaria Estadual da Mulher, da Cidadania e Direitos Humanos revelou desenvolver políticas de acesso ao mercado de trabalho, políticas orientadas para as comunidades de terreiro e quilombolas, de fomento à cultura negra, de combate ao racismo institucional e de articulação dos movimentos sociais. A secretaria utiliza exclusivamente recursos orçamentários e declara que essas

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A Escola Estadual Maria Amália e a Escola Estadual Moreira e Silva.

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A Secretaria Estadual de Educação e Esporte, a Secretaria Estadual da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos e a Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social.

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A Secretaria de Educação de Marechal Deodoro.

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O NEAB/UFAL e o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Diversidade Étnico-Racial – NEDER.

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ações estão articuladas tanto em nível ministerial, quanto com as secretarias estaduais e com os municípios.

A Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento Social declarou desenvolver ações e políticas articuladas em nível federal, estadual e municipal, com recursos orçamentários e através de editais de chamada pública do governo federal, nas áreas de acesso ao mercado de trabalho, de fomento à cultura negra e de políticas para a comunidade quilombola.

O NEAB/UFAL e o NEDER atuam nas áreas de estudo, pesquisa e extensão, desenvolvendo políticas de igualdade racial, na área de Educação O NEAB/UFAL declarou desenvolver ações nas áreas de acesso ao mercado de trabalho, políticas para a comunidade quilombola e de formação acadêmica e qualificação de estudantes cotistas com recursos orçamentários. Segundo a organização, essas ações recebem apoio do governo federal.

Além das ações na área de educação, o NEDER declara que atua nas áreas de fomento à cultura negra e de combate ao racismo institucional, com recursos orçamentários. Embora declarem desenvolver ações articuladas, essas ocorrem apenas em nível estadual e municipal. Um número elevado de organizações (11) declarou desenvolver atividades de pesquisa7 (Tabela 9, em anexo). Nenhuma registrou a realização de dissertações ou teses e apenas o NEAB publicou livros; a Igreja Batista do Pinheiro revelou ter publicado duas revistas e uma cartilha; e a Associação de Homossexuais, Heterossexuais, Bi-sexuais e Travestis de Barra de Santo Antônio (AHBT/BSA) publicou duas cartilhas.

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São as seguintes organizações: a Escola Estadual Maria Amália, a Associação de Homossexuais, Heterossexuais, Bi-sexuais e Travestis de Barra de Santo Antônio (AHBT/BSA), a Associação dos Moradores do Povoado Palmeiras dos Negros (AMP), a Associação de Desenvolvimento Comunitário Tabuleiro dos Negros, a Associação Afro- brasileira Ofá-Omi , o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/UFAL), o Colégio Agnus Dei – Organização das Escolas Particulares para Divulgar a Cultura Negra, o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Diversidade Étnico-racial (NEDER), a Secretaria Estadual da Mulher, de Cidadania e Direitos Humanos, a Igreja Batista do Pinheiro (IBP) e o Grupo União Espírita Santa Bárbara (GUESB).

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III. INFORMAÇÕES GERADAS ATRAVÉS DE ENTREVISTA, RODA DE CONVERSA E GRUPO FOCAL

1. Movimentos Sociais, Ong’s e Lideranças

A luta negra contemporânea em Alagoas inicia-se em 1979 com a fundação da Associação Cultural Zumbi, formada por jovens amigos/as que tinham como principal bandeira o tombamento da Serra da Barriga. Em 1984, a organização teve sua primeira divisão, quando alguns membros saíram para fundar o grupo Filhos de Zumbi, reivindicando que a organização tivesse um caráter mais comunitário8. Essa dicotomia entre o ser cultural ou política será uma constante dentro do movimento negro alagoano, até hoje.

O Movimento Negro tem uma forte tradição de articulação com outros estados do país, por conta das visitas e do posterior de tombamento da Serra da Barriga, onde se localizava o Quilombo dos Palmares. Na década de 80, ativistas como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzáles, Kabengele Munanga, dentre outros, visitavam com frequência o estado para conhecer a memória da luta quilombola; isso fez como que o Movimento afro-alagoano tivesse um relativo destaque no cenário nacional.

Esta visibilidade não foi, entretanto, suficiente para garantir uma sustentabilidade das ações criadas pelos/as ativistas. Hoje, o Movimento encontra-se em um momento de rearticulação, depois de uma fase de crise política no início dos anos 2000, causada pela emergência de novas lideranças, que não dialogam ou até criticam a geração anterior, fundadora do movimento e atuante quando o racismo era mais invisibilizado. A mudança deve-se também a aspectos da conjuntura política de criação dos órgãos de promoção da equidade racial e consequente ocupação de cargos/funções na administração pública, causando certo enfraquecimento e/ou desarticulação no movimento social.

As entidades de Alagoas possuem uma peculiaridade, a de, em sua maioria, não dependerem de recursos públicos ou da cooperação internacional. Segundo relatos de ativistas, a maioria dos membros são voluntários e, portanto, não são remunerados pelos serviços prestados à comunidade. Trata-se de profissionais de diversas áreas que dedicam Trata-seu tempo noturno, ou finais de semana, a ações de combate ao racismo. Se, por um lado, essa característica confere ao movimento certa autonomia, gera uma série de dificuldades, a exemplo de nenhuma organização do movimento ter sede e a dedicação não ser exclusiva.

Dentre os movimentos identificados no estado, destacamos as seguintes organizações: Fórum de Entidades Negras de Alagoas, que possui 30 organizações filiadas, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA) do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Alagoas que, por ser da área de comunicação, consegue dialogar com todas as entidades dentro do

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Silva, Jefferson. Um Movimento Negro em Alagoas: A Asssociação Cultural Zumbi (1979-1992).

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Movimento Negro; e por fim, o Movimento Lésbico Dandara que trabalha as questões de gênero e sexualidade sob o ponto de vista racial e possui também projetos desportivos e comunitários, como um time de futebol feminino.

Com relação ao FENAL, a articulação possui em sua Comissão Executiva as seguintes organizações: Afoxé Omi Omoreuá, Banda de Reggae Civilização Roots, Bumba Meu Boi Excalibur, Centro Cultural Quilombo dos Palmares, Centro de Cultura e Cidadania Malungos do Ilê, Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, Centro de Educação Popular e Cidadania Zumbi dos Palmares – (Cepec), Centro de Estudos e Pesquisas Afro-Alagono Quilombo, Federação Alagoana de Capoeira (FALC), Grupo Cultural Axé Zumbi, Movimento Lésbico Dandara, Muzenza Capoeira, Núcleo de Apoio ao Desenvolvimento da Capoeira (NADEC), Núcleo de Cultura Afro-Brasileira Iya Ogunté, ONG Maria Mariá, Orquestra de Tambores, Pastoral da Negritude da Igreja Batista do Pinheiro, Ponto de Cultura Guerreiros da Vila, União de Negros pela Igualdade (UNEGRO).

O FENAL é fruto da antiga Coordenação de Entidades Negras de Alagoas, que cumpria esse papel de articular os movimentos na década de 80 e que foi extinta por problemas de divergências ideológicas. No entendimento do coordenador do Fórum, Helcias Pereira, essa iniciativa de agregar organizações é muito importante, pois promove o diálogo entre os grupos e “Alagoas precisa de espaços como esse para os projetos se conhecerem e trocarem experiências”.

Em relação à COJIRA, trata-se de uma articulação interligada aos Sindicatos de Jornalistas de todo o Brasil. Em Alagoas, foi criada em novembro de 2007 ligada ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Alagoas (Sindjornal) e foi o primeiro coletivo no Nordeste. A missão da COJIRA-AL9 é “Ampliar a discussão sobre as questões étnico-raciais nos meios de comunicação e no espaço sindical; Promover a interlocução entre os segmentos afros, meios de comunicação e sociedade e dar visibilidade às ações político-culturais realizadas pelos segmentos afros”.

Uma ação da COJIRA de grande impacto é a Coluna Axé, publicada todas as quintas no jornal Tribuna Independente, o terceiro jornal de maior circulação em Alagoas. A Coluna Axé foi implantada no dia 13 de maio de 2008, ocupa meia página colorida no formato Standard, é preenchida com editorial, notas informativas, curtas e fotos. Quando da apresentação do projeto ao CEAFRO, esta coluna já estava em sua 59ª edição, constituindo-se o principal espaço de comunicação dos movimentos negros alagoanos. A editora da Coluna é a jovem jornalista Helciane Pereira, que também é diretora do grupo ANAJÔ. Destacamos também o trabalho da Ialorixá Mãe Vera, do Terreiro Abasá de Angola Oyá Balé que, dentre várias atividades, coordena o projeto “Orquestra de Tambores” e o Maracatu “Continuação de nossos Ancestrais”, sempre desenvolvendo trabalhos com jovens, na prevenção da criminalidade na comunidade do Vergel, umas das mais excluídas da cidade. Mãe Vera atua

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como líder comunitária, dinamizadora cultural, conselheira e até mesmo parteira, conforme relato no grupo. É importante informar que a questão da intolerância religiosa é uma grande preocupação dos movimentos negros alagoanos, uma vez que a perseguição das religiões de matriz africana é fato antigo. Em 1912, por exemplo, ocorreu um fato inédito no Brasil, a “Operação Xangô” ou “Quebra de 1912”, quando as elites do estado, através da Polícia Militar, destruíram mais de 30 terreiros de candomblé. Tia Marcelina, umas das principais representantes do Candomblé, foi espancada e morta, e hoje é considerada uma mártir da luta contra o preconceito religioso.

O Centro de Cultura e Estudos Étnicos ANAJÔ10, criado em 1988, é outro grupo que merece referência. A organização aglutina diversas lideranças de outras organizações e desenvolve um trabalho de conscientização sobre a história e cultura afro-brasileira, em particular sobre o legado do Quilombo dos Palmares. Essa organização, oriunda da articulação das Agentes de Pastoral Negros (APNs), promove visitas à Serra da Barriga, possibilitando a professores/as, pesquisadores/as e estudantes conhecerem esse marco da história afro-brasileira. Nas visitas, um/a professor/a conta a história do local, e da resistência negra no Brasil, oportunizando uma vivência com a cultura afro-brasileira.

Uma característica marcante do Movimento Negro alagoano é que, em sua maioria, trata-se de organizações culturais (grupos de capoeira, maracatu, samba de roda etc) e, com exceção da União dos Negros pela Igualdade (UNEGRO), não identificamos nenhuma entidade nacional do Movimento Negro tradicional com representatividade no estado.

O movimento se materializa bastante através do Quilombo dos Palmares, que fica na região metropolitana de Maceió. Quando inquirido sobre a realização da Caminhada da Consciência Negra, tradicionalmente realizada dia 20 de novembro em todo o Brasil, o coordenador do Fórum de Entidades Negras de Alagoas (FENAL), Helcias Pereira, afirmou categoricamente: “O que diferencia Alagoas dos outros estados é que nós temos a Serra da Barriga”. Esse fato é emblemático, pois demonstra o grande orgulho que os afro-alogoanos têm de hospedarem o importante sítio histórico de Palmares. Apesar disso, há uma certa mitificação e apropriação dos símbolos palmarinos pela elites; a estátua de Zumbi está localizada em Pajuçara, e o aeroporto de Maceió traz o seu nome: Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares.

Organizações Governamentais

O estado de Alagoas é pioneiro quanto à participação de militantes negros na estrutura de governo: Zezito Araújo, ocupando a Secretaria de Defesa e Proteção das Minorias e, Vanda Menezes, ocupando a Secretaria da Mulher. Hoje, as estruturas de promoção da igualdade racial no Governo do Estado são: Superintendência de Políticas de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos da Secretaria da Mulher, ocupada pela Sra. Wedna Miranda, e a

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Gerência de Educação Étnico-Racial da Secretaria da Educação, coordenada pela Sra Irani Neves.

A Superintendência desenvolve políticas para as comunidades de quilombos e população indígena. A principal ação do órgão, até o momento, é o diagnóstico da situação dos 54 quilombos do estado, sendo 23 desses reconhecidos pelo Governo Federal. Os dados preliminares do estudo apontam uma situação bastante precária, pois 99,9% não possuem saneamento básico, 65% vivem em casas de adobe (taipa), 75% não possuem postos de saúde, apenas 2% possuem escolas estaduais e 100% não possuem espaços de lazer11.

Enquanto na esfera estadual a Gerência de Educação Étnico-Racial é responsável pela implementação da Lei 10.639, regulamentada pela Lei estadual nº 6.814/2007, de 02 de julho de 2007, na esfera municipal é o NEDER, e ambos enfrentam problemas como este: “a primeira coisa que corta no orçamento somos nós. Essa não é uma prioridade mesmo nesse Governo”, afirma uma gestora. Desta forma, muitos professores/as ainda não estão preparados para lidar com a temática no cotidiano da escola e da sala de aula, não há investimento em material didático e nem em profissionais para ministrar a formação dos educadores/as. Por outro lado, o Fórum Permanente Educação e Diversidade Étnico-Racial, proposto pelo MEC/SECAD parece atuante; reúne-se quinzenalmente e tem participação de lideranças expressivas, comprometidas com a causa.

Na Secretaria de Estado da Assistência e Desenvolvimento Social (SEADES) há um projeto de Segurança Alimentar - Fabricação de Produtos Lácteos, Alimentação Alternativa, Processamento de Pescado -, envolvendo a profissionalização de 1024 famílias em áreas rurais e quilombolas.

Produção e disseminação de conhecimento

No NEAB/UFAL atuam Clara Suassuna (atual coordenadora), Ângela Bahia, Zezito Araújo (Professor de História da África e fundador do Núcleo, na década de 70), dentre outros. O NEAB, que possui uma relação muito boa com o Movimento Negro, publica a revista Kulé-Kulé (raízes, em Banto), cuja edição mais recente traz o tema Religiosidade.

Um das principais conquistas do NEAB foi a aprovação das cotas raciais na UFAL, com reserva de vagas para mulheres negras, provavelmente fato inédito em todo o Brasil. Outra política, concebida e posta em prática pelo Núcleo, refere-se à disciplina Saúde da População Negra, no Curso de Medicina, e aos estudantes fazerem trabalhos de extensão dentro dos quilombos. O Núcleo também abriga o projeto Afro Atitude, do Governo Federal.

Ainda tratando-se do franco diálogo com os movimentos sociais, os grupos de capoeira buscam no núcleo a formação política que precisam para complementar o trabalho de conscientização que desenvolvem. Entretanto, os/as pesquisadores/as queixam-se de que as condições para o

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desenvolvimento do trabalho não são suficientes para atender à demanda; nesse sentido, precisam de mais recursos humanos e apoio institucional dentro e junto à Universidade.

III. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)12, Alagoas tem 68,8% de afro-descendentes e o PNUD (2005) o apontou como o estado no qual os negros tinham o pior IDH, com índices piores que os de países africanos pobres, como Guiné Equatorial (0,642) e Namíbia (0,650), enquanto o IDH dos brancos é 17,7% maior que o dos negros.13

Os movimentos negros do estado são constituídos, geralmente, por voluntários, sem remuneração, e há uma forte ligação com o Quilombo dos Palmares, que já se estende para outros quilombos, por meio de pesquisa e ações outras em nível de governo e da Universidade. O NEAB, bastante atuante, é aberto aos movimentos, que nele encontram espaço para reunião e para discussão de problemas enfrentados, dentre outros apoios e interlocuções.

As ações, independente do segmento, convergem para a Serra da Barriga, dando singularidade aos projetos e ações desenvolvidas, chegando a beirar um saudosismo que, felizmente, é quebrado pela multiplicidade de ações que se espraiam para diversas outras áreas e se concentram no compromisso de contribuir para alterar as condições de qualidade de vida em outros quilombos existentes no estado. Chama atenção, ainda, o movimento de rearticulação dos movimentos em torno do FENAL, que pode se constituir em espaço de reaproximação entre lideranças emergentes e lideranças já consagradas.

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Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD 2007)

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TABELAS ALAGOAS

Tabela 1

Localização das organizações. Alagoas, 2009

Barra de Santo Antônio 1 3,8

Igreja Nova 2 7,7

Maceió 16 61,5

Marechal Deodoro 1 3,8

Monteirópolis 1 3,8

Olho D'agua das Flores 1 3,8

Penedo 2 7,7

Rio Claro 1 3,8

Viçosa 1 3,8

Total 26 100

Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

Número de organizações Distribuição (%) Município Tabela 2

Tipo de organização. Alagoas, 2009

Número Distribuição % Associação ou movimento 10 38,5 ONG ou OSCIP 4 15,4 Instituição religiosa 2 7,7 Setor Público 8 30,8 Outros 2 7,7 Total 26 100

Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

Tipo Organizações

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Tabela 4

Tempo médio de existência das organizações segundo o tipo. Alagoas, 2009 (Em anos) Associação ou movimento 8 8 6,479 ONG ou OSCIP 10 4 5,568 Instituição religiosa 8 2 7,071 Setor público 19 5 25,006 Outros 0 2 -Total 10 21 13,345

Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

Tempo médio de existência

Número de

organizações Desvio padrão Tipo

Tabela 5

Média de pessoas ocupadas por tipo de organização. Alagoas, 2009

Associação ou movimento 56 8 47,434 ONG ou OSCIP 21 4 13,985 Instituição religiosa 34 2 1,414 Setor Público 104 6 222,000 Outros 5 1 3,485 Total 58 21 119,344

Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

Tipo Média de

pessoas

Número de

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Tabela 6

Principais áreas de atuação das organizações por tipo. Alagoas, 2009

Total de Organizações 26 10 4 2 8 2

Arte e Cultura 19 8 4 2 3 2

Educação 21 7 4 2 6 2

Meio-Ambiente 7 4 - - 2 1

Emprego, Trabalho e Renda 10 6 1 - 2 1

Saúde 5 5 - - -

-Dir. humanos /Ações Afirmativas 12 4 2 2 4

-Informação 3 1 - - 2

-Outra 3 1 1 - 1

-Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

NOTA (1) Algumas organizações indicaram um número divergentes de áreas de atuação. Áreas de Atuação Associação ou Movimento Outros Número de Organizações ONG ou OSCIP Instituição Religiosa Setor Público Tabela 7

Publicos preferencias das organizações por tipo. Alagoas, 2009

Total de Organizações 26 10 4 2 8 2

Lésbicas, gays, bi-sexuias e trangêneros 5 2 - 2 1

-Quilombolas 14 6 2 - 4 2 Mulheres negras 7 4 1 - 2 -População negra 21 10 3 2 4 2 Índígenas 2 - - - 2 -Infancia e juventude 16 5 3 2 6 -Outro 6 2 - - 4

-Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

NOTA (1) Algumas organizações indicaram um número divergente de áreas de atuação. Instituição Religiosa Setor Público Outros Áreas de Atuação Número de Organizações Associação ou Movimento ONG ou OSCIP Tabela 8

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Número médio de pessoas atendidas no ano por tipo de organização. Alagoas, 2009 Associação ou movimento 253 5 324,684 ONG ou OSCIP 483 3 325,320 Instituição religiosa 99 2 69,296 Setor Público 615 7 500,220 Outros 282 2 378,302 Total 409 19 404,204

Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

Tipo Média de

pessoas

Número de

organizações Desvio padrão

Tabela 9

Número de organizações que desenvolvem pesquisa. Alagoas, 2009

Número Distribuição % Associação ou movimento 5 45,5 ONG ou OSCIP 1 9,1 Instituição religiosa - -Setor Público 4 36,4 Outras 1 9,1 Total 11 100

Fonte: CEAFRO, Pesquisa direta

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